Teoria e Metodologia da História (Pós-Grad.), 2016-2

Share Embed


Descrição do Produto

Programa de Pós-Graduação em História

Teoria e Metodologia da História Mestrado, quartas-feiras, 14h-18h

Arthur Alfaix Assis [email protected]

A proposta do curso é acessar um conjunto de temas e debates teóricos e metodológicos relacionados ao conceito de história e à prática dos historiadores. O objetivo é fomentar a reflexão sobre o valor do conhecimento histórico acadêmico, sobre algumas das suas características fundamentais, potenciais e limites. O curso não tem, nem pode ter, a pretensão de dar conta de todos os debates teóricos e metodológicos clássicos e atuais relevantes. É, no entanto, relativamente abrangente, cobrindo, por exemplo, as seguintes palavras-chave: história da historiografia do séc. 19, memória, a autoridade do historiador, ética profissional, ficção, narratividade, objetividade, subjetividade. As quatro unidades temáticas são relativamente autônomas, mas, à exceção da primeira, em cada uma delas os problemas discutidos estão encadeados de modo mais ou menos sequencial. A primeira trata de temas internos ao campo historiográfico: a evolução da relação entre o conceito de história e a prática historiográfica de 1750 em diante; e as transformações ocorridas no pensamento histórico ao longo do séc. 19, além de certas mitificações que as acompanharam. A segunda unidade diz respeito à relação entre os historiadores profissionais e meios alternativos, complementares ou concorrentes de explorar o que se pode chamar de o domínio do “histórico”. Aqui será importante pensar se a história pode abrigar formas de conhecimento prático e em que medida tais formas se relacionam com veículos não acadêmicos, como a historiografia popular, o romance histórico e outras formas de escrita situadas em pontos variáveis da escala que vai do “ficional” ao “factual”. O pano de fundo aqui é o já clássico problema da relação entre história e memória. A terceira unidade gira em torno da representação da realidade pela historiografia, com foco em discussões sobre ficcionalidade e narratividade. Lançando mão de uma noção atenuada de ficção, pode-se dizer que aqui se tratará dos aspectos que aproximam e distanciam narrativas ficcionais de narrativas factuais (como as dos historiadores). Embora esteja ancorada na literatura sobre a história, manifestações semelhantes dessa relação fato-ficção são facilmente encontráveis em outros campos acadêmicos e

Programa de Pós-Graduação em História

práticas intelectuais que dependem do recurso à narrativização para a abordagem da realidade: no jornalismo, na análise política, em certas vertentes da antropologia, da economia e da sociologia, etc. Aplicações semelhantes a outras áreas também podem ser derivadas da problemática a ser tratada na quarta unidade, que abordará a relação pouco explorada entre metodologia e ética profissional, na pesquisa e na escrita da história. À luz de uma perspectiva centrada na interface entre ética e epistemologia, vai-se revisitar aqui o problema da objetividade. O curso apoiar-se-á fortemente na leitura e discussão de textos e os textos selecionados apresentam, em geral, alto nível de dificuldade. A grande maioria da literatura básica do curso está em língua inglesa, mesmo que, sempre que possível, eu tenha tentado encontrar textos em português que se encaixassem na proposta. O curso vale como disciplina obrigatória do curso de mestrado em História da UnB. Está, no entanto, aberto à participação de estudantes de pós-graduação de áreas afins e\ou de outras universidades.

Regime de avaliação

A menção final será definida de acordo com o seu desempenho em diferentes procedimentos avaliativos: •

40% da menção final corresponderá à nota de participação;



60% da menção final corresponderá à nota obtida no trabalho final.

A nota de participação avaliará o seu envolvimento geral com o curso. Os critérios dessa avaliação são: presença às aulas, participação nas discussões, e leitura dos textos. O desempenho como comentador(a) dos textos indicados também contará fortemente para a nota de participação. O trabalho final deve consistir de um ensaio de cerca de 3.500 palavras sobre um dos temas discutidos no curso. O ensaio deve explorar, pelo menos, cinco dos textos lidos ao longo do curso, além de mais cinco outros textos acadêmicos pertinentes que não constem da bibliografia obrigatória e que você deve encontrar por si só. Escreva o trabalho com calma, ao longo do semestre, e antes de o entregar faça uma boa revisão, de preferência com a ajuda de colegas. Convém lembrar que, em situações de plágio a nota do trabalho será zero. Plágio configura-se quando alguém apresenta como suas ideias ou passagens que na verdade foram desenvolvidas ou escritas por outrem.

