Textos de História da Índia Antiga

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André Bueno Textos de História da Índia Antiga Rio de Janeiro: Ebook, 2016. Disponível em: www.orientalismo.blogspot.com.br ISBN 978-85-65996-40-2

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André Bueno

TEXTOS DE HISTÓRIA DA ÍNDIA ANTIGA

Rio de Janeiro 2016 3

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Índice Introdução, p.7 Antologia, p.15 1. Surgimento do mundo pelo sacrifício de Purusha – Rig Veda 2. Quem criou o Mundo? – Rig Veda 3. O Ovo Cósmico – Shataphata Brahamana 4. O Dilúvio Indiano – Shatapatha Brahmana 5. A história do Universo – Manavadharmashastra 6. Há Deuses? – Mojjhima Nikaya 7. Evolução dos Mundos – Dhiga Nikaya 8. A Alma imortal – Bhagavad Gita 9. A ilusão – Bhagavad Gita 10. Purusartha, os quatro pilares da vida indiana – Kama Sutra 11. As Castas – Mojjhima Nikaya 12. Casta dos Brâmanes – Manavadharmashastra 13. Casta dos Xátrias – Manavadharmashastra 14. Casta dos Vacias – Manavadharmashastra 15. Casta dos Sudras - Manavadharmashastra 16. As Castas na visão dos gregos – Anabasis 17. As regras da Vida - Dharma Sutras 18. Os piores pecados do Dharma - Dharma Sutra 19. A Condição Feminina - Manavadharmashastra 20. A predominância da Misoginia - Manavadharmashastra 21. O Casamento - Grihya Sutra 22. Ritos Matrimoniais - Dharma Sutras 23. Direitos Femininos - Arthashastra 24. A Morte do Amor - Kumarashambava 5

25. O Sábio dos Vedas – Rig Veda 26. O Sábio - Khata Upanishad 27. Os Sábios Jainas – Sutra Kritanga 28. Os Sábios Budistas – Dhamapada 29. Diálogo de Sábios e Reis – Milinda Panha 30. O Rei ideal – Manavadharmashastra 31. O Soberano - Arthashastra 32. O Soberano Ecumênico – Éditos de Ashoka 33. Questões econômicas – Manavadharmashastra 34. Questões econômicas – Arthashastra 35. Práticas Políticas – Manavadharmashastra 36. Práticas Políticas - Arthashastra 37. A importância do Conselho - Arthashastra 38. Políticas internacionais – Éditos de Ashoka 39. Os indianos na visão dos gregos – Anabasis 40. A prática das Leis - Manavadharmashastra 41. Invocação divina da Guerra - Rig Veda 42. Prece para derrota de inimigos - Atharva Veda 43. A guerra como exercício do Dharma - Bhagavad Gita 44. A guerra dos indianos - Anabasis 45. Teoria sobre a Guerra - Arthashastra 46. Formação de batalha - Arthashastra 47. Os Nomes de Indra, o Rei dos Deuses – Sama Veda 48. A Cerimônia do Suco do Soma - Sama Veda 49. Iniciação ao Estudo Sagrado - Dharma Sutra 50. Regras para o Asceta - Dharma Sutras 51. Hino à Palavra - Atharva Veda 52. Hino para ser entoado em um funeral - Atharva Veda 53. Libações nas cerimônias fúnebres - Manavadharmashastra Referências, p.95 6

Introdução Textos de História da Índia Antiga é a tentativa de produzir uma nova coletânea de textos sobre a história indiana, centrada em seus períodos mais antigos. Minha primeira iniciativa, mais extensa, redundou em Cem textos de história indiana [2011], que pretendia dar um quadro mais amplo, tanto em termos temporais quanto temáticos, dessa civilização. Agora, proponho-me a fazer uma versão menos, reduzida, porém mais específica. Como em outras produções do gênero, faço questão de frisar que esse não é um livro definitivo, mas antes de tudo, introdutório. Ele serve de livro fonte para aqueles que gostam de estudar Índia, ou, de ferramenta pedagógica para aqueles que precisam abordar esse tema em sala de aula, tanto na escola quanto na universidade. Muitos textos aqui já foram apresentados anteriormente, mas tentei, o quanto pude apresentar textos originais. Igualmente, não se pode pretender que a literatura indiana dê um quadro preciso de como funcionava essa sociedade em sua antiguidade: no entanto, os fragmentos aqui apresentados podem nos auxiliar a construir um quadro sobre a mentalidade da civilização clássica da Índia, suas leis, idealizações, costumes e práticas. Uma introdução a História da Índia Antiga Apenas com o fito de estabelecer o que veremos a seguir, precisamos montar um pequeno panorama histórico indiano. O estudo da história, na Índia, é bastante recente. Os indianos tradicionais tratavam a questão histórica de modo muito 7

