Solidariedade e o Professor Hermógenes, rápida reflexão sobre uma outra passagem: da CTS para a CTSN (Opinião, Março, 2015)

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A solidariedade e o Professor Hermógenes, rápida reflexão sobre uma outra passagem: a da CTS para a CTSN Por Evandro Vieira Ouriques Dedicado a Tulio Medeiros

O desafio e a oportunidade que está diante e em nós, é a do treinamento não-dualista; ou seja, da superação do fato de que estamos impregnados em nossos pensamentos, afetos (emoções e sentimentos) e percepções de que a realidade "é" partida, "é" fragmentada. Só falar isso já gera reações, algumas muito intensas. Isso ocorre porque minha afirmação vai no sentido oposto de tudo que se aprendeu e -mais grave ainda- de tudo que se incorporou. Exatamente: in-corporou. Por isso, o conceito de mente que utilizamos na Psicopolítica está alicerçado em parte robusta das neurociências, que concluíram: a mente é 'consciência incorporada'. Portanto dizer que precisamos incluir já é uma atitude muito importante. Para transformar esse conceito em realidade temos, no entanto, uma longa caminhada. É comum que as imagens de inclusão incluam apenas figuras humanas... Os animais ficam fora, as plantas ficam fora, a Terra inteira fica fora, o Cosmo, imagina..., fica fora. Até mesmo o círculo imaginado com com o que se quer que esteja incluído gera a exclusão do que não estiver dentro dele. Está correto quando se pensa que a solidariedade é a chave para resolver isso. Por isso, e para que ela seja uma realidade, precisamos superar o dualismo, pois é ele que cria o "outro", a "outra". Um exemplo: hoje fui ao velório de uma pessoa muito querida, o Professor Hermógenes. Nós nos conhecemos desde antes dele conhecer o Yoga, há mais de 60 anos, através de minha amada vó Fanica, quando ela o ajudou a criar o Núcleo Espírita do Colégio Militar do Rio de Janeiro, pois era uma medium completa e Presidente do Centro Espírita Guia Arthur. Esta é uma longa e outra história. O fato a que me refiro aqui é: o Professor Hermógenes "morreu"? Claro, é a primeira resposta, e não sem razão. Mas ele -de fato- "morreu"? Quanto de seus ensinamentos e experiências está incorporado em milhares e milhares de pessoas que praticaram Yoga com ele, leram seus livros, assistiram suas palestras, e lerão seus livros? Os átomos que compuseram seu "corpo" também deixarão de existir? Não. Serão re-integrados junto com seus ensinamentos e experiências em outros "corpos".

Há "apenas", portanto, uma solidariedade sistêmica. O que experimentamos, assim, é a ignorância em relação à ela. Como ela é sistêmica, compreender como se desconectou dela -e como a Psicopolítica nos permite compreender visceralmente este processo e metodologicamente superá-lo- gera consequências práticas para todos os desafios que enfrentamos. Pois em todas as áreas, a solidariedade é a questão. Como termos autosolidariedade, por exemplo com nossas contradições? Como lidarmos com o levante fascista e com o fascista (pequeno, médio ou grande que mora ou morou um dia em nós? E ao qual talvez hoje, eu e você, tenhamos dado adeus?); precisamos de compaixão, decisiva na teoria psicopolítica. Como termos solidariedade nas famílias, entre os vizinhos, nas comunidades, nas redes, nos movimentos, nas organizações? Como termos acadêmicos solidários com suas histórias e nossa origem comum; solidários portanto com a Natureza; como termos solidariedade em termos, como proponho, de CTSN (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Natureza)?; e não de CTS? Quando compreendemos e vivenciarmos -o que demanda instaurar tal consciência a partir e na respiração (o lugar psicopolítico da solidariedade corpo-mente, culturanatureza) uma visão auto-crítica do sentido social e ambiental do que estamos criando? Quando entendermos, por exemplo, que a ciência brasileira vai ganhar muito quando os dedicados colegas da CAPES pensarem ainda mais em solidariedade, e considerarem mais do que a produção dos três anos recentes do pesquisador; pois isto é redução da complexidade da filosofia e das ciências humanas e sociais ao utilitarismo de criar novidades em série e de aumentar quase sempre o poder de dominação. Pois o tempo de maturação do pensamento social, que emancipa, é outro que o tempo da "inovação" em termos de uma ciência reduzida à tecnologia, ainda mais quando o trio Ciência-Tecnologia-Sociedade/CTS está atrelada ao "estado de exceção", que inutilmente tenta sustentar o desamparo através do consumismo. Com o pai e a mãe da solidariedade, o amor, e a alegria da terna gratidão, e.

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