Terrorismo Internacional: Conceitos, Classificações e Desafios à Segurança Internacional

July 5, 2017 | Autor: Samara Guimarães | Categoria: International Terrorism, International Security, Security Studies
Share Embed


Descrição do Produto

1

TERRORISMO INTERNACIONAL: CONCEITOS, CLASSIFICAÇÕES E DESAFIOS À SEGURANÇA INTERNACIONAL Samara Dantas Palmeira Guimarães (Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina) Diego Carlos Batista Sousa (Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais – Universidade Federal de Santa Catarina)

João Pessoa 2012

2 RESUMO O objetivo principal do artigo é apresentar conceitos de terrorismo, fenômeno complexo estudado pelos teóricos de Segurança Internacional, incorporado pelas agendas de segurança dos Estados principalmente após os atentados de 11 de setembro. A expansão de grupos armados não-estatais representa um complexo objeto de segurança, pois os grupos terroristas não tem território definido, atuando transnacionalmente. O artigo também apontará os debates teóricos de Segurança Internacional e suas fragmentações, trazidos especialmente por Barry Buzan, Gunther Rudzit e Alessandro Visacro. Para elaboração do artigo, será utilizada pesquisa bibliográfica e documental, onde serão utilizados teóricos que versam sobre estudos estratégicos e teorias de guerra nas Relações Internacionais.

Palavras-chave: Terrorismo, Segurança, Al Qaeda. 1. Considerações Iniciais Os debates teóricos acerca de Segurança Internacional são intensificados após os atentados de 11 de setembro de 2001, tomando o direcionamento na busca pela compreensão das mudanças de percepções relacionadas à segurança nos Estados Unidos e em todo o mundo. A partir das intervenções no Iraque e Afeganistão, a compreensão sobre o uso da força volta a ter um papel central nas Relações Internacionais, em que a aplicação do instrumento militar não está dissociada de outras políticas. (RUDZIT, 2005, p. 298) Os teóricos de estudos estratégicos de Segurança Internacional após a Gurra Fria utilizaram fortemente a Teoria dos Jogos e o método dedutivo ligado a axiomas e leis gerais de comportamento, procurando entender a deterrência e a dinâmica das Relações Internacionais das grandes potências. Neste período, os pesquisadores da Paz estavam divididos entre a Paz Negativa, ligada ao estado de ausência de guerra e a Paz Positiva, associada ao combate à violência estrutural. (BUZAN, 2009) Dentre os problemas ligados à deterrência, estão o medo e a paranoia, elementos disseminados pelas ações de grupos terroristas, que muitas vezes pertencem a Estados onde não podem expressar seus desejos e vontades políticas, e acabam por realizar ações suicidas. A expansão destes grupos armados não-estatais questiona as abordagens centradas no Estado, pois tais formas irregulares de conflito transbordam a segurança regional. Após o final da Guerra Fria a literatura teórica em Estudos de Segurança tornou-se notadamente ativa; e uma das características deste momento foi a fragmentação do debate em três escolas: tradicionalistas, que retém um foco militar, expansionistas, que estendem uma cadeia de

3 assuntos à agenda de segurança e os Estudos de Segurança Crítica, em que os proponentes buscam cultivar uma atitude mais questionadora ao quadro em que a segurança é conceituada. (BUZAN, 2009) Apenas na última década da Guerra Fria que uma agenda mais ampla de segurança internacional emergiu, englobando aspectos não-militares, em um momento de conscientização crescente de que a guerra estava desaparecendo. (BUZAN, 2009, p. 6) Além destas mudanças, houve o aumento da securitização de duas questões que haviam sido pensadas tradicionalmente como questões de low politics: a economia internacional e o meio ambiente enquanto agendas transnacionais Estes estes objetos exprimem a ideia que os estudos de Segurança vão além da guerra e da força, em que outras questões são relevantes mesmo quando não relacionadas à guerra. No presente artigo, o terrorismo será o objeto de segurança não-estatal que atua transnacionalmente. (...) segurança internacional é mais firmemente enraizada nas tradições de políticas de poder. Nós não estamos seguindo uma distinção doméstica/internacional rígida, porque muitos de nossos casos não são definidos pelo Estado, mas estamos alegando que “segurança internacional” tem uma agenda distinta. A resposta ao que torna algo uma questão de segurança internacional pode ser encontrada no entendimento tradicional político-militar de segurança. Neste contexto, segurança é questão de sobrevivência (…) em outras palavras, questões tornam-se securitizadas quando líderes (quer políticos, societários ou intelectuais) começam a falar sobre elas – ganhando o ouvindo do público e do estado – em termos de ameaças existenciais contra objetos de referência estimados. 1 (BUZAN, 2009, p. 14)

