SOFTWARE RAZ-KIDS: Descrição e Funcionalidade para Estimular Leitura em Crianças. Cidrim, L., Roazzi, M. & Roazzi, A. (2015).

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Fonte: CIDRIM, L.; ROAZZI, M.; ROAZZI, A., 2015. SOFTWARE RAZ-KIDS: Descrição e Funcionalidade para Estimular Leitura em Crianças. In: CIDRIM, L; COSTA, S. (Orgs.). Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) Aplicadas às Ciências da Linguagem. Curitiba: Editora CRV, 2015.

CAPÍTULO 3 SOFTWARE RAZ-KIDS: Descrição e Funcionalidade para Estimular Leitura em Crianças Luciana Cidrim Maíra Roazzi Antonio Roazzi Introdução Ler é uma habilidade que faz parte do nosso dia-a-dia, entretanto, por mais comum que possa parecer a realização de uma leitura, essa tarefa não é tão simples como pode ser julgada. Dentro de uma visão mais abrangente, ler significa, fundamentalmente, compreender o que foi lido. Não basta somente decodificar, é preciso que o leitor se contextualize e atribua significado à sua leitura. A leitura de um texto exige muito mais do que o simples conhecimento linguístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é, necessariamente, levado a mobilizar uma série de estratégias tanto de ordem linguística como de ordem cognitivo-discursiva, com o fim de levantar hipóteses, validar ou não as hipóteses formuladas, enfim, participar de forma ativa, da construção de sentido (KOCH, 2002). Como atividade mental extremamente complexa, o ato de ler requer o uso de diferentes processos cognitivos, que vão desde o reconhecimento de palavras e o acesso ao seu significado, passando pela divisão sintática, pela análise semântica e pela interpretação de todo o texto lido (ALVES, 2007). Ler é considerada uma das mais importantes habilidades acadêmicas. Ser capaz de ler é essencial para os alunos aprenderem os conteúdos escolares, seja por meio de enunciados, instruções e livros didáticos (GIBSON; CARLEDGE; KEYES, 2011). A importância da leitura se estende para além alfabetização, pois o letramento

 

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é necessário ao longo de toda a sua vida adulta. Para Marchand (2015), a leitura é uma tarefa complexa que envolve muitas habilidades, tais como, decodificação de palavras desconhecidas, compreensão de vocabulário, bem como memorizar fatos e eventos ocorridos na leitura de um texto. Existem cinco aspectos considerados necessários para o ensino da leitura: consciência fonêmica e fonética, fluência, vocabulário e compreensão, e que a criança precisa se apropriar ao longo de sua escolaridade (LACINA, 2006). A fluência, segundo Speece e Ritchey (2005), é a capacidade de ler textos com precisão e expressão adequadas, sendo este, um passo importante para desenvolver habilidades para compreender, pois a leitura não é apenas decodificação de palavras, são necessárias conexões a partir do texto escrito para que a compreensão seja atingida. Allington (2011) destaca que a exposição precoce de livros e a prática frequente da leitura pode beneficiar as crianças a construir os seus interesses e se tornar um leitor ao longo da vida. A utilização da tecnologia pode ser uma ferramenta motivadora para apoiar as crianças nesse processo de construção e consolidação da leitura. O objetivo deste estudo é descrever o funcionamento de um software denominado Raz-Kids, utilizado em escolas americanas para estimular a leitura. Revisão da Literatura A utilização de computadores para trabalhar habilidades de leitura na escola, estimula desde o conhecimento da palavra até estratégias metacognitivas de leitura. Além disso, os ambientes de aprendizagem que utilizam ferramentas tecnológicas podem contribuir para auxiliar os alunos a assumir uma maior autonomia diante os conteúdos acadêmicos (KAST et al. 2011; BJORKLUND, 2011). Em um estudo realizado por Gibson, Cartledge e Keyes (2011) foram analisados os efeitos de um software denominado Read Naturally para promover fluência e compreensão de leitura em alunos com risco de déficits de leitura. Oito alunos de 1st grade, equivalente ao 1o. ano do ensino fundamental em escolas brasileiras, participaram de sessões de intervenção no computador, três ou quatro vezes por semana, por aproximadamente, quatro semanas. Nos resultados foram apresentados um aumento na fluência e na compreensão de leitura em todos os alunos