Programa de Pós-Graduação em História

Leituras obrigatórias

1. Questões fundamentais de história da história

Koselleck, Reinhart. “A configuração do moderno conceito de História”; “‘História como conceito-mestre moderno”, in: Koselleck et al. O conceito de história, Belo Horizonte: Autêntica, 2013, 119-225. Assis, Arthur Alfaix & Mata, Sérgio da. “Prefácio – O conceito de história e o lugar dos Geschichtliche Grundbegriffe na história da história dos conceitos”, in: Koselleck et al. O conceito de história, Belo Horizonte: Autêntica, 2013, 9-34 [Disponível no Research Gate] Bentley, Michael. “The Turn towards ‘Science’: Historians Delivering Untheorized Truth”, in: The SAGE Handbook of Historical Theory (org. Nancy Partner & Sarah Foot), London: SAGE, 2013, 1022 [Disponível na BCE]. Berger, Stefan. “‘Fathers’ and Their Fate in Modern European National Historiographies”, Storia della Storiografia 59-60, 2011, 228-247 [Disponível na Academia.edu].

2. Memória, usos do passado e a autoridade do historiador

White, Hayden. “Practical Past”, Historein 10, 2010, 10-19 [Periódico de acesso livre]. Lorenz, Chris. “It Takes Three to Tango. History between the ‘Practical’ and the Historical’ Past”, Storia della Storiografia 65, 2014, 29-46 [Disponível na Academia.edu]. Groot, Jerome de. The Historical Novel, London: Routledge, 2010, 1-23 {Intro e trechos do Cap. 1}. Malerba, Jurandir. “Acadêmicos na berlinda ou como cada um escreve a História?: uma reflexão sobre o embate entre historiadores acadêmicos e não acadêmicos no Brasil à luz dos debates sobre Public History”, História da Historiografia 15, 2014, 27-50 [Periódico de acesso livre]. Megill, Allan. Historical Knowledge, Historical Error. A Contemporary Guide to Practice. Chicago: Chicago University Press, 2007, 17-59 [Cap. 1: “History with Memory, History without Memory”; Cap. 2: “History, Memory, Identity”] [Disponível na BCE].

3. A historiografia e a representação da realidade

White, Hayden. “The Value of Narrativity in the Representation of Reality”, Critical Inquiry 7(1), 1980, 5-27 [Disponível via Portal de Periódicos da CAPES]. Doran, Robert. “The Work of Hayden White I: Mimesis, Figuration, and the Writing of History”, in: The SAGE Handbook of Historical Theory (org. Nancy Partner & Sarah Foot), London: SAGE, 2013, 106-118 [Disponível na BCE]. Genette, Gerard. “Fictional Narrative, Factual Narrative”, Poetics Today 11(4), 1990, 755-774 [Disponível via Portal de Periódicos da CAPES]. Searle, John. “The Logical Status of Fictional Discourse”, New Literary History 6(2), 1975, 319332 [Disponível via Portal de Periódicos da CAPES].

Programa de Pós-Graduação em História Carr, David. Time, Narrative, and History. Bloomington: Indiana University Press, 1991, 1-17 {Intro} [Disponível na BCE]. Norman, Andrew P. “Telling it Like it Was: Historical Narratives on Their Own Terms”, History and Theory 30(2), 1991, 119-135 [Disponível via Portal de Periódicos da CAPES].

4. Cruzando a fronteira entre ética e metodologia históricas

Ricoeur, Paul. “Objetividade e subjetividade em história”, in: Ricoeur, História e verdade. Rio de Janeiro: Forense, 1968, 23-44 [Disponível na BCE]. Paul, Herman. “Historicismo fraco. Historicismo fraco: sobre hierarquias de virtudes e de metas intelectuais {no prelo} [24 pp.] Gorman, Jonathan. “Historians and their Duties”, History and Theory 43, 2004, 103-117 [Disponível via Portal de Periódicos da CAPES]. De Baets, Antoon. “Uma teoria do abuso da história”, RBH 33(65), 2013, 17-60 [Periódico de acesso livre]. Assis, Arthur Alfaix. “Objectivity and the First Law of History Writing” {no prelo} [17 pp.]

