SUSTENTABILIDADE EM CANTEIROS DE OBRAS

May 29, 2017 | Autor: E. Lavocat Galvão... | Categoria: Sustainable Construction, Construction Engineering, Sustainability
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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

SUSTENTABILIDADE EM CANTEIROS DE OBRAS Eduardo Lavocat Galvao de Almeida (Unicamp ) [email protected] Flavio Augusto Picchi (Unicamp ) [email protected]

O setor da construção está relacionado a uma porcentagem significativa da produção de gás carbônico do planeta e se encontra entre os setores que mais consomem recursos naturais. Medidas para conter impactos negativos são vistas na indústriia nacional. Apesar disso, nota-se que os esforços são voltados principalmente aos aspectos de concepção e projeto e pouco para a execução de empreendimentos. Observando essa lacuna, este trabalho tem por objetivo identificar tendências e enfoques em sustentabilidade na fase de construção de edificações a partir de revisão bibliográfica, bem como identificar ações estratégicas em desenvolvimento, agrupadas conforme categorização desses enfoques. Com isso em mente, 30 artigos foram selecionados e classificados por: método utilizado, focos estratégicos de sustentabilidade e sistemas de certificação de sustentabilidade. A revisão destes artigos mostra que já existe uma discussão desenvolvida em várias vertentes da sustentabilidade em canteiros. Por outro lado, conclui-se que o estudo sobre o tema ainda precisa de um melhor aprofundamento quanto às soluções aplicáveis para a melhoria da sustentabilidade de canteiros de obras. Palavras-chave: Sustentabilidade, canteiro de obras, construção

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1. Introdução Em 1987 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu por meio do relatório Brundtland (1987) o conceito de desenvolvimento sustentável como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir às suas próprias necessidades”. Dez anos depois, Elkington (1997) introduziu o conceito de “tripé da sustentabilidade” que afirma que as organizações para serem mais sustentáveis devem medir seus resultados não só em termos econômicos, mas também em termos sociais e ambientais. Esses dois conceitos marcaram o fim do século XX e guiam o esforço por um mundo mais sustentável até os dias atuais. Pode-se dizer que, algumas décadas após o início do movimento verde, o tema da sustentabilidade é tratado como prioridade nos mais diversos setores econômicos. No caso da construção civil, a aplicação do conceito se dá como resposta ao fato de que o setor é um dos que mais causa impactos ao meio ambiente. A construção está relacionada a uma porcentagem significativa de produção de gás carbônico do planeta e se encontra entre os setores que mais consomem recursos naturais (ZEULE, 2014; ÂNGULO, ZORDAN e JOHN, 2001). Medidas para conter impactos negativos são vistas na indústria nacional pela aplicação do conceito de green building, pela utilização de sistemas de certificação de sustentabilidade como o LEED e o AQUA, entre outros. Apesar disso, nota-se que os esforços são voltados principalmente aos aspectos de concepção e projeto e pouco para a execução de empreendimentos. Sabe-se que em um canteiro de obras os impactos ambientais são de diversas naturezas. Bittencourt (2012) lista a produção de resíduos sólidos, a poluição do ambiente, contaminação e interferência na drenagem do solo e impactos gerais na fauna e na flora como alguns destes impactos. Em resposta a essa realidade, o setor busca aplicar ações estratégicas que combatam esse potencial negativo de sua produção. Este trabalho tem por objetivo identificar tendências e enfoques em sustentabilidade na fase de construção de edificações a partir de revisão bibliográfica, bem como identificar ações estratégicas em desenvolvimento, agrupadas conforme categorização desses enfoques.

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Espera-se com isso, por um lado, ter um quadro preliminar estruturado, de ações desenvolvidas, bem com o identificar eventuais lacunas para estudos futuros. 2. Método Esta pesquisa é desenvolvida como uma revisão da literatura que versa sobre sustentabilidade no canteiro de obras. A partir de delineamento metodológico adaptado de Godinho Filho e Fernandes (2004) são apresentadas na figura 1 as etapas da pesquisa. Figura 1. Estrutura metodológica do trabalho

Fonte: Adaptado de Godinho Filho e Fernandes (2004).

