Textos de História da China Antiga

June 13, 2017 | Autor: André Bueno | Categoria: Chinese Philosophy, Chinese Studies, China, China studies, Chinese history (History), Ancient China
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André Bueno Textos de História da China Antiga Rio de Janeiro: Ebook, 2016. Disponível em: www.orientalismo.blogspot.com.br ISBN 978-85-65996-39-6

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André Bueno

TEXTOS DE HISTÓRIA DA CHINA ANTIGA

Rio de Janeiro 2016 3

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Índice Introdução, 7 Antologia, 13 1. A Vida Cotidiana no Passado - Liji 2. Proibições e Calendário - Guanzi 3. A Mulher ideal - Banzhao 4. A Mulher comportada – Banzhao 5. Mulher e o estudo - Banzhao 6. Comportamento sexual – Livros íntimos [Fangshu] 7. A ordem dos sexos – Livros íntimos [Fangshu] 8. Sobre o Amor - Shijing 9. Do Divórcio - Shijing 10. O que é a Piedade Filial? - Xiaojing 11. Maus Hábitos - Mêncio 12. Contra o Ócio - Shujing 13. Contra a Embriaguez - Shujing 14. O Sábio Ideal - Lunyu 15. O sábio daoísta – Zhuangzi 16. Os deveres sociais - Zhong Yong 17. A Educação pelos Clássicos - Liji 18. Li, a “Cultura” ou "Ritual" - Liji 19. A Natureza Humana - Liji 20. A importância da Música - Liji 21. Música e Harmonia Universal - Liji 22. Sobre a Educação - Liji 23. A Educação Superior - Liji

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24. Ciência Chinesa - Shujing 25. Divisões e Correspondências na Ciência Chinesa - Shujing 26. O Mandato do Céu - Shujing 27. A Arte de Governar - Liji 28. Governo e Cultivo interno - Daxue 29. Sobre a corrupção no governo - Shijing 30. Sobre as Leis - Shang Yang 31. Monarcas Dedicados - Shujing 32. O Monarca Perverso - Shujing 33. O Monarca Absoluto – Inscrição de Qin 34. O Governo sábio – Chunqiu Fanlu 35. Outros povos e países – Shiji 36. Para enriquecer um país - Shang Yang 37. Planejamento Econômico - Mêncio 38. Economia na China Antiga - Shiji 39. A busca pela riqueza - Shiji 40. Da Agricultura - Shijing 41. O Céu e a Paz - Mozi 42. Sobre a Guerra - Sunzi 43. Contra a guerra - Shijing 44. Guerra e Política - Shang Yang 45. O Cavalheirismo Guerreiro – Sima Fa 46. Rituais Funerais - Liji 47. Sacrifícios do Céu e da Terra - Liji 48. Oferendas Espirituais – Liji 49. Cerimônias para os Ancestrais - Zhong Yong 50. O Luto - Zhong Yong 51. Rituais do Campo - Shijing Referências, 91

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Introdução Após a experiência bem sucedida com o livro Cem Textos de História Chinesa, fiquei a pensar se não seria interessante fazer uma espécie de versão resumida, centrada principalmente no período da antiguidade. Então, na passagem do verão de 2015/2016, dediquei-me a recolher os textos para elaborar uma nova coletânea, mais sucinta [em torno de cinquenta textos], com fragmentos mais curtos e diretos. A ideia era compor um quadro da civilização chinesa por suas próprias fontes, atravessando o vasto período de Zhou [-1027 a -221], Qin [-221 a -206] e Han Anterior [-206 a +9]. Obviamente, esse quadro é idealístico, e precisa ser contraposto as fontes arqueológicas e aos estudos mais aprofundados. Contudo, os fragmentos textuais são um excelente instrumento didático para que possamos compreender as imagens que os chineses antigos criaram de si mesmos. Um dos objetivos centrais dessa coleção de trechos é, justamente, o seu caráter educativo. Ao elaborá-la, eu pensei nos estudantes de Sinologia, mas também, nos professores que porventura desejem, um dia, lecionar temas relacionados à China Antiga. Tentei evitar a repetição dos textos de Cem Textos de História Chinesa, apresentando algumas novidades. Devo ressaltar, sou devedor de algumas traduções anteriores que facilitaram sobremaneira esse trabalho [e que apresentaremos na parte das referências]. Quanto ao contexto temporal, como dito, circunscrevi a escolha das passagens até a primeira parte da Dinastia Han, quando se consolida a instituição do império chinês. Essa é uma cronologia bem conhecida, que já discuti em

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outros textos, como História da China Antiga [2000], Mirações do Celeste [2009] e no próprio Cem Textos de História Chinesa [2009]. Farei dela um breve resumo, porém, para introduzir o leitor nesse primeiro contato com os textos. A história da China antiga A história chinesa é rastreada, em processo contínuo, até suas origens proto-históricas. O longo período Neolítico demonstra uma origem autóctone das populações chinesas, embora elas estivessem longe de guardar uma total homogeneidade. Culturas como Longshan e Majiayao, próximas do rio Huangzi, e Yueshi e Shijiahe, próximas do rio Yangzi, apontam caracteres afins, dos mais diversos gêneros, revelando um processo de interação contínuo entre as muitas culturas neolíticas chinesas. No entanto, é o surgimento da história política chinesa que começa a fundar o milenar processo de construção de uma identidade cultural chinesa. Este teria se iniciado na Dinastia Xia, que governara a China, segundo as fontes tradicionais, entre -2070 a -1600. Os elementos materiais da cultura Xia estão sendo desencavados agora, e por isso, pouco se sabe sobre esse período. O que já se percebeu é a íntima noção de continuidade estabelecida com a dinastia Shang [-1600 a -1027 (ou -1046)]. Os Shang são bem apresentados historicamente e arqueologicamente. Uma vasta cultura material revelou seu amplo domínio da metalurgia do bronze, o domínio e a expansão de um sistema de escrita, o estabelecimento de um sistema de crenças e a estrutura política baseada em cidades relativamente autônomas – unidas, porém, por uma noção de identidade cultural identificada por símbolos

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comuns, presentes em seus objetos e representações – e pela indicação de reis responsáveis pela coesão política dessa sociedade. Desse núcleo humano emergirá a civilização chinesa. A dinastia Zhou, que iria até -221, se constituiu a partir de uma das muitas populações achinesadas que foram gradualmente integradas a essa organização. O período dos Zhou, porém, marca uma mudança significativa na estrutura social e política. Institui-se um novo sistema de administração do poder, denominado Fengjian [no ocidente, entendido como Feudalismo chinês]. Ele dividia as extensas terras chinesas em concessões nobiliárquicas, que prestavam juramente de fidelidade à dinastia governante. Com o tempo, esses estados adquiriram uma autonomia crescente, comportando-se paulatinamente como reinos independentes. O colapso do equilíbrio interno levou a um período de contínua guerra civil entre -481 a -221, chamado de época dos Estados Combatentes, que culminou com a vitória do reino de Qin, fundador da nova dinastia. A dinastia Zhou estabeleceu grande parte da literatura que utilizamos aqui. Foi um momento conturbado, mas igualmente rico para a história chinesa. Surge a teoria do Mandato Celeste, ideologia política que defendia a conexão harmônica do Céu [ecologia] e a Terra [mundo humano] por meio da figura imperial. A guerra civil não culminou numa fragmentação, mas sim, numa unificação política e cultural da sociedade. Surgiram os grandes pensadores éticos, como Confúcio e Laozi, preocupados em reformar sua sociedade. Houve também uma preocupação crescente com a escrita da história e a manutenção da continuidade da civilização. Quando Qin assume o poder, há uma renovação na estrutura política e social da China. Unificada, ela passa por uma

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ampla reforma, em diversos níveis, visando construir um caráter homogêneo para a sociedade e a cultura. Tais medidas foram acompanhadas de uma terrível repressão, dando contornos de totalitarismo às imposições feitas pelo governo. Por isso, Qin foi fundamental para a construção da China antiga, mas sua existência foi efêmera. Logo Qin foi substituído pela dinastia Han, que adotou o Confucionismo como doutrina oficial, fomentou uma ideologia mais liberal e estimulou a economia, a cultura e a educação em níveis nunca antes vistos, criando uma era definitiva para a história chinesa. A literatura chinesa antiga: Glossário dos textos empregados nessa coletânea Banzhao – escritora e intelectual do século +1, escreveu as Lições Femininas [Nujie], manual de boa conduta para a mulher da corte. Chunqiu Fanlu – livro escrito por Dong Zhongshu, do s´cuelo 2, mestre de Sima Qian. Ampla recolha de comentários sobre diversos temas sobre filosofia, política e ética da China Antiga. Daxue – texto atribuído a Confúcio, incluído no Liji, abordando a questão do estudo e da política no governo das coisas e do mundo. Fangshu – os Livros Íntimos são escritos diversos, abordando a questão da sexualidade do ponto de vista daoísta. Defendiam uma superioridade do feminino, e a prática dos relacionamentos em condições mais igualitárias de gênero. Guanzi – autor pouco conhecido, que teria vivido em época próxima a de Confúcio [séc. -6]. Seu texto, eclético em suas tendências, parece ser posterior, sendo constituído de retalhos de escolas de pensamento diversas.

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Inscrições Qin – série de epigrafes espalhadas pela Dinastia Qin para divulgação da dinastia e de sua ideologia. Liji – As Memórias da Cultura são um amplo conjunto de textos que tratam sobre os mais diversos aspectos da cultura chinesa no período pré-Qin. Inicialmente recolhidos por Confúcio, os textos foram reorganizados durante a Dinastia Han, incorporando, inclusive, textos do próprio Confúcio. Lunyu – As Conversas de Confúcio, coligidas por seus alunos. A principal fonte para conhecer os principais ditos do mestre Confúcio. Mêncio – principal autor confucionista do século -4, continuador de Confúcio. Sua preocupação centrava-se na conduta ética adequada, no estudo da natureza humana e na boa condição da política. Mozi – escritor do século -5, grande concorrente do Confucionismo, que defendia a concepção da paz universal, a abolição da guerra e da classe nobiliárquica. Shang Yang – autor legalista, do século -4, defensor de um regime duro, calcado em leis de caracteres totalitários. Shiji – Memórias Históricas de Sima Qian, principal livro de História da Dinastia Han, e modelo de escrita histórica para todos os historiadores posteriores. Datado do século -1, o livro é composto de capítulo diversos, incluído cronologias, biografias e tratados científicos. Shijing – Livro das poesias restaurado por Confúcio no século -6. Traz uma coletânea de poesias, cantos e hinos que falam sobre a natureza, o cotidiano e a reflexão humana nos períodos mais antigos.

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Shujing – Livro das histórias, restaurado por Confúcio no século 6. Apresenta passagens importantes da história chinesa antiga, privilegiando o aspecto biográfico. Sima Fa – texto estratégico sem data precisa, talvez do século -5 ou -4. Trata das regras cavalheirescas de combate e guerra, resgatando o antigo código de conduta militar da época Zhou. Sunzi – pensador que teria vivido no século -6. Seu tratado influenciou decisivamente o pensamento estratégico chinês, tornando-se referência em questões militares e políticas. Xiaojing – O Livro da Fraternidade Familiar é um pequeno tratado confucionista sobre as relações sociais familiares e sociais. Provavelmente, data da época Han. Zhongyong – texto atribuído a Confúcio, e incluído no Liji, tratando sobre a conduta humana correta. Zhuangzi – um dos principais representantes do Daoísmo, teria vivido no século -4, sendo responsável por sua divulgação e popularização. Seus textos, porém, são ricos e profundos em termos filosóficos.

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ANTOLOGIA

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1 . A Vida Cotidiana no Passado - Liji No começo, Li (cultura) surgiu com a comida e bebida. O povo assava milho e carne de porco, cortados à mão, em lascas de pedra aquecidas. Cavavam buracos no chão, à maneira de vasilhames, e bebiam diretamente nas conchas das mãos. Modelavam em barro seus tambores e as baquetas, materiais esses que parece terem-se provado à altura de seus cultos aos espíritos. [...] Antigamente os governantes não possuíam casas; moravam em grutas escavadas ou em abrigos de madeira empilhada, no inverno, e em ninhos feitos com ramos secos (na copa de árvores) durante o verão. Não conheciam os usos do fogo; comiam frutos e a carne de aves e animais, bebendo-lhes o sangue. Não tinham sedas nem outros tecidos, vestiam-se com penas e peles de animais. Mais tarde vieram os Sábios, que lhes ensinaram a utilizar o fogo e a fundir metais em moldes de bambu e a modelar o barro em vasilhas. Então construíram galpões e casas com portas e janelas, e passaram a chamuscar e fumegar e cozer e assar a carne em espetos, e fabricaram o vinho e o vinagre. Começaram também a usar tecidos de fibras e sedas, preparando as vestes para uso dos vivos e oferendas aos mortos e cultos aos espíritos e a Deus. Tais práticas foram também herdadas dos primórdios. Por isso, guardava-se o vinho escuro no aposento interior, o vinho branco junto à porta do sul, o vinho tinto no vestíbulo e o vinho mosto do lado de fora.

