SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DO PROJETO HABITACIONAL: UM ESTUDO DE CASO NOS CONJUNTOS DO PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM CUIABÁ-MT.

July 13, 2017 | Autor: Louise Logsdon | Categoria: Social Housing, Sustentabilidade, Habitação De Interesse Social
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SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DO PROJETO HABITACIONAL: UM ESTUDO DE CASO NOS CONJUNTOS DO PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM CUIABÁ-MT. L. Logsdon, R. de Oliveira

RESUMO O objetivo do trabalho é analisar, na escala urbana, a qualidade dos projetos dos conjuntos de habitação de interesse social (HIS) já aprovados pelo Programa Minha Cassa, Minha Vida (PMCMV) em Cuiabá, com foco no seu desenho urbano e na sua relação com a cidade. Para isso, buscou-se na literatura quais seriam os atributos de qualidade do projeto habitacional, na escala urbana. Posteriormente, foi criado um método que permite avaliar os projetos através da verificação desses atributos. Assim, os conjuntos são comparados entre si e classificados de acordo com sua qualidade. A relevância do trabalho, portanto, está direcionada em dois eixos: Primeiro, na avaliação e caracterização da qualidade dos últimos projetos de HIS feitos em Cuiabá. Segundo, na disponibilização de um método útil aos arquitetos, para que possam fazer uma auto-avaliação de seus projetos, aproximando-se cada vez mais das soluções de melhor qualidade. 1 INTRODUÇÃO Na escala urbana, a qualidade do espaço habitacional é fortemente influenciada pelo desenho urbano dos conjuntos e pela sua relação com a cidade. Em Cuiabá, observa-se que os conjuntos habitacionais de interesse social (independente da época e do programa pelos quais foram construídos) possuem algumas características marcantes, que vão contra os conceitos de sustentabilidade econômica, social e ambiental: (1) estão muito afastados do centro da cidade; (2) são quase sempre estritamente residenciais, e (3) seguem a tipologia unifamiliar, de baixíssima densidade, com uma UH isolada no lote. Essas características desqualificam o espaço habitacional como um todo, pois geram problemas graves como a segregação espaço-social e a falta de diversidade urbana, impossibilitando qualquer forma de sustentabilidade social. Acarretam altos custos de infra-estrutura para o município, de locomoção (em tempo e dinheiro) para o morador, além do custo ambiental, face ao espalhamento da cidade sobre a paisagem natural. Lançado em 2009, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) prometia construir um milhão de domicílios e, pela primeira vez na história, beneficiaria inclusive os mais necessitados – famílias com renda mensal de até três salários mínimos, que compõem 89,6% do déficit habitacional brasileiro, segundo a Fundação José Pinheiro (2009). Mas será que o programa oferece habitação com qualidade a essas famílias? Na cidade de Cuiabá, a qualidade habitacional está sendo considerada nos projetos habitacionais de interesse social do PMCMV?