A primeira etapa foi caracterizada por um embasamento teórico preliminar, iniciado por trabalhos coletados por meio da biblioteca digital brasileira de teses e dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) utilizando a expressão “canteiro sustentável” na busca da plataforma. Foram identificadas propostas de classificação de enfoques, apresentados por esses trabalhos, quanto à sustentabilidade em canteiros de obra. Na segunda etapa, foi proposta a estrutura para classificação da literatura embasado nos conhecimentos adquiridos preliminarmente. As 3 categorias formuladas foram nomeadas da seguinte forma: método utilizado, focos estratégicos de sustentabilidade e sistemas de certificação de sustentabilidade. Em seguida, foram realizadas buscas por artigos nacionais que versavam sobre o assunto utilizando

combinações

dos

termos:

canteiro

sustentável,

construção

sustentável,

sustentabilidade, canteiro de obras e gestão ambiental. Foram consultadas as bases de dados infoHab e SciElo e os anais de ENTACs e do Euro-ELECS para o período de 2010 a 2016. Dentre os 138 artigos listados no resultado da pesquisa, 20 se mostraram aderentes ao tema. Com o intuito de complementar a revisão com estudos internacionais, o mesmo processo foi repetido para estes artigos. As bases de dados Compendex, Web of Sciences e Scopus foram consultadas para os mesmos anos e termos (traduzidos para o inglês). O resultado de 1588 artigos listados demonstrou um número elevado de trabalhos não relacionados a canteiro de obras, a maioria dos quais relacionados a aplicações na fase de projeto. Através de uma rápida

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análise de títulos a maioria foi descartada, e numa segunda etapa, através dos resumos, chegou-se a 10 artigos internacionais, considerados como de maior aderência ao tema. Estes 30 artigos foram então classificados entre as opções dadas para cada categoria da estrutura proposta na etapa anterior. Com essa classificação foi possível identificar numérica e graficamente tendências de métodos de pesquisa mais utilizados, focos de sustentabilidade mais pesquisados e sistemas de certificação mais abordados. Por fim, na última etapa é organizada revisão da literatura utilizando a classificação feita na segunda etapa para que se pudesse apresentar o que está sendo discutido de cada tópico e até que ponto já se discutiu sobre o tema. 3. Classificação da literatura O sistema de classificação proposto consiste na avaliação dos artigos quanto a três categorias, sendo essas:  Método utilizado;  Focos estratégicos de sustentabilidade;  Sistemas de certificação de sustentabilidade. Começando pelo tipo de pesquisa, Gil (2010) explica que “para que se possa avaliar a qualidade dos resultados de uma pesquisa, torna-se necessário saber como os dados foram obtidos, bem como os procedimentos adotados em sua análise e interpretação”. O mesmo autor lista 13 métodos de pesquisa comumente utilizados por pesquisadores das diversas áreas. Dentre esses métodos os autores selecionaram os 3 que abrangiam todos os artigos encontrados. São estes: revisão bibliográfica, levantamento e estudo de caso. A segunda categoria é intitulada como focos estratégicos de sustentabilidade. A partir do estudo bibliográfica preliminar ficou clara a necessidade de se subdividir o tema por áreas de impacto e aplicação de ações sustentáveis. Priori Junior (2011) dividiu os focos de atuação sustentável em 8: medição, análise e melhoria; uso racional de água; uso racional da energia; gestão de materiais; gestão de mão de obra; segurança e qualidade de vida no trabalho; gestão de resíduos e perdas de materiais; interferências da mão de obra no seu entorno. Já Oliveira (2011) estruturou em 6 tópicos de estudo: relação do edifício com o seu entorno; escolha dos sistemas e processos construtivos; impacto ambiental; gestão da energia; gestão da água; e gestão dos resíduos. Araújo (2009) e