 

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envolvidos na pesquisa. Esses resultados parecem apoiar o uso de programas de leitura baseados em computadores. A estimulação da leitura em escolares, antes mesmo do período da alfabetização formal tem sido investimento de alguns pesquisadores. Kooy-Hofland, Bus e Roskos (2012) examinaram os efeitos do software Living Letters que trabalha com habilidades fonológicas, reconhecimento de palavras e ortografia, em alunos do kindergarten. Nesse trabalho, os participantes foram divididos em três grupos. O primeiro grupo recebeu instrução utilizando o Living Letters; o segundo grupo utilizou livros impressos e o grupo final utilizou ambos os programas. Ao longo do ano letivo, as crianças foram sendo testadas e os resultados apresentados constataram um melhor desempenho metafonológico em todos os escolares submetidos a intervenções com o Living Letters. Os softwares Omega-IS comprehension training program e o COMPHOT phonological training (FALTH et al., 2013) foram utilizados em crianças de 2nd grade, compatível ao 2o. ano do ensino fundamental em escolas brasileiras. As crianças participantes foram divididas em quatro grupos, e todas as sessões de intervenção foram realizadas, diariamente por um período de 15/25 minutos, por um professor de educação especial no ambiente de sala de aula. O foco do treinamento dos softwares eram as habilidades fonológicas e compreensão, constituído de atividades, tais

como, rimas, compreensão de sentenças e textos, discussão de

histórias, leitura de palavras e pseudopalavras e leitura em voz alta. Constatou-se que o grupo de crianças submetidas aos dois programas apresentaram resultados mais eficazes na decodificação, leitura de palavras e não-palavras e compreensão de sentenças. Alguns autores sugerem que além de programas de leitura, os livros eletrônicos ou e-books são um recurso de suporte, com suas ferramentas de feedback e efeitos sonoros. Essas ferramentas não só facilitam a leitura, mas também atraem as crianças para ler (GLASGOW,1996; KORAT, 2010; IHMEIDEH, 2014; LYSENKO; ABRAMI, 2014; CORDERO et al., 2015). Ciampa (2012) utilizou e-books do software ICANREAD com crianças de 1o. ano do ensino fundamental, e constatou após uma intervenção de três meses, um aumento no tempo de leitura em casa, o que pode ser justificado pelo fato de as crianças terem a liberdade de escolher os seus livros e não necessitar do auxílio de um adulto para acompanhar a leitura.

 

