Soluções de reabilitação de paredes de fachada: Grampeamento pós-construção

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SOLUÇÕES DE REABILITAÇÃO DE PAREDES DE FACHADA: GRAMPEAMENTO PÓS-CONSTRUÇÃO

R. VICENTE Professor Associado Universidade de Aveiro Aveiro; Portugal [email protected]

T.M. FERREIRA Investigador Universidade de Aveiro Aveiro; Portugal [email protected]

H. VARUM Professor Catedrático FEUP, Universidade do Porto Porto; Portugal [email protected]

R. MAIO Investigador Universidade de Aveiro Aveiro; Portugal [email protected]

J.A.R. MENDES DA SILVA Professor Associado Universidade de Coimbra Coimbra; Portugal [email protected]

A. COSTA Professor Catedrático Universidade de Aveiro Aveiro; Portugal [email protected]

RESUMO Os sucessivos erros de execução e falta de pormenorização em projeto, aliados ao efeito das ações ambientais e à ausência de manutenção, têm originado graves problemas de instabilidade e fissuração em grande parte das envolventes exteriores de parede dupla em Portugal. Devido à frequência deste tipo de patologia, ao longo dos últimos anos tem vindo a ser feito um esforço no sentido de melhorar a legislação aplicável à certificação de produtos e soluções de reabilitação e reforço de baixo custo, adequadas ao tipo de alvenarias correntemente utilizadas em Portugal. Com este estudo procurou-se encontrar uma solução de grampeamento pós-construção de paredes de fachada que permita intervir de forma mais eficiente sobre as anomalias anteriormente descritas, com a perspetiva de constituir uma alternativa aos sistemas que se encontram atualmente disponíveis no mercado. Neste sentido, foram selecionadas e testadas seis soluções de grampeamento distintas, através da realização de duas campanhas experimentais preparadas especificamente com o intuito de estudar as vantagens e limitações associadas a cada uma das soluções. Os resultados obtidos através dos ensaios realizados são apresentados e discutidos ao longo do artigo, com o destaque para as duas soluções que melhor satisfazem os critérios e exigências inicialmente definidas. 1. INTRODUÇÃO O tipo e função das alvenarias usadas em Portugal vem sendo alterado desde a última metade do século XIX, através de um processo evolutivo que se demonstrou transversal a outros países industrializados, em que as alvenarias deixam de desempenhar o papel resistente típico das paredes de alvenaria de pedra, para desempenhar o papel de elemento de enchimento às estruturas porticadas de betão armado com alvenaria de tijolo cerâmico [1]. A partir da década de 70 surgiram as primeiras alvenarias de parede dupla, compostas por dois panos de alvenaria com caixa-de-ar interior, permitindo um melhor comportamento térmico global das alvenarias, o qual poderia ainda ser incrementado com a introdução de isolamento na caixa-de-ar e correção das pontes térmicas [2]. No entanto, ao longo das últimas décadas, têm vindo a ser identificados algumas patologias neste tipo de alvenarias, nomeadamente relacionadas com problemas de instabilidade e fissuração [3]. Estas anomalias estão muitas vezes associadas a erros ou incumprimento das boas práticas de execução e projeto de alvenarias [4], a ações ambientais e a situações de falta de manutenção. Devido à 1

