SOBRE O QUE FALAM AS MULHERES NO HORÁRIO ELEITORAL? UM ESTUDO SOBRE AS CANDIDATAS A VEREADORAS DE PONTA GROSSA EM 2012

June 24, 2017 | Autor: C. Quesada Tavares | Categoria: Comunicação e Política, Campanha Eleitoral, Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
Share Embed


Descrição do Produto

SOBRE O QUE FALAM AS MULHERES NO HORÁRIO ELEITORAL? UM ESTUDO SOBRE AS CANDIDATAS A VEREADORAS DE PONTA GROSSA EM 2012 TAVARES, Camilla Quesada1 Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR Univerisdade Federal Fluminense/RJ MATHEUS, Karin Del Nóbile2 Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR FERNANDES, Marina Michelis3 Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR

Modalidade: Pesquisa em Jornalismo Resumo: Este trabalho tem como objetivo identificar as estratégias discursivas empregadas pelas candidatas mulheres à Câmara Municipal de Ponta Grossa em 2012, nos programas televisivos do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Parte-se do pressuposto de que há diferenças na quantidade de aparição entre homens e mulheres no HGPE, principalmente na distribuição do tempo – que tende a ser dividido de acordo com os principais “puxadores de votos” dos partidos (Miguel, 2010). Além disso, acredita-se que temáticas e apelos tendem a ser distintos. A metodologia utilizada é a análise quantitativa de conteúdo, e os dados dizem respeito ao primeiro turno das eleições municipais de 2012. A hipótese principal é de que as mulheres empregam estratégias diferentes dos candidatos homens na televisão. Palavras-chave: mulheres; horário eleitoral; estratégias eleitorais; eleição 2012.

1. Introdução O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) se caracteriza peça fundamental no sistema eleitoral brasileiro, principalmente no que tange a participação feminina na política atual, pois como demonstra ser um dos principais componentes influenciadores da opinião pública, é utilizado pela elite política como ferramenta para a aproximação dos eleitores a determinados assuntos (Miguel, 2004). Além disso, 1

Professora substituta do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Email: [email protected] 2 Graduanda do 3º ano do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais. Email: [email protected] 3 Graduanda do 1º ano do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais. Email: [email protected]

Cervi, (2010) ressalta, também, que ele compõe o ambiente informacional dos eleitores em épocas eleitorais, contribuindo assim para o debate público (Cervi, 2010). Portanto, verificar o que se discute no horário eleitoral é conhecer, em certa medida, aquilo que foi oferecido como informação de campanha aos eleitores. Outro aspecto que também pode ser verificado é de que maneira grupos ou minorias se apresentam – se proferem discurso geral ou mais segmentado, reivindicando o voto daquele nicho que ele/ela procura representar. Tendo isso em vista é que este paper propõe compreender como as mulheres que concorrem ao cargo de vereadora são apresentadas durante o horário eleitoral televisivo de 2012 em Ponta Grossa. Embora não seja critério decisivo atribuir ênfase na cultura tradicionalista patriarcal, que sugere limitações na ocupação do espaço público pela mulher, Araújo (2005) afirma que "o fato de esses lugares serem tradicionalmente ocupados por homens, tende a gerar padrões de eleição e perfis com potenciais eleitorais também associados aos padrões masculinos" (Araújo, 2005, p. 5). Torna-se, portanto, ponderado afirmar certa influência dos valores culturais para com o destaque que é atribuído às candidatas mulheres no HGPE, já que não faz parte da tradição incluir mulheres no campo político-partidário. Devido aos empecilhos citados, as cotas se comportam como uma tentativa de inserção feminina nas iminências políticas, proporcionando condições para que a mulher possa competir. Mas qual será a representação que as candidatas mulheres possuem no horário eleitoral? É a mesma que os homens? Quando se concentra essa aparição? Abordam quais assuntos e apelam a que para tentar conquistar o voto do eleitor? Para responder estas questões, foram analisados todos os trechos dos programas do HGPE onde a mulher candidata aparece. Ao todo, foram 1982 segmentos distribuídos entre os candidatos homens e 672 entre as mulheres. A metodologia empregada foi a análise quantitativa de conteúdo. Desta maneira, o artigo está organizado do seguinte modo: no tópico 2 explorase o desempenho da mulher na política frente a um contexto cultural enraizado na tradição patriarcal; no 3 é debatida a importância que o HGPE possui no que concerne ao nível de informação política que é

transmitida para esfera privada do eleitor,

causando uma aparente aproximação entre a elite política e a população que vota. Ao tópico 4 foi atribuída a apresentação da metodologia utilizada e os dados analisados a partir de todos os programas do primeiro turno das eleições municipais de 2012, em Ponta Grossa, para o cargo de vereador. No final são apresentadas as conclusões.

