Sobrevivendo ao jogo

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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Sobrevivendo ao jogo

Autor: Def Yuri | 28/06/2002 | Seção: Def Yuri

Sobrevivendo ao jogo Domingo. Início da madrugada, sem sono, sem nada para fazer, resolvi ver "Sobrevivendo ao jogo", filme que conta com a participação do rapper estadunidense Ice T, no papel de Mason , contratado para ser caça de uns loucos, que tinham como hobby caçar seres humanos. A historia é a mesma de sempre: o intrépido herói derrotará gregos e troianos para conquistar sua liberdade e para isso utiliza diversas técnicas de sobrevivência. Ao acompanhar o filme, pensei – caralho bem que esse Mason poderia ter nascido no Rio de Janeiro, onde milhões de cariocas têm que sobreviver aos múltiplos fanáticos que compõe e fazem o gerenciamento desse estado necrosado. E podem apostar: no quesito sobrevivência, nós cariocas somos imbatíveis ! E lá se foi o Def madrugada a dentro, escrevendo, escrevendo e escrevendo... Tentando traduzir a rotina e as mazelas do carioca para aqueles que acompanham essa coluna. Certamente enquanto eu escrevia o prédio da prefeitura estava sendo alvo de um "ataque de traficantes". Confesso que não boto fé na origem dessa ação – ela esta mais para grupos demenciais que agem com o objetivo de desestabilizar e/ou desmoralizar governos. Penso que "agentes" sem nenhum temor e respeito pela lei oficial e realmente determinados seriam mais "criativos" e "mortais" em uma ação desse porte. Foi uma ação típica de holofotes - nesse aspecto eles foram bem. Já no objetivo de guerra declarada e demais notícias expostas diariamente na mídia , sob essa ótica , penso ser coisa de amador, é tudo muito certinho, pensado e até "romântico". Bem, muitos acreditam em tudo... Em época de campanha eleitoral "alguns" fazem de tudo para conquistar seus objetivos, não importa a maneira. Não importa o estado de pânico em que a população fica, e depois essa mesma população vai e vota nesses genocidas. Anotem aí: já posso até prever os próximos capítulos – tiroteios causarão pânico em túneis ou blitz de traficantes fecharão grandes avenidas. Ataques a órgãos de imprensa – um tiro, quem sabe uma bomba caseira. Histeria coletiva, discursos inflamados. Aumento da procura por dispositivos de segurança e por aí vai. Serão as mesmas ações de sempre que se repetirão nesses períodos pré-eleitorais e se os pútridas ou simplesmente filhos-da-puta conseguirem atingir seus objetivos, então teremos uma calmaria momentânea. Enquanto isso as legiões de "desgraçados" que são os principais acionistas da violência, continuarão sua "batalha" diária pelo prazer de cada baseado apertado, de cada tirinho de cocaína. Cada "fortalecimento" leva consigo uma grande dose de outras vidas, se fossem apenas esses "desgraçados" que se fodessem, eu nem falava nada, porém não é o caso... Esses "desgraçados"! Numa próxima oportunidade publicarei um artigo inteiro dedicado aos "desgraçados". Agora exponho alguns comentários que me foram enviados em decorrência dos meus dois últimos artigos. Em breve publicarei mais . De : Danielle Reule Def Yuri, - o aumento da violência no Rio se deve, principalmente, ao poder crescente dos traficantes; - os traficantes se armam com a grana que recebem do tráfico ; - o tráfico só sobrevive porque existem pessoas para comprar as drogas, os usuários; - os usuários, em sua maioria, são de classe média e alta; - o usuário, seja de que classe for, mesmo o que "fuma e cheira socialmente", indiscutivelmente, financia o tráfico;

- financiando o tráfico, o usuário dá mais poder e dinheiro aos bandidos que espalham a violência que aí está; - o traficante, financiado pelos usuários, mata pessoas como o jornalista Tim Lopes... cuja maioria dos colegas de trabalho é usuário de drogas e tem a cara de pau de cobrar providências das autoridades... Conclusão: quem compra e usa drogas financia o tráfico, financia a violência. E nesse grupo não estão apenas adolescentes em crises existenciais. Estão policiais, médicos, advogados, jornalistas, empresários, artistas e políticos. Enquanto essa hipocrisia reinar, a paz não terá uma chance. De : Luciane Duarte Def Yuri, depois de ler seu último artigo, faço os seguintes comentários: Uma coisa que eu tenho observado ultimamente foi interesse repentino que apareceu na Globo em mostrar a violência nas favelas cariocas. Desde sempre eu escuto tiros entre os morros perto da minha casa, pra mim e para a maioria da população isso não é novidade nenhuma. Tem época piores, aonde os tiros rolam todos os dias e que pelo barulho se percebe tratar de armas mais pesadas e tem dias mais tranqüilos apenas com pequenas rajadas de metralhadoras e dias também que se não ouve nada. "Coincidentemente" quando a Bené (PT) assume o estado, aparecem câmeras escondidas em morros, mostrando a galera armada de fuzil, moradores fugindo com medo (essa cena até está registrada no filme Orfeu, portanto não é nenhuma novidade!) e outras coisas mais. Coisas que não são novidades para ninguém que mora no Rio de Janeiro. Será que eles só descobriram isso agora? Esse poder paralelo nos morros do Rio acontece a muito tempo, hoje em dia não está nem melhor nem pior do que antes. Quanto ao caso do Tim Lopes, tirando o sensacionalismo da Globo, não acho legal essa "justiça" paralela que julga, condena e executa. Seja com ele ou com o cara que é morto por ter roubado uma bicicleta na comunidade. Me faz lembrar a época da inquisição aonde as pessoas eram queimadas por conveniência da Igreja Católica. O tempo passa, os métodos mudam, mas a história é a mesma sempre... Também não acredito no estado paralelo, concordo com o que ouvi do Rubem César do Viva Rio em uma entrevista, que existe uma anarquia paralela, um poder sem comando, que vale a lei do mais forte, aonde num duelo entre traficantes, polícia e população, nem é preciso dizer quem sai perdendo. Todos nós realmente temos a nossa parcela de culpa, principalmente na hora do voto e é muito fácil ficar em casa reclamando que o Rio de Janeiro está um merda, que a culpa é do fulano ou beltrano, ou então ouvir o nosso prefeito dizer que a polícia tem que invadir as favelas atirando, e se morrerem um ou dez, não faz diferença, o importante é proteger a sociedade.... e o pior é que tem gente que concorda com ele... De: Adriana Botafogo Violência: Qual é a novidade? Fico muito preocupada com a criminalização de pessoas pelos meios de comunicação. A mídia é capaz de criar vilões, heróis, galãs em pouco tempo e explorar sua imagem enquanto ainda dá IBOPE. Mais o que

