Sua pátria, minha língua: as diferentes representações de Portugal e do Brasil no debate sobre o acordo ortográfico

May 26, 2017 | Autor: Silvia Frota | Categoria: National Identity, Language and Identity, Identity Studies
Share Embed


Descrição do Produto

XXIV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (ENAPL) Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal Outubro, 2013

Sua pátria, minha língua: as diferentes representações de Portugal e do Brasil no debate sobre o acordo ortográfico Resumo Neste artigo, procura-se analisar o papel da língua, em sua perspectiva simbólica, na construção discursiva das identidades nacionais (vd. Cillia et al). Com esse objetivo, analisase um conjunto de comentários publicados no website do jornal português Expresso, em resposta à reportagem intitulada “Vasco Graça Moura acaba com Acordo Ortográfico no CCB”, publicada a 03 de Fevereiro de 2012, buscando-se identificar argumentos e posicionamentos que evidenciem o caráter identitário de tal debate. O objetivo é revelar a relação que se estabelece entre a língua e uma certa identidade nacional (vd. Anderson e Hobsbawm), no discurso do dia-a-dia, aqui representado pela manifestação dos leitores da versão digital dessa publicação. Apenas como exemplos, destaca-se duas construções recorrentes ao longo do corpus: a de que (1) o Acordo Ortográfico representaria uma concessão (“cedência”) indevida de Portugal em relação ao Brasil e (2) a ideia da língua como pertença, em que Portugal surge como o legítimo “proprietário” da Língua Portuguesa.

Direito à indignação! 11:46 | Sexta feira, 3 de fevereiro Não pesco, nem por sombras, nas águas políticas de VGMoura, mas digo - com toda a sinceridade - que não posso deixar de estar mais de acordo com ele. E louvo e aplaudo, a mãos ambas, tal coragem! Este acordo tem (deve) de ser debatido novamente [(baixámos, na oportunidade, demais as "nossas calças")(peço desculpa da expressão, mas não encontrei melhor)] Basta ver qualquer jornal on-line brasileiro, para ficarmos envergonhados com as nossas cedências no AO. Força, Graça Moura, força!!! A NOSSA LINGUA PORTUGUESA 20:34 | Domingo, 5 de fevereiro Completamente de acordo, a lingua é nossa e tem que ser os outros Paises a se adaptar a ela e não nós a eles, por acaso já experimentaram ler um livro traduzido para português do Brasil? fica simplesmente horrivel, criem a sua propria lingua, façam o quiseram, mas não nos tirem a

unica coisa de que ainda nos podemos orgulhar.” A NOSSA LINGUA PORTUGUESA

O enquadramento teórico-metodológico adotado é o da Análise do Discurso, segundo a proposta de Fairclough, que atribui ao texto a capacidade de provocar “efeitos causais sobre as pessoas (crenças, atitudes), as ações, as relações sociais e o mundo material”, efeitos esses que seriam “mediados pela construção de significado” (Fairclough apud Resende, 2009: 23). Considerando-se a multiplicidade de metodologias e abordagens oferecidas pela análise crítica do discurso, a perspectiva adotada neste trabalho é a da linguística sistêmicofuncional. De acordo com essa teoria, a linguagem desempenha uma pluralidade de papéis, além da função de comunicação, dos quais os mais importantes seriam a função ideacional, a função interpessoal e a função textual. No presente artigo, foca-se na vertente ideacional, segundo a qual a linguagem serve “para darmos conta da nossa experiência do mundo, seja este o real, exterior ao sujeito, seja este o da nossa própria consciência, interno a nós próprios” (Gouveia, 2009: 15). Referências: Anderson, B. (1983). Imagined Communities (rev. ed., 1991). London: Verso. Cillia, R., Liebhart, K., Reisigl, M., Wodak, R. (1999). The Discursive Construction of National Identity. Edinburgh: University Press. Fairclough, N. (1995). Media Discourse. London: Edward Arnold. Gouveia, C. A. M. (2009). Texto e Gramática: uma introdução à linguística sistémicofuncional. Matraga, 16 (24), 13-47. Halliday, M.A.K. (1985). An Introduction to Functional Grammar. London: Edward Arnold. Hobsbawm, E. (2009). Nations and Nationalism since 1780: programme, myth, reality (6th ed). Cambridge: Cambridge University Press. Resende, V. M. (2009). Análise de Discurso Crítica e Realismo Crítico. Implicações interdisciplinares. São Paulo: Pontes.

If you are interested in one of my papers or presentations, please do not hesitate to contact me ([email protected])

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.