TÉCNICAS DE CONFISSÃO E DE UM FAZER FALAR: LUGAR DE PODER E ÉDIPO NA PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES \"EX-GAYS\"

May 31, 2017 | Autor: Steferson Roseiro | Categoria: Cristianismo, Subjetividade, Complexo De Édipo, Sexualidades, Ex-gays
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TÉCNICAS DE CONFISSÃO E DE UM FAZER FALAR: LUGAR DE PODER E ÉDIPO NA PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES “EX-GAYS” Matheus Magno do Santos Fim1 Stéferson Zanoni Roseiro2 Alexsandro Rodrigues3 Resumo: Esse trabalho visa à compreensão da produção de subjetividades denominadas “ex-gays”, atravessadas por discursos e saberes cristãos e psicológicos, além de serem capturadas constantemente por um discurso midiático. Por meio de entrevistas, ida a grupos de sexualidade cristã e de conteúdos em audiovisual disponíveis na internet, busca-se verificar e entender como a Psicologia se faz presente nesses modos de vida. De acordo com a noção de Foucault sobre os efeitos de verdade produzidos pelos diferentes saberes, sobre as técnicas de confissão e de um “fazer falar” constante, a produção dessa subjetividade “ex-gay” demonstra como ocorre o controle da vida e da sexualidade dos sujeitos que se localizam nesse lugar de fala. Como resultado, encontrou-se a problemática do uso da lógica do Complexo de Édipo para justificar as vidas que fujam à heterossexualidade, além de um constante uso da figura do “ex-gay” para a promoção de uma moral cristã e para o deboche e a espetacularização. Além disso, diversas questões foram levantadas durante a composição dessa pesquisa, como a questão precariedade que percorrem a vida da população LGBTTTI que levam à negociar suas sexualidades e das práticas fascistas em torno dessas produções de subjetividades. Palavras chave: Ex-gay. Sexualidade. Complexo de Édipo. Produção de subjetividade. Moral cristã.

A formação do saber psi

As práticas e saberes da psicologia têm suas bases relacionadas com dispositivos de um poder disciplinar que se consolidou na sociedade ocidental por volta do século XVIII. O processo de estruturação de instituições como os hospitais, os internatos, os presídios e a família estão diretamente relacionados com os discursos e saberes da medicina, da psiquiatria, da pedagogia e do direito, que influenciaram a constituição dos 1

Aluno do curso de Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e bolsista de Iniciação Científica (2015/2016). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sexualidades (GEPSs/Ufes). [email protected] 2 Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e voluntário de Iniciação Científica (2015/2016). Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sexualidades (GEPSs/Ufes). [email protected] 3 Professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Sexualidades (GEPSs/Ufes). [email protected]

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saberes psi (FOUCAULT, 2001). Ao tomarmos como base as obras de Foucault que se aproximam das psicologias de forma crítica, entendendo-a como um conhecimento que fala sobre uma dimensão psicológica do sujeito e age por meio de práticas de normalização social e disciplinarização, é possível encontrar na atualidade esses aspectos nos discursos da psicologia e a sua influência na produção de subjetividades (PRADO FILHO; TRISOTTO, 2006). A análise feita por Foucault (1991) da genealogia da psicologia vai além do surgimento de laboratórios experimentais de psicologia, mas se encontra nas relações de poder, nas instituições e na ação sobre os indivíduos considerados anormais (PRADO FILHO; TRISOTTO, 2006). Quando a relação da loucura com a sociedade começa a ser de exclusão daquele que é considerado louco por motivos de proteção social, em que os perigosos e improdutivos deveriam viver em reclusão, os saberes da medicina que agiram sobre esses indivíduos tinham um caráter de repressão moral. Nas instituições asilares para os loucos, a loucura foi interiorizada para a “alma humana” e o homem, como dito por Foucault (1975), se tornou uma espécie “psicologizável”: Nesse contexto, a psicologia que surge dos preceitos positivistas e científicos tem sua origem nas experiências patológicas dos saberes médicos e psiquiátricos e na relação desses com um regime moral aplicado nessas instituições. A dicotomia entre o normal e o patológico serve como um cenário para a atuação dos saberes psi, encarregados por trazer de volta à normalidade os comportamentos desviantes ou pelo menos afastá-los dos comportamentos normais. Porém, a gênese dos discursos psicológicos não se restringiu à dimensão da loucura. Os saberes médicos, pedagógicos e psiquiátricos que estavam presentes nas diferentes instituições foram produzidos e produziram dispositivos de disciplinarização e docilização dos corpos. Nos estudos sobre o surgimento das instituições disciplinares, Foucault (1999b) coloca Benoit, condenado à morte por sua homossexualidade, como o último vestígio dos suplícios, marcando a transição de um poder lacunar e soberano que agia por meio de castigos físicos para um poder que age diretamente sobre os corpos, por meio de uma complexa rede de saberes que produzem efeitos de verdade e que se utilizam de estratégias para as suas produções científicas.