semelhante aos gregos antigos: suas histórias deveriam trazer exemplos morais e espirituais, sem uma preocupação exata com questões cronológicas ou factuais. Assim, o material de que dispomos se aproxima muito mais de Homero ou Hesíodo do que, propriamente, de Heródoto ou Tucídides. Os indianos conseguiram um feito notável: transferiram o problema de preservar a narrativa histórica para o de manter as práticas religiosas. Assim, os indianos não deram atenção substancial ao tempo, mas sim, a como dar continuidade as suas crenças espirituais. Com isso, fizeram com o que a história da Índia se confundisse com a história do próprio hinduísmo [e, de forma contígua, do Jainismo e do Budismo]. Textos antiquíssimos foram preservados, por meio de uma zelosa tradição, permitindonos ter acesso ao pensamento de períodos remotos do segundo milênio AEC. A preservação da cultura indiana tradicional dispensou, por séculos, a necessidade de ser historiografada. Por isso, é da arqueologia moderna que proveio um exame mais nítido das civilizações indianas antigas. Tal como a China, a Índia parece ter um passado neolítico autóctone. Em torno do terceiro milênio AEC, civilizações profundamente desenvolvidas, em termos técnicos e culturais, habitavam cidades ao longo do vale do Indo, das quais se destacaram Mohenjo Daro e Harappa. Sabe-se hoje que essas cidades, planejadas e extremamente bem organizadas, possuíam contatos comerciais diretos com a Suméria, e provavelmente, com o Egito. Podem, assim, ser tranquilamente classificadas entre as culturas urbanas mais antigas do mundo. Todavia, o processo de alteração dos cursos de água forçou uma gradual mudança dessas sociedades de seu espaço original. Não conhecemos de modo exato a língua e a escrita utilizada nessa época, que ainda se encontra em processo de tradução. 8

O segundo milênio acompanharia a chegada gradual de povos vindos da Ásia central, que denominavam a si mesmos de ‘senhores’ [arianos]. Nômades, pastores e guerreiros, com uma cultura politeísta, eles se infiltrariam ao longo de séculos no subcontinente indiano, mesclando-se com as populações autóctones. Dessa rica fusão, nasceria a cultura védica, que estruturaria os pilares da civilização indiana clássica. Foi o período em que surgiu a literatura indiana, redigida em sânscrito, sua língua sagrada, que trouxe a luz os Vedas [revelações] e depois, os Upanishads, as especulações filosóficas e religiosas sobre o pensamento indiano. Pode-se dizer que o período védico termina quando, justamente, a sociedade começa a repensar suas formas de crença. Em torno do século -10, um extenso movimento político, social e intelectual renova a cultura indiana. Isso se reflete no paulatino crescimento de certos Estados, cuja autoridade real se reforça e se consolida. Em torno do século -6, esses grandes reinos formam o período chamado de Mahajanapadas [grandes reinos], delicadamente equilibrados em frágeis redes de poder. Nessa mesma época, a insatisfação com esse mundo de conflitos, regido por um opressivo regime de castas, faz surgir o Jainismo e o Budismo. Os indianos sofreriam com as invasões estrangeiras: no século -5, os persas; depois, no século -4, os gregos. Com eles, aprenderam a experiência da unificação política, importante como fator de resistência cultural e política. Em breve construiriam seu próprio império, a dinastia Maurya, que tomaria quase toda a Índia sob seu controle, constituindo-se de um dos maiores impérios da antiguidade. Embora não tenha durado além do

