Tecnologia de Informação como suporte ao ensino de graduação – Relato de uma experiência

September 2, 2017 | Autor: Joao Queiroz | Categoria: Adaptive Learning Systems, E-learning 2.0, Blended learning in higher education
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O texto a seguir foi publicado na forma de um capítulo do livro “Internet e Educação a Distância”, Salvador-Ba: Editora Edufba, 2002. O relato de experiência pioneira no ensino semipresencial em cursos de graduação da Ufba, realizado no período de 1997 a 2002, expõe práticas válidas até os dias atuais.

Tecnologia de Informação como suporte ao ensino de graduação – Relato de uma experiência João Dias de Queiroz [email protected] www.admnet.ufba.br 1. Introdução A primeira vez que usei recursos de tecnologia de informação como apoio ao ensino em curso de graduação foi no primeiro semestre de 1997. Tratava-se de uma disciplina do Departamento de Ciência da Computação - Introdução ao Processamento de Dados, oferecida para alunos dos cursos de Matemática e Engenharia da UFBA. Os recursos utilizados se limitavam a: -

uma home page, onde eram disponibilizados materiais de interesse da disciplina: plano de aula, textos, slides e links; correio eletrônico, para facilitar a comunicação dos alunos com o professor em horários extraclasse.

As vantagens logo ficaram evidentes, tanto para os alunos como para o professor. Para os alunos, além da novidade (alguns tinham orgulho de divulgar o fato com colegas de outras turmas, em casa, no trabalho), essa metodologia apresentava como vantagem a motivação, proporcionada pelos seguintes aspectos: -

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visão clara e objetiva do plano de aula, que ficava disponível em rede para eventuais consultas, respondendo a questões do tipo: quando será a aula sobre determinado assunto, em que datas serão as avaliações e entregas de trabalhos, quais serão os critérios de avaliação etc.; possibilidade de acessar material do curso (listas de exercício, apostilas, notas de aulas, etc.) pela rede, dispensando o uso de copiadoras, que frequentemente têm um atendimento precário - filas, qualidade das cópias etc.; possibilidade de não ficar totalmente alheio ao curso, em caso de doença ou viagem; acesso aos resultados das avaliações pela rede, evitando o desgaste de aguardar a publicação em murais ou outros meios tradicionais de divulgação, possibilidade de comunicação com o professor através de e-mail para tirar eventuais dúvidas.

Para mim, como professor, identifiquei uma série de vantagens: -

apesar do trabalho inicial investido no detalhamento do plano de aula, este me servia de guia ao longo do curso, funcionando como um compromisso entre o professor e os alunos em relação às atividades planejadas. Sempre que sofria

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ajustes, o plano de aula atualizado era publicado na rede. Na minha experiência em lecionar disciplinas sem a utilização desses recursos, o plano de aula era algo estático, considerado supérfluo, sendo mencionado no início do curso e, posteriormente, em raros casos era lembrado ou consultado pelos alunos; garantia de que o material usado em sala de aula poderia ser acessado pelos alunos em sua forma original (isso vale principalmente para material em formato de slides); e possibilidade de comunicação com os alunos fora do ambiente de sala de aula, num processo assíncrono, utilizando o recurso de e-mail.

