Tematização, Cultura e Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa: estudo sobre os restaurantes da rota turística de Natal/RN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

IGOR CÉSAR BARBOSA DANTAS

TEMATIZAÇÃO, CULTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: ESTUDO SOBRE OS RESTAURANTES DA ROTA TURÍSTICA DE NATAL/RN

NATAL/RN JUNHO DE 2015

IGOR CÉSAR BARBOSA DANTAS

TEMATIZAÇÃO, CULTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: ESTUDO SOBRE OS RESTAURANTES DA ROTA TURÍSTICA DE NATAL/RN

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz

Natal - RN 2015

IGOR CÉSAR BARBOSA DANTAS

TEMATIZAÇÃO, CULTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: ESTUDO SOBRE OS RESTAURANTES DA ROTA TURÍSTICA DE NATAL/RN

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Gestão de Políticas Públicas. . Aprovada em 14 de Junho de 2015.

BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. Doutor Fernando Manuel Rocha da Cruz Orientador ________________________________________ Prof. Doutora Soraia Maria do Socorro Carlos Vidal Examinador Interno ________________________________________ Msc. Valéria de Fátima Chaves Araújo Examinador Externo

DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS Dedico esta monografia, primeiramente a Deus que sempre está ao meu lado orientando e iluminando todos os meus caminhos. Aos meus pais Miguel Hipólito Dantas Filho e Maria da Conceição Barbosa Avelino, que me proporcionaram com muito sacrifício bons estudos para que eu pudesse alcançar o tão sonhado diploma de nível superior numa Universidade Federal. A minha esposa Janaina Silva da Costa Dantas que sempre apoia e incentiva meus estudos, assim como meus irmãos Davisson Rodrigo e Tássia Tuany que estão sempre presentes quando preciso. A toda minha família que acredita no meu potencial. Aos meus amigos Davi de Assis, Zélio Cunha, Jair Junior, Mikael Victor, Apolliane Rosselline e Rebecca Ruanda que me auxiliaram em muito para que eu conseguisse concluir meu curso. Ao meu orientador Professor Doutor Fernando Cruz que muito colaborou para o meu amadurecimento acadêmico na conclusão desta monografia. Aos meus chefes, Celestino Miranda e Unelby Klermon que tiveram paciência sempre que precisei sair mais cedo do trabalho para me dedicar a Universidade.

RESUMO

A economia criativa trata da interface entre criatividade, cultura, economia e tecnologia em um mundo dominado por imagens, sons, textos e símbolos. Podemos dizer que ela compreende os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos. A Economia criativa integra os setores da gastronomia, arquitetura, publicidade, design, artes, artesanato, moda, cinema, vídeo, televisão, editoração, publicação, artes cênicas, rádio, música. Esta monografia possibilitará um estudo e uma reflexão sobre a economia criativa e a relação dos setores criativos e culturais com a cultura local/global presente na tematização nos principais restaurantes da rota turística de Natal. A metodologia adotada é qualitativa, tendose centrado na revisão de literatura sobre o tema da Economia Criativa e na aplicação de entrevistas semiestruturadas com representantes de restaurantes locais, com o objetivo de obter dados qualitativos. Com esta pesquisa conclui-se que por mais que Natal seja um município com profissionais criativos em sua estrutura econômica, a capital não possui Políticas Públicas concretas de fomento à economia criativa. É fundamental que haja programas que valorizem a cultura potiguar e nordestina e impulsionem os restaurantes a investir na tematização. Apenas assim, se poderá desenvolver e promover os setores culturais e criativos da cidade e da região.

PALAVRAS-CHAVES: Tematização.

Economia Criativa,

Políticas

Públicas,

Setores

Criativos,

ABSTRACT The creative economy is the interface between creativity, culture, economy and technology in a world dominated by images, sounds, text and symbols. We can say that it understand the creation cycles, production and distribution of goods and services that use creativity and intellectual capital as primary inputs. The creative economy includes the sectors of gastronomy, architecture, advertising, design, arts, crafts, fashion, film, video, television, publishing, performing arts, radio, music. This monograph will enable a study and reflection on the creative economy and the relationship of the creative and cultural sectors with the local/global cultura, present in the theming in the main restaurants of the tourist route of Natal. The methodology is qualitative, and focused on literature review on the topic of Creative Economy and application of semistructured interviews with representatives of local restaurants, in order to obtain qualitative data. This research is concluded that while Natal is a municipality with creative professionals in its economic structure, the capital does not have concrete Public Policies fostering the creative economy. It is vital to have programs that value RN and northeastern culture and boost restaurants to invest in thematization. Just so, if you can develop and promote the cultural and creative sectors of the city and the region.

KEYWORDS: Creative Economy, Creative Industries, Public Policy, Thematization.

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização dos restaurantes selecionados para as entrevistas...............16 Figura 2 - A Economia Criativa como mais abrangente que a Economia da Cultura18 Figura 3 - A economia criativa brasileira e seus princípios norteadores....................23 Figura 4 - Tematização do Tábua de Carne...............................................................27 Figura 5 - Tematização do Matulão............................................................................28 Figura 6 - Tematização do Camarões........................................................................29

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Fluxo turístico Global Mensal de Natal 2006 – 2012...............................12 Quadro 2 - Escopo dos setores criativos Ministério da cultura (2011).......................24

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PIB

Produto Interno Bruto

SETURN

Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal

RN

Rio Grande do Norte

EC

Economia Criativa

P.

