TENDÊNCIAS TEMÁTICAS DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: ANÁLISE TEMÁTICA NAS UNIVERSIDADES DO NORDESTE BRASILEIRO

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TENDÊNCIAS TEMÁTICAS DA PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: ANÁLISE TEMÁTICA NAS UNIVERSIDADES DO NORDESTE BRASILEIRO Caudialyne da Silva Araújo; Jadiel Felipe Pereira de Medeiros; Judson Daniel Oliveira da Silva e Rosa Milena dos Santos RESUMO O Campo da Informação é relativamente novo, tem suas origens na década de 40 e por muito tempo careceu de consistência teórica metodológica, conhecimentos produzidos a nível de pósgraduação. No Brasil, esses cursos tiveram início a partir na década de 70.Com o objetivo de descrever os novos conhecimentos produzidos nesse campo na região nordeste do Brasil, buscase com o estudo fazer um levantamento das tendências temáticas das dissertações de mestrado dos Programas de PósGraduação em Ciência da Informação das universidades dessa região. Para tanto, analisouse as dissertações defendidas no período de 2011 a 2013 nas PósGraduações de três universidades: Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Universidade Federal da Bahia (UFBA); e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A amostra somou 101 dissertações em seis linhas de pesquisa. Através de leitura técnica categorizouse as dissertações em temáticas de acordo com classes préselecionadas e com os grupos de trabalho da Associação Nacional em Ciência da Informação (ANCIB). Na análise de dados observouse uma predominância de dissertações em temáticas relativas a mediação da informação e baixa preocupação com temáticas relativas a tratamento da informação, mostrando uma possível preocupação dos Programas com o caráter social da Biblioteconomia.

Palavraschave: Tendências temáticas. Programas de PósGraduação em Ciência da Informação. Ciência da Informação.

ABSTRACT The Information Field is relatively new, originates from 40s and lacking for a long time theoretical consistency, knowledge produced by postgraduate studies. In Brazil, the posgraduate courses had began in 70s. The study aims to describe the production of new knowledge produced in the Field on Brazil’s northeast region. linting recents thematics trends of the master’s theses of the Informational Science Postgraduate Programs of brazilian northeastern universities. Therefore, it analyzed master’s theses defended in the 20112013 period in three university Programs: Federal University of Paraíba; Federal University of Bahia; and Federal University of Pernambuco. The sample added 101 documents in six research lines. Through technical reading it is categorized through preselect classes and working groups of the Informational Science National Association (ANCIB). The data analysis showed predominance of documentos on information mediation relative trends and a possible low concern of information representation relative trends, showing a possible worry of the Programs with the social character of the library science. Keywords:Thematic Trends. Informational Science. Postgraduate Programs. Informational Science.

GT 2: Produção, Comunicação e Uso da Informação.

1 INTRODUÇÃO A Ciência da Informação (CI) é um campo científico relativamente novo, tem sua gênesis por volta da II Guerra Mundial. No Brasil, os cursos de pósgraduação em Ciência da Informação surgiram na década de 70. Na região nordeste, entre os anos de 78 e 98 existiu apenas um curso de PósGraduação em CI. Essa juventude do campo reflete na sua produção científica, que por muito tempo careceu de abordagens teóricas metodológicas que o solidificasse. Enfatizase que tais conhecimentos fossem produzidos a nível de pósgraduação stricto sensu ,ou seja, em níveis de mestrado e doutorado. Diante do exposto, se faz necessário averiguar a produção de novos conhecimentos periodicamente, no intuito de perceber possíveis tendências temáticas, mudanças de paradigmas, foco teórico conceitual entre outros. O presente estudo tem por objetivo analisar as tendências temáticas da produção científica em nível de pósgraduação em amostra regional, analisando inicialmente a região nordeste, berço do estudo. Optouse por analisar dissertações de mestrado de Programas de Pósgraduação em CI, pois são resultados de um processo de pesquisa intensiva realizada por profissionais da área junto às universidades de referência. Segundo Antônio Severino (2007, p. 221) a dissertação é a “comunicação dos resultados de uma pesquisa e de uma reflexão que versa sobre um tema […] único e delimitado”. Escolheuse as dissertações desenvolvidas pelos Programas das Universidades Federais da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco, por serem um dos Programas mais antigos da região. Delimitouse o espaço temporal de três anos: dissertações entregues nos anos de 2011, 2012 e 2013. A delimitação desse intervalo se deu pela dificuldade de encontrar nos sistemas eletrônicos as dissertações dos anos de 2014, pois utilizouse dos repositórios institucionais de teses e dissertações dos referidos Programas como fonte de dados. Com isso, pretendese apresentar um diagnóstico da produção científica em CI à nível de pósgraduação no nordeste brasileiro, identificando possíveis tendências