Desse modo, o objetivo do trabalho é analisar, na escala urbana, a qualidade dos projetos dos conjuntos habitacionais de interesse social já aprovados pelo PMCMV em Cuiabá, com foco no desenho urbano dos conjuntos e na relação destes com a cidade. Esta análise é fundamental para que se tenha um panorama da eficácia do planejamento habitacional vigente. Focar a pesquisa na qualidade do projeto e dar diretrizes para que bons projetos sejam feitos é de suma importância, pois é apenas na fase de projeto que a qualidade arquitetônica habitacional pode ser consideravelmente prevista. Com atributos de qualidade bem definidos, o projetista pode analisar seus próprios projetos e optar pela melhor solução. Dessa forma, o trabalho pode contribuir, ainda que indiretamente, na qualidade dos futuros projetos de HIS e, conseqüentemente, na qualidade de vida futura da população que ainda compõe o déficit habitacional do nosso país. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fundamentação teórica sintetizada neste artigo buscou elencar quais as características que atribuem qualidade ao projeto habitacional na escala urbana. Dentre as várias fontes pesquisadas, três itens mostraram-se primordiais: a questão da localização, a diversidade urbana e a densidade – que está diretamente ligada à tipologia habitacional. 2.1 A questão da localização De acordo com Villaça (2001), a localização é o valor de uso da terra, que é produzido pelo trabalho coletivo despendido da construção da cidade. Esse valor reside na propriedade que o espaço urbano tem de fazer com que se relacionem os diferentes elementos da cidade. A terra só interessa como terra-localização, ou seja, enquanto meio de acesso a todo o sistema urbano, a toda a cidade. Quanto mais central o terreno, mais trabalho despendido na produção dessa centralidade, desse valor de uso. Por isso, um terreno na periferia, com menor acessibilidade e menor trabalho despendido, tem menor valor de uso e, portanto, menor valor de mercado. E é por esta razão que os terrenos da periferia são os mais utilizados para a promoção de HIS, principalmente quando são adotadas tipologias de baixa densidade, que exigem grandes áreas. No entanto, ao localizar os conjuntos habitacionais na periferia, desencontrados do contexto urbano, o Estado promove a segregação espaço-social. Ao mesmo tempo, as terras ociosas valorizam-se às custas de investimentos públicos, fato que desencadeia um círculo vicioso de periferização, vazios urbanos e especulação imobiliária (MONTEIRO, 2006). Essa realidade acarreta em custos altíssimos que são assumidos tanto morador (transporte e locomoção, em tempo e dinheiro), pelo poder público (implementação e manutenção da infra-estrutura) e, em última análise, pelo próprio meio ambiente. Silva e Romero (2011) afirmam que a expansão urbana, provocada em grande parte pelos loteamentos periféricos, nega os limites naturais impostos aos recursos finitos do planeta, colocando em conflito o sistema econômico vigente que promulga o desenvolvimento ilimitado do capital. A ocupação urbana, quando dispersa, gera problemas ambientais face ao espalhamento da cidade sobre a paisagem natural, que elimina florestas, se apropria dos

recursos naturais, aumenta a demanda por consumo de energia, e produz resíduos em excesso. A dispersão urbana exige intenso uso de veículos para transporte de mercadorias e pessoas, que resultam na poluição do ar e na impermeabilização do solo, o que exerce sérios danos ao ciclo hidrológico, além de impactar o clima urbano de forma considerável. É por essas razões que Silva e Romero (2011) defendem o modelo de cidade compacta, como meio de prever um urbanismo mais sustentável. A minimização do consumo de materiais, energia, e água, bem como a otimização de infraestrutura e a coesão social destacam a supremacia do modelo compacto sobre o disperso na promoção da sustentabilidade urbana. No entanto, há uma idéia equivocada de que uma cidade se desenvolve ao crescer, ao se expandir, ao conhecer uma modernização do seu espaço e dos transportes, ao ter algumas áreas embelezadas e remodeladas. O entendimento correto, ao contrário, é que o crescimento e a modernização, se não acompanharem distribuição da riqueza socialmente produzida e atendimento das necessidades materiais e não-materiais elementares, não devem valer como indicadores de desenvolvimento em sentido estrito (SOUZA, 2003). O verdadeiro desenvolvimento requer uma menor segregação residencial, que tende a proporcionar maiores chances de interação entre grupos sociais diferentes, e essa maior interação tende a facilitar enormemente a demolição de preconceitos. A convivência favorece a tolerância; a segregação realimenta a intolerância. Melhores condições de habitação, na escala da casa e também na escala do local de moradia, em sentido mais amplo – a médio e longo prazo – podem ter repercussão bastante positiva na auto-estima coletiva, o que, por sua vez, é um componente importante de um processo de desenvolvimento urbano autêntico (SOUZA, 2003). 2.2 Diversidade urbana A necessidade que as cidades têm de uma diversidade de usos mais complexa e densa, que propicie entre eles uma sustentação mútua e constante, tanto econômica quanto social, é cerne da argumentação de Jacobs (2009), em seu livro “Morte e Vida nas Grandes Cidades”. Para esta autora, as zonas urbanas mal sucedidas são justamente as que carecem desse tipo de sustentação mútua complexa entre os diversos usos. É a diversidade urbana que irá garantir, na cidade como um todo ou nos bairros e distritos, uma circulação abundante de pessoas durante todos os períodos do dia, uma vitalidade nas ruas, que possibilitará a autogestão daquele espaço. Dessa forma, são tecidas redes de vigilância públicas que protegem visitantes e moradores; são formadas redes de confiança e de controle social; e é propiciada a integração das crianças a uma vida urbana razoavelmente responsável e tolerante. Além disso, com uma densidade ideal, as vizinhanças, geradas (e fortalecidas) em grande parte pela diversidade urbana, têm ainda outra atribuição vital na autogestão, que é ter força política para pedir auxílio diante de um problema de grandes proporções que a própria rua não consiga resolver (JACOBS, 2009). Jacobs (2009) conclui que todas as atribuições da autogestão das ruas são modestas, mas indispensáveis. Em todas as experiências citadas em seu livro, fossem elas planejadas ou