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Bittencourt (2012) classificam as áreas de impacto e atuação sustentáveis em: resíduos, incômodos e poluição, recursos e infraestrutura do canteiro. Destas três alternativas de abordagem, optou-se neste trabalho pelo uso da última, dividida em 4 focos. Cada um destes é melhor caracterizado abaixo:  Resíduos: compreende perdas de materiais por entulho, manejo de resíduos, destinação de resíduos, entre outros;  Incômodos e poluição: compreende emissão de ruídos, emissão de vibração, emissão de gases poluentes e material particulado, etc.;  Recursos: compreende consumo de recursos, consumo de água, consumo de energia, etc.;  Infraestrutura de canteiros: compreende circulação de materiais, pessoas e equipamentos, risco de desmoronamentos, armazenamento de materiais, etc. A terceira e última categoria também foi determinada a partir do embasamento preliminar. A categorização por sistemas de certificação de sustentabilidade se dá por existir em todos os trabalhos do embasamento menção a sistemas que incentivam o uso de práticas sustentáveis em canteiros. Gehlen (2008), por exemplo, cita como boas práticas para qualidade, saúde e segurança, meio ambiente e responsabilidade social as certificações empresariais ISO 9001, PBQP-H, ISO 14001, OHSAS 18001 e como ferramentas para a sustentabilidade na construção as certificações LEED e AQUA. Araújo (2009) vai além, listando as metodologias de avaliação de sustentabilidade de edifícios que possuem exigências em relação aos canteiros de obras. São essas: BREEAM, CASBEE, HQE, Certification Habitat et Environnement, GBTool, Green Star, LEED e AQUA. Nesta categoria, devido ao número extenso e possível de resultados, preferiu-se por dar preferência aos sistemas mais utilizados no Brasil de suporte à gestão ambiental e às construções sustentáveis. Para Oliveira (2011) estas incluiriam a série de normas ISO 14000, a certificação LEED e a certificação AQUA. Para este trabalho, essas três, somadas a certificação BREEAM - que para Zeule (2014) já possui importância no cenário nacional – foram escolhidas como as opções para a terceira categoria. Com o intuito de resumir o sistema de classificação aqui proposto, é apresentada na tabela 1 de forma clara cada uma das categorias e suas subdivisões. Já o resultado da classificação dos

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artigos pode ser visto na tabela 2. Esta está organizada cronologicamente e alfabeticamente por autor. Tabela 1. Sistema de classificação da literatura sobre práticas sustentáveis em canteiros de obra

O resultado gráfico do que está apresentado na tabela 2 pode ser visto na figura 2. Nota-se no gráfico referente ao método de pesquisa utilizado que na maioria dos artigos optou-se pelo estudo de caso. No gráfico central, é apresentado que em mais de três quartos dos artigos sobre sustentabilidade em canteiros é possível observar o foco em resíduos. Também é explicitado que menos de um terço dos artigos toca nos focos de recursos e impactos e poluição. Finaliza-se a apresentação gráfica pela indicação que entre os sistemas de certificação, o processo AQUA e a certificação LEED são os mais abordados e que a ISO 14000 e o BREEAM ainda não são tão tocados pela literatura, tendo sido identificados em apenas 2 artigos. 4. Revisão da literatura Nesta seção é apresentada a revisão bibliográfica organizada utilizando a classificação realizada na seção anterior, mais especificadamente na segunda e na terceira categorias. Podese notar na tabela 2 que para ambas as categorias utilizadas existem artigos com um ou mais tópicos abordados. Sabendo disso, são pontuadas brevemente as contribuições de artigos relativas a cada tópico.

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Tabela 2. Classificação dos artigos da revisão

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Figura 2. Distribuição gráfica da classificação dos artigos

4.1. Foco estratégico de sustentabilidade 4.1.1. Resíduos Entre as 4 subdivisões desta categoria, a com foco em resíduos é a que tem mais artigos relacionados. A maioria destes está ligada a planos de gestão de resíduos sólidos. Viana et al. (2013), por exemplo, ressaltam a importância que tem a gestão integrada de resíduos sólidos para a sustentabilidade de uma obra, mas afirmam que existe uma resistência por empresas em adotarem tal medida por ser de baixo retorno financeiro e uma medida de longo prazo. Já no caso onde já está implantado um plano de gerenciamento de resíduos da construção e demolição (PGRCD), Rodrigues et al. (2014) constatam que a falta de compatibilização e de inovação nos sistemas construtivos é um dos motivos de geração de resíduos. Por isso, afirmam que os PGRCDs precisam ser mais específicos e devem ser considerados em todas as fases da obra e decisões para que aumentem seus potenciais. Udawatta et al. (2015), por meio de levantamento feito com construtoras australianos, complementam que para a melhoria na gestão de resíduos na construção é preciso observar aspectos tecnológicos e humanos. Os autores listam entre as soluções mais importantes para a gestão de resíduos o uso de tecnologias construtivas que minimizem a geração de resíduos e a seleção apropriada de materiais, assim como o engajamento de todos os stakeholders da importância na gestão de resíduos.

