Templo de Uppsala

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TEMPLO DE UPPSALA: O Templo de Uppsala foi um centro cúltico da religião
dos habitantes da Suécia pré-cristã. Situava-se na localidade hoje
conhecida como Gamla Uppsala (do sueco "velha Upssala"), próxima à atual
cidade de Uppsala, em torno de 70 km norte de Estocolmo, no condado de
mesmo nome (Uppsaa Län).
Uppsala nunca foi um núcleo urbano de grandes proporções durante o
tempo anterior à cristianização, em torno dos séculos XI-XII; no entanto,
segundo Philipe Line e de acordo com evidência arqueológica, a região já
era considerada, desde o período das migrações (300-700 d.C.), um
importante centro político e religioso. Segundo Lindkvist e Lörnroth e
também com fontes históricas medievais como a Ynglingsaga o centro de poder
real estava já firmemente ali estabelecido no período pré-cristão. Além
disso, de acordo com Anders Hultgard, John Ljungkvist e Sigmund Rahmqist e
fontes da poesia escalda Uppsala foi, durante a Idade do Ferro escandinava
(ca. 500 a.C. – 800 d.C.), centro político e religioso da Svealand.
Essa relevância de Uppsala também é atestada por fontes latinas
continentais. A "Vida de Ansgar" (Vita Ansgarii), escrita em torno de 876
por São Rimberto (830-888; sucessor de Ansgar no arcebispado de Hamburgo-
Bremen a partir de 865), é um importante relato histórico, pois documenta a
primeira missão cristã conhecida às terras da atual Suécia e,
indiretamente, menciona a presença de um importante festival religioso, não
muito longe de onde esta missão teria ancorado, em Birka. É bastante
provável que esta seja a primeira referência escrita ao TEMPLO DE UPPSALA.
Contudo, o primeiro a delinear uma visão mais clara sobre a
religiosidade pré-cristã na Suécia foi o cura alemão Adão de Bremen (1050-
1085?), que, pela sua obra Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum (ca.
1070), faz um relato bastante detalhado, e um tanto fantástico, sobre o
TEMPLO DA UPPSALA. Além disso, Snorri Sturluson (1178–1241), autor islandês
que escreveu a história dos reis da Noruega (Heimskringla, ca 1230),
menciona, na Saga de Santo Olavo, a presença de um mercado de inverno na
região de Uppsala, bem como um festival ritual e a Thing dos Svear, que,
provavelmente, é a mesma Disthing, citada na legislação real Upplandslage
de 1296, em vigor até 1350.
O TEMPLO DE UPPSALA, muito mais do que um edifício físico, deve ser
encarado como um local central para a vida comunitária. Não há dúvida de
que havia uma proeminência da região, não somente em termos religiosos, mas
também políticos, especialmente devido às frequentes referências
encontradas na tradição literária norueguês-islandesa. Além disso, Snorri
(1178–1241) apresenta, na Saga Ynglinga, a história dos primeiros reis
escandinavos em Gamla Uppsala, a partir de ca. 150-200 d.C., como os
lendários ancestrais dos reis noruegueses e reconhecidos como descendentes
do deus da fertilidade, Freyr.
O texto de Adão, apesar de ser aquele que melhor nos restou acerca do
TEMPLO DE UPPSALA, deve ser encarado como uma interpretação cristã e centro-
europeia sobre a Escandinávia medieval; por exemplo, a menção às "correntes
d'ouro" que circundavam o templo é uma clara correlação ao texto da Bíblia
do Segundo Livro das Crônicas, no capítulo 3, que descreve outro templo
famoso, certamente conhecido pelo autor, o Templo de Salomão em Jerusalém.
As principais fontes de informação de Adão de Bremen, que nunca visitou ele
mesmo o local, foram os relatos de alguns cristãos que haviam visitado
Uppsala. A visão que o autor nos legou é, portanto, bastante incongruente
quando comparada às fontes arqueológicas, bem como ao contexto
sociocultural da Uppsala de então.
Uma reconstituição visual do TEMPLO DE UPPSALA é tanto impossível,
como improvável; contudo, baseando-se no parco material disponível, pode-se
afirmar com algum grau de certeza que, ali, havia imagens dos deuses (Thor,
Odin e Freyr) e algum tipo de construção, provavelmente de madeira, que
lhes dava abrigo. Não há, contudo, evidência literária ou arqueológica que
permita inferir além disso, ou mesmo acerca das dimensões físicas de tal
construção. Pesquisadores da religiosidade germânica e escandinava, como
Walter Baetke, Jan de Vries e Gro Steinsland, indicam que a tradição
cúltica dos povos germânicos pré-cristãos pobremente relatada nas fontes
escritas tanto do continente, quanto da Escandinávia dá conta de que a
religião destes povos era muito mais vinculada a práticas rituais ao ar
livre do que a templos nos moldes mediterrâneos.