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frequência destas patologias, nos últimos anos, têm-se concentrado esforços no sentido de melhorar a legislação aplicável à certificação de produtos e soluções para alvenarias [5]. Em Portugal, o reforço de cunhais, a colmatação de fissuras e o pós-grampeamento das alvenarias, são o tipo de intervenções que mais vulgarmente se encontram para resolver este tipo de anomalias. Contudo, estudos recentes da autoria de Ribeiro et al. [6, 7] concluíram que alguns destes sistemas usados na estabilização de alvenarias disponíveis no mercado, no caso os sistemas Dryfix e o CemenTie da Helifix® [8], apesar de demonstrarem uma prestação global muito boa na resolução deste tipo de problemas, apresentam uma resistência acima do necessário, o processo de aplicação possui algumas limitações de adaptabilidade às alvenarias correntes em Portugal e o seu custo é consideravelmente elevado [9]. Assim o presente trabalho, no seguimento dos estudos referidos anteriormente, vem dar um importante contributo nesta temática, através do estudo da viabilidade deste género de solução, com o objectivo de otimizar o seu processo de aplicação e diminuir o seu custo para que seja, desta forma, melhor aceite no mercado nacional. 2. PREPARAÇÃO DA CAMPANHA EXPERIMENTAL O estabelecimento de estratégias e dos objetivos a atingir em qualquer trabalho de carácter experimental é fundamental para o sucesso do mesmo, bem como para a otimização dos recursos afetados a este tipo de trabalhos de investigação. Por conseguinte, nesta secção serão apresentados e caracterizados o tipo de ensaios realizados, as soluções de grampeamento utilizadas e ainda a forma como foram construídos os provetes de ensaio. 2.1. Protocolo de ensaio Neste estudo, e à semelhança do protocolo de ensaio estabelecido no estudo desenvolvido por Ribeiro [9], foram realizados dois tipos de ensaios. O primeiro, um ensaio de arrancamento (pull-off test) [10], foi realizado em 15 dos 22 provetes com o intuito de controlar a qualidade dos grampeamentos executados, mas também de estimar a sua capacidade resistente. O segundo, um ensaio realizado através de um atuador mecânico, foi realizado nos restantes 7 provetes. O setup deste segundo ensaio foi instalado através de um atuador mecânico de 300kN, uma célula de carga de 25kN, um LVDT (Linear Variable Differential Transformer) para obtenção do deslocamento e uma garra metálica que permitiu traccionar os varões [11]. 2.2. Soluções de grampeamento Após efetuada uma revisão sobre as características de várias soluções de grampeamento disponíveis no mercado, fez-se uma procura dos materiais que se encontram disponíveis no mercado, foram selecionadas dois tipos de soluções (ver Figura 1). A primeira solução diz respeito às mangas perfuradas compósitas HIT-SC e químicos de injeção HIT MMPlus e HIT-HY 70 da HILTI® [8], selecionada como alternativa ao sistema CemenTie usado por Ribeiro [9]. A segunda solução de grampeamento são as buchas mecânicas de mola e expansíveis, desta vez como alternativa ao sistema Dryfix, também utilizado no trabalho desenvolvido por Ribeiro [9]. Optou-se ainda pela utilização de dois tipos de varões, o tradicional varão helicoidal de 6 mm e um varão roscado de 4 mm, o qual permite obter um desempenho semelhante com uma diminuição significativa de custos.

(a)

(b)

Figura 1: Manga HIT-SC e químico HIT-HY 70 [8] (a) e buchas de expansão e de mola (b) No esquema da Figura 2 são apresentadas as várias combinações de soluções de grampeamento ensaiadas, em função dos diferentes tipos de manga, químicos de injeção e varões, permitindo assim, através da comparação das várias combinações de ensaios, aferir sobre a influência dos dois tipos de químicos de injeção utilizados e ainda sobre a influência do tipo de varão utilizado. A cada combinação de ensaio foram atribuídas designações que representam as 2

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componentes diferenciadoras de cada combinação, onde as iniciais MM ou HY e R4 ou H6 dizem respeito ao químico de injeção e ao tipo de varão utilizados, respectivamente. Já as designações Mec-M e Mec-E são referentes ao grampeamento mecânico realizado através da utilização de buchas tipo mola e de expansão, respetivamente. Por último, a manipulação do bolbo, teve por objetivo a criação de um bolbo maior e mais concentrado junto às paredes dos septos com o auxílio da colocação criteriosa de fita-cola, conseguindo-se desta forma uma maior economia de material.