2. Mulher, política e eleições

A participação mínima da mulher foi efetivada na política brasileira com a sanção da Lei Nº 9100/95, que determinou a política de cotas, onde era destinada a proporção 70%-30% das vagas para a distinção de sexo e, assim, visar o aumento da participação feminina nas eleições, que antes era ainda menor em relação ao número ocupado pelos homens. As mulheres começaram a ganhar espaço assim que puderam se igualar aos homens na questão do voto. De acordo com o decreto Nº 21076, do dia 24 de fevereiro de 1932, a opinião feminina passou a ser considerada na hora de escolher seus

representantes

no

Parlamento,

desencadeando

uma

necessidade

de

representação de seus direitos e interesses (Araújo, 2003). Esse contexto está envolvido, segundo Araújo (2005), na ideologia e na organização dos partidos, em como as mulheres estão sendo posicionadas em frente a essas representações e como funciona, na prática, essa representação partidária. Para entender melhor essa luta, é preciso entender o contexto cultural do Brasil, levar em consideração que, assim como na política, a desigualdade de gênero aparece também em outros cargos no mercado de trabalho, como aponta Miguel e Biroli (2010). Ainda na linha dos estudos de Miguel e Biroli (2010), a mulher está exposta a uma luta de hierarquização dentro dos próprios partidos e construídos em cima de sua imagem como candidata, levando em conta que a ênfase dada em alguns assuntos que elas pretendem realizar como candidatas é um fator que determina o seu papel na política e no cargo disputado, vertente muito criticada pelos movimentos feministas da sociedade moderna. O papel de uma sociedade patriarcal é influência na hora de pensar que, durante toda a tradição política, o Brasil trouxe um papel de chefe de família ao homem e isso o condiciona aos cargos de liderança (Viegas e Faria, 1999). Essa ideia tende a explicar o por que mulheres que têm apoio ou herança de um homem na política possuem maiores chances de se elegerem do que aquelas que trilham seus caminhos sozinhas. Assim, fica para a busca por votos o apelo, a identificação de personalidades e carisma das candidatas (Figueiredo e Aldé, 2003), por isso os partidos recorrem a uma cartela com diferentes candidatos, vindos de etnias, gêneros ou ideologias distintas (Viegas e Faria, 1999). Pressupõe-se, então, que a emergência de grupos específicos seja refletida nos discursos e faça parte das estratégias das candidatas mulheres nos programas eleitorais. É isso que buscaremos mapear com os dados, apresentados no tópico 4. Antes, levantaremos alguns breves aspectos sobre o horário eleitoral.

3. O horário eleitoral como lugar de destaque da elite política A campanha televisiva no Brasil possui características próprias, conforme pontua Albuquerque (2004). Uma das principais é a proibição de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga, o que, segundo Miguel (2005; 2010), diminuiria a influência do dinheiro nas campanhas, pelo menos no que concerne ao acesso aos meios de comunicação4. Dessa maneira, dada a representatividade no Legislativo, os partidos/coligações agregariam tempo no rádio e na televisão para veicular a campanha mediada pelos meios. A divisão do tempo total fica a cargo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Brasil, trabalha-se com dois tipos de sistemas eleitorais nas eleições: o majoritário e o proporcional. No caso dos vereadores, eles estão inseridos no segundo tipo, ou seja, o eleitor pode votar no candidato ou em sua legenda, e os eleitos serão aqueles mais votados dentro do partido, limitado ao número de vagas conquistado, baseado no coeficiente eleitoral (Albuquerque, Steibel e Carneiro, 2008). No caso dessas disputas, o número total de candidatos tende a ser muito maior ao número total de vagas, o que necessitaria de um melhor planejamento para distribuir os "recursos de campanha" a todos os concorrentes (Cervi, 2011). Um desses recursos seria a distribuição do tempo no horário eleitoral. O HGPE é importante porque marca o tempo da política (Cervi, 2010), ou seja, é a partir daquele momento que o cidadão percebe que a campanha começou. O principal motivo apontado por Panke e Cervi (2011) para isso é que a partir da veiculação do horário eleitoral, a informação política chega até a esfera privada do eleitor, não necessitando interesse em buscar esse tipo de conteúdo em outras esferas, como nos jornais, por exemplo. Além disso, o espaço é privilegiado, já que permite aos partidos e candidatos total autonomia de conteúdo, sem precisar passar pelos filtros da mídia. Embora muitos eleitores digam que não assistem o horário eleitoral (Gomes, 2001), verifica-se uma mudança nas pesquisas de intenção de voto após o início efetivo da propaganda (Bernardi, 2011). Albuquerque (2004) lembra que um dos fatores para o estranhamento do eleitor com o horário eleitoral é o formato do programa dentro da grade de programação televisiva. Para além disso, é consenso na

