Temas e Problemas Atuais em Comunicação - Introdução_Monografia

May 31, 2017 | Autor: Marina Neto | Categoria: Cultura e Tecnologia, Cibercultura, Hacktivismo
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FACULDADE CÁSPER LÍBERO







Temas e Problemas Atuais em Comunicação
Profa. Dra. Roberta Brandalise





Marina Nossa Neto









A Máquina de ódio da Internet:
As operações do Anonymous como impacto do hacktivismo contemporâneo e a consciência política ativista na Era da Informação















São Paulo
2016
INTRODUÇÃO

O laço primordial deste trabalho será estudar a perspectiva de ação direta e indireta nas diversas operações orquestradas pelo coletivo de hackers, o Anonymous, na busca pela defesa da liberdade de expressão e transparência na Internet e por causas políticas e sociais na rede. Buscarei intensificar o debate em torno da cultura hacker e as operações online contra jurisdições governamentais que ameaçam a privacidade, transparência e liberdade de informação na Internet. A abordagem a ser feita incluirá um delineamento histórico sobre a ascensão do hacktivismo e da microinformática, ligados à luta pelo poder descentralizado da informação na Era da Informação.
Este trabalho irá centrar no contexto do coletivo hacktivista Anonymous, como uma abordagem subversiva das operações estratégicas e ideias polarizadas pela cultura hacker, não só incorporadas no espaço virtual mas também na política e no espaço público. A pergunta ou o problema que envolve este trabalho é: A que ponto as ações do coletivo Anonymous interferem nas práticas governamentais de conduzir censuras à liberdades básicas na Internet que possam refletir nos aspectos da sociedade civil?
Inicialmente, serão explorados os movimentos que ocorreram pelo mundo desde 2011 – Primavera Árabe e ações de contra-ataque à favor ao WikiLeaks, a Operação PayBack -, até operações recentes como os conflitos controversos contra ações de terrorismo do Estado Islâmico (#OpISIS), expondo o percurso de como estão ligados uns aos outros e prescritos dentro da cultura digital e da própria ética hacker. Consequentemente, a análise será concentrada na importância das atividades de hacking como um ato político e de resistência ativista tecnocrática.
Serão elaborados dois propósitos. Primeiro, estabelecer um cenário intrínseco do hacktivismo por meio de suas características práticas que se propagaram desde o prelúdio das ações de ativismo online, quando em Janeiro de 2008, o grupo Anonymous vivenciou seu primeiro conflito contra a Igreja da Cientologia. Suas características são limitadas desde as ações de trolling a coletivismo. Portanto, é correto afirmar que essas operações seguem um padrão contínuo conforme eventos políticos ou movimentos sociais globais são disseminados por várias partes do mundo, resistindo nas afiliações político-partidárias para que não influenciem nos princípios do coletivo Anonymous.
Em segundo lugar, será possível destacar as qualidades das operações mediadas pelo hacktivismo e explorar três questões indispensáveis sobre a participação política do ativismo digital na Era da Informação: 1) Nos últimos meses, o hacktivismo consolidado pelo Anonymous gerou uma onda de precipitações e articulações impertinentes às ações de hacking exposta pela mídia tradicional (como por exemplo, a #OpISIS), consequentemente introduzindo dúvidas para o âmbito da opinião pública sobre as operações de ativismo na Internet e seus reais objetivos; 2) Explorar quais são os valores tecnológicos da meritocracia e a crença dos hackers sobre seus princípios de liberdade e transparência de informação na Internet; 3) Examinar a importância das operações bem sucedidas do coletivo Anonymous e a análise do crescimento do movimento após cada ação projetada.
A pesquisa será composta por um conjunto de informações diretamente coletadas de membros antigos e atuais do Anonymous que possuem histórico de participação em operações significativas para a reputação do movimento hacktivista. Contudo, esses relatos incluem também o amadurecimento da ideia por trás do grupo Anonymous, que eventualmente tem sofrido uma série de descontentamentos pela mídia diante da publicidade e veiculação de informações nocivas para a legitimidade do grupo Anonymous.
É importante ressaltar a pesquisa em torno da emergência coletiva da questão política e ideológica no movimento Anonymous no decorrer das operações, diante da criação de conceitos e técnicas da cultura hacker inseridos no conflito do mundo da microinformática contra a performance governamental na tentativa de ajustar as políticas digitais conforme interesses corporativos.
Outro elemento importante neste estudo é a efetiva ação do hacktivismo de evasão política: o hacktivismo tem a capacidade de dissimular mecanismos de repressão os quais frequentemente permitem aos Estados governamentais na aplicação de políticas restritas às liberdades básicas na Internet. Também são fundamentais as características incorporadas com a natureza digital do movimento hacktivista, como o desenvolvimento de softwares para impulsionar o anonimato no espaço virtual. Por exemplo, o software de navegador Tor.