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século -2, revelaram-se ao mundo indiano as vantagens e desvantagens da unidade cultural e política. Literatura indiana antiga: Glossários dos textos utilizados nessa coletânea Anabasis – Redigido por Arriano, escritor latino do século +2, ele nos traz fragmentos da Historia Indika de Megastenes, grego que esteve presente na corte Maurya. Por ser um testemunho histórico da época, decidi incluí-lo na coletânea, sendo o único texto estrangeiro dessa coletânea. Arthashastra – O Livro de Artha [a lei social] é um tratado do século -4 escrito por Kautilya, um dos principais intelectuais da dinastia Maurya. Abordando questões sobre política, leis, guerra e economia, é o principal texto do pensamento social indiano junto com o Manadharmashastra. Atharava Veda – Veda tardio, considerado por muitos brâmanes como apócrifo. Contém fórmulas mágicas, magias e feitiços. É provável que tenha sido constituído a partir da religiosidade popular, concomitantemente aos Vedas principais. Hoje, é aceito como parte absoluta da tradição védica. Bhagavad Gita – Livro que integra a grande epopeia do Mahabharata, a ‘Canção do Senhor’ é um dos textos filosóficos e religiosos mais importantes do hinduísmo. Trata-se do diálogo de Arjuna, um dos personagens principais da história, e Krishna, encarnação do deus Vishnu e salvador da humanidade. Sua redação surgiu, provavelmente, em torno dos séculos -2 ou -1, mas seus temas são muito anteriores. Dhamapada – um dos textos fundamentais do budismo, trazendo os sermões de Buda [Sidarta Gautama] sobre o Dharma [Dhama].

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Dharma Sutras – conjunto de textos elaborado ao longo dos séculos -5 a -3, tratando sobre questões rituais, práticas devocionais e discussões sobre aspectos do hinduísmo. Parecer ser posterior ao Manavadharmashastra, pois algumas de suas seções são compilações deste texto. Dhiga Nikaya – um dos textos do cânone budista, provavelmente produzido a partir de anotações entre os século -5 ou -4. Éditos de Ashoka – Esse conjunto de epígrafes foi produzido pelo imperador indiano Ashoka, da dinastia Maurya, ao longo do século -3. Seu objetivo era difundir uma mensagem política e religiosa universalista e ecumênica, sendo vertido em vários idiomas diferentes, como grego e aramaico. Grihya Sutra – conjunto de textos, provavelmente elaborado no final do século -3 ou -2 [mas não temos qualquer segurança quanto a esta afirmação], que junto com os Dharma sutras, estabelece os mais diversos rituais e procedimentos religiosos de cunho doméstico. Kama Sutra – Texto que trata do terceiro pilar da vida indiana, junto com Dharma [lei religiosa] e Artha [lei social]. O livro do Desejo [kama] é tardio em relação ao período aqui abordado, mas foi composto por textos diversos bem anteriores a sua redação. Trata-se de uma compilação de regras sociais e sexuais, abordadas por um cunho filosófico e sociológico. Khata Upanishad – Um dos sete Upanishads fundamentais. Os Upanishads são textos que completavam a tradição védica, especulando sobre suas crenças religiosas por um viés metafísico bem definido. São os textos que definem a crença na reencarnação, e seu papel dentro do hinduísmo. Kumarashambava – Peça de teatro do escritor Kalidasa, dramaturgo do século +4. Embora posterior ao período que 11

abordamos, Kalidasa abordava mitos tradicionais do hinduísmo, das quais trazemos um fragmento nessa coleção. Manavadharmashastra – As Leis de Manu teriam sido formuladas por Manu, o sobrevivente indiano do dilúvio universal. De fato, o livro chama-se ‘O Dharma de Manava’, ou seja, apresenta o conjunto das leis e prescrições religiosas da sociedade indiana antiga. É provável que tenha sido redigido em reação as especulações aparecidas com os Upanishads, tentando reforçar uma ideia de tradição. É dificílimo datá-lo: com muito cuidado e reticências, propomos que ele tenha sido redigido em algum momento do século -7 ou -6. Milinda Panha – Fabuloso texto budista, escrito em torno do século -2 ou -1, que trata do encontro de um sábio budista indiano, Nagasena, com um rei grego, Menandro [Milinda]. Um dos primeiros encontros interculturais narrados da antiguidade. A discussão filosófica encaminha temas budistas, que teriam culminado com a conversão desse soberano a doutrina. Mojjhima Nikaya – outro dos textos do cânone budista, construído a partir de memórias recorrentes do Budismo primitivo. Rig Veda – Primeiro e fundamental texto do período védico, trata-se de uma coleção ampla de hinos que nos revelam as crenças e práticas culturais da Índia Antiga em torno do segundo ao primeiro milênio AEC. Sama Veda – Junto com o Sama e o Yajur, é considerado um dos Vedas [revelações] fundamentais do pensamento védico, contendo fórmulas rituais e cantos diversos. Shatapatha Brahmana – Depois dos Vedas, um conjunto de lendas, tradições e discursos foi recolhido pela classe bramânica, constituindo esse texto antiquíssimo. Ele nos traz alguns dos 12