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Considerando que é crítica a situação do manejo dos resíduos de construção no Brasil, Evangelista, Costa e Zanta (2010) concluem que, como forma de mitigar este problema, existe viabilidade na reciclagem de resíduos de classe A no próprio canteiro onde é produzido. Os autores afirmam que há benefícios econômicos e ambientais decorrentes da prática. 4.1.2. Incômodos e poluição Partindo agora para o foco em incômodos e poluição, em artigo sobre os principais impactos ambientais causados por canteiros de obras, Zolfagharian et al. (2012) concluem que os impactos causados pelo transporte de materiais, pela poluição sonora, pela aspersão de poeiras e poluição no ar são os que possuem maior severidade e frequência. Hostetler (2010) complementa essa lista de incômodos e poluição ao relacionar à construção a destruição de áreas verdes, a poluição de corpos d’água próximos, o aumento da compactação e contaminação do solo, entre outros. O mesmo autor conclui o trabalho apresentando medidas que solucionam ou mitigam esses impactos e que devem ser implementadas para se obter um canteiro mais sustentável. Já Muzzillo et al. (2015) propõem a mitigação dos incômodos causados por canteiros em locais urbanos com uso do que chama de nova geração de cercas. Para os autores, o uso criativo de tecnologias, ferramentas educativas, transparência e interatividade com o meio urbano a partir dessas novas cercas resulta em uma relação menos impactante entre a construção e o entorno. 4.1.3. Recursos Se tratando do foco em recursos, Silva e Porangaba (2012) observam que já existe em construtoras a consciência da necessidade de se usar racionalmente energia e água em canteiros de obra. Ações como reaproveitamento de água, reuso de águas servidas, aproveitamento de luz natural e aplicação de materiais translúcidos tem resultado em obras com menores consumos de recursos. Zeule e Serra (2014) dão especial atenção ao uso da água. Em pesquisa realizada, os autores observaram em 4 canteiros diferentes ações que demonstram a consciência do uso racional da água. Dentre essas ações se destacam a captura e o tratamento de água das chuvas e a conscientização dos trabalhadores quanto à importância do racionamento.

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Por outro lado, Coutinho e Calmon (2012) apresentam em seu estudo que o consumo consciente de recursos ainda não é uma unanimidade. No trabalho, os autores apresentam 3 casos onde não existe qualquer tipo de ação para diminuição do consumo de água. Em relação ao consumo de energia, a única ação observada no sentido de racionar luz foi na utilização de lâmpadas econômicas em 2 dos canteiros 4.1.4. Infraestrutura de canteiros Arrotéia et al. (2012) abordam o foco estratégico em infraestrutura de canteiros ao destacar em estudo de caso o controle na realização de encostas e taludes, a qualidade do armazenamento dos materiais, uso de fontes de energia renováveis no canteiro, a realização de manutenção dos equipamentos com frequência e efetividade, o uso de pallets no transporte de materiais, etc. Entende-se com isso que o foco em infraestrutura está relacionado à preocupação com as condições para que se produza com qualidade e sem retrabalhos, ou seja, diminuindo possíveis impactos ambientais. Essa ideia vai na mesma direção que o trabalho realizado por Campos et al. (2012). Estes pesquisadores fazem a ligação do conceito de construção enxuta com a sustentabilidade de canteiros. Os autores afirmam que o sistema enxuto possui sinergias que possibilitam uma maior sustentabilidade pelas práticas empregados nesse sentido. Outra contribuição para este foco é feita por Zhai e Reed (2014). Os autores apresentam como uma solução para um canteiro mais sustentável o uso de técnicas industrializadas. Apesar de acreditarem que a pré-fabricação é um caminho a seguir, os autores também chegam à conclusão de que uma mudança como essa no sistema construtivo passa também por uma modificação de mentalidade e cultura dos profissionais da construção. 4.2. Sistemas de certificação de sustentabilidade 4.2.1. ISO 14000 Segundo Zou e Moon (2013), a série de normas ISO 14000 quando introduzido no mercado fez com que empresas construtoras se interessassem mais por criar um sistema de gestão ambiental. Apesar disso, em 2010, Priori Junior e Silva (2010), em levantamento feito com 59 construtoras brasileiras, constataram que apenas 2 utilizavam o sistema.