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O corpo passa, assim, a ser alvo direto dos dispositivos disciplinares que age por meio de disposições estratégicas, que não são apropriadas por um grupo dominante e não agem pela proibição, mas que se apoiam e se investem numa rede de indivíduos. Entre essas estratégias está a produção de saberes intimamente relacionada com as relações de poder, caracterizado por Foucault (1999a) como um saber-poder que determinam os campos de conhecimento, criam dispositivos, produzem outros saberes e tomam os corpos como objetos desse saber. Nesse contexto de produção de poder-saber, a psicologia é também marcada pela especificidade e continuidade do exame, isto é, caracterizado pela vigilância permanente, classificação, distribuição dos indivíduos para depois localizá-los e utilizálos ao máximo (FOUCAULT, 1984). É a confissão, utilizada por muito tempo pela Pastoral Cristã, que se expandiu para o uso de saberes e estratégias do poder disciplinar e que também tem relação direta com a psicologia (FOUCAULT, 1999a). É a confissão que possibilitou as análises, contagens, categorizações e classificações em meio a pesquisas que se debruçaram cada vez mais sobre a questão do sexo, como os desejos, as práticas contraceptivas, os efeitos do celibato, a natalidade e os comportamentos que desviam de uma moral predominante, como entre muitos outros estavam os comportamentos não heterossexuais e que podemos localizar atualmente na população LGBTTTI4. Aos poucos, os discursos sobre o sexo deixavam de ter caráter apenas moral para um lado racional originário da ciência moderna, produzindo efeitos de verdade que agiram sobre a regulação dos corpos. Nesse contexto, a explosão discursiva sobre o sexo veio de diversos campos de saber, como a pedagogia, concentrando estudos sobre a sexualidade infantil nos colégios, baseada na fala dos educadores, dos médicos, dos pais e das próprias crianças, publicando pareceres e advertências. Veio também da medicina e da psiquiatria, que produziram discursos que relacionavam a etiologia de muitas doenças nervosas à masturbação e que, juntamente com o poder penal, relacionaram comportamentos sexuais com crimes, tendo como resultado a produção de diagnósticos, prescrições

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Nos limites de significados e representações, compreendemos por LGBTTTI, modos de subjetividades sexuais que se identificam como: Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais.

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terapêuticas e a exaltação de um perigo sobre o sexo que ao invés de calá-lo, fez-se falar mais ainda em prol da proteção da sociedade. Iniciam-se inúmeras prescrições para que se evitem comportamentos desviantes, como a separação dos quartos dos filhos e dos pais, divisão dos quartos de acordo com a idade e com o sexo, o uso de técnicas e de vestimenta adequada para que se evitasse o contato com órgãos sexuais e o estabelecimento de uma rotina rígida para que os pais pudessem manter a máxima vigilância:

Aos perigos da sexualidade infantil, sobre a qual os pais se debruçam, devem responder a intervenção e a racionalidade médicas. Em compensação, no outro caso, a sexualidade, ou antes, a sexualização da família a partir do apetite incestuoso e perigoso dos pais ou dos mais velhos, essa sexualização em torno do incesto possível vindo de cima, vindo dos mais velhos, também chama um poder externo, uma intervenção do exterior, uma arbitragem, ou antes, uma decisão (FOUCAULT, 2001, p. 345-346).

Entre os saberes atuais considerados como constituintes dos saberes psicológicos, a psicanálise surge nesse contexto em que o medo do incesto se faz presente no âmbito familiar junto com o medo de tantos outros desvios de caráter sexual no comportamento das crianças e dos adultos. Nota-se que esses saberes produziram discursos que passaram a dizer sobre uma sexualidade pautada na docilização dos corpos, bastante influenciadas por uma moral da época, e que influenciaria todo um conjunto de instituições, como as escolas, os internatos, os hospitais e o poder judiciário, para que se resolvesse essa nova problemática dos perigos, dos desejos e das ações desse corpo cada vez mais sexualizado:

De um lado, a psicanálise, que vai aparecer como técnica de gestão do incesto infantil e de todos os seus efeitos perturbadores no espaço familiar. É, simultaneamente a psicanálise [...], as instituições de policiamento das famílias populares, que têm por função essencial, não administrar os desejos incestuosos das crianças, mas, como se dizia, '''proteger as crianças em perigo" - isto é, protegê-las do desejo incestuoso do pai e da mãe - e, precisamente, retirá-las do ambiente familiar. Num caso, a psicanálise vai reinserir o desejo na família [...], mas, no outro caso, não se deve esquecer que, simetricamente é de uma maneira absolutamente contemporânea, tivemos esta outra operação, igualmente real, que consistiu em retirar a criança da família em consequência do medo do incesto adulto (FOUCAULT, 2001, p. 346).

