Subjetivação e Ética da Existência: apontamentos para uma análise do discurso foucaultiana em tempos de Facebook

June 6, 2017 | Autor: Carlos Renato Lopes | Categoria: Discourse Analysis, Michel Foucault, Filosofía, Análise do Discurso, Ética, Redes Sociais
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SUBJETIVAÇÃO E ÉTICA DA EXISTÊNCIA: APONTAMENTOS PARA UMA ANÁLISE DO DISCURSO FOUCAULTIANA EM TEMPOS DE FACEBOOK

Carlos Renato Lopes*

RESUMO: O artigo discute a possibilidade de (auto)constituição do sujeito em tempos em que as relações identitárias cada vez mais têm lugar nos perfis de rede sociais. Reflete-se sobre como a prática de atualização e constante (re)visita de perfis, bem como as interações aí realizadas, constituem uma forma de deslocamento de códigos identitários previamente estabelecidos, promovendo nesse processo a encenação do que Michel Foucault chama de ética da existência. ABSTRACT: This article discusses the possibility of (self-)constitution of the subject in times when identity relations are increasingly held through social network profiles. It reflects upon the ways in which the practice of updating and (re-)visiting profiles, as well as the interactions carried out in such sites, constitute a displacement of previously established identity codes, thereby promoting the enactment of what Michel Foucault calls the ethics of existence.

PALAVRAS-CHAVE: ética da existência; subjetivação; redes sociais KEY WORDS: ethics of existence; subjectivation; social networks

INTRODUÇÃO Este artigo lança um olhar para o que significa ser sujeito num tempo em que as práticas de constituição da identidade se dão, de forma cada vez mais acentuada, pelo cultivo de perfis identitários no interior das redes sociais. Interessa-nos refletir sobre como aquilo que Michel Foucault delineou em seus últimos trabalhos como sendo uma “ética da existência” (1998[1984]; 2006[1984]; 2010[1983]) encontra espaço para atualização em tais contextos. Interessa-nos, em particular, investigar como a prática cotidiana de frequentar e alimentar perfis em redes sociais pode constituir uma forma de deslocamento de práticas, poderes e códigos previamente estabelecidos, e de que modo isso se constitui como um trabalho de natureza ética. Nessa mesma direção, cabe ainda pensar como tais práticas se materializam como discurso no sentido foucaultiano, na forma de um deslocamento na rede de enunciados que determinam o que pode/deve ser dito em um determinado meio e contexto. A concepção de sujeito como entidade una e dotada de uma essência, passível de desvelamento pelo exercício da razão ou (auto)conhecimento, segue já cada vez mais distante das diferentes abordagens teóricas que investigam a questão na contemporaneidade (cf. BAUMAN & RAUD, 2015; ROSE, 2001; SILVA, 2000). Uma

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visão a que se pode chamar “metafísica subjetivista”, cuja longa tradição na filosofia remonta de Platão a Kant, cede lugar a uma concepção de sujeito como um agregado de forças e relações que constituem, do exterior, uma unidade relativamente estável, dotada de certas regularidades provisoriamente assentadas. Seria essa unidade relativamente estável o que chamamos sujeito. Assim, o filósofo, por exemplo, é aquele cujas práticas concretas em que se engaja o definem como filósofo: no contexto acadêmico, é aquele que faz pesquisa em filosofia, que dá aulas e conferências, que corrige provas e trabalhos e que participa de bancas e congressos acadêmicos de sua área, entre tantas outras tarefas. Por esse raciocínio, o filósofo não seria aquele ser cuja natureza intrínseca se descobre portador do saber que conduz à verdade, um “especialista” por força de sua condição, mas antes o conjunto de práticas e rotinas que o constituem como um “sujeito filosófico”, num movimento que se dá de forma dinâmica e nunca definitivamente fixada. Uma visão pós-moderna de subjetividade dirá que o modo como nos vemos e como concebemos a nós mesmos como sujeitos é forjado por meio dessas práticas situadas, que frequentemente se materializam no discurso, mas que igualmente implicam relações de poder. Tais práticas circunscrevem um espaço experiencial dentro do qual nos tornamos “acessíveis” a nós mesmos e aos outros como sujeitos e como objetos de ação, de conhecimento e de controle. No entanto, longe de ser um espaço neutro e estático, o qual habitamos e observamos por meio de lentes objetivas, trata-se antes de um espaço dinâmico, que toma forma nos processos, atividades e relacionamentos que se desenrolam nele ou por ele (ALLEN, 2008; McGUSHIN, 2005). Num movimento de mão dupla, nós constituímos esse espaço quando, por exemplo, como professores universitários, nos engajamos em práticas de ensino, pesquisa e extensão, ao mesmo tempo em que somos constituídos como professores por meio dessas próprias práticas. O pensamento sobre ética e subjetividade configura, como defendemos aqui, um instrumento promissor no tipo de análise que convoca o nome de Foucault em sua afiliação. Ainda pouco estudado em suas relações com a Análise do Discurso de orientação francesa – a que se assenta prioritariamente sobre as bases lançadas por Michel Pêcheux, mas também a que leva em conta as contribuições foucaultianas mais específicas ao arcabouço teórico – o período conhecido como o “último Foucault” (início dos anos 1980) aponta para um campo vasto de investigações ainda a serem desenvolvidas. Dessa forma, propomos de início um breve esboço das principais questões tratadas por Foucault no referido período. 1. SUBJETIVAÇÃO E ÉTICA DA EXISTÊNCIA EM FOUCAULT Um teórico que supostamente decretou a “morte do sujeito” em uma fase inicial de sua obra, Foucault nunca deixou de lado a questão da subjetividade. Seu interesse talvez tenha se tornado mais explícito em seus últimos escritos; entretanto, este jamais deixou

