Teoria Social, Democracia e Autonomia. Uma interpretação da experiência de autogoverno zapatista

May 30, 2017 | Autor: Cassio Brancaleone | Categoria: Democracia, Zapatismo, Autogoverno
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Cassio Brancaleone

9 788579 20192 9

Teoria social, democracia e autonomia

isbn: 978-85-7920-192-9

Prêmio IESP

Cassio Brancaleone é doutor em sociologia pelo Iesp-UERJ, investigador do Grupo de Pesquisas Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (GPASE) e professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – campus Erechim, onde atua no âmbito do curso de ciências sociais e do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. Também é membro e fundador da Seção Sindical dos Docentes da UFFS (SINDUFFS/ANDES). Desenvolve atividades de pesquisa e extensão no campo dos movimentos sociais e experiências de auto-organização no mundo popular latino-americano.

Tributário das heranças ideológicas e organizativas das lutas de libertação nacional dos 1960, do marxismo maoísta e guevarista, do catolicismo progressista e do ativismo intercomunitário indígena, o Exercíto Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) veio a público no levantamento armado de 1994 em Chiapas, no sudeste mexicano, como uma força política capaz de expressar o sintomático aparecimento de um novo conjunto de movimentos sociais antissistêmicos, cujos discursos e práticas se nutrem de dimensões pouco convencionais do uso do direito e da luta política não estatal, corroborando uma perspectiva de emancipação que encontra ancoragem normativa na articulação entre uma certa ideia de dignidade humana e de autonomia. Com o presente livro, elaborado a partir de percepções etnográficas vivenciadas e amadurecidas durante o ano de 2008 em Chiapas, o autor analisa o significado do projeto e da experiência zapatista de autogoverno e seus desdobramentos políticos e sociais para a crítica (e a ação) democrática radical contemporânea, cultivando no horizonte a mobilização de um repertório conceitual que promove um diálogo entre as mais recentes perspectivas descoloniais e teorias sociais e políticas de corte libertário. O exercício de interpretação do experimento zapatista de autogoverno implicou na articulação de elementos pontuais e fragmentários da história social mexicana e chiapaneca sob uma visão sistêmica e de longa-duração, desaguando em uma descrição analítica do arranjo institucional rebelde e do autogoverno indígena centrado na reorganização das municipalidades zapatistas, operada com a formação das regiões autônomas batizadas como “Caracóis” em 2003. Com isso, espera-se contribuir na direção de uma reflexão sobre o significado da democracia que permita ultrapassar suas convencionais fronteiras estadocêntricas como “regime político”, situando-a no interior de um processo histórico e social mais amplo e representativo de uma das raízes constituintes do mundo moderno, ao mesmo tempo que lhe transborda. A democracia como autogoverno, nesse registro, se elabora como uma das mais consequentes e emancipatórias representações da transmodernidade ao figurar-se, simultaneamente, como valor, ética pública, modelo de ordem moral e arranjo de sociabilidades, podendo, portanto, ser localizada em distintas configurações, escalas e regiões da vida social.

Teoria social, democracia e autonomia uma interpretação da experiência de autogoverno zapatista Cassio Brancaleone Prêmio IESP

Muitos analistas convergem na ideia de que o zapatismo se traduz como sintoma de um aspecto que parece florescer em muitos movimentos sociais contemporâneos: a manifestação e realização de uma sociabilidade e de uma práxis que evoca a autonomia, em sua dimensão de autodeterminação, autogoverno e autogestão. Esta sociabilidade emergente e protagonista parece assediar as principais separações que fundamentam a modernidade capitalista: governo/governado, capital/trabalho, produtor/produto, homem/natureza, sujeito/objeto. Os zapatistas, ao realizarem seu projeto de autogoverno com independência do Estado, e por sua opção pela aliança com a sociedade civil, sinalizam para uma leitura do processo emancipatório como identidade entre democracia e autonomia, desvelando seu conteúdo mais radical e promissor. E uma análise mais detida desta experiência ainda permite vislumbrar que o autogoverno não se reduz a existência das instituições de autogoverno (fetichismo e jaula conceitual recorrente à ciência política), como os Conselhos Municipais e as Juntas de Bom Governo, mas ultrapassa as mesmas no sentido que as tornam possíveis no marco de novas relações sociais, novas sociabilidades que emergem fundando vínculos sociais e coletivos de uma “natureza especial”: pautados na horizontalidade, na criação/apropriação do valor de uso, na colaboração, na tolerância, na diversidade e na integralidade (uma nova paideia?) do indivíduo produtor/consumidor/legislador/ juiz/soldado/artista.

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