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A tecnologia psicanálise

Ao tomarmos esse percurso de consolidação dos saberes psicológicos em meio a processos de disciplina e normatização, se faz necessário questionar o uso atual desses saberes e sua constante apropriação para diversas finalidades, pois a Psicologia, como um conjunto de discursos, ainda produz efeitos de verdade e ainda age sobre os corpos e sobre a produção de subjetividades. No que se refere à Psicanálise, durante os caminhos percorridos pela construção desse trabalho, notou-se um constante uso da lógica do Complexo de Édipo para se justificar questões relacionadas a uma sexualidade que se desviaria da lógica heterossexual, principalmente por aqueles que se propõem a falar sobre a sexualidade baseada em uma moral religiosa, seja dentro das igrejas ou até mesmo nos âmbitos profissionais, momento em que é muito comum haver um atravessamento do discurso religioso com os saberes psicológicos. A lógica do Complexo de Édipo é fundada de acordo com a ideia da proibição do incesto, que marcaria a passagem da natureza para a cultura, coincidindo a relação de consaguinidade com a relação de aliança entre os pais e os filhos. O fenômeno de Édipo seria a entrada dessa interdição social no indivíduo, sendo, porém, o fenômeno edípico relacionado com a questão psicanalítica do desejo. Nesse fenômeno, Freud coloca a escolha preferencial da mãe como objeto de desejo erótico da criança e o pai como alvo de seu ódio, por ser um obstáculo entre a mãe e o filho. Além disso, nos seus estudos sobre a sexualidade feminina, Freud também coloca a mãe como o primeiro objeto de desejo erótico da filha, sendo que ocorreria uma substituição pela figura do pai a partir de certa idade. Em outra fase do Édipo, o pai passa a ser o ideal com quem a criança se identifica, permitindo que essa interiorização a constitua como sujeito a partir da entrada no mundo simbólico, sendo esse momento em que a criança se identificaria como distinta da mãe e do pai, o que seria a fundação de uma “família simbólica” (GARCIA-ROZA, 2009). Esse discurso da Psicanálise abre espaço interpretações que justificam todos os comportamentos não heterossexuais como consequência de uma figura paterna ausente 5

ou pouco expressiva em relação à figura materna ou até mesmo com questões relacionadas ao abuso sexual na infância, como foi observado no material que serviu de base para o presente trabalho. Ao tomarmos os atuais processos de subjetivação das identidades localizadas como “ex-gays”, nos colocamos a pensar como alguns saberes psicológicos ainda são apropriados para finalidades que fogem à prática profissional do psicólogo e atravessados por outros discursos. Nessa perspectiva, esse trabalho buscou problematizar e compreender as práticas religiosas e seus desdobramentos nas vidas dessa população LGBTTTI e naqueles que não se localizam mais nesses grupos identitários. Se considerarmos o âmbito legal, encontraremos na resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia a proibição de qualquer uso e prática psicológica para a patologização e tratamentos de homossexuais, como presente no seguinte artigo:

Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

Apesar dessa resolução, é notável que não se trate apenas de uma questão profissional. Tal interdição serve contra as práticas dos psicólogos que informalmente buscam trabalhar o retorno a uma vida heterossexual em grupos de estudo, conversa e aconselhamento dentro das igrejas e em seus consultórios, mas ainda é insuficiente quando nos deparamos com os discursos da psicologia que estão sendo reproduzidos por sujeitos que não necessariamente são formados em psicologia, mas que passaram por um desses consultórios ou igrejas, e que hoje se propõem a dizer sobre uma possível vida heterossexual. As constantes estratégias da confissão utilizadas pelas práticas religiosas e psicológicas produzem inúmeras falas sobre si, evidenciando um dispositivo da sexualidade que ainda influenciam as produções dos modos de vida “ex-gay”. Essas falas estão presentes cotidianamente nas polêmicas dos programas de auditório, nos púlpitos dos cultos de diferentes denominações religiosas e na ironia daqueles que 6