temáticas da área. Destarte, sublinhase que os campos científicos são um universo intermediário entre o conteúdo textual e o contexto social de determinado resultado científico, cujo entendimento se faz necessário para que se compreenda tal produto (BOURDIEU, 2004, p.20), essa dependência se dá pelo fato de que o campo impõe aos seus agentes normas relativamente específicas, chamadas por muitos de paradigmas. Paradigma “é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma” (KUHN, 1978, p. 220). Ou seja, os paradigmas são todos os conhecimentos e métodos utilizados pelos membros de uma comunidade científica que a caracterizam como tal. 2 A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO E DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Notase na contemporaneidade o expressivo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação, o que possibilitou avanços científicos mais acelerados pelo vasto acesso à informação. Esse desenvolvimento se deu pela visibilidade de informações de pesquisas científicas e realidades sociais relevantes ao seu campo de estudo de forma praticamente instantânea. A preocupação com responsabilidades sociais da ciência, que segundo Morin (2003, p.117) se apresentam como uma noção que “escapa aos critérios científicos mínimos que pretendem guiar a distinção do verdadeiro e do falso” e “está entregue as opiniões e convicções [dos pesquisadores]”, aliadas a uma maior disponibilização de acesso à informação e às comunidades, possibilitaram a criação de paradigmas humanistas e sociais de determinados campos. Consoante a isso, a Ciência da Informação é uma disciplina que possui aspectos de ciência pura e aplicada, segundo Borko (1968, p. 3) “Os membros dessa disciplina, dependendo do interesse ou prática, enfatizarão um ou outro aspecto. No âmbito da Ciência da Informação há, portanto, lugar para os teóricos e

para os práticos, e claramente ambos são necessários”. No Brasil, a CI é um campo de estudo em nível de pósgraduação. As pesquisas realizadas nesses cursos são de vital importância para o campo, pois são a união de profissionais da área com universidades de referência, resultando em trabalhos científicos de relevância para a sociedade. Dentre tais trabalhos, podemos destacar os trabalhos de colação de grau como as teses de doutorado e as dissertações de mestrado. Ambas são os produtos de duas relações, a primeira ocorre entre o aluno e o curso, diz respeito à capacidade da Instituição de Ensino Superior (IES) de transmitir determinado conhecimento dentro da linha de pesquisa e a capacidade do aluno de absorver tal conhecimento, e tem o intuito de gerar discussões críticas sobre o que foi abordado. A segunda é a relação entre o orientador e o orientando, que, levando sempre em consideração o conhecimento e experiência de cada um, deve respeitar a autonomia de cada parte. Sobre essa segunda relação Severino (2007, p. 234) afirma que “o orientador desempenha o papel de um educador, cuja experiência mais amadurecida interage com a experiência em construção do orientando”, criando assim, um momento de crescimento mútuo. As dissertações buscam criar uma argumentação para a solução de determinado problema e devem abranger elementos teóricos e realidades empíricas. Segundo Severino (2007, p. 2019): a ciência, enquanto conteúdo de conhecimentos, só se processa como resultado da articulação do lógico com o real, da teoria com a realidade. Por isso, uma pesquisa geradora de conhecimento científico, e, consequentemente, uma tese destinada a relatála, deve superar necessariamente o simples levantamento de fatos e coleção de dados, buscando articulálos no nível de uma interpretação teórica.