Página

SEC

Secretaria da Economia Criativa

UNCTAD

United Nations Conference on Trade and Development

NESTA

Fundo Nacional para a Ciência, Tecnologia e Artes do Reino Unido

MinC

Ministério da Cultura

PB

Paraíba

SEBRAE

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

FUNCART

Fundação Capitania das Artes

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS .................................................................. 04 RESUMO ................................................................................................................. 05 ABSTRACT .............................................................................................................. 06 LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ 07 LISTA DE QUADROS .............................................................................................. 08 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................... 09 SUMÁRIO ..................................................................................................................10 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 2. COMO DEFINIR A ECONOMIA E O ÉTHOS CRIATIVO .................................... 17 2.1- Economia Criativa .................................................................................. 17 2.2- Segmentos da Indústria Criativa no Brasil ............................................. 22 2.3- Éthos Criativo ......................................................................................... 25 3. TEMATIZAÇÃO E CULTURA DOS RESTAURANTES........................................ 26 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 32 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 34 6. APÊNDICE ........................................................................................................... 36

1. INTRODUÇÃO As cidades no que tangem a parte estrutural e simbólica podem ser consideradas criativas quando de fato o são em todos os aspectos, principalmente em sua gestão (LANDRY, 2011). No caso de Natal/RN é possível notar um ambiente favorável ao desenvolvimento da gestão criativa, pois a cidade é destino de turistas, possui uma rica descendência cultural, e foi um dos lugares de grande importância para a história da formação do Brasil. Segundo o IBGE (Censo 2010), Natal possui uma população estimada para 2014 de 862.044 mil habitantes, e um PIB de R$16.256,53 reais. Quanto à economia, mantém 348.891 pessoas trabalhando (não contando os trabalhos informais). Se situa no litoral do estado do Rio Grande do Norte, com vegetação predominante da caatinga, e mata atlântica. Por esse motivo, é alvo turístico de olhares nacionais e internacionais, onde recebem constantes propagandas do Morro do Careca (um dos principais pontos turísticos do município), o conhecido turismo de “Sol e Mar” (cf. Quadro 1). A cidade possui vários atrativos, belezas naturais, hotéis e restaurantes sofisticados. Visando a obtenção de lucro, os empreendedores usam a criatividade para renovar ambientes e tematizar seus espaços, de modo a atrair cada vez mais clientes.

11

QUADRO 1: Fluxo turístico Global Mensal de Natal 2006 – 2012 ANOS MESES

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

JANEIRO

154.508

165.211

168.622

178.911

201.023

208.457

199.450

FEVEREIRO

108.912

113.817

117.308

122.985

131.647

131.950

137.110

MARÇO

122.940

112.985

116.851

123.692

136.873

143.792

136.701

ABRIL

107.450

102.985

104.546

114.689

119.839

125.099

122.970

MAIO

89.048

87.720

87.713

95.368

104.876

109.575

111.144

JUNHO

87.010

85.907

85.779

88.499

101.870

103.595

106.334

JULHO

113.976

113.926

122.179

126.665

143.540

143.916

146.506

AGOSTO

104.107

96.547

99.846

100.924

111.591

112.591

115.642

SETEMBRO

105.826

100.576

102.767

104.474

123.954

121.432

129.983

OUTUBRO

117.613

119.199

123.252

139.176

153.012

152.630

161.924

NOVEMBRO

128.190

126.396

129.809

136.651

151.250

150.109

158.850

DEZEMBRO

133.653

126.334

138.479

143.703

170.627

171.707

174.485

TOTAL

1.373.233

1.351.127

1391.151

1.475.737

1.650.102

1.674.853

1.701.099

Fonte: SETURN/RN – 2013

Como faz parte das estruturas e características da EC, para que uma cidade possa ser criativa ela precisa ter propriedades simbólicas afirmadas, espaços culturais, economia desenvolvida, respeito pela sua cultura, respostas inovadoras para seus problemas, sempre procurando a melhor e mais viável forma de gestão. Para Landry (2011) é necessária uma gestão criativa na saúde, na educação, e inovações sociais. Uma gestão escolar que não incentiva a cultura, a música, a arte, não faz com que os alunos pensem e reflitam suas próprias condições. Como a EC vai além da Economia da Cultura, ela se baseia em conhecimento, no uso de novas ideias para conseguir mais lucro, e uma escola criativa colabora para o desenvolvimento da sociedade local. (CRUZ, 2014b) Seixas e Costa (2011, p. 70) discutem em sua pesquisa que as cidades criativas fogem das práticas rotineiras de gestão e das necessidades comuns. Possuindo, assim, três vertentes: a primeira seria o desenvolvimento de ferramentas para ambientes urbanos, a segunda seriam atividades e setores criativos, e por fim, 12

a terceira seria a necessidade de sustentar e atrair atividades com base no conhecimento e inovação. Nessa terceira vertente nota-se a relação com a preocupação de Landry (2011) em se ter uma “educação criativa” e cultural. Estes autores também discutem a caracterização da Economia Criativa nas cidades, as quais devem ter total ou parcialmente: “diversidade de atividades comerciais e de serviços; boa comunicação com um centro urbano de qualidade; oferta cultural e de ócio; proximidade de centros universitários e de pesquisa; espaço público animado e seguro com densidade de usos

diversificados;

diversidade

social

e

habitação;

acessibilidade, flexibilidade morfológica; gestão flexível e partilhada com os atores sociais” (BORJA, 2009 apud CRUZ, 2014a, p. 31).

Em termos metodológicos, procurou-se explorar o tema a partir da seguinte pergunta: que setores da Economia Criativa se destacam nos principais restaurantes da rota turística de Natal/RN? Desse modo, definimos como objetivo geral: compreender como as políticas públicas de desenvolvimento da economia criativa podem contribuir para o crescimento do setor gastronômico de natal possibilitando dinamizamismo e a cultura da identidade local e regional. Como objetivos específicos definiram-se os seguintes: compreender as principais diretrizes, políticas e conceitos relativos à Economia Criativa; conhecer a tematização dos principais Restaurantes de Natal e os setores criativos envolvidos; e, estabelecer uma tipologia das tematizações dos principais restaurantes de Natal. De fato, a metodologia é qualitativa, tendo-se recorrido sobretudo à técnica de pesquisa a partir das entrevistas. A pesquisa qualitativa não se preocupa com a representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista (GOLDENBERG, 1997, p. 34). Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas, nem 13

se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens. Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é, por isso, imprevisível. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991, p. 58). A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em estudos de Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa dominante, tem alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia e a Educação. A pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, p. 14). As principais características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências. Entretanto, o pesquisador deve estar atento para alguns limites e riscos da pesquisa qualitativa, tais como: excessiva confiança no investigado como instrumento de coleta de dados; risco de que a reflexão exaustiva acerca das notas de campo possa representar uma tentativa de dar conta da totalidade do objeto estudado, além de controlar a influência do observador sobre o objeto de estudo; falta de detalhes sobre os processos através dos quais as conclusões foram alcançadas; falta de observância de aspectos diferentes sob enfoques diferentes; certeza do próprio pesquisador com relação a seus dados; sensação de dominar profundamente seu