Grampeamento

Químico

Roscado

Mecânico

Helicoidal

Químico Hit HY 70

Químico MM-Plus

Químico MM-Plus

Químico Hit HY 70

Bucha Mola

Bucha Expansão

Comb. 1 HY-R4

Comb. 2 MM-R4

Comb. 3 MM-H6

Comb. 4 HY-H6

Comb. 5 Mec-M

Comb. 6 Mec-E

Figura 2: Esquematização das combinações de soluções de grampeamento químico e mecânico utilizadas nos ensaios

2.3. Provetes de ensaio Os provetes de ensaio foram executados através do grampeamento de dois tijolos cerâmicos isolados com os formatos 30x20x15 cm e 30x20x11 cm, representativos das alvenarias de envolvente exterior mais usuais em Portugal, com uma caixa-de-ar de 6 cm entre eles, normalmente semipreenchida. A caracterização mecânica destes tijolos, efetuada segundo a norma NP-EN 772-1 [12] para 8 tijolos selecionados de cada um dos formatos utilizados [11], veio confirmar uma resistência à compressão inferior ao indicado pelo fabricante nos tijolos de formato 30x20x11 cm, situação que naturalmente influiu nos resultados dos ensaios. Também a redução de 20% e 40% na espessura dos septos dos tijolos de formatos 30x20x15 cm e 30x20x11 cm, respetivamente, relativamente àqueles produzidos pelo mesmo fabricante em 2013, veio influenciar negativamente os demais resultados. Os grampeamentos foram executados para cada uma das soluções utilizadas de acordo com as recomendações do fabricante, e apresentam-se após aplicação, esquematizados nas peças desenhadas da Figura 3. Recomendações adicionais sobre a execução de grampeamentos, assim como a descrição detalhada dos passos que conduzem à correta construção dos provetes, podem ser consultadas no trabalho de Marques [11].

3

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(a)

(b)

(c)

Figura 3: Esquema dos provetes de ensaios da campanha experimental: grampeamento químico com manipulação do bolbo e manga Sc 12x85 mm (a); grampeamento mecânico com bucha de expansão (b) e bucha de mola (c) De forma a assegurar os 6 cm de caixa-de-ar entre os provetes, foi necessária a colocação de espaçadores. No caso dos ensaios de arrancamento (pull-off test), e uma vez que é necessário proceder-se ao corte do varão após a cura do provete de forma a que os dois tijolos possam ser ensaiados separadamente, optou-se pela utilização de espaçadores de XPS. Já para os ensaios realizados no atuador mecânico, uma vez que este equipamento possui uma componente de controlo da deformação, optou-se por uma abordagem distinta, através da produção de espaçadores em blocos de argamassa de traço volumétrico 1:3 (3 partes de areia para 1 de cimento) de forma a restringir tais deformações que, de outro modo, poderiam influir significativamente nos resultados do ensaio. 3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS 3.1. Ensaio de arranque (pull-off test) Antes de se discutirem e analisarem os resultados obtidos através do ensaio de arranque (pull-off test) realizado, foi necessário definir a força a que os grampos utilizados estão sujeitos, permitindo desta forma avaliar o desempenho das soluções estudadas. Para isso foi considerado o valor mais usual em projeto, de 150 kgf/m2 de alvenaria, garantindo desta forma um custo de mão de obra reduzido, que, para uma densidade mínima de 2 grampos por metro quadrado, resulta numa força de arranque de 75 kgf por grampo (aproximadamente 0.75 kN). O cumprimento desta distribuição de grampos é importante, mesmo nos casos em que, do ponto de vista da resistência mecânica, apenas um grampo seria à partida suficiente. Assim, não sendo posssível garantir uma uniformidade na qualidade da execução do grampeamento, a aplicação de 2 grampos por metro quadrado precavê a possibilidade de falha de um dos grampos, mantendo a integridade da solução [11]. A partir dos resultados do ensaio de arranque (pull-off test) aos tijolos de formato 30x20x11 cm, apresentados na Figura 4 (a), pode observar-se que tanto no caso da combinação Mec-E como no sistema Dryfix, o valor médio da força de arranque é inferior ao valor mínimo de 0.75 kN definido anteriormente, não cumprindo por isso este critério de resistência estabelecido para o sistema construtivo em estudo (parede dupla de tijolo vazado). Por outro lado, importa notar que, os valor médios das força de arranque de todas combinações, à exceção da combinação Mec-M, são superiores simultaneamente ao valor mínimo definido como critério de resistência e ao valor médio da força de arranque do sistema CemenTie, pelo que todos eles se apresentam como uma escolha válida. Durante a realização dos ensaios verificou-se que os tipos de bolbos formados, podem traduzir a diferença de resistência observada entre o sistema CemenTie e as referidas combinações de ensaio, cujos bolbos adquirem uma forma ovalizada (por ação da camisa de tecido) com uma área de contacto muito reduzida e formas mais irregulares com áreas de contacto superiores, respetivamente. Por último, ainda em relação aos resultados ilustrados na Figura 4 (a), podemos observar que a combinação Mec-M, apesar de apresentar uma resistência inferior às combinações anteriores, se encontra significativamente acima do valor mínimo estabelecido, pelo que também esta solução cumpre o critério de resistência. Os resultados relativos ao ensaio de arranque nos tijolos de formato 30x20x15 cm, apresentados na Figura 4 (b), vêm confirmar a não adequabilidade do sistema Dryfix para este tipo de sistema construtivo estudado, não cumprindo mais uma vez o critério de resistência estabelecido. Já a combinação Mec-E apresenta valores bastante superiores comparativamente com os valores obtidos para os tijolos de formato 30x20x11 cm. No entanto, uma vez que o critério de resistência deve ser verificado simultaneamente para cada combinação nos dois tijolos, a combinação Mec-E acaba por não verificar este critério, sendo assim considerada não viável para o sistema construtivo em estudo. Por outro lado, podemos observar que a combinação Mec-M assume-se como aquela que apresenta uma maior resistência, mantendo-se 4