Para o processo de metodologia de pesquisa, será feito um percurso por meio de infográficos estatísticos e entrevistas com membros do grupo Anonymous, visando expor as dimensões culturais, contemporâneas, sociais e políticas do movimento hacker e os seus efeitos para o ciberespaço ao contextualizarmos a internet como um espaço público e livre. A pesquisa será composta por discursos acadêmicos que buscam compreender a cibercultura e as definições da cultura hacker consolidadas na sociedade dos meios de comunicação em massa, principalmente das novas tecnologias de informação. Entre os pesquisadores acadêmicos, estão André Lemos, Pierre Lévy, Steven Levy, Parmy Olson, Manuel Castells, Alexandra Samuel, Alexander Galloway e Pekka Himanen.
A partir da ideia do hacking como forma colaborativa de ativismo digital, esta pesquisa reunirá convicções e expressões do campo da antropologia quanto ao perfil virtual do hacktivismo para explorar o debate das ações instrumentalizadas pelo Anonymous, com a base de estudo das autoras Gabriella Coleman e Molly Sauter.
Está inserido também neste trabalho, um conjunto de ideias com base no entendimento socioantropológico desenvolvido por Gabriella Coleman (2012) e Molly Sauter (2013), sobre as perspectivas que podem ser notadas a partir do ativismo do grupo Anonymous, sendo uma delas é que os movimentos ciberativistas irão eventualmente julgar as ações de indivíduos, corporações e governos ao organizar ações que possam beneficiar a web como um todo. Entende-se por esse ponto que os inúmeros hackers e geeks da tecnologia espalhados pelo mundo entendem como a Internet funciona, ou um grupo menor consegue alterar routers e protocolos, e um maior número se reunirá se a internet e os valores a ela associados estiverem em perigo.
A dimensão do estudo desta pesquisa irá beneficiar relações problemáticas que envolvem a credibilidade da ações realizadas pelo movimento de hacktivismo Anonymous e como interferem no espaço virtual. Isso não quer dizer que todo ativista ou expert da tecnologia habitualmente aprova as ações deste grupo de hackativistas. No entanto, é certo afirmar que uma minoria dos ativistas da Internet não se aliam às suas táticas controversas, tais como DDoS; alguns hackers questionam a razão de um ataque DDoS como uma espécie de
censura. Há também muitas maneiras diferentes para defender a internet, de acordo com Steven Levy (2013),
como desenvolver um software de código aberto ou se associar ao Partido Pirata. "O grupo Anonymous é uma inteligência coletiva alternativa nesse cenário político diverso e emergente", cita Levy.
"As ações coordenadas por pequenos grupos com a bandeira ativista do Anonymous, tais como as ações aclamadas pelo LulzSec, mostraram
que, embora o Anonymous tenha ganho respeito
pelas persistentes lutas em prol à liberdade de expressão e privacidade na web, o movimento é notório também por sua abordagem irreverente e controversa" (Coleman, 2012). Durante o acontecimento de uma operação, diferentes participantes podem
implantar três modos - táticas legais e ilegais. Como por exemplo, a 'Operação
Bart', em agosto de 2011, quando o coletivo Anonymous removeu do ar o site-satélite da empresa de telefonia celular BART (Bay Area Rapid Transit), em resposta à censura de sinal dos celulares dos manifestantes na região de São Francisco.
É importante destacar a noção da meritocracia influenciada no coletivo ativista do Anonymous, que segundo Pierre Lévy (2015), é uma potência simbólica que favorece o desenvolvimento do laço social pelo aprendizado e pela troca de saber. Tendo em vista a atitude de resistência política e social no movimento, o Anonymous começou a se concentrar na cooperação de manifestações de rua, através de redes sociais convencionais (Twitter e Facebook), IRC (Internet Relay Chat) e fóruns diversos pela web, considerado um ponto consistente para o desenvolviento dessa pesquisa que são os reflexos da ética hacker para o ambiente da tecnologia de informação e atividades ligadas ao ativismo político na rede.
O movimento incentivado pelo Anonymous, por conseguinte, fornece uma rara contramedida em atos, palavras e símbolos contra um mundo que incentiva as pessoas a revelarem a vida pessoal, onde as informações são armazenados permanentemente em índices de busca e
bases de dados do governo, sendo um momento em que a capacidade dos governos de vigiar os cidadãos tem crescido exponencialmente graças ao baixo custo de acesso à Internet e da arte onipresente das novas tecnologias e inovações de softwares livres especialmente para anonimato e privacidade de dados.
Na visão antropológica, o estudo da cultura hacker elaborado por Gabriella Coleman (2014) considera que uma parte da história da computação gráfica, o movimento do Anonymous e suas operações trouxeram uma inovação minuciosa reinventada pela revolução ciberativista para as ruas, a partir da utilização constante de ferramentas de tecnologia, ainda que o conceito esteja emancipado às ações ideológicas e políticas, usando o hacking como forma de expandir os conceitos básicos do ativismo para o espaço virtual e urbano. Ainda assim, David de Ugarte (2008) afirma que os movimentos do hacktivismo estão paralelos às noções práticas da cultura da internet e participação do cidadão comum em movimentos de resistência por liberdades civis digitais:


A importância e a amplitude de todos esses movimentos, que têm consequências não só locais, mas também modificam os equilíbrios internacionais entre potências, mudando o mapa do mundo, não podem ser ignoradas. (...) Trata-se de um movimento global no qual, países com contextos diferentes, com identidades culturais e religiosas de todo tipo, desenvolvem movimentos cidadãos em rede, que convertem objetivamente a cidadania em fiscalizadora dos processos democráticos, denunciando fraudes eleitorais, corrupções e excessos autoritários dos governantes. (Ugarte, p. 51, 2008).

Alexander Galloway (2004) em 'Protocol', enfatiza a importância da busca de protocolos alternativos de resistência cibernética e hacking social para expressar a permanência da Internet como uma tecnologia independente na expansão de conhecimentos e processo de culturalização. Ao interagir sobre Michel Foucault, Galloway considera que as sociedades soberanas, caracterizadas por buscar pelo poder centralizado, o conceito de controle existe ainda como uma resolução subversiva às práticas de resistência na sociedade civil, observado pela violência e outros fatores de coalisão democrática. Ao considerar o movimento hacktivista um marco na história da microinformática, André Lemos (2013) afirma a consolidação da cultura hacker como método de resistência contraceptiva na repressão de liberdades civis da Internet ao associar os hackers como fenômenos precursores da cultura cyberpunk e como elementos vitais na sociedade da informação globalizada.
A ideia básica, portanto, não é recusar mas dispor da tecnologia para combater, em pequenas guerrilhas, as discrepâncias do sistema global. O Anonymous, como coletivo ativista em questão, carrega diferenciações políticas e culturais pelo mundo que refletem na homogenização de ações orquestradas a partir da inteligência coletiva, abastecendo a ética do movimento Anonymous na evolução de operações cada vez mais sucedidas em divulgar o ideal do Anoymous pela rede e pela sociedade da Informação.


Referências

CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

COLEMAN, Gabriella. Hacker, Hoaxer, Whistleblower, Spy: The many faces of Anonymous. Ed. Verso. New York, 2014.

GALLOWAY, Alexander. Protocol: How control exists after decentralization. Ed. MIT Press. Cambridge, 2004.

HIMANEN, Pekka. The Hacker Ethic and the Spirit of the Information Age. Ed. Random House Trade Paperbacks. New York, 2001.

LEMOS, André. Cibercultura: Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 6. ed. Porto Alegre: Editora Sulina, 2013.

LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 10. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015.

LEVY, Steven. Os Heróis da Revolução. Editora Évora. São Paulo, 2010.

MACHADO, Murilo Bansi. Anonymous Brasil: poder e resistência na sociedade de controle. Ed. EDUFBA, 2013.

OLSON, Parmy. Nós Somos Anonymous. Editora Novo Século. São Paulo, 2014.



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