Telejornalismo: Marcas do Discurso Televisivo

July 24, 2017 | Autor: Rui Silva | Categoria: Ciências da Comunicação
Share Embed


Descrição do Produto

" "
" "
" "
" "
" "
"Artigo de Investigação "
" "
"Rui Alexandre Ramos Silva "
" "
" "
" "

Telejornalismo: Marcas do Discurso Televisivo








Ano Letivo 2011-12
2º Semestre

junho 2012



ÍNDICE




1. Introdução 3
2. Os media como atores sociais 5
2.1 Funções dos media 5
2.2 A responsabilidade social dos media 7
3. Definições do Discurso 9
4. Enunciação versus Enunciado 11
4.1 Sujeitos (Categoria pessoas) 12
4.2 Localização (Categoria espaço) 12
4.3 Momentos (Categoria tempo) 12
5. O quadro enunciativo do discurso mediático 13
5.1 Da construção da realidade à realidade da construção 14
5.2 A problemática da objetividade jornalística 15
5.3 Os apresentadores do telejornal 15
6. Análise de um excerto de bloco noticioso da TVI24 16
7. Considerações finais 19
BIBLIOGRAFIA 21
Anexo A – Transcrição do discurso mediático em análise 24




Resumo

A análise crítica do discurso mediático, ao colocar o enfoque na
materialidade enunciativa do discurso, não consegue dar conta dos
mecanismos de produção de sentido dos discursos mediáticos. Torna-se
necessário investigar como os dispositivos de mediatização utilizados pelos
meios de comunicação social interferem na constituição
dos quadros enunciativos dos discursos que os utilizam como suporte; as
consequências da utilização desses dispositivos como a autonomização, a
atualização, inscrição dos componentes do quadro enunciativo e até saber
como é que os dispositivos de mediatização também interferem no processo de
negociação resultante das interações discursivas, bem como no campo da
perceção sensorial do quadro enunciativo que eles autonomizam.
Os traços e as marcas da linguagem televisiva configuram uma estética
específica desse médium, que se refletem na conceção, performance e
subjetividade dos seus discursos.
Constata-se atualmente, que uma das principais formas estéticas do
discurso televisivo assenta no entretenimento (espetáculo), sendo por isso
interessante e até relevante, fazer incidir o nosso estudo sobre a
construção de sentidos dos programas que se caracterizam pela transmissão
de informação. Neste sentido, é possível questionar sobre as inter-relações
e estratégias discursivas engendradas entre a consolidação das formas
estéticas próprias da televisão e as metas dos programas informativos. O
viés teórico desse trabalho é o pós estrutural, onde as reflexões procuram
estruturar, principalmente, a comunicação e a semiótica, contando com a
colaboração precioso dos campos da sociologia e da antropologia.
Com o presente trabalho, pretende-se abordar a temática do discurso
televisivo, que historicamente tem ganho o seu espaço como um discurso de
realidade, através da análise de uma notícia da bolsa de valores
apresentada num programa de informação noticiosa (telejornal) da Televisão
Independente (TVI), de 7 de maio de 2012 – "Lisboa ganha 1% em dia de
cautela".



Palavras-chave: Media; Mediatizar; Televisão; Discurso mediático
(televisivo); Quadro enunciativo; Enunciado; Enunciação





1. Introdução
Com a globalização, o Homem passou a querer saber tudo o que se passa a
nível global. Quer todas as notícias do mundo, das mais simples às mais
complexas, contudo, chegou à conclusão que não tem, nem paciência, nem
tempo para as receber e refletir.
Os media são, em sentido estrito, os intermediários do processo de
comunicação, que permitem fazer chegar a informação às grandes massas. São
simultaneamente, causa e efeito da globalização constituindo-se para muitas
pessoas, como a única fonte de informação sobre o mundo tumultuoso que as
rodeia. As novas tecnologias, o caráter global que o sistema mediático
adquiriu e a formação mais especializada da atividade jornalística,
produziram alterações de sentido contraditório na missão de informar. Por
um lado, aumentou o número de fontes de informação e a facilidade em se
lhes aceder, ao mesmo tempo que o jornalismo deixou de ser tão descritivo,
privilegiando a análise e a especialização temática. Mas por outro lado, a
velocidade de circulação e a consequente efemeridade das notícias, vieram
dificultar a pesquisa e análise aprofundadas pelo que, muitas das notícias
hoje, têm como única fonte as grandes centrais de informação (agências de
notícias[1]). Todavia, constata-se que um dos principais problemas deste
início de século é a sobreinformação. Pode-se mesmo afirmar que o Homem
está obeso de informação e anoréxico de sentido!... As pessoas andam mal
informadas por serem incapazes de "digerir" toda a informação que
diariamente lhes é bombardeada. Para além deste problema, há ainda o facto
de grande parte dessa informação estar contaminada, sendo necessário
proceder à sua limpeza da maré negra de mentiras.
A sociedade da informação, que caminha para a sociedade do conhecimento,
tem permitido a aproximação daqueles que estão longe uns dos outros mas,
paradoxalmente, tem afastado aqueles que estão próximos, isolando-os nos
seus ecrãs de experiência virtuais ou gaiolas eletrónicas.
Neste contexto, podemos afirmar que o Homem se tornou prisioneiro de
sociedades tecnocratas e sem sentido, onde a realidade se confunde
permanentemente, com aquilo que é comunicado e onde a verdade deixou de
poder ser olhada por todos com a confiança desejável de outrora, face aos
inúmeros atores/ stakeholders plantados no palco mediático da atualidade.
Em 1917, o então senador californiano Hiram Warren Johnson, disse que «a
primeira vítima (baixa) de uma guerra é a verdade»[2]. … O que mudou hoje
afinal?
Na sociedade moderna, os meios de comunicação social propagam a
informação quase de forma instantânea e com uma elevada probabilidade de
condicionar a opinião pública, aumentando a responsabilidade de quem,
diariamente, desenvolve a sua atividade profissional na comunicação social,
assumindo dessa forma um papel estruturante na sociedade. As mensagens
transmitidas sejam em forma de notícia, ou de opinião, revestem-se de
importância fundamental na preservação dos direitos e na valorização da
cidadania.
Mediatizar consiste num neologismo que traduz a ação de transformar um
discurso para o adequar à sua difusão através dos meios de comunicação
social, ou simplesmente media.
Em lato senso mediatizar expressa a vontade de seguir medidas que
permitam a melhoria das circunstancias em que qualquer tipologia de
comunicação se processa, não apenas as que se firmam em suportes
tecnológicos, mas também aquelas que procuram otimizar a qualidade da
comunicação direta ou diferida, entre o emissor e o(s) seu(s)
destinatário(s).
Num outro sentido, a mediatização significa uma escolha, num dado
contexto e situação de comunicação, da forma mais eficaz de realizá-la.
Essa escolha passa pela seleção do meio (médium) mais adequado a essa
finalidade e, em função deste, realizar o discurso que constitui a forma de
"envolver" a temática/ assunto a comunicar.
Segundo a autora Maria Rocha-Trindade (1988: 1149), a problemática geral
da mediatização é complexa e multiforme: para um especialista, são
parâmetros significativos a dimensão e o grau de homogeneidade dos
destinatários e a sua familiaridade com a matéria abordada; a natureza da
mensagem a transmitir, em termos da dominância ou presença de elementos
numéricos, icónicos, sonoros, escritos; o seu caráter expositivo ou
argumentativo; o seu conteúdo, factual, opinativo, emocional; a duração,
desde a mensagem telegramática até ao documento de reprodução autêntica em
tempo real. Mediatizar, ou construir um discurso de comunicação, ocorre
tanto ao preparar uma comunicação escrita ou uma conferência, como ao gizar
um video-clip, como ao realizar um filme, como ao preparar uma homilia: a
cada situação de autor e de audiência, o seu ritmo, a sua duração, o seu
fio de desenvolvimento (seja ele lógico ou demagógico), o seu cenário, a
sua figuração.
No ato de mediatizar integram-se, assim, a construção do discurso, as
opções sobre o modo de veiculá-lo, a seleção do tempo e ambiente para a sua
receção; se tudo isto for conseguido, a comunicação estabelece-se, a
mensagem é transmitida e os destinatários aceitam-na e integram-na na forma
proposta e em acordo com a intenção com que foi construída.
Com a realização deste trabalho pretende-se em primeiro lugar dar a
conhecer, ainda que de forma fugaz, a moldura que enquadra o discurso
televisivo. Em segundo lugar visa proceder à análise de um trecho do
telejornal da Televisão Independente (TVI), de 7 de maio de 2012 – "Lisboa
ganha 1% em dia de cautela", onde se procuram identificar as marcas e
dispositivos de construção de sentido do discurso televisivo apresentadas
numa notícia referente a dados da bolsa de valores. Como última ambição
deste trabalho, é intenção aprofundar as reflexões sobre o discurso
jornalístico televiso que tem vindo a mudar (moldar) e a ser mudado
(moldado) ao longo dos anos.