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de existir como questão de fundo (CHOKR, 2007; McGUSHIN, 2005). Quando lança o desafio de que façamos uma genealogia crítica do presente, Foucault busca compreender, antes de mais nada, de que modo passamos a nos constituir historicamente como os sujeitos que entendemos ser hoje. Ética, para ele, adquire um sentido específico de subjetivação: é o modo como nos constituímos como sujeitos morais em face da rede complexa de poderes-saberes em que nos encontramos enredados, e a maneira como isso se relaciona com o que chama de “ética da existência”, ou seja, o modo específico como nos relacionamos com nós mesmos – por exemplo, como sujeitos dotados de uma forma específica de sexualidade nos conferindo uma forma “verdadeira” de identidade. A (auto)constituição ética não se reduz, assim, a uma “consciência de si” enquanto individualidade única, mas antes funciona como um trabalho ativo de “resposta” do sujeito aos imperativos e códigos morais dados do exterior (e portanto não individualmente ou voluntariamente determinados), que se dá por meio de práticas incidentes sobre si mesmo em suas condutas – práticas em que o sujeito busca autoconhecer-se, controlar-se, explorar seus limites, pôr-se à prova, enfim transformar-se (FOUCAULT, 1998[1984], p. 28). A empreitada de Foucault em buscar delimitar as condições de possibilidade que formam o terreno de tal constituição subjetiva o coloca como um leitor crítico da história, um “empiricista” que busca ir além da constatação de que aquilo que somos é resultado de um trabalho de contingências gestadas historicamente – a constatação de que aquilo que somos poderia, enfim, ser outra coisa, mais do que propriamente o desvelar de uma essência universal e atemporal, pronta a ser descoberta. Foucault procura em sua analítica escavar os arranjos e conexões entre descontinuidades históricas de práticas concretas e situadas – práticas heterogêneas que em algum ponto (ou em vários pontos) se entrelaçaram para formar o solo relativamente estável e nunca definitivamente assentado sobre o qual se sustentam as configurações de saber, poder e verdade que experienciamos em nosso momento presente. É nesse sentido que o trabalho de Foucault constitui uma genealogia: ele se abre para uma problematização histórica daquilo que assumimos ter sido sempre o que é, além de deslocar seus próprios procedimentos metodológicos – delineados ainda em seus primeiros escritos – para o tratamento da relação entre discurso e práticas, buscando desestabilizar as certezas e a legitimidade que supostamente marcam o tempo presente (KOOPMAN, 2013). De fato, a Foucault sempre interessou a ideia da experiência histórica concreta, a qual se manifesta em três níveis correspondentes, em linhas gerais, às três fases principais de seu pensamento (HOY, 1991[1986], p. 3): (1) o nível dos saberes, de como são formados os conceitos, as teorias e as disciplinas (nível propriamente do discurso, que figura de forma mais explícita na Análise do Discurso de tradição francesa); (2) o nível dos poderes, da formação normativa das regras que operam sobre a constituição de regimes de verdade e formas de regulação das sociedades (incluindo aí a forma moderna