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2. Proibições e Calendário - Guanzi Seis são as coisas que o soberano deve procurar, e quatro as que deve proibir. As que deve procurar são: economizar gastos, promover ministros sábios e capazes, estabelecer leis e medidas, impor castigos, seguir os tempos do Céu e acomodar-se as conveniências da Terra. Quatro são as coisas que o soberano deve proibir: na primavera não deve permitir matar, cortar, rebaixar terrenos, suprimir vegetação, podar árvores, aplanar montes, incendiar campos, castigar os ministros, exigir contribuições de grãos. No verão, não obstruir o curso dos rios, não fazer barrancos, não remover terras, não matar aves. No outono, não perdoar delitos, não perdoar nem suavizar penas. No inverno, não conceder feudos nem galardões, nem atacar ou casar dano aos campos. Sem as proibições da primavera, a vida não poderá se desenvolver; sem as proibições do verão, não crescerão os cereais; sem as proibições de outono, não se poderão evitar vícios e delinquências; sem as proibições de inverno, os vapores terrestres não se fixarão na terra. Se faltarmos contra estas quatro proibições, o yin e o yang não poderão combinar-se harmoniosamente. Os ventos e as chuvas virão ao seu tempo, as águas inundarão terras e povoados, os vendavais levarão casas e arrancarão árvores, os incêndios arrasarão os montes, nevará no inverno e a terra tremerá. No verão cairá a copa das árvores e no outono ela voltará a nascer. Os animais não invernarão: os que o fariam estarão acordados e soltos. Os montes se cobrirão de mal, e se povoarão de animais e répteis. A cria de gado não prosperará, a gente morrerá prematuramente, o Estado se empobrecerá e haverá revolta.

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3. A Mulher ideal - Banzhao Uma mulher deve ter quatro qualificações; virtude, carinho, beleza e esforço. A virtude não exige brilhantismo, mas apenas a atenção íntima; o carinho não precisa ser inteligente ou aguçado nas palavras, mas sincero; a beleza não requer formas ou faces perfeitas, mas apenas dedicação e cuidado com o corpo; e por fim, o esforço não é trabalhar mais, ou melhor, que outros, mas apenas o necessário (...) Estas quatro qualificações fazem a virtude completa da mulher, e ela não pode viver sem elas. O maior tesouro de um Homem é estar no coração de uma mulher assim.

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4. A Mulher comportada – Banzhao Uma mulher que respeita os outros; que deixa os convidados serem os primeiros, e ela a última; que faz algo de bom, mas não se vangloria; que faz o mal, mas reconhece o erro; suporta ofensas e não se importa; aparenta medo e temor, mas guarda sua verdadeira força para não humilhar os que estão a sua volta; uma mulher, quando segue estes preceitos, pode ser dita humilde diante dos outros, mas é, na verdade, intocável.

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5. Mulher e o estudo – Banzhao Um marido indigno não pode controlar sua esposa; uma esposa indigna não pode exigir nada de seu marido. Somente o equilíbrio dos dois princípios pode harmonizar uma relação (...) Isso se inicia pela educação: conforme o Liji, a regra é começar a ensinar uma criança a ler aos oito anos, e perto dos quinze elas estão aptas ao estudo da cultura. Apenas porque isso se refere aos meninos, não pode e deve ser igualmente outorgado às meninas? Esta é a base do equilíbrio entre os sexos.

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6. Comportamento sexual – Livros íntimos [Fangshu] A causa da fraqueza dos homens está somente no fato de que aproveitam de forma abusiva todos os caminhos do relacionamento entre os elementos feminino e masculino. Neste ponto, a mulher é superior ao homem, da mesma forma que o fogo quando é apagado pela água. Se você compreende isto e sabe aplicá-la, você se parecerá com as panelas apoiadas num tripé em que são combinadas harmonicamente as cinco tendências do paladar, fazendo com que surja uma sopa deliciosa de carne e legumes. Quem está bem informado sobre os caminhos dos elementos feminino e masculino desfrutará os cinco prazeres; quem não os conhece e não os segue encurtará a própria vida. Quantos prazeres e alegrias podem ser experimentados e desfrutados! Quem não dedicaria sua atenção a isso? [...]

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7. A ordem dos sexos – Livros íntimos [Fangshu] Desde o princípio dos princípios, houve uma ordem estabelecida para a união sexual. Se um casal segue esta ordem, o homem conserva o vigor juvenil e a mulher está protegida contra todas as doenças. O coração é estimulado e a substância vital é fortalecida em sua plenitude. Mas quem se entrega ao intercâmbio sexual na ignorância prejudica-se e acaba ficando doente. Para descobrir os caminhos certos, é necessário reforçar a energia vital, manter tranquilos os sentidos e dirigir a vontade para a harmonia. Se alguém alcançou esses três objetivos, seu espírito está sendo unido dentro de si; o corpo não é frio nem quente, nem faminto ou supersaciado, mas permanece firme e harmônico. Por isso, o intercâmbio sexual sempre deve ser equilibrado e descontraído. A penetração deve ser suave e os movimentos controlados; além disso, a introdução e a retirada não devem ser muito frequentes. Assim, a mulher é satisfeita da forma mais agradável, o homem floresce e não fica esgotado, e ambos alcançam seu ponto culminante.

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8. Sobre o Amor - Shijing Você me parece um jovem bem ingênuo, Oferecendo em troca de seda seus tecidos; Mas não é a seda o que você deseja: Eu sou a seda que você tem em mente. Com você atravessei o vau e enquanto Caminhamos por mais de uma milha Eu disse - Não quero delongas Mas, é preciso que os amigos fixem a data de nosso casamento... Oh, não se aflija com minhas palavras, Mas volte com o outono. E então passei a esperar e a ficar olhando Para ver você passar pelo portão; E algumas vezes quando observava em vão. Minhas lágrimas corriam como grossas gotas de chuva; Mas quando vi meu querido, Ri e chorei alto de alegria. Os videntes, disse você, Todos declararam que éramos feitos um para o outro; - "Tragam então uma carruagem," repliquei, "E serei sua esposa para sempre." As folhas da amoreira, ainda não arrebatadas Pelo vento frio do outono, brilham ao sol. Ó doce pomba, eu devia aconselhar, Acautela-te contra o fruto que tenta teus olhos! Ó linda donzela, ainda não esposada, Não ouça, alegremente, as promessas do amado! Um homem pode fazê-las de má fé e o tempo Se encarregará de obscurecer seu crime;

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Uma mulher que perdeu o nome Está condenada a uma vergonha eterna. A amoreira sobre o solo que a cerca Agora espalha as folhas amarelas. Três anos Já se passaram, Desde que eu partilhei sua pobreza; E agora novamente, dia amargo! Atravessei o vau de volta. Meu coração ainda não mudou, mas você Pronunciou palavras que agora provaram ter sido falsas; E abandonou-me para lamentar Um amor que não mais pode ser meu. Durante três longos anos fui sua esposa, E levei, na verdade, uma vida de tristeza; Cedo me erguia da cama e ia tarde descansar, Todos os dias se passaram assim para mim. Honestamente cumpri a minha parte. E você...você despedaçou meu coração. A verdade meus irmãos não a saberão, Do contrário me crivariam de sarcasmos. Sofro em silêncio e só lamento Ter sido meu um tal destino infeliz. Ah, quem dera que de mãos dadas enfrentássemos a velhice! Em vez disso volto uma página amarga. Oh, pelas margens do rio, há muito tempo; Oh, pelas muito queridas praias pantanosas; As horas da meninice, com meus cabelos Soltos, como eu as esperava! As Juras que trocamos pareciam tão sinceras, Nunca pensei que teria que arrepender-me delas;

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Nunca pensei que as promessas que trocamos Por que falar mais sobre isso?

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9. Do Divórcio - Shijing O vestido amarelo é sinal de distinção, O verde, da desgraça. Uso o verde e não o dourado, E escondo o meu rosto. Uso o verde do desprezo Depois de tanto tempo usar o amarelo. Medito nos ensinamentos dos Sábios, Com medo de julgá-los errados. Foi por ela que ele me cobriu de vergonha. Sento-me e penso solitária. Fico pensando se os Sábios conhecem O coração de uma mulher.

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10. O que é a Piedade Filial? - Xiaojing Pois bem, a piedade filial é a raiz de toda virtude e o tronco do qual nasce todo ensinamento moral. Senta-te de novo e te explicarei a questão. Nossos corpos – cada fio de cabelo, cada fragmento de pele – nós herdamos de nossos pais e não devemos atrever-nos a danifica-los ou feri-los. Este é o começo da piedade filial. Quando formamos nosso caráter mediante a prática da conduta filial, para tornar famoso nosso nome nas idades futuras e glorificar com isso nossos pais, este é o fim da piedade filial. Começa com o serviço de nossos pais, continua com o serviço do governante, e se completa pela formação do caráter.

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11. Maus Hábitos – Mêncio Há cinco coisas que são consideradas pelo uso comum da época como faltar ao dever para com os pais. A primeira é a preguiça no uso dos quatro membros sem atender à alimentação dos pais. A segunda é jogar a dinheiro e abusar do vinho sem atender à alimentação de seus pais. A terceira é apaixonar-se pelos objetos e pelo dinheiro a apegar-se egoisticamente à mulher e aos filhos, sem atender à alimentação dos pais. A quarta é seguir os despojos de seus próprios ouvidos e olhos, até o ponto de provocar a desgraça sobre seus pais. A quinta é gostar de valentia, lutando e disputando a ponto de por seus pais em perigo.

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12. Contra o Ócio - Shujing Disse o duque de Zhou: “Oh! o homem superior baseia-se nisto: não se entregar ao ócio luxurioso. Antes de mais nada, compreende que o penoso trabalho de semear e colher leva à fartura, assim como compreende que o povo humilde depende do trabalho para sua subsistência. Observou entre os humildes que quando os pais trabalharam diligentemente na semeadura e na colheita, seus filhos não compreendem com frequência esse penoso trabalho e se entregam ao ócio e à vagabundagem aldeã e se tornam completamente desorganizados. Ou, quando assim não agem, desprezam seus pais, dizendo: “Estes velhos ouviram e nada sabem”.

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13. Contra a Embriaguez – Shujing O rei fala do seguinte modo: “Fazei conhecer claramente minhas grandes ordens no país de Mei; Quando vosso venerável pai, o rei Wen, lançou as bases de nosso reino na região ocidental, fez declarações e admoestações aos príncipes das diversas regiões e a todos os altos funcionários, com seus ajudantes e os diretores dos negócios, dizendo dia e noite: “Devem ser empregados alcoóis nos sacrifícios”. Quando o Céu outorgou seu decreto favorecedor e assentou as bases da eminência do nosso povo, utilizavam-se as bebidas espirituosas unicamente nos grandes sacrifícios. Quando o Céu envia seus terrores e nosso povo se desorganiza consideravelmente com eles e perde sua virtude, pode-se atribuir invariavelmente ao abuso das bebidas. Mais ainda, a ruína dos Estados pequenos e grandes por esses terrores é invariavelmente motivada por sua culpa no uso de bebidas. O rei Wen admoestou e instruiu os jovens nobres que desempenhavam funções administrativas ou qualquer emprego para que não utilizassem ordinariamente as bebidas espirituosas e em todos os Estados exigiu que esses funcionários não bebessem a não ser por ocasião dos sacrifícios, e que então predominasse a virtude de modo a que não pudesse haver embriaguez”.

