Teoria do Inconsciente: Um percurso pelos escritos de Freud

Share Embed


Descrição do Produto

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PRÓ-REITORIA DE ENSINO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Projeto de Ensino

Teoria do Inconsciente: Um percurso pelos escritos de Freud

Prof. José Artur Molina Bolsista: Eduardo Alexandre R. da Silva

Maringá 1998

2

Dedicatória

Aos meus alunos

3

Este texto trata-se de um recorte da obra de Freud para auxiliar aos leitores menos familiarizados na sua leitura solitária da escritura freudiana. Compreende duas partes: a primeira é um passeio por escritos de Freud onde pode-se concluir que de fato ele foi o primeiro estruturalista; a segunda é uma viagem pela metapsicologia. A edição das obras completas de Freud que trabalhamos foi a da Amorrortu Editores, em espanhol. Mas tomamos o cuidado de fazer as devidas traduções através da edição da Imago. De qualquer forma as citações em espanhol encontram-se no final do texto, para se, porventura, houver um leitor mais exigente com a tradução.

4

Sumário

AS FORMAÇÕES DO INCONSCIENTE

6

OS SONHOS

6

AS CONDENSAÇÕES

7

OS DESLOCAMENTOS

8

SONHOS: REALIZAÇÃO DE UM DESEJO INCONSCIENTE

9

A PRIMEIRA TÓPICA

12

A SEGUNDA TÓPICA DO APARELHO PSÍQUICO

14

A REALIDADE DOS CHISTES: O SEM-SENTIDO

18

OS SENTIDOS DO ERRO

23

OS SENTIDOS DO SINTOMA

26

AS VIAS DE FORMAÇÃO DOS SINTOMAS

27

AS HISTERIAS

31

AS NEUROSES OBSESSIVAS

33

AS FOBIAS - NEUROSES DE ANGÚSTIA

37

AS PERVERSÕES

41

O FETICHISMO

41

AS PSICOSES

42

O INCONSCIENTE COMO UMA ESTRUTURA ANÁLOGA À LINGUAGEM

46

FREUD E A LINGÜÍSTICA DE SEU TEMPO

47

ESTRUTURA

50

ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL

58

ÉDIPO: MITO E PASSAGEM

61

A VIA PULSIONAL

63

UMA TEORIA SEXUAL

64

OS OBJETOS DA PULSÃO

64

AS METAS DA PULSÃO SEXUAL

66

COMO ERA EM UM PRINCÍPIO

68

- ORGANIZAÇÕES PRÉ-GENITAIS

68

O NARCISISMO

69

AS VICISSITUDES PULSIONAIS

72

- A REPRESSÃO

77

5

- A SUBLIMAÇÃO

79

O ETERNO RETORNO

83

- DOIS PRINCÍPIOS

83

OS SONHOS DAS NEUROSES TRAUMÁTICAS

84

O FORT-DA

84

A TRANSFERÊNCIA

85

A DUALIDADE PULSIONAL

88

PULSÃO E CULTURA

90

O SENTIMENTO OCEÂNICO

90

CONTROLE PULSIONAL OU FELICIDADE

91

AGRESSIVIDADE

92

CULPA

93

EPÍLOGO

94

BIBLIOGRAFIA

95

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS DA EDIÇÃO ESPANHOLA AMORRORTU

112

6

AS FORMAÇÕES DO INCONSCIENTE Os Sonhos

Os sonhos tem para Freud um verdadeiro status de ato psíquico, ao contrário de muitos teóricos de seu tempo e, até mesmo hoje, no sentido comum das pessoas que o consideram algo próximo a uma bobagem. O que leva a um certo desprezo pelos sonhos é o seu caráter de absurdo, a sua aparência bizarra, a falta de sentido para as imagens e sons oníricos. Freud não se deixa impressionar pelo sentido comum e se aventura no estudo das produções oníricas, resultando na sua “obra magna”: A interpretação dos sonhos (1900). Interpretar um sonho significa indicar o seu sentido, um sentido que subjaz às imagens oníricas. Com isso Freud identificou dois conteúdos presentes nos sonhos: o conteúdo manifesto e o conteúdo latente. O primeiro refere-se ao enredo do sonho e o segundo aos sentidos que vão se decantando através da interpretação.I “Todas as tentativas até hoje feitas de solucionar o problema dos sonhos têm lidado diretamente com seu conteúdo manifesto, tal como se apresenta em nossa memória. Todas essas tentativas esforçam-se para chegar a uma interpretação dos sonhos a partir de seu conteúdo manifesto, ou (quando não havia qualquer tentativa de interpretação) por formar um juízo quanto à natureza deles com base nesse mesmo conteúdo manifesto. Somos os únicos a levar algo mais em conta. Introduzimos uma nova classe de material psíquico entre o conteúdo manifesto dos sonhos e as conclusões de nossa investigação: a saber, seu conteúdo latente, ou (como dizemos) os ‘pensamentos do sonho’, obtidos por meio de nosso método. É desses pensamentos do sonho, e não do conteúdo manifesto de um sonho, que depreendemos seu sentido. Estamos, portanto, diante de uma nova tarefa que não tinha existência prévia, ou seja, a tarefa de investigar as relações entre o conteúdo manifesto dos sonhos e os pensamentos oníricos latentes, e de desvendar os processos pelos quais estes últimos se transformaram naquele.”1