Dessa forma, há uma necessidade de unir os dados empíricos com a teorização para construir a fundamentação teórica da ciência, Godin & Lima (2010, p. 20) afirmam, sobre esse processo, que “o pesquisador ideal reconhece que são essenciais tanto a reflexão teórica quanto o contato direto ou indireto com o mundo empírico” e ainda que “é esse tipo de trabalho que 'fecunda' a inteligência, a qual se nutre das teorias”. Trabalhos monográficos realizados com essas diretrizes

representam um progresso no seu campo de estudo. Essa relação entre trabalho científico e progresso da área/curso se dá diretamente pela escolha do objeto de pesquisa, ou seja, a temática a ser abordada, a escolha do tema “não deve ser ditada por modismos intelectuais, nem por imposição de professores ou de fontes de financiamento” (GODIN; LIMA, 2010, p.62), a escolha tratase de procedência cronológica e epistemológica a ser apresentada pelo pesquisador. 3 O CAMPO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Existem vários questionamentos a respeito da fundamentação teórica da Ciência da Informação, todos os estudos acerca desses fundamentos dissertam sobre a interdisciplinaridade do objeto de estudo dessa ciência que é a informação. A CI teve a sua gênese na revolução científica e técnica da Segunda Guerra Mundial. Muitos autores afirmam que seu surgimento ocorreu por influências de duas disciplinas: a Documentação, que deu novas conceituações aos objetos de estudo nessa área; e a Recuperação da Informação, que proporcionou mecanismos tecnológicos avançados para a recuperação informacional. No pósguerra, o interesse da população em conhecer e aprender sobre a ciência e as tecnologias foi ganhando grande proporção, que fez com que surgissem novos tipos de conhecimentos e ocasionasse a explosão informacional, também conhecida como explosão de documentos. Porém, com isso uma problemática surgiu: Como tornar acessível toda essa produção de documentos informacionais que crescia a cada dia?. Com a junção de atividades informacionais e a soma de esforços para solucionar problemas de disseminação da informação, criouse a Ciência da Informação, como sendo: [...] um campo dedicado a questões científicas e à prática profissional, voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de registros de conhecimento entre seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais. (SARACEVIC, 1996, p. 47).

O empreendimento de tal disciplina construiu uma verdadeira “comunidade científica”, com o desenvolvimento não apenas de cursos especializados na área, mas também de tecnologias de comunicação científica e instituições voltadas a atividades informacionais. Dentre elas: a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência E Cultura (UNESCO), Vserosiisky Institut Nachnoi I Tekhnichesloy Informatsii (VINITI), International Federation for Information and Documentation(FID) e o American Documentation Institute(ADI). Em 1968 os pesquisadores do American Documentation Institute (Instituto Americano de Documentação) decidiram renomear o instituto para American Society

for

Information

Science

(Sociedade

Americana

de

Ciência

da

Informação). Essa mudança criou a necessidade de difundir qual seria a definição da ainda recente disciplina Ciência da Informação. Para realizar tal tarefa Harold Borko, teórico da área, escreveu um artigo publicado na revista American Documentation buscando um consenso sobre a identidade do campo. Borko (1968, p. 1) define a Ciência da Informação como uma disciplina que “investiga as propriedades e o comportamento informacional, as forças que governam os fluxos de informação, e os significados do processamento da informação, visando à acessibilidade e a usabilidade ótima”, numa preocupação com o conhecimento da origem, armazenamento, recuperação, transmissão e utilização da informação. O autor afirma que a ênfase dos trabalhos realizados pelo American Documentation Institute não foi alterada com a renomeação, houve apenas uma ampliação do contexto em que o instituto estaria inserido. Criouse com isso uma relação entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação baseada em trocas mútuas de estudos, técnicas e procedimentos. Segundo o autor, essa relação se dá no sentido de que o trabalho agora está inserido em um contexto maior. A Biblioteconomia e a Documentação aplicam aspectos [...] As técnicas e os procedimentos usados pela Ciência da Informação. As técnicas e os procedimentos usados por bibliotecários e documentalistas são ou

deveriam ser baseados nos resultados teóricos da Ciência da Informação, e em contrapartida, os teóricos deveriam estudar as técnicas e os procedimentos aplicados na profissão. (BORKO, 1968, p. 2).