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14. O Sábio Ideal - Lunyu No seu vilarejo, Confúcio tinha modos despretensiosos e falava com hesitação. No templo ancestral e na corte, sua fala era eloquente, mas circunspecta. Na corte, ao conversar com os ministros menos importantes, ele era afável; ao conversar com os ministros mais importantes, ele era respeitoso. Diante do dirigente, ele era humilde mas sereno. Quando o dirigente lhe ordenava dar as boas-vindas a um convidado, ele demonstrava gravidade e expectativa. Inclinandose e cumprimentando à direita e à esquerda, seu manto acompanhava os movimentos de seu corpo e, quando ele avançava, suas mangas agitavam-se como asas. No final da visita, ele sempre anunciava: "O convidado partiu". Ao transpor os portões do palácio do duque, ele caminhava discretamente. Nunca parava no meio da passagem nem pisava na soleira. Quando passava diante do trono, adotava uma expressão de gravidade, apressava o passo, e parecia perder a fala. Ao subir os degraus do salão de audiências, erguia a orla de seu manto e inclinava-se, como se perdesse a respiração; ao sair, depois de descer o primeiro degrau, expressava alívio e contentamento. No final da escada, movia-se rapidamente, como se tivesse asas. Ao retornar ao seu lugar, reassumia sua fisionomia humilde. Ao segurar a placa de jade, ele se inclinava como que curvando-se sob seu peso. Colocava a mão de cima como que para saudação e a mão de baixo como que para oferenda. Sua expressão refletia admiração, ele andava a passos curtos através de um caminho estreito.

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Na apresentação ritual de presentes, sua expressão era cortês. Na audiência privada, mostrava-se alegre. Um cavalheiro não usa lapelas cor de púrpura ou cor de malva; vermelho e violeta não deveriam ser usados nas vestimentas caseiras diárias. No calor do verão, ele usa linho leve, fino ou rude, mas nunca sai sem colocar um manto. Com um roupão preto, ele usa pele de cordeiro; com um roupão branco, pele de cervo; com um roupão amarelo, pele de raposa. Seu roupão de pele para usar dentro de casa é longo, com a manga direita mais curta. Sua camisa de dormir é do comprimento do joelho. Peles grossas de raposa e texugo são para ser usadas dentro de casa. Exceto quando está de luto, ele usa todos os seus ornamentos da cintura. Afora seu manto cerimonial, que é composto de uma única peça, todas as suas roupas são cortadas e costuradas. Em funerais, peles de cordeiro e barretes pretos não deveriam ser usados. No dia do Ano Novo, ele tem de frequentar a corte em indumentária da corte. Em períodos de abstinência, ele usa o roupão de purificação, feito de linho grosseiro. Em períodos de abstinência, ele segue uma outra dieta e, em casa, não senta no seu lugar de costume. Mesmo seu arroz sendo da mais fina qualidade, ele não se vangloria; mesmo sua carne sendo finamente cortada, ele não se vangloria. Se o alimento está mofado ou rançoso, se o peixe não está fresco se a carne está estragada, ele não o come. Se o alimento perdeu a

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cor, ele não o come. Se o alimento cheira mal, ele não o come. Se está mal cozido, ele não o come. Se não é servido na hora certa, ele não o come. Se não está adequadamente cortado, ele não o come. Se não é servido no molho correto, ele não o come. Mesmo havendo muita carne, ele não deve comer mais carne do que arroz. Quanto ao vinho, contudo, não existem restrições, enquanto ele mantiver a mente clara. Ele não consome vinho comprado em loja, ou carne seca do mercado. Ele deixa um pouco de gengibre sobre a mesa durante a refeição, mas utiliza-o com moderação. Depois de um sacrifício de estado, a carne não deve ser guardada de um dia para o outro. A carne de sacrifícios domésticos não deve ser guardada mais do que três dias. Depois do terceiro dia, ela não deve ser ingerida. Não deve haver conversas durante as refeições, e não se deve conversar na cama. Por mais ordinário que seja o alimento, deve-se rezar antes de cada refeição, e rezar com devoção. Não sentes sobre uma esteira que não esteja esticada. Ao beber numa reunião do vilarejo, não se deve sair antes dos mais velhos. Quando um exorcismo era realizado no seu vilarejo, ele aparecia com sua vestimenta da corte, no estrado localizado a leste. Ao enviar uma mensagem para alguém de fora, inclinava-se duas vezes antes de autorizar o mensageiro a seguir caminho. O senhor Ji Kang enviou-lhe alguns remédios. Ele se inclinou e aceitou o presente, mas disse: "Como não conheço esta substância, não ouso experimentá-la".

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Os estábulos queimavam. O Mestre deixou a corte e perguntou: "Alguém se feriu?" Ele não perguntou sobre os cavalos. Quando o príncipe lhe manda um presente de alimento cozido, ele precisa endireitar sua esteira e experimentá-lo imediatamente. Quando o príncipe lhe manda um presente de alimento cru, ele tem de cozinhá-lo e oferecê-lo aos ancestrais. Quando o príncipe lhe dá um animal vivo, ele tem de criá-lo. Ao aguardar o príncipe na hora da refeição, enquanto o príncipe realiza a oferenda sacrificial, ele experimenta o alimento primeiro. Ele adoeceu. O duque veio visitá-lo. Ele estava deitado com a cabeça para o leste, sua vestimenta da corte estava dobrada sobre a cama, e a faixa colocada de través. Sempre que o duque o convocava, o Mestre para lá se dirigia sem esperar que os cavalos fossem atrelados à sua carruagem. Ao visitar o grande templo, ele indagava sobre tudo. Um amigo morreu; não havia ninguém para se ocupar do funeral. Ele disse: "Deixai isso comigo". Ao receber um presente de um amigo, mesmo que fosse tão considerável quanto uma carruagem e cavalos, ele não se inclinava - a não ser que fosse um presente de carne sacrificial. Na cama, ele não se deitava duro como um cadáver; em casa, não se sentava ereto como um convidado. Sempre que via uma pessoa recentemente enlutada, mesmo que fosse alguém que encontrava todos os dias, ele sempre expressava sua dor. Sempre que via alguém com um barrete cerimonial, ou um homem cego, mesmo que fosse de uma condição inferior, expressava respeito. Ao dirigir, inclinava-se de dentro de sua carruagem para qualquer passante de luto, mesmo que fosse um mero mascate.

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Quando diante de uma rara delícia num banquete, ele expressava apreço e punha-se de pé. Um súbito trovão ou um violento vendaval sempre afetavam sua fisionomia. Ao subir em sua carruagem, ele sempre parava e a olhava de frente, depois pegava na maçaneta. Dentro da carruagem, não olhava para trás, nem falava muito, nem apontava com o dedo. Assustado, o pássaro ergueu-se; saiu voando e em seguida pousou novamente. Está escrito: "O faisão fêmea sobre a ponte da montanha sabe o momento certo, sabe o momento certo!" Zilu inclinou-se para o pássaro, que bateu as asas três vezes e saiu voando.

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15. O sábio daoísta – Zhuangzi Aquele que sabe o que é de Deus e o que sabe o que é do Homem alcançou verdadeiramente o cimo (da sabedoria) aquele que sabe o que é de Deus, molda sua vida segundo Deus. Aquele que sabe o que é do Homem, pode ainda usar sua ciência para desenvolver o conhecimento do desconhecido, vivendo até o fim de seus dias e não perecendo jovem. Eis a perfeição do saber. Nisso, entretanto, há uma falha. O saber correto depende dos objetos, mas os objetos da ciência são relativos e incertos (mutáveis). Como se pode saber que o natural não é realmente do homem e o que é do homem não é realmente natural? Nós devemos, além disso, ter os homens verdadeiros antes de termos a ciência verdadeira. Mas o que é o homem verdadeiro? O verdadeiro homem de antigamente não se aproveitava do fraco, não atingia seus fins pela força bruta, e não reunia ao redor de si os conselheiros. Assim, falhando, não tinha motivo para arrependimentos; sendo bem sucedido, nenhuma causa para satisfação própria. E podia subir a alturas sem tremer, entrar na água sem molhar-se e passar pelo fogo sem queimar-se. Eis a espécie de conhecimento que chega às profundezas de Tao. Os verdadeiros homens de antigamente dormiam sem sonhos e acordavam sem preocupações. Comiam indiferentes ao paladar e aspiravam fundamente o ar. Porque os verdadeiros homens aspiram o ar até os calcanhares; os vulgares até, apenas, a garganta. Da boca dos perversos as palavras são expelidas como vômitos. Quando as afeições do homem são profundas, seus dons divinos são superficiais. Os verdadeiros homens antigos não sabiam o que era amar a vida ou temer a morte. Não se alegravam pelos nascimentos nem se esforçavam para evitar a dissolução vinham sem preocupações e

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partiam sem preocupações. Era tudo. Não se esqueciam de onde tinham surgido, mas não procuravam indagar quando voltariam para lá. Alegremente aceitavam a vida esperando pacientes pela redenção (o fim). Eis o que se chama não desencaminhar o coração de Tao, e não suprir o natural por meios humanos. A um homem desses chamar-se-ia com razão um homem verdadeiro. Homens assim são de espírito livre, calmos no agir, e têm testas altas. Algumas vezes são desconsolados como o outono, e outras, animados como a primavera; suas alegrias e tristezas estão em razão direta com as quatro estações, em harmonia com toda a criação e ninguém pode conhecer-lhes o limite. E assim é que quando o Sábio assalaria a guerra, ele pode destruir um reino e sem perder contudo a afeição do povo; espalha bênçãos sobre todas as coisas, porém isso não é devido a seu (consciente) amor dos semelhantes. Portanto aquele que sente prazer em compreender o mundo material não é um Sábio. O que tem afeições pessoais não é humano.

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16. Os deveres sociais - Zhong Yong Os deveres de obrigação universal são cinco e são três as virtudes com as quais são eles praticados. Os deveres são os que existem entre o soberano e o ministro, entre pai e filho, entre esposo e esposa, entre irmão maior e irmão menor e os que correspondem ao trato entre amigos. Esses cinco são deveres de obrigação universal. O conhecimento, a magnanimidade e a dedicação são as três virtudes universalmente obrigatórias. E o meio pelo qual põem os deveres em prática é a simplicidade.

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17. A Educação pelos Clássicos - Liji Confúcio disse: Assim que entro num país, posso dizer facilmente o seu tipo de cultura. Quando o povo é gentil e bom e simples de coração, isto se demonstra pelo ensino da poesia (Shijing, Livro da Poesia). Quando o povo é esclarecido e cioso de seu passado, isto se demonstra pelo ensino da história (Shujing, Livro da História). Quando o povo é generoso e disposto ao bem, isto se demonstra pelo ensino da música (Yuejing, Livro da Música). Quando o povo é quieto e pensativo, com agudo poder de observação, isto se demonstra pelo ensino da filosofia das mutações (Ijing, ou Livro das Mutações). Quando o povo é humilde e respeitoso, sóbrio de costumes, isto se demonstra pelo ensino de Li (Liji, Livro da Cultura). Quando o povo é culto na maneira de falar, ágil nas figuras e na linguagem, isto se demonstra pelo ensino da prosa (Chunqiu, ou Livro das Primaveras e dos Outonos). O perigo do ensino da poesia é que o povo continua ignorante ou demasiado simplório; o perigo do ensino da história é que o povo chegue a imbuir-se de falsas lendas e narrativas; o perigo do ensino da música é que o povo se se tornou extravagante; o perigo do ensino da filosofia é que o povo fique desnaturado; o perigo do ensino da li é que os rituais se tornem muito afetados; e o perigo do ensino do “Livro das Primaveras e Outonos” é que o povo se deixe contaminar pela confusão moral dominante. Se um homem é gentil e bom e simples, mas não ignorante, decerto será profundo no estudo da poesia; se um homem é esclarecido e cioso do seu passado, mas não imbuído de falsas lendas e narrativas, decerto será profundo no estudo da história; se um homem é generoso e disposto ao bem, mas não extravagante em seus hábitos pessoais, decerto será

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profundo no estudo da música; se um homem é quieto e pensativo, com agudo poder de observação, mas não desnaturado, decerto será profundo no estudo da filosofia; se um homem é humilde e respeitoso e sóbrio em seus hábitos, mas não afetado nos rituais, decerto será profundo no estudo de Li; e se um homem é culto na maneira de falar, ágil nas figuras e na linguagem, mas não contaminado pela confusão moral dominante, decerto será profundo no estudo do Livro das primaveras e Outonos.