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do biopoder); e (3) o nível da ética, ou autoconstituição moral dos sujeitos, das relações dos sujeitos com eles próprios, as quais implicam também, e necessariamente, as relações dos sujeitos com seus outros. Para o filósofo, existem quatro aspectos entrelaçados que formam a base do trabalho ético de autoconstituição dos sujeitos (FOUCAULT, 1998[1984], p. 26-31; 2010[1983], p. 307-314). O primeiro consiste na substância ética, a parte de si (atos, desejos ou sentimentos) que se torna o material da conduta ética – o domínio sobre o qual irá incidir mais especificamente o trabalho ético. O segundo aspecto é o modo de subjetivação, que concerne à forma pela qual as pessoas são incitadas a reconhecer suas obrigações morais e colocá-las em prática, isto é, o modo específico pelo qual os indivíduos estabelecem uma relação com as regras. O terceiro aspecto compreende as formas ou técnicas de elaboração do trabalho ético, não apenas no sentido de adequar o comportamento a uma dada regra, mas também de transformar a si próprio em sujeito moral de sua própria conduta. Trata-se do que Foucault chama mais especificamente de “prática de si” (practique de soi). O último aspecto está relacionado ao que se poderia chamar de teleologia do sujeito: uma projeção do tipo de sujeito a que se aspira ser quando se comporta moralmente. É possível caracterizar esses quatro aspectos em termos das perguntas que elas colocam ao sujeito da ética (O’LEARY, 2002, p. 12-13; BERNAUER & MAHON, 1996, p. 152), respectivamente: que parte de si mesmo deve ser submetida à prática de um cuidado de si?; por que deveríamos nos engajar nessa prática?; de que ferramentas ou técnicas dispomos para realizar tal trabalho?; e que forma de ser ou estilo de vida constitui a finalidade com que este trabalho se realiza (em outras palavras, que tipo de sujeito quero ser, e que tipo de vida quero levar)? Se à busca de tais respostas não corresponde propriamente um método, tomaremos aqui a proposta de Foucault como um dispositivo analítico, um instrumental teóricometodológico com que exploraremos o domínio específico que interessa a este nosso trabalho: o domínio dos possíveis modos de (auto)constituição do sujeito nas redes sociais. Mas antes vejamos de que forma a proposta ética foucaultiana dialoga com a visão de sujeito que está na base da Análise do Discurso, no sentido de identificar uma articulação teórica possível, para além de suas especificidades. Acreditamos que tal diálogo, que já se dá entre a Análise do Discurso pecheutiana e a fase arqueológica de Foucault, pode ser expandido e aprofundado para melhor compreendermos o fenômeno abordado aqui, fornecendo-nos assim um instrumental consistente e relevante sobre as práticas em foco.

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2. A EMERGÊNCIA DO SUJEITO DO/NO DISCURSO A concepção clássica da Análise do Discurso (AD) é a do sujeito cindido, atravessado pela ideologia e que não é a origem de seu dizer. Não-coincidente com um sujeito falante empírico, trata-se antes de uma posição de sujeito (ou forma-sujeito) ocupada a cada enunciação a partir de um determinado local, de uma determinada formação discursiva. Conforme aponta Orlandi, sintetizando as primeiras formulações de Michel Pêcheux, a forma-sujeito “é a forma de existência histórica de qualquer indivíduo, agente de práticas sociais. É examinando as propriedades discursivas da forma-sujeito que nos deparamos com o ego-imaginário, como sujeito do discurso” (2006, p. 18). O sujeito se constitui, segundo essa visão, pelo esquecimento daquilo que o determina: esquecimento que resulta do modo próprio de funcionamento da ideologia. A ideologia interpela os indivíduos em sujeitos, fornecendo a estes a “realidade” como sistema de evidências, ou fundo “transparente” sobre o qual se projetam, pelo simbólico, as significações. Essa forma de assujeitamento constitui, contraditoriamente, a própria possibilidade de ser sujeito: sujeita-se à língua para ser sujeito do que se diz, significando(-se). Isso não significa que a interpelação é sempre bem-sucedida. Ela é sujeita ao equívoco, e é essa justamente a condição pela qual se podem deslocar os sentidos, significar novas coisas a partir de um já-dito – ou seja, significar a partir de um interdiscurso que estabelece as condições de possibilidade do dizível. Ora, em Foucault as formas de subjetivação – ou (auto)constituição do sujeito – se dão sempre a partir de material compartilhado em práticas sociais, historicamente constituídas. Não se trata, para o sujeito, de forjar individualmente sua própria subjetividade a partir de um arranjo voluntarista. O sujeito está sempre-já imerso em redes de poder e saber que determinam modelos de como se comportar, de como pensar. Conforme explicita o autor em uma de suas últimas entrevistas: “se agora me interesso de fato pela maneira com a qual o sujeito se constitui de uma maneira ativa, através das práticas de si, essas práticas não são, entretanto, alguma coisa que o próprio indivíduo invente. São esquemas que ele encontra em sua cultura e que lhe são propostos, sugeridos, impostos por sua cultura, sua sociedade e seu grupo social” (FOUCAULT, 2006[1984], p. 276). Vale observar que o autor já havia descrito bem antes, em sua fase arqueológica, o modo como o sujeito se constitui ao articular enunciados construídos em um trabalho de arquivo e memória, reatualizando-os em cada nova prática discursiva. É na fase genealógica, contudo, que se articula mais claramente o pensamento de que, ao problematizar as formas com as quais é convocado a se chamar de sujeito, o indivíduo pode se tornar um outro: um outro sujeito que, embora sempre imerso nas diferentes formas de poder-saber, toma ciência dessas formas e dos limites e restrições que elas podem lhe impor.