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desta forma elegível como uma solução válida, segundo o referido critério de resistência. Por último, e apesar das restantes combinações cumprirem o valor mínimo da força de arranque dos grampos de 0.75 kN, assumido como critério de resistência, verifica-se uma inversão da tendência observada no caso dos tijolos de formato 30x20x11, uma vez que o sistema CemenTie se assume como uma das soluções que apresenta um maior valor médio de força arranque.

(a)

(b)

Figura 4: Ensaio de arranque (pull-off test) – desempenho em termos de resistência - comparação da força de arranque do tijolo de formato 30x20x11 (a) e de formato 30x20x15 (b) 3.2. Ensaio com atuador mecânico Uma vez analisados os resultados relativos ao ensaio de arranque (pull-off), apresentam-se de seguida os resultados dos ensaio realizado com o atuador mecânico, onde foi avaliado o desempenho em termos de deformação do sistema CemenTie e das combinações de soluções de grampeamento com químico de injeção HY-R4, MM-R4, MM-H6 e HYH6. Dado que as soluções consideradas neste ensaio cumpriram o critério global de resistência definido, a comparação entre as referidas soluções será efetuada com base na observação do gráfico da Figura 5, que apresenta a evolução ao longo do tempo da força de arranque com a deformação instalada. Uma primeira observação pode ser feita em relação à maior deformabilidade do varão helicoidal relativamente ao varão roscado, com os varões roscados a atingirem o pico de resistência abaixo dos 5 mm, ao passo que os varões helicoidais apresentam um valor próximo dos 10 mm. Na prática, este resultado sugere que, na proximidade do pico de resistência, a deformabilidade dos varões helicoidais é praticamente o dobro daquela registada para os varões roscados. Considerando as anomalias decorrentes dos problemas de instabilidade para fora do plano do pano de alvenaria, como a fissuração ou pequenas deformações, interessa-nos que a solução ótima permita também minimizar estes fenómenos.

