texto final da traducao

June 29, 2017 | Autor: Avô Cumbe | Categoria: Translation Studies
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Diga-se de passagem que o patrão do bar crédit a Voyagé oferecera-me um caderno que o devo preencher, e ele acredita cegamente que eu, macaco velho, possa compor um livro porque, nas brincadeiras, contara-lhe a história de um conceituado escritor que bebia como uma esponje, um escritor que era carregado na rua quando estivesse bêbado, não se brinca com o patrão, porque ele leva tudo à sério, e quando ofereceu-me o caderno, precisou que seria apenas para ele, que ninguém mais o leria, então quis matar a curiosidade , o porquê de tanto se apegar ao caderno, ele respondeu-me que não queria que o crédit a Voyagé desaparecesse da noite ao dia, ainda acrescentou que as pessoas deste país não tinham a cultura conservadora, que a época das histórias contadas pela vovó aposentada na cama já se tinha passado, que o tempo que lhe restava fosse dedicado apenas à escrita, a fala não passa de um luxo, mijo de gatos selvagens, o patrão do crédit a Voyagé não gosta das concepções do gênero «em África quando um velho morre é uma biblioteca que se destrói» assim que ele ouvir essa propaganda enganosa, abraça a frustração e de seguida responde «depende do velho, parem com as vossas manias, eu acredito apenas em fatos escritos» assim, para lhe dar um pouco de sossego repito uma vez a outra mesmo sem ter a certeza do que narro aqui, é evidente que começo a ganhar um afeto pela escrita de uns tempos para cá, todavia empenho-me de todas as formas a convencer-lhe a renunciar senão enriqueceria a imaginação das coisas e forçar-me-ia a escrever, quero salvaguardar a minha liberdade de escrever quando eu quiser, quando eu puder, não há nada mais pior na vida que o trabalho forçado, eu não sou seu escravo, escrevo para mim também, é por isso que não gostaria de estar no seu lugar no momento em que folheará estas paginas nas quais não pretendo ninguém empregar, mas quando ele lerá tudo isto, não mais serei cliente do seu bar, ter-me-ei firmado bêbado à fora, já lhe terei entregue o documento em Sigilo e dizendo «missão cumprida».

Será necessário que evoque primeiro a polêmica que terá dado origem a este bar, que narre o crucifixo que o nosso patrão vivera, no entanto desejava-se que ele emitisse o seu último suspiro, que ele redigisse o seu último testamento de Judas, isso começou com o pessoal da Igreja, que se apercebendo que o número de fieis diminuía aos domingos, provocou uma verdadeira guerra santa, cada um livrou-se da sua bíblia de Jerusalém em frente ao crédit a Voyagé, assim, foi dito que se a coisa não mudasse não haveria mais messias no bairro, não haveria mais exaltações nos cânticos, não haveria mais espírito-santo que descesse ao bairro trois-cents, não haveria mais hóstias negras crocantes, não haveria mais vinho doce, o sangue de cristo, não haveria mais rapazes destinados ao coro, não haveria mais abundância das irmãs piedosas, não haveria mais velas, não haveria mais esmola, não haveria mais primeira comunhão, não haveria mais segunda comunhão, não haveria mais catecismo, não haveria mais batismo, não haveria mais nada, e então todo o mundo iria direto ao inferno, e ainda mais, extinguiu-se o sindicato das concubinas do fim de semanas e dos feriados, sustentavam que se as suas mulheres não confeccionassem bem os alimentos, se as mulheres não mantivessem o respeito como as mulheres de outrora, seria devido ao crédit a voyagé, diziam que o respeito era importante e que não havia melhor coisa no mundo que uma mulher respeitar o seu marido, pois sempre fora assim desde os tempos de Adão e Eva, e estes excelentes chefes de família, não entendiam o porquê das coisas serem revolucionadas, que era bom que as mulheres se curvassem, que se submetessem diante das suas ditaduras, eles disseram isso, mas também em vão, e depois houve a pressão de uma antiga associação de alcoólatras convertidos bebendo mares de água, fanta, pulp'orange, granadina, bissap (quiabo rosa) senegalês, suco de plamplemousse(toranja), ou ainda coca-cola lite traficada na Nigéria com folhas de chanvre indiana(canabis sativa), estes rapazes fundamentalistas sediaram o bar durante 40 dias e 40 noites, mas também em vão e depois, houve uma intervenção mística da moral tradicional, chefes da tribo com os seus amuletos lançando-nos para a entrada do estabelecimento, proferindo os seus milagrosos palavrões que direcionavam ao patrão do crédit a voyagé com almas mortas que eles faziam falar, e profetizavam que o comerciante seria