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Funcionalidade do software raz-kids O raz-kids (http://www.raz-kids.com) é um software de leitura lançado em 2004 pelo programa Learning A-Z (https://www.learninga-z.com), um site norte americano que fornece recursos de ensino para professores e seus alunos, focando no desenvolvimento de leitura, escrita e ciências. O raz-kids é um software que busca promover leitura na escola e em casa, oferecendo mais autonomia aos alunos e permite monitoramento dos pais e professor. Usualmente, este software é adquirido pela escola e cada professor recebe uma licença para sua sala de aula. O primeiro procedimento é o professor realizar um teste de leitura individual para determinar o nível de leitura do aluno. Nos Estados Unidos existe uma série de sistemas de classificação de nível de leitura usados pelos professores para determinar o nível de cada aluno e monitorar seu progresso ao longo do ano, por exemplo: DRA, Fountas and Pinnel, Leaning A-Z. Esses instrumentos medem precisão, fluência e compreensão leitora culminando em uma classificação que condiz com a zona de desenvolvimento proximal do aluno no seu desenvolvimento de habilidade leitora. O site do raz-kids possui uma tabela para o professor converter o score obtido para a classificação usada pelo sistema Learning A-Z, que vai do nível aa (kindergarten equivalente à pré-alfabetização) até Z (5th grade equivalente ao 5o ano). O professor cria uma conta para cada aluno, configurando o programa para seu nível de leitura. Uma vez criada a conta, a criança e os pais recebem um login e senha. O programa pode ser acessado online ou via download de aplicativo. Ao entrar, o aluno faz seu login e em seguida, é aberta a tela com o menu de instruções (Figura 1). O aluno, então, seleciona o ícone de leitura (read) e a sua biblioteca virtual é aberta com uma seleção de livros contendo estórias ficcionais e não-ficcionais, condizentes com seu nível de leitura (Figura 2). Ao selecionar um livro, o aluno escolhe se quer ouvir, ler ou fazer um teste. Ao selecionar a opção de ouvir, abre-se a tela de leitura que contem conteúdo escrito e ilustrativo (Figura 2). O aluno então, escuta a estória que é lida pelo programa, visualizando o texto com um marca texto virtual que acompanha a velocidade de leitura do programa, guiando a atenção da criança para as palavras que estão sendo lidas. O aluno pode pausar, mudar as páginas e escutar a estória quantas vezes quiser.

 

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Concluída a leitura, o programa retorna para o menu principal e o aluno pode selecionar a opção de leitura ativa. Nessa etapa, o aluno lê o texto sozinho, podendo inclusive, gravar e regravar a sua leitura, até ficar satisfeito. Após a sua gravação, é possível enviá-la ao seu professor. Retornando ao menu principal (Figura 3), seleciona-se a opção de teste (quiz), onde o aluno responde a uma série de perguntas sobre o texto em formato de múltipla escolha com o intuito de verificar compreensão (Figura 4). Todas essas informações coletadas (gravação e teste) são enviadas para o professor. Paralelo a isso, o aluno ganha pontos virtuais no formato de estrelas que servem como reforço positivo. Cada atividade lhe rende pontos diferentes que vão se acumulando. O aluno pode verificar seu saldo de pontos quando quiser, podendo montar um robô ou um foguete virtual comprando diversas peças e acessórios. O aluno segue lendo sua biblioteca virtual até completar toda a seleção. Nesse momento o professor é informado pelo programa, e o aluno é testado, novamente, pelo professor para ver se será graduado para o próximo nível de leitura, ou se ainda precisa de mais prática. O raz-kids permite ao professor monitorar o progresso de leitura de seus alunos, podendo corrigir as gravações que lhe são enviadas. Caso o professor deseje corrigir uma gravação, o programa abre uma tela de correção onde acompanha a leitura gravada pelo aluno (Figura 5). A cada erro cometido, o professor clica com o mouse na palavra lida erroneamente, pausando automaticamente a leitura, e seleciona a partir de um menu, qual o tipo de erro cometido (omissão, inserção, pronúncia errada, substituição ou repetição). Uma tabela na lateral direita ao texto vai contabilizando a frequência de cada tipo de erro, duração da leitura, palavras lidas por minuto, palavras corretas lidas por minuto, frequência de erros e frequência de autocorreções. O programa também possibilita ao professor gerar uma série de relatórios a cerca do progresso do aluno e do progresso da turma (Figura 6), assim como, enviar email para seus alunos ou pais. Considerações Finais O software raz-kids é uma ferramenta tecnológica que possibilita ao professor acompanhar e monitorar o progresso de seus alunos, tendo acesso a informações detalhadas que lhes orienta planejar atividades e intervenções, individualmente, ou em sala de aula como um todo. O uso frequente e sistemático do

 

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raz-kids possibilita que os alunos sejam mais independentes na leitura, ao mesmo tempo que permite aos pais um monitoramento do progresso de seus filhos, bem como, participarem em conjunto das leituras. O formato digital do raz-kids cativa a atenção do aluno e o estimula a acompanhar a sua evolução de uma fase para outra.