Força de arranque (kN)

3.5 3.0 2.5

HY-R4

MM-R4

MM-H6

HY-H6

Cementie

2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 0.0

5.0

10.0

15.0 20.0 Deformação (mm)

25.0

30.0

Figura 5: Ensaio com atuador mecânico – desempenho em termos de deformação

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3.3. Estudo de viabilidade O estudo de viabilidade foi conduzido tendo em consideração não só os critérios de resistência e deformabilidade avaliados anteriormente, mas também um critério económico, no qual a solução ótima terá de implicar custos mais reduzidos que os do sistema CemenTie. Neste sentido, o menor e maior custo por grampo de uma solução de grampeamento químico foram estimados entre 2.88 € e 7.06 €, para as combinações MM-R4 e HY-H6, respectivamente [11]. A comparação direta de custos relativos à aplicação do conjunto de combinações através de grampeamento químico e o sistema CemenTie utilizada por Ribeiro [9], mostrou que apenas as combinações MM-R4 e MM-H6, que usam o químico de injeção HIT-MM Plus, comportam custos mais baixos. No entanto, tendo em conta o valor dos transportes e a dimensão da obra a realizar, as soluções que utilizam o químico de injeção HIT-HY70 podem apresentar semelhante viabilidade económica. Relativamente às combinações com grampeamento mecânico Mec-M e Mec-E, semelhantes ao sistema Dryfix utilizado por Ribeiro [9], procurou-se obter uma solução igualmente eficaz em termos de desempenho, mas com custos mais reduzidos. Para isso, recorreu-se por uma via tecnicamente menos evoluída, mas que envolve custos de aquisição de material e de mão de obra mais reduzidos, uma vez que se trata de um sistema de fácil aplicação. Nas soluções de grampeamento mecânico, dado que não existe o fenómeno de escorregamento entre o varão e o químico de injeção, prescindiu-se do ensaio com controlo de deslocamento, pelo que apenas serão apresentados os resultados relativos aos ensaios de arranque (pull-off test). Nestas soluções, apesar de terem sido utilizados dois sistemas de fixação diferentes em cada pano de alvenaria, uma bucha com varão associado e um sistema de ancoragem anilha-porca, para os tijolos de formato 30x20x11 cm e 30x20x15 cm, respetivamente, o custo resultante é, naturalmente, muito inferior ao das soluções de grampeamento químico. Assim, depois de descartada a combinação Mec-E e o sistema Dryfix por não cumprirem o critério de resistência para o sistema construtivo ensaiado, são excluídas das restantes, as combinações HY-H6 e o HY-R4, por envolverem um custo superior ao do sistema CemenTie, e por isso, não cumprirem o critério económico, no qual se pretendia que a solução ótima conseguisse um desempenho mecânico semelhante ao sistema CemenTie com custos mais reduzidos. A combinação MM-H6 foi excluída por apresentar uma resistência ligeiramente inferior à combinação MM-R4, distinguindo desta forma as combinações Mec-M e MM-R4 como as que melhor desempenho demonstraram em termos de resistência, deformação e economia, no grampeamento de parede dupla de tijolo vazado. A descrição e a execução destas duas soluções de grampeamento ensaiadas podem ser consultadas em pormenor no trabalho desenvolvido por Marques [11]. A solução de grampeamento químico HIT MM-Plus da HILTI® com varão roscado de 4 mm (combinação MM-R4), uma das soluções distinguidas neste trabalho, apresenta como maiores vantagens a utilização de uma malha metálica na manga, em vez de uma manga de tecido, o que leva a que seja possível manter a integridade da manta ao longo do processo de introdução do varão, e o facto do químico de injeção ser preparado em fábrica, sendo por isso mais prático de aplicar. Em termos de custo de materiais, a análise económica realizada indica que esta solução pode apresentar custos até 45% inferiores ao do sistema CemenTie. No entanto, esta solução necessita de ser otimizada, de forma a colmatar algumas das limitações identificadas no decorrer desta campanha experimental, relacionadas, nomeadamente, com introdução das mangas no tijolo de formato 30x20x11 cm, com o enchimento das mangas e com a uniformidade dos bolbos formados. A simples substituição da ponta plástica da pistola de injeção, altamente deformável, por uma mais rígida, poderá resolver as limitações identificadas anteriormente, uma vez que torna mais fácil o processo de introdução das camisas nos tijolos e o enchimento gradual das mangas, aumentando desta forma a uniformidade dos bolbos. Outra solução obrigaria a alterações significativas nas cabeças das mangas, sendo para isso necessária a remoção das saliências interiores da cabeça das mangas e também uma cabeça menos rígida, de forma a facilitar a sua passagem num furo com o diâmetro indicado para o tipo da manga. Por último, a selagem em fábrica das zonas nas quais se introduziu a fita cola neste trabalho, evitaria a perda de controlo de qualidade em obra na execução desta tarefa. É ainda de notar que devido a limitações técnicas na realização dos ensaios, os bolbos formaram-se do lado errado do septo no tijolo de formato 30x20x15 cm (ver Figura 6), isto porque no ensaio realizado traccionou-se o varão, ficando a força de reação F, exercida nos tijolos, com o sentido indicado na Figura 6, quando numa situação real um pano é ancorado no outro, ou seja, as reações nos tijolos têm sentido contrário.

