Sugestões para Estudantes de Pós-graduação (Mestrado/Doutorado)

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Sugestões para Estudantes de Pós-graduação (Mestrado/Doutorado) As 22 dicas do professor Manuel B. Aalbers para pesquisadores [Suggestions for PhD Students, artigo de Manuel B. Aalbers, disponibilizado em seu perfil no Academia.edu. O texto é inspirado em Matthew Pratt Guterl.) https://revistacapitu.com.br/sugestões-para-estudantes-de-pós-graduação-mestradodoutorado-293a326ae622

“Quebre qualquer uma destas regras antes de dizer [ou fazer] alguma barbaridade.” | imagem: colagem de Bea Mahan 1. Conheça o seu público. Não explique seu trabalho para alguém “como se eles tivessem quatro anos de idade”, a não ser que você esteja de fato lidando com alguém de quatro anos. A maioria das pessoas para as quais você precisa explicar o seu trabalho são inteligentes, mas não são especialistas no seu campo. Aplique isso em todas as formas de comunicação, mas especialmente em apresentações orais e aplicações para financiamentos. 2. Sempre explique suas escolhas. Por que esta é sua questão de pesquisa, seu estudo de caso, seu método, sua estrutura teórica, sua linha de argumento, sua conclusão? Cada passo precisa ser explicado. Se as pessoas fizerem perguntas irrelevantes geralmente é porque você não explicou bem suas escolhas.

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3. Aprenda a desenvolver um argumento e defendê-lo. Encontre sua voz, tanto na fala quanto na escrita. Aprenda como fazer com que seu trabalho seja relevante. Isso não tem a ver simplesmente com relevância social (embora possa ser isso). Isso também é sobre ser capaz de explicar porque alguém deveria se interessar pelo seu trabalho. Isso implica em você aprender como escrever e falar. Existem muitos livros e sites que ensinam essas habilidades, mas lembre-se: você precisa encontrar a sua voz. 4. Ensinar importa mais do que dizem. “Tudo o que importa são publicações!”. Errado. Sim, publicações são cada vez mais importantes e elas ajudam sim a conseguir verba ou um emprego, mas se você concorrer a uma posição que é pelo menos em parte dar aulas, você também precisa demonstrar que gosta de dar aulas e é capaz de fazê-lo. Uma boa publicação pode te deixar entre os pré-selecionados, mas ter dois ou mais artigos que outro candidato raramente te fará conseguir o emprego. Uma vontade documentada e habilidade de ensinar te destacará. Não tenha medo de começar a escrever uma ementa para um curso que você pode algum dia ensinar. Pense em publicação, mas também em abordagens didáticas. 5. Referências não são uma reflexão posterior. Referências são uma parte integral de qualquer texto acadêmico. Elas não são um apêndice e deveriam ser tratadas como centrais em sua argumentação. Elas já deveriam ser adicionadas em qualquer rascunho que você compartilhe. De modo geral, trate rascunhos que você compartilha com outros com algum respeito. Um rascunho não deve ser perfeito, porém o mínimo que você pode fazer é verificar a ortografia. 6. Existem três tipos de comentários que requerem dois tipos de resposta. Primeiro, existem comentários que são corretos ou relevantes e precisam ser endereçados. Esta é a parte simples. Segundo, existem comentários com os quais você não concorda. Defenda seu argumento, não apenas pessoalmente mas também pela escrita. Terceiro, existem comentários que você considera menos relevantes, muito detalhados ou ainda triviais ou mesquinhos. Eles também precisam ser endereçados. O que pode parecer trivial para você, pode ser bem importante para outra pessoa. Mesmo que isso seja menos relevante ainda para eles também, esta não é uma desculpa para não endereçá-lo. 7. Prepare-se, mas não se prepare demais para apresentações. Não memorize cada linha da sua apresentação. Não leia um papel ou partes dele. Uma então chamada “apresentação de artigo” nunca deveria ser a leitura de um artigo. Sempre traga pelo menos uma cópia impressa da sua apresentação — você pode precisar dela. Você pode adicionar notas na impressão: palavras-chave e agradecimentos, por exemplo. Não olhe para a parede onde seus slides estão; olhe pra audiência ou para a sua folha impressa em vez disso. É mais fácil olhar alternadamente o computador/as folhas impressas e o público, já que ambos estão na sua frente. Quebre essa regra quando quiser apontar pra algo na tela. Sempre traga uma caneta. Escreva palavras-chave das perguntas (e quem as perguntou, por exemplo “Mike” ou “o cara loiro”), bem como sugestões.

