Sob a árvore do esquecimento VICENTE FRANZ CECIM
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Sob a árvore do esquecimento Vicente Franz Cecim
Lhes digo, um dia nos veremos como agora não nos vemos
O Céu tem Vozes, são antigas, talvez nem falem mais de nós, nos esqueceram, mas ainda ecoam por entre as Trevas desse manto de estrelas Eu? eu Ouço, aqui, com meus pés cheios de terra, de olhos fechados espero A Fonte na Noite dos meus olhos Não ouvem como eu ouço? Ouçam, não são aos vozes do vento, falam em silêncio
Agora mesmo uma delas está ecoando
estou olhando mais uma vez, invisível, para aquele ponto do Vazio em que primeiro aparecemos, humanos continuam lá, no Visível, aquelas coisas que riem e choram quando devem desaparecer
Lá na Esfera de Terra,
Tentamos tudo para que não sofressem mais, aquelas coisas, Lá, que fomos
Agora, semeamos nelas Os Esquecimentos
Os Adormecimentos, antes a invenção dos Dias e das Noites, a Forma da Esfera, seu Giro,
e o Sono, para que fossem se acostumando a desaparecer e entendessem que para elas não há Permanência, foram inúteis. As Lágrimas não cessaram
Inventamos as Chuvas, para que se acostumassem ao jorrar das Lágrimas, e inventamos as Fontes, inutilmente, quando veem uma fonte lembram as lágrimas e se veem outra chorando não lembram as Fontes
Fomos cuidadosos, inventamos as Auroras e os Crepúsculos, como : passagens através de névoas entre o estar adormecido
:
o despertar,
e entre o estar desperto
:
o adormecer
Inutilmente
Quando inventamos o Verão e o Inverno, elas se partiram ainda mais Então inventamos, delicadamente, as Estações flutuantes, entre o Verão e o Inverno : o Outono, para que vendo as folham secando, e sendo levadas pelos ventos, e entre o Inverno e o Verão : a Primavera, para verem a Metamorfose das coisas, lentamente
Ah, e inventamos a Penumbra, para que sentindo sua maciez e preferindo a Penumbra não sofressem tanto as passagens da Luz para Sua Ausência,
inutilmente,
continuaram saltando sobre um Abismo, entre o Claro e o Escuro, entre o Escuro e o Claro, e mesmo quando entre o Branco : o Negro lançamos Cinzas para mostrar aos seus olhos as Transições Suaves, Branco menos branco, menos branco, mais negro, mais negro Negro
lhes aperfeiçoamos um círculo para habitar - O Círculo Sim, o Círculo
tudo vem como sombra do Um e para o Um volta como sombra, na breve residência, a Vida, as sombras estão no Vários e se tornam coisas
Mas elas não leem o Livro: o Círculo,
na Penumbra
E, no Círculo, ouvissem o Silêncio, mundo silencioso Mas das suas bocas saindo Palavras, e as letras extraviadas, e uma letra extraviada vindo se juntar a outra: por um pé tropeçando em outro pé se tornando I nimigas
Então semeamos Os Esquecimentos
E fizemos com que elas, havendo permanecido por algum tempo, visíveis,
Lá, na Breve Residência, onde até parece que são
comecem a esquecer o Sendo
Quem sabe Assim cessem suas Lágrimas quando tiverem que voltar
Ah, a cada dia elas esquecessem um pouco de si, despertassem, não vissem seu rosto, sobrassem cada vez menos letras nos seus Nomes que também fossem se apagando, e se escritos em algum lugar não lembrando onde deixaram, olhassem ao redor e o que são essas coisas antes intimamente em suas casas, o que fossem quase ainda sabendo mas não sabendo mais o que fosse se tornando O que Não Saberiam Mais Os dias passando ainda vissem Árvores se olhassem para fora porque serão as últimas coisas que faremos esquecer mas não soubessem mais O Que é Isto: o Fruto na mesa,
isso ainda fosse um Susto, um último espanto, pois
temeriam Aquilo, agora Desconhecido
os dias passando
buscassem os espelhos, e no Espelho um Rosto: ele estaria lá, mas sei de quem é esse olhar mas não sei de quem são esses olhos, se diriam,
tentassem lembrar, mas o Esquecimento é poderoso, tu não lembras
para onde foram as minhas Lembranças, se perguntando
e um euzinho de nada ainda nelas, perguntariam umas às outras quem és, Quem sou? indo com os dias para a última pergunta
o Que sou?
e depois para o Silêncio, mundo silencioso, já não haveria um Sou
Que assim desapareçam sem Lágrimas.
plantamos uma Árvore de Esquecimento sobre cada uma para que um dia nasçam Fontes nos Seus Olhos
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