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18. Li, a “Cultura” ou "Ritual" - Liji Li é para o homem o que o fermento é para o vinho: o homem superior tem mais, o inferior tem menos. Por isto o Sábio, ou o santo governante, cultiva a instauração dos deveres e da ordem segundo Li como meio de reger e controlar a natureza humana. A natureza humana é, pois, o campo cultivado pelo Sábio, o santo governante: ara-o ele com Li, planta-o com a semente dos deveres, limpa-o com a educação e a instrução, procede à colheita com verdadeira humanidade, e goza-o com música. Portanto, Li não é senão a cristalização do direito. Se uma coisa está de acordo com os padrões do direito, novas práticas sociais são instituídas, embora as ignorassem os governantes do passado. Exemplo do direito é o encaminhamento de cada classe de pessoas em seu próprio setor, e assim se articula a verdadeira humanidade. Aqueles que seguem o direito, observando o caminho adequado e cultivando a verdadeira humanidade, tornar-se-ão hábeis administradores. A verdadeira humanidade constitui a base da conduta apropriada e encarna a adequação aos padrões do direito. Aqueles que atingiram à verdadeira humanidade tornam-se líderes da espécie humana. Segue-se, pois, que governar um país sem Li é como revolver um campo sem arado. Observar Li sem base nos padrões do direito é como arar o campo e esquecer-se de plantar as sementes. Procurar o direito sem cultivar o conhecimento é como plantar as sementes sem limpar o terreno. Cultivar o conhecimento sem subordiná-lo aos propósitos da verdadeira humanidade é como lavrar o campo e não fazer colheita. E chegar à etapa da verdadeira humanidade sem deliciar-se com ela através da música é como colher e não comer o que foi colhido. Desfrutar a verdadeira humanidade

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através da música e não chegar à completa harmonia com a natureza é como comer e não ficar nutrido, ou saudável.

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19. A Natureza Humana - Liji A razão pela qual o Sábio é capaz de olhar o mundo como uma família e a China como uma pessoa (o que é verdadeiro como natureza humana em um homem há de ser verdadeiro para todos) é que ele não cria regras arbitrárias; procura, por outro lado, conhecer a natureza humana, definir as inclinações dos homens e chegar a uma noção bem clara do que seja bom ou mau para a humanidade. Eis o que o capacita. Em que consiste a natureza humana? São sete fatores: alegria, cólera, tristeza, medo, amor, ódio, e desejo, sendo que nenhuma destas coisas precisa ser aprendida (são sentimentos naturais). Quais são os deveres dos homens? Bondade no pai, piedade no filho, gentileza no irmão mais velho, humildade e respeito no irmão mais moço, boa conduta no marido, fidelidade na esposa, benevolência nos mais velhos e obediência nos mais jovens, benignidade no soberano e lealdade nos ministros - tais são os deveres humanos. O que é bom para a humanidade representa a paz e a confiança geral, e o que é mau para a humanidade representa a caça ao lucro, o roubo e o crime. Portanto, como poderia o Sábio - o governante ideal abrir mão de Li (ritual) em seus esforços no sentido de cultivar os sete sentimentos e os dez deveres humanos, e promover a confiança mútua e a paz e a civilidade e aplacar a sanha do lucro e o roubo? Comida, bebida e sexo - são os grandes desejos da espécie humana; morte, sofrimento e pobreza - são os grandes temores ou aversões da espécie humana. Desejo e temor (aspiração e repulsa) são as grandes forças motrizes do coração humano. Todavia, escondem-se no coração e via de regra não se manifestam; o

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coração humano é insondável. Que outro meio haveria, senão Li, que sozinho permitisse explorar o coração humano? A criatura humana é produto das forças do céu e da terra, da união dos princípios yin e yang. encarnação da substância e da essência dos cinco elementos (metal, madeira, água, fogo e terra). Por isso a criatura humana é o centro do universo resultante máxima dos cinco elementos, criada para fruir alimento, cor e som.

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20. A importância da Música - Liji A música une, o ritual distingue. Pela união as pessoas tornam-se amigas. Pela distinção aprendem a respeitar-se. Se predomina a música, a estrutura social tende a tornar-se amorfa; se o ritual predomina, a vida social tende a tornar-se demasiado fria. A música e aos rituais cabe manter em equilíbrio os sentimentos e a conduta do povo. A instituição dos rituais propicia uma noção bem clara de ordem e disciplina, enquanto a divulgação da música e dos cantares suscita uma atmosfera popular de paz. Quando o bom gosto afasta-se do mau gosto, têm-se meios de distinguir a gente boa da gente má; e quando a violência é prevista nas leis penais e os bons cidadãos são colhidos para o serviço público. então o governo torna-se ordeiro e estável. Com a doutrina do amor para ministrar afeto, e a doutrina do dever para ministrar retidão, o povo aprenderá a viver moralmente. A música vem do íntimo, ao passo que os rituais vêm de fora. Por vir do íntimo, a música é espontânea e calma. Por virem de fora, os rituais caracterizam-se pelo seu formalismo. A música verdadeiramente sublime é sempre simples nos seus movimentos, e os rituais verdadeiramente sublimes são sempre singelos na sua forma. Quando prevalece a boa música não há sentimento de inquietação, e quando prevalece o ritual adequado não há rixas nem lutas. Ao dizer-se que pela simples maneira de curvar-se em saudação pode o rei governar o mundo, vai nisso uma referência ao poder da música e dos rituais. Quando os elementos de violência de um país são mantidos quietos, os vários governantes vêm render-lhe homenagens, ensarilham-se as armas de guerra, as cinco leis penais não são postas em uso, o povo não tem receios e o imperador não tem ira - então é que prevaleceu a música;

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quando pais e filhos têm afeição recíproca, os mais jovens respeitam os mais velhos e tal respeito estende-se a todos os cidadãos, e o próprio imperador vive uma vida exemplar, pode-se então dizer que Li prevaleceu.

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21. Música e Harmonia Universal - Liji A grande música compartilha dos princípios harmonizadores do universo, e o grande ritual compartilha dos princípios diferenciadores do universo. Através dos princípios de harmonia, restaura-se a ordem no mundo físico; e através dos princípios de diferenciação, afinal, podemos oferecer sacrifícios ao Céu e à Terra. Temos portanto ritual e música no mundo material, e as divindades várias no mundo espiritual - e assim viverá o mundo com respeito e amor. Os rituais incutem o respeito em diversas circunstâncias, e a música incute o amor sob diversas formas. Quando semelhante condição moral se estabelece mediante os rituais e a música, tem-se a continuidade da cultura pela ascensão de governantes sábios. Os acontecimentos políticos diferem com (os governantes de) as gerações diferentes, e os rituais e a música para a celebração dos acontecimentos recebem denominações adequadas às várias realizações dos governantes. A música expressa a harmonia do universo, enquanto que os rituais expressam a ordem do universo. A harmonia põe em comunhão todas as coisas e a ordem põe cada coisa em seu lugar. A música provém do céu, os rituais padronizam-se na terra; transgredir esses padrões resultará em desordem e violência. Para termos a música e os rituais adequados, havemos de compreender necessariamente os princípios do Céu e da Terra. Eis por que o Sábio cria a música para atender ao Céu e traça os rituais para atender à Terra. Quando música e rituais se estabelecem, temos o Céu e a Terra a funcionar em perfeita ordem. O Céu fica no alto e a Terra fica embaixo, e nessa mesma relação devem ficar o rei e os ministros. Quando o mais alto e o mais baixo se distribuem em diferentes níveis, temos o princípio

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das castas sociais. Quando a lei rege ação e reação, temos em resultado as relações entre grandes e pequenos. E quando as miríades de coisas classificam-se e grupam-se conforme sua natureza, reconhecemos o princípio da diversificação no mundo. Assim se formam de estrelas as constelações simbólicas no céu, e os caprichosos desenhos das montanhas e rios e coisas na terra tudo isso demonstrando que Li atua segundo o princípio diversificador do universo.

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22. Sobre a Educação - Liji O antigo sistema educacional era o seguinte: havia uma escola primária em cada povoado de vinte e cinco famílias, uma escola secundária em cada cidade de quinhentas famílias, uma academia em cada território de duas mil e quinhentas famílias, e uma universidade na capital de cada Estado (para a educação dos príncipes e os filhos da nobreza e os melhores alunos das escolas menos graduadas). Todo alto admitiam-se novos estudantes, que no ano seguinte prestavam exames. No final do primeiro ano, procedia-se a uma tentativa de verificar até que ponto os alunos sabiam pontuar seus escritos e descobrir suas vocações. No fim de três anos, procurava-se determinar os hábitos de estudo dos alunos e sua vida grupal. No fim de cinco anos investigava-se até onde iam os conhecimentos gerais dos alunos e até que ponto eles haviam acompanhado os preceptores. No fim de sete anos, observava-se como se haviam desenvolvido as ideias dos alunos e que espécie de amigos cada qual escolhera para si. A isto se dava o título de Grau Menor. Ao cabo de nove anos era de esperar-se que o aluno dominasse as várias matérias estudadas e tivesse uma compreensão geral da vida, tendo outrossim firmado o próprio caráter em bases de onde não pudesse retroceder. A isto se dava o título de Grau Maior. Apenas com este sistema educacional, entretanto, é possível civilizar o povo e reformar a moral da nação, de maneira que os cidadãos se sintam felizes e os habitantes de outras terras gostem de visitar o país. Tal é o fundamento da Daxue, ou educação superior.

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23. A Educação Superior - Liji Na universidade os discípulos principiam a estudar o uso adequado dos trajes cerimoniais e das oferendas vegetais por ocasião dos sacrifícios. A fim de se imbuírem do senso de respeito ou piedade. Faz-se com que eles cantem as três primeiras páginas do Xiaoya a fim de que aprendam as primeiras noções do ofício. Ao entrarem os novatos na universidade, ouvem soar um gongo antes mesmo de desembrulharem os seus livros - como a incutirlhes disciplina para o estudo. É empregada a palmatória ou bastão para reger-lhes o comportamento. Nenhum inspetor é enviado à universidade, exceto na ocasião do Grande Sacrifício aos antepassados reais, a fim de que os estudantes fiquem à vontade para se desenvolverem. O preceptor os observa, mas não lhes dá lições ininterruptas, a fim de que os estudantes tenham tempo de meditar nos assuntos por si mesmos. Os mais jovens devem ouvir e não fazer perguntas, reconhecendo a sua posição. Estas sete coisas constituem os principais fatores do ensino. Tal é o senão daquela passagem dos Documentos Antigos, que diz: "Na universidade, aqueles que já têm uma vocação estudam o que lhes diz respeito, enquanto que aqueles que ainda não escolheram um ofício observam o que pretenderão fazer mais tarde." No regime educacional da universidade, há estudos regulares (em aula) e estudos extracurriculares que os alunos realizam em seus aposentos. Sem exercitar os dedos, não se pode aprender a tocar com destreza um instrumento de cordas. Sem uma ampla visão das coisas não se pode assimilar facilmente a poesia. Sem estar familiarizado com os diversos trajes cerimoniais não se pode apreender o estudo dos ritos. Sem conhecer as várias artes (inclusive manejo de arco e flecha, e a condução de veículos) não

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se pode apreciar o aprendizado colegial. Por isso, na educação do homem superior (da elite intelectual) dá-se a cada qual o tempo suficiente para aprender coisas e cultivar coisas, tempo para repouso e para recreio. Assim os estudantes passam a sentir-se no colégio como em suas próprias casas e a estabelecer relações pessoais com os professores, a prezar os amigos e a firmar convicção das próprias ideias. Podem, então, afastar-se dos mestres sem dar as costas ao estudo. Tal é o sentido daquela passagem do Conselho a Fuyi, que diz: “Conservai sempre o amor ao estudo, e colhereis os resultados”.

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24. Ciência Chinesa – Shujing No décimo terceiro ano o rei foi ao encontro do conde de Qi e disse: “O conde de Qi, o Céu, trabalhando de modo invisível, assegura a tranquilidade das pessoas mais humildes ajudando-as a conformar-se à sua condição. Não sei como os princípios invariáveis do seu método, ao assim agir, poderiam ser expostos na devida ordem”. O conde de Qi replicou: “Ouvi que na Antiguidade Guan represou as páginas que inundavam a terra e com isso desorganizou a distribuição dos cinco elementos. Shang Di encolerizou-se, em consequência, e não lhe deu o Grande Plano com suas nove divisões e assim se permitiu que fossem destruídos os princípios invariáveis do método celestial. Guan foi conservado prisioneiro até a morte, e seu filho Yu ascendeu ao trono e tentou a mesma empresa. O Céu deu-lhe o Grande Plano com as nove divisões e os princípios invariáveis do seu método foram expostos na devida ordem”. Dessas divisões, a primeira é chamada “cinco elementos” [...] Dos cinco elementos, o primeiro é a água; o segundo é o fogo; e o terceiro a madeira; o quarto o metal; o quinto é a terra. A natureza da água consiste em molhar e descer. A do fogo, em arder e subir. A da madeira, em curvar-se a alinhar-se. A do metal, em amolecer e mudar. A da terra, em receber as sementes e produzir a colheita. O que molha e desce se converte em sal. O que arde e sobe se converte em amargo. O que se curva e se alinha se converte em ácido. O que amolece e muda se converte em acre. E da semeadura e colheita procede à doçura.