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É nesse sentido que se pode falar de uma constituição dupla e simultânea: a de um objeto e a de um sujeito do discurso (NAVARRO-BARBOSA, 2004, p. 105-6)i. Em consonância com os três grandes movimentos da obra de Foucault, conforme assinalado anteriormente, é possível afirmar que o sujeito tem acesso a si: (i) a partir de saberes que são sustentados por técnicas ou mecanismos da ordem do simbólico (dentre eles, o enunciado no sentido foucaultiano de “função enunciativa, a não se confundir com a fraseii); (ii) a partir das relações de poder-saber implicadas por essas técnicas (relações que articulam o discursivo ao político, às formas de governabilidade que incidem diretamente sobre os corpos, em suas relações materiais); e por fim (iii) a partir de si sobre si, também sob a mediação de técnicas específicas geradoras de um “cuidado de si” dirigido a uma ética que é também uma estética da existência. Proposição semelhante se encontra na AD a respeito da própria constituição da significação, com o discurso sendo entendido como a determinação histórica dos processos de significação. Em sua busca em apreender o real da língua em conjunção com o real da história, ambos resultantes de condições de produção material da vida política e social, a AD vê a constituição da identidade, também ela, como um movimento na história – de tal forma que sujeito e sentido se constituem simultaneamente (ORLANDI, 2012, p. 74-5). É ainda nessa conexão que a AD contempla a questão da ética. Além de um aspecto da conduta individual, a ética passa a ser vista como parte integrante da produção de significação, uma vez que incide sobre a relação da língua (dotada de uma realidade material, sujeita a equívocos) com a história na constituição dos sentidos e dos sujeitos. “É portanto uma questão geral à linguagem, ao saber discursivo e ao modo como esse saber institui uma memória na manutenção de certos sentidos e não outros” (ORLANDI, 2012, p. 158). A forma histórica que o sujeito adquire na contemporaneidade é a do sujeito jurídico (cidadão), dotado de direitos e deveres, “origem” de suas intenções e “responsável” pelo que diz e pelo que deseja. Ao mesmo tempo, é o sujeito que funciona por uma memória do dizer, à qual não tem acesso direto, uma vez que não é nele que se formam os sentidos. Sendo, no entanto, um sujeito da significação, ele é, para além da questão da responsabilidade individual, um sujeito fundamentalmente ético e político. O trabalho das técnicas de si na (auto)constituição do sujeito, vale reforçar, implica um agenciamento próprio e particular dos mecanismos de subjetivação disponíveis a um determinado grupo social, em uma determinada contingência sócio-histórica. Dentre os mecanismos de subjetivação estão, de forma cada vez mais perceptível, os que incidem sobre os indivíduos em suas relações com as novas tecnologias. Com efeito, as novas tecnologias, especialmente as tecnologias digitais, atravessam a relação do sujeito com a linguagem de modo peculiar, deslocando de forma decisiva a questão da autoria e a conexão entre produção, circulação e recepção dos textos, entre outros aspectos.

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O que diz Gregolin (2007) a respeito dos meios de comunicação e da mídia em geral aplica-se igualmente, acreditamos, à relação entre subjetividade e novas tecnologias/plataformas digitais (aí incluídas as redes sociais). Conforme ressalta a autora, a subjetividade não se circunscreve à esfera do indivíduo; ela opera em todos os processos de produção social e material. Dessa forma, o sujeito moderno é um consumidor de subjetividade: ele consome sistemas de representação, de sensibilidades. A subjetividade está em circulação, é essencialmente social, assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares. Colocando em circulação enunciados que regulamentam as formas de ser e agir, os meios de comunicação realizam um agenciamento coletivo de enunciação, entrecruzando determinações coletivas, sociais, econômicas, tecnológicas etc. (p. 21)

