TEMPOS VERBAIS EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

June 1, 2017 | Autor: Rafael Fernandes | Categoria: Lingüística, Retórica, Liguistics
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TEMPOS VERBAIS EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Rafael de Souza Bento Fernandes (IC - UNIOESTE) Márcia Sipavicius Seide (UNIOESTE) RESUMO: A partir da análise de nove textos de “divulgação científica” publicados nos jornais Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e na revista Super Interessante, este artigo pretende apresentar algumas considerações sobre a estrutura linguística da tipologia focando a questão dos tempos verbais no que concerne à argumentação. Para tanto, foram utilizados os pressupostos da Nova Retórica segundo Perelman e Tyteca como nos explica Oliver Reboul (2004) e os valores dos tempos e modos tal qual propõem os gramáticos Cunha e Cintra (2008). Cumpre informar que os textos analisados fazem parte de um corpus de sessenta e três artigos. PALAVRAS-CHAVE: ANÁLISE RETÓRICA; DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA; TEMPOS VERBAIS. INTRODUÇÃO Este artigo, vinculado ao projeto “Contribuições da análise retórica do discurso para o ensino de gêneros argumentativos em língua materna” em desenvolvimento sob a orientação da Prof. Dra. Márcia Sipavicius Seide, é um recorte da pesquisa teórica e prática desenvolvida como parte das atividades de iniciação científica do autor principal do texto. O estudo ora apresentado foi desenvolvido a partir de um corpus de sessenta e três artigos, publicados nos jornais Folhas de São Paulo (denominado DCF) e Estado de São Paulo (denominado DCE) no período de julho a dezembro de 2010, copilado na base eletrônica “e-termos” da UFSCar, dentre o qual, para efeitos de análise, foram selecionados seis artigos (três de DCE e três de DCF) e outros três de outro veículo (a revista Super Interessante (denominado DCS)) objetivando compará-los. Com base nos postulados de Koch (2003), nos pressupostos da análise retórica, segundo Oliver Rebul (2004), e na análise dos valores dos tempos verbais em conformidade com os gramáticos Cunha e Cintra (2008), procuramos apresentar algumas considerações sobre os tempos verbais de exemplares de artigos de divulgação (doravante popularização) . Reunida essa amostra de nove textos do grande corpus de sessenta e três artigos copilado na base “E-TERMOS”, contabilizamos a quantidade total de verbos,

seus tempos e modos e organizamos os dados em tabelas. Além disso, foi apontada a agência que forneceu a notícia, o número total de palavras e o título do texto em questão. Haja a vista os limites desse artigo, escolhemos somente um artigo de DCF, um de DCE e um de DCS para propor a análise qualitativa em que levamos em consideração os usos e valores dos tempos verbais tal qual teorizam Cunha e Cintra (2008). GÊNERO TEXTUAL DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA No quarto capítulo de “Desvendando os segredos do texto”, Ingedore Koch (2003) disserta a respeito da teoria dos gêneros dos discursos. Segundo esta pesquisadora, este objeto de estudo se caracteriza por se constituir, segundo Bakhtin, de “tipos relativamente estáveis de enunciados”. Por sua vez estes “tipos” distinguem-se pela temática, conteúdo e estilo; atendem à sua necessidade temática e vontade enunciativa ou intenção do autor. Essa concepção implica em relacionar um texto, tido como “lugar de interação”, a outro que apresente características similares tanto no que diz respeito à sua estrutura linguística quanto ao seu “uso social”. (2003, p.54). Levando em consideração essa teoria, trataremos aqui de um gênero específico: a “divulgação científica”. De maneira breve, esta categoria é aplicada aos textos que trazem informações do meio científico aos moldes jornalísticos sem grandes preocupações em relação à fundamentação e metodologia, aproximando de modo claro e atraente tais informações ao âmbito do cidadão comum. Aí se incluem todos os artigos de nosso corpus, os quais apresentam as seguintes características: - Adoção do formato de pirâmide invertida (em que os resultados são colocados primeiro, como se fossem uma novidade); - Utilização frequente de citações diretas ou indiretas; - Uso sistemático de orações adjetivas; - Presença de datas que temporizam os dados apresentados; - Predomínio do presente do indicativo e do pretérito perfeito; - Omissão do método científico e substituição deste por um trecho narrativo (que conta como a pesquisa divulgada foi realizada).