Essa experiência se repetiu por mais quatro semestres. Ao longo desse tempo, os problemas referentes a velocidade da Internet e disponibilidade de acesso por parte dos alunos foram sendo minimizados. Nas turmas iniciais, o número de alunos que acessava a Internet de casa ou do trabalho estava em torno de 10 a 20%. Esse percentual chegava à faixa de 60% no segundo semestre de 1999. Atualmente essa taxa chega a mais de 80%. 2. Evolução para um ambiente de aprendizagem No primeiro semestre de 1998, foi adotada a abordagem citada anteriormente na disciplina Informática Aplicada à Administração, oferecida aos alunos do curso de Administração da Escola de Administração da UFBA. Ao perceber a necessidade de fórum de debates, que permitisse uma interação mais organizada pelos alunos na discussão de determinados temas, criei uma lista de discussão, hospedada no CPD da UFBA. Optei por adotar o modelo de lista com mediador (cada mensagem enviada para a lista precisa de uma autorização do mediador para ser distribuída). Após algum tempo de uso, percebi que essa opção era muito trabalhosa para o mediador (no caso, o professor) e não se justificava, considerando-se que uma lista aberta teria os mesmos resultados. A partir de 1999, adotei uma solução de lista de discussão do Egroups (www.egroups.com), que acabava de ser disponibilizada na Internet e que, além de ser gratuita, oferecia uma série de recursos interessantes para o propósito da experiência. Desses recursos, utilizei: pesquisa de opinião, armazenamento de arquivos e consulta a mensagens já enviadas. Ao longo desses semestres, sempre senti falta de um ambiente que integrasse todos esses recursos de tecnologia de informação. Analisei algumas soluções de softwares que possibilitassem esse ambiente, dentre elas o Webct e o Aulanet. O Webct, apesar dos ótimos recursos oferecidos, foi descartado por não possuir, naquela época, uma versão para a língua portuguesa. Seria inviável adotarmos um ambiente com menus e mensagens exibidos em língua inglesa, o que certamente causaria rejeição dos alunos ao ambiente de aprendizagem. No primeiro semestre do ano 2000, adotei a versão 1.0 do Aulanet na condução de duas turmas da disciplina Informática Aplicada à Administração. Tivemos uma série de problemas com este software: o bate-papo (chat) não funcionava, a manutenção era

difícil por falta de suporte local, o processo de inscrição dos alunos no curso era muito trabalhoso, e frequentemente apresentava problemas de funcionamento, não permitindo acesso ao ambiente da disciplina na Internet. A partir do segundo semestre de 2000, passamos a utilizar a versão 3.0 do software Learning Space, da Lotus. Adotei esse ambiente para duas turmas da disciplina Informática Aplicada à Administração. O processo de migração do ambiente Aulanet para o Learning Space foi bastante simples, pois esses ambientes são muito parecidos em termos de recursos oferecidos (programação do curso, lista de discussão, biblioteca de material para os alunos, avaliações). Com relação aos alunos, observei maior facilidade de utilização do ambiente, pelo fato de usar uma metáfora bastante intuitiva e amigável. Além disso, o funcionamento mostrava-se confiável, com um tempo de resposta satisfatório (apesar de utilizarmos como servidor um desktop com processador de 500 Mhz e memória RAM de 128 MB). Vale salientar que o recurso de software ajuda, mas por si só não garante o sucesso de um trabalho desta natureza. O desempenho do professor na condução do processo é fundamental. Seja na forma de animador do grupo, seja na assistência em tempo hábil aos alunos através da rede, para resolver problemas dos mais diversos (dificuldade para acesso ao site, esclarecimento de dúvidas com relação ao assunto da disciplina tratado na semana). Eu diria que, para o professor, o trabalho em um ambiente desta natureza é ampliado, principalmente em função da assistência individualizada através da Internet, contrariando a ideia de alguns professores que ainda não tiveram oportunidade de passar por esta experiência. Com a nova resolução do MEC (www.mec.gov.br), permitindo que 20% das disciplinas de um curso de graduação presencial possam ser oferecidas na modalidade a distância, acredito que haverá adesão de mais professores para o ensino semipresencial. 3. Ministrando uma disciplina na modalidade semipresencial Atualmente, as duas turmas da disciplina Informática Aplicada à Administração são oferecidas na forma semipresencial. A distribuição das aulas é feita de maneira que o aluno utilize 30 a 40% do tempo participando de atividades presenciais e em 60 a 70% desse tempo ele se envolve com atividades on-line. As atividades presenciais basicamente dizem respeito a: -

apresentação da proposta do curso; apresentação do plano de aula; familiarização com o ambiente on-line: inclui o uso do ambiente de aprendizagem on-line, e também algumas regras de etiqueta no processo de comunicação aluno-aluno, aluno-professor; apresentação de assuntos que ainda não estão em formato adequado para ser compreendido em ambiente on-line. Por exemplo, para o assunto "modelagem de dados", os alunos fazem a leitura do material que descreve os aspectos conceituais e, em seguida, é feita uma exposição presencial, abordando os aspectos mais práticos. Adotei essa estratégia por ser uma aula que envolve a

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passagem de experiência prática do professor. À medida que formos dispondo de tecnologias que permitam disponibilizar um vídeo com a apresentação do assunto pelo professor, certamente essa aula passará a ser não-presencial. revisões para a avaliação; avaliações envolvendo prova escrita com questões objetivas e subjetivas, e visita a um centro de processamento de dados (atividade específica da disciplina Informática Aplicada à Administração).