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(a)

(b)

Figura 6: Forças de reação exercidas nos tijolos na situação de ensaio para a solução de grampeamento químico HIT MM-Plus da HILTI® com varão roscado de 4 mm (combinação MM-R4) (a) e numa situação comum de obra (b) Por último, a solução de grampeamento mecânico com bucha de mola, sendo naturalmente a menos evoluída das duas soluções apresentada, acaba por contornar algumas das limitações identificadas nas soluções de grampeamento químico, exatamente por não usar a injeção de químicos. Apresenta-se assim como uma solução de grampeamento de mais fácil e rápida aplicação e não requer a contração de mão de obra especializada nem de ferramentas específicas). Outra grande vantagem prende-se com o custo dos materiais utilizados neste tipo de grampeamento, apresentando custos inferiores em 90% aos do sistema CemenTie, por exemplo. Naturalmente, esta solução apresenta algumas limitações, nomeadamente em relação à sua durabilidade, e ao facto de ser aconselhável apenas em edifícios situados em zonas de baixa perigosidade sísmica, isto porque o esquema de funcionamento desta solução é unidirecional (ver Figura 7), ou seja, só funciona à tração, não se adequando por isso à ação sísmica, que se caracteriza por ser uma ação cíclica, alternando o sentido das forças para fora (F1) e dentro do plano (F2). Além disso, não podemos desconsiderar a possibilidade de corrosão dos elementos metálicos, uma vez que a presença de água nas paredes, seja através de fenómenos de capilaridade ou de infiltração, é muito frequente nos nossos edifícios. Assim, torna-se inevitável realizar um estudo de viabilidade destes elementos metálicos sem proteção à corrosão, percebendo em que medida será mais vantajoso conceber uma proteção contra este fenómeno ou utilizar materiais como o aço inoxidável, em que este tipo de anomalia não se verifica. Considerando esta última hipótese, ter-se-ia ainda que proceder à verificação do custo global da solução através de um estudo de viabilidade económica.

Figura 7: Sentido de funcionamento da solução de grampeamento mecânico com bucha de mola (combinação Mec-M) 4. CONCLUSÕES A necessidade de utilização de grampeamento de alvenarias de parede dupla de tijolo vazado é amplamente reconhecida pelos técnicos e especialistas. Neste trabalho foram ensaiadas várias combinações de soluções de grampeamento químico e mecânico, com o objetivo de encontrar uma alternativa viável ao sistema CemenTie, que comportasse custos mais reduzidos mantendo, naturalmente, um desempenho semelhante. As soluções de grampeamento químico HIT MM-Plus da HILTI® com varão roscado de 4 mm (combinação MM-R4) e grampeamento mecânico com bucha de mola foram as que melhor desempenho demonstraram, quando sujeitas aos ensaios de arranque (pull-off) e com atuador mecânico, que permitiu avaliar as soluções estudadas em termos de resistência e deformabilidade, respetivamente. Concluiu-se assim que, apesar de ambas as soluções e respetivos materiais já se encontrarem disponíveis no mercado nacional, não sendo por isso necessário importar novas soluções e tecnologias, estas apresentam algumas limitações, para as quais neste artigo se sugerem medidas de melhoria. Ao passo que no caso das soluções de grampeamento mecânico se levantam algumas questões quanto à sua durabilidade e à limitação do seu espectro de aplicação, relacionado com o zonamento sísmico do território, nas soluções de grampeamento com injeção de químicos, é exigido 7