Ora, encontramo-nos, como sujeitos da/na contemporaneidade, nos limites da modernidade, em pleno movimento de experienciar e tentar entender o modo de funcionamento dessas determinações, bem como seus possíveis “pontos de fuga, de resistência, de singularização” (GREGOLIN, 2007, p. 23), o que torna a busca por tentar fazer uma “genealogia do presente”, conforme sugere Foucault, tarefa ainda mais desafiadora. 3. A EMERGÊNCIA E O CULTIVO DA SUBJETIVIDADE EM REDE Desde seu aparecimento, particularmente a partir do início dos anos 2000, redes sociais como o Twitter, o Instagram e o Facebook têm atraído milhões de usuários ao redor do mundo, que fazem de suas visitas a esses sites um hábito já integrado à rotina diária. Ao criarem perfis em tais espaços, muitos desses usuários passam a portar uma espécie de “crachá social”, uma etiqueta de identificação que, atualizada com frequência e constância variáveis, pode se tornar um perfeito dispositivo para o indivíduo apresentarse tal como se vê, como espera ser visto e como se relaciona com os outros. Há lugar, de fato, para uma variedade de atividades e formas de expressão nas redes sociais. As culturas que aí emergem podem ser as mais variadas, a depender dos interesses e vínculos que se formam entre os membros das comunidades formadas. Conforme a definição de boyd & Ellison (2008, p. 211), redes sociais são “serviços de Internet que permitem aos indivíduos (1) construírem um perfil público ou semipúblico dentro de um sistema delimitado; (2) articular uma lista de outros usuários com quem eles compartilham uma conexão; e (3) visualizar e atravessar sua lista de conexões com aquelas criadas por outros dentro do sistema”. Tipicamente, um perfil consiste em uma página exclusiva e personalizada, gerada pelo sistema a partir de uma série de descritores fornecidos por seus “proprietários”, tais como idade, local de habitação e/ou origem, local de trabalho e/ou estudo, interesses pessoais (bandas, filmes, livros

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favoritos), que figuram em uma seção chamada “sobre mim” – além de uma foto de identificação, cuja inclusão, embora não obrigatória, é fortemente encorajada. No caso específico do Facebook, em que focaremos nossa discussão, os usuários que fazem parte da mesma “rede” seletiva, e que portanto são “amigos” no Facebook, podem visualizar livremente os perfis ou linhas do tempo uns dos outros, a menos que o proprietário decida negar permissão a um ou outro desses amigos. Por outro lado, há também os que permitem acesso irrestrito dos conteúdos a qualquer usuário, amigo ou não. Para se tornar amigo de alguém no Facebook, é preciso enviar uma solicitação de amizade, que poderá ou não ser aceita, ou bem aceitar a solicitação que lhe for feita. Uma vez iniciada a rede de amigos de um usuário, nomes outros lhe serão sugeridos, a partir de contatos mútuos que podem rapidamente se multiplicar. O número de amigos e/ou seguidores que um proprietário possui em um determinado momento – o que pode variar de umas poucas dezenas a uns tantos milhares – é normalmente exibido a qualquer visitante de seu perfil ou linha do tempo, a menos que este também restrinja o acesso a tal informação. Assim como a maior parte das redes sociais, o Facebook permite a seus usuários deixarem mensagens nas páginas de perfil ou linhas do tempo dos amigos, o que pode ser feito em privado (inbox), em forma semelhante a um e-mail; ou em aberto, seja como resposta a um post compartilhado nesses espaços, seja por uma nova mensagem aí postada. Os posts em si, bem como os comentários, podem consistir apenas em textos (geralmente mais curtos), ou podem incluir links, arquivos e/ou documentos de foto, áudio e vídeo, ou ainda uma combinação de algumas dessas modalidades. Ainda como um recurso de destaque no Facebook, há a opção “curtir” (like), que pode ser acrescentada para cada intervenção (post ou comentário) ou aplicada a uma página institucional ou página de fã, que são outras modalidades de páginas-perfil disponíveis na rede social. Dessa forma, a página do perfil ou linha do tempo do usuário vai se delineando a partir do acúmulo sequencial – acuradamente registrado – dos diversos posts e comentários a eles adicionados. Na modalidade linha do tempo, observa-se a construção de uma trajetória do usuário sob a forma de um itinerário, ou uma narrativa cronológica e linear sobre aquele indivíduo – com o diferencial de que tal narrativa pode, inclusive, ter apagadas, por deliberação de seu protagonista, quaisquer intervenções formuladas, presentes ou passadas, em qualquer ponto da trajetória. Apenas essa breve descrição geral do funcionamento da rede social já suscita algumas reflexões. Aparentemente, estamos diante de uma plataforma de comunicação ampla e de múltiplo potencial que funciona como uma “ordem do discurso” com configurações bem particulares. Um conjunto de regras de produção e circulação do discurso opera aqui no sentido de multiplicar as práticas discursivas ao passo que se trabalha, simultaneamente, para “conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade” (FOUCAULT, 1996[1971], p.