2. Perspectivas Teóricas em Segurança Internacional e Terrorismo Refletindo sobre as perspectivas teóricas em Segurança na ordem internacional pós Guerra Fria, Buzan (2002) afirma que existem quatro perspectivas teóricas principais em Segurança Internacional: neorealista, globalista, regionalista e construtivista. A perspectiva neorealista, como a tradicionalista, é centralizada no Estado, propondo um debate sobre a distribuição de poder material no sistema internacional; a perspectiva globalista, que pode ser geralmente entendida como antítese do estadismo realista e neorealista, enraizada em abordagens culturais, transnacionais e de economia política internacional; perspectiva regionalista, enraizada nos pressupostos de que o declínio da rivalidade bipolar reduz a perspicaz qualidade de 1 Traduzido livremente pela autora.

4 interesse do poder global em relação ao resto do mundo e que a maioria dos grandes poderes no pós Guerra Fria são lite powers; a perspectiva construtivista, que foca nas dinâmicas das interações sociais humanas, enfatizando processos em que os seres humanos constroem entendimentos intersubjetivos. (BUZAN, 2002, p. 5) Para os neorealistas, o 11 de setembro pode ser interpretado como consequência da unipolaridade e resposta a uma estrutura de poder unipolar em operação, realinhando relações entre grandes poderes e legitimando a ação de repressão aos terroristas. Sob esta perspectiva, o foco estratégico está na indústria nuclear, aeroespacial, química e biotecnológica; e nas organizações terroristas transnacionais. A perspectiva globalista auxilia no entendimento da desterritorialização focando nas operações transnacionais e nos métodos das redes da Al Qaeda, que transcendem os quadros estatais. Al Qaeda,2 formada por Osama Bin Laden em 1989, é uma organização formada por militares fundamentalistas islâmicos recrutados em vários países. Os teóricos regionalistas afirmam que o 11 de setembro reafirma a saliência do pós Guerra Fria dada à segurança regional como um fator chave da ordem internacional. Sob esta perspectiva, apesar da característica transnacional dos métodos da Al Qaeda, a organização está intimamente ligada às dinâmicas de segurança regional do Oriente Médio e às interações destas dinâmicas com a estrutura unipolar em um nível global, que é a principal característica da análise regionalista. Apesar do discurso de resistência ao ataque global e cultural do capitalismo, o principal motivo das ações da Al Qaeda em seus discursos de securitização repousa contra a fixação das forças estadunidenses nas “terras sagradas” da Arábia Saudita, e o suporte estadunidense à Israel, oprimindo os Palestinos. (BUZAN, 2002, p. 13) Os construtivistas auxiliam na compreensão dos motivos por trás da ações, fundamentais para o estudo de conflitos ideológicos e religiosos, que vão além das capacidades materiais dos Estados, proporcionando um estudo mais complexo sobre os motivos que levam à violência de organizações terroristas, por exemplo. 3. Terrorismo Internacional O debate sobre o terrorismo internacional foi intensificado na contemporaneidade devido a representação de novas ameaças e de novos inimigos que o terrorismo traz consigo, apesar de não 2 “A base”, em árabe.