Bibliografia complementar Ankersmit, Frank (2012). Meaning, Truth, and Reference in Historical Representation, Ithaca: Cornell University Press Ankersmit, Frank (1994). History and Tropology. The Rise and Fall of Metaphor, Berkeley: University of California Press. Ankersmit, Frank & Kellner, Hans (orgs.) (1995). A New Philosophy of History, Chicago: The Chicago University Press. Assis, Arthur Alfaix (2014). What is History For? Johann Gustav Droysen and the Functions of Historiography, New York: Berghahn Books. Assis, Arthur (2010). A teoria da história de Jörn Rüsen. Uma introdução, Goiânia: Ed. UFG. Bentley, Michael (org.) (2006). A Companion to Historiography, London: Routledge. Berlin, Isaiah (2002). Estudos sobre a humanidade. Uma antologia de ensaios, São Paulo: Companhia das Letras. Burckhardt, Jacob (1961). Reflexões sôbre a História, Rio de Janeiro: Zahar. Collingwood, Robin G. (2003). The Principles of History. And other Writings in Philosophy of History, Oxford: Oxford University Press. Collingwood, Robin (1994). A ideia de história, Lisboa: Presença. Costa Lima, Luiz (2006). História. Ficção. Literatura, São Paulo: Companhia das Letras. Croce, Benedetto (2006). História como história da liberdade, Rio de Janeiro: Topbooks. Dray, William H. (1969). Filosofia da história, Rio de Janeiro: Zahar. Droysen, Johann Gustav (1983). Histórica. Lecciones sobre la enciclopedia y metodologia de la historia, Barcelona: Alfa. Fulbrook, Mary (2003). Historical Theory, London: Routledge. Gadamer, Hans-Georg (2008). Verdade e método, Vol 1: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica, Petrópolis: Vozes. Gadamer, Hans-Georg (1998) O problema da consciência histórica, Rio de Janeiro: Ed. Fund. Getúlio Vargas. Gardiner, Patrick (org.) (2004). Teorias da história, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Gooch, George P. (1942). Historia e historiadores em el Siglo XIX, México: Fondo de Cultura Economica.

Programa de Pós-Graduação em História Grafton, Anthony (2007). What was History? The Art of History in Early Modern Europe, Cambridge: Cambridge University Press. Grafton, Anthony (1998). As origens trágicas da erudição. Pequeno tratado sobre as notas de rodapé, Campinas: Papirus. Gorman, Jonathan (2007). Historical Judgement. The Limits of Historiographical Choice, Stocksfield: Acumen. Gorman, Jonathan (1992). Understanding History: An Introduction to Analytical Philosophy of History, Ottawa: University of Ottawa Press. Gumbrecht, Hans Ulrich (2004). Production of Presence. What Meaning cannot convey, Stanford: Stanford University Press. Haddock, Bruce A. (1989). Uma introdução ao pensamento histórico, Lisboa: Gradiva. Hartog, François (2003). Régimes d’historicité. Présentisme et expériences du temps, Paris: Seuil. Haskell, Thomas L. (2000). Objectivity is not Neutrality. Explanatory Schemes in History, Baltimore, London: The Johns Hopkins University Press. Hegel, Georg (1999). Filosofia da história, Brasília: Ed. UnB. Heidegger, Martin (2002). Ser e tempo, parte II. Petrópolis: Vozes. Huizinga, Johan (1977). El concepto de la historia y otros ensayos, México: Fondo de Cultura Económica. Huppert, George (1970). The Idea of Perfect History: Historical Erudition and Historical Philosophy in Renaissance France, Urbana: The University of Illinois Press. Iggers, Georg G. (1997). Historiography in the Twentieth Century. From Scientific Objectivity to the Postmodern Challenge, Middletown: Wesleyan University Press. Iggers, Georg & Wang, Edward (2008). A Global History of Modern Historiography, Harlow: Pearson. Jordan, Stefan (2005). Einführung in das Geschichtsstudium, Stuttgart: Reclam. Kelley, Donald (2003). Fortunes of History. Historical Inquiry from Herder to Huizinga, New Haven: Yale University Press. Kellner, Hans (1989). Language and Historical Representation: Getting the Story Crooked, Madison: University of Wisconsin Press. Kramer, Lloyd & Maza, Sarah. A Companion to Western Historical Thought, Malden: Blackwell. Koselleck, Reinhart (2006). Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos, Rio de Janeiro: Contraponto. Lemon, Michael C. (2003). Philosophy of History: A Guide for Students, London: Routledge. Megill, Allan (1987). Prophets of Extremity. Nietzsche, Heidegger, Foucault, Derrida, Berkeley: University of California Press. Merquior, José Guilherme (1988). “Philosophy of History: Thoughts on a Possible Revival”, History of the Human Sciences, Vol. 1, Nr. 1, 23–31. Mink, Louis (1987). Historical Understanding, Ithaca: Cornell University Press. Momigliano, Arnaldo (1982). Essays in Ancient and Modern Historiography, Middletown: Wesleyan University Press. Nadel, George H. (1964). “Philosophy of History before Historicism”, History and Theory, Vol. 3, Nr. 3, 291–315. Partner, Nancy & Foot, Sarah (orgs.) (2013). The SAGE Handbook of Historical Theory, London: SAGE. Paul, Herman (2015). Key Issues in Historical Theory, London: Routledge. Paul, Herman (2011). Hayden White, Cambridge: Polity. Reill, Peter Hanns (1975). The German Enlightenment and the Rise of Historicism, Berkeley: University of California Press. Ricoeur, Paul (1994). Tempo e narrativa, tomo I, Campinas: Papirus. Roberts, David (1995). Nothing but History. Reconstruction and Extremity after Metaphysics, Berkeley: University of California Press. Roberts, Geoffrey (org.) (2001). The History and Narrative Reader, London: Routledge. Runia, Eelco (2014). Moved by the Past. Discontinuity and Historical Mutation, New York: Columbia University Press. Rüsen, Jörn (2001). Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência histórica, Brasília: Ed. UnB. Rüsen, Jörn (2007). Reconstrução do passado. Teoria da história II: os princípios da pesquisa histórica, Brasília: Ed. UnB. Rüsen, Jörn (2007). História viva. Teoria da história III: formas e funções do conhecimento histórico, Brasília: Ed. UnB.