4

Estudos sobre financiamento de campanha apontam para uma forte relação entre campanha e dinheiro, mas não é nosso objetivo neste paper entrar nesse debate. O que se pretende mostrar aqui é que, pelo menos no acesso aos meios, o dinheiro não tem influência, pois não é permitido comprar quotas no rádio e na televisão.

literatura que o HGPE tem seu papel consolidado na disputa, sendo um importante espaço de aproximação entre elite política e eleitor (Miguel, 2004). De maneira geral, o partido controla o tempo na televisão e divide esse tempo de acordo com os candidatos. A divisão pode ser mais igualitária ou hierárquica, ou seja, dar mais tempo a quem tem mais capital político ou dar o mesmo tempo para todos os concorrentes (Cervi, 2011). A dinâmica com a qual isso ocorre depende das forças internas dos partidos, e das características dos candidatos. No caso das disputas proporcionais, a dependência do candidato ao horário eleitoral é variável. Massambani e Cervi (2011) apontam que candidatos com presença regional não precisariam de tempo na televisão porque possuem outras fontes de visibilidade pública. Albuquerque, Steibel e Carneiro (2008) defendem que a distribuição do recurso tem impacto distinto, dependo do tipo de candidato. Por exemplo, candidato que tem votos pulverizados tendem a precisar mais dos meios de comunicação do que aqueles que possuem base eleitoral em alguma região geográfica. No entanto, no que diz respeito às mulheres, Massambani e Cervi (2011) lembram que as candidatas tendem a ter uma dependência maior da exposição de suas imagens no horário eleitoral do que os homens, haja vista de que não conseguem se inserir em espaços anteriores à campanha. Esta discussão é pertinente para este estudo, pois pretendese verificar, entre outras coisas, se as mulheres possuem o mesmo espaço que os homens na televisão. Dado o histórico de participação feminina na política, isso interfere na hora da distribuição dos recursos partidários? É o que tentaremos responder a seguir. 4. Apresentação dos dados: sobre o que falam as mulheres? Os dados que compõem o corpus deste paper foram coletados pelos integrantes do grupo de pesquisa Jornalismo e Política: representações e atores sociais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Eles dizem respeito a todos os programas do primeiro turno das eleições municipais de 2012, em Ponta Grossa, para o cargo de vereador. A metodologia para coleta de dados é a quantitativa de análise de conteúdo, pois o universo trabalhado é amplo e busca-se identificar padrões entre os resultados (Cervi, 2009). As categorias de análise utilizadas aqui são baseadas no trabalho de Figueiredo et al (2000), com destaque para as variáveis que compõem diretamente o estudo: quantidade e duração dos segmentos, tema e tipo de apelo ao voto. Os programas do horário eleitoral proporcional são divididos de acordo com a coligação. Dentre de cada parte, reparte-se ainda por segmentos. Entende-se por