Note que não é o sonho em si que é passível de interpretação, mas sua narrativa. Com isso interpretar um sonho implica uma relação analítica onde o contexto do caso é uma alavanca para iluminar os sentidos

1

A Iinterpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 303.

7

encobertos da produção onírica. Desta forma, um sonho não está definido por elementos simbólicos rígidos e universalmente definidos a exemplo das interpretações dos “sonhos míticos” realizadas pelos oráculos, mas pela situação intrínseca de quem sonha. Por quê os sonhos tem uma aparência bizarra? É preciso considerar que as imagens oníricas são produções típicas do inconsciente e, conseqüentemente, estão “escritos” na linguagem que lhe é peculiar, isto é, estão de acordo com a lógica inconsciente. A sintaxe inconsciente responde às associações comandadas pelos dois mecanismos básicos: as condensações e os deslocamentos.

As Condensações

O relato de um sonho, normalmente, é lacônico, sucinto mas quando se empreende a tarefa de buscar os seus sentidos verifica-se que, desta feita, ele se torna extenso. É como quem está diante de um novelo de lã. A primeira vista ele aparece compacto mas ao puxar o fio um enorme emaranhado resulta. Por obra das condensações o mesmo acontece com os sonhos. Vamos ver como isso ocorre. Na noite do dia 23/24 de julho de 1895, Freud teve um sonho que se transformou em um sonho paradigmático. O sonho de Irma:II “Um grande salão  numerosos convidados a quem estávamos recebendo.  Entre eles estava Irma. No mesmo instante, puxei-a de lado, como que para responder a sua carta e repreendê-la por não ter ainda aceitado minha ‘solução’. Disse-lhe: ‘Se você ainda sente dores, é realmente apenas por culpa sua.’ Respondeu ela: ‘Ah ! se o senhor pudesse imaginar as dores que sinto agora na garganta, no estômago e no abdômen...  isto está me sufocando.’  Fiquei alarmado e olhei para ela. Parecia pálida e inchada. Pensei comigo mesmo que, afinal de contas, devia estar deixando de perceber algum distúrbio orgânico. Levei-a até a janela e examinei-lhe a garganta, e ela deu mostras de resistências, como fazem as mulheres com dentaduras postiças. Pensei comigo mesmo que realmente não havia necessidade de ela fazer aquilo.  Em seguida, ela abriu a boca como devia e, no lado direito, descobri uma grande placa branca; em outro lugar, vi extensas crostas cinza-esbranquiçadas sobre algumas notáveis estruturas recurvadas, que tinham evidentemente por modelo os ossos turbinados do nariz .  Chamei imediatamente o Dr. M, e ele repetiu o exame e o confirmou... O Dr. M. Tinha uma aparência muito diferente da habitual; estava

8

muito pálido, claudicava e tinha o queixo escanhoado... Meu amigo Otto estava também agora de pé ao lado dela, e meu amigo Leopold a auscutava através do corpete e dizia: ‘Ela tem uma área surda bem embaixo, à esquerda.’ Indicou também que parte da pele do ombro esquerdo estava infiltrada. (Notei isso, tal como ele fizera, apenas do vestido.)... M. disse: ‘Não há dúvida de que é uma infecção, mas não tem importância; sobrevirá uma disenteria, e a toxina será eliminada’... Tivemos também pronta consciência da origem da infecção. Não muito antes, quando ela não estava se sentindo bem, meu amigo Otto lhe aplicara uma injeção de um preparado de propil, propilos... ácido propiônico... (e eu via diante mim a fórmula desse preparado, impressa em grossos caracteres)... Injeções como essas não deveriam ser aplicadas de forma tão impensada... E, provavelmente, a seringa não estava limpa.2”