Figura 1. Tela inicial com o menu de livros a ser escolhido pela criança

Figura 2. Tela de leitura

 

Figura 3. Tela com o menu de ações

Figura 5. Tela para correção de leitura

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Figura 4. Tela com o Quiz Test

 

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Figura 6. Tela com menu de relatórios

Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de apoio financeiro à primeira autora. Referências Bibliográficas ALLINGTON, R. L. What really matters for struggling readers: Designing researchbased programs. New York: Wesley, 2011. ALVES, L. M. A prosódia na leitura da criança disléxica. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Letras. Belo Horizonte, 2007. BJORKLUND, M. Dyslexic students: success factors for support in a learning environment. Journal Academy Libr, vol. 77, p. 423-29, 2011. CIAMPA, K. I. The effects of an online reading program on grade 1 students' engagement and comprehension strategy use. Journal of Research on Technology in Education, vol. 45, p. 27-59, 2012. CORDERO, K; NUSSBAUM, M.; IBASETA. V.; OTAÍZA, M.J.; GLEISNER, S.; GONZÁLEZ, S.; RODRÍGUEZ-MONTERO, W.; STRASSER, K.; VERDUGO, R.;

 

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UGARTE, A.; CHIUMINATTO, P.; CARLAND, C. Read Create Share (RCS): A new digital tool for interactive Reading and writing. Computers and Education, vol. 82, p. 486-496, 2015. FALTH, L.; GUSTAFSON, S.; TJUS, T.; HEIMANN, M.; SVENSSON, I. Computer-assisted interventions targeting reading skills of children with reading disabilities--A longitudinal study. Dyslexia, vol. 19, p. 37-53, 2013. GIBSON, L.; CARTLEDGE, G.; KEYES, S. E. A Preliminary Investigation of Supplemental Computer-Assisted Reading Instruction on the Oral Reading Fluency and Comprehension of First-Grade African American Urban Student. Journal of Behavioral Education, vol. 20, p. 260-282, 2011. GLASGOW, J. N. It’s my turn! Part II: Motivating young readers using CD-ROM storybooks. Learning and Leading with Technology, vol. 24, p.18-22, 1996. IHMEIDEH, F. M. The effect of eletronic books on enchancing emergent literacy skills of pre-school children. Computers and Education, vol. 79, p. 40-48, 2014. KAST, M; BASCHERA, G. M; GROSS, M.; JANCKE, L.; MEYER, M. Computerbased learning of spelling skills in children with and without dyslexia. Annals of Dyslexia, vol. 61, p. 177-200, 2011. KOCH, I. V. Desvendando os Segredos do Texto. São Paulo: Cortez, 2002. KOOY-HOFLAND, V. der; BUS, A. G.; ROSKOS, K. Effects of a brief but intensive remedial computer intervention in a sub-sample of kindergartners with early literacy delays. Reading and Writing: An Interdisciplinary Journal, vol. 25, p. 1479-1497, 2012. KORAT, O. Reading electronic books as a support for vocabulary, story comprehension and word reading in kindergarten and first grade. Computers and Education, vol. 55, p. 24-31, 2010. LACINA J. Learning to read and write using the internet: Sites you don't want to miss! Childhood Education, vol. 83, p. 117-128, 2006. LYSENKO, L. V.; ABRAMI, P.C. Promoting reading comprehension with the use of technology. Computers and Education, vol. 75, p. 162-172, 2014. MARCHAND, A. Using The Raz-Kids Reading Program to Increase Reading Comprehension and Fluency for Students with LD. Thesis. Rowan University: May, 2015. SPEECE. D. L.; RITCHEY, K. D. A longitudinal study of the development of oral reading fluency in young children at risk for reading failure. Journal of Learning

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