primeiros mitos da história indiana, contribuindo para a compreensão de suas origens e transformações. Sutra Kritanga – um dos textos da escola Jaina, produzido em torno do século -6 ou -5.

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ANTOLOGIA

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1.Surgimento do mundo pelo sacrifício de Purusha Rig Veda Mil cabeças tem Purusha, mil olhos, mil pés. Por toda parte impregnando a terra Ele enche um espaço com dez dedos de largura. Esse Purusha é tudo que até agora já foi e tudo que será, O senhor da imortalidade que se torna maior ainda pelo alimento. Tão poderosa é sua grandeza! Sim, maior do que isto é Purusha. Todas as criaturas são uma quarta parte dele, três quartas partes são a vida eterna no céu. Com três quartos Purusha subiu; um quarto dele novamente estava aqui. Daí saiu para todos os lados por sobre o que come e o que não come. Dele nasceu Viraj; e novamente de Viraj nasceu Purusha. Assim que nasceu, espalhou-se para oriente e ocidente sobre a terra. Quando os deuses prepararam o Sacrifício com Purusha como sua oferenda, Seu óleo foi a primavera; a dádiva santa foi o outono; o verão foi a madeira. Eles embalsamaram como vitima sobre a grama o Purusha nascido no tempo mais antigo. Com ele as deidades e todos os Sadhyas e Rishis fizeram sacrifício. Desse grande Sacrifício geral a gordura que gotejava foi colhida. Ele formou as criaturas do ar, os animais selvagens e domesticados.

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Daquele grande Sacrifício geral os Hinos Rig e os Hinos Sama nasceram; Daí foram produzidos encantamentos e sortilégios; os hinos Yajur surgiram disso. Dele nasceram os cavalos e todo o gado com duas fileiras de dentes; Dele se reuniu o gado vacum, dele nasceram cabras e ovelhas. Quando dividiram Purusha, quantos pedaços fizeram? A que chamam sua boca, seus braços? A que chamam suas coxas e pés? O Brâmane foi sua boca, de ambos os seus braços foi feito o Rajanya (xátria). Suas coxas tornaram-se o vaixa, de seus pés o sudra foi produzido. A Lua foi engendrada de sua mente, e de seu olho o Sol nasceu; Indra e Agni nasceram de sua boca, e Vayu de seu alento. De seu umbigo veio a atmosfera; o céu foi modelado de sua cabeça; A terra de seus pés, e de suas orelhas as regiões. Assim eles formaram os mundos. Sete bastões de luta tinha ele, três vezes sete camadas de combustível foram preparadas, Quando os deuses, oferecendo o sacrifício, manietaram sua vítima, Purusha. Os deuses, sacrificando, sacrificaram a vítima; estes foram os primeiros sacramentos. Os poderosos chegaram às alturas do céu, lá onde os Sadhjas, deuses antigos, estão morando.

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2. Quem criou o Mundo? – Rig Veda Então não existia o não-existente, nem o existente - não havia reino do ar, nem céu além dele. O que encobria, e onde? E o que dava abrigo? Existia água ali, uma profundidade insondável de água? Não existia então a morte, nem coisa alguma imortal – não havia sinal, o divisor do dia e da noite. Aquela coisa única, sem alento, respirou por sua própria natureza - a não ser ela, não existia coisa alguma. Existia treva; de começo oculto na treva, esse Tudo era caos indiscriminado. E tudo quanto existia então era vazio e sem forma - pelo grande poder do calor nasceu aquela unidade. Daí em diante surgiu o desejo no início, Desejo, a semente e germes primevos do espírito. Sábios que buscavam com o pensamento e seus corações descobriram o parentesco do existente no não-existente. Transversalmente sua linha de separação se estendeu - o que estava acima, então, e abaixo? Existiam reprodutores, forças poderosas, ação livre aqui e energia acima, além. Quem realmente sabe e quem pode declarar, de onde nasceu e de onde veio essa criação? Os deuses vieram depois da produção deste mundo. Quem sabe, portanto, de onde ele veio pela primeira vez? Ele, a primeira origem desta criação, tenha formado a mesma toda ou não a tenha formado, Cujo olho controla este mundo no céu mais alto, ele realmente sabe, ou talvez não saiba. 19