não, não há o que substitua as ruas vivas. E existem quatro condições indispensáveis para gerar uma diversidade exuberante nas ruas e nos distritos: “(1) O distrito, e sem dúvida o maior número possível de segmentos que o compõem, deve atender a mais de uma função principal; de preferência a mais de duas. Estas devem garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam capazes de utilizar boa parte da infra-estrutura. (2) A maioria das quadras deve ser curta;ou seja, as ruas e as oportunidades de virar esquinas devem ser freqüentes. (3) O distrito deve ter uma combinação de edifícios com idades e estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar rendimento econômico variado. Essa mistura deve ser bem compacta. (4) Deve haver densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso inclui alta concentração de pessoas cujo propósito é morar lá.” (JACOBS, 2009, p. 165)

Maricato (2001) afirma que as várias mudanças ocorridas na cena política econômica e cultural mundial desde o primeiro lançamento do livro de Jane Jacobs, em 1961, não eliminaram, entretanto, a atualidade das teses tão veemente defendidas pela autora norteamericana. É notável também que autores recentes continuam citando Jacobs em suas pesquisas, o que reforça a atualidade de suas argumentações. É o caso de Lucini (2003) que, ao focar na habitação social, afirma que a multiplicidade de funções dentro das áreas urbanas de média e alta densidade tem se configurado como um elemento de nivelação positiva das condições de vida da população. Acredita que a monofuncionalidade dos bairros estritamente residenciais para baixa renda reduz as condições de permanência do morador devido à falta de espaços onde possa desenvolver atividades complementares fundamentais para a subsistência, tanto de pequena produção artesanal, industrial, oficinas, comércios e outros, como de serviços necessários à comunidade (creches e escolas, por exemplo). Para o autor, a superposição destas atividades diversas com a residencial, de média e alta densidade, e o contato direto delas com a rua desenvolve o tipo de ambiente necessário para o crescimento de vínculos interfamiliares e de vizinhança, tão importantes para a autogestão da cidade. Para Romero (2003), a promoção da diversidade urbana é fator determinante em projetos de cidades sustentáveis. Defende que devem ser buscados e privilegiados elementos que contribuam para manter a diversidade e, através desta, é assegurada a qualidade e não apenas a quantidade dos espaços, proporcionando a qualidade global da vida urbana. 2.3 Densidade urbana e tipologia habitacional Já citada por Jacobs (2011) como uma das condições necessárias para a promoção da diversidade urbana, a densidade urbana influencia enormemente no custo global da habitação e na própria sustentabilidade urbana, tanto na esfera econômica quanto na social. Mascaró (1987) defende a teoria que as densidades baixas e altas não são boas nem más por si sós – o inconveniente é que se tenham densidades inadequadas aos tipos de edificações implantadas. Partindo deste princípio, Mascaró (1987) apresenta uma tabela com as densidades normais para cada tipologia habitacional em condições aceitáveis de ventilação, iluminação e privacidade (Tabela 1). O autor afirma que é possível obter densidades maiores, mas apenas com perda de qualidade de vida.

Tabela 1 Densidades normais em diferentes tipologias habitacionais Tipo de Habitação Unifamiliares isoladas Geminadas a dois Geminadas em fita Blocos de 3 plantas Blocos em 10 plantas

Densidade (em famílias/hectare) Líquida Bruta (bairro) 20 12 25 a 30 18 40 – 50 30 100 – 110 50 200 – 210 70