5 ser um fenômeno recente no cenário internacional. Os conflitos entre atores não-estatais tem mostrado-se cada vez mais frequente nas Relações Internacionais, como meios de reorganização política e social destes atores, em que há, além de outras características específicas, uma linha tênue entre combatentes e não-combatentes. O terrorismo é quase tão antigo quanto a própria humanidade, e no ano três a.C. houve um claro fenômeno terrorista, quando um grupo de judeus assassinou transeuntes em Jerusalém com o intuito de promover uma revolta da população contra a ocupação romana. (RUDZIT, 2005 p. 317) Entretanto, apenas após a Revolução Francesa o terrorismo surgiu com os contornos políticos da atualidade, mas com a diferença que o terrorismo busca atualmente resultados grandiosos na tentativa de realização dos objetivos das organizações que representam. Rudzit (2005) cita ainda alguns outros fatos históricos relacionados, como os atentados de Oklahoma City; World Trade Center (1994); atividades da seita Aum Shinrikyo com gás em Tóquio; o ataque ao quartel estadunidense de Khobar Towers, Arábia Saudita;a pressão da Al Qaeda sobre os Estados Unidos para que se retirassem da Arábia Saudita; as ações dos Tigres Tamils de Libertação de Eelam buscando a independência do Sri Lanka; atentados palestinos em Israel, entre outros. Os atentados em 11 de setembro chocaram o mundo pela dimensão dos ataques, pelo furo gigantesco de segurança dos Estados Unidos e por revelarem a disposição dos terroristas em sacrificar suas vidas por seus objetivos. Além disso, os ataques contemporâneos aumentaram em número e localização, revelando um terrorismo existente em escala mundial e com característica suicida. Após os atentados houve um grande impacto nas políticas de segurança de todo o mundo, influenciadas pela “Guerra Global ao Terror” lançada por George W. Bush, ao passo que células terroristas ligadas ou não à Al Qaeda atuam em diversos países. 3.1 Conceitos e Tipos de Terrorismo O Departamento de Estado dos Estados Unidos define o terrorismo como “violência premeditada, politicamente motivada perpetrada contra alvos não-combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente com a intenção de influenciar um público” (US Department of State, 2001, p. 13, in: WILLIAMS, 2008)

6

Terrorismo político é o uso, ou ameaça de uso, de violência por um indivíduo ou um grupo, quer agindo por ou contra a autoridade estabelecida, quando tal ação é designada para criar extrema ansiedade e/ou induzir o medo em um público-alvo maior que as vítimas imediatas com o propósito de coagir tal grupo em aderir às demandas políticas dos perpetradores.3 (WARDLAW, 1982. p. 16)

O terrorismo funciona através do medo, e a indução do medo a certo público pode ser pretendida para assegurar uma resposta política particular. Rogers (2008) apresenta também dois tipos de terrorismo: terrorismo estatal e terrorismo sub-estatal. De acordo com o autor, o terrorismo estatal atualmente é mais difundido em seus efeitos, tanto em termos de baixas diretas, tanto na indução do medo. Algumas técnicas de terrorismo estatal foram utilizadas por Stalin na União Soviética e por Mao na China, como táticas que mantinham o controle das colônias. Recentemente, os Estados tem utilizado táticas terroristas contra sua própria população, como tortura, detenção sem julgamento, execução sumária, desaparecimentos e esquadrões da morte. (ROGERS, 2008, p. 174) Sobre a definição do terrorismo sub-estatal, Rogers (2008) toma como exemplo as ações do IRA, o Exército Revolucionário Irlandês, considerado pelo governo Britânico como uma organização terrorista que procurava conseguir uma Irlanda unida através de uma campanha sustentada de violência. Entretanto, os que apoiavam a unidade política irlandesa viam o IRA como lutadores da liberdade, tentando libertar a Irlanda do Norte do governo britânico. O autor destaca também que o terrorismo sub-estatal pode originar-se em sociedades muito diferentes, com motivações altamente variáveis e direções subjacentes. Neste sentido, há o terrorismo orientado que busca mudanças fundamentais na sociedade ou Estado, geralmente baseado em uma ideologia política de persuasão radical e revolucionária, e/ou baseado no compromisso religioso; e há o terrorismo que busca uma mudança particular para uma comunidade identificável, que raramente tem ambições internacionais, mas pode ligar-se ocasionalmente aos grupos similares da rede. Sobre este último, o autor afirma ainda que os grupos radicais geralmente erguem-se em resposta à uma mudança política substancial que tenha danificado as perspectivas da comunidade. Como exemplo, o autor cita facções Palestinas que desenvolveram-se em resposta direta à ocupação do território por Israel, na Guerra dos Seis Dias em 1967. (ROGERS, 2008, p. 175) A relação entre a nova mídia e o terrorismo internacional também é ressaltada, pois a 3 Tradução livre da autora.