desacreditam e debocham dessas produções e ainda não dão conta de tratar da verdadeira complexidade que está em torno do fenômeno “ex-gay” (ROSEIRO, S. Z.; FIM, M. M. S.; RODRIGUES, A., 2015). Assim, o presente trabalho nos colocar a pensar qual o lugar da psicologia diante dessas produções e o lugar do “ex-gay” no presente, diariamente atravessado pela norma, pela moral cristã, pelos estudos acadêmicos, pela mídia, pelo deboche e pelo silêncio. O que seria ser ex-gay? Quais identidades são localizadas nesse nome? Quais discursos sustentam a “ex-bicha”, a “ex-travesti”, a pastora “ex-homossexual”, o “heterossexual por opção”, os “sem pai” e de tantos outros lugares de fala? Distante ainda de finalizar todas essas perguntas, o presente trabalho percorreu alguns lugares em que a “ex-gay” esteve presente junto com a psicologia e com as práticas religiosas, buscando responde-las e produzindo novos questionamentos, considerando os atravessamentos dos discursos e práticas religiosas na população LGBTTTI e compreendendo as apropriações discursivas de saberes instituídos da psicologia como estratégias de disciplinarização e exclusão dessa população (FOUCAULT, 1999b; FOUCAULT, 2001). Assim, portanto, colocamo-nos a procurar os rastros dos saberes psi na relação com as sexualidades, com os modos de produção de subjetividades nas sexualidades. Por via discussões com vídeos no YouTube, de conversa com sujeitos identificados "exgays" e de análises de discursos dos saberes psi articulados aos saberes religiosos. Partindo, portanto, do princípio que a psicologia e, principalmente, a psicanálise foi um campo de poder-saber que criou estratégias de abordagem das subjetividades pelo viés das sexualidades, indagamos: afinal, que sexualidades importam? Como o conceito de Édipo e a heterossexualidade afetam as vidas e produzem efeitos de verdade na produção da vida "ex-gay"? As grandes técnicas de Édipo

O processo de busca pelo material que embasaria essa pesquisa foi o responsável pela condução dos questionamentos do grupo de pesquisa e pelo melhor delineamento do que estávamos buscando por meio dessa temática. A primeira questão que nos foi colocada durante o processo de aproximação com os “ex-gays” foi conseguir localizar 7

nessa definição pouco esclarecedora e limitada quem se enquadraria e se limitaria a essa identidade. Nas duas entrevistas feitas os entrevistados se identificaram de formas diferentes. O primeiro se colocou no lugar de “heterossexual por opção”, dizendo reconhecer que sente atrações por pessoas do mesmo sexo, mas que prefere “não dar ouvidos” a essa vontade por questões religiosas e por desejar ser inserido no modelo “heterossexual normativo patriarcal” (reconhecido e descrito pelo próprio entrevistado) que admitiu não querer sofrer todas as perseguições que a população LGBTTTI sofreria. Já o segundo entrevistado dizia não se importar com definições identitárias e que no momento ele vivia a sua heterossexualidade depois de anos vivendo como homossexual e que esse processo não havia sido de uma “cura”, mas da descoberta, por meio de anos de análise, que seu comportamento como homossexual tinha origens no seu relacionamento difícil com seu pai. Em outros materiais, como nos vídeos assistidos, as definições variavam de acordo com os espaços em que eram produzidas essas falas. Nos vídeos de testemunhos de igrejas evangélicas e de membros dessas igrejas, as definições de “ex-gay” são a partir das definições de homossexualidade5. Eduardo Rocha, em seu vídeo6 que exalta o percurso de sua vida e da produção da sua “sexualidade cristã”, refere-se à homossexualidade como “uma busca inconsciente de amor e aceitação”, construída por experiências emocionais e espirituais. Na mesma lógica, Débora Fonseca, formada em direito e psicologia e coordenadora do ministério “Luz na Noite”, definido por ela como um apoio para as pessoas que querem abandonar a prática da homossexualidade, diz em entrevista7 que entende a homossexualidade como construção em que “Deus nos dá um kit anatômico e fisiológico para sermos machos e fêmeas” e que a família, a sociedade, a cultura, a mídia e o sistema educativo contribuem para isso. Por colocar a homossexualidade com um “estado”, uma “fase”, ou como um ponto que seria apenas um componente do indivíduo4, ela considera a afirmação “uma vez gay, para sempre gay” como diabólica. Para Débora, a vida é um universo e a homossexualidade é só um

Foi observado que o termo “homossexual” era utilizado para se referir também aos travestis e transexuais 6 Disponível em: . Acesso em: 07/12/2015. 7 Disponível em: . Acesso em 13/08/2015 5