segmento uma única unidade de análise do HGPE; isto é, um trecho do programa televisivo que possui autonomia discursiva (Albuquerque, 1999), onde se mantêm o mesmo cenário, temática e orador. No caso dos programas para cargos proporcionais, essa diferenciação é bem clara, pois se reduz, em boa parte dos casos, a uma aparição de fala completa do candidato, quando possui fala; ou então apenas sua imagem e número, nos casos sem falas. No caso das eleições municipais de Ponta Grossa em 2012, o número total de segmentos foi de 2.654, entre candidatos homens e mulheres. A variável tema diz respeito ao assunto tratado pelo(a) candidato(a) naquele segmento. De acordo com Cervi (2011), os candidatos podem usar o horário eleitoral para discutir temas de interesse público, além de fazer apelo direto ao voto, mesmo em disputas proporcionais. Para isso, foram estabelecidas 15 categorias temáticas possíveis5. Por fim, tem-se o apelo ao voto. Cervi (2011) explica que o esse tipo de estratégia ocorre quando há uma solicitação direta e explícita de voto ao eleitor. Um exemplo poderia ser "ajude a vencer mais esta, conto com o seu voto". Quando é identificada essa estratégia, é necessário também registrar qual o tipo de apelo empregado. Para isso, têm-se dez categorias6, mas que para este trabalho nos interessa especificamente um: o voto feminino. Agora que se conhece o que iremos analisar dentro dos programas do horário eleitoral de 2012, passemos aos dados empíricos.

4.1 Resultados gerais Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2012, Ponta Grossa contou com um total de 396 pessoas concorrendo aos 23 cargos de vereadores disponíveis. Segundo o TSE, do total de candidaturas inscritas, 279 eram homens e 117 eram mulheres, sendo que foram eleitos 21 homens e apenas duas mulheres. Isto quer dizer que do universo total de pessoas concorrendo a uma cadeira na Câmara de Vereadores, 70,5% correspondiam aos homens e apenas 29,5% às mulheres. Do total 5

São elas: 0) nenhum, quando o candidato não trata de tema algum em seu espaço no HGPE; 1) saúde; 2) economia; 3) violência ou segurança pública; 4) político-institucional, quando trata de relações entre governo e oposição, fiscalização do executivo etc; 5) meio ambiente; 6) infraestrutura; 7) ético-moral; 8) esporte e lazer; 9) turismo; 10) cultura; 11) educação básica e creches; 12) educação secundária, técnica e superior; 13) cardápio, quando o candidato fala de mais um tema, sem priorizar um, especificamente e 14) outro, caso o tema tratado no segmento não se enquadre nos anteriores (CERVI, 2011). 6

Os dez tipos de apelo são: 1) não tipificado; 2) jovem; 3) consciente; 4) ideológico/partidário; 5) feminino; 6) portadores de necessidades especiais; 7) identidade cultural; 8) LGBTS/terceiro gênero; 9) religioso; 10) moral/valores (CERVI, 2011).

de eleitos, apenas duas candidatas conseguiram uma cadeira no legislativo: a candidata Adelia Aparecida Souza (PSD) e Ana Marina Branco de Holleben (PT), sendo a primeira não ocupante de cargo eletivo e a última candidata à reeleição. Para verificar se a proporção masculino x feminino manteve-se na distribuição dos recursos partidários no horário eleitoral, tem-se a tabela a seguir: TABELA 1 - Quantidade de segmentos totais Candidato Frequência Masculino Feminino Total Fonte: Jornalismo e Política (2015)

% Válido 1982 672 2654

74,7 25,3 100,0

A tabela 1 mostra que do total de segmentos que apareceram na televisão, 74,7% eram candidatos homens e 25,3% de mulheres. Esses resultados vão de encontro com os valores encontrados nas inscrições de candidatura. Ou seja, a mesma proporção de inscritos mantém-se na distribuição no horário eleitoral. Mas será que a distribuição desses segmentos é igual? Homens e mulheres aparecem na mesma intensidade durante a campanha, ou a aparição se concentra em alguma extremidade? O gráfico a seguir nos mostra a distribuição de segmentos ao longo do tempo.

GRÁFICO 1 – Distribuição dos segmentos ao longo do tempo

O gráfico traz a diferença na distribuição dos segmentos de candidatos homens e de candidatas mulheres ao longo do tempo. Como se pode perceber, o primeiro pico

de aparição de candidatas femininas se deu junto com a aparição masculina, no dia 4 de setembro. Mas logo depois ambos têm uma queda drástica no dia 08/09, a partir disso, a aparição feminina teve um leve aumento e se manteve, enquanto a aparição masculina é mais acentuada, tendo nova alta no dia 18/09. Outro ponto que se pretende verificar é se as mulheres aparecem na mesma média de tempo que os homens. A premissa inicial era de que essa diferença existia, porém, os dados nos mostram o contrário. TABELA 2 - Média e mediana de tempo de aparição com fala Candidato