7 facilidade das filmagens feitas com câmeras de celular, por exemplo, e a possibilidade da divulgação imediata nas redes virtuais proporcionaram a publicação das ações dos movimentos terroristas a nível mundial em uma velocidade impressionante, trazendo a atenção mundial aos movimentos além da cobertura de TV. Desta maneira, muitos grupos jihadistas passaram a filmar suas atividades, como parte de um pacote altamente propagandístico distribuído abertamente. Nas últimas três décadas o terrorismo obteve algumas características em seu processo de desenvolvimento, a exemplo da insurgência, complexa reação produzida pelas intervenções estadunidenses no Iraque e no Afeganistão durante a “guerra preventiva” estadunidense; a internacionalização do terrorismo, pois a Al Qaeda e seus afiliados executaram ataques no Egito, Indonésia, Jordânia, Quênia, Marrocos, Paquistão, Arábia Saudita, Tunísia, Turquia, Reino Unido e Iêmen; o terrorismo suicida; propagação rápida de aprendizado das técnicas; ataques a alvos econômicos e o risco da utilização de armas de destruição em massa associado aos movimentos terroristas. (ROGERS, 2008, p. 183) Dada a a evolução das táticas terroristas e os fatores acima citados que ajudam a Al Qaeda, Rogers afirma que parece prudente a adoção de uma reflexão das políticas ocidentais de segurança, e das políticas estadunidenses, em particular, por parte dos tomadores de decisão. O terrorismo, como ação de guerra que se complementa à guerrilha, subversão e sabotagem, intensifica e apoia estas outras ações de guerra irregular. O terrorismo é de difícil definição por estar associado também ao crime organizado e ao banditismo, como instrumento utilizado por revolucionários contra alguma instituição coercitiva; por ter um forte cunho religioso, étnico, político; e utilizar a violência psicológica como ferramenta, acentuando a complexidade e subjetividade de suas definições. Por oferecer julgamento moral e estar ligado a objetivos psicológicos induzindo ao medo, a busca por definições do terrorismo não é fácil, ainda mais por existirem métodos menos evidentes de terror em Segurança, como o narcotráfico e seus elementos constitutivos. Esta primazia por objetivos psicológicos e midiáticos associada ao terrorismo se coaduna com o que alguns analistas e estrategistas militares chamam de guerra de “quarta geração”, uma guerra psicológica, onde a guerra é decidida em níveis estratégicos e também mentais, demandando o combate de inimigos não-estatais por parte do Estado, como as Forças Revolucionárias da Colômbia e o Hamas, por exemplo. Dentro da necessidade de especificar as fases e os atores envolvidos nos ataques

8 terroristas, foi criada uma classificação para o terrorismo em várias modalidades, apesar de uma não excluir a outra. Sendo assim é possível classificar inicialmente a ação de um grupo de terrorista quanto à sua amplitude, que pode ser internacional, onde os acidentes, preparação, financiamento, consequências ou ramificações transcendem as fronteiras nacionais; ou nacional, quando os acidentes e os atos de violência são praticados por terroristas em seus próprios países e contra seus compatriotas. Quanto à motivação é possível distinguir o terrorismo de Estado, político-ideológico, político-religioso, o narcoterrorismo e o autotélico. O primeiro é aquele consagrado pelos jacobinos da Revolução Francesa e é caracterizado pelo uso ilegítimo da força pelo Estado através de suas agências de segurança com o objetivo de neutralizar oposição política e perseguir os opositores. Uma vertente mais moderna, no entanto surge para esse modelo de terrorismo de Estado, denominado “terrorismo patrocinado pelo Estado”. (VISACRO, 2009, p. 270) O terrorismo patrocinado pelo Estado pode alcançar objetivos estratégicos onde o emprego das forças armadas é fraco ou não é conveniente (…) O envolvimento estatal com o terrorismo compreende apoio ideológico, assistência financeira, suporte militar (incluindo assessoria técnica, treinamento e provisão de armas e munições) apoio operacional e ações específicas, iniciação de ataques terroristas e, por fim, envolvimento direto nesses ataques. (VISACRO, 2009, p. 288)

O político-ideológico é o modelo que se utiliza da violência política de caráter subversivo ou revolucionário, e ao contrário do modelo anterior, é direcionado contra o Estado, o patrimônio público e a propriedade privada. O terrorismo político-religioso é aquele tido como subproduto da Revolução Iraniana, usualmente associado à militância política islâmica fundamentalista, com fortes apelos religiosos, mas motivado por fatores de ordem política, como a Existência do Estado de Israel, poder de ingerência das potências ocidentais sobre o Oriente Médio ou a questão nacional Palestina. O narcoterrorismo, por sua vez, é aquele financiado pelo tráfico de drogas e sua indústria que favorece a expansão ou manutenção dos lucros gerados por essas atividades. O narcoterrorismo é muito utilizado no contexto de disputa entre facções rivais por áreas de plantio da droga por mercados consumidores, e também como forma de embate aos órgãos de segurança pública. Sobre os principais protagonistas do cenário do narcoterrorismo, Visacro exemplifica: Na Colômbia, maior produtor mundial de cocaína, os cartéis de Cali e Medelim protagonizaram a guerra das drogas durante a década de 1980. Atualmente, são os grupos paramilitares de direita e os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da