devorado por uma tina de fogo, que eles o coagiriam docemente a pegar um elevador diretamente a tribuna mas, também em vão, e depois houve por fim uma intervenção direta dos grupos vândalos financiados por alguns velhos imbecis do quarteirão que lamentavam a cabana Gaulesa, a satisfação de manter uma vida de rapaz, uma vida de velhos negros e a medalha, uma da época do boom colonial e das munições negras de Joséphine Baker gesticulando com bananas às alturas, e então estes senhores de boa reputação armaram uma emboscada para o patrão com os seus vagabundos revestidos de mascaras que vieram à meia noite, no berço das trevas, vieram com barras de ferro de Zanzibar, bastões da idade média cristã, flechas venenosas da era de Chaka zulu, foices e martelos comunistas, coação a guerra dos 100 anos, serrotes Gauleses, enxadas de cabo curto, coktails molokov(armas de fogo) de Maio 68, tesouras herdadas de uma sessão de manchetes no Ruanda, lançadores de pedra da famosa briga de David contra Golias, vieram com todo este arsenal impressionante, mas também em vão, e eles demoliram uma parte do estabelecimento, e toda a Cidade comentava o sucedido, todas as manchetes diziam, a rua morta, a semana Africana, Mwinda,Mouyondzi tribune, houve turistas que vinham dos países visinhos para ver este lugar por perto, como peregrinos visitando o murro das lamentações, e estes turistas faziam fotos de qualquer maneira, porquê não sei, havia no seio dos habitantes desta cidade pessoas que ainda não se tinham feito presentes no bairro trois-cents e que o descobriram com estupefação, questionavam-se então: como é que as pessoas faziam para coabitar com as perfeitas imundices, os esgotos, os restos mortais dos animais domésticos, as carcaças de viaturas, os vasos, o estrume, e as casas que estavam à beira da ruína, e o nosso barman dava entrevistas de um lado ao outro, e assim tornou-se de um dia ao outro num martírio, o nosso bar-man passou de um dia ao outro em todas as emissões, falou em Lingala do norte do país, em Munukutuba da floresta de Mayombe, em Bembé dos habitantes da ponte de Moukoulou que têm a mania de resolver os seus problemas à facadas, e todo o mundo já o conhecia, tornava-se numa mina de diamante em exploração, dava até pena ,pretendia-se ajudá-lo, houve sussuras de acréscimos e petições para esta brava figura que começou a ser chamada «l'escargot entêté » (caracol cabeçudo), era necessário que se contasse com os bêbados que são sempre solidários até a última gota de vinho, e que se passou à ação, arregaçaram-se as mangas no sentido de se reparar os danos materiais causados pelas pessoas que contestavam o boom colonial, a cabana de Gaulle, as munições negras de Joséphine Baker, e essa história banal para alguns se tornou num marco histórico nacional, falou-se do «estabelecimento crédit a voyagé», fato discutido pelo governo no conselho de ministros, e alguns dirigentes do país protestaram contra o enceramento imediato do estabelecimento e sem condições aplicáveis, mas alguns se opuseram com argumentos, digamos convincentes, portanto o País ficou dividido em dois por esta quadrilha de lagartos, e então, com autoridade de juízo que se viveria à diante, mas o Ministro da Agricultura, do Comércio e das Pequenas e Médias Empresas (PME), Albert Zou Loukia impôs a voz, fez uma intervenção memorável, uma intervenção que ficou marcada como um dos mais bonitos discursos políticos de todos os tempos, o Ministro Zou Loukia repetiu diversas vezes «j'accuse»(protesto) e todo o mundo ficou paralítico na rua, para um sim ou para um não, para uma pequena disputa ou injustiça menor, dizia-se «protesto», e até o chefe do governo disse ao seu porta-voz que o ministro da agricultura expressava-se bem, que a sua forma expressiva muito popular «protesto» repercutir-se-ia nas gerações vindouras, e o Primeiro Ministro prometeu que na sessão seguinte do governo encarregar-se-ia o Ministro da Agricultura para embaixador da cultura, bastava apenas suprimir as quatro primeiras letras da palavra «agricultura» e até então, reconhecia-se que o Ministro da Agricultura havia feito um discurso brilhante, invocava entidades, grandes pensadores que eram citados à mesa, ele soava como cada vez que se mantivesse confiante de que o seu auditório persuadira com os seus saberes, e assim foi que ele defendeu o crédit a voyagé, ele adotara em primeiro lugar a estratégia do «caracol cabeçudo» que ele o conhecia muito bem pelo fato de ter sido seu companheiro de carteira no ensino primário elementar, depois terminou o discurso com estas palavras que anotei em minha memória.