Frequência

Masculino Feminino Fonte: Jornalismo e Política (2015)

1982 672

Média em segundos 11,59 11,03

Mediana em segundos 11,00 10,00

A aparição média das mulheres que tinham fala no horário eleitoral está pareada com a aparição média dos homens, dados que ajudam a refutar nossa hipótese inicial de que as mulheres eram subrepresentadas nos programas televisivos. A mediana corrobora com os resultados apresentados pela média, indicando que há uma distribuição praticamente igualitária entre os tempos de aparição. Isso quer dizer que todos que estiveram na televisão apareceram de maneira mais ou menos igual. Não teve nenhum candidato com tempo maior de exposição, pelo menos nesta eleição, e também não há grandes diferenças entre homens e mulheres como se havia pensado. O que se vê na televisão é uma transposição da proporção encontrada fora do meio de comunicação e semelhanças de distribuição de tempo entre os sexos. Agora que se tem essa visão geral, os dados que seguem dizem respeito apenas à cota de participação feminina no horário eleitoral. Pretende-se investigar especificamente de que maneira as candidatas se apresentaram ao público na eleição de 2012.

4.2 Como fala a mulher no horário eleitoral? Como lembra Cervi (2011), o HGPE proporcional também é o espaço para se apresentar propostas temáticas de interesse público, mas o que se observa na tabela 3 é que tanto homens quanto mulheres não trataram de nenhum tema em praticamente metade dos segmentos. TABELA 3 - Temas dos segmentos com fala Tema Nenhum

Homens Freq. 913

% 46,1

Mulheres Freq. % 50,4 339

Saúde 83 Economia 11 Violência e segurança 36 pública Político-institucional 7 Ambiental 13 Infraestrutura 37 Ético-moral 339 Esporte e lazer 23 Cultura 12 Educação básica e ensino 40 médio Ensino médio/superior 1 Cardápio 308 Outros 159 Total 1982 Fonte: Jornalismo e Política (2015)

4,2 0,6

40 1

6,0 0,1

1,8

12

1,8

0,4 0,7 1,9 17,1 1,2 0,6

1 4 0 80 0 0

0,1 0,6 0 11,9 0 0

2,0

36

5,4

0,1 15,5 8,0 100,0

0 99 60 672

0 14,7 8,9 100,00

Conforme se observa, embora haja tempo para apresentar propostas temáticas, quase metade dos segmentos femininos não possui nenhum tema. Isso quer dizer que boa parte da exposição das candidatas no horário eleitoral foi orientada por outra estratégia, que não a discussão temática. Quando o tema aparece, é em forma de cardápio (14,7,5%), caracterizado pela citação de vários temas de uma única vez, sem se aprofundar em nenhum nem explicar de maneira mais detalhada como serão viabilizadas as ações nesse sentido. O segundo tema mais abordado foi o éticomoral (11,9,6%), seguido de 'outros' (8,9%). Esses dados indicam que as mulheres não debateram temas de interesse com seu eleitor, buscando, provavelmente, outras formas de convencimento. Ao observar os assuntos tratados pelos homens, percebese que a maioria não traz nenhum tema em específico, totalizando 46,1% em seus discursos. Quando a abordagem se faz presente, a mais discutida é sobre assuntos Ético-Moral (17,1%), seguido de temas em forma de cardápio (15,5%) e ‘outros’ (8,0%), isso representa que, usando da mesma estratégia, homens e mulheres não tratam de assuntos que são de interesses específicos dos seus eleitores. No caso das mulheres, ao invés disso, quando abordam um tema, as principais questões são permeadas na moral, saúde e na educação – embora com as duas últimas com percentuais muito abaixo da primeira.. Por fim, temos o apelo ao voto. Se não houve discussão temática, por um lado, houve o pedido explícito de voto por outro. A tabela 4 mostra quais os tipos de apelo identificados durante as aparições masculinas e femininas. TABELA 4 - Tipos de apelo dos segmentos com fala Tema Não tipificado

Homens Freq. % 53,6 1063

Mulheres Freq. % 60,0 403

Jovem Consciente Ideológico/partidário Feminino Portadores de necessidades Identidade cultural LGBTS/Terceiro gênero Religioso Moral/valores Total Fonte: Jornalismo e Política (2015)