2. Os media como atores sociais
Nas sociedades democráticas livres e abertas, os media adquiriram um
caráter que pode ser considerado ambivalente. Por um lado, apresentam-se
como meios para a afirmação e o cultivo das diferenças, no sentido da
pluralidade e da presença de um público crítico; por outro, integrados no
projeto democrático, podem tornar-se na prática, um instrumento que
contribui para esbater essas mesmas diferenças, se considerarmos que podem
levar a uma uniformização do pensamento, da opinião, da vontade, e mesmo do
sentimento dos cidadãos (Sá:5).
Seja como for, os media assumem-se como meios essenciais para a formação
de um público crítico abrangente, que se pretende bem informado e
interveniente, no sentido de poder assumir uma influência política a que um
público crítico mais restrito não poderia aspirar.

1. Funções dos media
Podemos considerar que são quatro as funções básicas que,
convencionalmente têm sido atribuídas aos meios de comunicação: informar,
divertir, persuadir e ensinar (Netto, 1972: 38).
A primeira compreende a difusão de notícias, relatos, comentários, ou
informações de outra natureza, sobre a realidade, as quais podem, ou não,
ser acompanhadas de interpretações ou explicações. A segunda função atende
à procura de distração, de evasão, entretenimento ou de divertimento por
parte do público. A terceira pretende persuadir o indivíduo, convencê-lo a
tomar uma determinada ação ou a agir num determinado sentido – adquirir um
certo produto e/ou serviço ou votar num candidato pretendido, por exemplo.
No fundo, há uma intenção de levar o indivíduo a ter um comportamento de
acordo com os desejos de um anunciante. Por fim, a quarta função, é
realizada de um modo direto ou indireto, intencional ou não, por meio de
material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar os seus
conhecimentos, planos, destrezas, etc..
Alguns analistas consideram porém, que os meios de comunicação social se
esforçam por informar, entreter e convencer. Se associarmos esta teoria à
realidade política verificamos que esta trilogia – informação/
entretenimento/ influência, está baseada no modelo central de mercado para
a economia capitalista, postulando, por um lado, "mercadorias" tais como
notícias ou passatempos e, por outro, clientes que necessitam ou desejam
essas mercadorias. Nesta perspetiva, os media acabam por ser os canais (os
intermediários em sentido estrito) através dos quais estas vantagens são
fornecidas a quem as deseja (Sorlin, 1997: 11).
Neste contexto, quais são então as atuais propostas teóricas de olhar os
media como um espaço público de informação, ou seja, qual a função que os
media desempenham nos dias de hoje?
Para os marxistas, que realçam a função ideológica dos media, estes
funcionam como um vasto "aparelho" que contribui para manter o consenso, o
ser coletivo. Já os liberais enfatizam a liberdade da escolha garantida
pela variedade dos media e a enorme concorrência/ competição que os opõe no
âmbito do paradigma de mercado. Consideram ainda que o seu papel é
fundamental na medida em que fornecem a informação necessária para que os
cidadãos possam decidir de forma esclarecida e consciente no ato eleitoral,
constituindo-se assim uma plataforma neutra de debate de ideias (Santos,
2005: 10).
Enquanto na versão liberal a função dos media deve ser o menos
interventiva possível, funcionando como plataforma neutra de informação, a
perspetiva radical democrática apela a uma intervenção social e política
dos media, ao adicionar a função de denúncia de injustiças e de
esclarecimento sobre as teias institucionais do poder, expondo-as ao debate
público, contribuindo assim para aumentar a transparência (Santos, 2005:
10).
Um aspeto significativo destas teorias, que não deixa de ser curioso, é
que elas tratam da maioria, senão da totalidade, dos leitores/ ouvintes/
telespectadores, como uma única audiência constituída por utilizadores
genéricos e substituíveis.
A diversidade de linguagens pode limitar a circulação de notícias, mas
geralmente as audiências são consideradas dentro dos limites políticos dos
diferentes Estados, constituindo, na prática, audiências nacionais que os
jornais, os programas e os canais nacionais procuram alcançar.