14

objeto de estudo; envolvimento do pesquisador na situação pesquisada, ou com os sujeitos pesquisados (CERVO, 2002). Neste Trabalho de Conclusão de Curso partimos da pesquisa bibliográfica, a partir de materiais publicados em livros, artigos, dissertações e teses, constituindo parte da pesquisa descritiva do documento. Em seguida, aprimorei a discussão adicionando informações pertinentes com uma pesquisa exploratória: a qual, não requer a formulação de hipóteses para serem testadas, mas se restringe à definição dos objetivos e conteúdos pragmáticos do tema em questão. A realização da pesquisa foi feita com o recorte territorial em Natal, especificamente em um dos pontos do corredor turístico, neste caso os restaurantes. A pesquisa foi realizada com a aplicação de entrevistas semiestruturadas. Como pontos fortes (vantagens) da entrevista como técnica de recolha de dados: boa para medir atitudes e outros conteúdos de interesse que poderiam passar despercebida técnicas de recolha de dados mais abstratas e menos personalizadas; permite a exploração e a colocação de questões adicionais complementares (para clarificação ou confirmação), por parte de quem entrevista; pode fornecer informação aprofundada e de pormenor; pode fornecer informação sobre os significados internos e maneiras de pensar dos inquiridos; a entrevista utilizando questões do tipo fechado e de resposta direta, permite a obtenção de informação exata necessária ao investigador; a entrevista por telefone e por e-mail é particularmente adequada quando o prazo disponível impõe grandes restrições de tempo; fiabilidade e validade moderadamente elevadas para guiãos de entrevista bem construídos e testados; pode ser utilizada em amostras probabilísticas; normalmente obtém elevadas taxas de adesão, em termos de respondentes; útil em exploração (abordagem

indutiva)

ou

confirmação

(abordagem

dedutiva)

(JOHNSON;

CHRISTENSEN, 2013). Os pontos fracos ou vulnerabilidades (desvantagens) da entrevista como técnica de recolha de dados são, por seu lado: a entrevista presencial tem maiores custos financeiros e maior dispêndio de tempo associado; efeitos reativos, já que os entrevistados podem acabar por revelar apenas aquilo que é socialmente desejável/correto; podem ocorrer enviesamentos provocados por quem investiga, como, por exemplo, os decorrentes de entrevistadores com pouca aptidão para 15

entrevistar;

os

entrevistados

podem

não

se

recordar

de

informação

importante/relevante e evidenciar falta de auto percepção; a percepção da garantia do anonimato da entrevista, por parte dos entrevistados, pode ser baixa; a análise dos dados pode ser demorada, particularmente naqueles relativos a questões de resposta aberta; a medição exige validação (JOHNSON; CHRISTENSEN, 2013). O presente trabalho se subdividiu em três partes. Na primeira procurou-se apresentar um levantamento teórico a respeito do conceito de Economia criativa e sobre o Ethos Criativo, e sobre quais setores são considerados criativos no Brasil, a partir do Plano da Secretaria da Economia Criativa. Na segunda, foram apresentados dados qualitativos a partir das entrevistas feitas com os restaurantes Matulão, Camarões, Tábua de Carne e com um representante do Ministério da Cultura de Natal. Na terceira e última parte foi feito a relação dos conceitos da economia criativa com a situação atual dos restaurantes que fazem parte da rota turística de Natal com a cultura local/global a partir da sua tematização FIGURA 1: Localização dos restaurantes selecionados para as entrevistas

Fonte: Adaptado Google Maps

16

2. COMO DEFINIR A ECONOMIA CRIATIVA E O ETHOS CRIATIVO A seção irá abordar os conceitos de Economia Criativa fazendo uma discussão sobre o seu surgimento e sobre o desenvolvimento do tema no brasil. Também irá explorar os segmentos delimitados pelo Plano da Secretaria da Economia Criativa e identificar as influências do plano para a elaboração de Políticas Públicas no setor. Outro ponto importante que será discorrido é sobre a definição do éthos criativo e sua colaboração para a expansão da classe criativa.

2.1 Economia criativa A economia criativa (EC) é bastante falada e pouco explorada em sua teoria e prática. Pela facilidade em compreender o novo e renovar o velho, a mesma refere-se à inovação e ao talento em consolidar outras identidades, a criação de objetos que vão além da dimensão pragmática sem alterar o sentido da linguagem, tornando-se mais inusitada. Mas, o que é economia criativa? Trata-se de mais um item do capitalismo que possibilita as relações de troca no mercado produtivo? Essas são perguntas frequentes referentes à temática. “As crises sociais, econômicas, ambientais e culturais que vivemos são expressões

concretas

de

que

o

modelo

moderno

de

desenvolvimento,

fundamentado na acumulação da riqueza e do crescimento do Produto Interno Bruto, está em franca decadência”, citou Cláudia Leitão (2012) - Secretária da SEC (Secretaria da Economia Criativa) - em sua fala introdutória no plano elaborado pelo Ministério da Cultura. O uso da criatividade para solucionar problemas emergentes da sociedade moderna, criar novos produtos que prezem o meio ambiente, música, arte, games, novas formas de entretenimento, tematização de espaços, turismo, exploração da cultura, ou seja, todas essas são formas de conseguir mais lucro aos empreendedores. (BRASIL, 2012). A comunicação do valor cultural é difundida pelas grandes indústrias culturais, nas quais constituem o corpo deste “novo” modelo econômico, tão antigo quanto a humanidade. A economia criativa sucedeu-se através das clássicas 17