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9). Nessa ordem do discurso, a visibilidade – fundamentalmente, uma visibilidade de si – se apresenta como um elemento estruturador da experiência. Sob a forma de um espetáculo em permanente processo, abre-se espaço para um possível “cultivo de si”, substanciado em práticas discursivas verbais e não-verbais que vão, em maior ou menor grau, alimentanto o(s) perfil(is)-identidade. Mas manter os perfis em funcionamento está longe de constituir uma prática de expressão “livre”, isenta de restrições. Estas são muitas, e se dão em múltiplos níveis. Além de questões propriamente técnicas (limite de tamanho dos posts, por exemplo), há políticas de privacidade e “decoro”, restringindo, por exemplo, a veiculação de mensagens de teor racista ou homofóbico por meio do banimento temporário ou bloqueio do usuário. Há ainda o fator “fornecimento de dados”, considerado central para o funcionamento do próprio sistema, uma vez que a exposição pública de informações, como relatos pessoais, fotos e imagens torna os conteúdos abertos à captura potencial por programadores de aplicativos e outras empresas com o objetivo de guiar suas ações de marketing dentro de uma gama possível de interesses dos usuários (FUCHS, 2012; van DIJCK, 2012). Há também a possibilidade de esses conteúdos serem visualizados por terceiros que, por meio de algum fio das conexões em rede, podem eventualmente constituir-se como leitores indesejáveis. Há os que postam muito, e pregam mensagens cujo cunho não se deseja ler – embora haja sempre, lembremos, a opção de exclusão. A questão que nos interessa mais de perto aqui, todavia, é se o cultivo de um perfil numa rede como o Facebook pode constituir uma forma de ética, no sentido foucaultiano: uma forma de relação moral de si para si. Mais precisamente, buscamos saber: que forma toma essa (auto)constituição subjetiva? Que modos de subjetivação a regulam? Que efeitos suscita? Que relação com os outros ela propicia? Consideremos o caso de uma figura pública qualquer, com alguma notoriedade e que possa ser reconhecida por seu trabalho ou por alguma outra afiliação. Não necessariamente uma “celebridade”. É possível que ela opte por manter uma página regular (não aquela específica para figuras públicas, feita justamente para ser seguida ou curtida) e que nesse espaço possa monitorar mais de perto o fluxo de postagens, além, claro, de administrar as amizades, aceitando ou não a solicitação de amizade de quem quer que manifeste interesse. Não apenas espaço de divulgação de seu trabalho, tal espaço na rede social poderia ser usado como painel da vida cotidiana de uma figura pública, incluindo-se aí de fotos, vídeos e comentários. Pela categorização de Foucault, poderíamos dizer que a substância ética sobre a qual incide a subjetivação desse indivíduo não se restringiria ao cultivo da figura pública se dirigindo a seu público, um público maior, proporcionado pelos recursos da mídia eletrônica. Poderia ser também o espaço para se professar preferências religiosas e políticas, posicionamentos sobre questões em discussão na sociedade, fórum de solidariedade, repúdio ou até mesmo mobilização em massa. Far-se-ia, dessa forma, intervir no intradiscurso outras formações discursivas provavelmente não dizíveis no contexto de uma ação profissional

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mais específica (a promoção de um evento, ou o lançamento de um livro, por exemplo). Ora, tais espaços parecem ter se tornado cada vez mais comuns, por mais que ainda preservem traços predominantemente “publicitários”, promovendo as atividades profissionais de seus proprietários. É preciso, porém, percorrer com mais vagar a “linha do tempo” de uma tal figura pública – prática essa talvez pouco exercitada de fato, em razão da quantidade de amigos e do fluxo por vezes muito rápido de postagens, comentários e compartilhamentos, entre outros fatores – para começar a responder melhor as perguntas sobre que parte(s) de si incide o trabalho de (auto)constituição do sujeito, i.e. sua substância ética, e sobre como isso se materializa, i.e. sua elaboração. Um enunciado irônico postado aqui, um elogio ali, ou uma mera exclamação de felicidade acolá, é capaz de gerar, sem grande esforço (a depender do grau de “popularidade” de seu autor), uma cascata de respostas ou simples curtidas que reforçam o efeito singular do que é dito. É para conjurar seu acaso, nos termos de Foucault, que os comentários, muitas vezes, vão se sucedendo, multiplicando e fazendo reverberar a presença do seu autor num espaço que, a princípio, é extensão de seu modo de estar no mundo. Como indivíduos interagindo em um bar ou em uma festa, sem a suposta barreira da distância física, os interlocutores, por meio desses comentários, acabam por amplificar o diálogo da rede social de modo a projetar (se não “assegurar”) uma relação de proximidade – uma relação de igualdade. No entanto, tal interação não deve ser lida simplesmente como uma troca de turnos em um jogo no qual os interlocutores se colocam em posições subjetivas análogas. O que se destaca, talvez mais singularmente, como efeito de sentido aqui é o aprofundamento da presença do autor/proprietário da página de forma a restituir, por correlação, sua posição hierarquicamente assegurada, ou seja, a do indivíduo que pode dizer o que quer, em um contexto outro que o seu mais “habitual”, e ainda assim, ou mesmo por causa disso, exercer uma certa ascendência sobre o discurso. O mesmo vale, certamente, para os casos em que a resposta se dá pela ausência de marca verbo-visual: pelo o silêncio, pelo não-comentário. A abertura possibilitada pelo trânsito livre (isento de mediação expressa) dos comentários, ao mesmo tempo em que “libera” o autor de seu papel de “formador de opinião” diante de um público cativo, torna possível que essa relação se mantenha reconfigurada de outras formas, e sem que disso se possa ter controle. Vislumbra-se aí um modo de subjetivação – o segundo dos quatro aspectos da (auto)constituição ética conforme Foucault – que constitui simultaneamente o sujeito e seu outro: um modo de subjetivação que se caracteriza pela manutenção do diálogo sem garantias, o diálogo que permite que o pré-estabelecido e o esperado (“jogue o meu jogo: eu falo e você comenta”) convivam com o novo e inesperado (“jogue o jogo comigo e diga o que pensa”). Assim é que vão se situando os sujeitos diante das regras da ordem do discurso que se lhe apresentam, buscando dominar em suas práticas aquilo que nela poderia haver de “acontecimento aleatório”.