Há uma grande polêmica em relação aos textos pertencentes a esse gênero. Na edição vinte e três da revista “Ciência e meio ambiente” é possível encontrar opiniões relevantes de autores que defendem um suposto papel social das notícias de popularização frente à tarefa de “informar” o grande público, como também daqueles que relatam o “choque cultural” entre cientistas (que trabalham com os “artigos primários”) e jornalistas que, ao escreverem os textos de popularização, modificam substancialmente o modo pela qual se apresentam as informações. Para Mota (2001), essa “função para com a sociedade” dos textos de divulgação deve ser atendida através da difusão - e discussão - do método científico, muitas vezes, excluído dos artigos de popularização (doravante D.C.). Sob o enfoque da Retórica, viés teórico centrado no ato da persuasão, diríamos que, em realidade, há duas situações de produção e recepção muito distintas: como preconiza Ivanissevich (2001, p.72-73), se para o jornalista pede-se agilidade, para o cientista, exige-se um trabalho metódico, cujo pré-requisito é a disposição de tempo e de um fazer devagar, cometido, de passos lentos é pré-requisito. Como salientam esses pesquisadores (Mota e Ivanissevich), um texto de D.C. que antes possuía duas páginas, pode ser resumido em uma ou até poucos parágrafos já que implica, necessariamente, na intervenção de repórteres, redatores, diagramadores, etc. O único espaço realmente garantido em produções midiáticas é o da propaganda. Há, portanto, uma exigência retórica -e comercial- de que o texto seja vendido, o que confirma a configuração pirâmide invertida: não é provável que um leitor não especialista se interesse pela fundamentação teórica marcada por jargões e termos técnicos dos artigos primários para, só ao final, ter acesso à “novidade”. Da mesma forma, o aparecimento de citações diretas - falas dos cientistas faz parte da estratégia de prover um “estatuto de verdade científica” ao artigo de popularização. As orações subordinadas adjetivas, assim como os apostos, por sua vez, possuem a função de localizar o leitor quanto às informações especificas do meio científico. Assim, é possível estabelecer a existência de um gênero chamado divulgação científica escrito a partir de artigos científicos (textos primários) por jornalistas que objetivam, ao trazer as informações do reduto acadêmico, comercializar seu produto;

uma inversão de situações retóricas que se caracterizam por exigências distintas, estas materializadas em diferentes estratégias linguísticas.1 Trataremos a seguir da questão dos tempos verbais em artigos de popularização, inclusive nas partes em que há trechos narrativos que substituem a descrição do método científico peculiar aos artigos acadêmicos. USOS E VALORES DOS TEMPOS VERBAIS SEGUNDO CUNHA E CINTRA (2008) Optamos pela utilização da gramática de Cunha e Cintra (2008) em nossa pesquisa devido à riqueza com que ela analisa a classe morfológica verbo. Além da tradicional divisão em modo indicativo/subjuntivo (bem como os tempos que constituem cada modo), o estudo engloba um olhar preciso sobre os empregos de cada um destes tempos. Por ser necessário exemplificar os usos apontados na análise, utilizamos fragmentos de textos de divulgação científica diversos, que seguem abaixo, sem, contudo, referirmo-nos a ampla gama de possibilidades para Cunha e Cintra (2008). Como é apresentado em “sintaxe dos modos e dos tempos”, o presente do indicativo, além de anunciar um fato atual, momentâneo, pode possuir valor de ação habitual (i), o terceiro valor apontado por Cunha e Cintra (2008), estado permanente (ii), o segundo valor, e histórico/narrativo (iii), o quarto valor. Conforme os exemplos: (1) “Uma hipótese propõe que ambas seriam asteróides capturados pela gravidade marciana.”. (2) “Como o nível hoje é de 390 ppm, isso significa uma redução das emissões de 70% até 2100”. (3) “Em algumas colisões entre prótons feitas no LHC, pesquisadores encontraram correlações entre pares de partículas que voavam para longe do ponto de impacto. Segundo o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), ‘algumas das partículas estão ligadas de uma forma nunca vista’”.

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Sobre a distinção entre artigos primários e artigos de divulgação, ver Mussarani e Moreira (2001).

