Subaltern Studies e a atualidade da teoria gramsciana da história

July 19, 2017 | Autor: Camila Góes | Categoria: Gramsci, Subaltern Studies
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Subaltern Studies e a atualidade da teoria gramsciana da história Universidade de São Paulo | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Camila Massaro de Góes | Prof. Dr. Bernardo Ricupero (orient) Universidade Estadual de Campinas | Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Daniela Xavier Haj Mussi | Prof. Dra. Walquíria Leão Rego (orient)

Introdução

Subaltern Studies

O movimento duplo e concomitante de crítica ao marxismo concebido como materialismo vulgar e ao revisionismo neoidealista de Benedetto Croce foi de fundamental importância para a construção de uma teoria da história por Antonio Gramsci. A reflexão a respeito desse tema foi sintetizada em forma de um programa geral de pesquisa no pequeno e tardio Caderno 25, intitulado Às margens da história. História dos grupos sociais subalternos.

Os esforços dos chamados Subaltern Studies partiram especialmente das duas observações fundamentais do raciocínio gramsciano, esboçadas no primeiro dos parágrafos metodológicos do Caderno 25: 1) “a história das classes subalternas é necessariamente desagregada e episódica”; 2) “há na atividade dessas classes uma tendência à unificação, ainda que em planos provisórios, mas essa é a parte menos visível e que se demonstra somente com a obtenção da vitória” (Q.25, §2, p.2283).

Os chamados Subaltern Studies indianos, fundados em torno de Ranajit Guha em inícios dos anos 1980, impressionados com a importância dada por Gramsci à história dos grupos subalternos, especialmente no período do Risorgimento, tomaram o marxista italiano enquanto influência decisiva para o seu projeto de (re) interpretação da história colonial indiana.

Foi trilhando as pistas dadas por Gramsci que intelectuais indianos formaram os Subaltern Studies e iniciaram seu projeto de promover uma “sistemática” e “informada” discussão sobre temas subalternos no âmbito dos estudos sul-asiáticos, a fim de retificar o viés elitista característico de grande parte das pesquisas e dos trabalhos acadêmicos desta área . Os Subaltern Studies organizaram uma série de coletâneas de artigos sobre a história social indiana com vistas a cobrir uma lacuna da história oficial no que diz respeito a representação das classes e dos grupos subalternos.

Uma teoria gramsciana da história Nos escritos carcerários, a reflexão de Gramsci a respeito da teoria da história evidenciou sua centralidade para pensar o marxismo em relação: a) à trajetória do revisionismo neoidealista que dele era seu objeto por excelência, em especial a partir de Benedetto Croce (1860-1952); e b) à influência do positivismo, especialmente da sociologia, na trajetória da interpretação dada ao marxismo por intelectuais dos mais diversos matizes teóricos e ideológicos da época. A reflexão gramsciana sobre a teoria da história no marxismo adquiriu, ao mesmo tempo, um forte conteúdo crítico em relação ao mecanicismo e ao economicismo característico de muitos intelectuais da época. Em sua polêmica com Croce, Gramsci assumiu como um princípio a identificação crociana entre filosofia e história. No entanto, foi além desta para conceber essa identidade também entre história e política e, portanto, entre política e filosofia (KANOUSSI, 2007, p.25). Para o marxista sardo, separada da história e da política, a filosofia não poderia ser, senão, metafísica, enquanto que a maior conquista do pensamento moderno, representada pela filosofia da práxis, era justamente sua capacidade de historicização concreta da filosofia, de sua identificação com a história (Q.11, §22, p. 1426) . Gramsci criticava, desse modo, a falta de orientação historicista que levava muitos intelectuais a uma forma ingênua de metafísica na tentativa de construir uma “sociologia marxista”. Como “sociologia”, o materialismo histórico era incapaz de superar a sociologia tradicional como concepção de mundo – isto é, tornar-se “metodologia histórica” (KANOUSSI, 2007, p.84).

Deste modo, chamaram a atenção, ao longo das décadas de 1980 e 1990, para as especificidades históricas da sociedade indiana, enfatizando o papel primordial dos laços comunitários, religiosos e culturais na formação de classes sociais na Índia. Para tal, lançaram mão do reconhecimento da ausência de representação do conceito gramsciano de subalterno no âmbito da historiografia. Gramsci havia realizado, solitariamente, esta tarefa de construção conceitual, tomando como base as relações entre Sul agrário e Norte industrializado, camponeses e trabalhadores, na Itália e como estas se vinculavam ao universo dos costumes, das crenças, da religião e da política (RODRÍGUEZ, 2001, p.3). Referências Bibliográficas KANOUSSI, Dora. Los Cuadernos filosoficos de Antonio Gramsci: de Bujarin a Maquiavelo. Ciudad de Mexico: Plaza y Valdés, 2007. GUHA, Ranajit (ed.). Subaltern Studies I: Writings on South Asian History and Society. Delhi: Oxford University Press, 1982. GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere; Turim: Einaudi, 1975. RODRÍGUEZ, Ileana. Reading Subalterns Across Texts, Disciplines, and Theories: From Representation to Recognition. In: RODRÍGUEZ, Ileana (ed.). The Latin American Subaltern Studies Reader. Durham e Londres: Duke University Press, 2001.

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