2. A responsabilidade social dos media
A demanda do equilíbrio entre a parte intelectual e mercantil da
atividade jornalística orientou para dois tipos de itinerário.
Por um lado, e em certas circunstâncias, o Estado, considerando tratar-se
um bem essencial aos cidadãos optou, pela disponibilização desse serviço
público à comunidade[3]. Este itinerário tem vindo a ser utilizada nalguns
países embora de forma diferenciada motivada pela desregulamentação e
liberalização do setor.
Por outro lado, foi tomando força a ideia de que o jornalismo, visto como
um bem público e como o garante da democracia, não pode ser encarado apenas
como um negócio, interiorizando uma componente particular de
responsabilidade social, embora a sua sobrevivência se submeta às leis do
mercado.
Em sociedades altamente mediatizadas, os media assumem um papel central
nos projetos educativos e de cidadania, e na própria intensidade da sua
democracia pois, para além de contribuírem para a formação da opinião
individual, contribuem também para uma opinião pública, alimentando, desta
forma, um "imaginário coletivo" (Santos, 2005: 2).
Neste contexto, os meios de comunicação social vieram exigir uma
reformulação da teoria sobre a participação democrática, subjacente ao
conceito de esfera pública, no sentido em que se torna inevitável falar de
cidadania ou acesso a direitos de cidadania sem mencionar o acesso à
informação (Santos, 2005: 7).
Um outro aspeto importante prende-se com a atribuição aos media da
responsabilidade de ajudar os cidadãos a aprender sobre o mundo, debater o
que nele se passa, e agir sobre ele, o que faz deles "educadores de
públicos " por excelência – a chamada media literacia.
Convém no entanto ter presente que, pese embora nas sociedades
contemporâneas, o acesso à informação seja encarado como sinónimo de poder,
nem sempre está disponível de forma igualitária. Esse acesso não depende
apenas dos meios disponíveis para tal, mas também da capacidade e
possibilidade em aceder a esses meios. A capacidade de interpretar,
selecionar e utilizar a informação disponível varia grandemente em
sociedades diversas e com profundas assimetrias sociais, onde diferentes
indivíduos possuem diferentes níveis culturais (Santos, 2005: 14).
Esta diversidade implica, igualmente, uma variedade na representação
social dos media, exigindo deles um sentido de responsabilidade social,
situação que pode levar-nos a colocar a seguinte questão: De que forma é
que os media encaram o seu papel de agentes educativos e a sua
responsabilidade social, considerando que detêm o poder de informar e
formar a opinião pública, constituindo frequentemente a única fonte de
informação existente, situação que acontece muitas vezes com as camadas
mais jovens?
Em resposta, e a título de exemplo, recordamos que muitos objetivos
políticos de âmbito social, poderão ser alcançados recorrendo à importância
reconhecida aos media na divulgação de certas medidas. Aspetos relacionados
com a intolerância, a integração e a participação das comunidades de
imigrantes, o reconhecimento cultural das minorias, de entre muitos outros,
podem ser veiculados, de uma forma abrangente e frutífera, por toda a
comunidade (Santos, 2005: 20).
Ainda neste âmbito, os media podem fazer parte de um processo alargado de
educação para os direitos humanos, educação intercultural, educação para a
diferença e para a tolerância, através, por exemplo, da representação do
maior número possível de grupos minoritários numa sociedade, contribuindo
para o respeito e diversidade cultural, essenciais a sociedades
multiculturais.
Os jornalistas filtram, não apenas a informação relevante, mas
simultaneamente e sobretudo dão-lhe um cariz de informação coletiva,
destinada a todos e com o intuito de induzir a um conhecimento coletivo de
determinado evento (Fidalgo, 2008). Para o autor a especificidade
epistemológica do jornalismo reside na existência da atividade enquanto
profissão, mas sobretudo no cariz social que as notícias alcançam. Talvez
por isso o papel dos jornalistas nunca tenha sido tão importante como
agora. Estes profissionais deparam-se com um conjunto de desafios
relacionados com a produção de informação, a variedade de fontes
existentes, a credibilidade ou falta dela, a necessária adaptação ao nível
da formação e a participação de diferentes públicos na produção noticiosa.
É neste contexto que os jornalistas são dotados de um conjunto de saberes
e competências que se estruturaram em torno de uma determinada relação com
a verdade, como um valor fundamental que estrutura a profissão.
Sendo o jornalismo uma profissão, como qualquer outra, exige saberes e
competências para o seu desempenho, mas também responsabilidades. Existe um
compromisso e uma responsabilidade que se lhe deve exigir: pensar no
cidadão, no recetor, quando selecione a informação, quando formule as suas
perguntas, quando decida os contextos, quando persiga assuntos de
verdadeiro interesse social, quando tenha que sujeitar-se à agenda
política. Pensar no recetor é ter a consciência de que o jornalismo é uma
atividade integradora, nas responsabilidades, direitos e deveres de uma
sociedade democrática. Isto não devia ser uma utopia, mas os sinais de
identidade do que encerra o conceito do verdadeiro jornalismo.


3. Definições do Discurso
Segundo Mouillaud (1997), a palavra discurso, deriva etimologicamente do
latim discurrere, que por sua vez vem do próprio latim currere e que
significa discorrer, atravessar, expor. É um exposto metódico, algo que
flui (noção de continuidade), uma operação mental que se processa através
de uma série de operações intermediárias e parciais (noção de
descontinuidade).
O entendimento da palavra discurso varia bastante entre os diferentes
enfoques das diversas tendências ou correntes que lidam com esta questão.
Para a corrente francesa, os discursos são produtos culturais entendidos
como textos, como formas empíricas do uso da linguagem verbal, oral ou
escrita e/ou outros sistemas semióticos no interior de práticas sociais
contextualizadas histórica e socialmente. Para a corrente estruturalista
norte-americana, o conceito de discurso oscila entre uma definição que opõe
discurso e frase, e uma definição de discurso como uso ("jogos de
palavras") da linguagem verbal em contextos determinados.
Congruente com a definição de discurso como prática social, encontramos o
autor Teun Van Dijk (1999). Para ele, o significado principal do termo
discurso é o de um evento comunicativo específico, bastante complexo, pois
envolve muitos atores sociais: quem fala, quem escreve, quem escuta, quem
lê. São atores que intervêm no ato comunicativo, numa situação específica
(tempo, lugar, circunstância), determinados por outras características do
contexto. Este ato comunicativo pode ser escrito ou oral, combinando
normalmente as duas formas. Exemplos típicos seriam a interação entre o
médico e o paciente, a escritura/leitura de uma crônica ou periódico. Para
este autor, discurso é o termo geral que se refere ao produto verbal oral
ou escrito do ato comunicativo.
Por forma a aprofundar a definição do termo discurso, recorreu-se ao
autor Focault, que supera uma abordagem basicamente linguística do
discurso, uma vez que amplia o seu campo de preocupação para além da
palavra e do texto em si, dizendo que: "Os discursos são feitos de signos.
Mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É
esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato de fala. É esse mais
que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever" (Focault, 1987:
56).
Ainda dentro do entendimento de que os discursos são produtos culturais,
pode-se citar Emile Benveniste (1974). Este autor traz para o estudo da
linguística o problema da contextualização e privilegia a relação entre a
língua e cultura como base da teoria da enunciação.
Para Benveniste, a linguagem surge como um produto da cultura, que o
homem aprende e pelo qual domina a natureza. Segundo o autor, todo o
mecanismo de cultura revela-se de caráter simbólico e, então a língua, é
definida como um sistema interpenetrante em todos os outros. Benveniste
afirma que ela dá ao homem o domínio sobre o mundo.
Segundo Mouillaud (1997), a língua não é um simples suporte para
transmissão da informação – é sim, aquele que permite construir e modificar
as relações entre interlocutores, seus enunciados e seus referentes.
Em relação ao locutor, Benveniste aclara que este, ao apropriar-se do
aparelho formal da língua, enuncia sua posição por índices específicos. Por
conseguinte, apresenta a existência de uma relação entre o locutor e o seu
enunciado e o próprio mundo, onde a posição sócio-histórica dos enunciados
ocupará um espaço fundamental. Este autor (re)incorpora aos estudos
linguísticos a questão da subjetividade. Chama a atenção para o fato de que
além de percebermos a subjetividade mascarada nos textos, temos também que
falar de outros conceitos importantes para entendermos o ato de enunciação
(Benveniste, 1974).
De entre os conceitos importantes para entendermos o ato de enunciação,
destaca-se o conceito de polifonia e de dialogismo apropriado por Bakhtin
para entender a multiplicidade de discursos presentes no discurso. Bakhtin
(1992) afirma a necessidade de considerar os enunciados como compostos de
vozes (pontos de vista, visões de mundo, tendências, etc.) que dialogam
umas com as outras e que servem para mostrar que não existe enunciado puro.
A essa interação ou confronto de vozes- explícitas ou implícitas - no
interior de um texto (conjunto coerente de signos) Bakhtin dá o nome de
polifonia.
A forma como essas "vozes" se justapõem, ou seja, a forma como elas
dialogam, este autor denomina de dialogismo. É exatamente através desta
forma de diálogo que é gerada a significação, que não é dada, mas sim
construída na interação.
A heterogeneidade de vozes da enunciação vai buscar referências noutras
falas, noutros textos, na rede infinita entre os sentidos que constituem a
linguagem.
No discurso, quando se declara algo, é sinal de que alguma coisa já foi
dita anteriormente ou que certamente virá depois, mesmo que os enunciados
apareçam soberanos em si mesmos. As frases independentes podem sê-lo em
gramática, mas certamente não na teoria pragmática do discurso
(Mouillaud,1997).
Dessa maneira, para Mouillaud (1997), quando nos referimos a discursos,
entendemos o campo pragmático da linguagem em que convivem enunciados que
podem reportar-se a diversos campos enunciativos ou a diversas condições de
produção. O discurso é o campo do espaço mediático.
Outra contribuição importante para o entendimento e análise dos discursos
é dada por Jacqueline Authier (1990), quando identifica nos enunciados
algumas formas de heterogeneidade que acusam a presença de outros
discursos. Para a autora a polifonia presente nos discursos efetiva-se em
dois planos distintos: o da heterogeneidade mostrada e o da heterogeneidade
constitutiva.
A heterogeneidade mostrada pode acontecer através de formas marcadas ou
não marcadas. É o caso do discurso direto, do discurso indireto, das aspas,
do itálico e do metadiscurso do locutor (conjunto de expressões, glosas,
retoques, comentários). Quando não é marcado, podemos citar o caso do
discurso indireto livre, da ironia, da metáfora, dos jogos de linguagem, da
imitação. Pela heterogeneidade mostrada, pode-se perceber como os discursos
constituem as suas identidades, como delimitam os seus limites e fronteiras
(Authier,1990). Por outras palavras, ela revela-nos a que vozes os
discursos necessitam recorrer para se constituir, ao mesmo tempo, em que
estabelecem uma relação entre essas vozes.
A heterogeneidade constitutiva, por sua vez, consiste na polifonia
formada pelas vozes da história e da cultura (e também, do inconsciente),
que se fazem presentes em todo universo discursivo e em relação à qual o
autor não tem controlo racional e, por vezes, nem sequer consciência.