«senhoras e senhores do conselho, protesto, não quero ser cúmplice de um confronto social tão moribundo quanto o nosso, não quero incitar esta caça ao Homem pela minha pertença ao governo, protesto contra as mesquinhices de caçar uma pessoa que nada tenha feito a não ser estampar o trajeto da sua existência, protesto contra insipiência dos conhecimentos retrocedidos dos últimos tempos, protesto contra os grosseiros atos bárbaros orquestrados pelas pessoas sem caráter, protesto contra as injúrias e contra as barreiras que tiram o sono dos habitantes do meu país, protesto contra a hipocrisia de todos os habitantes do meu país que dão cortesia aos caçadores, aos coagentes, protesto contra a exploração do Homem contra Homem, protesto contra a intolerância, a perda de valores culturais, o sabor da vingança, o jus das consciências, os linguarudos de cá para lá, sim, senhoras e senhores do conselho, vejam só o lugar sem sono no qual se tornou o bairro trois-cents, com um olhar de pedra, ou então este homem chamado daqui em diante caracol cabeçudo, ignorando o fato de ter sido um dos meus companheiros de carteira, muito criativo, este homem que hoje se destrói é vítima de uma armadilha, senhoras e senhores do conselho, unamos as nossas forças para combater contra os verdadeiros bandidos, protesto contra aqueles que paralisam o funcionamento das nossas instituições, contra aqueles que viciam claramente o gesto de solidariedade que herdámos dos nossos ancestrais Bantos, persuadir-vos-ei que o mau do caracol cabeçudo foi de mostrar aos seus compatriotas que cada um deles poderia contribuir para a transformação da natureza Humana, assim como ensiná-nos o grande Saint-Exupery na obra terre des hommes é por isso que protesto e protestarei para sempre contra».

Na sequência da intervenção do Ministro Zou Loukia, o Presidente da República em pessoa, Adrien Lokouta Eleki Mingi, Levantou uma polêmica ao derrubar as uvas que ele tanto gostava de saborear, sensivelmente todos os dias, e nós escutámos pela Rádiofm que o presidente Adrien Lokouta Eleki Mingi era também comandante geral das Forças Armadas, manifestava o seu sentimento de inveja quanto à forma expressiva «protesto» do Ministro da Agricultura, portanto o Comandante geral das Forças Armadas gostaria que esta forma expressiva tivesse sido por ele proferida, não compreendia o porquê dos seus conselheiros não terem antes pensado numa forma expressiva também curta e breve de forma a abrilhantar a sessão, lhe eram incumbidas formas expressivas sem fundamentos do gênero «de certo que o sol nasce no horizonte e adormece no nobre rio congo», e então, aborrecido, apagado, diminuto, cabisbaixo, frustrado, o presidente Adrien Lokouta Eleki Mingi convocou a todos conselheiros da sua cabine que conjuravam por ele um maior apreço, ele pediu-lhes que se aprisionassem como jamais nas suas vidas tivessem trabalhado, que não queria mais construções poéticas foscamente líricas, e os servos da sua cabine dobraram as caudas, em ordem concordaram do menor ao maior detalhe, como Luck Luck que persegue o Dalton nos campos de cactus de Far West, e estes servos responderam em coro «sim, meu comandante» enquanto o nosso presidente, Adrien Lakouta Eleki Mingi era Comandante geral das Forças Armadas aguardava impaciente por uma guerra civil entre os habitantes do norte e do sul para escrevê-las em suas memórias de guerra que intitularia com toda a estupefação Memórias de Adrien, e o presidente-Comandante geral das Forças Armadas intimou a todos de forma a lhe encontrarem uma forma expressiva que se pudesse repercutir como o «protesto» proferido pelo ministro da Zou Loukia, e os servos