As atividades não-presenciais são voltadas para: -

leitura de material; execução de tarefas solicitadas pelo professor; participação na lista de discussão; esclarecimento de dúvidas por e-mail, e bate-papo (chat).

4. Estruturação das aulas no modo on-line A formatação das aulas da disciplina na modalidade on-line utiliza o padrão do Learning Space, sendo distribuída em quatro grandes blocos: programação, central de recursos, sala de aula e perfis. Esses recursos estão dispostos em home page e podem ser acessados pelos alunos que tenham identificação e senha fornecidos no início do curso, por ocasião da primeira aula presencial. A descrição desses recursos é feita a seguir. Programação Aqui o aluno tem acesso a todas as informações da programação do curso. Isso inclui: -

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carta de boas-vindas; descrição da disciplina; agenda do semestre, incluindo aulas presenciais e não-presenciais, datas de entrega de trabalhos e de avaliações; descrição de trabalhos e critérios de avaliação: ao longo do semestre, os alunos são avaliados por meio de trabalhos em grupo, prova escrita, respostas de tarefas submetidas on-line e participação na lista de discussão; equipes: os alunos definem suas equipes, no máximo, até a segunda semana do curso. Existe um limite máximo de cinco alunos por equipe. resultado de avaliações; software de apoio: o aluno pode fazer download de programas necessários para ter acesso a determinados conteúdos do Centro de Recursos (Ex.: programa Acrobat Reader, para ter acesso a arquivos de texto no formato PDF); e programação de atividades de cada semana, incluindo: o visão geral da semana; o indicação de material para leitura; o tarefas; o tópicos para discussão; e o resumo da semana.

Centro de recursos No Centro de Recursos, o aluno tem acesso ao material disponível para consulta. Esse material pode ser consultado por diversas classificações (palavra-chave, autor, etc), e pode conter arquivos Word, PowerPoint, PDF, MPG, AVI etc. Um recurso interessante neste ambiente é a anotação on-line que o aluno pode fazer, associada ao material que está sendo consultado. Essas anotações podem ser consultadas e alteradas a qualquer momento pelo aluno, sempre associadas ao contexto de um material especifico. Por segurança, cópias dos textos ficam disponíveis para o aluno na Escola de Administração, para que o mesmo possa obtê-las em formato impresso. Caso seja do interesse do aluno, ele pode imprimir arquivos de texto e slides, disponíveis no Centro de Recursos, para tornar a leitura do material menos cansativa. Sala de aula Neste espaço virtual, são visualizadas as tarefas e discussões. Tarefas Ao responder a tarefa, o aluno pode registrá-la com um dos três status: a) em andamento - permite ao aluno editar a tarefa quantas vezes ele queira; b) solicitar revisão - permite que o professor faça alguma revisão na tarefa submetida, no entanto ela continua disponível para edição. c) encerrada - quando o aluno fecha a tarefa com esse status, ela só poderá ser acessada pelo professor. Apesar de o sistema permitir que as tarefas com status "em andamento" e “solicitar revisão" só possam ser vistas pelo aluno que responde e/ou pelo professor, não utilizei essa opção. Acredito que um eventual acesso a respostas de tarefas de outros colegas também pode contribuir para o processo de aprendizagem. A tarefa pode ser respondida diretamente na tela, ou o aluno pode anexar o arquivo contendo a sua resposta. O tipo de arquivo vai depender da tarefa solicitada (Word, PowerPoint etc.). Discussão Para participar de uma discussão, o aluno tem três opções: a) iniciar uma discussão a partir de uma provocação exposta pelo professor; b) iniciar uma discussão por iniciativa própria, com relação a tema previsto na semana, e c) inserir comentários em discussões em andamento.