4. Enunciação versus Enunciado
Segundo Guerra Junior (2011: 97), os termos enunciação e enunciado
traduzem conceitos remetem a conceituações circunjacentes, pelo fato de um
e outro se relacionarem com o processo comunicacional, através da
dinamização da linguagem, diferenciando-se contudo sob o ponto de vista
hierárquico.
O conceito de enunciação pode ser traduzido como o ato de produzir o
discurso, enquanto o seu produto, o próprio discurso, constituiu o
enunciado. Trata-se de um contraste entre o dizer e o dito.
De acordo com Benveniste (1974: 82) a língua através da enunciação, parte
de uma simples "possibilidade da língua" para um discurso que emana de
locutores para ouvintes, transmitindo sentidos. O autor vai ainda mais
longe referindo que toda a enunciação acontece pela ação de um sujeito
(pessoa), que pode assumir-se como sendo o "eu" num discurso, levando a
afirmar que a categoria pessoa é fundamental para que a linguagem se
transforme em discurso. Devido ao facto desse "eu" enunciar num determinado
espaço e tempo, as relações espácio-temporais de um discurso têm o sujeito
como referência.
Cervoni (1989: 23) defende a complementaridade entre as três dimensões
enunciativas – pessoas, espaço e tempo – referindo que toda a enunciação
pressupõe um locutor e um alocutário, que se encontram num determinado
espaço (lugar) e que se desenvolve num determinado momento (tempo).
Pela sua relevância, irão ser de seguida apresentadas as três categorias
da enunciação – o sujeito, o tempo e o espaço.

1. Sujeitos (Categoria pessoas)
Como foi anteriormente enfatizado, a dimensão dos sujeitos é essencial no
processo enunciativo, pelo facto de se constituírem como seus atores.
A categoria de pessoa pode ser incluída sob a forma de um: eu, tu ou ele.
A investigação levada a cabo por Fiorin (1996 cit. por Junior, 2011, p. 98)
esclarece que o eu e o tu são sempre únicos, indicando a pessoa que fala e
aquela para quem se fala, remetendo a sujeitos da enunciação. Já o ele, na
opinião do autor, pode ser uma infinidade de sujeitos, ou até nenhum
sujeito, não podendo jamais desempenhar o papel de actante da enunciação,
mantendo a sua presença apenas no enunciado.
É neste contexto que se tem a noção exata da dificuldade que consiste a
identificação dos sujeitos que "viajam" ao longo de um discurso.

2. Localização (Categoria espaço)
A dimensão de espaço é considerada por vários autores como tendo menor
importância no processo da enunciação, quando comparada com as dimensões:
sujeitos e tempo. Ao contrário das duas dimensões anteriores, que são
obrigatórias na enunciação, torna-se factível apresentar um discurso que
não incorpore qualquer referência ou indicação espacial quer referente ao
enunciador, quer a um ponto de referência no enunciado.
É através do espaço linguístico que todos os elementos são localizados,
cabendo essa responsabilidade ao enunciador, que se assesta como ponto de
referência da localização.
É um espaço em constante de transformação, renovando-se a cada ato
enunciativo sempre que um sujeito tome da palavra.

3. Momentos (Categoria tempo)
A categoria do tempo que quase não dura - o tempo da mudança, da inovação
contínua e da obsolescência acelerada de pessoas, estruturas e
conhecimentos - é amplamente sobrevalorizada na nossa modernidade tardia e
vista como prioridade absoluta para a competitividade e prosperidade
económicas. Pelo contrário, a categoria do tempo denso da duração - o tempo
da repetição, dos ciclos e da lentidão - é submetida a graus diferentes de
ocultação ou mesmo ostensiva e sistematicamente ignorada. No entanto, a
duração não deixa, em todas as épocas, de vir reclamar os seus direitos
face ao devir.
O tempo, esse elemento que tem sempre inquietado o Homem é manifestado na
linguagem através da narratividade que é a representação da atividade
humana no mundo.
Segundo Benveniste (1989 cit. por Junior, 2011, p. 99), o discurso
estabelece um agora, traduzindo-se no momento da enunciação. O teórico
refere ainda que a linguagem apresenta uma única expressão temporal tácita,
o presente, sendo traduzido pela simultaneidade do acontecimento e do
discurso. Todos os restantes tempos, passado e futuro, são explanados
apenas como referências temporais passadas ou futuras, relativamente ao
presente. A categoria tempo apresenta uma grande complexidade pois avança,
retrocede e mantém-se no presente na edificação textual.


5. O quadro enunciativo do discurso mediático
O que distingue o discurso mediático de outras formas do discurso?
Segundo o Professor Adriano Rodrigues (2011), aquilo que a análise do
discurso crítica nos media, é aquilo que as pessoas utilizam todos os dias
quando entram em contacto umas com as outras. Os dispositivos retóricos que
os media utilizam são exatamente os mesmos que um vendedor de uma loja
utiliza para convencer o cliente a comprar-lhe determinado bem, produto ou
serviço.
A manipulação, o poder e a influência não são específicos do discurso
mediático, que utiliza uma das capacidades da espécie humana, que é a de
convencer os outros daquilo que se considera ser a verdade, ser o bom e ser
o belo, as três grandes categorias do ser, segundo Platão e Aristóteles.
O que distingue então o discurso mediático? A resposta é simples e
consiste no facto de ser mediático.
Se a mediatização do discurso não tem nada a ver com aquilo que a análise
crítica do discurso analisa ou seja, os textos, então o que a caracteriza?
O que a caracteriza é o facto de utilizar um dispositivo técnico que se
embute naquilo que é o dispositivo natural da enunciação da espécie humana.
O que é importante no discurso mediático não é o texto produzido. É, tão-
somente, o facto de ser mediático, de utilizar um dispositivo técnico. Por
outro lado, cada dispositivo técnico de mediatização produz consequências
por efeitos da tematização da negociação interativa. Pode-se mesmo afirmar
que, no quadro da interação mediatizada, a negociação está pré programada
no próprio funcionamento do medium utilizado. Mesmo o funcionamento do
medium é um pré programa, que compensa a ausência ou o mau funcionamento de
muitas das componentes enunciativas que integram a interação humana.
Cada medium vai obrigar à explicitação de algumas das componentes do
quadro enunciativo. Nesse sentido, a utilização de dispositivos que exigem
a explicitação de componentes do quadro enunciativo é a característica mais
marcante do discurso mediático.