Portanto, a Ciência da Informação está inteiramente ligada à Biblioteconomia e à Documentação. Todavia, fazse necessário acrescentar a Arquivologia e a Museologia nessa relação. Em verdade, os primeiros relatos acerca do que seria a CI continham uma crítica aos bibliotecários, arquivistas e museólogos que focavam suas atividades na custódia das obras, ignorando necessidades de seus usuários. De acordo com o autor, “Foi nessa direção, querendo se tornar uma outra coisa que não a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia desse período, que se construiu o empreendimento da CI” (ARAUJO, 2014, p. 3). Consoante ao exposto, Freire (2010, p. 50) afirma que “foram as necessidades de comunicação dos 'trabalhos científicos' que criaram as condições para a emergência dos 'trabalhos científicos informativos' ”. Portanto, a Ciência da Informação nasceu como uma resposta a uma demanda informacional que se formou da junção de grandes quantidades de documentos à serem registrados num controle bibliográfico em níveis regional, nacional e global; pesquisadores em busca de informação; e estudos de como as informações podem ser recuperadas e assimiladas. Hjørland (2000), teórico do campo, dividiu as disciplinas da Ciência da Informação em quatro áreas: especialistas em formatos (catalogação, biometria, sistemas de bibliotecas,etc); generalistas em formatos (estatística, tecnologia da informação, gestão, etc); especialistas em conteúdo (bibliografia, referência e classificação de determinada área) e generalistas em conteúdo (teoria cultural, literatura de área, teoria da ciência e da comunicação, etc). 3.1 HISTÓRICO DOS CURSOS DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL O primeiro curso de Biblioteconomia surgiu em 1970 pelo Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Antes do surgimento do mestrado em Ciência da

Informação o IBBD desenvolvia algumas atividades como pesquisas bibliográficas que de acordo com Sousa (apud SOUSA e RIBEIRO 2009, p. 83) esse curso “incluía em seu currículo conteúdos que não eram ministrados nas escolas de graduação, tais como bibliografia especializada, normalização da documentação, mecanização dos serviços técnicos e outros”, fazendo com que pessoas de outras áreas além da área biblioteconômica se interessassem e se preocupasse com a gestão da informação. Em 1972 o IBBD criou a revista Ciência da Informação (CI) que incentivou o desenvolvimento de pesquisa na área de CI no Brasil, proporcionando aos mestrandos divulgarem suas pesquisas, ideias e projetos. Em 1973 segundo SOUSA (2012), para contribuir com o desenvolvimento de pesquisa na área de Ciência da Informação, o curso recebeu alguns especialistas estrangeiros que foram convidados para ministrarem disciplinas como professores visitantes. Dentre eles, Tefko Saracevic, Bert Rou Boyce e Frederick W. Lancaster, que com suas contribuições proporcionaram uma mudança no cenário brasileiro na área da Biblioteconomia e Ciência de Informação. Assim, novos conhecimentos e procedimentos metodológicos de bibliometria, construção de tesauros, recuperação, disseminação, transferência da informação, análise de citações foram sendo multiplicados pelos egressos da pósgraduação, que vindos de diversas partes do Brasil, estavam voltando às suas instituições de origem tanto como docentes quanto como profissionais. Portanto, uma cadeia de transmissão/reprodução de novas ideias entre os pósgraduandos e a comunidade geral bibliotecária estaria se procedendo e causando mudanças de mentalidade, como declara Sousa (apud MACEDO, 1987, p. 132). Com isso, as universidades e os departamentos começaram a criar mestrados na área de CI, como a Universidade do Estado de São Paulo, as Universidades Federais de Minas Gerais, de Brasília, da Paraíba e a Pontifica Universidade católica de Campinas. Entre os anos de 1978 e 1998 o único estado do nordeste brasileiro que possuía mestrado na área da CI era a Paraíba. Posteriormente, na década de 1990, foi implantada a PósGraduação em Ciência da Informação no estado da Bahia, como afirma SOUSA (apudSilva, 2009).