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Sabe-se que, apesar de não haver um artigo neste trabalho que discorra sobre o tema atualmente, a aplicação do sistema tem atraído o interesse cada vez maior de construtoras. Vale ressaltar a importância de se estudar essa certificação e sua relação com a sustentabilidade de canteiros de obras. 4.2.2. LEED, AQUA e BREEAM Thomas, Guimarães e Bastos (2012) pontuam cada uma das contribuições dadas pelos 3 sistemas de certificação aqui descritos quanto a aplicação da sustentabilidade no canteiro de obras. Com um quadro esquemático (tabela 3), os autores apresentam que, mesmo de formas diferentes, as 3 certificações tocam nos 4 focos estratégicos de sustentabilidade aqui descritos. No tocante à certificação LEED, Brandão, Zeule e Serra (2012) apresentam uma lista de 18 critérios de avaliação de sustentabilidade possíveis de se verificar elaboradas a partir dos conceitos da certificação LEED exclusivamente voltada para canteiro de obra. Isso revela que mesmo não tendo sua aplicação pensada diretamente para o uso em canteiros, seus princípios devem estar presentes nesta fase para o sucesso da edificação. Já o processo AQUA, por ter sido moldado para a realidade brasileira, é visto por Rodrigo e Cardoso (2010) como a certificação mais adequada às nossas construções. Os autores apresentam que o sistema possui uma categoria inteira dedicada ao canteiro de obras, denominada canteiro de obras de baixo impacto ambiental. Nesta categoria são englobadas ações desde a triagem de resíduos ao treinamento da mão de obra quanto a gestão ambiental. Tabela 3. Comparação entre as contribuições de cada método de avaliação ambiental para canteiros de obras

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Fonte: adaptado de Thomas, Guimarães e Bastos (2012)

5. Conclusões Este trabalho teve como objetivo apresentar uma revisão da literatura sobre sustentabilidade em canteiros de obras. Com base em embasamento preliminar foi possível criar uma classificação que reflete de maneira ampla como é entendido o tema por pesquisadores. Da revisão, conclui-se que já existe uma discussão desenvolvida em várias vertentes da sustentabilidade em canteiros. Por outro lado, conclui-se que o estudo sobre o tema ainda precisa de um melhor aprofundamento quanto às soluções aplicáveis para a melhoria da sustentabilidade de canteiros de obras. Apesar de ser um trabalho representativo e informativo, é fato que a revisão deve ser continuada e uma melhor discussão deve ser feita dentro de cada categoria. Este artigo serve como um passo inicial para melhor entendimento e para síntese geral do tema. Referências ANGULO, S. C.; ZORDAN, S. E.; JOHN, V. M. Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na construção civil. IV Seminário Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na construção civil-materiais reciclados e suas aplicações. CT206-IBRACON. São Paulo–SP, 2001. ARAÚJO, N. M. C. et al. Gerenciamento de RCDs em canteiros de obras: uma análise comparativa entre legislação, a opinião dos gestores de obras e a realidade nos canteiros de obras. In: XIV ENTAC. Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ANTAC, 2012. ARAÚJO, V. M. Práticas recomendadas para a gestão mais sustentável de canteiros de obras. 2009. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, São Paulo. ARROTÉIA, A. V. et al. Avaliação de sustentabilidade global de uma empresa goiana do setor da construção civil. In: XIV ENTAC. Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ANTAC, 2012. BITTENCOURT, M. Avaliação de aspectos ambientais em canteiro de obras. 2012. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BOSETTI, A. A.; MARQUES NETO, J. da C. Diretrizes para elaboração do projeto logístico de gestão dos resíduos da construção civil (RCC) em canteiros de obras. In: EURO-elecs, Guimarães. Proceedings… Guimarães, [s.l.]: Multicomp, 2015. BRANDÃO, G. MB; ZEULE, L. de O.; SERRA, S. MB. Tecnologias e Certificações para Canteiros Sustentáveis. In: XIV ENTAC. Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ANTAC, 2012. BRUNDTLAND, Gru et al. Our Common Future. 1987. CAMPOS, I. B. et al. A relação entre a maturidade sustentável das empresas construtoras e a filosofia lean construction. In: XIV ENTAC. Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ANTAC, 2012.

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