1. Da construção da realidade à realidade da construção
Os acontecimentos constituem a matéria-prima do jornalismo informativo e
podem ser percebidos como um "diamante" em bruto, ainda por lapidar, do
"mundo a interpretar". Ao serem tratados pelos media são sempre
construídos, tendo em vista o seu potencial de atualidade, socialidade e
imprevisibilidade.
A inclusão das rotinas produtivas no discurso e sua transformação em mote
da enunciação já havia sido observada por Umberto Eco (1993), a partir das
definições de paleotelevisão e neotelevisão. O autor anuncia o final de um
modelo de televisão - a paleotevisão – que procurava apresentar uma
realidade na qual o medium não se interpunha, ou seja, os fatos ocorreriam
da mesma forma e o enfoque da narrativa era o enunciado. O surgimento da
neotelevisão, segundo Umberto Eco, ocorreu com o nascimento dos canais de
televisão com assinatura mensal e com o aparecimento de novas tecnologias
que possibilitaram formas inovadoras de consumo televisivo como o controlo
remoto. Este modelo seria caracterizado, principalmente, pela
autorreferência, uma operação em que o enunciador se coloca à frente do
enunciado. Eco refere ainda que o telespectador detém o poder (através do
controlo remoto), de continuar a ver um determinado canal ou mesmo mudá-lo.
No caso de um pivô de um programa de informação, o mesmo tem necessidade de
interagir com esse poder na mão do telespectador, procurando estimulá-lo e
dizendo-lhe que "eu estou aqui, eu sou e eu sou você" (Eco, 1993: 183).
A ação de olhar para a câmara, de colocar em cena equipamentos como
microfones, câmaras, computadores e telefones, são indícios dessa prática
que contribui para uma redução das diferenças entre informação e
espetáculo.
Por outro lado constata-se que a narrativa televisiva concorre para um
deslocamento da atividade jornalística, em que a relação entre o
acontecimento e a sua enunciação tem sido marcada pelo enfoque nos
processos retóricos da enunciação como uma estratégia de legitimação na
exposição do acontecimento.

2. A problemática da objetividade jornalística
Afirmar que um discurso jornalístico é verdadeiro ou não é verdadeiro ou
se é objetivo ou subjetivo consiste num exercício que detém alguma
complexidade.
Na realidade, um discurso jornalístico pode ser objetivo sem no entanto
ser verdadeiro, pelo facto de a verdade não coincidir sempre com a noção de
objetividade. Há acontecimentos falsos que podem ser noticiados e que são
objetivos por serem objeto de perceção dos (tel)espectadores.
A não distinção desse facto pode levar à confusão por parte do
(tel)espectador no que concerne ao acontecimento narrado e ao discurso que
o narra.
Os diferentes géneros discursivos mediáticos estabelecem um contracto de
interpretação da realidade com os seus públicos ou audiências, contracto
esse marcado pelo genérico do programa e/ou pelo trabalho editorial.
Por verdade entende-se a propriedade que os enunciados têm de poderem ser
comprovados, ao passo que o conceito da objetividade é a propriedade que os
fenómenos têm de poderem ser ou não, percecionados por qualquer pessoa.
Nesse sentido, a relação estabelecida entre a verdade e a objetividade,
depende do conceito que cada um de nós atribuiu a esses dois termos.
Existem duas correntes que permitem fazer leituras completamente díspares
em relação à objetividade de um discurso: a corrente realista e a corrente
construtivista.
Para a corrente realista um enunciado pode ser verdadeiro sem contudo ser
objetivo, como são o caso dos enunciados epistémicos e dos performativos.
Para a conceção construtivista, todos os enunciados são simbolicamente
objetivos independentemente de serem verdadeiros ou falsos. Segundo esta
conceção, poder-se-á antes falar de objetivação, onde se pretende tornar os
fenómenos objeto da perceção humana.

3. Os apresentadores do telejornal
A credibilidade de um telejornal perante a audiência, é influenciada
diretamente pela confiança que os telespectadores colocam nos seus
apresentadores. Aspetos ligados à linguagem verbal e não-verbal dos
apresentadores fazem com que a sua legitimidade, credibilidade e até
aceitabilidade por parte dos telespectadores aumente ou diminua. Contudo, a
credibilidade não constitui um elemento fundamental e implícito do
telejornal. Não se espera que o telespectador acredite em algo apenas
porque foi citado no telejornal, havendo sempre no discurso televisivo de
informação, espaço para a dúvida, para o não-resolvido, a intriga e o
público está consciente disso. Um outro aspeto a ser tomado em consideração
é a presença de vários apresentadores no estúdio. A sua presença esfuma a
possibilidade do público poder fazer uma "colagem" de uma cara ao programa
fazendo com que o telejornal que apresenta mais do que um apresentador seja
conhecido mais pelas suas características do que pela cara de quem o
apresenta.
Por outro lado o apresentador apresenta hoje uma postura mais subjetiva,
opinativa e até com maior liberdade de ação em relação ao apresentador do
século XX.



Análise de um excerto de bloco noticioso da TVI24

Nesta fase do trabalho, que se pretende que seja de natureza descritiva e
exploratória, procura-se abordar a temática do discurso televisivo
noticioso, que historicamente tem ganho o seu espaço como um discurso de
realidade, através da análise de uma notícia da bolsa de valores
apresentada num programa de informação noticiosa designado "Notícias 24" da
Televisão Independente 24 (TVI24), de 7 de maio de 2012 (19H00) – "Lisboa
ganha 1% em dia de cautela".
Por ser relevante para o estudo, chama-se a atenção para o facto de
existir um genérico do bloco noticioso "Notícias 24" de onde se retirou o
trecho em análise.
A TVI24 é um canal de informação 24 horas por dia, com distribuição em
Portugal na rede de cabo e em África, para Angola, Moçambique e Cabo Verde,
que pertence ao Grupo Media Capital. O Grupo Media Capital é um dos maiores
grupos no setor de media em Portugal. Em televisão, detém o canal TVI –
canal ao qual se juntam o canal de notícias TVI24 e a TVI Internacional,
bem como o grupo de rádios a nível nacional (a MCR, onde se incluem a Rádio
Comercial, M80, CidadeFM, StarFM, SmoothFM, VodafoneFM e o site de rádio
online Cotonete), o canal em linha (online) dedicado aos negócios e
economia - Agência Financeira - e a Media Capital Digital.
Pretende-se neste estudo observar algumas regularidades do texto desse
tipo de discurso jornalístico identificando, entre outras marcas, os
elementos ou categorias da enunciação – o sujeito, o tempo e o espaço.
O genérico do "Notícias 24" funda-se na construção de um espaço
discursivo, designado por "para-texto" ou "para-discurso", que consiste num
mecanismo de criação de cenários que, quando apelativos, estimulam o
interesse das audiências. O "para-texto", caraterizado por conter nele
próprio cenários dinâmicos que inspiram um objetivo de teatralidade, firma
como que um contrato entre os vários sujeitos e o público "ausente".
O trecho analisado e transcrito em Anexo A, corresponde à "cabeça" de uma
das matérias daquela edição – a bolsa de valores - e tem duração de 04'17".