tradições do trabalho e das mais diversas áreas, expandindo-se através da tecnologia digital, da movimentação dos símbolos e da comunicação visual. As misturas dos valores econômicos e culturais demarcam a sua diferença dos demais setores econômicos, por ter um valor expressivo estabelecido ao lugar de criação e que delimita cada produto. Hutton (2011, apud NEWBIGIN, 2010, p. 14) refere: “As ideias com valor expressivo (...) geram novos pontos de vista, prazeres, experiências; constroem conhecimentos, estimulam as emoções e enriquecem nossas vidas”. A complexidade do termo economia criativa, está na relação citada no inicio da redação, trata-se de envolver tudo que é inovador, cultural e criativo. Porém, nem toda inovação é considerada economia criativa e nem tudo que é criativo está relacionado com a cultura. De fato, é simplificada no talento e valorização do potencial humano, os verdadeiros infiltrados da economia criativa. Somos nós – seres humanos - que estamos em todo lugar, nos grandes centros comerciais e indústrias de diversos segmentos. O Plano da SEC caracterizou os setores da Economia Criativa como mais amplos que o da Economia da Cultura, ela englobaria tanto os segmentos culturais, como os gerados atualmente, o ramo de vídeo games, por exemplo, ou até mesmo a arquitetura contemporânea. (BRASIL, 2012)

FIGURA 2: A Economia Criativa como mais abrangente que a Economia da Cultura

Fonte: Adaptado (BRASIL,2012)

18

O conceito de Indústria Criativa teve início em 1990 na Austrália com a proposta do projeto “Nação Criativa” como forma de valorização da cultura e seu viés econômico. A UNCTAD definiu o setor criativo como um dos mais dinâmicos da economia mundial, onde os padrões de consumo antes padronizados, agora possuem novas formas e características, e valores simbólicos. E é essa uma das principais características da Economia Criativa, a competição no meio simbólico, ou seja, a valorização econômica do trabalho imaterial, em que são formadas redes sociais de interação, troca, e circulação de serviços. (BENDASSOLI, 2007) Inglehart (1999) definiu dois tipos de sociedade: a sociedade materialista que possui necessidades básicas de consumo e bem-estar; e a sociedade pósmaterialista que não se contenta mais com o básico, mas procura algo a mais, se preocupa com a estética, com a produção intelectual, entre outros. A EC também é citada por outros autores como a economia da informação, pois lida com a inovação, com os novos meios de comunicação, a relação dessa sociedade pós-materialista com a própria internet, que hoje é um dos – se não o principal – meios de comunicação mais utilizados. Diante dessas circunstâncias, é possível notar uma produção de relações sociais que envolvem uma revalorização da criatividade e da cultura onde há um desprendimento da visão de salário por salário, e do consumo em padrão reproduzido pelo modelo fordista. (BENDASSOLI, 2007) A UNCTAD definiu Economia da Cultura como aquelas indústrias ou setores que “combinam a criação, produção e comercialização de conteúdo que são naturalmente intangíveis e culturais. Esses conteúdos são tipicamente protegidos por direitos autorais e podem ter a forma de bens ou serviços” (UNCTAD, 2010, p. 5). E a Economia Criativa, como as atividades compreendidas nos “ciclos de criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como insumo primário” (UNCTAD, 2010, p. 8). A partir dessas definições, e de outras similares, a SEC define os setores criativos como a ampliação dos setores culturais, onde seriam eles mais abrangentes em sua definição e divisão de setores. (BRASIL, 2012). Cruz (2014b, p. 3) propõe, no entanto, que a Economia Criativa (EC) seja definida como “atividades econômicas que têm como objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou 19

serviço prestado”, para salientar a importância econômica da arte e da cultura, em detrimento do elemento criativo. Então, a EC atende à profissionalização de atividades culturais e artísticas que ainda se encontram “escondidas” na informalidade. Dessa forma, são excluídas da definição de EC aquelas cujas atividades não têm intuito de lucro. A EC ainda está em processo de construção conceitual por ser um tema recente, principalmente no Brasil, mas vale ressaltar que ela se sobrepõe à Economia da Cultura. (CRUZ, 2014a). Pessoas com liberdade de pensamento e entusiasmadas por inovação estão em todo lugar, e essas interpretações de ideias interagem na impulsão de cultura e criação junto a uma produção inicial (custo inicial do produto) adicionado ao valor simbólico. A sintonia com a cultura está neste valor simbólico adicionado à fabricação dos produtos, ou seja, os processos antigos de transformação da matéria prima, segundo Florida (2003, p.9) “A ascensão da classe criativa, o seu papel em transformar o trabalho manual, o lazer e o cotidiano da comunidade”. Mas, esta ascensão não é tão recente. Teve início desde a criação das oficinas e manufaturas na idade média, expandiram-se então nas diversas áreas de produção, como ideais de valores mais expressivos, que estimulam o engenho humano em produzir: artes, sons, linguagens, etc., através de produtos que valorizam a potencialidade pessoal. As indústrias criativas - ou setores criativos -, resistem em não se manter igualitárias com os demais ramos do setor econômico. Isso ocorre por meio da valorização de produção, troca e função de cada produto. Mediante estas atitudes seus ativistas não se sentem funcionários de indústrias, mas criadores e empreendedores de novas expressões de um campo de conhecimento e informação, onde o valor simbólico perpassa o material. (NEWBIGIN, 2010, p.14). No entanto, o mercado também resiste à definição da Economia Criativa e a sua diferenciação conceitual para os demais setores ao afirmar que tudo é economia, e o que é criativo está presente em cada um de nós. De fato, há uma lógica para esse tipo de pensamento, porém essa abordagem atravessa a materialização da moeda e afeta a simbologia das coisas. Sendo assim, as indústrias criativas e seus funcionários vão além do espaço físico e o resultado (lucro), mas o processo de produção, o que é atribuído aos produtos, o movimento da economia depende da mente humana, da criatividade. 20

O Relatório da UNCTAD de 2008, Creative Economy Report., estimou que o comércio mundial de bens e serviços cresceu a uma taxa média anual de 8,7% entre 2000 e 2005, e comentou que “esta tendência positiva ocorreu em todas as regiões e grupos de países.” (…) Mediante este crescimento o setor criativo

também

tem

se

tornado

principal

atração

de

qualificação para os jovens, um estudo atual do Reino Unido revelou que de 30% desta população tem interesse em cursar universidade nesta área, embora apenas 11% consiga fazê-la. (NEWBIGIN, 2010, p. 14-17).