9 Colômbia. (VISACRO, 2009, p. 289)

O terrorismo autotélico é aquele que por sua vez, desprovido de sólida motivação política, religiosa ou ideológica, é comumente associado ao banditismo, segregação racial, e ao fanatismo de seitas radicais ou disputas locais de poder entre tribos ou grupos étnicos. Quanto ao alvo, o terrorismo pode ser seletivo ou indiscriminado. O primeiro é aquele que restringe seus ataques a alvos específicos, limitando sobretudo os danos colaterais a vítimas inocentes. O terrorismo seletivo também é motivado principalmente pelo interesse de não atrair a reprovação da opinião pública, enquanto que o indiscriminado é oposto ao primeiro caso e chega a ter o propósito explícito de vitimar o maior número possível de inocentes, como foi o caso do ataque aos prédios do World Trade Center. Finalmente, há a classificação quanto ao contexto das organizações terroristas, seguindo uma escala de quatro diferente contextos. O primeiro associa-se às ações terroristas inseridas no contexto de movimentos revolucionários conjuntamente com ações de guerrilha e atos de subversão com a intenção de provocar a queda do governo vigente. O segundo caracteriza-se pela ação de célula terrorista engajada com causas tidas como justas, mas que em função do radicalismo são incapazes de atrair e/ou convencer a opinião pública. O terceiro caracteriza-se pela predominância de organizações criminosas orientadas em função de governos de Estados nacionais. O quarto e último contexto é representado por uma organização terrorista que conta com o apoio de diversos governos simpatizantes, mas que operam de forma independente, não restringindo suas bases ou ações a territórios determinados ou ideologias determinadas. (VISACRO, 2009, p. 289-291) 4. Considerações Finais Embora o terrorismo não tenha sido definido conceitualmente de forma consensual no meio acadêmico, entende-se que os atos de terror são nada menos que alguns exemplos do uso dessas ações como uma das principais armas políticas da atualidade, comumente utilizada devido a vários fatores que fazem deste mecanismo uma opção extremamente atrativa para grupos organizados que podem ou não ter o apoio ativo das massas. Além de necessitar de poucos agentes envolvidos diretamente na execução de um ataque,

10 os ataques em sua maioria causam forte impacto psicológico e grandes danos físicos por um custo muito mais baixo, se comparado ao custo da ação militar organizada pelos exércitos estatais. O terrorismo tem tido suas características fortalecidas nas últimas décadas, e as tendências para o decorrer do próximo século podem ser elencadas, como: o intenso uso de conexões internacionais; a adoção de estruturas em redes; o fortalecimento de vínculos com o crime organizado, o tráfico de armas, o comércio ilegal de drogas e a lavagem de dinheiro; a disseminação de antigas táticas, técnicas e procedimentos que até então eram restritos às organizações de vanguarda, criação de novas e alternativas formas de atuação (a exemplo de ataques cibernéticos); a capacidade de ampliação do número de vítimas e o preponderante acesso ao desenvolvimento de armas de destruição em massa. A mídia é, ao mesmo tempo, tanto uma causa para o terrorismo quanto um meio de comoção da sociedade para o alcance de certos fins políticos, além de medir e revelar a eficácia de um ataque terrorista no tocante às suas consequências. A mídia é colocada como causa que fomenta o terrorismo pois a maioria dos grupos terroristas islâmicos afirmam que a mídia ocidental incentiva um estilo de vida que vai de encontro e fere os principais elementos constitutivos de suas crenças, religiões e culturas, sendo algo digno de erradicação. A mídia representa um meio pelo fato de gerar um forte impacto psicológico nas massas, fazendo com que quanto maior for o número de vítimas e os danos à infraestrutura do local atingido, mais trágico e mais insuperável o choque, maior a probabilidade de uma atenção midiática mais intensa e uma maior chance de consequências favoráveis aos objetivos pretendidos. O envolvimento da mídia e da opinião pública mostraram-se indispensáveis para o melhor entendimento e para as ações posteriores tanto dos grupos terroristas quanto dos tomadores de decisão dos Estados afetados. Pesquisas de opinião pública revelam, inclusive, que movimentos contra-terroristas existentes, como a Guerra Global ao Terror, tiveram ampla influência do que se foi publicado na mídia. Neste sentido, decision makers delinearam suas políticas para satisfazer à sociedade doméstica e à pressão da opinião pública internacional. Além disso, a mídia também teve um importante papel na própria definição do tema como prioridade na agenda de discussão internacional. O terrorismo é uma fonte de ameaça que não está ligada ao Estado, ligado à ascensão de atores não-estatais, questionando a racionalidade dos atores, no caso a racionalidade calcada em