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ponto dessa vida e assumir a identidade gay é fazer da vida esse ponto. O termo ex-gay seria inexiste, pois amarraria a pessoa a esse ponto. De qualquer forma, em todos os testemunhos, o “ex-gay” seria aquele que encontrou a salvação por meio de uma experiência religiosa com o Deus cristão, que aos poucos reformou suas vidas e permitiu que se resolvessem as questões mal resolvidas do passado, responsáveis pelo surgimento dos comportamentos não heterossexuais. A partir de tantas formas diferentes para se definir o “ex-gay”, expressadas por aqueles que se dizem como “ex-gays” ou por aqueles que dizem conhecer seus “dramas” e suas “origens”, é necessário reconhecer a incapacidade dos lugares identitários como forma de se localizarem as formas de vida, as produções de subjetividades e os usos feitos pela delimitação desses lugares. Ao tomarmos as origens da psicologia até seus dias atuais, junto com tantos outros saberes, como a pedagogia e a psiquiatria, compreendemos que as estratégias de se fazer falar e da construção de registros, diagnósticos e prescrições para as diferentes neuroses, psicoses e desvios do comportamento faziam parte de inúmeros jogos de poder, de controle e exclusão, em que diferentes formas de vidas foram enquadradas, sofrendo sanções normativas, reduzindo seus espaços de vida e de produção de si (FOUCAULT, 1999). O próximo passo foi a busca pela conversa com Débora Fonseca, que recusou a entrevista após a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, mas que permitiu a participação no curso “VII Curso sobre sexualidade”, promovido pelo Ministério Luz na Noite, coordenado por ela mesma, e em parceria com a Igreja Batista da Praia do Canto. Ao adentrarmos na aula intitulada “Família, homossexualidade e igreja”, fomos surpreendidos como uma visão sobre a homossexualidade que não estávamos habituados. Esperava-se algo que se aproximava da “cura gay”, do desvio da heterossexualidade como uma doença. Porém, havia uma visão pregada que defendia a homossexualidade como construção e que deveria lutar-se para que ela não se tornasse uma “identidade”, encobrindo o “verdadeiro ser”. A ementa da aula é colocada como “Definir o que é a homossexualidade; raízes potencialmente influenciadoras para sua construção; apontar perspectivas de restauração e a importância da família e da igreja no processo de acolhimento e ajuda”. Visão diferente, mas que se apóia em saberes da psicologia, principalmente a psicanálise e sua lógica do Complexo de Édipo (GARCIA9

ROZA, 2009). A aula era ministrada por Débora Fonseca e sua formação em Psicologia determinava a validação do que era do dito e, de uma forma menos “infundada cientificamente” (como no caso da homossexualidade como doença), permitia a associação com os seus saberes religiosos. Os questionamentos que surgiam durante a aula não colocavam em questão o saber ali apresentado, mas apenas somavam àquelas conclusões por meio do compartilhamento de casos pessoais. As fontes eram inúmeros livros de caráter religioso que se propunham a falar da constituição do sujeito, da sua estrutura familiar como determinante na sua sexualidade, nas mãos de uma pessoa formada em psicologia. Nas suas referências bibliográficas, entre livros de pastores e de “ex-gays” que se converteram, há obras como “A inteligência e a afetividade da criança na teoria de Piaget”. Em “A história da sexualidade I – A vontade saber”, Foucault (1999) nos apresenta como os saberes são produtores de efeitos de verdade, assim como aqueles que se apropriam desses saberes, sendo o uso desses saberes como uma das estratégias de poder que potencialmente produzem influências nos corpos aos quais ele se destina. Nesse curso, ficou claro que a ideia não era apenas defender uma visão de sexualidade a partir somente de textos bíblicos, mas somá-los aos outros saberes que poderiam compor essa visão. Para as causas do comportamento sexual considerado desviante, eram colocadas na infância, por meio de afirmações como “a família disfuncional vulnerabiliza o filho para a homossexualidade”. No caso dos meninos, o pai seria como aquele que se coloca entre a mãe e o filho para que seja o modelo do menino. Em situações como a ausência paterna, a mãe “dominante” e o pai “passivo” ou a mãe contribuindo para afeminação do filho, as consequências seriam “amar e odiar pessoas do mesmo sexo”, “defeitos físicos e mentais” (como estudos não citados sobre a surdez) e “um garotinho que deseja tornar-se um homem, mas que fracassou, busca a sua masculinidade em outro homem. Ele passa a adorar a masculinidade que admira e deseja em outro homem”. Já em relação às mulheres, a pergunta que ecoaria na cabeça das meninas seria se “é bom ou ruim ser menina” e a figura do pai seria determinante para decidir a resposta, ajudando a filha a “se afirmar e exaltando a sua feminilidade” (chamando-a de princesa, por exemplo) e tratando a mãe bem para “disparar na mente da menina a vontade de querer um marido como o pai”. Quando a palestrante foi 10