Seja pela resistência conservadora no campo acadêmico ou pouca apreciação/conhecimento no tema. O relatório do Fundo Nacional para a Ciência, Tecnologia e Artes do Reino Unido (NESTA) chamado: Beyond the creative industries: Mapping the creative economy in the United Kingdom, conclui que existem três grandes tipos diferentes de empregos no setor: artistas, profissionais ou criativos que trabalham em indústrias criativas, pessoal de apoio naquelas indústrias (gerentes, administrativos, secretários, contadores e etc.)

e

os

criativos

embutidos

em

‘outras

indústrias’.

(NEWBIGIN, 2010, p.14).

A interpretação idealista favorece a qualidade de vida, a partir dos serviços criativos que vão além das necessidades básicas. A compressão do espaço e tempo, em transpor inovação e possibilitar pluralidade cultural integram os produtos criativos. Independente de suas definições ou medições, as indústrias e a economia criativa são fundamentais para o desenvolvimento e integração dos países na economia mundial. Dentre esta mistura de valores simbólicos e materiais, a criatividade é a essência da competitividade dos produtos, a uma escala de ranking.

21

A genialidade na promoção do design é uma grande gestão de marketing1: “É por isso que a faísca que leva ao sucesso econômico tem que surgir antes da cadeia de valor, no ato criativo de imaginar e projetar o produto ou serviço”.

(NEWBIGIN,

2010, p.18). A exploração do conhecimento e a valorização do potencial humano, talento e concretização das ideias vale muito mais que a mão-de-obra, pois se trata da arte idealista, do pensar sobre o mundo e o que com ele interage. A ecologia criativa2 engloba negócios que se originam no novo e inusitado, não apenas no sentido pragmático das coisas, mas em sua simbologia e transferência de cultura, gerando fontes alternativas de comércio. (NEWBIGIN, 2010, p.17). Em suma a economia criativa é algo novo em seu conceito, porém não desnecessária para o mercado. O uso da criatividade e da cultura vem desde o momento em que o homem arquiteta como suprir suas carências.

Portanto, a

criação nada mais é que o pensar sem limites, e é esta liberdade que precisa entrar no mercado segundo Howkins (2012).

2.2 Segmentos da Indústria Criativa no Brasil A SEC elaborou um plano de desenvolvimento abordando políticas, diretrizes e ações direcionadas para a Economia Criativa. Esse tema está sendo debatido há pouco tempo no Brasil visto que o plano da SEC foi publicado em 2012. E como foi descrito no plano, foram priorizadas várias discussões para delimitar os segmentos na Economia Criativa brasileira, e se era o bastante limitá-lo à exploração da propriedade intelectual como gerador de valor econômico. De fato, essa seria a característica principal, mas não a única. Além disso, outras características foram inclusas para o desenvolvimento do Plano no país, que no caso são a diversidade cultural, a inclusão social, e a sustentabilidade. (BRASIL, 2012)

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São as práticas de administrar o processo de planejar e executar concepção, preço, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam objetivos individuais e organizacionais. 2

A ecologia criativa pode ser entendida como o florescimento de ideias. É, em suma, o contexto social no qual as ideias são concebidas pelas pessoas, se assemelhando a ecologia ao passo em que essa tem como princípio o relacionamento entre organismos.

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Desta forma, foi definido que a Economia Criativa Brasileira somente seria desenvolvida de modo consistente e adequado à realidade nacional se incorporasse na sua conceituação a compreensão da importância da diversidade cultural do país, a percepção da sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional, a inovação como vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões de vanguarda e, por último, a inclusão produtiva como base de uma economia cooperativa e solidária. (BRASIL, 2012, p. 33)

Considerada sustentável pelo fato de que os recursos naturais estão diminuindo por causa do consumo desenfreado do capitalismo; inovador porque está diretamente ligado à criatividade e a partir da inovação serão sempre encontrados novos e melhores meios para atingir objetivos comuns; inclusão social através da inclusão produtiva da população no uso dos seus respectivos dons, visto que o Brasil ainda é socialmente e economicamente desigual; e por fim, o aproveitamento da diversidade cultural, tendo em vista que o Brasil é ricamente plural quanto à cultura. (BRASIL, 2012)

FIGURA 3: A economia criativa brasileira e seus princípios norteadores

ECONOMIA CRIATIVA BRASILEIRA

INCLUSÃO SOCIAL

DIVERSIDADE CULTURAL

INOVAÇÃO

SUSTENTABILIDADE

Fonte: Adaptado (BRASIL, 2012).

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A partir dessas premissas a SEC delimitou os segmentos criativos que mais se enquadravam com o MinC (Ministério da Cultura) e com o país. São eles: patrimônio e manifestações tradicionais, artes e artes performáticas, mídias e audiovisual, criações funcionais, serviços criativos e novas mídias. Ver tabela 2.

QUADRO 2: Escopo dos setores criativos Ministério da cultura (2011) CATEGORIAS CULTURAIS

SETORES Patrimônio material Patrimônio imaterial

No campo do patrimônio

Arquivos Museus Artesanato Culturas populares Culturas indígenas

No campo das expressões naturais

Culturas Afro-brasileiras Artes visuais Arte digital Dança Música

No campo das artes de espetáculo

Circo Teatro

No campo do audiovisual/ do Livro, da Leitura

Cinema e vídeo

e da Literatura

Publicações e mídias impressas Moda

No campo das criações culturais e funcionais

Design Arquitetura

Fonte: Adaptado (BRASIL, 2012)

A partir desses segmentos é objetivo do MinC desenvolver o país economicamente, ampliar os estudos na área, desenvolver políticas públicas de 24

fomento à economia criativa e direcionar os “empreendedores” através da criação de marcos legais, dentre outras ações.

