Testemunha da política externa

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quarta-feira, 03.02.2016

Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos* Testemunha da política externa

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amenta-se o falecimento de Luiz Felipe Lampreia, ministro das Relações Exteriores durante os governos FHC entre 1995 e 2001. Muito poderia ser dito sobre sua trajetória, mas seu legado certamente levanta uma brevíssima reflexão sobre a trajetória da política externa brasileira. Destacam-se dois momentos em que Lampreia se insere em distintos contextos e ações de forças sociais. O primeiro, pelos idos dos 1960 e 1970, quando Lampreia esteve muito próximo dos círculos decisórios do então ministro das Relações Exteriores do governo Geisel (1974-1979), Azeredo da Silveira, como um dos diplomatas que lhe eram mais próximos e tendo sido nomeado Secretário de Imprensa do Itamaraty. O segundo momento remete à sua titularidade da pasta ministerial durante boa parte dos mandatos de FHC. Lampreia compôs no início de sua trajetória um grupo de diplomatas muito afim a uma postura mais distanciada e independente dos Estados Unidos, como o então

representante do Brasil na ONU no início dos anos 1970, Araújo Castro. Entre outros pontos, Araújo Castro criticava a lógica excludente e permanentemente discriminatória do então recente Tratado de Não-Proliferação Nuclear em favor das grandes potências. O ponto culminante de tais posições se deu no já mencionado governo Geisel, quando Lampreia compôs de forma relevante parte do esforço do chanceler Azeredo da Silveira para uma posição de um substantivo distanciamento e diferenciação em relação às posições norte-americanas. Tal postura repercute e orienta (com distintas nuances próprias de cada governo) a política externa brasileira até hoje. Todavia, o dinamismo da história nos leva a conjunturas bem distintas. O protagonismo de Lampreia como ministro das Relações Exteriores levou a outra percepção do objetivo histórico brasileiro de seu reconhecimento como líder e como partícipe do ‘Clube dos Grandes’. Mais precisamente em 1998 o Brasil registra sua adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, revertendo a posição outrora manifestada pelo País 30 anos antes. O próprio Lampreia declarou em algumas oportunidades a mudança de sua percepção em relação à década de 1970 sobre as tarefas do Brasil para o reconhecimento internacional de sua liderança. Evidente que tais temas e contextos são muito mais complexos que o curto espaço que esta reflexão suscita. Contudo, o testemunho de Lampreia é um exemplo das duas gerações de posições do País no tocante a sua histó-

quarta-feira, 03.02.2016

rica busca de reconhecimento e liderança internacional.

Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos é docente do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília

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