Fonte: MASCARÓ, 1987. Os estudos de Mascaró (1987) revelam também que, dentro de certos limites, quanto maior a densidade, menor os gastos necessários com infra-estrutura e serviços públicos, proporcionalmente ao número de habitantes. O autor especifica que o custo de urbanização para uma ocupação de 75 pessoas/ha, em 1987, era de aproximadamente 37.000 dólares (o que hoje equivale a US$130 mil), e para uma ocupação de 600 pessoas/ha, o custo era de 48.000 dólares (hoje equivalente a US$170 mil). Assim, quando a ocupação aumenta em 800%, o custo de urbanização cresce apenas 30%. Como conseqüência disto, a incidência de custo de urbanização por família servida diminui drasticamente, na medida em que a densidade de ocupação aumenta. Avaliando os custos dos serviços públicos em função da densidade urbana, para a cidade de São Carlos, Silva e Ferraz (1991) demonstram que estes também são maiores, quanto menor a densidade. Defendem que não se pode tolerar que a média das densidades urbanas nas cidades brasileiras esteja hoje em torno de 40 habitantes por hectare, quando as densidades econômicas estão acima de 200. É um desperdício de recursos que, em um contexto diferente, poderiam ser alocados para setores de maior relevância social. Portanto, tipos habitacionais que requerem uma densidade baixa – unidades térreas isoladas, geminadas ou assobradadas – demandam custos absurdos de implantação e manutenção de infra-estrutura, além de exigir grandes áreas de terra, fato que leva os projetos habitacionais cada vez mais para a periferia. Para que haja qualidade habitacional, portanto, é inconcebível continuar construindo HIS nessas tipologias. É necessário pensar em soluções que requeiram menores áreas e permitam maiores densidades, para que seja possível inserir a HIS nos vazios urbanos, onde já existe infra-estrutura – o que seria uma economia de recursos – e onde se estimula o vínculo social, em detrimento da segregação espaço-social e da morte das cidades. 3 MÉTODOS Na coleta de dados, foram utilizadas as técnicas de entrevistas, visitas exploratórias e observações: Primeiramente, foi feita uma entrevista não estruturada com a arquiteta do setor de habitação da Caixa Econômica Federal. Na ocasião, a arquiteta forneceu uma lista dos projetos de HIS que estavam aprovados pelo PMCMV. Com essa lista em mãos, fez-se uma visita à Prefeitura Municipal de Cuiabá, onde foram obtidas as cópias dos projetos dos conjuntos habitacionais e um mapa da cidade com a localização dos mesmos. Por último, foram feitas visitas exploratórias aos conjuntos, onde pôde ser feita uma observação detalhada, com registro fotográfico.

Na fase de tabulação de dados, os projetos foram digitalizados em CAD e, a partir dos conceitos obtidos na revisão bibliográfica, elaborou-se uma ficha de verificação (Quadro 1), que foi utilizada como base para a avaliação dos projetos dos conjuntos. A ficha elenca as características ou atributos que conferem qualidade ao projeto do conjunto e, para cada item, há um campo que deve ser preenchido com uma pontuação entre 0 e 2 (Tabela 2).

Desenho urbano

Localização e relação com a cidade

FICHA DE AVALIAÇÃO DOS PROJETOS ITEM PONT. O conjunto está localizado próximo ao centro da cidade? Existem escolas públicas na proximidade (2 km a partir do perímetro do conjunto) Existem creches públicas na proximidade? Existem espaços públicos de esporte e lazer nas proximidades? Existe rede física de saúde nas proximidades? Existe comércio consolidado nas proximidades? Existe transporte público consolidado nas proximidades? A tipologia adotada permite densidade satisfatória? A densidade do conjunto condiz com o determinado por Mascaró, para esta tipologia? Existem áreas verdes? A porcentagem de área verde condiz com o estipulada por Lei Urbana do Município? A disposição dessas áreas verdes estimula sua apropriação e as relações entre moradores? Existem áreas destinadas a equipamentos comunitários? Sua porcentagem de área está condizente com a estipulada por Lei Urbana no Município? A disposição dessas áreas estimula sua apropriação e as relações entre moradores? Existem áreas destinadas a comércio? A inserção dessas áreas no desenho do conjunto estimula a vitalidade do conjunto? As quadras são curtas? Há combinação de edifícios de idades variadas? Há opções de diferentes moradias para famílias de diferentes faixas de renda? PONTUAÇÃO FINAL NOTA FINAL