3.3 Éthos Criativo O Éthos3 criativo é o conjunto de práticas trabalhistas e econômicas que ao longo do tempo foram sendo aperfeiçoadas para caracterizar mais um parâmetro da economia criativa. Estabelecido a partir de uma linha de tempo que permeia tudo que ocupa a vida do homem, em especial suas formas de trabalhar. Como Florida cita (2011): “O Éthos criativo é o espirito ou a natureza fundamental de uma cultura, aquilo que passa ou ecoa em seu valor simbólico”. A ascensão da economia criativa exigiu dinamismo econômico e valorização do potencial humano em estabelecer novas categorias de produtos. De fato, a economia criativa não se limita apenas à tecnologia ou a novos modelos de negócio. Através de costumes, valores e práticas de uma determinada comunidade a EC define a identidade de um produto através da expressão artística, cultural e simbólica. Então se encontra a problemática da economia criativa. Compreender “que toda economia criativa é inovação, mas nem toda inovação é economia criativa”. A necessidade de estabelecer o equilíbrio entre criativo e organizativo permeou por longos períodos o sistema capitalista. No entanto, esta tensão crônica da gestão de trabalho está galgando um amadurecimento com a implantação de um sistema econômico criativo. Sua mudança se apresenta de forma lenta, mas seus ensaios estão aí na proliferação de startups nascidas de ideias de descontração e um ambiente despadronizado para uma empresa. O dinamismo dos negócios econômicos deve acontecer na coletividade das ideias e na criatividade sem limites. As verdadeiras “cabeças inconformadas” modelam o mercado e trazem a inovação, prática, facilidade entre outros aspectos que integram a mobilidade dos produtos e seu entusiasmo. Como acrescenta Florida:

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Éthos que vem do grego, quer dizer costume ou hábito. O mesmo que etos refere-se ao conjunto de costumes e práticas de um povo em determinada época ou região. Conjunto de caraterísticas de valores de um determinado grupo ou movimento.

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“O Vale do Silício e outros centros da economia criativa em expansão, atraem e reúnem talentos. Sua principal função econômica é proporcionar uma fonte local de talentos a que as empresas podem recorrer, e de onde novas ideias e empresas podem surgir”. (FLORIDA, 2011, p. 30)

A rigor, a economia criativa, embora extensa em seu contexto histórico e mudança, envolve o poder da síntese. De fato, o trabalhador criativo é subversivo, ele altera sua organização em prol de um rendimento melhor, sem limitar suas ideias para não ultrapassar os padrões organizativos. O trabalhador econômico apresenta o que a natureza lhe oferece. Este novo padrão de trabalho (o homem criativo) é a capacidade inerente das habilidades triviais humanas, ou seja, o poder de observação, fala, audição e outros sentidos. Ele veio para revolucionar os aspectos restringidos da vida humana. Portanto, a compreensão do Éthos criativo é complementar à definição de economia criativa, pois se trata de interpretação e composição de seus espaços de exploração e suas problemáticas. O entendimento das motivações intrínsecas como resultado para criatividade econômica e a explicação para suas ações nos startups.

3. TEMATIZAÇÃO E CULTURA DOS RESTAURANTES A seção irá apresentar os perfis dos restaurantes selecionados para a entrevista, apresentando o resultado dos dados obtidos e a análise das respostas recolhidas, tendo em vista a influência da Economia Criativa no setor gastronômico de Natal.

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FIGURA 4: Tematização do Tábua de Carne

Fonte: Tábua de Carne (2015)

O restaurante Tábua de Carne foi inaugurado primeiramente em João Pessoa/PB em 1990, e logo depois no município de Natal/RN em 1992. É um dos restaurantes mais antigos e visitados por turistas e moradores que procuram gastronomia regional. Sua unidade na Roberto Freire e na via costeira tem uma temática bastante interessante e um ambiente bastante confortável e agradável. Recriando um ambiente tropical com a presença de palmeiras e com elementos nordestinos como o uso do telhado de palha para cobrir o ambiente, além da presença de mesas de madeira. Foi notada a instalação de brinquedos para crianças, e dois tipos de ambiente o natural e o climatizado. Tratando-se da gastronomia está presente o rodízio de carnes e as comidas típicas nordestinas, além de pratos internacionais como o Sushi, ou seja, existe uma riqueza de variedades como mostra as fotos acima. É interessante lembrar a exposição de doces típicos da região nordeste, algo diferencial entre os restaurantes da região.

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FIGURA 5: Tematização do Matulão

Fonte: Matulão (2015)

O restaurante Matulão foi inaugurado em 17 de Dezembro de 2005. Pode-se considerá-lo como um restaurante novo em relação aos tradicionais existentes na rota turística da cidade, entretanto, sua estrutura revela um cenário ideal para quem quer almoçar conhecendo as raízes do nordeste, pois seu espaço interno que simula uma casa tipicamente sertaneja, com quadros, jarros, bonecos em barro, mesas em madeira e um teto mesclado com telha de um material parecido com palha nos faz parecer estar no interior do Estado. Seu ambiente é climatizado e conta com um leque de comidas tipicamente nordestinas, sendo o queijo de coalho e a carne de sol com macaxeira seu cargo chefe nos pedidos de seus clientes.

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FIGURA 6: Tematização do Camarões

Fonte: Camarões (2015)

O restaurante Camarões inaugurado em 15 de Março de 1989, atualmente é conhecido internacionalmente por sua estrutura e sua gastronomia, além de seu excelente atendimento, onde os funcionários viram seus amigos de infância. A principal marca do local são seus pratos, satisfazem qualquer paladar e são, na sua maioria, generosos. Embora leve o nome de "Camarões", existem excelentes opções de pratos com carne, peixes e até mesmo saladas. O ambiente é bastante agradável, com vista para o cartão postal de Ponta Negra, e decoração com um design moderno com uma arquitetura sem referência expressa à cultura local com a presença de quadros, cadeiras e mesas mais sofisticadas, assim como o teto ter em alguns lugares uma cobertura em madeira. A relação dos restaurantes com o turismo em Natal, é justificada pela localização, pelas indicações prévias de guias turísticos, e somente o representante do Tábua de Carne citou a culinária típica nordestina. É importante destacar que nas

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entrevistas, o turista representa grande parte da demanda. A população local também é atraída pelo ambiente tematizado dos restaurantes, objeto da pesquisa. “Lógico que temos uma clientela muito fiel aqui na cidade, em que a gente pode dizer que quem segura a casa na realidade é o público local”. (Ricardo de Macedo, gerente do Tábua de Carne).