Em 1989 foi criada a Associação Nacional em Ciência da Informação (ANCIB) que proporciona o diálogo entre temas relacionados a CI através do (ENANCIB) que é o Encontro Nacional de Pesquisa da ANCIB, para estimular as pesquisas de PósGraduação em Ciência da Informação no Brasil. As linhas de pesquisa do mestrado em CI, desde 1970, vêm se modificando de acordo com as condições sociais, econômicas, políticas e históricas do local no qual a instituição que oferece o mestrado está localizada. Houve dois momentos do início da PósGraduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil. Segundo SOUSA (2012) no primeiro momento ele era voltado para uma perspectiva mais tecnicista das funções e práticas do bibliotecário. Já no segundo momento surgiu a preocupação com o acesso ao saber, com uma forte tendência para abordar a temática da biblioteca pública, o gerenciamento de bibliotecas e os sistemas de recuperação da informação com a informática, segundo (SOUSA apud Silva, 2009). A PósGraduação em Ciência da Informação é classificada, segundo a CAPES, na área das Ciências Sociais Aplicadas I. De acordo seu sistema, o Brasil conta com onze Programas de Mestrado Acadêmico em CI. Com isso, observase que as linhas de pesquisa desenvolvem o processo de investigação científica, através de projetos de pesquisa de docentes e, consequentemente, das dissertações e teses que orientam, (SOUSA apud SOUZA; STUMPF, 2009, p. 52). 3.2 A PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO A Ciência da Informação é um campo de pesquisa que estuda dentre as várias vertentes teóricas

o desenvolvimento de sistemas de classificação e

indexação, a eficácia e qualidade de diferentes bancos de dados, a eficácia de sistemas de classificação, além das necessidades informacionais e a criação de fontes de informação nos diferentes campos do conhecimento, gerando um amplo leque de opções e problemáticas a serem trabalhadas como objeto de pesquisa. Para Birger Hjørland, problemas a serem pesquisados podem ser formulados de acordo com as diferentes disciplinas e abordagens teóricas do campo e em CI: [...] estão inclusas […]: Comunicação; Conceitos e significados (semântica); Documentos/Textos, recuperação de Documento/texto;

Áreas (do conhecimento), disciplinas; Informação, tecnologia da informação (TI), sistemas de informação, busca da informação, recuperação da informação; Conhecimento, representação do conhecimento; Literatura, (literatura de áreas específicas); Mídia; “Instituições de memória” (bibliotecas, arquivos, museus, etc); Relevância; Usuários. (2000, p. 515).

Além das categorias mencionadas, o autor ainda elenca sub áreas da Ciência da Informação: Técnicas de busca em banco de dados eletrônicos e na internet; armazenamento e recuperação multimídia; informetrics [estudo dos aspectos qualitativos da informação]; comunicação científica; automação de bibliotecas, bibliotecas digitais; estudos de usuários; história das bibliotecas; especialistas em assuntos, ex: bibliotecário de música – (todas as sub áreas da CI podem ser também abordadas sob uma perspectiva de um campo específico do conhecimento); etc. (2000, p. 517).

Com o exposto se vê que a Ciência da Informação é um campo de estudos amplo, as pesquisas na área podem variar de revisões teóricas dos fundamentos de suas disciplinas a pesquisas práticas de implantação de sistemas de informação e análise de usuários em determinados lugares (bibliotecas, museus ou arquivos) ou a determinados campos do conhecimento (engenharia, música, química, etc), facilitando uma comunicação informacional efetiva entre produtores e usuários da informação. 4 METODOLOGIA DA PESQUISA A pesquisa é de natureza descritiva com abordagem quantiqualitativa, com base na análise documental para obtenção de dados quantitativos e qualitativos. Realizouse então, a identificação temática das dissertações divulgadas pelos programas de pósgraduação em Ciência da Informação das universidades federais da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco, através de análise dos títulos, resumos e palavraschave das referidas dissertações. As dissertações foram recuperadas em sistemas de divulgação como repositórios digitais e catálogos eletrônicos das bibliotecas das referidas instituições. A análise documental foi realizada através dos seguintes processos: (I) identificação de temáticas em títulos, resumos e palavraschave; (II) levantando do

número de dissertações por ano e total; (III) organização das dissertações em quadros por temática; (IV) e organização das dissertações em quadro por grupos temáticos. A classificação temática utilizada na organização das dissertações segundo o processo III foi realizada segundo o vocabulário controlado “Tesauro em ciência da informação” (TCI), abordagem semelhante à utilizada por Souza. Segundo a autora: A utilização do TCI justificase por ser esse um meio de representação da informação. Ele possibilita a descrição de um documento a partir de palavraschave, expondo qual o assunto abordado, com o objetivo de representar – com essa expressão – todo o seu conteúdo. (SOUZA, 2012, p. 76).