questionada sobre o que seria o lugar da mãe em relação ao pai, foi ressaltado o lugar de submissão da mulher em relação ao homem, com base no versículo “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor” (Efésios 5:22). O interessante de se notar nessa lógica apresentada é o lugar de vulnerabilidade que provocaria a homossexualidade e que se constitui como “um vazio que continua, mas ainda vem o desespero e a depressão” e que “se constrói aliado a um sofrimento”. Vazio esse que só seria resolvido por meio do aconselhamento (oferecido pela própria igreja), que permitiria ir mais profundamente ao sujeito até que se encontre as causas dessa vulnerabilidade. Apesar de ser dito que “não fazemos terapia, é aconselhamento” e esse aconselhamento ser definido como um momento para que “conheça mais, permita que ele se revele, não julgue. Você vai oportunizando e as explicações vão vindo”, é notável que essa diferenciação não se coloca como verdadeira na prática. O aconselhamento, a ideia de uma estrutura do sujeito afetada pela configuração familiar na infância, a sexualidade desviante a partir desse processo e a cura pela fala estão presentes nos discursos e nos saberes apresentados no curso de sexualidade e também nas falas do nossos segundo entrevistado, que diz ter encontrado, após anos de análise, as causas de seu comportamento homossexual e das relações sexuais violentas na difícil relação que teve com o seu pai durante sua infância. Como dito pelo entrevistado, o seu verdadeiro desejo não era estar com outros homens, mas de “pegar o seu pai, de foder com ele”, como uma forma de prejudicá-lo por meio de outros homens. Ao descobrir essa causa, ele a coloca como resolvida, o que teria possibilitado hoje estar em um relacionamento heterossexual. Ao tomarmos o surgimento da psicanálise como um dos cercos produzidos sobre a família, do lugar do profissional da escuta como a ponte entre a queixa da família e a solução prescrita baseada em seus dados, sobre a sexualidade das crianças e dos pais, num momento em que se definiu lugares para o pai, a mãe, o filho e a filha, e que se produziu inúmeros discursos sobre a sexualidade sadia dos membros da família e as possíveis causas dos desvios desse modelo esperado, inaugurando a ideia do “Complexo de Édipo” (FOUCAULT, 1984), há a constante busca da fala de si, incitada constantemente por técnicas e por uma escuta especializada que poderia afirmar sobre o que era dito e prescrever soluções, encontrando nesse espaço o lugar do terapeuta, do 11

médico, do pedagogo, todos com práticas baseadas numa confissão cristã (FOUCAULT, 1999). Tamanha relação nos coloca a pensar sobre essas práticas na atualidade, sobre a sua permissividade por estar dentro de um ambiente religioso, mas que continua produzindo formas de vida atravessadas por discursos que surgem justamente de uma vulnerabilidade (não a dita por Débora), mas essa que gera negociações como forma de sobrevivência. Há espaços em que a “bicha”, a “travesti”, a “sapatão” e tantas outras formas de vida valem menos, que são precárias e que são levadas a perguntar “por que não deixar de viver dessa forma?”, “o que sou capaz de fazer para me manter vivo?”, afinal, o que levam esses sujeitos a recorrerem aos aconselhamentos, aos cursos de sexualidade cristã e a análise em busca de uma vida menos precária? (BUTLER, 2015). Diante dessas questões e em busca por mais falas que dissessem sobre esse lugar, fomos ao encontro com os vídeos, o que possibilitou a abertura de um campo muito maior para a condução da pesquisa. Neles, percebemos a “ex-gay” como parte do discurso dos testemunhos das igrejas e parte como objeto de polêmica e ironia nos programas de auditório e de humor. A “ex-bicha”, “ex-travesti" e "ex-sapatão" agora são falantes de um discurso que incomoda por se fazer existir, por nos colocar a questão de "será esse um modo de vida possível?". A "ex-gay" capturada pelo discurso midiático também se mostrava atravessada pela lógica do Complexo de Édipo (GARCIA-ROZA, 2009), em que dramas da infância em relação à figura paterna se fizeram presentes em todos os testemunhos assistidos. Eduardo Rocha, reconhecido como uma referência em eventos e cursos sobre a “sexualidade cristã”, ao falar de sua infância, cita a experiência de ter visto seu pai saindo de casa, seguido de uma fala de uma psicóloga que dizia sobre prejuízos psicológicos e sociais na formação da criança que essa ausência do pai poderia ocasionar, como sua experiência de ter sofrido abuso sexual, que somada à separação de seu pai contribuíram para uma “crise de identidade” que fizeram Eduardo “procurar em outros homens o carinho que lhe faltava” e a começar uma carreira na televisão como a travesti “Grevâniah”, momento em que diz haver “um grande vazio em sua vida”. Da mesma forma, o vídeo do testemunho de Elinelson Lima, que se coloca como extravesti e ex-homossexual, traz de início o seu relato de que tinha sofrido abuso sexual 12