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Tais reflexões, defendemos aqui, não se restringem a indivíduos a quem se possa atribuir o título de figura pública propriamente dita. Acreditamos que os mesmos mecanismos de funcionamento do discurso possam se dar com qualquer usuário. Em cada perfil pode-se fazer ecoar uma espécie de “função-autor” (FOUCAULT, 2001[1970]). Em seu próprio “domínio”, o usuário pode fazer da timeline o espaço de construção de uma narrativa panorâmica de sua experiência cotidianaiii. Valendo-se de recursos que lhe permitem reativar, “documentar” tal experiência – como por exemplo a composição de álbuns de fotos de viagens ou de interação com colegas de trabalho e escola, membros da família, ou animais domésticos –, os proprietários seguem “autorando” suas biografias instantâneas, provisórias e facilmente acessáveis. Por meio das práticas discursivas que se vão tecendo nesse processo, o interesse (ou mesmo veracidade) dos “fatos” em si frequentemente cede o foco principal para o cultivo de uma relação entre autor e interlocutores que implica um cuidado com a projeção subjetiva responsável pelo seu dizer (ou fazer ver), ao mesmo tempo em que mantem aberto o diálogo, ativado a partir de um encontro de dizeres nem sempre esperados e mesmo potencialmente desestabilizadores de subjetividades assumidas como pré-existentes. O usuário que assim experimenta as diversas posições possíveis que um autor pode assumir em seus domínios vai se (auto)constituindo eticamente, de modo a encenar diversos aspectos de si, ora desafiando uma imagem pré-construída do detentor de um saber ou de uma materialidade corpórea “estável” (ainda que em constante mutação), ora fazendo-se valer desta mesma imagem para estabelecer uma relação mais horizontal com seus interlocutores, ou ora ainda para fazer intervir um leitor-observador atento do cotidiano mais comum. Nesse processo, os sujeitos não apenas se submetem às regras de um jogo que creem poder conduzir, e que necessariamente implica o outro em uma correlação, mas também trabalham, simultaneamente, o modo como essas regras constituem sua própria subjetividade, operando aquilo que Foucault, em sua categorização, chama de elaboração do trabalho ético de si. Ao abrir-se/expor-se à diferença – sentir-se outro diante do mesmo, ou sentir-se mesmo diante do outro – pode-se ver operar, em um nível mais aprofundado de observação, um movimento que nasce da relação entre o sujeito de uma prática ética diante de outros sujeitos que, com ele, irão constituir, no acontecimento enunciativo, o projeto do que pretendem se tornar (a teleologia de si): ou seja, o tipo de sujeito moral que se pode ser por meio de um cuidadoso e constante trabalho de si sobre os outros e de si sobre si. Investir em uma subjetivação particular em um ambiente específico como é a rede social implica, de acordo com essa leitura, configura uma aposta, um investimento sobre o qual não se pode garantir um “retorno de sucesso”. Ao acompanharmos as trajetórias dos usuários do Facebook, é nos dado ver emergir uma subjetividade não-coesa, tecida fundamentalmente no acontecimento promovido pela enunciação discursiva, fazendo entrecruzar no fio do discurso o equívoco da língua e o do pré-construído da ideologia e

