SOBRE O ESPETÁCULO HYSTERIA DO GRUPO XIX DE SP

September 9, 2017 | Autor: W. Lima Torres Neto | Categoria: Resenha, Resenha critica, Critica Teatrale
Share Embed


Descrição do Produto

;cW Hysteria grupo X d.e teatro

Indice Hysteria................................................................ 07 Ficha teen Sabre as personage.............................................Q.. 20 Texto Notas60

4. Sobre ...62 Depoirne9 p prpsO ...------------- Q. .encontro . .Lyi Fernando. Gue horas sao? - Janaina Leite 76 Urn punhadodefuI -Sara Antune..... 7.. Processode ci1açoHyriaeq a flc0 ....ha...anch...Q. 82. 84. Espectador iI gicio -.M a rcJP asto ..Souza Lima 86 Entre as rendas amareladas do XIX - Fausto Viana Matérias daimprensa - Hysteria .............. Cadé o drarnaturgo? ............................................10 . 114 Maté a.T pma da nossa criaçà. .Sara . .................................... itrc..ro Agradecirnerito . ........................ ................. ........... 122 124 Ficha técnica do Iivro

. .

. .

.

/ f

j9,4r//7 /-(i)

cr

.

c.

p . Ic as fQ tPiYfl a .. --------- .......... ...... .................. .-------- ......126

I

WWW.FUNDACAOCULTURALDEITAJAI.COM.BR - ITAJAI Sc - WALTER LIMA TORRES Conforme falãvamos em nossa conversa no sábado passado, no inicio deste Festival, sobre as modalidades do trabalho teatral que engendra a encenaco, els que nos aparece urn espetáculo criado e executado dentro da definiçäo do que afirmávamos ser o trabalho do encenador. Para quem nào estava na conversa da semana passada, recapitulo rapidarnente. Eu dizia que, coma tinha necessidade de levar os jovens aspirantes a carreira teatral a aprenderem direçao, fui buscar na história do espetáculo urn pouco de nossa cultura e prática teatral. E como a lingua partuguesa nos faculta três termas distintos para a mesma funçao - ensaiador; diretor e encenador - propus unicamente para fins de aprendizagem uma diferenciação que, me parece ajustada, e nos ajuda a compreender as procedimentas de trabalho de outrora iluminando as complexos processos criativos presentes nos dias de hoje. Serei brevissimo. 0 ensaiador seria o agente criativo de uma cena tributaria das classificaçoes par gneros (farsa, cornédia, drama, revista, opereta, mágica, comédia baixa, comédia lacrirnosa, e assirn por diante) A cada género corresponderia uma escrita cénica convencional que nâo poderia frustrar a expectativa do espectador, que culturalmente entendia a teatro segundo urna convencäa precisa e ajustada. 0 ensalador, coma urna espécie de diretor de ator adequaria o trabaiho do elenca em funçao dos papéis tipos a serem desempenhados por cada artista da companhia. E, finalmente, you abreviando para näo me alongar, em termos de espaço cénico o ensaiador teria seu trabalho condicionado, ünica e exciusivarnente, a cena frontal. Já a moderno diretor teatral seria aquele porta voz do autar dramátiCo cujos exemplos históricos estho no legado de Stanislavski e Antoine corn o Naturalismo A idéia de uma concepção cénica que advém do texto dramãtico, da peça de teatro é aqui imperativa. Esta nocaoja foi perfeitamente assinillada por nós. Exemplo desse procedimento foi assistido no encenacäo do texto Dinossauros. Assim, o diretor é a figura a qual se assacia a instauracao da modernidade no teatro juntamente corn o 00 I Hysteria

surgimento do iluminaçäo e etc, e J. J. Roubine fala longamente sabre isso em seu livro Linguagem do encerlaçâo teatral. Já, no tocante ao ator, este é o momenta central da implementaçao do ator de composiçao, que se transforma no personagem. Esta noçao foi absolutamente exitosa ao ser implementada pela indüstria cinematográfica fazendo a sucesso e a fortuna de vários atares. E em relacao ao espaco, o trabalho do diretor é herdeiro de uma frontalidade para qual ele dinamiza experiéncbs arrojadas que acabam gerando seu rompimento a procura de outros espacos abém da quarta parede, bastbao do realismo. E par fim, a figura do encenador. For vezes ate associada a figura do coreógrafo contemporâneo. Näo mais como sinônimo de diretor, esta figura estaria sendo associada, par mim, aos diversos procedimentos de trabalho dos tempos atuais. Isto devido aa apagamento das fronteiras entre as funçOes dos práticas teatrais; a sistematizacaa do trabobho do dramaturgista; e a intensificaçâo do processo colaborativo. Desta forma o encenador estimularia a criaçäo de uma cena originária de qualquer outro suporte negando, terminantemente, a dramaturgia convencional. Seria coma se a literatura dramática dita tradicional nào desse mobs conta dos problemas que querem ser teatralizados na atualidade. Em re!açäo ao ator, se estabelecem diferenciados marcas coma, por exemplo, aquele que sinaliza a desaparecimento da tradicional linha divisória entre atar/personagem, fato que concorre para o surgimento de uma voz confessional enunciada pelo prOprio ator scm o emprego do mascara. Ou a procedimenta do ator que estabelece seu próprio texto segundo pesquisa especifica de natureza teOrica ou prática, entre autros procedimentos. Quanta ao espaco, o encenador esta desobrigado de utilizar tipologias espaciais históricas e projeta sua cena na descoberta de urn espaço muitas vezes näo convencional que na maioria das escolhas nâa lembra em nada as lugares teatrais de outrora. E desta forma dc deixa de trabalhar corn a noçäo de püblico para se dedicar a noçao de espectadores.