68 79 3 0

3,4 4,0 0,2 0

9 16 3 6

1,3 2,4 0,4 0,9

20

1,0

23

3,4

18 0 8 722 1982

0,9 0 0,4 36,5 0,1

6 8 4 194 672

0,9 1,2 0,6 28,9 100,0

A mulher apela pelo voto, mas não evoca nenhum tipo de prerrogativa de identificação para tal. Isso pode ser observado graças à quantidade de apelos não tipificados (60%), ou seja, é a pedida pelo voto em si, sem nenhum outro fator decisório. É o simples "vote em mim"; "me ajude a conquistar mais essa vitória". O tipo de apelo que esperávamos encontrar - o feminino - foi subempregado pelas candidatas, aparecendo em apenas seis segmentos, o que representa 0,6% do total. O destaque dessa estratégia vai para o tipo de apelo moral/valores, que esteve presente em 28,9% do total. A grande presença pode ser explicada, talvez, pelo papel que a mulher ainda representa em âmbito social, condicionada pela dinâmica da vida familiar (Araújo, 2005). O mesmo acontece quando analisa o apelo feito pelos homens, a maior tipificação foi a de moral e valores, que esteve presente em 36,5% dos discursos feitos por eles. Em sua maioria os homens também apelam de maneira geral, com o famoso “vamos juntos para mais essa vitória”, o que se tona presente quando 53,6% não possui nenhuma tipificação. Mesmo sendo menor em relação a não tipificação das mulheres, essa falta de identificação dos apelos trazem uma ideia de outro tipo de discurso eleitoral, que não necessariamente abrangem todos os seus eleitores, uma vez que não aparece apelos femininos ou LGBT nas falas de candidatos homens. Os dados apresentados até aqui dão um panorama geral sobre a presença das candidatas mulheres nos programas do HGPE televisivo de 2012. A partir deles, podemos chegar a algumas conclusões, que serão apresentadas em seguida.

5. Conclusão Este paper teve por objetivo investigar como se deu a representação de candidatas mulheres ao cargo de vereadora no horário eleitoral televisivo de 2012, em Ponta Grossa, comparando com as estratégias empregadas nos discursos dos candidatos. Os dados mostraram que a representação feminina no horário eleitoral se deu em 25,3% dos programas, ou seja, as candidatas apareceram em 1/3 do espaço

total, embora a média de tempo em aparição tenha se equiparado aos homens aproximadamente 11 segundos. Quando se olha para o conteúdo das falas se verifica que as estratégias temáticas ficam de fora de boa parte de ambos os discursos. Em quase 50% dos casos, as candidatas e candidatos não tratam sobre tema algum. No que se refere a temas, o que mais aparece é o cardápio, ou seja, quando se fala de vários temas, mas sem aprofundar nenhum (por exemplo: "eu vou melhorar a saúde, educação, as ruas e a trabalhar para diminuir a violência"); e em seguida aparecem mensagens ligadas às questões ético-morais, com um percentual levemente maior entre os candidatos. No entanto, verifica-se que, até aqui, os discursos foram muito parecidos. Já no que se refere ao apelo ao voto, há forte presença, mas ela não é qualificada. Isso significa candidatos e candidatas não pedem o voto baseados em uma causa ou identificação, como era esperado. Na maior parte dos segmentos há apelo ao voto, mas ele não é tipificado. Mais uma vez, as estratégias entre os candidatos se mostram parecidas. Homens e mulheres recorreram mais ao apelo moral em suas falas. O apelo ao voto feminino, que era o que se imaginava encontrar dentre as falas femininas, concentrou um baixíssimo percentual, aparecendo em apenas 0,6% dos casos. Desta maneira, conclui-se que no que tange às estratégias no horário eleitoral televisivo proporcional, candidatos homens e mulheres empregaram as mesmas estratégias, não direcionando o discurso para nenhum nicho específico, pelo menos no que diz respeito a este estudo de caso. Não é possível propor generalizações, para isso é necessário um estudo comparativo com outros contextos e anos eleitorais. Mas o que fica evidente é que é necessário qualificar o discurso, pois ele ainda é vago no que tange a apresentação de propostas, independente do candidato. Contudo, como dito anteriormente, seria necessário um estudo comparativo para poder se ter um parâmetro entre esses resultados. Assim, seria possível chegar a conclusões mais contundentes sobre a representação feminina no horário eleitoral. Referências ALBUQUERQUE, Afonso de.; STEIBEL, Fabro; CARNEIRO, Carolina. A outra face do horário gratuito: Partidos políticos e eleições proporcionais na televisão. In: DADOS - Revista de Ciências Sociais. Vol. 51, núm. 2, pp. 459-487. Rio de Janeiro, 2008. ______. Propaganda política e eleitoral. In: RUBIM, Antonio (Org.). Comunicação e política: Conceitos e abordagens. Salvador: Edufba, 2004. ______. Aqui você vê a verdade na tevê: a propaganda política na televisão. Rio de Janeiro: MCII/UFF, 1999.

