Texto Linkedin - Reflexões sobre a Pós-Modernidade e a Educação

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Reflexão publicada originalmente no LinkedIn em 30/08/2016. Link para o texto original: http://tinyurl.com/jr63l7o

Reflexões sobre a pós-modernidade e a educação O que significa ser professor hoje? E, consequentemente, o que significa educar na pós-modernidade? Tenho lido muita coisa sobre a pós-modernidade e seus efeitos sobre a nossa vida. Desde a forma como nos vestimos e conversamos (hábitos diários que passam despercebidos), até mudanças maiores que moldam o trabalho e a educação. Sou uma curiosa em muitas áreas do conhecimento, mas quero refletir aqui, ainda que de maneira simples e despretensiosa, sobre a influência da pós-modernidade na educação. A educação é uma área que sempre me atraiu muito; como estudante sempre adorei aprender e, mais recentemente, como professora, vi que sou apaixonada por ensinar e que aprendo muito mais do que quando era apenas uma aluna. Para entrarmos então nesta reflexão, não vou começar com conceitos (que provavelmente deixariam esse texto, que pretende ser simples, mais complexo). Portanto, sugiro que assistam ao vídeo1 do Luiz Felipe Pondé que traz uma reflexão sobre 1

Link para acesso ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=58MMs5j3TjA

a pós-modernidade a partir da obra de Zygmunt Bauman. Excelente começo para quem quiser entender um pouco melhor sobre o assunto. Dentre os diversos materiais que li e ouvi, fica claro que muitas coisas mudaram e estão em processo de mudança. Já faz um tempo que a mudança constante se tornou parte de nossa realidade. Além disso, quando olho à minha volta, percebo elementos das duas realidades que se misturam, elementos modernos e pós-modernos. Um dos aspectos que tem chamado a minha atenção (e que relaciono, consequentemente, com a educação) é uma mudança em relação ao conhecimento. A pós-modernidade trouxe uma atitude diferente com respeito ao conhecimento (Daniel, 2002). Na modernidade o conhecimento era visto como importante em si mesmo, resultado da aplicação da razão, da ciência e da busca pela verdade objetiva. Já a pósmodernidade vê que o único valor do conhecimento é o funcional, pois o conhecimento não é objetivo, mas é algo que cada um de nós constrói com os jogos da nossa linguagem. Incerteza e ambivalência começam a se destacar em um ambiente, até então, caracterizado pela certeza e clareza, ou pelo menos, pela busca de um conhecimento marcado por essas duas últimas. Chevitarese (2001) fazendo uma análise de Bauman (1999), considera que a consciência da incerteza e da ambivalência pós-modernas exige uma nova relação com a questão da legitimação e da certeza do conhecimento. Isso me faz pensar na identidade e no papel do professor inserido nos contextos formais de educação (e pela minha experiência como professora, penso no ensino superior). A certeza buscada pela modernidade e que se manifestava na racionalidade da ciência, fortalecia a formação da identidade do professor como o detentor do conhecimento e o principal responsável pela transmissão desse conhecimento aos alunos. As fontes desse conhecimento eram mais escassas e se escondiam em livros especializados, geralmente, difíceis de serem adquiridos e em cursos reconhecidos que legitimavam a aquisição desse conhecimento. Na pós-modernidade, muito conhecimento está acessível a um clique (inclusive o disponibilizado nos livros especializados), cada vez mais surgem cursos fora das instituições reconhecidas (inclusive gratuitos) e mais mecanismos de troca e construção compartilhada de conhecimento entre os próprios alunos são gerados. Além disso, a forma de tratar os problemas e analisá-los tem mudado (Gatti, 2005). Portanto, a mudança está enraizada na forma de abordar a realidade, na lógica e na linguagem, influenciando, consequentemente, a forma de fazer pesquisa, de elaborar currículo de cursos, de ensinar e de avaliar também. O processo de transmissão de conhecimento de um professor para muitos alunos sentados em fileiras em completo silêncio tem se mostrado insuficiente em um contexto caracterizado pela criatividade, liberdade e interação. Por alunos conectados nas atividades diárias, em comunicação e compartilhamento de informação constantes, que na sala de aula precisam desligar seus celulares e prestar atenção na apresentação de PowerPoint do professor. Esse modelo tradicional de educação vem sendo questionado há muito tempo, por diversos autores. Porém, na pós-modernidade, essa mudança na lógica e na linguagem, impacta diretamente o comportamento de professores e alunos e demanda uma busca por novos modelos de educação.

Isso me faz pensar na identidade do professor e nos papeis assumidos por ele e pelo aluno. Uma nova identidade é necessária em um contexto de profundas mudanças no cerne do processo de ensino e aprendizagem. Bauman (1999) fala sobre a crise de identidade trazida pela pós-modernidade e eu acredito que essa crise também alcançou a identidade do professor, seu papel e sua ação em sala de aula (e cada vez mais fora dela também). O que significa ser professor hoje? E, consequentemente, o que significa educar na pós-modernidade? A situação da educação é muito mais complexa do que isso, abrangendo novos modelos de gestão, a construção de novos espaços de formação (dentro e fora das escolas/universidades), a integração de conteúdos, novas formas de criação, compartilhamento e avaliação de conhecimento, novas metodologias e a clareza na construção dos objetivos da educação (principalmente, em sua relação com o trabalho). Afinal, o trabalho também tem sofrido profundas mudanças com a pós-modernidade e o tipo de profissional que as universidades estão se dedicando em formar parece, ainda, estar alheio a essas mudanças. Enfim, tenho visto e experimentado algumas dessas mudanças em sala de aula. Tenho, também, sentido o mal estar de tentar desempenhar um papel baseado em uma identidade que parece desajustada ao contexto atual. Essas reflexões me fazem enxergar para além da ponta do iceberg e ver que há muita coisa inexplorada por trás do que se torna aparente. Mas o sentimento é de esperança.

Referências apresentadas neste texto:

BAUMAN, Zygmunt. (1999). Modernidade e Ambivalência. RJ. Jorge Zahar Editor. CHEVITARESE, L. (2001). “As ‘Razões’ da Pós-modernidade”. In: Analógos. Anais da I SAF-PUC. RJ: Booklink. Disponível em: http://www.saude.inf.br/artigos/posmodernidade.pdf DANIEL, J. (2002). A educação em um mundo pós-moderno. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000099.pdf GATTI, B. (2005). Pesquisa, educação e pós-modernidade: confrontos e dilemas. Cad. Pesq., v. 35, n. 126, p. 595-608. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n126/a04n126.pdf

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