O verbo no presente do indicativo grifado em (1), “propõe”, expressa uma ação recorrente em relação à ideia da hipótese invocada e por isso pode ser demarcado segundo a categoria “valor habitual” (i). Já em (2), o verbo estar (2), em presente do indicativo, diferente de (1), marca um estado permanente em relação ao advérbio “hoje”. Por essa razão o verbo pode ser englobado na categoria “durativa”(ii). No exemplo (3), o verbo “estão”, em discurso direto, indica um retorno à pesquisa no passado ao passo em que é apresentada pelo cientista entre as aspas como presente. Este é um caso do chamado presente histórico ou narrativo (iii), que possui um valor afetivo de acordo com Cunha e Cintra (2008). Em relação ao tempo passado, ou seja, o tempo anterior ao expresso no ato da fala ou escrita, as gramáticas tradicionais diferenciam o pretérito perfeito do pretérito imperfeito (para as formas simples) segundo o critério de conclusão do fato em si. Nesse sentido, o imperfeito possui um valor de “não acabado” já que apresenta valor de continuidade e o perfeito, em sua forma simples, de ação finda. A oração (4) tem seu verbo representativo do segundo caso: (4)“Espécie "fantasma" cruzou com o ser humano, diz estudo”. Salientamos, ainda, que é fortuito o texto de D.C. utilizar-se deste tempo logo no título uma vez que desta forma toma a “descoberta científica” como fato (portanto, irrefutável), garantindo pertinência à notícia. O tempo passado, no entanto, é diferente para em “eram” da oração (5): (5) “Dinossauros eram bem mais altos do que se imaginava, dizem cientistas”. No exemplo (5) o verbo “ser”, em pretérito imperfeito, possui valor de ação habitual em um período anterior ao explicitado no ato da escrita. Sob o ponto de vista argumentativo é possível discutir as implicações dessa escolha que difere de “foram”, de caráter mais recorrente. O “eram”, assim, torna o objeto de estudo “dinossauros” (ou seus fósseis) dos cientistas algo presente e não perdido em uma era imemorial.

USOS E VALORES DE TEMPOS VERBAIS EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Uma primeira consideração a ser feita é sobre a grande quantidade de verbos em presente do indicativo em primeiro ou segundo lugar, segundo nosso levantamento, nesse pequeno corpus de nove artigos. O uso do tempo exprime “uma ação, ou estado considerado na sua realidade ou certeza” (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 462), um posicionamento pouco presente no meio científico que trabalha com a ideia de hipótese e teoria, mas recorrente no espaço jornalístico, dada a necessária pertinência que deverá possuir a notícia. Em outro termos, em textos científicos, o resultado e/ou a interpretação de uma análise são descritos com cautela pelos cientistas cientes de que podem ser refutados por outros cientistas. Nos textos jornalísticos, ao contrário, os resultados são comunicados com “estardalhaço” e a ciência é representada como certa, objetiva, verdadeira e universal. Como se trata de uma leitura retórica, há que se levar em consideração os aspectos quem/quanto/onde/por que (...) que compõe a situação específica de um dado texto. Para Oliver Reboul (2004), o próprio modo como os argumentos são apresentados tem influência no ato da persuasão e há determinadas estratégias (como a utilização de determinados tempos verbais) que o autor abre mão ao compor seu texto, objetivando, como dizem Perelman e Tyteca a “adesão dos espíritos” (2004, p.57). Por esse motivo, destacamos que o primeiro exemplar de análise provém de um jornal de grande circulação nacional, a Folha de São Paulo, focada em uma suposta “neutralidade”. A seguir a tabela correspondente ao exemplar um:

Código: DCF (17.12) – Exemplo 1. Nome: Rara doença faz com que mulher não tenha meda de nada Nº de verbos Nº de palavras Agência 46 368 France presse Tempos verbais Observações Pretérito perfeito: 16 Pirâmide invertida Presente/ind.: 14 Presente/subj.: 5 Parágrafo 12 e 13: uso do modo Loc. Infinitivo: 4 subjuntivo marca expectativa em relação Loc. Particípio: 2 ao estudo. Infinitivo: 2 Loc. Gerúndio: 1 Particípio: 1 Pretérito mais-que-perfeito composto: 1

O objetivo desse texto é informar o leitor sobre uma pesquisa realizada com uma mulher que, em função da “rara doença”, desconhece o sentimento de medo. Conforme os dois primeiros parágrafos: Cientistas americanos detectaram (1) em uma mulher uma rara doença que faz (2) com que não tema nada – nem uma serpente que se aproxima de seus filhos nem uma faca em seu pescoço. A mulher não experimenta (3) a sensação de medo porque tem destruída (4) a parte de seu cérebro em que os cientistas acreditam (5) que esse sentimento seja gerado (6).

Observa-se que em (1), o pretérito perfeito diz respeito a uma ação ocorrida no passado, definida no tempo. Já o “faz” (2), assim como no próprio titulo (“Rara doença faz com que mulher não tenha medo de nada”), marca um uso do presente do indicativo conhecido como “ação habitual” (terceiro valor segundo Cunha e Cintra (2008)), que localiza o leitor quanto ao fato científico. “Experimenta” (3), da mesma forma que “acreditam” (5), está no presente do indicativo, possui, neste caso, valor “durativo”, o qual garante o estatuto de verdade ao artigo. Por sua vez em “tem destruída” (4), com o interessante pretérito perfeito composto, apresenta-se uma ação contínua e repetitiva, que se aproxima do presente. Por fim, a locução de particípio “seja gerado” (6) traz o verbo auxiliar no subjuntivo. O uso não é fortuito uma vez que denota uma ação que depende de outra e, como expressa hipótese, “inocenta” o jornalista de um possível questionamento.