11 valores liberais, como a liberdade. A Guerra ao Terror após o 11 de setembro, colocada por Buzan como um meta-evento nos estudos de Segurança Internacional, apresenta um aspecto de continuidade tradicionalista da Segurança, de afirmação dos Estados Unidos como grande potência irresoluta. As redes complexas relacionadas ao terrorismo se ampliam, pois entre os vários aspectos do terrorismo colocados anteriormente, um deles está ligado à luta contra a intervenção do ocidente em territórios islâmicos, como a “ajuda” financeira e militar proporcionada por países ocidentais. Essa caracterização das células terroristas demonstra as dimensões dos desafios enfrentados pelos governos dos grandes centros na tentativa de solucionarem a ameaça do terror. O 11 de setembro afetou a rotina de centros mundias financeiros, econômicos, sociais, militares e políticos como EUA e alguns países europeus em proporções somente observadas durante a Guerra Fria. Entretanto, as classificações do terrorismo, conceituações e tipologias demonstram também uma complexa possibilidade de estudo, pois há diversas dificuldades e desafios na tentativa de especificação e conceituação que envolvem o estudo de aspectos psicológicos, religiosos e étnicos, para uma compreensão mais abrangente das células, organizações e movimentos terroristas. Apesar da morte de Osama Bin Laden, fundador da Al Qaeda em 2011, grupos terroristas continuam a realizar atentados em nações ocidentais e em países muçulmanos aliados aos Estados Unidos como Arábia Saudita, Turquia e Indonésia; motivados pelo assassinato de seu líder por soldados estadunidenses, além da crença de que Estados Unidos e alguns países europeus realizam uma política de opressão aos muçulmanos. Logo, o terrorismo segue ameaçando a segurança dos Estados e desafiando as políticas preventivas, pois as ações transnacionais são perpetradas por atores sem face e sem nacionalidade definida, representando o poder de influência de atores não-estatais sobre as nações ocidentais. 6. Referências bibliográficas BUZAN, Barry. Common security, non-provocative defense, and the future of Western Europe. Review of International Studies, v. 13, n. 4, p. 265-7, 1987.

12 _____________. The Implications Of September 11 for the Study of International Relations. Contexto int. [online], vol.24, n.2, pp. 233-265, 2002. _____________. Rethinking Security after the Cold War. Cooperation and Conflict. n. 32, p. 518, 1997. _____________; WAEVER, Ole. Regions and Power: The Structure of International Security. Cambridge, Cambridge University Press, 2004. _____________; HANSEN, Lene. Strategic Studies, deterrence and the Cold War. In: The evolution of international security studies. Cambridge/New York: Cambridge University Press. p.66-100, 2009 ______________; WAEVER, Ole; WILDE, Jaap de. Security: a new framework for analysis. Boulder: Lynne Reinner Publishers, 1998. KALDOR, Mary. New and Old Wars: Organized Violence in a Global Era. Cambridge: Polity Press, 2nd edition, 2006. ROGERS, Paul. Terrorism. In: WILLIAMS, Paul D. Security Studies: An Introduction. Routledge, Oxon. 2008. RUDZIT, G. O debate teórico em segurança internacional. Mudanças frente ao terrorismo? Revista Civitas de Ciências Sociais, vol. 5, número 2, p. 30, 2005. VISACRO, Alessandro. Da antiguidade às Torres Gêmeas. In: Guerra Irregular: terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São Paulo, Editora Contexto, 2009. WILLIAMS, Paul D. Security Studies: An Introduction. Routledge, Oxon. 2008.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.