É preciso bastante cuidado na escolha das provocações que irão dar início às discussões, caso contrário, o aluno reage como se estivesse respondendo a uma tarefa. Perfil Neste espaço, o aluno pode pôr suas informações pessoais, e-mail e também fotografia. Para dar o exemplo, sempre coloco as minhas informações neste espaço, antes do início do curso. A consulta a dados neste ambiente tem proporcionado boas surpresas, mesmo para alunos que já se conheciam previamente. É um ótimo fator de motivação. 5. Perspectivas futuras A cada final de semestre, é feito um balanço das atividades realizadas, onde procuro identificar pontos frágeis que justificam melhorias. Alguma dessas melhorias são implementadas, porém outras dependem de fatores que fogem ao meu controle. Listo a seguir melhorias já identificadas para serem incorporadas nos trabalhos dos próximos semestres. -

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migração para a versão 4 do Learning Space, que, dentre outras, apresenta as seguintes vantagens: o incorporação do bate-papo no ambiente de aprendizagem; o a instalação do Lotus Notes, como ambiente de apoio ao Learning Space, não é requerida; criação de auto-teste on-line para cada semana de aula; incorporação de material de estudo em CD-ROM, a ser disponibilizado para os alunos a preço de custo; gravação de apresentações e aulas em vídeos, que serão disponibilizados no Centro de Recursos; bate-papo integrado ao ambiente de aprendizagem, e videoconferência.

6. Conclusões Hoje, olhando para trás, vejo que evoluímos muito ao longo desses quase sete anos, com relação à tecnologia e à metodologia adotada. As conexões de banda larga vêm ganhando cada vez mais usuários. Isso nos permite ousar com ferramentas que superem a barreira do presencial, embora acredite que a aula presencial deve sempre ser considerada em projetos de ensino on-line. O presencial é indispensável para completar o clima de participação em grupo pelos alunos. Associo o sucesso de um projeto desta natureza a alguns fatores determinantes: -

planejamento das atividades do curso nos mínimos detalhes; uso de uma ferramenta de administração, construção e acompanhamento do ambiente de aprendizagem, que seja amigável, confiável e de fácil manutenção;

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teste do ambiente de aprendizagem antes do início do curso. Isso inclui teste de acesso do aluno ao ambiente, acesso aos recursos, validade dos links etc.; familiarização dos alunos com o ambiente de aprendizagem no início do curso; atenção especial ao aluno que possa vir a ter dificuldades, utilizando os recursos de comunicação da Internet, ou até mesmo meios de comunicação convencionais (telefone, por exemplo). O importante é demonstrar para o aluno que ele está sempre contando com o apoio do professor; garantia de qualidade do material disponível para estudo. A quantidade de material para estudo também deve ser bem avaliada. Isso evita problemas de falta de motivação, resistências e até mesmo desistências; utilização de auto-testes, de forma que o aluno possa perceber o grau de aproveitamento que está tendo ao longo do tempo. Esse recurso pode eventualmente eliminar a necessidade de aulas de revisão. Acompanhamento constante, pelo professor, das tarefas e discussões elaboradas pelos alunos. Isso inclui inserção de comentários e/ou revisões.

Ao longo dessa experiência, observei mudanças no comportamento dos alunos, no sentido de tornarem-se mais responsáveis e autônomos na busca do conhecimento. Os depoimentos desses alunos, enfatizando as vantagens de se fazer um curso semipresencial, têm dado estímulo à continuidade desse projeto. Finalmente, gostaria de lembrar que experiências desse tipo servem, no mínimo, para familiarizar os alunos com um ambiente cada dia mais usual em sua vida cotidiana e no ambiente de trabalho, tornando-os mais preparados para o exercício da cidadania, no ciberespaço. 7. Referências 1. PALLOFF, Rena M.; PRATT, Keith. Building learning communites in ciberspace: effective strategies for the online classroom. San Francisco: Jossey, 1999. 2. SCHWEIZER, Heidi. Designing and teaching an on-line course: spinning your web classroom. Boston: Allyn and Bacon, 1999.

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