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25. Divisões e Correspondências na Ciência Chinesa – Shujing A segunda divisão é “atenção reverente para com as cinco coisas pessoais”; a terceira, “fervorosa devoção para com os oito objetos do governo”; a quarta, “uso harmonioso dos cinco divisores do tempo”; a quinta, “estabelecimento e uso da perfeição real”, a sexta, “uso discernido das três virtudes”; a sétima, “uso inteligente dos meios para exame das dividas”; a oitava, “uso meditado das diversas verificações”; a nona, “uso exortatório das cinco fontes de felicidade e uso temeroso das seis oportunidades de sofrimento”. Segundo: das cinco coisas pessoais, a primeira é o porte corporal; a segunda a linguagem; a terceira, a vista; a quarta, ouvido; a quinta, o pensamento. A virtude do pobre corporal é a conduta respeitosa. A da linguagem, sua concordância com a razão. A da vista a claridade. A do ouvido, a diferenciação. A do pensamento, a perspicácia. A conduta respeitosa manifesta-se na gravidade. A concordância com a razão, na ordem. A claridade, no entendimento. A diferenciação, na deliberação. A perspicácia, na sabedoria. Terceiro: dos oito objetos do governo, o primeiro é o alimento, o segundo a riqueza e os artigos do uso, o terceiro os sacrifícios, o quarto as tarefas do Ministro de Obras Públicas, o quinto as do Ministro da Instrução, o sexto as do Ministro da Justiça, o sétimo as cerimônias que devem ser tributadas aos hóspedes, o oitavo o exército. Quarto: dos divisores do tempo, o primeiro é o ano do planeta Júpiter, o segundo a Lua, o terceiro o Sol, o quarto as estrelas e os planetas e espaços zodiacais, o quinto os cálculos do calendário.

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Quinto: da perfeição real. Tendo constituído em si mesmo o mais alto grau e modelo de excelência, o soberano concentra em sua própria pessoa as cinco fontes de felicidade e trata de difundi-las e concedê-las às multidões populares. Logo o povo, por sua vez, incorporando tua perfeição, há de devolvê-la a ti e assegurará sua conservação. Entre as multidões não haverá cabalas ilegais e entre os funcionários não há de existir combinações más e egoísticas. Que o soberano constitua em si mesmo o mais alto grau e modelo de excelência.

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26. O Mandato do Céu - Shujing Disse Yü: "A vossa virtude, ó Soberano, é imensa e incessante. É sábia, espiritual, inspiradora de temor e adornada de todos os atributos. O Grande Céu vos contemplou com o seu favor e vos conferiu o seu mandato. Possuístes, subitamente, tudo o que está compreendido nos quatro mares e vos tornastes o governante de tudo quanto existe na face da terra. A obediência ao direito conduz à boa fortuna; seguir o que se lhe opõe, à má fortuna; - à sombra e ao eco. Ah! Sedes prudentes! Exortai-vos à prudência, mesmo quando pareça não ser momento de ansiedade. Não deixeis de observar as leis e ordenações. Não encontreis satisfação na ociosidade. Não vos excedais no prazer. No emprego de homens de mérito, não permitais que alguém se coloque entre vós e eles. Ponde o mal de lado, sem hesitação. Não executeis planos de cuja sabedoria tiverdes dúvida. Atentai bem para que todos os vossos propósitos possam receber a luz da razão. Não ides contra o que é correto, visando obter o louvor do povo. Não vos oponhais à vontade do povo para seguir os vossos próprios desejes. Atendei a essas coisas sem ociosidade ou omissão e as tribos bárbaras em derredor se aproximarão e reconhecerão a vossa soberania".

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27. A Arte de Governar - Liji Confúcio estava sentado em companhia do Duque: Ai. e o duque perguntou: - "Qual é, em vossa opinião, a mais alta condição do progresso humano?" Confúcio assumiu um ar muito grave, e respondeu: - "É uma felicidade para o povo, que Vossa Alteza me haja formulado essa pergunta. Farei o que estiver ao meu alcance para responder bem: a mais alta condição do progresso humano é o bom governo." O duque: -"Posso indagar qual seja a arte do bom governo?" Confúcio: - "A arte do governo consiste simplesmente em fazer bem as coisas, ou seja, pôr as coisas em seus devidos lugares. Quando o próprio governante procede “bem", o povo imita-o naturalmente no bom procedimento. O povo apenas segue o que o governante faz - pois se o governante não faz, como há de o povo saber o que e como fazer?" O duque: - "Falai com maior minúcia, dessa arte do governo." Confúcio: - "O marido e a mulher devem ter obrigações diversas. Os pais e os filhos devem ter afeição uns pelos outros. O rei e seus vassalos devem observar uma disciplina rígida. Quando estas três coisas vão bem, tudo irá bem." O duque: - "Podeis esclarecer-me um pouco mais quanto à maneira de realizar essas três coisas, inepto como sou?" Confúcio: - "Os governantes antigos consideravam o amor ao povo como principal norma de governo, e Li [Cultura] como principal norma segundo a qual reger o povo que amavam. No culto à Li a noção de respeito é a mais importante, e como símbolo máximo desse respeito a cerimônia do casamento do soberano é a mais importante. A cerimônia das núpcias reais é o símbolo máximo do respeito, e, por ser o símbolo máximo do

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respeito, o próprio rei vai, ostentando a sua coroa, saudar a princesa e acompanhá-la em pessoa desde a casa dela, tão alto é o grau de parentesco que ele atribui à noiva. O rei vai pessoalmente porque as relações de família são consideradas inteiramente pessoais. Negligenciar essas manifestações de respeito é desmerecer as relações pessoais. Sem amor não haverá relações pessoais, e sem respeito não haverá boas relações. Amor e respeito são, assim, os fundamentos do governo."

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28. Governo e Cultivo interno - Daxue Os antigos, que desejavam dar exemplo da virtude ilustre em seu reino, começaram por bem ordenar seus próprios Estados. Desejando ordenar bem seus Estados ordenaram primeiro suas famílias. Desejando ordenar suas famílias, cultivaram antes suas pessoas. Desejando cultivar suas pessoas, primeiro corrigiram seus corações. Desejando corrigir seus corações, primeiro trataram de ser sinceros em seus pensamentos. Desejando ser sinceros em seus pensamentos, primeiro ampliaram ao máximo o seu conhecimento. Essa extensão do conhecimento baseia-se na investigação das coisas. Uma vez investigadas as coisas, seu conhecimento tornou-se completo. Sendo completo seu conhecimento, seus pensamentos foram sinceros. Sinceros que foram seus pensamentos, seus corações corrigiram-se. Corrigidos os corações, suas pessoas foram cultivadas. Cultivadas que foram suas pessoas, se ordenaram as famílias. Ordenadas suas famílias, foram justamente ordenados seus Estados. Justamente governados seus Estados, todo o reino viveu tranquilo e foi feliz. Desde o Filho do Céu até a massa do povo, todos devem considerar o cultivo da pessoa como a raiz de todas as outras coisas.

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29. Sobre a corrupção no governo - Shijing Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir Que não roam nossos grãos. Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês, Com quem tratamos durante três anos, E todo esse tempo nunca conhecemos Um olhar de bondade para conosco. Despedimo-nos de Wei e de vocês; Há muito ansiamos por uma terra mais feliz. Ali, em ambiente mais adequado, tranquilos nos sentiremos. Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir Que não devorem nossas colheitas de trigo. Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês Com quem há três anos vimos convivendo; E durante todo esse tempo vocês nunca fizeram Um só ato bondoso que alegrasse nosso destino. A vocês e a Wei damos adeus, em breve iremos para aquele Estado mais feliz. Ó feliz Estado! Ó feliz Estado! Lá aprenderemos a bendizer nossa vida. Ratos grandes, ratos grandes, deixem-nos pedir Que não comam os rebentos de nossos cereais. Mas os ratos grandes a que nos referimos são vocês, Com quem convivemos durante três anos. De vocês não nos veio, nesse tempo todo, Uma só palavra de conforto no meio de nossas tristezas. Despedimo-nos de vocês e de Wei; E vamos voando para outras paragens mais felizes. Ó paragens felizes, dirigimos os passos para lá! Lá nossos gemidos e nossos pesares terminarão.

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30. Sobre as Leis - Shang Yang Tem-me constado que, quando os príncipes inteligentes da Antiguidade estabeleciam as leis, as pessoas não tinham maldade; quando assumiam uma iniciativa, a capacidade exigida era praticada de modo espontâneo; quando atribuíam recompensas, o exército era forte. Estes três princípios constituíam a base do governo. Na verdade, a razão pela qual as pessoas não tinham maldade, quando as leis foram estabelecidas, consiste no fato de as leis serem claras e as pessoas beneficiarem destas; a razão pela qual a capacidade exigida era praticada de modo espontâneo, quando se assumia uma iniciativa, consiste no fato de os méritos serem definidos de forma exata; e por serem definidos de forma exata, as pessoas exerciam as suas forças; e sendo assim, a capacidade exigida era praticada de modo espontâneo; a razão pela qual o exército era forte, quando as recompensas eram atribuídas, referese aos títulos e gratificações. Os títulos e as gratificações constituem o objeto da ambição de um soldado. Assim, o principio sobre o qual os príncipes distribuíam títulos e emolumentos era claro; quando isto era claro, o país tornava-se cada dia mais forte, mas quando era obscuro, o país tornava-se cada dia mais fraco. Pelo que, o principio que rege a atribuição dos títulos e gratificações é a chave para a preservação ou ruína do estado. A razão pela qual um país é fraco ou um príncipe é arruinado não reside na inexistência de títulos e gratificações, mas sim no fato de os princípios por ele adotados serem inadequados. O principio seguido pelos Três Reis e pelos cinco Lordes Protetores não foi outro senão o de conceder títulos e gratificações, e a razão pela qual as pessoas emulariam entre si por mérito consistia no fato de os princípios que seguiam serem

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claros. Assim, o modo como os príncipes inteligentes utilizavam os seus ministros baseava-se no fato de o seu emprego se tomar dependente do trabalho que haviam realizado e das recompensas serem concedidas segundo os méritos que haviam alcançado. Quando a relação entre o mérito e a recompensa era clara, então as pessoas competiam entre si por mérito. Se, na administração de um estado, uma pessoa logra conduzir as pessoas a aplicar a força na emulação para obtenção de mérito, então o exército será certamente forte.

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31. Monarcas Dedicados - Shujing O duque de Zhou disse: “Oh! Ouvi que noutro tempo Kung Zung, um dos reis de Yin, era sério, humilde, reverente e timoratamente prudente. Conformava-se reverentemente aos decretos do Céu e abrigava uma reverente apreensão no governo do povo, sem se atrever a abandonar-se ao ócio luxurioso. Assim desfrutou o trono durante setenta e cinco anos. Se passarmos à época de Zhou Zung, este trabalhou a princípio fora da Corte, entre as mais humildes criaturas. Quando subiu ao trono preferia não falar, mas quando falava suas palavras eram cheias de harmoniosa sabedoria. Não se atreveu a entregar-se a um ócio inútil, presidiu admirável e tranquilamente as regiões de Yin, até que em todas elas pequenas e gran­des, não houve um só murmúrio adverso. Assim desfrutou o trono durante cinquenta e nove anos. No caso de Zuxia, este se negou a ser rei injustamente e foi, a princípio, um dos mais humildes súditos. Quando subiu ao trono, sabia de que podia depender o povo de seu apoio e foi capaz de exercer uma bondade protetora para com as massas e não se atreveu a tratar depreciativamente os viúvos e viúvas. Assim desfrutou o trono durante trinta e três anos. Os reis que vieram depois gozaram a ociosidade desde o nascimento. Desfrutando a ociosidade desde o nascimento não conhecia o penoso trabalho de semear e colher e não haviam ouvido falar do árduo labor da gente humilde. Não aspiravam outra coisa senão um prazer excessivo e por isso nenhum deles viveu muito tempo. Reinaram durante dez anos, durante sete ou oito, cinco ou seis, ou talvez unicamente durante três ou quatro anos.