mais me preocupa em tudo isso é a nossa falta de senso crítico em alguns casos. Não basta ler uma matéria no jornal ou assistir a um noticiário televisivo, mas ter opinião própria a respeito do assunto. Essa violência sempre existiu, não é novidade. não entendo porque toda essa exploração pelos meios de comunicação. Ou entendo, é claro: 2002 é ano de eleição. Chumbo Grosso É o poder da televisão. Quantas coisas foram denunciadas, investigadas e esquecidas. Quer exemplos: Palace II, quentinhas, Candelária, Vigário Geral, etc. E quem determina o que é a ética? Não é o grupo que a utiliza? Na minha opinião os papéis estão meio invertidos nessa sociedade. Deve-se cobrar ética da polícia, dos governantes e não de bandidos. Quando era criança e brincava daquele velho jogo de infância, Polícia e Ladrão, sempre escolhia o lado da polícia. Hoje eu teria dúvidas! De: Gil - Bocada-Forte E aí Def , firmeza? Parabéns! Resolvi escrever algo sobre os seus dois últimos textos. Eu escrevi, para contribuir no debate. Vê se serve, falou. PAZ!!!!! Gil A violência que aflige as camadas mais abastadas da sociedade e é destaque em todos os jornais e noticiários, hoje em dia. É a mesma que há mais de 10 anos, é um problema para as periferias das grandes cidades brasileiras, para as favelas de São Paulo e para os morros cariocas. A música RAP vem em suas letras alertando, desde o início, sobre o problema e dizendo que ele só se tornaria uma preocupação quando atingisse a elite brasileira, foi o que aconteceu. Enquanto o problema estava distante ninguém deu ouvidos e agora deu no que deu... De: Sandra Vale No domingo li um artigo no jornal o Globo do Affonso Romano de Sant'anna (poeta), "nós, os que matamos Tim Lopes", e acabei lembrando do teu artigo "violência - qual é a novidade". Quero falar, ou melhor escrever sobre isso: Há 25 anos moro no Brasil (sou Angolana de nascimento), mais precisamente no Rio de Janeiro, e mesmo tendo acompanhado várias "barbáries" que ocorreram nessa cidade, nada me choca mais do que ocorre agora: A FALTA DE MEMÓRIA DAS PESSOAS! Mesmo correndo o risco de parecer meio anestesiada, me desculpem mas qual é a novidade no caso Tim Lopes? Há já sei: ele era funcionário da Globo. Não questiono aqui o trabalho desse jornalista, pois sinceramente nunca tinha escutado falar dele, tudo bem sei que não sou do meio jornalístico, mas como cidadã não o conhecia. Questiono aqui a repercussão que se dá ao caso, pois se minha memória não esta falhando a morte do filho, marido, irmão, mulher de qualquer pessoa que mora nas favelas do RJ não apareceu em nenhum noticiário ou jornal, esses casos viraram estatística. Não estou querendo diminuir o ocorrido, até porque quem sou eu para concorrer com as Organizações

Globo, só queria lembrar que não estamos falando de nenhuma novidade, que o que foi feito sempre ocorreu. Então não me venham dizer que sei lá quantos cemitérios, fornalhas, microondas ou qualquer outra coisa foram descobertos agora. Que escritórios do tráfico dentro do presídio nunca existiram e isso só ocorre agora por conta da situação caótica em que o Estado do RJ se encontra. E falando em estado: o Estado somos nós, que votamos, elegemos e que se o lixo não estiver no nosso quintal não estamos nem aí. Então se existe Estado Paralelo, me desculpem mas para mim não é o do tráfico e sim da INDIFERENÇA. Espero ter contribuído, Beijos e boa sorte Sandra do Vale (Advogada) Agradeço a todos que me incentivam e me apoiam - Obrigado pelas mensagens enviadas . Quero agradecer ao Fedayin Gil (Bocada-Forte / Manuscrito) pelas palavras expostas no seu último artigo www.bocadaforte.com.br

Irmão muito obrigado por acreditar. Ser referência para um Batalhador como você é algo que faz valer todas as dores de cabeça, me mostra que nem tudo é decepção nessa cultura chamada Hip Hop . Estamos ai pruqderivier.

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