UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATATINA DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURAS VERNÁCULAS Teoria Literária IV Prof. Dr. Jair Zandoná
TEXTO, OBRA, AUTOR?
BARTHES, Roland. Da obra ao texto. In.: _____. O rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, 57-97. Lucas Denir Espindola1 Roland Barthes, sociólogo, crítico literário e filósofo francês, nascido em 1915, é o autor de O Rumor da Língua, um conjunto de ensaios e reflexões publicado no Brasil em 1988. A análise que doravante realizamos se fará a respeito de um dos ensaios que compõe esse livro, intitulado Da Obra ao Texto. Aquele que de forma repentina se depara com O Rumor da Língua de Barthes há de ter uma enorme surpresa a se ver impelido a refletir sobre o que era tido como simples. É assim em Da Obra ao Texto e também em A morte do autor que, no livro, não por acaso está posto anteriormente ao texto que estamos a analisar. A morte do autor apresenta a desconstrução de um sujeito canônico, aliás, desconstrução é uma palavra candente na compreensão dos textos de Barthes. O filósofo desconstrói a ideia de que o texto não é produzido de forma individual por um sujeito canônico. Nesse sentido, a obra não é o reflexo do autor. No mesmo sentido, Da Obra ao Texto, reivindica uma nova leitura sobre noções tidas por tradicionais, resultando objetos novos e linguagens novas. [...] a ação conjugada do marxismo, do freudismo e do estruturalismo obrigam, em literatura, a relativizar as relações do escritor, do leitor e 1
Graduando do curso de Letras Português na Universidade Federal de Santa Catarina. Email:
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do observador (do crítico). Diante da obra – noção tradicional, concebida durante muito tempo, e ainda hoje, de maneira por assim dizer newtoniana –, produz-se a exigência de um objeto novo, obtido por deslizamento ou inversão das categorias anteriores. Esse objeto é o Texto.2
De acordo com Barthes, o texto não deve ser compreendido como um objeto inanimado, assim como língua, é um elemento vivo, suscetível a reinvenções. De fato, a obra é um produto individual e comercial depositado nas prateleiras, mas o texto é plural, é o diálogo entre obra e leitor, posto e eternizado nesse espaço de crítica. E porque o leitor tem uma leitura de mundo própria, o texto acontece num espaço social que transcende distinções literárias e de linguagem, já que não se restringe ao consumo ou significado. O texto está sendo construído em cada debate, em cada encontro e reencontro. Parafraseando Calvino em Por que ler os clássicos, toda releitura é uma leitura de descoberta como a primeira, pois nunca um texto acabou de dizer o que tem para dizer, e em todas revisitações seremos surpreendidos por um novo texto. É como ler O pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry em distintas fases da vida, um novo texto porque em momentos distintos somos uma nova pessoa, um leitor. Diante disso, seria a obra então eternizada pelo texto? Já que quando não houver mais o dialogo entre obra, leitor e realidade do mesmo, o texto morrerá na lembrança de alguns e a obra será tão somente aquele livro empoeirado na prateleira da Biblioteca Nacional que não produz mais diálogo com a realidade do leitor ou com outros textos.
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BARTHES, Roland. Da obra ao texto. In.: _____. O rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 72.