3. O Ovo Cósmico – Shataphata Brahamana Na verdade, de inicio este universo era água, nada mais que um mar de água. As águas desejaram: "Como podemos reproduzir?” Elas se esforçaram e praticaram devoções fervorosas, e quando se estavam aquecendo foi produzido um ovo dourado. O ano, na verdade, não estava então em existência - esse ovo dourado flutuou durante o espaço de um ano. No período de um ano um homem, este Prajapati, a foi produzido dali, e por isso uma mulher, uma vaca ou uma égua gera dentro do espaço de um ano, pois Prajapati nasceu em um ano. Ele rompeu o ovo dourado. Não existia então, na verdade, qualquer lugar de descanso; apenas esse ovo dourado, trazendo-o, flutuava durante todo o espaço e um ano. No finai de um ano, ele tentou falar. Disse "bhuhr", palavra que se tornou esta terra; - "bhuvar", que se tornou o ar; - “svar", que se tornou o céu além. Por isso uma criança tenta falar ao fim de um ano, pois ao fim de um ano Prajapati tentou falar. Quando falava ela primeira vez, Prajapati dizia palavras de uma sílaba e de duas sílabas; por isso uma criança, quando fala pela primeira vez, diz palavras de uma e duas sílabas. Essas três palavras consistem em cinco sílabas e ele as tornou as cinco estações. Ao final do primeiro ano, Prajapati subiu para estar sobre essas palavras assim produzidas; por isso uma criança tenta estar de pé ao fim de um ano, pois ao um de um ano Prajapati ficou de pé. Ele nasceu com uma vida de mil anos; assim como alguém poderia ver a distância a costa em frente, assim ele olhou a costa a frente de sua própria vida. Desejando ter progênie, continuou a cantar louvores e a trabalhar. 20

Estabeleceu o poder de reprodução em seu próprio eu. Pelo alento de sua boca criou os Devas - os deuses foram criados ao entrar no céu; e esta é a divindade dos deuses, a que tenham sido criados ao entrar no céu. Tendo-os criado houve, por assim dizer, dia para ele e esta é também a divindade dos deuses, a que, depois de criálos, houve, por assim dizer, dia para ele. E pelo alento ou respiração para baixo, ele criou os Asuras - que foram criados entrando nesta terra. Tendo-os criado houve, por assim dizer, treva para ele. Agora que a luz do dia, por assim dizer, existia para ele, ao criar os deuses, isso ele fez o dia; e a treva, por assim dizer, que havia para ele, ao criar os Asuras, disso ele fez a noite - eles são esses dois, o dia e a noite.

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4. O Dilúvio Indiano – Shatapatha Brahmana Pela manhã trouxeram a Manu água para se lavar, assim como hoje trazem água para lavar as mãos. Quando se lavava, um peixe veio ter as suas mãos. O peixe lhe disse: "Ajuda-me, eu te salvarei!" Do que me salvarás?” "Uma enchente varrerá todas estas criaturas - isso te salvarei!" "Como te devo ajudar?” O peixe lhe disse: "Enquanto somos pequenos, há grande destruição para nós e um peixe devora o outro. Tu me manterás primeiro em uma jarra. Quando eu crescer, tu cavarás um poço e me manterás nele. Quando eu crescer mais, tu me levarás ao mar, pois estarei então além da destruição". O peixe logo se tornou grande, com o que disse: "Em tal e qual ano a enchente virá. Tu ouvirás então o meu conselho, preparando um navio; e quando a enchente chegar tu entrarás no navio e eu te salvarei dela". Depois de criado desse modo, ele o levou para o mar. E no mesmo ano que o peixe dissera ele ouviu seu conselho, preparando um navio; e quando a enchente chegou, ele entrou no navio. O peixe então nadou para ele e a seu chifre ele atou a corda do navio, passando assim rapidamente para outra montanha no norte. Ele disse então: "Eu te salvei. Amarra o navio à uma arvore, mas não deixa a água te levar, enquanto estiveres na montanha. A medida que a água baixar, tu poderás descer gradualmente!" Assim fazendo, ele desceu gradualmente e por isso aquela encosta da montanha ao norte se chama "a descida de Manu!" A enchente então varreu todas estas criaturas e somente Manu ficou aqui. 22