A temática dos ambientes foi descrita como rústica, ou até mesmo Rústica Contemporânea. A intenção é representar a cultura nordestina através do espaço e dos alimentos oferecidos, no caso, um ambiente sertanejo regional. Nas decorações foram selecionados arquitetos (que também se enquadram nos Setores Criativos) tanto de Natal como de outros estados, como por exemplo, no Tábua de Carne, em que o arquiteto reside em João Pessoa/PB.

Quanto às manifestações culturais

realizadas no espaço foram citadas músicas nordestinas, música ao vivo, a própria comida fornecida, o ambiente, e no Camarões o recebimento de uma orquestra. “São utilizados quadros e fotografias de artistas locais em nossas paredes, e eventualmente são feitas apresentações com uma orquestra de música da cidade de Acari/RN, tocando na espera do Camarões da Roberto Freire” (Gabriel Medeiros, gerente do Camarões).

Quanto à contribuição da tematização para obtenção de lucro, o Matulão e o Tabua de Carne compartilharam da mesma opinião: ambos concordaram que seriam pontos primordiais e de significativo valor; “aquele restaurante que consegue oferecer algo mais tem seu destaque” (Ricardo de Macedo, gerente do Tábua de Carne). Já o Camarões reconheceu a importância do ambiente para “aguçar o desejo do cliente”, porém o ponto primordial seria a qualidade da comida e do serviço. Dos três restaurantes entrevistados, só um se preocupa em capacitar os funcionários com cursos de idiomas, palestras, e possui um cronograma anual de treinamento, no caso, o Tábua de Carne. Os outros dois não possuem treinamentos específicos. Com relação aos investimentos públicos no setor de turismo relacionado aos restaurantes, o Tábua de Carne citou o SEBRAE e o SENAC como parceiros para 30

capacitação de funcionários, mas as políticas públicas efetivas não existiam. O Camarões alegou não saber da informação, e o Matulão afirmou não existir. “Mas isso é comum, quando a gente tem algum incentivo na área do turismo, pode até existir a tentativa, mas não existe êxito. Se existe um curso que ele se divide em cinco módulos, por exemplo, de repente para no meio porque faltou verba. A prefeitura de Natal não dá nenhum incentivo, pode até existir, mas por aqui nunca chegou” (Ricardo de Macedo, gerente do Tábua de Carne).

Das sugestões que os representantes dos restaurantes propuseram se destaca a necessidade da diminuição do valor do querosene de aviação para Natal/RN, pois é um dos mais caros do Brasil; investir mais em propaganda para atração de turistas, e investir em setores como transporte público, que afetam indiretamente a rotina dos clientes e funcionários. Fez-se ainda uma entrevista com um representante da Secretaria de Turismo de Natal/RN – Josenilton Tavares, diretor na “Fundação Capitania das Artes” (FUNCART, órgão de cultura municipal) – para avaliar quais as ações tomadas por parte da gestão municipal com destaque para a importância das manifestações culturais nos restaurantes, seu papel no desenvolvimento econômico e turístico, sobre os incentivos dados por parte do governo às tematizações relacionadas com a cultura potiguar, e sobre a opinião do gestor no que poderia ser feito para incentivar as manifestações culturais nos restaurantes. De acordo com Josenilton Tavares, a manifestação da cultura através da gastronomia é bastante significativa no que tange à exposição dos costumes e alimentação locais. Apresentar essas manifestações se torna uma alternativa bastante atraente para os turistas, associado assim, com a Economia Criativa. Esse diferencial apresentado pelos restaurantes capta a atenção dos turistas, e atrai também o capital nacional e internacional trazidos por eles, gerando a obtenção de lucro. Por parte da FUNCART, ainda não existem investimentos nessa área além dos incentivos tradicionais: recursos de fundo e leis de incentivo para empreendedores. Existem, contudo, alguns projetos independentes com pouca durabilidade, e também por parte do SEBRAE como cursos de línguas para a 31

recepção de turistas; além dos festivais gastronômicos que duram em média uma semana. Mas políticas públicas relacionadas à cultura, ou tematização cultural, não existem de forma concreta. A alegação para essa situação seria a falta de dados quantitativos, de recursos (pois os recursos existentes são direcionados para festas tradicionais) e políticas contínuas. “Se o restaurante conseguir expor uma parte de nossa cultura nos seus cardápios, (...) seria muito além do objetivo de apenas alimentar as pessoas, mas também de colocar em exposição a nossa cultura e associá-la aos setores da economia criativa. (...) O que posso dizer é que os restaurantes que investem na cultura local e numa estrutura tematizada e que estão presentes na região turística próximo a hotéis são capazes de captar mais turistas. (...) A inexistência de uma política pública continuada é a nossa maior dificuldade, a carência de recursos certos para essa área é bastante comum” (Josenilton Tavares, Fundação Capitania das Artes).