Logo no início do trecho, o cenário consiste num globo terrestre em
movimento de rotação como pano de fundo e à frente deste, em tela dividida,
por alguns segundos, aparecem as imagens da pivô Rita (P1 na transcrição) e
da jornalista Rita Leça (P2 na transcrição) da redação de economia da
Agência Financeira do Grupo Media Capital, dando lugar a um quadro de
enunciação que irá levar à interação entre sujeitos. Esta estratégia
cénica, que pretende criar a perceção no telespetador de que ambas as
jornalistas estão a dividir uma bancada virtual, produz no público um
efeito de continuidade espácio-temporal funcionando como que uma
"dobradiça" enunciativa. Pese embora aparecendo lado a lado na tela, a
comunicação estabelecida entre as duas jornalistas é mediada por microfones
de lapela e auriculares, característica principal do discurso mediático,
prolongamento do discurso de enunciação.
Ao longo do discurso o próprio cenário vai mudando de forma a sincronizar
a informação apresentada como pano de fundo e a enunciada pela jornalista
que está na redação de economia. Essa estratégia que atua essencialmente ao
nível da perceção humana, pretende objetivar o discurso e a passar uma
imagem de veracidade perante as audiências.
O discurso, apresentado anteriormente como sendo um conjunto de
enunciados que formam um macro enunciado, é amplamente marcado por uma
narrativa realizada na terceira pessoa, seguindo as recomendações dos
manuais de telejornalismo, tendo em vista o ideal da objetividade. Constata-
se que o discurso realizado na terceira pessoa produz o apagamento do
emissor no processo de enunciação, produzindo um efeito de verdade, ou um
simulacro de isenção. Assim, quer a pivô Rita, apresentadora do telejornal,
quer a jornalista Rita Leça, da redação de economia da Agência Financeira,
inscrevem-se no enunciado numa forma de texto/ discurso objetiva.
Logo no início do discurso, a apresentadora estabelece a comunicação com
a jornalista da redação através de vários mecanismos ou dispositivos de
identificação: P1: Em direto com a redação de economia, Rita Leça boa tarde
(…); P2: olá Rita muito boa tarde (…). Durante o texto existem ainda outros
apontamentos ao sujeito: P2: (…) como há pouco disseste Rita (…) e, na
parte final: P1: (…) até amanhã Rita.
Neste quadro de enunciação, ficam desde logo estabelecidos os sujeitos, o
eu e o tu em que o primeiro, papel desempenhado pela apresentadora do
telejornal e quem detém o poder de controlar todo o discurso, efetua a
transição da enunciação (passagem da palavra) para o segundo através da
colocação de uma pergunta. O tu, papel desempenhado pela jornalista na
redação, após ter respondido passa a palavra à apresentadora, colocando no
final da resposta ênfase no silêncio, levando a apresentadora a tomar da
palavra novamente. Vistos que foram o eu e o tu da categoria sujeitos,
parece-nos importante referir que neste estudo, o ele ou os eles não
desempenha(m) o papel de actante(s) da enunciação, mantendo a sua presença
apenas no enunciado. Contudo são "invocados" pelos falantes ou actantes.
Outro elemento da enunciação é a dimensão espaço que é apresentada no
discurso através de referências relativas quer ao enunciador, quer a pontos
de referência no enunciado. Apresentam-se alguns exemplos da categoria
espaço:
P1: (…) com a redação de economia (…);
P2: (…) praças europeias (…); (…) bolsa de Paris (…); (…) bolsa alemã e
a bolsa de Milão (…); (…) foi mesmo Madrid (…); (…) a praça londrina
(…); (…) bolsa de Atenas (…); (…) nos Estados Unidos (…).
Por último, e em relação à categoria tempo, constata-se que o discurso em
análise por ser em direto, estabelece um agora traduzido pela
simultaneidade do acontecimento e do discurso. Todos os outros momentos,
passado e futuro, são explanados apenas como referências temporais passadas
ou futuras, relativamente ao presente. De seguida apresentam-se alguns
exemplos textuais no que concerne à categoria tempo:
P1: Em direto (…); (…) Rita Leça boa tarde (…);
P2: Olá Rita muito boa tarde (…); (…) a sessão de hoje. A verdade é que,
como bem disseste, o arranque (…); (…) as praças europeias que abriram…
abriram no vermelho (…) no fecho da sessão (…) e fecharam (…); (…)
fecharam (…) fechou a desvalorizar (…); (…) o dia também está a ser
negativo (…); (…) está a esta hora a cair (…).
Face ao exposto, comprova-se que a narrativa do telejornalismo é
fragmentada e organizada no tempo e, por isso, só é possível "dar a ver,
uma amostra do que o jornalista viu".
Numa outra perspetiva, e no que se refere à natureza do discurso, pode-se
afirmar ser um discurso dialogal, baseado na alternância de falas entre os
interlocutores, num processo comunicacional. O termo dialogal é relativo ao
diálogo e, na própria palavra "diálogo", não será difícil perceber a noção
de embate entre logos. No que concerne aos tipos ou graus de dialogismos,
que são sempre estratégias comunicativas e, mais concretamente, ao grau do
texto analisado, verifica-se que o mesmo é apresentado em discurso
indireto, caraterizado pelo fato do narrador ser quem reproduz, com as
suas próprias palavras, aquilo que o ele ou eles teria(m) dito.
Para além da comunicação verbal, existem ainda outros mecanismos que são
utilizados pelos actantes no seu discurso como sejam o contacto visual
mantido com a câmara e, por conseguinte com o público "ausente" e toda a
comunicação não-verbal, de onde se ressalvam: as expressões faciais (rosto/
olhar); a postura e expressão corporais; os gestos; a aparência e a própria
respiração. Um aspeto interessante é a forma como o enunciador se liga ao
seu interlocutor através de um simples sorriso, do tratamento por tu e pelo
nome próprio.
Em tom de conclusão pode dizer-se que a bolsa de valores funciona mesmo
sem haver a construção de um discurso mediático contudo, o discurso permite
uma encenação e essa encenação pode-se transformar numa narrativa.