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32. O Monarca Perverso - Shujing Disse Wu, filho do Rei Wen: O Céu e a Terra são pais de todas as criaturas e entre todas as criaturas o homem é o mais altamente dotado. Entre os homens, aquele que é sinceramente inteligente chega a ser o grande soberano. E o grande soberano é o pai do povo. Pois bem: Zhouxin, rei de Shang, não venera o Céu e inflige calamidades ao povo. Entregue à embriaguez e à luxúria, atreveu-se a exercer uma opressão cruel. Estendeu o castigo dos ofensores a todos os seus parentes. Colocou os homens nos postos administrativos de acordo com o princípio hereditário. Utiliza-o para possuir palácios, torres, pavilhões, diques, lagos e todas as outras extravagâncias, para mais penoso prejuízo vosso, milhares de criaturas do povo. Queimou e chacinou os leais e os bons. Violou mulheres prenhes. [...] Quando o poder é o mesmo, medi a virtude das partes. Quando a virtude é a mesma, medi sua retidão. Zhouxin possui centenas de milhares e milhares de funcionários, mas estes têm centenas e milhares de opiniões. Eu não tenho mais do que três mil funcionários, mas têm todos uma só opinião. A iniquidade de Shang é completa. O Céu ordena que ela seja destruída. Se eu não obedecesse ao Céu, minha iniquidade seria igualmente grande. Eu, o jovem, estou repleto de apreensões de princípio a fim. Recebi a ordem de meu falecido pai Wen. Ofereci sacrifícios especiais a Deus. Cumpri os serviços à grande terra e conduzo a vossa multidão para executar o castigo indicado pelo Céu. O Céu se compadece do povo. O Céu realiza aquilo que o povo deseja. Ajudai-me, eu que sou o único, à purificar para sempre tudo o que está dentro dos quatro mares. Agora é o tempo! Não se deve perdê-lo.

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33. O Monarca Absoluto – Inscrição de Qin O mérito do augusto imperador agosto reside em sua diligência com as coisas fundamentais Favorece a agricultura, evitando preocupações menores, para que as pessoas de cabeça preta possam ser ricas. Tudo debaixo do céu têm um mesmo intento, uma única vontade. Pesos e medidas têm um padrão único, as palavras escritas foram uniformizadas. Onde quer que sol e lua brilhem, onde os navios e veículos de rodas levam sua carga, Tudo será completado ao longo dos anos, ninguém deixará de alcançar seus objetivos. Iniciar empreendimentos em cada estação-tal é a via do Augusto Imperador. Ele corrige os diversos costumes, atravessa os rios, cruza toda a terra. Ele se compadece do povo de cabeça preta, de manhã à noite, ele Nunca é negligente. Ele apaga as dúvidas e estabelece as leis, então se sabe tudo que deve ser evitado. As autoridades locais têm suas respectivas funções; a ordem é conseguida com facilidade. As decisões foram tomadas com justiça, não há nenhuma que não seja clara como um desenho. O Augusto Imperador, em sua iluminada compreensão, examina as quatro estações.

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34. O Governo sábio – Chunqiu Fanlu Aquele que governa o povo é o fundamento do Estado. Na administração do Estado, nada é mais importante para transformar [o povo] do que o respeito aos fundamentos. Se os fundamentos forem reverenciados, o governante transformará [as pessoas] espiritualmente. Se os fundamentos não forem reverenciados, o governante não conseguirá unir as pessoas. Se ele não tem os meios para unir as pessoas, mesmo se instituir punições rigorosas e penalidades pesadas, as pessoas não se submeterão. Céu, Terra e humanidade são a base de todas as coisas vivas. O Céu gera todas as coisas vivas, a Terra alimenta-los, e a humanidade completa-los. Com amor filial e fraternal, Céu os engendra; com alimentos e roupas, a Terra alimenta-os; e com ritos e da música, a humanidade os completa. Estes três apoiam-se mutuamente da mesma maneira que as mãos e os pés se juntam para completar o corpo. Nada pode ser dispensado, porque sem amor filial e fraternal, as pessoas não têm os meios para viver; sem alimentos e roupas, as pessoas não têm os meios para ser alimentados; e sem ritos e da música, as pessoas sentem falta dos meios para se tornarem completas. Se os três estão perdidos, as pessoas ficam perdidas, cada uma segue seus próprios desejos e cada família pratica seus próprios costumes. Pais não serão capazes de ordenar a seus filhos, e os governantes não serão capazes de ordenar seus ministros. Se estes três fundamentos forem todos cumpridos, as pessoas vão se assemelhar a filhos e irmãos que não se atrevem usurpar a autoridade, enquanto o governante vai assemelhar-se aos pais e mães. Ele não precisará contar com favores para demonstrar seu

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amor por seu povo, nem medidas severas para levá-los a agir. Mesmo se ele viver nas selvas sem um teto para a cabeça, ele alcançará muito mais do que morando num palácio. Sob tais circunstâncias, o governante vai se deitar de consciência limpa em cima do travesseiro. Embora ninguém o auxilie, ele será naturalmente poderoso; embora ninguém pacifique seu estado, a paz virá naturalmente. Isso é chamado de "recompensa espontânea." Quando a "recompensa espontânea" recai sobre ele, embora ele possa renunciar ao trono e deixar o Estado, as pessoas vão pôr os seus filhos em suas costas e segui-lo como o governante, de modo que ele também será incapaz de deixá-los.

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35. Outros povos e países – Shiji Da-Yuan fica a sudoeste dos Xiong-nu e bem a oeste de Han, a dez mil Li (aprox. 5000km) de distância. Quanto aos costumes, o povo é sedentário e cultiva a terra, produzindo arroz, trigo e vinho de uva. Criam também excelentes cavalos, cujo suor é semelhante a sangue e cujos antepassados são filhos de cavalos celestes. Há casas e cidades fortificadas, cerca de setenta cidades de vários tamanhos. A população é de várias centenas de milhares. As armas são o arco e a lança e os guerreiros costumam atirar montados. [...] Os wu-sun vivem a dois mil Li a noroeste de Da-Yuan. Nômades, migram seguindo seu gado. Seus costumes são idênticos aos dos Xiong-nu e possuem algumas dezenas de milhares de arqueiros que lutam bravamente. Eram a princípio subordinados aos Xiong­nu, mas ao se fortalecerem, permaneceram subordinados apenas nominalmente, não mais participando das assembleias anuais. [...] O Grande Yuezhi [Kushans] fica a dois ou três mil Li a oeste de Da­Yuan, ao norte do rio Kuei. Limita-se ao sul com Daxia, a oeste com Anxi [Pártia] e ao norte com Kang-chu. Nômades, deslocam-se seguindo seu gado e têm costumes semelhantes aos dos Xiong-nu. Como contavam com um número de arqueiros entre cem e duzentos mil, confiavam em sua força e desprezavam os Xiong-nu, mas quando surgiu o Shanyu Modun dos Xiong-nu, este bateu os Yuezhi, cujo rei foi morto no tempo do velho Shanyu, que de seu crânio fez uma taça. A princípio os Yuezhi viviam entre Dunhuang e os montes Qilian, mas, derrotados pelos Xiong-nu, fugiram para longe, ultrapassaram Da-Yuan, atacaram e submeteram Daxia no Ocidente e estabeleceram a corte real ao norte do rio Kuei. Pequenos grupos que não

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puderam fugir para longe refugiaram-se entre os bárbaros Qiang, das montanhas do Sul. São o Pequeno Yuezhi. Anxi fica a alguns milhares de Li a oeste do Grande Yuezhi. Quanto aos costumes, o povo é sedentário e cultiva a terra, produzindo arroz, trigo e vinho de uva. As cidades fortificadas parecem-se com as de Da-Yuan, contando-se às centenas, de vários tamanhos. É um grande país que se estende por mais de dez mil Li. Situa-se às margens do rio Kuei. Parte da população é constituída de comerciantes, que em barcos e carroças se dirigem aos países vizinhos, às vezes vários milhares de Li. Usam moedas de prata, nas quais é gravada a efígie do soberano. Quando o rei morre, a moeda é trocada por outra com a imagem do novo soberano. Escrevem horizontalmente, em couro.

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36. Para enriquecer um país - Shang Yang No domínio dos assuntos internos relacionados com as pessoas, não há nada mais difícil do que a agricultura. Dai que uma fácil administração não os consiga induzir à mesma. O que se chama de uma fácil administração? Quando os agricultores são pobres e os comerciantes são ricos, quando as pessoas sagazes obtêm lucros e os que buscam cargos itinerantes são numerosos. Pelo que, os agricultores, apesar do seu trabalho extremamente árduo, obtêm pouco lucro e, perante a carência deste, encontram-se numa situação mais grave do que os comerciantes e lojistas e toda a espécie de pessoas sagazes. Ao lograr-se restringir o número deste último tipo, então, mesmo que fosse esse o desejo, não se poderia evitar que um estado se tornasse rico. Dai dizer-se: “Caso se pretenda enriquecer o país através da agricultura, então, no limite das fronteiras, os cereais devem ser prezados, os impostos para aqueles que não são agricultores devem ser consideráveis e os direitos sobre o lucro obtido nos mercados devem ser pesados, com o resultado de que as pessoas são forçadas a possuir terra. Uma vez que aqueles que não possuem terras são obrigados a comprar cereais, estes serão prezados e aqueles que possuem terras tirarão, assim, proveito. Quando aqueles que possuem terras obtêm lucro, existirão muitos que se dedicarão [à agricultura]”. Quando os cereais são prezados e o respectivo negócio não é lucrativo, enquanto se impõem, além disso, pesados impostos, as pessoas não falharão em suprimir os comerciantes e lojistas e toda a espécie de gente sagaz nem em dedicar-se a exploração do solo. Pelo que a força do povo será completamente exercida na exploração do solo. Daí que aquele que organiza um estado deveria permitir que os soldados detivessem a totalidade dos

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lucros nas fronteiras e que os agricultores detivessem a totalidade dos lucros do mercado. Se a primeira situação ocorrer, o estado será forte e se a segunda ocorrer, será rico. Por conseguinte, aquele que, no estrangeiro, é forte em tempo de guerra e, na pátria, é rico em tempo de paz, alcançará a supremacia. Uma vez que, se os cereais são baratos, o valor do dinheiro é elevado, e os cereais baratos representam agricultores pobres, e valores elevados de dinheiro representam comerciantes ricos; e se as ocupações secundárias não são proibidas, então (...).

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37. Planejamento Econômico - Mêncio Se o tempo indicado para lavrar a terra não é perturbado, haverá mais cereal do que se pode consumir. Se não permite introduzir redes nos remansos e lagoas, haverá mais peixes e tartarugas do que se pode consumir. Se se utilizam os machados nas colinas e nos bosques unicamente no tempo apropriado, haverá mais madeira do que se pode utilizar. Quando o cereal e os peixes e as tartarugas são mais do que se pode comer, habilita-se o povo a alimentar sua vida e chorar seus mortos, sem nenhum ressentimento contra ninguém. Essa situação na qual o povo alimenta sua vida e enterra seus mortos sem nenhum ressentimento contra ninguém é o primeiro passo do governo real. Plantai amoreiras em torno das casas com seus cinco mou e as pessoas de cinquenta anos poderão vestir-se de seda. Se tiverdes aves domésticas, porcos e cães, não descuideis das épocas de cria e as pessoas de setenta anos poderão comer carne. Não deixeis passar o tempo adequado ao cultivo da granja com seus cem mou e a família de várias bocas que dela se alimenta não sofrerá fome. Atentai bem na educação das escolas, especialmente inculcando nelas os deveres filiais e fraternos e os homens de cabelos brancos não serão vistos a levar pelas estradas cargas na cabeça ou nas costas. Nunca se viu um governante do Estado onde semelhantes resultados surgem — gente de setenta anos vestindo seda e comendo carne, gente de cabelos brancos que não sofre de fome nem de frio – deixar de alcançar a dignidade real. Seus cães e porcos comem os alimentos dos homens e não toma medidas restritivas. Há gente que morre de fome pelos caminhos e não lhes entrega o que têm depositado nos seus celeiros. Quando morre o povo, diz: “Eu não tenho culpa. A culpa é do ano, que é mau”.

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Qual é a diferença entre apunhalar um homem e matá-lo dizendo: “não fui eu, foi a arma? Deixe Sua Majestade de culpar o ano e instantaneamente virão a si os homens de todas as Nações".