Seguindo este raciocinio, a nosso juizo, as estimulos para concepco de unia escrita cênica teria coma ponto de partida para o trabaiho do encenador naturezas várias: urn fragniento literário, uma passagem do Mahabharata, uma cidade, urn quadro, urn sonho, suas memãrias, uma msica, urn problema social, urna crise polItica, urn terna instigante e que valha a pena ser conhecido e dar a conhecer. E ai chegamos ao cornovente espetáculo do grupo XIX de Teatro que traz a cena a Hysteria. Corn urn elenco feminino que encena a Hysteria. 0 assunto Hysteria que é quern dá titulo ao espetáculo, é a protagonista da encenaçO. A histeria é urna patologia complexa que vern ocupando inürneros cientistas e psiquiatras, e eu nao teria a cara de pau suficiente para comentar qualquer coisa sobre aquilo que ignoro e desconheço. Porém, o Orupo XIX de Teatro sabe o clue é a histeria. Perguntern a eles,.. Ou rnelhor, assistarn ao espetaculo que eles fizerarn... Pais foi do seu processo de aprendizado e conhecimento sabre este tema dramático que o Grupo XIX de Teatro concebeu sua obra teatral, Hysteria. A encenacao de Hysteria privilegia o testemunho de quatro internas e sua "cuidadora" que par conta de sua situaçâo tao Intima e próxima interagindo corn as internas, corno suqere a encenaçào, ela tarnbém seria depositária de urna certa histeria, segundo seu desabafo final. Assirn para miriha fabulaçao própria estabeleci as seguintes tipos diante das internas: A esposa assassina, A analfabeta, A progressista, Aquela que logo vai sair. 0 que as une ali? 0 trauma ou a falta do coito? A transiçào? Urna frustraçao? A inadequaçäo as prendas domésticas? Ou simplesmente ser mulher? Pouco a pouco o espectador masculino, para quem espacialmente a cena é orientada, vai tendo diante dos seus olhos o desfilar de uma série caudalosa de testernunhos particulares que ecoam na platéia ferninina, expressao de urn coletivo, que ajuda a circunscrever o espaço cénico, e a pintar o quadro da dramatica situaçäo da mulher "desajustada" em nossa sociedade na segunda metade do sec. XIX. 0 envolvimento das talentosas atrizes (Evelyn Klein, Mara Helleno, Janaina Leite, Juliana Sanches, Sara Antunes) na

cornposiçao de seus tipos e mediado pelo teatro, pois elas nao se dào o trabalho de simplesmente imitarem as senhoras: Clara, MI, Maria, Hercilia e Nini. Ate porque estas Senhorasja desapareceram. A "vida" dessas Senhoras foi selecionada e estudada segundo algum traço documental e reconstituida ficcionalmente par nleio do trabalho das atrizes. As atrizes constrOern corn uma atuacâo integral, por rneio de urn jogo cCnico crivel, as suas versOes ficcionais cada qual da sua Senhora. Entretanto, o rnais iroportante é que suas atuaçoes nos renietern para o que ficou para trás, na vida destas mesmas Senhoras. E é ai que reside o problema dramatico. Pais nao é na esperança de recuperacao da psique abalada que dc estC, nao é na perspectiva de sair curada daquele lugar que dc reside, nem na rotina do tempo presente em suspensao vivenciado pelas alienadas através de seusjoguinhos e das repetiçöes de suas frases e manias. 0 drama reside na nossa fabulaçao de espectadores (aras). Fabulaçào esta estimulada pelo delicado jogo das atrizes, acerca cia vida pessoal desfeita, a partir deste ou daquele ato hediondo e iastimável que detonou o processo de alienaçao. 0 drama reside naquela vida näo vivida, na negaçao da vida. Esta rnesma vida que se interrompeu e que complementarnos na imaginaçao graças ao nosso devanear, conduzidos pela ação do teatro. 0 drama esta no passado dessas senhoras que é recriado a partir de fontes diversas. 0 dramatico da situaçao estã no fora de cena que se constrói em nós. E neste sentido a direço inteligente e explicita de Luiz Fernando Marques se inscreve nurna vertente que poderiarnos chamar de teatro documental. Visto que o grupo emprega no seu texto de cena, na confecçao da dramaturgia do ator, fontes primarias, auténticas e docurnentos veridicos que foram selecionados e montados segundo o interesse da direçao em demoristrar sua tese: de que a histeria no perlodo em questäo stria uma doença sociocultural absolutamente feminina, gerada por urn trauma, uma grave inadequaçäo ou urn desajuste terrivel no comportamento do sexo ferninino, na recusa de encarnar o papel social que dela se esperava: mulher, mae e esposa, numa sociedade sufocante, preconceituosa, repressora e rnachista. Hysteria 1109

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.