Considerações finais

O trabalho que agora finaliza tem o sabor de uma "viagem" que permitiu
desenvolver um conjunto de reflexões que podem auxiliar no esclarecimento
de algumas questões que o discurso televisivo levanta.
Os assuntos que estruturam o discurso televisivo apontam para a
singeleza na abordagem das temáticas e o não aprofundamento, procurando com
isso auxiliar os telespectadores na sua compreensão conseguindo,
simultaneamente, captar a sua atenção e estimular o seu interesse.
Segundo Maffesoli (1999: 115) os media "não se atrapalham com
preocupações teóricas ou sentimentos profundos. Em compensação, é feita da
multiplicidade dessas conversas sem consequência". O discurso televisivo é
estruturado não só por assuntos banais, mas também de forma a permitir
interações afetivas com as audiências caminhando assim, para uma nova forma
de aproximação e de "estar junto".
Nesse mesmo ambiente discursivo podem constituir-se espaços de enunciação
de apreciação sobre sujeitos, sobre o próprio campo e sobre outros campos,
podendo ir mais além através da legitimação de valores, normas, padrões,
comportamentos e ideologias.
Um aspeto interessante é o facto do medium televisão construir o seu
discurso num processo de significação gerado sobre o imaginário do
telespectador fazendo uso da subjetividade.
A utilização dessa subjetividade em recursos expressivos permite criar
uma interação com o telespectador, de uma forma tão intensa, que leva a
televisão a "atravessar" a vida e a vida a "atravessar" o medium.
A "estrada" de dupla via que caracteriza o discurso televisivo, assente
na ficção e na realidade, permite apresentar acontecimentos da vida
cotidiana e simultaneamente, ser assunto dela, assumindo-se como um
intermediário entre o telespectador e o mundo que o rodeia.
Parece ser nesse contexto que o espetáculo assume poder como elemento
marcante da linguagem televisiva, levando a crer que não haverá lugar à
informação na ausência de espetáculo, mesmo havendo o risco de se perder o
fundamental da informação.
No excerto analisado encontram-se patentes as características da
neotelevisão, percebendo-se que a presença da jornalista P2, na redação de
economia da TVI, "cola-a" a um local específico onde os factos aconteceram.
A passagem em direto da pivot do telejornal para a jornalista que se
encontra na redação de economia, funciona como um elemento de
autorreferência, permitindo a confirmação contundente de que o programa
está aqui! Essa prática releva, não só a importância do facto, como produz
ainda um efeito de presença e atualidade. Neste sentido, é preciso
considerar as especificidades de cada processo enunciativo: A jornalista P1
enquanto apresentadora do telejornal, causa mais impacto ao telespetador do
que a jornalista P2, da redação de economia, pois é ela quem detém o poder
de conduzir o palco da informação, passando a palavra à sua colega através
da colocação de questões que considera serem as mais importantes para
manter o público bem informado em relação a determinado assunto de
interesse coletivo. Pelo facto de no discurso mediático não existir
simetria na palavra, é notório o estatuto privilegiado da apresentadora em
relação à outra jornalista. Não obstante esse ponto, o discurso é sempre
uma atividade interativa e por isso feita em conjunto.
Como corolário pode-se afirmar que o discurso mediático, que serve para
diversificar os quadros enunciativos, é sempre opinativo, resultando de
escolhas mas incapaz de controlar os quadros de leitura. Por outro lado
também não é a realidade, sendo apenas uma construção simbólica da mesma. O
discurso mediático é demarcador e o problema não é saber se é verdadeiro ou
falso, mas sim o que cada um pretende dizer, de forma a fazer sentido
naquele quadro enunciativo.
O discurso mediático para além de ser ficcional e complicar os quadros de
enunciação, utiliza vários dispositivos/ mecanismos, possuindo a capacidade
de "convidar" a ser ouvido.
No âmbito das especificidades do discurso televisivo, a utilização dos
canais visual e auditivo, carateriza o medium, estabelecendo-se um contrato
discursivo com o espetador.
De forma a permitir a reflexão sobre a objetividade e a verdade dos
discursos mediáticos, tem de se ter em consideração que existem várias
modalidades de discurso. No material em estudo foram identificados
enunciados ontológicos por estarem próximos da objetividade, podendo ser
observados e até comprovados.
Por último e ao contrário do discurso institucional que é esotérico
(pouco compreensível pelo comum dos mortais) e as regras de interpretação
são reservadas, o discurso mediático tem a sua audiência-alvo e deve ser
percetível por todos (universal). É por isso exotérico, destinado a um
qualquer interlocutor, mas um interlocutor "ausente" por não ser visto.
Essa ausência faz assumir a semelhança entre o discurso mediático e o
literário, constituindo-se como uma esplêndida temática que poderá vir a
ser investigada de futuro.

























BIBLIOGRAFIA


1. Livros Impressos

Bakhtin, M, 1992. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec

Benveniste, E, 1966. Problémes de linuistique générale. Paris: Gallimard,
Vol Nº 1

Benveniste, E, 1974. Problémes de linuistique générale. Paris: Gallimard,
Vol Nº 2

Calhoun, C, 1999. Habermas and the Public Sphere. MIT

Cervoni, J, 1989. A enunciação. São Paulo: Ática

Dijk, T V, 1999. Ideologia - Una Aproximación Multidisciplinaria.
Barcelona: Gedisa Editorial.

Eco, U, 1993. Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira

Esteves, J P, 2008. Comunicação e Identidades Sociais. Lisboa: Livros
Horizonte

Fontcuberta, M, 2002. A notícia: pistas para compreender o mundo. Lisboa:
Editorial Notícias

Focault, M, 1987. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense
Universitária

Gillmor, D, 2005. Nós os Media. Lisboa: Editorial Presença

Habermas, J., 1976. Reconstruction of Historical Materialism. Cambridge:
[s.n.]

Habermas, J, 1984. The Theory of Communicative Action (Vol I). [s.l..]:
Beacon Press

Habermas, J, 1989. The Structural Transformation of the Public Sphere.
Cambridge: MIT Press (Originally published in 1962)

Held D et al, 2000. Global Transformations. [s.l.]: Stanford University
Press

Held D & McGrew A, 2002. Globalization/ Anti-Globalization. UK: Polity

Maffesoli, M, 1999. No fundo das aparências. Petrópolis: Vozes

Marcondes, F C, 1994. Televisão. São Paulo: Scipione

McLuhan, M & Fiore, Q, 1967. The Medium is the Message. New York: Random
House

Mouilland, M & Porto, S D (ORG.), 1997. O Jornal: da forma ao sentido.
Traduzido por Sérgio Grossi Porto. Brasília: Paralelo 15

Netto, S P, 1972. Comunicação de Massa. São Paulo: Biblioteca Pioneira
Editora

Porcher, L, (s. d.). O Caminho da Ditadura dos Media?. Lisboa: Editorial
Inquérito, Lda.

Ramonet, I, 1997. A Tirania da Comunicação. Porto: Campo das Letras

Sorlin, P, 1997. Mass Media. Oeiras: Celta Editora

2. Artigos Impressos

Authier, J, 1990. Heterogeneidade(s) Enunciativa(s). Cadernos de Estudos
Linguísticos, vol. 19, pp. 1-79

Fidalgo, J, 2004. Jornalistas: um perfil socioprofissional em mudança.
Comunicação e Sociedade, vol. 5, pp. 63-74 (Instituto de Ciências Sociais -
Universidade do Minho). Porto: Campo das Letras

Hilgert, J G, 2007. Língua falada e enunciação. Calidoscópio, Unisinos,
vol. 5, Nº 2, pp. 69-76

Junior, A L G, 2011. A construção da cena enunciativa: um exame da
debreagem na publicidade. Estudos Semióticos, vol. 7, Nº 1, pp. 97-105. São
Paulo

Margato, D, 2003. Vertigem da emoção e da caça à notícia. Jornal de
Notícias, 24 de novembro

3. Informação retirada de Portal/ Página Web

Grupo Media Capital, 2012. Televisão. [em linha] Disponível em:
http://www.mediacapital.pt/p/478/televis%C3%A3o/, [Consult.12 Jun. 2012]

Priberam, 2011. Dicionário Priberam da língua portuguesa. [Em linha]
Lisboa: PRIBERAM. Disponível em: http://www.priberam.pt, [Consult.22 Mai.
2012]

Rocha-Trindade, M B, 1988. Mediatização do discurso científico. [em linha]
Disponível em:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223032626Z1lJK6yw2Pp57ZF8.pdf,
[Consult.06 Jun. 2012]

Rodrigues, A D, 2011. Considerações preliminares sobre o quadro enunciativo
do discurso mediático. [em linha] Disponível em:
http://www.fcsh.unl.pt/dcc/medialab/?multimedia=consideracoes-preliminares-
sobre-o-quadro-enunciativo-do-discurso-mediatico, [Consult.12 Jun. 2012]

Sá, A, (s.d.). Media, Mass Media, Novos Media e a Crise da Cidadania. [em
linha] Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/sa-alexandre-media-crise-
cidadania1.html#SECTION00001000000000000000, [Consult.12 Jun. 2012]

Santos, H, 2005. A Responsabilidade Social e Educativa dos Mass Media. [em
linha] Disponível em:
http://www.ces.uc.pt/myces/UserFiles/livros/497_2006_11_os_media_e_educacao.
pdf, [Consult.12 Mai. 2012]

Tvi, 2012. Trecho do telejornal da TVI24 - "notícias 24 (das 19H00)". [Em
linha] Disponível em: http://www.tvi.iol.pt/videos/13623376, [Consult.12
Mai. 2012]

Wikipédia, 2012. Enciclopédia Livre. [Em linha] Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal,
[Consult.11 Mai. 2012]

Youtube, 2012. Genérico do telejornal "notícias 24". [em linha] Disponível
em: http://www.youtube.com/watch?v=z5XOHpDLoQQ, [Consult.12 Mai. 2012]









Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.