da cabine presidencial trabalharam durante a noite inteira, à portas fechadas à sete chaves, abriram e folhearam pela primeira vez na vida enciclopédias que já abraçavam poeira nas prateleiras da biblioteca presidencial, procuraram também nos grandes alfarrábios, remontaram desde a origem do mundo, passando pela época de uma figura de nome Gutenberg e por aquela dos hieróglifos Egípcios, até pelas escrituras de um certo chinês que aparentemente teria dissertado sobre a arte de guerra e que aparentemente tivesse vivido a época em que não se sabia que Jesus cristo poderia vir ao mundo sob a forma de uma operação de espírito santo e sacrificar-se por nós pecadores, mas os servos de Adrien nada encontraram de tão forte quanto a expressão «protesto» do ministro Zou Loukia, então o comandante geral das Forças Armadas ameaçou exonerar a cabine inteira caso não encontrassem uma forma mais peculiar para uma eventual repercussão, ele disse « porque é que terei de continuar a pagar um bando de imbecis incapazes de me encontrar uma forma expressiva que escangalhe, marcante, que fique na história, aviso-vos que se não tiverem a minha expressão até antes do galo cantar a anunciar o novo dia, vão cair cabeças como se de mangas podres a caírem de uma árvore se tratasse, sim para mim vocês não passam de mangas podres, previno-vos, comecem a tratar os vossos cartões de identidade e procurar um país católico para o vosso exilo, este será o exilo ou o fim, digo-vos a prior, ninguém sai deste palácio a partir de já, não quero sentir o odor de café a partir do meu escritório, muito menos dos cigarros cohibauo ou monte cristo, nem água para beber, nem sanduíche, nem mais nada, nada, nada e nem nada, esta será a punição assim que não encontrarem para mim a forma expressiva, e então digam-me portanto como será que este pequenino Ministro Zou Loukia terá encontrado a expressão "protesto" que todo o mundo se familiarizou a ela, hein, os serviços de segurança presidencial advertiram-me que havia mesmo bebês que eram batizados com o nome "protesto", sem ignorar o fato de todas as mulheres de tenra idade terem começado a tatuar este nome em seus pares de nádegas, hein, ou por outras, a ironia de que, os clientes das prostitutas exigiam que estas tivessem esta tatuagem, vejam a que porcaria vocês me envolvem, hein, não terá sido um feiticeiro a encontrar esta expressão, vejamos, será que os servos do Ministro da Agricultura são melhores que vocês, hein, será que vocês têm a consciência de que estes servos não têm viaturais pessoais de trabalho, eles apanham Auto-carro do Ministério, eles têm salários miseráveis, enquanto que vocês desfilam no palácio, tomam banho de piscina, bebem champanha, vêm televisão digital, canais estrangeiros que falam qualquer coisa a meu respeito, vocês comem os meus bolinhos, vocês comem o meu pequeno salmão, o meu caviar, vocês aproveitam-se do meu pequeno jardim e da minha neve artificial para fazer ski com as vossas amantes, se é que não se deitam com as minhas 20 mulheres, hein, finalmente, digam-me, para que é que vocês me servem nesta cabine, hein, será que pago-vos para que se venham sentar como preguiçosos aqui, hein, quanta capacitação para diretor de cabine meu cão estúpido, bando de bons à nada» e o Presidente Adrien Lokouta Eleki Mingi chutou na porta do seu gabinete novamente gritando «bando de servos, nada mais será como era antes neste palácio, apenas engordam as espécies que babam a imbecis, vocês serão julgados a fim a cabo, e entre vocês há enarques (antigos estudantes da escola de administração) e politécnicos, meu traseiro".





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