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8. Ouse ser diferente. Mas não seja diferente só por ser. Ouse desafiar qualquer que seja a moda acadêmica atual. Não use o jargão que todo mundo usa a não ser que você saiba o que está fazendo. Evite o que George Orwell chama de “dicção pretensiosa”, mas seja divertido também. O que parece legal hoje, parecerá fora de moda amanhã. Não descarte o velho pelo novo, a não ser que você tenha estudado o velho e possa realmente dizer que o novo é melhor. Não faça uma cópia em carbono da crítica de uma outra pessoa à uma teoria ou ideia. Muitas críticas são baseadas em leitura seletiva ou são simplesmente falácias do espantalho. 9. Cheque os fatos. Não simplesmente repita as coisas que os outros te falaram. Cheque a fonte e então busque por outra fonte. Não falo só de conhecimento acadêmico aqui. A vida acadêmica é cheia de todos os tipos de histórias de indivíduos, departamentos, periódicos, sistemas de recompensas, procedimentos de seleção e por aí vai. Esteja consciente que muitas dessas histórias são incorretas. Não baseie sua avaliação de nada nem ninguém em histórias que não possam ser verificadas. 10. Peça perdão primeiro, use desculpas depois. Se você não pode dar conta de um prazo ou encontro mutuamente determinado, peça desculpas não importando a razão. “Me perdoe por não ter enviado o artigo a tempo; meu filho ficou doente e não consegui me focar no trabalho” é um pedido de perdão/uma desculpa aceitável. Além disso, quando possível, peça desculpas antes de perder um prazo ou encontro. Por exemplo: “Desculpe, mas não serei capaz de participar do evento porque…”. 11. Seja generoso. Se você não está certo sobre se deveria agradecer alguém, você deveria. Eu já olhei para artigos publicados e pensei: “Uou, eu discuti brevemente este artigo com ela e ela até me colocou nos agradecimentos — que gentil!” Mas eu também tive a reação oposta: “Eu gastei meio dia lendo e discutindo este artigo com o autor. Vamos ver como ele me citou nos agradecimentos… O que? Não citou?!” 12. Promova seu próprio trabalho bem como o de outros. Diz Matthew Pratt Guterl sobre esta questão: “É ótimo circular notícias sobre o seu próprio trabalho, mas garanta que você está promovendo e compartilhando o trabalho de amigos e colegas também. Pratique a generosidade profissional e intelectual como parte de sua participação na comunidade mais ampla”. Também alerte as pessoas sobre notícias, chamadas para publicação e anúncios de aulas que você acabe descobrindo. Encaminhar um e-mail não demora muito. 13. Seja um bom colega, dentro do seu departamento e fora dele. Diga sim quando as pessoas pedirem para você comentar o trabalho delas. Isso significa que elas valorizam a sua opinião. Revise um artigo quando te pedirem. Não responda que você já revisou três artigos neste ano. Pense sobre quantos pareceres um artigo precisa para ser publicado em um jornal. Três? Pense de novo. Muitos artigos são rejeitados e ainda precisam de revisão. Ainda mais, muitos artigos são revisados duas vezes antes de ser aceitos para publicação.