Anexo A – Transcrição do discurso mediático em análise



Cenário: Aparecem as duas jornalistas em janelas lado a lado, com a
identificação por baixo "notícias 24" e Agência Financeira",
respetivamente.

P1: (cenário apresenta os dois sujeitos)
Em direto com a redação de economia, Rita Leça boa tarde, depois deste
início de sessão negativo como é que fecharam as principais bolsas na
Europa?

P2: (sorriso) Olá Rita muito boa tarde, a desconfiança em relação ao futuro
da Europa e cautela depois destes resultado eleitorais tanto em França
como na Grécia, foram os dois sentimentos que marcaram a sessão de hoje.
A verdade é que, como bem disseste, o arranque foi negativo, aqui os
investidores muito atentos a tentar perceber como vai ser agora a
relação entre a chanceler alemã Angela Merkel e o novo presidente
francês François Hollande, a verdade é que a própria Merkel como há
pouco disseste Rita, disse que vai receber Hollande de braços abertos,
mas também já deixou o aviso que não vai mudar de rumo em relação à
Europa ou seja, o caminho vai continuar a ser de austeridade. Ora todas
as praças europeias que abriram… abriram no vermelho, a verdade é que o
sentimento acabou por ficar misto no fecho da sessão, isto porque
algumas bolsas conseguiram inverter a tendência e fecharam mesmo em
terreno positivo. Ora, prova disso mesmo é o caso da bolsa de Paris,
ganhou mais de um e meio por cento. (mudança de cenário - aparecimento
de informação com o nome "Paris" e uma seta de subida com o valor 1,65%)
a bolsa aqui de Paris a beneficiar das garantias da Standard & Poor`s,
que já disse que não vai baixar o rating da França depois destas
eleições. Também a bolsa alemã e a bolsa de Milão (cenário muda para
apresentar a bolsa de Madrid que fechou em alta com o valor de 2,77%)
fecharam do lado dos ganhos mas foi mesmo Madrid quem liderou as
subidas, ganhou dois vírgula setenta e sete por cento. Já do lado oposto
temos a praça londrina, recuou cerca de dois por cento (cenário
apresenta agora o fecho negativo da bolsa de Londres) e a liderar as
quedas ficou mesmo a bolsa de Atenas (cenário apresenta valores
negativos (-7,96%) do fecho da bolsa de Atenas), depois como vimos nesta
última peça ter estado a cair cerca de dez por cento, fechou a
desvalorizar cerca de oito por cento, aqui então uma queda muito
acentuada.
Já nos Estados Unidos o dia também está a ser negativo (cenário
apresenta valores negativos do NASDAQ (-0,10%)), aqui então um espelho
das preocupações dos investidores norte americanos em relação à Europa,
os investidores consideram que ainda há profundos obstáculos (hum…) que
a Europa terá de enfrentar e dizem mesmo que estas eleições (está a
ler), tanto na França como na Grécia demonstram que as pessoas estão a
ficar cansadas de tanta austeridade. Ora são sentimentos que preocupam
os investidores (hmmm…) norte americanos, prova disso mesmo é que o
índice tecnológico NASDAQ (cenário apresenta valores negativos do fecho
do Dow Jones (-0,26%)) está a esta hora a cair zero vírgula dez por
cento e o Dow Jones recua já zero vírgula vinte e seis por cento.

Cenário: Muda para o formato inicial com as duas jornalistas em janelas
lado a lado.

P1: Rita e neste misto de subidas e descidas como é que encerrou a praça de
Lisboa?

P2: Bom a verdade é que a bolsa de Lisboa conseguiu fechar do lado dos
ganhos, subiu praticamente um por cento, muito aqui à boleia das ações
do BCP (cenário apresenta valores positivos do PSI 20 (+ 0.95%)). O BCP
hoje liderou a tabela dos ganhos, disparou praticamente sete por cento
em bolsa (cenário apresenta valores positivos do BCP (+6,8%)), cada ação
do BCP custa agora onze cêntimos. Ora hoje o BCP apresenta os seus
resultados do primeiro trimestre, mesmo assim os analistas não estão
muito animadores, consideram (está a ler) que os lucros deverão ter
caído sessenta e oito por cento nos primeiros meses do ano face ao ano
passado. Já ainda a dar força à bolsa de Lisboa ficou o setor das
telecomunicações, a ZON ganhou mais de dois por cento (cenário apresenta
valores positivos da ZON (+2,37%)), a Portugal Telecom também acompanhou
a tendência, valorizou praticamente dois por cento (cenário apresenta
valores positivos da PT (+1,82%)) e a Sonaecom ganhou zero vírgula
oitenta e dois por cento. Também na energia o dia foi positivo, temos a
EDP a ganhar praticamente um por cento (cenário apresenta valores
positivos da EDP (+0,87%)) e a Galp energia a subir meio por cento
(cenário apresenta valores positivos da GALP (+0,49%)). A Galp aqui
então a contrariar a tendência dos preços do petróleo nos mercados
internacionais, hoje estão a cair cerca de um por cento dos preços do
petróleo. Recordo, estão a cair acerca de quatro sessões consecutivas.
Ora o barril de brent, que serve de referência para Portugal, está agora
nos cento e doze dólares, isto quer dizer que são valores mínimos desde
janeiro (está a ler). Ainda do lado dos ganhos, destaque para a Jerónimo
Martins que subiu cerca de meio por cento (cenário apresenta valores
positivos da J. Martins (+0,46%)). Já pela negativa destaque para o
resto do setor financeiro, temos então o BPI a cair zero vírgula vinte e
cinco por cento (cenário apresenta valores negativos do BPI (-0,25%)), o
BES acompanhou a tendência, perdeu zero vírgula trinta e dois por cento
(cenário apresenta valores negativos do BES (-0,32%)) e o Espírito Santo
Financial Group aqui então a holding que detém o BES, a afundar mais de
dois por cento e a liderar a tabela das quedas (cenário apresenta
valores negativos do ESFGS (-2,42%)) … (sorriso e silêncio preparando a
passagem da palavra a P1).

Cenário: Aparecem de novo as duas jornalistas em janelas lado a alado, com
a identificação por baixo "notícias 24" e Agência Financeira",
respetivamente.

P1: Principais destaques dos mercados bolsistas nesta primeira segunda-
feira depois das eleições na Europa…até amanhã Rita. (sorriso)

P2: Até amanhã. (sorriso)



Legenda:

__ Categoria Sujeito
__ Categoria tempo
__ Categoria espaço

Genérico do telejornal "notícias 24" disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=z5XOHpDLoQQ

Trecho analisado do telejornal da TVI24 - "notícias 24 (das 19H00)"
disponível em: http://www.tvi.iol.pt/videos/13623376


-----------------------
[1] Atualmente, as maiores agências de notícias internacionais são a
Associated Press (EUA), a United Press International (EUA), a Reuters
(Reino Unido) e a Agence France Presse (França).
[2] Referindo-se à entrada dos Estados Unidos da América na I Grande Guerra
Mundial (1914-1918).
[3] Foi assim que nasceu o serviço público de rádio e televisão (i.e. a BBC
na Grã-Bretanha, em 1926), com a intenção de proporcionar aos cidadãos a
informação, a educação e o entretenimento, sem se confinar de forma
exclusiva à lógica do mercado e à pressão da "guerra" de audiências.

-----------------------

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Seminário o Campo e o Discurso dos Media
Professor Doutor Adriano Duarte Rodrigues




-----------------------
17

1
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.