Quadro 1 Ficha de avaliação Dessa forma, é feita uma análise documental de cada projeto, utilizando-se a ficha como instrumento de verificação. Cada item da ficha é analisado no projeto do conjunto (e no entorno), atribuindo-lhe a sua pontuação coerente (Tabela 2). Tabela 2 Conceitos da avaliação PONTUAÇÃO 0 (zero) 1 (um) 2 (dois)

CONCEITO “não” ou “não atende” “atende parcialmente/precariamente” “sim” ou “atende satisfatoriamente”

Por último, faz-se a somatória da pontuação de todos os itens da ficha, convertendo-a, posteriormente, em uma nota entre 0 a 10. Considera-se que a nota máxima (10) seria equivalente à pontuação 2 (atende satisfatoriamente) em todos os itens da ficha. Dessa forma, os projetos podem ser comparados entre si. Assim, quanto maior a nota, maior a qualidade do projeto do conjunto habitacional.

4 RESULTADOS 4.1 Do levantamento dos dados O PMCMV de Cuiabá possui quatro conjuntos habitacionais destinados a famílias com faixa de renda entre 0 e 3 salários mínimos. São eles:  Conjunto 1 – Residencial Jamil Boutros Nadaf (Figura 1);  Conjunto 2 – Residencial Nilce Paes Barreto (Figura 2);  Conjunto 3 - Residencial Nova Canaã (Figura 3);  Conjunto 4 – Residencial Alice Novack (Figura 4).

(a)

(b) Fig. 1 Planta (a) e Foto (b) do Conjunto 1.

(a)

(b) Fig. 2 Planta (a) e Foto (b) do Conjunto 2.

.

Fig. 3 Planta do Conjunto 3.

Fig. 4 Foto do Conjunto 3.

Fig. 5 Planta do Conjunto 4.

Fig. 6 Foto do Conjunto 4.

A Figura 7 mostra a localização dos conjuntos na malha urbana de Cuiabá, e a Tabela 1 sintetiza as suas principais características.

Fig. 7 Mapa de Cuiabá – Localização dos Conjuntos Habitacionais avaliados. FONTE: Prefeitura de Cuiabá, adaptado. Tabela 3 Caracterização dos Conjuntos Habitacionais estudados

Conjunto 1 Conjunto 2 Conjunto 3 Conjunto 4

Área Gleba (ha) 14,75 19,78 48 16,27

Nº de Lotes

Densidade Estimada % Área % Eq. Verde Comunitário Fam/ha hab/ha

322 500 1188 423

21,83 25,28 24,75 26

87,32 101,11 99 104

28,66 10,62 10,05 10,04

5,8 6,32 5 5,5

% Sistema Viário 21,35 29,37 27,76 32,08

Distância ao centro (km) 11 13 10 12

4.2 Da análise dos dados Após aplicação da ficha, chegou-se ao resultado de que todos os projetos avaliados possuem qualidade precária, do ponto de vista urbano. A Tabela 3 mostra a classificação dos projetos, de acordo com as notas obtidas. Tabela 4 Notas de avaliação dos projetos CLASSIFICAÇÃO 1º 1º 2º 3º