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da história. Uma tal subjetividade, que é ética pois é fundamentalmente uma resposta de si para si e de si para os outros, consiste em resultado a ser inventado, não prescrito. CONSIDERAÇÕES FINAIS A hipótese de que o sujeito se (auto)constitui eticamente por meio de práticas discursivas no domínio das redes sociais não supõe que resida aí o “todo” de sua identidade. Como já nos ensinara a AD desde seu princípio, e como procuramos ressignificar aqui, não existe um “todo”, uma identidade essencial do sujeito, anterior ao ingresso na ordem do discurso, mas antes um processo permanente de construção e experimentação – no caso em questão, um processo que incide com maior intensidade sobre uma região específica da subjetividade: a substância ética descrita no último Foucault. A ênfase que este dá ao “si” no trabalho realizado pelas práticas de si não nos deve conduzir à falsa percepção de uma consciência autônoma, que exerce plenamente suas escolhas e é capaz de forjar uma ética nova, irrestrita por imperativos externos. Outrossim, o trabalho é sempre de uma negociação dentro de relações de poder constitutivas da experiência e, portanto, sempre presentes (LAIDLAW, 2014). Tal ética da existência implica, fundamentalmente, um cultivo de práticas cuja aspiração ideal conduziria a uma minimização das formas de dominação social a que se pode estar sujeito em uma determinada época. Nas breves reflexões que tecemos aqui, procuramos avançar a hipótese de que a substância ética do fazer-de-si reside na experimentação com – e no limite, na “desassujeição” a – uma imagem pública pré-construída em busca de uma ampliação do espectro de atuação no espaço do “pensamento público”. Ao estabelecer um canal de diálogo mais imediato e com um público diverso, formado por “amigos” não necessariamente advindos de comunidades pré-existentes offline, os usuários do Facebook expõem o elemento supostamente homogêneo, vinculado à faceta mais publicamente visada de sua subjetividade, a uma abertura, a um encontro com o outro que o objetifica, ao mesmo tempo em que o subjetifica de uma maneira nova. E nesse processo, por se tratar de um diálogo (ainda que efêmero e tangencial), ele afeta de forma correlativa também a substância ética dos sujeitos que se fazem seus interlocutores, num jogo cujas regras vão sendo construídas em plena prática de jogar. Também vai-se configurando nesse espaço uma “resposta ao presente”, às determinações históricas que nos interpelam a agir de determinadas formas, a nos identificar com determinadas posições e assumir determinadas identidades sociais – uma resposta ética a imperativos morais, que por sua vez, podem ser refratados (desestabilizados) como resultado mesmo das práticas discursivas, dos encontros contingentes e concretos tornados possíveis, no caso aqui, pela participação em redes sociais.

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Como conclusão parcial, a partir de apontamentos que certamente demandariam um aprofundamento maior em outro momento, podemos dizer que o trabalho de (auto)constituição ética dos sujeitos tal como se pode configurar nas redes sociais torna fortemente imbricados – e portanto dificilmente separáveis – os quatro aspectos que formam sua base, conforme Foucault: a substância ética, o modo de subjetivação, a elaboração do trabalho ético e a prática (teleológica) de si. Mutuamente implicados, os quatro aspectos concorrem, mais do que para uma constituição estável e homogênea do sujeito, para uma experimentação com outras possíveis identidades, negociadas a cada prática concreta e sujeitas a permanentes deslocamentos. O modo particular como são tecidas essas práticas proporciona aos sujeitos, em maior ou menor grau, uma “ontologia crítica” de si mesmos (que é, ao mesmo tempo, uma “ontologia do presente”): um posicionamento, um ethos ou atitude filosófica na qual, conforme nos aponta Foucault (1997[1984], p. 319), a crítica do que somos é simultaneamente a crítica histórica dos limites que nos são impostos e a possibilidade de o transpormos, em um constante processo de (re)invenção de nossas subjetividades.

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* Docente do Departamento de Letras, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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NOTAS 1

E é dentro dessa concepção que se justifica a grafia entre parênteses adotada aqui para o termo “(auto)constituição”. 2

O que caracteriza um enunciado, para Foucault, é o fato de sua repetibilidade, de podermos atribuir-lhe uma posição de sujeito, ou seja, de podermos determinar “qual é a posição que pode e deve ocupar todo indivíduo para ser seu sujeito” (FOUCAULT, 2004[1969], p. 108). iii

Cabe ressaltar que Foucault trata da função-autor como mais um mecanismo de controle da produção e circulação do discurso, não se constituindo, portanto, uma posição de “livre expressão do pensamento”, isenta de relações de poder-saber.

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