por parte de seu pai. Ele afirma ter crescido uma criança “muito confusa em sua mente” e que por meio das amizades em sua adolescência começou a vida como transexual e na prostituição. Cita ter feito cirurgia plásticas como um processo em que “o diabo trabalhava a sua identidade”. Durante a fala, narrando o percurso de sua vida, são ressaltados os momentos em que viveu como alcoólatra e que conheceu um transexual que tinha AIDS. Nota-se que nesse testemunho a precariedade e a exclusão que Elinelson viveu enquanto era um transexual e que presenciou na vida de outros transexuais foram colocadas como consequência da própria produção dessa identidade trans. Além disso, associa a “confusão mental”, resultante de um abuso sofrido por parte da figura paterna, com a produção dessa identidade.

Figura1. Print do site de divulgação do trabalho de Eduardo Rocha, contendo sua visão sobre as “causas da homossexualidade” e de seu exemplo de superação. Fonte: eduardoegenoveva.com.br (2015)

Porém, para além desse discurso atravessado por saberes psicológicos, havia nessas histórias capturadas pelas câmeras outros tipos de apropriações e usos da imagem e fala dos “ex-gays”. Os programas de auditório com a presença de pastores, "ex-gays" e homossexuais assumidos geravam as polêmicas necessárias para os altos índices de audiência e espaço para as enquetes como "você acredita em ex-gays?". Os humoristas89 também se utilizaram da "ex-gay" duvidosa para montarem seus personagens, debochados e escarnados pela plateia que ria em euforia. Mas afinal, quem são esses que nos levam a perguntar se eles existem? Que produções são essas que não 8 9

Disponível em: . Acesso em: 01/12/2015 Disponível em: . Acesso em 14/12/2015.

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aceitamos como possíveis? A produção do "ex-gay" necessariamente tem passado pelo estranhamento, pela enquete popular, pelo silêncio e pelo deboche. São aqueles atravessados pela moral Cristã, pelos discursos da Psicologia, mas também pelas falas que dizem se eles são possíveis de existirem ou não. Desse lugar de fala de que muitos duvidam existir, existe aquele que quer fugir do estereótipo da “bicha”, mas que em todo momento é colocado como a “bicha que não se assume”, que foi “trancada para fora do armário e quer voltar”. Há todo momento há o “ex-gay” que quer se livrar da “bicha”, da “sapatão” e da “travesti” que já foi produzida por ele mesmo, mas que continua sendo atravessado por essas formas de vida e, como efeito dessa fuga, atravessa constantemente por meio de sua fala, de suas práticas, de suas apropriações de saberes religiosos e psicológicos, outros tantos modos de vida gay, como um jogo de forças que age incessantemente por meio e por efeito desses corpos (FOUCAULT, 1984). E nessa trama edipiana capturada pelas câmeras o enigma do “ex-gay” busca ser resolvido. Há aqueles que querem saber se isso não se trata de um truque para aumentar o ibope, aqueles que querem ouvir as falas dos especialistas dos mais variados saberes médicos, da psiquiatria, psicologia e das neurociências e aqueles que querem saber de suas infâncias, do erro fatal que causou em tamanha transgressão da normalidade. O que não muda, de fato, é o espetáculo feito em torno desse modo de vida, da associação de qualquer modo de vida não heterossexual ao uso de drogas e de uma infância trágica, da busca pela readequação do corpo à família sadia, da sátira da “ex-travesti” e “exabusada”. Sempre quem surge ali é o Édipo-cristão, restaurado e capturado em todo momento para contar a sua história, dar seu testemunho, contar a sua vida ensaiada entre o acerto do presente e o erro do passado.