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38. Economia na China Antiga - Shiji Nada sei com relação aos tempos pré-históricos anteriores a Shennung, mas desde as dinastias Yin e Xia (depois do vigésimosegundo século a. C.), durante o período debatido pelos documentos históricos, a natureza humana sempre lutou por bons alimentos, roupas, diversões e conforto físico e sempre teve tendência a orgulhar-se da riqueza e da ostentação. Não importa que os filósofos possam ensinar de modo diferente: não é possível mudar as pessoas. Assim, os melhores homens deixam-nas à vontade; a seguir, vêm os que tentam guiá-las; depois, os que moralizam a seu respeito; depois, que procuram adaptar-se a elas; e, por fim, os que entram na mesma porfia. Em suma, Shansi produz madeira, cereais, linho, pelos de boi e jades. Shantung produz peixe, sal, laca, sedas e instrumentos musicais. Kiangnan (ao sul do Yangzi) produz cedro, zi (madeira dura para a fabricação de blocos de impressão), gengibre, canela, minérios de ouro e estanho, cinábrio, chifres de rinoceronte, carapaças de tartaruga, pérolas e couros. Longman produz pedra para tabuletas. O norte produz cavalos, bovinos, carneiros, peles e chifres. Cobre e ferro são muitas vezes encontrados por toda parte, nas montanhas, espalhados como peões num tabuleiro de xadrez. É de tudo isso que o povo da China gosta e tais artigos atendem às necessidades de sua existência e das cerimônias para os mortos. Os homens do campo os produzem, os atacadistas os trazem do interior, os artesãos trabalham neles e os mercadores com eles negociam. Tudo isto se verifica sem a intervenção do governo ou dos filósofos. Cada qual faz o melhor que pode e utiliza seu trabalho para obter o que quer. Assim, os preços procuram seu nível, indo as mercadorias baratas para onde são mais caras e dessa

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forma baixando os preços mais altos. As pessoas seguem suas respectivas profissões e o fazem por sua própria iniciativa. É como o fluir da água, que procura o nível mais baixo dia e noite, sem parar. Todas as coisas são produzidas pelo próprio povo sem que lho peçam e transportadas para onde há precisão delas. Não é verdade que tais operações ocorrem naturalmente, de acordo com seus próprios princípios? O Livro de Zhou diz: “Sem os lavradores, não serão produzidos víveres; sem os artesãos, a indústria não se desenvolverá; sem os mercadores, os bens de valor desaparecerão; e, sem os atacadistas, não haverá capitais e os recursos naturais de lagos e montanhas não serão explorados”. Nossos alimentos e nossas vestes vêm dessas quatro classes, e a riqueza e a pobreza variam com o volume dessas fontes. Com isso, em escala maior, beneficia-se um país; em escala menor, enriquece-se uma família. São estas as inevitáveis leis da riqueza e da pobreza. Os argutos têm bastante e poupam, ao passo que os estúpidos nunca têm quanto baste...

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39. A busca pela riqueza - Shiji Vedes, assim, os letrados eminentes que debatem em cortes e templos a respeito de políticas e falam de honestidade e autossacrifício, e os eremitas de montanhas que conquistam grande fama. Aonde vão eles? Procuram a riqueza. Os funcionários honestos adquirem riqueza com o correr do tempo e os mercadores honestos ficam cada vez mais ricos. Pois a riqueza é algo que o homem busca instintivamente, sem que isso lhe seja ensinado. Vedes soldados lançarem-se à vanguarda na batalha e realizar grandes feitos em meio à saraivada de flechas e pedras e contra enormes perigos, em razão de haver grande recompensa. Vedes jovens que furtam, e roubam, e cometem violência; e escavam túmulos à cata de tesouros, arriscando-se mesmo às punições da lei, deixando que os ventos levem todas as considerações quanto à sua própria segurança, - e tudo por causa do dinheiro. As cortesãs de Zhao e Cheng ataviam-se, tocam música, usam mangas compridas e pontudos sapatos de dança. Namoram, piscam os olhos, não se importam por ser chamadas a grande distância, nem se preocupam com a idade dos homens: são todas atraídas pelos ricos. E os filhos dos ricos se envolvem em capas e levam espadas, e andam por toda parte com uma frota de carruagens, só para exibir sua opulência. Caçadores e pescadores saem à noite, sob neve e geada, vagueando por vales inundados e povoados de bestas feras, porque querem pegar caça. Outros jogam, realizam brigas de galos, põem cães em competição, com o fito de ganhar. Médicos e mágicos praticam suas artes na expectativa de compensação por seus serviços. Burocratas brincam de esconder com a lei e chegam a cometer fraudes e a falsificar selos, arriscando-se a sentenças penais, porque recebem subornos.

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E assim todos os lavradores, artesãos, mercadores e criadores de gado tentam alcançar o mesmo alvo. Todos sabem disso e é difícil ouvir falar de alguém que trabalhe e recuse pagamento pelo que fez... Por isso, os pobres trabalham com as mãos, os que têm umas poucas economias experimentam meios e modos de aumentá-las, e os que obtêm sucesso acompanham as tendências da época. Este é um princípio geral. Se alguém tem um meio de vida que não a sujeita a perigos pessoais, todos os homens argutos querem fazer o mesmo. Em conseqüência, os que produzem riqueza vêm no lugar mais alto; vêm a seguir os que com ela negociam e, no posto mais baixo, ficam os que se enriquecem por meios tortuosos. Quem não tem o caráter de um eremita religioso, mas sempre permanece pobre e sem recurso enquanto repisa trivialidades morais, deveria envergonhar-se de si mesmo.

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40. Da Agricultura - Shijing Alegres são estes campos extensos, uma décima parte de sua produção é anualmente tomada como tributo. Com as velhas provisões alimento os agricultores. Desde os tempos de outrora temos tido anos bons e agora vou-me para as terras do sul onde uns extirpam as ervas daninhas e outros juntam a terra em torno das raízes. O milho parece exuberante e numa ampla clareira reúno e estimulo os homens que mais prometem. Com meus vasos cheios de brilhante milho e meus puros carneiros vitimários, sacrificamos no altar dos espíritos da terra e nos altares dos espíritos das quatro regiões. O estado dos meus campos em tão boas condições, é o que enche de alegria os lavradores. Tocando os alaúdes e fazendo ressoar os tambores invocaremos o Pai da Agricultura e lhe imploraremos uma chuva suave, para aumentar o produto de nossas colheitas e tornar felizes meus homens e suas mulheres. O longínquo descendente chega quando suas esposas e filhos levam o alimento aos que trabalham nas terras do sul. O inspetor dos campos também chega e está alegre. Toma o alimento à esquerda e à direita e prova-o para ver se é ou não é bom. O cereal está bem cultivado nos campos. Será bom e abundante. O longínquo descendente mostra-se satisfeito e estimula os lavradores a que se mostrem diligentes. As colheitas do longínquo descendente parecem altas como tetos de colmo e altas como a coberta de uma carruagem. Empilham-se formando ilhas e montículos. Serão necessários milhares de celeiros, centenas de carros. O milho, o arroz e o painço provocarão a alegria dos agricultores e estes dirão: “Oxalá seja recompensado com uma grande felicidade, milhares de anos, vida sem fim!”

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41. O Céu e a Paz - Mozi Ora, que é que o Céu preza e que é que o Céu abomina? Indubitavelmente, o Céu deseja que os homens se amem e auxiliem mutuamente, e reprova que se odeiem e hostilizem. Como chegamos a esta conclusão? Simplesmente porque o Céu ama e favorece toda a humanidade. E como sabemos que o Céu ama e favorece a humanidade inteira? Porque o céu protege a todos, e de todos aceita oferendas. Todos os países do mundo, grandes ou pequenos, são cidades do Céu; todos os homens, velhos ou moços, fidalgos ou humildes, são súditos celestes; em verdade, todos eles apascentam bois e ovelhas, alimentam cães e porcos e preparam vinho e bolos para sacrificá-los ao Céu. Acaso não significa isto que o Céu protege a todos e de todos aceita oferendas? Desde que é assim, como não deveríamos pensar que o Céu deseja que os homens se amem e auxiliem mutuamente? Logo, o Céu abençoará os que procederem de acordo com esse preceito, e amaldiçoará os que odeiam e prejudicam o próximo, pois foi dito que "a adversidade há de ferir o assassino do inocente". Como explicaríamos de outro modo o fato de recair sobre os criminosos a maldição celeste? Logo, o Céu deseja o amor do próximo e detesta o ódio ao próximo.

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42. Sobre a Guerra - Sunzi Sunzi disse: a guerra é de vital importância para o Estado; é o domínio da vida ou da morte, é o caminho para a sobrevivência ou a perda do Império: é preciso manejá-la bem. Não refletir seriamente sobre tudo o que lhe concerne é dar prova de lastimável indiferença no que diz respeito à conservação ou à perda do que nos é mais querido; e isso não deve ocorrer entre nós. Há que valorá-la em termos de cinco fatores fundamentais, e fazer comparações entre as diversas condições dos contendores, com vistas a determinar o resultado da guerra. O primeiro desses fatores é a doutrina; o segundo, o tempo, o terceiro, o terreno, o quarto, o mando e o quinto, a disciplina. A doutrina significa aquilo que faz com que o povo esteja em harmonia com o seu governante, de modo que o siga aonde for, sem temer por sua vida, nem de se expor a qualquer perigo. O tempo significa o Ying e o Yang, a noite e o dia, o frio e o calor, dias ensolarados ou chuvosos e a mudança das estações. O terreno implica as distâncias, e faz referência onde é fácil ou difícil deslocar-se, se é em campo aberto, ou lugares estreitos, e isto influencia as possibilidades de sobrevivência. O mando há de ter como qualidades: a sabedoria, a sinceridade, a benevolência, a coragem e a disciplina. Por último, a disciplina há de ser compreendida como a organização do exército, as graduações e classes entre os oficiais, a regulação das rotas de mantimentos, e a provisão de material militar para o exército. Estes cinco fatores fundamentais hão de ser conhecidos por cada general. Aquele que os domina, vence; aquele que não os domina,

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sai derrotado. Portanto, ao traçar os planos, há de se comparar os seguintes sete fatores, avaliando-se cada um com o maior cuidado: Qual dirigente é o mais sábio e capaz? Que comandante possui o maior talento? Que exército obtém vantagens da natureza e terreno? Em que exército se observam melhor as regulações e as instruções? Quais as tropas mais fortes? Que exército tem oficiais e tropas melhor treinadas? Que exército administra recompensas e castigos de forma mais justa? Mediante o estudo desses sete fatores, serás capaz de adivinhar qual dos dois grupos sairá vitorioso e qual será derrotado. O general que seguir o meu conselho vencerá. Esse general há de ser mantido na liderança. Aquele que ignorar os meus conselhos, certamente será derrotado, e deve ser destituído. Além de prestar atenção aos meus conselhos e planos, o general deve criar uma situação que contribua para o seu cumprimento. Por situação quero dizer que deve levar em consideração a situação do campo, e atuar de acordo com o que lhe for vantajoso.

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43. Contra a guerra - Shijing Ministro da guerra, nós somos as garras e os dentes do rei. Por que você nos atirou nesse sofrimento, de modo que nós não tivéssemos nenhum lugar para permanecer? Ministro da guerra, nós somos aguerridos soldados do rei. Por que você nos atirou nesse sofrimento, de modo que não houvesse nenhum fim [ de nossas labutas ]? Ministro da guerra, você agiu certamente sem discriminação. Por que você nos atirou nesse sofrimento, de modo que nossas mães tivessem que fazer todo o trabalho de cozinhar?

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44. Guerra e Política - Shang Yang Um país de mil bigas é capaz de se preservar pela defesa e um país de dez mil bigas é capaz de se completar satisfatoriamente pelos combates - até [um mal governante como] Xieh não seria capaz de deturpar uma palavra desta declaração de modo a subjugar os seus inimigos; e, se no estrangeiro, se é incapaz de empreender a guerra e, na pátria, se é incapaz de zelar pela defesa, então até [um bom governante como] Yao não poderia subjugar, por qualquer má conduta, um país que [normalmente] não fosse excepcional. Sob este ponto de vista, concluir-se-á que o que conduz o país a ser importante e o governante a ser honrado é a força. Sendo a força a base de ambos, como pode ser que nenhum governante na Terra consiga desenvolvê-la? Originai uma situação em que as pessoas considerem terrível não cultivar a terra e perigoso não combater. Estas são duas coisas que, embora do seu desagrado, os filhos filiais fazem em nome dos pais e, embora com desagrado, os ministros fazem em nome do soberano. Atualmente, se se desejar incitar a multidão de pessoas a fazer aquilo que nem os filhos filiais e ministros leais gostam de fazer, acho que será inútil qualquer tentativa, a menos que os instigue pela via de punições e os incentive pela via de recompensas. Contudo, presentemente, os gêneros vulgares de governante negligenciam todas as leis e medidas, confiando na sofística e sagacidade; retiram os homens de mérito e força e promovem os homens de benevolência e retidão, com o resultado de que as pessoas não se dedicam à agricultura nem às campanhas militares. Se tais pessoas não concentram as suas energias na agricultura, na pátria os seus mantimentos ficarão esgotados; e se não se dedicam ao seu dever nas guerras, no estrangeiro o exército será fraco; então, embora se

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tenha um território de dez mil li e um milhão de homens armados, será como uma planície que tem de depender dos seus próprios recursos. Além disso, os reis dos primórdios eram capazes de ordenar o seu povo a caminhar com a espada desembainhada e a expor-se a flechas e pedras, estando este disposto a cumprir, não porque gostasse de aprender tais coisas, mas porque escapava, assim, às represálias. Daí, que o meu ensinamento consista em emitir tais ordens para que o povo, se ambicionar o lucro, possa atingir esse objetivo apenas pela agricultura e que, se pretender evitar represálias, possa apenas escapar por via da guerra. Não haverá ninguém dentro das fronteiras que não se dedique, em primeiro lugar, ao cultivo da terra e ao combate, de forma a obter mais tarde o que lhes dá prazer. Por conseguinte, embora o território possa ser pequeno, a produção será abundante e, embora a população possa ser dispersa, o exército será forte. Caso se alcancem estas duas coisas dentro do território, então o caminho para se tornar um Lorde Protetor ou um rei de todo o império estará completamente traçado.