5. A história do Universo – Manavadharmashastra O Ser Supremo atribuiu a cada criatura uma categoria diferente, e dentro dessa categoria, eventos, funções e vários deveres. Assim foram criados os seres de todos os tipos. Esses seres, por atos anteriores, nasceram entre deuses, homens ou animais, e experimentaram suas transformações infinitas em todo o mundo, que é destruído e renovado constantemente. Tendo criado o universo dessa maneira, ele cujo poder é incompreensível, desapareceu novamente, absorto em sua alma e substituiu o tempo gasto pelo tempo que vem. Quando Deus vela, o universo torna suas ações; quando ele dorme, seu espírito é absorvido em um sono profundo e se destrói o próprio universo. [...] Um dia de Brahma é composto por mais de 4000 milhões de anos humanos e é dividido em 14 períodos: cada uma dessas vezes é presidido por um Manu, e revelado por uma inundação que destrói tudo. Quando o dia de Brahma se conclui, a noite de Brahma começa, então o mundo não existe porque tudo vem ao nada (no indeterminado). Um dia e noite de Brahma formam um Kalpa, 360 Kalpas constituem um ano divino. No final de cem anos desse tipo, o universo será dissolvido novamente e o mesmo Brahma entrou em nada (o indefinido) do Ser Supremo, o Ser que só existe em si. Depois, há a própria a luz, eu espontaneamente dá origem a uma nova Brahma, e criações começam de novo.

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6. Há Deuses? – Mojjhima Nikaya - Ora, excelente Gotama, existem devas? - é uma coisa por mim conhecida de modo certo, Bhãradvãja; existem Devas. - Não é isso vão e falso? - Existem devas, Bhãradvãja. Se [um mestre] interrogado responde que existem devas, ou se ele diz: "é uma coisa conhecida de certo modo, conhecida por mim", é bem esta conclusão a que chegarão os homens inteligentes. - Por que não explicaste isso desde o princípio, excelente Gotama? - Mas é uma coisa reconhecida no mundo, que existem Devas.

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7. Evolução dos Mundos – Dhiga Nikaya Há, ó monges, eremitas e brâmanes que são em parte eternalistas, em parte não-eternalistas. Eles assentam em princípio por quatro razões que o eu e o mundo são em parte eternos, em parte nãoeternos. Quais são os motivos? Ó monges, se produz um estado em que, a um momento dado após um longo lapso de tempo, este mundo está em involução. Este mundo estando em involução, os seres na sua maioria tornam-se Radiantes. Tornam-se compostos de espírito, gozam do êxtase, lúcido quanto ao eu, circulando no céu, permanecendo na glória; eles duram durante uma longa, longa existência. Ora, monges, produz-se um estado em que, a um dado momento, após um longo lapso de tempo, este mundo está em evolução. Este mundo estando em evolução, vem a aparecer a morada vazia de um Brahma. Então um ser, seja que a duração de sua vida esteja esgotada seja que seu mérito esteja esgotado tendo morrido no grupo dos Radiantes, surge na morada vazia de um Brahma. Ele se toma composto de espírito, goza do êxtase, lúcido quanto ao eu, circulando no céu, permanecendo na glória, ele dura durante uma longa, longa existência. Se eu estando perturbado, de aí permanecer na solidão, após uma longa existência, a falta de contentamento e a agitação nascem nele, e ele pensa: "Praza ao Céu que outros seres venham também a este estado". Então determinados seres também eles, seja porque a duração de sua vida está esgotada, seja porque seu mérito está esgotado, tendo morrido no grupo dos Radiantes surjam na morada de Brahma, na companhia deste ser. Estes são igualmente compostos de espíritos, etc. e duram durante uma longa existência.