CONJUNTO AVALIADO Conjunto 2 Conjunto 3 Conjunto 4 Conjunto 1

PONTUAÇÃO 19 19 17 14

NOTA 4,75 4,75 4,25 3,50

Verifica-se, portanto, que mesmo o projeto mais bem colocado obteve uma nota muito baixa: apenas 4,75 em uma escala de 0 a 10. As quatro notas ficaram bastante próximas, pois as soluções de projeto urbano são muito parecidas nos quatro conjuntos avaliados. Analisando os projetos na escala da cidade, verificou-se que todos os conjuntos foram localizados longe do centro. Eles são atendidos por um sistema de transporte público e uma rede de comércio pouco expressivos, presentes apenas nas avenidas principais, a mais de um quilômetro de distância dos acessos dos conjuntos, conforme verificação in loco. A tipologia unifamiliar, com casas isoladas no lote, resulta em uma densidade prejudicial à cidade, como visto na revisão bibliográfica. A densidade dos conjuntos (que variam entre 21 e 26 famílias por hectare) também não condiz com os padrões normais de qualidade de vida citados por Mascaró (1987). Existem áreas verdes e de equipamentos comunitários na porcentagem determinada pela legislação urbana do Município, mas na maioria dos casos elas não são dispostas no loteamento de maneira que se incentivem a sua apropriação e a relação entre os moradores. O Conjunto 1 possui poucos equipamentos públicos de educação e saúde em suas proximidades. Em um raio de 2 quilômetros não existe nenhum equipamento de esporte ou lazer, e verificou-se a presença de apenas 1 Posto de Saúde da Família, 3 escolas e 2 creches. O conjunto 3 é o mais bem atendido por estes serviços: em seu entorno existem 10 escolas, 5 creches, 2 mini estádios, 3 Postos de saúde da Família, 1 Centro de Saúde e 1 Centro de Atendimento Psicossocial (PERFIL SOCIOECONÔMICO DE CUIABÁ, 2010). Apenas nos Conjuntos 2 e 3 existem lotes destinados a comércio. No entanto, concentramse em pontos específicos, não sendo distribuídos uniformemente por toda a área do loteamento. As quadras são longas, os edifícios são todos da mesma idade e destinados a famílias de uma mesma faixa de renda. Tudo isso prejudica a vitalidade do conjunto, indo contra ao que Jacobs (2009) coloca como condições favoráveis à diversidade urbana. 5 CONCLUSÕES A avaliação dos projetos citados neste trabalho, através do método proposto, demonstrou que o PMCMV não está oferecendo habitação de qualidade à população de baixa renda, pelo menos na cidade de Cuiabá, onde foi feito o estudo. Além disso, da forma como está sendo oferecida hoje, a HIS vai totalmente contra os princípios básicos de sustentabilidade, seja ela social, econômica ou ambiental. Demandam-se altos investimentos (tanto para o município quanto para o morador), e promove-se a segregação espaço-social e a morte da cidade (em termos de detrimento da diversidade urbana), à custa da degradação ambiental, que é ocasionada pelo espalhamento da cidade sobre a paisagem natural. Para que haja qualidade habitacional, portanto, é inconcebível continuar construindo HIS nessa tipologia. É necessário pensar em soluções que requeiram menores áreas e permitam maiores densidades, para que seja possível inserir a HIS nos vazios urbanos, onde já existe infra-estrutura (o que seria uma economia de recursos, além de evitar a degradação ambiental pelo espalhamento da cidade) e onde se estimula o vínculo social, em detrimento da segregação espaço-social. Em suma, dedicar mais esforços (ciência e tecnologia) à qualidade generalizada do projeto habitacional, principalmente na escala urbana.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fundação José Pinheiro (2009) Déficit habitacional no Brasil 2008 Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação, Brasília. Disponível em: . Acesso em setembro de 2010. Lucini, H. C. (2003) Habitação Social: Procurando alternativas de projeto, Ed. UNIVALI, Itajaí. Maricato, E. (2001) Morte e vida do urbanismo moderno: Resenha do livro “Morte e vida de grandes cidades” de Jane Jacobs. Disponível em: . Mascaró, J. L. (1987) Desenho urbano e custos de urbanização, MHU-SAM, Brasília. Monteiro, R. R. (2006) Habitação e integração urbana: um estudo de caso em Programas Habitacionais no município de Chapecó-SC, dissertação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Perfil Socioeconômico de Cuiabá (2010), Santos, A. B. (org.) e Pedrollo, J. M. (coord.), Central de texto, Cuiabá. Disponível em: http://www.cuiaba.mt.gov.br/upload/ arquivo/perfil_socioeconomico_de_cuiaba_Vol_IV.pdf. Romero, M. A. B. (2003) A sustentabilidade do ambiente urbano da capital, in: A. Paviani e L. A. C. Gouvêa (orgs.), Controvérsias ambientais, editora UNB, Brasília. Silva, A. N. R. e Ferraz, A. C. P. (1991) Densidades urbanas x custos dos serviços: Análise do caso de São Carlos-SP, Rede de Administração Municipal, 38, 57-55. Silva, G. J. A. e Romero, M. A B. (2011) O urbanismo sustentável no Brasil: a revisão de conceitos urbanos para o século XXI, Vitruvius. Disponível em: . Souza, M. J. L. (2003) ABC do Desenvolvimento Urbano, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro. VILLAÇA, F. (2011) Espaço intra-urbano no Brasil, Studio Nobel, Fapesp, Lincoln Institute, São Paulo.

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