Programa de Pós-Graduação em História Rüsen, Jörn (2015). Teoria da história, Curitiba: Ed. UFPR. Schneider, Axel & Woolf, Daniel (orgs.) (2011). Oxford History of Historical Writing, Vol. 5: Historical Writing Since 1945, Oxford: Oxford University Press. Smith, Bonnie G. (1995). “Gender and the Practices of Scientific History: The Seminar and Archival Research in the Nineteenth Century”, American Historical Review, Vol. 100, Nr. 4, 1150–1176. Simmel, Georg (2011). Ensaios sobre teoria da história, Rio de Janeiro: Contraponto. Tucker, Aviezer (2009). A Companion to the Philosophy of History and Historiography, Malden: Blackwell. Veyne, Paul (1998). Como se escreve a história/Foucault revoluciona a história, Brasília: Ed. UnB. White, Hayden (2010). The Fiction of Narrative. Essays on History, Literature, and Theory, 1957-2007, Baltimore: The Johns Hopkins University Press. White, Hayden (2008). Meta-história. A imaginação histórica no século XIX, São Paulo: Edusp. White, Hayden (2001). Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura, São Paulo: Edusp. White, Hayden (1987). The Content of the Form: Narrative Discourse and Historical Representation, Baltimore: The John Hopkins University Press. Williams, Bernard (2002). Truth and Truthfulness. An Essay in Genealogy, Princeton: Princeton University Press. Wood, James (2011). Como funciona a ficção, São Paulo: Cosac Naify. Woolf, Daniel (2011). A Global History of History. Cambridge: Cambridge University Press.

Programa de Pós-Graduação em História

Cronograma

17.08

24.08 31.08

07.09 14.09

21.09 28.09

05.10

12.10 19.10

26.10

02.11 09.11

16.11 23.11 30.11

4. Cruzando a fronteira entre ética e metodologia históricas

0. Apresentação do curso 1.1. O moderno conceito de história - Koselleck, “A configuração do moderno conceito de História”; “‘História como conceito-mestre moderno” [119-225] - Assis & Mata, “Prefácio – O conceito de história e o lugar dos Geschichtliche Grundbegriffe na história da história dos conceitos” [9-34] 1.2. Cientificização e automitificação - Bentley, “The Turn Towards Science” [10-22] - Berger, “‘Fathers’ and Their Fate in Modern European National Historiographies” [228-247] Sem aula [2a INTH] 2.1. Passado histórico e passado prático - White, “The Practical Past” [10-19] - Lorenz, “It takes Three to Tango” [29-46] Feriado 2.2. Romance histórico e historiadores populares - Groot, The Historical Novel [1-23] - Malerba, “Acadêmicos na berlinda” [27-50] 2.3. Memória e história - Megill, Historical Knowledge, Historical Error [17-59] 3.1. O narrativismo de White - White, “The Value of Narrativity in the Representation of Reality” [5-27] - Doran, “The Work of Hayden White” [106-118] 3.2. O ficcional e o factual - Genette, “Fictional Narrative, Factual Narrative” [755-774] - Searle, “The Logical Status of Fictional Discourse” [319-332] Feriado 3.3. Realismo vs. construtivismo - Carr, Time, Narrative, and History [1-17] - Norman, “Telling it Like it Was” [119-135] 4.1. Subjetividade e virtudes intelectuais - Ricoeur, “Objetividade e subjetividade em história” [23-44] - Paul, “Historicismo fraco” Feriado 4.2. Abordagens deontológicas - Gorman, “Historians and their Duties” [103-117] - De Baets, “Uma teoria do abuso da história” [17-60] 4.3. Objetividade como ética - Assis, “Objectivity and the First Law of History Writing” Exame Resultados

3. A historiografia e a representação da realidade

10.08

2. Memória, usos do passado e a autoridade do historiador

Tema da sessão e leituras obrigatórias 1. Questões fundamentais da história da história

Data

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.