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8. A Alma imortal – Bhagavad Gita Tu tens estado lamentando quem não deveria ser lamentado e, todavia, disseste (parece) palavras de sabedoria; mas a lamentação verdadeiramente sábia não é para o morto nem para o vivo. Não é verdade que eu tenha existido antes, nem tu, nem todas as coisas. Não é verdade que todos nós tenhamos de deixar e existir daqui por diante. Como neste corpo a alma encarnada passa através da infância, da juventude e da velhice, assim também ela vai de um corpo para outro; portanto, o sábio nunca se engana no que diz respeito a ela (a alma). Ó filho de Kunti, as sensações de calor, frio, prazer, dor são produzidas pelo contacto dos sentidos com os objetos-sentidos: Têm princípio e fim, são transitórios. Portanto, ó Bharata, suporta-as (bravamente). Ó poderoso, entre os homens está apto a ganhar a imortalidade aquele que é sereno e não se aflige com essas sensações, porém é o mesmo no prazer e na dor. Não há existência para o irreal e o real jamais pode ser-inexistente. Os Videntes de Verdade sabem onde ambos terminam. Conhecem que é indestrutível Aquele que em tudo penetra. Ninguém pode jamais destruir este Imutável. Estes corpos são perecíveis. Mas os que moram nestes corpos são eternos, indestrutíveis e impenetráveis. Luta, pois, ó descendente de Bharata! Aquele que considera este (o Eu) um assassino ou aquele que supõe que este (o Eu) é assassinado não conhece a Verdade. Porque ele não mata, nem ele é morto.

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Este (o Eu) não nasce, nem morre, nem depois de ter- sido descamba no não-ser. Este (o Eu) não nasce, é eterno, imutável, antigo. Jamais é destruído, nem mesmo quando o corpo o é. Ó filho de Pritha, como pode matar, ou causar a matança de outrem, aquele que sabe que este (o Eu) é indescritível, eterno, inascido e imutável? Assim como o homem despe as roupas velhas e veste outras novas, assim também a alma, despindo os corpos gastos, entra em outros que são novos. Espada não pode perfurá-lo (o Eu), fogo não pode queimá-lo, água não pode molhá-lo e o ar não pode secá-lo. Ele não pode ser perfurado, nem queimado, nem molhado, nem enxugado. Ele é eterno, onipresente, imutável, permanente, perpétuo.

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9. A ilusão – Bhagavad Gita O Bem-aventurado Senhor disse: Ó poderosamente-armado, Sattwa, Rajas, Tamas, essas Gunas (qualidades), nascidas de Prakriti, mantendo o imutável, mantêm a alma no corpo. Ó sem pecado, dessas (Gunas) Sattwa, sendo transparente, luminoso e livre de mal, mantém (os corporificados) pelo apego à felicidade e o apego ao saber. Ó filho de Kunti, conhece Rajas como tendo a natureza da paixão, dando origem à sede (pelo prazer) e ao apego. Mantém o corporificado pelo apego à ação. Ó Bharata (Arjuna), conhece Tamas como nascido da ignorância; engana todos os seres corporificados e mantém pela percepção falsa, indolência e sono. Ó Bharata, Sattwa prende alguém à felicidade; Rajas à ação; enquanto Tamas, cobrindo a sabedoria, prende à falsa percepção. Ó Bharata (algumas vezes) Sattwa predomina sobre Rajas e Tamas; (algumas vezes) Rajas predomina sobre Sattwa e Tamas; e (algumas vezes) Tamas sobre Sattwa e Rajas. Quando a luz da compreensão brilha atravessando todos os sentidos deste corpo, então deve ser percebido que Sattwa predomina. Ó Príncipe da raça Bharata, ambição, atividade (excessiva), empreendimento, inquietude, anseio, essas coisas prevalecem quando Rajas predomina. Ó descendente de Kuru, trevas, inércia, percepção falsa e também engano prevalecem quando Tamas predomina.