Logo após ressaltar informações globais do que tratará o texto, a estratégia consiste em utilizar-se de um trecho narrativo, conforme podemos observar neste exemplo: Nas últimas décadas, os cientistas acompanharam (1).” a mulher, identificada como SM, em busca de dados sobre sua condição que podem fornecer (2).” pistas para o tratamento do estresse póstraumático, particularmente em soldados que retornam (3).” da guerra.

O pretérito perfeito apresenta a ação pontual em tempo anterior ao tempo da descrição (1). O verbo auxiliar “podem”, em presente do indicativo, faz parte de uma locução no infinitivo que possui o valor semântico de possibilidade – um uso apropriado do jornalista que, desse modo, não se expõe. O último uso retórico de nosso exemplo marca o chamado “presente habitual” (3): sempre haverá guerras e militares traumatizados. Similar a este texto, selecionamos outro artigo publicado no jornal Estado de São Paulo. Abaixo nossa análise quantitativa e, após, a qualitativa em relação aos usos dos tempos verbais: Código: DCE(05.10) – Exemplo 2 Nome: Primeiros dinossauros tinham tamanho de gatos, diz estudo Nº de verbos Nº de palavras Agência 36 382 Reuters Tempos verbais Observações Pretérito perfeito/ind.: 17 Citação: 6 ocorrências. Pirâmide invertida. Presente/ind.: 8 -Tempo dos dinossauros: Pretérito imperfeito/ind.:7 Pret. Perf./Pret. Imp. Futuro do pretérito composto: 1 - Pesquisa realizada: Pretérito imperfeito/subj.:1 Pret. Perf. Particípio: 1 - Resultados apresentados: Gerúndio: 1 Presente (tempo zero) O artigo com o título auto-explicativo em relação à seus objetivos “Primeiros dinossauros tinham (1) tamanho de gato, diz (2) estudo” de DCE, apresenta certa variação quanto aos usos dos tempos verbais. Mesmo no título encontramos usos pertinentes dos tempos verbais como em (1) que indica característica habitual no passado e (2) em que o verbo está no presente em discurso relatado; é utilizado para dar a impressão de que a pesquisa acabou de acontecer, trata-se de um

presente histórico ou narrativo, o quarto valor de presente apontado por Cunha e Cintra (2008): Pequenas pegadas achadas na Polônia mostram (1) que os primeiros dinossauros eram (2) animais diminutos e quadrúpedes e, provavelmente, só passaram a dominar o mundo depois que uma extinção em massa acabou com muitos grandes répteis (3), disseram (4) cientistas na terça-feira. As pegadas de 250 milhões de anos são (5) as mais antigas marcas já encontradas dos dinossauros, segundo Stephen Brusatte, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, e seus colegas. O animal tinha (6) mais ou menos o tamanho de um gato doméstico pequeno, disseram (7) eles, e teria vivido (8) perto de rios, onde crocodilianos maiores prosperavam (9).

“Mostram” (1) é outro uso do presente histórico, diferente de “eram” (2) em pretérito imperfeito habitual. Já no trecho narrativo demarcado (3) há correlação de duas ações no passado pela relação pretérito imperfeito em locação incoativa (que marca um processo); o leitor entende que o desaparecimento dos répteis muito grandes foi anterior ao início do domínio dos dinossauros, este visto como duradouro conforme o quarto valor do imperfeito. “Disseram” (4), referindo-se aos cientistas, revela que o discurso relatado está no pretérito. Isto porque a característica mais importante do gênero é relatar experiências e descobertas científicas; o uso do discurso indireto (presente ou passado), por esse motivo, é uma constante. Em (5), o verbo “são”, presente do indicativo, coloca a informação como verdade científica como preconiza o segundo valor apontado por Cunha e Cintra (2008). “Tinha” (6) possui o mesmo valor já apontado em (1); em “disseram” (7) o verbo indica do discurso relatado no passado. Já a locução “teria vivido” tem por fim indicar suposição sobre os fatos apresentados: por não ser possível realmente comprovar esta informação, o jornalista se resguarda com o futuro do pretérito. Apresentamos, a seguir, o último exemplo de análise:

Código: DCS (01) – Exemplo 3 Nome: A superbactéria Nº de verbos Nº de palavras Agência 26 226 Autoral Tempos verbais Observações Presente/ ind.: 12 Pirâmide invertida. Pretérito perfeito: 6 Oração adjetiva: 3 ocorrências. Loc. Gerúndio: 3 Finaliza com citação. Loc. Particípio: 2 Pretérito imperfeito/ind:1 Loc. Infinitivo: 1 Futuro do pretérito: 1 Conforme o fragmento do primeiro parágrafo: Há (1) anos os cientistas previam (2). que isso iria acontecer (3). Mas finalmente a ameaça parece estar batendo (4) à porta: estão surgindo (5) bactérias capazes de resistir (6). a praticamente todos os antibióticos. Praticamente todos, ou todos mesmo (...). Na ocorrência (1) observa-se o uso do presente histórico em “há” (1) já como primeira palavra de texto de popularização. Segundo Cunha e Cintra (2008) este emprego possui um valor afetivo por, de certo modo, consistir de uma “dramatização linguística” que nos remete ao passado ao passo que faz com que visualizemos os fatos enquanto os descrevemos ou narramos. Este tempo é confrontado com o pretérito imperfeito “previam” (2), utilizado de acordo ao primeiro valor de Cunha e Cintra (2008): transporta-nos a uma época passada e descreve o que então é presente. Na mesma frase, no entanto, o autor emprega o futuro do pretérito (“iria” (3)) para designar ação posterior ao tempo de que se fala. Usos, portanto, extremamente ricos linguisticamente materializados em complexas relações temporais para abordar a temática das superbactéria. Importante observar que o mesmo período composto é confrontado por duas locuções no gerúndio, “estar batendo” (4) e “estão surgindo” (5) relacionadas com o verbo “parecer” que, da mesma forma apontada anteriormente, protege Salvador Nogueira (o jornalista) de um possível enfrentamento. Cumpre observar que, neste último texto, há uma exploração dos recursos da linguagem que parece visar um efeito estilístico, pois, além dos verbos em tempos alternados (uso de locuções), nota-se certa irreverência e predomínio de orações

coordenadas aglutinadas em grandes parágrafos. Observamos no corpus DCS, também, a utilização da pergunta retórica e um trabalho mais diversificado com a pontuação. Sob o ponto de vista da Retórica, diríamos que a distinção do corpus DCE e DCF x DCS se justifica pela existência de dois auditórios e situações bem diferentes. Nos primeiros casos, a publicação da D.C. é realizada diariamente em um regime de publicação, ao que indica incessante. Também vale ressaltar que se tratam de notícias não autorais, isto é, não assinadas por um determinado colunista ou jornalista, mas sim por uma agência especializada. Já a revista SuperInteressante é um projeto editorial de publicação mensal voltado a leitores jovens que cursam o ensino médio ou os primeiros anos da faculdade. Por essa razão, os escritores utilizam uma linguagem própria a leitores com maior grau de inserção à cultura letrada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi rapidamente exposto no estudo, o gênero de divulgação científica apresenta determinadas estratégias coerentes com sua situação retórica: tanto nos jornais Folha e Estado de São Paulo como na revista Superinteressante, percebe-se que há a intenção de, através de um texto destinado ao público leigo, comercializar um produto. Por esse motivo, diferentemente de um artigo científico, não há, em um texto de popularização, a exigência de haver uma fundamentação teórica (ou descrição do método) que tende a aborrecer o leitor; ao contrário, ao invés de um texto demasiadamente complexo, tende-se a apresentar trechos narrativos sobre o desenvolvimento da pesquisa ora com pretérito perfeito (ou imperfeito) ora com o presente do indicativo com valor histórico (ou narrativo) conforme o quarto valor apontado por Cunha e Cintra (2008).

REFERÊNCIAS CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5 ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. IVANISSEVICH, Alicia. A divulgação científica na mídia. In: Ciência e Meio Ambiente, n. 23. Universidade Federal de Santa Maria, dezembro de 2001, p.71-77. ISSN 16764188. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2 ed. São Paulo: Cortes, 2003. MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro. A retórica e a ciência – dos artigos originais à divulgação científica. In: Ciência e Meio Ambientem n. 23. Universidade Federal de Santa Maria, dezembro de 2001, p.31-47, ISSN 16764188. MOTA, Ronaldo. Acerca do método científico. In: Ciência e Meio Ambiente, n. 23. Universidade Federal de Santa Maria, dezembro de 2001, p.5-13. ISSN 1676-4188. REBOUL, Oliver. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Benetti. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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