O relato deste sonho, como se pode observar, não ocupa mais de uma página. Entretanto, na análise que Freud faz dele, 10 páginas são utilizadas para 28 pontos de análise. É evidente que não nos ocuparemos da análise integral deste sonho. Convido-o, leitor, se ainda não o fez, que leia esta interessante passagem no texto de Freud, seguindo as referências bibliográficas indicadas. Para nosso objetivo, neste momento, me contentarei em mostrar um ponto de análise deste sonho de Irma para que possamos ilustrar como operam as condensações.III “O Dr. M. estava pálido, tinha o queixo bem escanhoado e claudicava ao andar.”3 Com efeito a saúde do doutor M. inspirava preocupações a Freud, contudo, a ausência da barba e a dificuldade de andar são de outra pessoa. Freud sugere que esta outra pessoa seja seu irmão que vivia no estrangeiro: sem barba e com uma artrite que só o permitia andar mancando. Portanto, as figuras do doutor M. e do irmão de Freud aparecem neste sonho condensadas. Qual a razão? Freud andava magoado com os dois posto que haviam recusado uma “certa proposta” feita por ele.

Os Deslocamentos

A oposição feita por Freud entre os conteúdos manifesto e latente evidencia que os sonhos guardam em sua natureza um deslocamento por excelência: as imagens oníricas não revelam de forma clara quais são os “pensamentos oníricos” neles implícitos.IV “Via-se que os elementos que se destacam como os principais componentes do conteúdo manifesto do sonho estão longe de desempenhar o mesmo papel nos pensamentos do sonho. E, como corolário, afirmar o inverso dessa asserção: o 2 3

A Iinterpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 141 - 142. A Iinterpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 146.

9

que é claramente a essência dos pensamentos do sonho não precisa, de modo algum, ser representado no sonho. O sonho tem, por assim dizer, uma centração diferente dos pensamentos oníricos  seu conteúdo tem elementos diferentes como ponto central.”4

O sonho da “monografia botânica5” de Freud está centrado no tema botânica, mas após sua análise revela-se que o intuito desta produção onírica era muito diferente do que poderia supor um observador apressado: conflitos profissionais e sacrifícios exagerados que Freud impõe a seus deleites. Apesar de todos os esforços no sentido de interpretar os sonhos e trazer a luz o seu conteúdo latente, esta tarefa jamais poderá ser esgotada. Com efeito, sempre ficará uma parte indecifrável. Freud a denominou “o umbigo dos sonhos”: a fronteira com o desconhecido, o mistério. V “Mesmo no sonho mais minuciosamente interpretado, é freqüente haver um trecho que tem de ser deixado na obscuridade; é que, durante o trabalho de interpretação, apercebemo-nos de que há nesse ponto um emaranhado de pensamentos oníricos que não se deixa desenredar e que, além disso, nada acrescenta a nosso conhecimento do conteúdo do sonho. Esse é o umbigo do sonho, o ponto onde ele mergulha no desconhecido.”6 Lugar da pura função do desejo?, desejo sempre de outra coisa. Mas qual é o papel do desejo nos sonhos?

Sonhos: Realização de um Desejo Inconsciente

Todos os atos psíquicos respondem a um fim específico, inclusive àqueles aos quais não se atribui a mais mínima relevância. Nada é por acaso. Com efeito, Freud admite como princípio básico da psicanálise o determinismo psíquico. Todas as nossas ações, atitudes, conscientes e inconscientes estão determinadas. A base desta determinação é o desejo. Há ocasiões em que o sonho revela claramente qual é o desejo que está vigênciaVI. “Se à noite eu comer anchovas ou azeitonas, ou qualquer outro alimento muito salgado, ficarei com sede de madrugada, e a sede me acordará. Mas meu despertar será precedido por um sonho, sempre com o mesmo conteúdo, ou seja, o de que estou bebendo. Sonho estar engolindo água em grandes goles, e ela tem 4

A Iinterpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 331. A Interpretação dos Sonhos — 1900. vol.4, pg 200-e subs. Leitura imprescindível ! 6 A Interpretação dos Sonhos — 1900. vol. 5 pg. 556. 5