(ROSEIRO, S. Z.; FIM, M. M. S.;

RODRIGUES, A., 2015). O que se observa na verdade é uma produção de subjetividade que nunca escapa das tecnologias de se fazer falar (FOUCAULT, 1999), presentes desde a ida à igreja e ao analista até nos testemunhos televisionados, nos talk-shows e nas pesquisas acadêmicas. Por fim, na vontade de encontrar mais possibilidades de conversas com aqueles que se colocariam como “ex-gays”, fomos surpreendidos por reações que levantaram

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uma última questão. Diante da pergunta feita em rede social10 se alguém conheceria algum “ex-gay” que gostaria de conversar para compor a pesquisa, ocorreram respostas como “nunca existiu coisa de ex-gay”, “se achar alguém, trate de apresentar a sociedade!”, “ex-hetero eu conheço um monte!”, “só sei rir das encubadas que resolvem voltar de onde saíram”. Em meio ao deboche, ao silêncio e à ironia, nos colocamos a pensar sobre os fascismos que nos percorrem em nosso cotidiano, que não nos isentamos e que produzimos constantemente (FOUCAULT, 2014) afetando tantas formas de vida, reduzindo outras, tornando-as precárias e impassíveis de luto (BULTER, 2015). Um modo de vida “ex-gay” se mostrou diante de nós e ainda dizemos que ele não existe. Se de fato há a possibilidade de conversão sexual ou se trata apenas de uma grande mentira, não nos cabe responder. O que se apresenta, porém, são formas de vida que se criam justamente onde a vida se mostra mais fraca e vulnerável, onde há a impossibilidade de existência de qualquer identidade não heterossexual. Subjetividades que estão presentes acreditando nelas ou não, que surgem em qualquer lugar, onde alguém se diz abusado na infância, se diz atentado pela promiscuidade ou se diz cansado da uma vida nas ruas. Produções onde uma forma de vida morre para que surja outra em seu lugar, mais limpa, asséptica e moralmente aceita. No limiar: o que é a vida "ex-gay"?

Os resultados mais notáveis dessa pesquisa foram a amplitude e a complexidade que a temática “ex-gay” se apresentou. O que antes parecia ser uma questão de ética relacionada ao uso do saber psicológico em âmbitos religiosos, mostrou-se como diversas produções discursivas que estavam de fato dentro das igrejas, mas não restrita a elas, estando presente na mídia, nas redes sociais, nas falas daqueles que se dizem “exgays” ou não. De fato, há a presença do saber psicanalítico em composição com uma moral cristã que é usado como justificativa para o enquadramento dos modos de vida da população LGBTTTI em desvios e problemas estruturais psicológicos, o que ainda se mostra uma problemática quando pensamos nos usos que os saberes psicológicos Pergunta realizada no Facebook em 23 de setembro de 2015 e em 11 de dezembro de 2015: “#Exgays Nesse momento estamos desenvolvendo uma pesquisa para compreender o fenômeno de produção de identidades ex-gays. Gostaria muito de abri conversas com pessoas que se autodeterminam ex-gays. Alguém pode me ajudar a ter acesso a estes interlocutores?” 10

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podem ser utilizados. Porém, não se restringindo somente a isso, há uma série de questões, como a própria vulnerabilidade das vidas dessas populações que contribuem para a produção das subjetividades “ex-gays”. Aos próximos estudos, cabe responder questionamentos como “que vidas estão em jogo quando pensamos numa produção de subjetividade “ex-gay”?”, “como escapar dos fascismos que se produzem diante desses jogos de poder?” e ”o que fazemos diante dessas produções?”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto?. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 288 p. FOUCAULT, Michel. Prefácio: O Anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia. In: FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos: IX Genealogia da ética, Subjetividade e Sexualidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014. Cap. 1. p. 7-10. FOUCAULT, Michel. A constituição histórica da doença mental. In: FOUCAULT, Michel. Doença mental e psicologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991. Cap. 1. p. 75-86. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999. 155 p. (História da sexualidade) FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1984. 302 p. FOUCAULT, Michel. Os anormais: Curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 479 p. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 263 p. GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. O sujeito e o Eu: O fenômeno edípico. In: GARCIAROZA, Luiz Alfredo. Freud e o insconsciente. 24. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Cap. 9. p. 196-229. PRADO FILHO, Kleber; TRISOTTO, Sabrina. A psicologia como disciplina da norma nos escritos de M. Foucault. Revista Aulas, Florianópolis, v. 3, n. 1, p.1-14, dez. 2006. Trimestral. ROSEIRO, Stéferson Zanoni; FIM, Matheus Magno dos Santos; RODRIGUES, Alexsandro. Além do palco e dos holofotes: Édipo, a maior de todas as bichas. Revista do Audiovisual Sala 206, Vitória, v. 4, n. 2, p.27-49, jul. 2015. Semestral. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2016.

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