A autora elencou, segundo o TCI as temáticas pertinentes à estudos em Ciência da Informação, nos quais mostramos no quadro a seguir. QUADRO 1:Classificação temática utilizada para a organização das dissertações no processo III de análise documental. Acesso à informação

Gerenciamento da informação

Políticas de informação

Representação da Indexação

informação

Epistemologia da Estudo de usuário

Tecnologia da informação

Estudos sociais

Ciência da Informação

Memória

Produção da informação

Patrimônio cultural

Arquivo

Conhecimento Competência informacional

Fonte: adaptado de Souza (2012).

Já na organização que se refere o processo IV da análise documental, foram utilizados os grupos temáticos utilizados pela Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Ciência da Informação (ANCIB) pra classificação de temáticas de pesquisas em grupos. A utilização dessa classificação se justifica pelo fato de que os grupos temáticos definidos pela ANCIB já estão devidamente solidificados na comunidade científica e servem de base para a criação de novas classificações em eventos científicos por todo o país que as adaptam para melhor servir aos objetivos de cada evento. FIGURA 1:Grupos temáticos (GTs) definidos pela Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Ciência da Informação.

Fonte: ANCIB http://gtancib.fci.unb.br/

Os resultados obtidos pela presente pesquisa serão organizados em quadros que acompanham breves comentários para melhor análise por parte do leitor. 5 ANÁLISE DE DADOS O presente estudo somou um total de 101 dissertações, divididas entre os três programas de pósgraduação envolvidos na pesquisa. Segue a análise das dissertações de cada um deles utilizando das metodologias de apresentação e organização supracitadas. 5.1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Foram encontradas 48 dissertações dos egressos do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) do período de 2011 a 2013. Para esse levantamento, utilizouse ferramentas de comunicação científica em meios digitais e impressos, como o Repositório Eletrônico Institucional da UFPB e o Catálogo de Dissertações do PPGCI/UFPB, que elenca todas as dissertações defendidas na instituição no período de 1980 a 2013, abrangendo as duas linhas de pesquisa em Ciência da Informação da instituição que são: Memória, organização, acesso e uso da informação; e Ética, gestão e politicas de informação. Através dos títulos, resumos e palavraschave, analisouse primeiramente a temática principal de cada dissertação. O GRÁFICO 1 mostra os resultados obtidos.

GRÁFICO 1:Distribuição das dissertações do PPGCI/UFPB por temática.

Fonte: elaboração própria (2015).

A temática que se mostrou mais abordada no triênio 2011 a 2013 no PPGCI/UFPB, segundo os dados levantados, foi “acesso à informação”, que totalizou 18% das dissertações estudadas. Em seguida vieram “Estudo de usuário” com 16%, “Memória” e “Gerenciamento da Informação” com 16% cada. As temáticas menos abordadas pelas dissertações do PPGCI/UFPB no período estudado foram “Representação da informação”, “Conhecimento” e “Competência informacional”, que somaram 2% cada. ““Tecnologia da informação”, “Produção da informação” e Políticas da informação” somaram 6% cada. As temáticas “Estudos sociais”, “Patrimônio cultura”, “Indexação”, “Epistemologia da CI” e “Arquivo” somaram 4% cada. A concentração de 44% das dissertações nas temáticas de acesso e gerenciamento da informação e de estudo de usuário, pode mostrar uma preocupação, por parte dos egressos e seus orientadores, de que na cidade de João Pessoa, e talvez no estado da Paraíba, os profissionais da informação estejam bastante preocupados com as necessidades dos usuários de suas unidades informacionais. Em harmonia à tal entendimento, houve um baixo índice de abordagens das dissertações nas temáticas de indexação e representação da informação, que juntas somaram apenas 6% dos estudos, o que pode mostrar uma baixa preocupação por parte dos egressos e orientadores, com relação a qualidade dos sistemas de busca

e recuperação da informação empregados nas unidades informacionais. Classificando as dissertações pelos GTs da Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Ciência da Informação, alcançouse resultado semelhante, pois o grupo temático “Mediação, circulação e apropriação da informação” (GT3), foi o grupo temático com maior número de dissertações, somando 21%. Enquanto o grupo temático “Organização e representação do conhecimento” (GT2) somou apenas 8% das dissertações, como mostra o GRÁFICO 2. GRÁFICO 2:Distribuição de dissertações do PPGCI/UFPB por grupos temáticos da ANCIB.