10

delicioso sabor que nada senão uma bebida fresca pode igualar quando se está queimando de sede. Então acordo e tenho que tomar uma bebida de verdade.”7 Outros exemplos deste tipo seriam os sonhos eróticos, de fome, de vontade de urinar. Freud denominou a estas produções oníricas de “sonhos de comodidade”, inferindo que o primeiro desejo em questão é o de dormir. De modo que se alguma necessidade desta ordem se faz presente, o sonho será dirigido de forma tal que se possa retardar o despertar, produzindo imagens de que, com efeito, elas estão sendo satisfeitas. Em contrapartida, a maioria dos sonhos mascara o desejo que está em jogo. Neste sentido é necessário a interpretação para trazê-lo a luz. Como um pesadelo pode guardar um desejo que se realiza? E os sonhos de angústia? E os de punição? Só poderemos resolver estas questões recorrendo aos exemplos do mestre. No sonho de Irma, alguns desejos de Freud foram realizados como a sua isenção de culpa no caso e a atribuição desta a Otto; Irma, que não aceita a “solução”, é trocada por uma paciente mais “dócil”, inteligente e obediente; A doença de Irma foi causada por uma injeção “suja” aplicada por Otto; O fato de Irma ter ficado viúva é a causa de seus males; O doutor M. não é poupado com o comentário ignorante de que após uma desinteria tudo será resolvido. Uma paciente de Freud, querendo demonstrar que nem todos os sonhos são realização de desejos, apresenta o seguinte relato:VII “‘Eu queria oferecer uma ceia, mas não tinha nada em casa além de um pequeno salmão defumado. Pensei em sair e comprar alguma coisa, mas então me lembrei que era domingo à tarde e que todas as lojas estariam fechadas. Em seguida, tentei telefonar para alguns fornecedores, mas o telefone estava com defeito. Assim, tive de abandonar meu desejo de oferecer uma ceia.’”8

Qual é o desejo realizado neste sonho? O marido desta paciente tem grande admiração por uma amiga dela. É verdade que o marido prefere mulheres gordinhas e esta amiga é muito magra. Ela já manifestou que deseja engordar e, inclusive, exortou à paciente de Freud que fizesse um banquete, posto que nestas ocasiões é possível adquirir mais peso. Há de se acrescentar que o prato predileto desta mulher é o

7 8

A Interpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 158. A Interpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 181.

11

salmão defumado. Torna-se evidente que o desejo da mulher enciumada é a de não servir banquetes a fim de não engordar mulheres que possam lançar mão de seu maridoVIII. “Um sonho de natureza mais sombria foi também apresentado contra mim por uma paciente como objeção à teoria dos sonhos de desejo. A paciente, um9 moça de pouca idade, assim começou: ‘Como o senhor deve estar lembrado, minha irmã só tem agora um menino  Karl; ela perdeu o filho mais velho, Otto, quando ainda morava com ela. Otto era meu favorito; de certa forma, eu o criei. Também gosto do menorzinho, mas, é claro, nem de longe tanto quanto gostava do que morreu. Então, ontem à noite, sonhei que via Karl morto diante de mim. Estava deitado em seu caixãozinho, com as mãos postas e velas a seu redor  de fato, exatamente como o pequeno Otto, cuja morte foi um golpe tão forte para mim. Agora me diga: que pode significar isso ? O senhor me conhece. Será que sou uma pessoa tão má a ponto de desejar que minha irmã perca o único filho que ainda tem ? Ou será que o sonho significa que eu preferiria que Karl estivesse morto, em vez de Otto, de quem eu gostava muito mais ?’”10

Freud não considera correta esta interpretação. No dia anterior a este sonho, a paciente contou a Freud que um homem pelo qual ela guardava uma paixão impossível, estaria presente num concerto que, evidentemente, ela também iria pois não abdicaria da possibilidade de vê-lo. Este homem freqüentava a casa de sua irmã, com quem morava. Mas deixou de frequenta-lá já havia muito tempo, exceção feita, ao dia do velório de seu sobrinho Otto. Desta forma Freud conclui:IX “‘Se o outro menino morresse agora, aconteceria a mesma coisa. Você passaria o dia com sua irmã, e o Professor certamente viria apresentar seus pêsames, de modo que você o veria mais uma vez nas mesmas condições que na outra ocasião.’”11

Está determinada a essência dos sonhos:X “(...) O sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo (suprimido ou recalcado).’”12

9

Transcrição literal da edição em português. A Interpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 186 11 A Interpretação dos Sonhos  1900. vol.4, pg. 187. 12 A Interpretação dos Sonhos  1900. vol.4,pg. 193. 10

12

A Primeira Tópica

O capítulo VII da “Interpretação dos Sonhos” (1900) se constitui no mais importante de toda esta obra uma vez que Freud faz a primeira proposta tópica (lugar) do aparelho psíquico. Este seria um sistema composto por quatro subsistemas: perceptivo(P)-inconsciente(Icc)-pré-consciente(Prcc)-consciente(Cc). Freud parte de uma noção “tradicional” da teoria da percepção, fazendo uma relação entre aquilo que se percebe e a conseqüência motora como efeito do percebido. Esta relação é clara quando nos referimos ao arco reflexo do tipo reflexo pupilar: estímulo-luz (P)>contração pupilar (M). Ou seja, P----Motor. Freud apenas parte deste eixo P-M, posto que agregará a este sistema o Icc e o Prcc. Isto significa que entre o subsistema P e o Cc estariam os subsistemas Icc e o Prcc:

P-----------------------Icc---------------------------Prcc--------------------------Cc

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> Movimento progressivo

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.