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14. Fazer uma pós-graduação não é um trabalho regular, mas precisa ser feito e às vezes te pedem para fazer coisas que não são a sua prioridade. Isso é parte da vida. Uma dissertação de alta qualidade é necessária, mas por si só é uma condição insuficiente para estar na academia. Além de dar aulas (ver número 4) você precisa ser um comunicador habilidoso. Matthew Pratt Guterl sobre isso: “Aprenda como dizer ‘não’ de forma educada e firme. E o faça com frequência. Mas também aprenda a dizer ‘sim’. Aprenda a reconhecer quando alguém fez um esforço para te fazer um convite, para te apresentar à alguém, e diga ‘sim’ em sinal de respeito”. Além disso, alguns e-mails requerem uma resposta rápida, rascunhos para planejar encontros, por exemplo. Não atrase pedidos para detalhes administrativos feito pelo seu orientador, secretaria de departamento ou cátedra. É provável que eles precisem coletar essas coisas para outra pessoa. Não reclame tanto da gestão ou coisas do tipo. Tipicamente, seu orientador, o diretor da escola de graduação ou a equipe de administração não fazem as regras. Mas: aprenda quanto dizer sim ou não. 15. Atualize seu planejamento diariamente. Isso o ajuda a monitorar como as coisas estão indo. Isso também ajuda o seu orientador. O seu planejamento para o próximo mês deve ser o mais detalhado possível. Inclua muitas tarefas. Isso ajuda a definir metas. Defina grandes metas e pequenas metas. O melhor planejamento inclui muitas pequenas metas. Isso permite que você se foque em metas concretas — e as termine. Além disso, é prazeroso riscar coisas de uma lista. 16. Durma sobre o assunto. Comentários tipicamente soam ríspidos da primeira vez que você os lê ou ouve. Você pode ter que responder comentários orais diretamente, mas você nem sempre tem de fazê-lo. Você sempre pode levar um tempo para responder comentários escritos. Na minha experiência, comentários parecem muito mais razoáveis quando você os lê de novo depois de 24 horas. Não seja agressivo na sua resposta. É provável que as pessoas tenham gasto tempo e energia comentando o seu trabalho, mesmo que eles tenham feito isso com um tom negativo. Considere também que você pode ter incomodado o seu leitor sem a intenção. Acadêmicos com frequência revisam o trabalho dos colegas depois do fim do expediente. Então se os comentários deles são construtivos ou não e se o dia deles foi bom ou não: eles fizeram um esforço. Dito de forma geral, se você não dormiu o bastante, é difícil se focar. Às vezes uma hora adicional de sono pode resultar em um dia de trabalho mais curto, porém mais produtivo. 17. Cartas de Referência. Matthew Pratt Guterl mais uma vez: “Nunca peça por uma carta de recomendação sem dar pelo menos duas semanas de antecedência, uma cópia atualizada do seu currículo e o que quer que seja sendo pedido. Aceite a responsabilidade por incomodar o escrevente sobre as datas e detalhes”. 18. O layout importa. Pense em seus leitores. Pense em mudar a fonte padrão. Adicione seu nome. Adicione números de páginas. As pessoas têm suas preferências. Se você manda algo pra alguém regularmente, pergunte sobre o formato que eles acham prazeroso ler. Pessoalmente, prefiro Arial 12, espaçamento

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simples e uma polegada ou 2.5 cm de margens em todos os lados. Isso permite que eu imprima duas páginas em uma folha de papel (e duas viradas), minimizando assim o número de impressões que acabam com o meio ambiente, fazem peso na minha mochila e enchem o meu fichário. Pessoas diferentes têm preferências diferentes mas algumas fontes parecem ser desagradáveis para qualquer leitor. 19. Não seja preguiçoso. É ok ser preguiçoso às vezes, mas não se torne alguém preguiçoso. Qualquer um que tenha terminado uma tese vai te dizer que as coisas ficam mais corridas quando chega mais perto o prazo de entrega. Falta inspiração para todo mundo às vezes, mas se isso acontece o tempo todo, você precisa buscar a causa disso. Se você está de folga, mas ainda quer ser produtivo: atualize seu planejamento, seus objetivos, seu sumário, suas referências, seu layout, seu programa de estudos, seu currículo. Algumas dessas tarefas podem de fato trazer inspiração; outras ajudam a fazer de um dia perdido um dia produtivo. 20. Faça anotações — sempre e em todo o lugar. Não pense que vá se lembrar de tudo — você não vai. Então anote quando você conversa com alguém, quando recebe feedback, quando vai em algum encontro ou aula, quando acorda no meio da noite com uma ideia genial, quando está no trem ou quando sair do banho. 21. Cuide-se, mas não se esqueça de cuidar dos outros também, especialmente se estiverem em uma posição mais frágil que a sua. Preocupe-se com as pessoas e com o mundo. Valores importam. Pratique o que prega. Isso não significa que você seja infalível; significa que você tenta fazer o certo. 22. Como disse Orwell: “Quebre qualquer uma destas regras antes de dizer [ou fazer] alguma barbaridade”.

Manuel B. Aalbers é professor do departamento de geografia e turismo da Universidade de Leuven. Contato: [email protected]. tradução Dora Steimer é bibliotecária. Formada em jornalismo pela Anhanguera, em biblioteconomia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pós-graduada em gestão da informação digital pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) e mestranda em ciência da informação pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como analista de taxonomia em um grande varejo de ecommerce. Duanne Ribeiro é editor da Capitu. Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília, mestrando em ciência da informação, pós-graduado em gestão cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc) e graduado em filosofia, todos pela USP. É analista de comunicação para o Itaú Cultural, membro da equipe editorial da revista de política e ideias Maquiavel e colunista do Digestivo Cultural.

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