Fonte: elaboração própria (2015).

Destacase que as temáticas “acesso à informação” e “estudo de usuários” se complementam e estão subordinadas a “Mediação, circulação e apropriação da informação” (GT3) e a predominância dessas temáticas justifica a maior ocorrência de dissertações no GT3. Sublinhase que os resultados obtidos através da classificação por GT’s, corrobora com o anterior, podendo significar a existência de maior interesse em produzir pesquisa e conhecimento sobre o paradigma social da CI, com ênfase nas necessidades de informação por parte dos usuários em unidades informacionais. Apresentando, deste modo, constantes atualizações teóricas e práticas neste campo fazendo com o Programa tenha uma relevância maior nesse tipo de pesquisa. 5.2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Foram encontradas 28 dissertações dos egressos do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) do período de 2011 a 2013, abrangendo as duas linhas de pesquisa do Programa: Políticas e tecnologias da informação; e Produção, circulação e mediação da informação. Para esse levantamento, utilizouse ferramentas de comunicação científica em meios digitais, como o Repositório Eletrônico Institucional da UFBA , que disponibiliza as dissertações na internet, gratuitamente, para acesso ao público em geral. Através dos títulos, resumo e palavraschave analisaramse primeiramente as principais temáticas de cada dissertação, e classificouse cada uma delas na temática que se mostrou proeminente. O GRÁFICO 3 mostra os resultados obtidos.

GRÁFICO 3:Distribuição das dissertações do PPGCI/UFBA por temática

Fonte: elaboração própria (2015).

Analisando o gráfico, podemos concluir que a temática mais abordada entre os anos 2011 a 2013 foi a de Competência Informacional, que totalizou 18% de todos os trabalhos analisados. Em seguida, as temáticas de Acesso à informação, com 14%, e Gerenciamento da informação, Estudo do usuário, Políticas de Informação e produção da informação que somam 11% cada. As

temáticas

menos

abordadas

somaram

4%

cada,

que

foram

Representação da Informação, Arquivo, Epistemologia da CI e Indexação. A temática de Estudos Sociais somou 7% de todos os trabalhos analisados. Tais informações permitem concluir que os egressos do PPGCI da UFBA sentem a necessidade de tornar proeminente o tema da competência informacional, visto que essa preocupação pode ser motivada, talvez, por ser esse um dos problemas mais comuns a egressos que ingressam no mercado de trabalho. Todos os trabalhos também foram classificados dentro dos grupos temáticos da ANCIB. O gráfico a seguir mostra a porcentagem dos trabalhos que se encaixaram nos grupos.

GRÁFICO 4:Distribuição das dissertações do PPGCI/UFBA por grupos temáticos

Fonte: elaboração própria (2015).

Observase a predominância do GT3 “Mediação, Circulação e Apropriação da informação”, com 36% do total de trabalho analisados. As menos abordadas, somando 4% cada, foram os GTs 11, 10, 8 e 1, respectivamente “Informação e Saúde”, “Informação e Memória”, “Informação e Tecnologia” e “Estudos Históricos e Epistemológicos da CI”. O resultado obtido com a distribuição por GT’s corrobora com a análise anterior, indicando a proeminência de estudos voltados ao desenvolvimento dos usuários. Destacase a grande ocorrência de dissertações na temática “competência informacional”, como um amplo indício do Programa em produzir conhecimento embasado na construção dos perfis técnico e científico no qual os estudantes estão sendo formados, e que influência diretamente nas características profissionais que estão sendo direcionados ao mercado de trabalho.

5.3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Foram encontradas 25 dissertações dos egressos do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) do período de 2011 a 2013. Para esse levantamento, utilizaramse ferramentas de comunicação científica em meios digitais, como o

Repositório Eletrônico Institucional da UFPE que disponibiliza as dissertações na internet, gratuitamente, para o acesso ao público em geral. Através dos títulos, resumo, e das palavraschave analisouse primeiramente as principais temáticas de cada dissertação, e classificouse cada uma delas na temática que se mostrou proeminente. O GRÁFICO 5 mostra os resultados obtidos. GRÁFICO 5:Distribuição das dissertações do PPGCI/UFPE por temática

Fonte: elaboração prórpia (2015).