Ver também: REMISSÕES
Referências bibliográficas:
Hultgard, Anders (Ed.). Uppsala och Adam av Bremen. Nora: Nya Dyxa, 1997.
Line, Philip. Kingship and State Formation in Sweden, 1130-1290. Leiden:
Brill, 2007. Steinsland, Gro. Dem Gamle Religion. In: Semmingesn, Ingrid
(ed.). Norge Kulturhistorie, vol. 1. Oslo: Aschehoug, 1970. Gustafson,
Alrik. A History of the Swedish Literature. Minneapolis: University of
Minnesota Press, 1971. Vries, Jan de. Altnordische Literaturgeschichte.
Berlin/New York: de Gruyter, 1999. Janson, Henrik. Templum Nobilissimum.
Adam av Bremen, Uppsalatemplet och konfliktlinjerna i Europa kring år 1075.
Göteborg: University of Gothenburg, 1998.





Tradução do Livro IV (Descriptio Insularum Aquilonis), capítulos XVI e
XVII do Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum, da edição latina de
Bernhard Schmeidler na Monumenta Germaniae Historica, série Scriptores
Rerum Germanicarum, de 1917.


Cap. XVI – Falemos um pouco agora acerca da superstição dos suecos. Aquele
povo (esc. 134) possui um famoso templo chamado Uppsala, não longe da
cidade de Sigtuna. Naquele templo, que é totalmente ornado d'ouro, o povo
adora as estátuas de três deuses, de modo que o mais poderoso deles, Thor,
ocupa um trono no centro do salão. Ao seu lado, também Wotan [Odin] e
Frikko [Freyr] possuem os seus lugares. Estes deuses representam o
seguinte: Thor, dizem eles, preside sobre ar, sobre os trovões e os
relâmpagos, os ventos e as chuvas, o bom tempo e sobre as colheitas. O
outro, Wotan, ou seja, o furioso, rege a guerra e dá aos homens força
contra seus inimigos. O terceiro é Fikko, que garante paz e prazeres aos
mortais, cuja imagem eles adornam com um imenso falo. Quanto a Wotan, o
representam arregimentado, conforme estamos acostumados a ver Marte. Thor,
com seu cetro, nos lembraria Jove.

Escólio 134 – Próximo a este templo, está uma grande árvore de grandes
galhos, sempre verde no inverno e no verão, mas que tipo de arvore é
ninguém o sabe. Há também uma fonte, na qual os pagãos, submergindo um
homem vivo, realizam seus sacrifícios. Se tal homem não for encontrado, o
povo, então, terá seus votos atendidos.

Escólio 135 – O templo é circundado por uma corrente d'ouro, que, pendendo
no telhado do edifício, reflete seu brilho aos que de longe se achegam,
pois o santuário é situado numa planície, rodeado de montanhas, como um
anfiteatro.

Escólio 136 – Há pouco tempo, quando Anunder,o cristianíssimo rei dos
suecos, não ofereceu aos demônios, por seu povo, o prescrito sacrifício,
foi expulso do reino. Conta-se que, deixando a presença do conselho,
regozijou-se, pois fora achado digno de sofrer tal afronta pelo nome de
Jesus Cristo.

Cap. XVII – Ali, para todos os deuses, são atribuídos sacerdotes que
oferecem sacrifícios pelo povo. Se peste ou fome são iminentes, libações
são oferecidas ao ídolo de Thor; em caso de guerra, a Wotan; no caso de
celebração de núpcias, a Frikko. É também costume que, a cada nove anos,
celebre-se uma festa solene de todas as províncias da Suécia. A ninguém é
garantida a imunidade de não comparecer ao festival. Reis e pessoas comuns,
todos e cada um deles enviam suas oferendas a Uppsala. Ademais, o que é
mais penoso do que qualquer forma de punição é que aqueles que já adotaram
o cristianismo têm que se redimir por não participar do sacrifício. O
sacrifício é assim: para todo ser vivo do sexo masculino, nove cabeças são
selecionadas e o sangue é ofertado para aplacar os deuses. Os corpos são
pendurados em um bosque ao lado do templo. Este bosque é tão sagrado aos
olhos dos pagãos que eles acreditam que cada uma das árvores é divina por
causa da morte sacrificial das vítimas. Ali, há até mesmo cães e cavalos
pendurados junto aos corpos humanos, segundo me relataram alguns cristãos
que os haviam visto. Além disso, os encantamentos usados nesse tipo de
sacrifício ritual são múltiplos e desconhecidos, de forma que é melhor
manter silêncio acerca deles.

Escólio 137 – Festas e sacrifícios solenes desse tipo acontecem por nove
dias. A cada dia, oferece-se um homem junto a outros animais, em número tal
que, ao longo dos nove dias, setenta e duas criaturas são sacrificadas.
Este festival ocorre no tempo do equinócio de inverno.

Rodrigo Mourão Marttie
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