Então, se analisarmos o governo municipal natalense a partir dos critérios de Borja (2009), notamos que em Natal há diversidade de atividades comerciais e de serviços; que há boa comunicação com um centro urbano de qualidade; não possui porém variedade a respeito da oferta cultural e de ócio; existe proximidade de centros universitários e de pesquisa; existem poucos espaços públicos animados e seguros com densidade de usos diversificados, já que o principal seria a Ribeira; existe diversidade social e habitação; pouca acessibilidade, flexibilidade morfológica; e não existe uma gestão flexível e partilhada com os atores sociais. Como foi descrito anteriormente, a cidade possui um alto potencial para se tornar uma Cidade Criativa, mas ainda são escassos os investimentos públicos no setor e áreas afins, principalmente com relação às políticas de incentivos culturais, no caso, dos restaurantes temáticos.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A capital do Rio Grande do Norte possui uma gama de profissionais que se enquadram nos critérios definidos pelo plano da Secretaria da Economia Criativa, e que geram como consequência atividades criativas. Nota-se que é preciso existir mais estudos e pesquisas que mapeiem tais setores, e que a partir disso, a gestão pública adote meios de fomentar a Economia Criativa no RN. Apesar de necessitarem de atenção, os restaurantes tematizados ainda não possuem dedicação da gestão pública municipal de Natal. De fato, a tematização e a cultura local/global e gastronômica não é objeto de políticas públicas ainda que em alguns casos se relacionem diretamente com a cultura local; mas os meios de comunicação, principalmente a internet, estão se encarregando de multiplicar as informações e expandir os horizontes da economia criativa, colocando o ônus nos empreendedores culturais olharem para estes espaços como potenciais locais de desenvolvimento das suas atividades profissionais/setores criativos (música, design, teatro, publicidade, artes plásticas, artesanato, entre outros). Como se trata de um local que recebe pessoas de culturas e lugares diferentes devido ao turismo, uma das sugestões por parte dos entrevistados está na maior divulgação - com relação a propaganda - do turísmo de Natal para outros estados e países. Apesar disso, vale enfatizar que é necessário se pensar além do turismo. A cidade tem, no entanto, que ser planejada para o cidadão, e, não apenas para o turismo. Como os representantes dos restaurantes referiram, a maior parte dos clientes são da região. O planejamento da cidade para o cidadão tem efeito direto no turismo local. Uma gestão bem articulada, principalmente com relação a cultura, atrai turistas de todos os lugares. Outra sugestão que foi dada é o cumprimento das obrigações básicas como transporte, por exemplo; isso porque os ônibus do município não circulam durante a madrugada, que é um horário onde as pessoas saem para ouvir música, jantar fora, entre outras atividades. Isso tem um efeito negativo, pois quem não tem condições financeiras para ter acesso aos meios de transporte privados, não tem como chegar em algum evento e voltar para casa, diminuindo assim, a

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quantidade de pessoas que poderiam ter acesso aos locais que fornecem serviços atrelados a cultura. Por mais que seja um município com profissionais criativos em sua estrutura econômica, a capital não possui Políticas Públicas concretas de fomento a economia criativa e da própria cultura, item primordial para ser desenvolvida como Cidade Criativa.

É fundamental que haja programas que valorizem a cultura potiguar e

nordestina e impulsionem os restaurantes a investir na tematização. Dessa forma, estará igualmente a desenvolver e a promover os setores culturais e criativos da cidade e da região.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENDASSOLI, Pedro F. Estudo Exploratório sobre Indústrias Criativas no Brasil e no Estado de São Paulo. São Paulo: FGV-EAESP/GV Pesquisa, 2007. BORJA, Jordi. El Urbanismo de las ciudades creativas: entre el azar y la necessidade. In: MANITO, Félix. (Ed). Ciudades Creativas. Vol. 1. Barcelona: Fundación Kreanta, 2009. BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 2ª ed. (rev.). Brasília: Ministério da Cultura. 2012. Disponível em: < http://www.cultura.gov.br/documents/10913/636523/PLANO+DA+SECRETARIA+DA +ECONOMIA+CRIATIVA/81dd57b6-e43b-43ec-93cf-2a29be1dd071> Acesso em 15.03.2015. CERVO, Amado Luiz. Metodologia Cientifica. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: Estudo de caso na cidade de Natal/RN. 2014. 106f. Dissertação (Pós-graduação em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014a. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus na cidade de Natal/RN. Linhares, B. F. (orgs). In [Anais do] IV Encontro Internacional de Ciências Sociais espaços públicos, identidades e diferenças, de 18 a 21 de novembro de 2014. Pelotas, RS: UFPel. 2014b. FLORIDA, Richard L. A Ascenção da classe criativa. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. HOWKINS, John. Planeta Sustentável. São Paulo: Revista Abril, 2012. Disponível em. Acesso em 28.01.2014. INGLEHART, R. Culture shift in advanced industrial society. Princeton: Princeton University Press, 1999. JOHNSON, Burke; CHRISTENSEN, Larry B. Educational researcher: Quantitative, Qualitative, and Mixed Approaches. 5ª ed. South Alabama. 2013

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LANDRY, Charles. Prefácio. In: REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter. (Orgs.). Cidades Criativas- Perspectivas. 1ª ed. São Paulo: Garimpo e Soluções & Creative Cities Productions. 2011. NEWBIGIN, John. A Economia Criativa: Um guia introdutório. Londres: British Council, 2010. Disponível em . SEIXAS, João; COSTA, Pedro. Criatividade e Governança na Cidade. A conjugação de dois conceitos poliédricos e complementares. In: Cad. Metrop. V.13, nº 25, jan/jun. São Paulo. 2011. UNCTAD. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Genebra: Nações Unidas, 2010.

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6. APÊNDICE ENTREVISTA COM OS REPRESENTANTES DOS RESTAURANTES Nome: 1. Que relação estabelece entre o restaurante e o turismo em Natal? 2. Pode descrever a temática do restaurante? 3. Que profissionais foram contratados para decorar ou tematizar o restaurante? 4. Quais são as principais manifestações culturais que ocorrem no restaurante? 5. De que modo a tematização e as manifestações culturais no restaurante contribuem para a obtenção do lucro? 6. É disponibilizado algum treinamento para os funcionários relacionado com a tematização do restaurante? 7. Alguma entidade pública oferece algum incentivo ou apoia a tematização e as manifestações culturais dos restaurantes em Natal 8. O que o poder público poderia fazer para apoiar a cultura potiguar nos restaurantes?

ENTREVISTA COM O REPRESENTANTE DA PREFEITURA DE NATAL Nome: 1. Qual a importância das manifestações culturais nos restaurantes? 2. De que modo à tematização e as manifestações culturais nos restaurantes contribuem para o desenvolvimento econômico e turístico de Natal? 3. Alguma entidade pública oferece algum incentivo ou apoia a tematização e as manifestações culturais nos restaurantes em Natal? 4. O que o poder público poderia fazer para apoiar e incentivar as manifestações culturais nos restaurantes?

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