Analisando o gráfico podemos concluir que a temática mais abordada entre os anos de 2011 a 2013 foi a de Memória, que totalizou 44% de todos os trabalhos analisados. Em seguida veio a temática de Conhecimento com 12%, logo após as temáticas Acesso a informação, Tecnologia da Informação e Indexação com 8% cada, e por fim, as temáticas Gerenciamento da Informação, Representação da Informação, Patrimônio Cultural, Produção de Informação e Políticas de Informação com 4% cada. Tais análises infere que os egressos do PPGCI da UFPE, abordam em suas dissertações a temática Memória tanto no âmbito digital, quanto no ambiente impresso, ou seja, em fotografias, na literatura de cordel, ou até em manifestações culturais, com o intuito de registrar, preservar e guardar a história contida nos documentos para a recuperação da informação. Todos os trabalhos analisados também foram classificados dentro dos grupos temáticos da ANCIB. O gráfico a seguir mostra a classificação desses trabalhos, dos egressos do PPGCI da UFPE, com suas classificações de acordo com os grupos da

ANCIB. GRÁFICO 6: Distribuição das dissertações do PPGCI/UFPE por grupos temáticos

Fonte: elaboração própria (2015).

O grupo temático mais trabalhado no período de 2011 a 2013 pelos egressos do PPGCI da UFPE foi o da Informação e Memória com 28%. Logo em seguida foi o grupo Informação, Educação e Trabalho com 24%, seguidos do grupo Mediação, Circulação e Apropriação da informação com 16%, Informação e Tecnologia com 12%, Museu, Patrimônio e Informação; e Produção, e Comunicação da Informação em Ciência, Tecnologia & Inovação com 8% cada, e por fim, o grupo Informação, Educação e Trabalho com 4%. O resultado obtido na classificação por grupos temáticos fica em consonância com a análise feita anteriormente, por temática. Os trabalhos dos grupos temáticos mostram que há uma preocupação eminente, por parte dos egressos do PPGCI, de que a memória é um tema bastante discutido pelos profissionais da área da ciência da Informação, fazendo com que a maioria de suas produções sejam em torno desta temática. Deste modo, fazendo com que as teorias neste grupo temático sejam (re) construídas

em

realidades

distintas

e

necessárias,

acrescentando

novas

perspectivas a área e ao campo em questão. Deste modo, o referido Programa apresentase como uma das referências em pesquisas que abrangem temas como representação temática e descritiva da informação, vocabulários controlados, tesauros, dentre outros.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de dados mostra que os Programas de PósGraduação em Ciência da Informação das universidades federais da Paraíba e da Bahia apresentam tendências temáticas semelhantes em suas dissertações. Ambas apresentam maiores quantidades de abordagens da temática acesso a informação (18% na UFPB e 14% na UFBA). No caso da UFPB, acesso a informação e estudos de usuários foram as temáticas mais abordadas, mostrando uma predominância da linha de pesquisa Memória, organização, acesso e uso da informação.No contexto da UFBA, a temática competência informacional (18%) liderou a amostra, seguida por acesso à informação,mostrando uma predominância da linha de pesquisa Produção, circulação e mediação da informação. Contudo, as temáticas mais abordadas nas dissertações do Programa de PósGraduação em Ciência da Informação foram memória, com 44% e conhecimento com 12%. No caso específico da UFPE não foi possível inferir uma predominância de uma das duas linhas pesquisa da instituição, pois ambas têm como foco a temática memória, são elas: Memória da informação científica e tecnológica;e Comunicação e visualização da memória. A análise das 101 dissertações que compuseram a amostra do estudo mostrou uma preocupação dos Programas em abordar temáticas relativas à mediação da informação, ressaltando, que a informação e o usuário continuam como agentes principais nas teorias e práticas pesquisadas. Também foi notório a baixa incidência de dissertações nas temáticas de representação da informação e do conhecimento. Isso pode ser indício de que seja necessário mais pesquisas em torno desta temática, pois, os pesquisadores estão mais propensos em produzir conhecimento sobre os serviços de informação e pouco engajados em produzir pesquisas em busca de aprimoramentos dos sistemas informacionais utilizados no gerenciamento das unidades.

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