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45. O Cavalheirismo Guerreiro – Sima Fa Na antiguidade, guerreiros não perseguiam soldados em fuga por mais de cem passos, e não perseguiam um exército em retirada por mais de três dias; assim, mostravam cavalheirismo. Eles não taxavam os incapacitados e eram misericordiosos com os feridos e doentes; assim, mostravam a sua compaixão. Eles deixavam os batalhões se formarem antes de atacá-los; assim, mostravam a sua cortesia. Eles lutavam por princípios, e não por lucro; assim, mostra­vam a sua justiça. Eles concediam perdão àqueles que se rendiam; assim, mos­travam a sua coragem. Eles sabiam como as coisas começavam e como elas chega­vam a termo; assim, mostravam a sua inteligência. Essas seis virtudes eram ensinadas juntas, em épocas apropriadas, como um meio de unir as pessoas. Essa é a política de tempos imemoriais.

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46. Rituais Funerais - Liji Quando uma pessoa morria, iam para o telhado da casa e chamavam pelo seu nome num som prolongado, dizendo: “Volta, fulano”. Depois disso, enchiam a boca do falecido com arroz cru e preparavam ofertas de pacotes de carne crua. Então, olhavam para o céu (para onde o espírito tinha ido) e enterravam o corpo na terra. O corpo e a alma animal vão para baixo; e o espírito inteligente fica nas alturas. Assim também os mortos são colocados com a cabeça para norte, enquanto os vivos olham para o sul. (...) Chamar a alma é a maneira pela qual o amor recebia a sua consumação e tem nela o espírito expresso pela oração. Procurá-la para ela regressar da região das trevas é uma maneira de a procurar entre os seres espirituais. O voltar da face para norte vem da ideia de que o norte é a região das trevas. (...) Uma inscrição com o apelido, o nome e a categoria do morto era preparada e colocada sob as goteiras do telhado, a leste: Entretanto, arranjava-se uma tabuinha de madeira “A primeira tabuinha-do-espírito” e transferia-se o espírito para ela. Era posta em cima ou perto do caixão que agora tinha o corpo dentro. Mais tarde, era movida para leste da cova onde se conservava até depois do enterro. Depois do enterro, esta tabuinha enterrava-se e fazia uma tabuinha permanente (shen chu), diante da qual os sacrifícios familiares eram oferecidos de geração para geração.

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47. Sacrifícios do Céu e da Terra - Liji No altar she eles sacrificavam aos espíritos da terra... O grande altar she do filho do céu estava aberto para receber a branca geada, o orvalho, o vento e a chuva e permitir que as influências do céu e da terra tivessem o seu completo desenvolvimento sobre ele. Por esta razão, o altar she de um estado que tivesse perecido era coberto com telhado, para que não fosse tocado pelo brilho nem o calor do céu. Nos sacrifícios no altar she eles lidavam com a terra como se esta fosse um espírito. A terra sustentava todas as coisas, enquanto que o céu arvorava os seus brilhantes signos. Eles derivavam da terra os seus recursos naturais; derivavam os governantes (para as suas carreiras de labor) do céu. Assim, eram induzidos a venerar o céu e a amar a terra.

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48. Oferendas Espirituais – Liji As oferendas de carnes eram então preparadas, e o tripé redondo e o vaso quadrangular postos em ordem, e os instrumentos de música [...], tudo nos seus lugares, e a oração do sacrifício aos mortos e a de resposta dos mortos eram cuidadosamente elaboradas e lidas a fim de que os espíritos do céu e os dos ancestrais pudessem baixar ao lugar do culto. Todas essas práticas tinham o propósito de manter a devida distinção entre governantes e governados, preservar o amor entre pais e filhos, incutir a gentileza entre os irmãos, regular as relações entre superiores e subalternos, e estabelecer de parte a parte as condições de convívio entre marido e mulher, para que sobre todos pairasse a bênção do Céu. Preparavam-se então as lamentações do sacrifício. O vinho negro ou escuro era empregado nas libações, e o sangue e o pelo dos animais era usado nas oferendas, e a carne crua colocava-se num vaso quadrangular. Também se oferecia carne assada; abria-se uma esteira no chão e cobriam-se os vasos com uma peça de tecido rústico, e as indumentárias que se vestiam para a cerimônia eram de seda. Os diversos vinhos, carnes assadas e de fumeiro, também se usavam nas oferendas. O soberano e a rainha procediam ao oferecimento alternadamente, a fim de que os bons espíritos pudessem baixar e eles se integrassem no mundo oculto. Após os sacrifícios, propiciava-se então uma festa aos hóspedes, dividindo os cães e porcos e as reses e ovelhas da oferenda e distribuindo-os em vasilhames diversos. A oração aos mortos proclamava a gratidão e lealdade dos viventes, e a resposta dos mortos sugeria a sua contínua afeição aos vivos. Tal era o grandioso e abençoado sentido da cultura [Li]

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49. Cerimônias para os Ancestrais - Zhong Yong Na primavera e no outono, eles reparam e põem em ordem o templo dos ancestrais, arranjam os vasos de sacrifício, exibem as insígnias e os vínculos de bens móveis da família, e apresentam as oferendas próprias da estação. O a ordem de precedência nas cerimônias de adoração no templo dos ancestrais é, em primeiro lugar, de colocar os membros da família segundo seu parentesco. Os títulos são considerados em segundo lugar, a fim de haver o reconhecimento do princípio de distinção social. Os serviços a render em seguida são considerados como um reconhecimento da distinção em dignidade moral. No banquete geral, os que ficam abaixo tomam a precedência dos que ficam acima em brindar os presentes a fim de mostrar que a consideração é feita aos mais medíocres. Em conclusão, é oferecido um banquete em separado para os mais velhos, a fim de reconhecer o princípio de ancianidade segundo a idade. Reunir-se nos mesmos lugares em que nossos pais se reuniram antes de nós; cumprir as mesmas cerimônias que eles cumpriram antes de nós; tocar a mesma música que tocaram antes de nós; respeitar aqueles a quem eles prestaram honras; amar os que lhe foram caros - de fato, servir aqueles que estão agora mortos como se vivos fossem, e os que estão separados como se ainda conosco estivessem: eis o mais alto alcance da verdadeira piedade filial.

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50. O Luto - Zhong Yong Essa regra é agora observada universalmente desde os príncipes reinantes e nobres até os gentis-homens e povo. No caso do pai ser um nobre e o filho um simples gentil-homem, o pai quando morre, é sepultado com as honras de um nobre, porém recebe as homenagens de sacrifício como um simples gentil-homem. No caso do pai ser um simples gentil-homem e o filho ser um nobre, o pai, quando morre, é sepultado como um simples gentilhomem, mas recebe as homenagens de sacrifício com as honras de um nobre. A regra de um ano de luto para os parentes é atribuída para os que têm titulo nobre, todavia a regra de luto de três anos pelos pais é atribuída para todos até o Imperador. No luto pelos pais há apenas uma regra, e não há distinção entre o nobre e o plebeu.

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51. Rituais do Campo – Shijing Crescem bem cerrados os tributos (no solo), mas espalham os ramos espinhosos. Por que o fazem há tantos anos? Para que possamos plantar nosso milho e sacrificar milho; para que nosso milho possa ser abundante e nossos sacrifícios de milho abundantes. Quando nossos celeiros estão cheios e nossas provisões são contadas por dezenas de milhares, faremos apelos aos espíritos e preparamos grãos para as oferendas e sacrifícios. Fazemos os representantes dos mortos sentarem e pedimos-lhes para comer - assim procurando aumentar nossa felicidade. Com conduta correta e respeitosa, os touros e os carneiros todos puros, procedemos aos sacrifícios de inverno e de outono. Algum esfolam (as vítimas) ; outros cozinham (sua carne) ; outros preparam (a carne) ; outros ajustam (as diversas partes). O que oficia as preces faz sacrifícios dentro do portão do templo. E todo o serviço sacrificial é completo e brilhante. Majestosamente chegam nossos progenitores; seus espíritos gozam alegremente as oferendas; seus descendentes recebem a benção - eles o recompensarão com grande felicidade, com miríades de anos, com vida sem fim. Preparam o fogo com todo respeito; preparam os tabuleiros que são enormes - alguns para a carne assada, outros para o assado. As esposas que os presidem ainda fazem reverências, preparando os numerosos (menores) pratos. Os convivas e os visitantes passam a taça de mão em mão. Cada fôrma segue a regra; cada sorriso e cada palavra são como devem ser. Os espíritos chegam calmamente e cobrem todos com grandes bênçãos - milhares de anos como a recompensa (mais apropriada). Estamos muito cansados e terminamos cada cerimônia sem um erro. O apto encarregado das preces anuncia (a vontade dos

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espíritos) e procura o descendente para transmiti-la - "tem sido fragrante seu sacrifício filial e os espíritos apreciaram seu espírito e as iguarias. Eles lhe conferem centenas de bênçãos; todas como mais deseja, todas tão seguras como a lei. Você foi exato e pronto; foi correto e cuidadoso; eles lhe conferirão até o mais raro dos favores, em milhares e dezenas de milhares." As cerimônias tendo assim se completado e os sinos e tambores tendo dado o sinal, o descendente vai ocupar seu lugar e o encarregado das preces anuncia - Os espíritos beberam até fartar. - Os grandes representantes dos mortos levantam-se então e os sinos e tambores escoltam sua retirada (com a qual) os espíritos tranquilamente voltam (para o lugar de onde vieram). Todos os servos, e as esposas que presidem, removem (as bandejas e pratos) sem demora. Os tios e primos (do sacrificante) todos se dirigem para um banquete privado. Os músicos todos vão tocar e prestam seu auxílio serenante à segunda bênção. As suas viandas são expostas; não há ninguém que não se sinta satisfeito e sim todos estão muito contentes. Bebem até fartar e comem até não quererem mais; grandes e pequenos todos curvam as cabeças (dizendo) “Os espíritos apreciaram seus espíritos e iguarias e lhe darão vida longa. Seus sacrifícios, todas suas oportunidades são completamente dispensados. Possam seus filhos e seus netos jamais deixar de perpetuar esses serviços!”

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Referências    

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Traduções próprias: Guanzi, Banzhao, Chunqiu Fanlu, Inscrição de Qin [no Shiji], Sunzi Alfred Doeblin. O Pensamento vivo de Confúcio. São Paulo: Martins, 1960: Daxue, Xiaojing, Shijing Confúcio. Analectos. São Paulo: Martins Fontes, 2009: Lunyu Lin Yutang, Sabedoria de Índia e China. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1958: Mêncio, Mozi, Shijing, Shujing, Zhong Yong, Zhuangzi Lin Yutang, Sabedoria de Confúcio. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958: Liji Lin Yutang, A Importância de Compreender. Porto Alegre: Globo, 1988: Shiji Livro de Shang Yang. Lisboa: Europa América, 1999: Shang Yang Thomas Cleary, A sabedoria do guerreiro. São Paulo: Record, 2001: Sima Fa A tradução da ‘Geografia dos países estrangeiros’ é de Ricardo M. Gonçalves, disponível em: http://anpuh.org/anais/wpcontent/uploads/mp/pdf/ANPUH.S05.05.pdf

Ver também: Cem textos de História Chinesa. 2009: www.chinologia.blogspot.com.br

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