ARAÚJO, Clara. Partidos políticos e gênero: mediações nas notas de ingresso das mulheres na representação política. In: Revista de Sociologia e Política. Núm. 24, pp. 193-215. Curitiba, 2005. ARAÚJO, Rita de Cassia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política. In: Estudos Avançados. Vol. 17, núm. 49, 2003. BERNARDI, Osman. A inserção do cotidiano no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral: o uso político da realidade social como reforço à candidatura. In: Revista Conversas e controvérsias.Vol. 2, núm. 2, pp. 65-79. Porto Alegre, 2011. CERVI, Emerson. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. In: Revista Opinião Pública. Vol. 17, núm. 1. Campinas, 2011. ______.; MASSUCHIN, Michele Goulart. HGPE e a formação da opinião pública no Brasil: análise das estratégias dos principais candidatos à presidência da república em 2010. In: Congresso Latino Americano de OpiniãoPública – WAPOR, 2011. ______. O "tempo da política" e a distribuição dos recursos partidários: uma análise do HGPE. In: Em Debates. Vol. 2, núm. 8, pp. 12-17. Belo Horizonte, 2010. ______. Métodos quantitativos nas ciências sociais: uma abordagem alternativa ao fetichismo dos números e ao debate com qualitativistas. In: BOURGUIGNON, J. (org.) Pesquisa Social: reflexões teóricas e metodológicas. Ponta Grossa: TODAPALAVRA Editora, 2009. p. 125-143. FIGUEIREDO, Marcus et all. Estratégias de persuasão em eleições majoritárias: uma proposta metodológica para o estudo da propaganda eleitoral. In: FIGUEIREDO, Rubens. (Org.). Marketing Político e Persuasão Eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000. GOMES, Neusa. Formas persuasivas de comunicação política. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. 135 p. MANCINI, Paolo.; SWANSON, Davis. Politics, Media and Modern Democracy: an International Study of Innovations in Electoral Campaigning and their Consequences. Westport, London: Praeger, 1995. MASSAMBANI, Ana Cláudia; CERVI, Emerson. A participação das mulheres no HGPE proporcional: uma análise comparativa das campanhas para deputado federal no Paraná em 2006 e 2010. In: XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul. Londrina, 2011. MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flávia. Práticas de gênero e carreiras políticas: vertentes explicativas. In: Estudos Feministas. Vol. 18, núm. 3, 2010, pp. 653-679. ______. Apelos discursivos em campanhas proporcionais na televisão. In: Política e Sociedade, vol. 9, núm. 16, pp. 151-175, 2010. ______. Televisão e construção da agenda eleitoral no Brasil. In: Diálogos latinoamericanos. Núm. 10, pp. 1-16. Aarhus, 2005. ______. Discursos cruzados: telenoticiários, HPEG e a construção da agenda eleitoral. In: Revista Sociologias. Núm. 11, ano 6, pp. 238-258. Porto Alegre, 2004. ______. Teoria política feminista e liberalismo: o caso das cotas de representação. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 15, núm. 44, 2000, pp. 91-102. VIEGAS, José Manoel Leite.; FARIA, Sérgio. Participação política femininas: percursos, constrangimentos e incentivos. In: Sociologia - Problemas e práticas. Núm. 30, 1999, pp. 58-87. PANKE, Luciana.; CERVI, Emerson. Análise da comunicação eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos do HGPE. In: Revista Contemporânea Comunicação e Cultura. Vol. 9, núm. 3, pp. 390-404. Salvador, 2011.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.