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um excelente domínio dos materiais e das técnicas de aplicação e execução de grampeamento por parte dos técnicos e comportam simultaneamente custos comparativamente superiores, o que dificulta a sua aceitação e enraizamento enquanto soluções construtivas correntes, num sector que atravessa reconhecidas dificuldades económicas. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio da HILTI® pela cooperação e fornecimento do material necessário à execução das soluções de grampeamento químico e da Proceram Norte®, por ter fornecido os materiais cerâmicos utilizados neste trabalho. 6. REFERÊNCIAS [1] Vários. “Manual de Alvenaria de Tijolo”, Baio Dias (Cord. Ed.), Ed. APICER/CTCV, 2ª edição, Coimbra, Portugal, 2009, ISBN:978- 972-99478-5-8. [2] Silva, J.A.R.M. & Vicente, R. S. Degradação precoce de paredes de fachada com correção das pontes térmicas. Casos de estudo, (pp. 665-672). Actas do Congresso Nacional da Construção, IST, Lisboa, 2001 [3] Vicente, R. S., & Silva, J.A.R.M. “Estudo do comportamento mecânico das paredes de fachadas com correção exterior das pontes térmicas”. 3º Encontro de Conservação e Reabilitação de Edifícios, (3º ENCORE), LNEC, Lisboa, Portugal, 2003, pp. 1235-1244. [4] Silva, J., Fissuração de alvenarias – “Estudo do comportamento das alvenarias sob acções térmicas”. Coimbra, Portugal, 1998. (Tese de doutoramento). [5] Silva, J. Mendes e Abrantes, V., “Patologias em Paredes de Alvenaria: Causas e Soluções. Seminário sobre paredes de alvenaria”, Editores: P.B. Lourenço et al., 2007, pp. 65-84 Retirado de http://www.civil.uminho.pt/masonry/publications/alvenaria_2007/065_084.pdf. [6] Ribeiro, S. et al., “Desenvolvimento de soluções de reabilitação: Grampeamento pós-construção de paredes de alvenaria de tijolo - campanha experimental”, Congresso Latino americano sobre Patología de la Construcción, Tecnología de la Rehabilitación y Gestión del Patrimonio: REHABEND 2014, Artigo nº 3.3.13 - Santander, Espanha, 1 a 4 de abril de 2014. [7] Ribeiro, S. et al., “Development of retrofitting solutions: remedial wall ties for masonry enclosure brick walls”, 9th International Masonry Conference: 9IMC 2014, Guimarães, Portugal, 7 a 9 de julho de 2014. [8] Helifix, “Sustainable Structural Solutions”, Products & Applications Overview, www.helifix.com, Consultado em 2 de Dezembro de 2013. [9] Ribeiro, S. “Soluções de Reabilitação: Grampeamento de Paredes de Alvenaria”, Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, 2013. (Tese de mestrado). [10] Lopes, A., “Avaliação da Variabilidade da Técnica de Ensaio Pull-off na Medição da Resistência de Aderência à tração em revestimentos de ladrilhos cerâmicos e argamassas, Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 2012 (Tese de mestrado) [11] Marques, D. “Soluções de Reabilitação de Paredes de Fachada: Pós Grampeamento”, Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, 2014. (Tese de mestrado). [12] CEN, Norma Portuguesa NP-EN 772-1: Métodos de Ensaio de Blocos para Alvenaria - Parte 1- Determinação da resistência à compressão, Termo de Homolgação nº 54/2002, de 2002-02-22, Instituto Português da Qualidade, 2002.

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