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Se o corporificado encontra a morte quando Sattwa predomina, então ele alcança as regiões imaculadas dos que conhecem o Supremo. Encontrando-se com a morte em Rajas, nasce-se entre os que gostam de ação; e morrendo em Tamas, nasce-se nos ventres de seres insensíveis. O fruto das boas ações é declarado Sattwika e puro; o fruto de Rajas (feitos apaixonados) é dor; e ignorância é o fruto de Tamas. Sabedoria nasce de Sattwa; ambição de Rajas; falsa percepção, engano e ignorância surgem de Tamas. Os habitantes de Sattwa elevam-se; os Rajasic (de naturezas apaixonadas) ficam no meio; e os Tamasic, vivendo nas funções da mais baixa Guna, inferiorizam-se. Quando o Vidente não avista outro agente senão os Gunas, e conhece também Aquilo que é superior às Gunas, então ele atinge Meu Ser. O corporificado, tendo ultrapassado essas três Gunas, fora das quais o corpo desdobra-se, fica livre do nascimento, morte, declínio e dor, e atinge a imortalidade. Arjuna disse: Ó Senhor, quais são os signos daquele que ultrapassou as três Gunas? Quais são suas características e como ultrapassa essas três Gunas? O Bem-aventurado Senhor disse: Ó Pandava, aquele que nem odeia a presença da iluminação (Sattwa), atividade (Rajas) ou ilusão (Tamas) nem anseia por elas quando ausentes; Aquele que está sentado desinteressado (como um espectador) e a quem as Gunas não fazem agir, que está parado e sem comoverse, sabendo que somente as Gunas trabalham; 29

Aquele que é o mesmo no prazer e na dor; controlado; considerando do mesmo modo um monte de terra, uma pedra e o ouro; que é o mesmo no prazer e no aborrecimento, no elogio e na censura, e firme; Aquele que é igual na honra e na desonra, o mesmo para amigo e o inimigo, abandonando todos os empreendimentos egoístas, esse diz-se passou além de todas as Gunas. E aquele que, passando por cima das Gunas, serve-me com devoção inabalável, torna-se apto a atingir a unidade com o Brahman. Pois eu sou a morada de Brahman, o imutável, o imortal, o dharma eterno e a bem aventurança absoluta.

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10. Purusartha, os quatro pilares da vida indiana Kama Sutra A existência do homem dura cem anos. Por esse motivo, ele deve praticar o Dharma, o Artha e Kama, em épocas diferentes, de modo que possam harmonizar-se sem o menor desacordo. Ele deve adquirir instrução, quando menino. Chegando à juventude e à idade madura, vai ocupar-se de Artha e de Kama. Na velhice, voltará a dedicar-se ao Dharma, a fim de alcançar Moksha (a libertação) e assim estará isento de mais outra transmigração. Sendo incerto o curso da existência, ele poderá praticá-los nas épocas indicadas. Mas note-se que o homem deve ter uma vida de estudante religioso, até findar a sua educação. Dharma é obediência ao mandamento dos Shastra - a escritura sagrada dos hindus -, para que se executem certos atos tais como os sacrifícios, os quais, geralmente; não se celebra porque, pertencendo a outro mundo, não produzem efeito visível. Também os Shastra mandam que não se faça outras coisas, como alimentar-se de carne, o que se faz frequentemente, pois isso é deste mundo e tem efeitos visíveis. Dharma é ensinado pela Shruti (Escritura sagrada) e por aqueles que a explicam. Artha é a aprendizagem das artes, a aquisição de terra, ouro, gado, muitas posses, carruagens, amigos. É a proteção de tudo quanto se adquiriu e o aumento do que está protegido. Artha é ensinado pelos oficiais do rei e pelos negociantes que têm experiência das práticas do comércio. Kama é o gozo dos objetos acessíveis a cada um dos cinco sentidos - ouvido, tato, vista, paladar, olfato -, dirigidos pelo intelecto, inseparavelmente unido ao Ego (alma). O objetivo de Kama é o 31

prazer. Mas o significado especial da palavra kama está denotado pelo forte desejo, nos homens e mulheres, de um contato especial, que produz o máximo prazer, seguido de outros prazeres menores, que são como as sombras do prazer maior. Kama é ensinado nos Kama Sutra (Aforismos sobre o amor) nas recepções e reuniões de cavalheiros experientes na arte de amar. Quando se praticam os três, Dharma, Artha e Kama, o anterior é melhor do que o posterior, ou seja, Dharma é melhor do que Artha e Artha melhor do que Kama, Por exemplo; a satisfação do desejo erótico está subordinada à aquisição de riqueza. Esta, por sua vez, subordina-se ao mérito religioso, o mais importante entre os demais objetivos da existência.

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11. As Castas – Mojjhima Nikaya Eis, senhor, as quatro castas: a dos nobres, a dos pobres, a dos comerciantes, e a dos trabalhadores. Entre elas, duas têm a supremacia: a dos nobres e a dos sacerdotes: isto pelo modo com que se dirigem a seus membros, com que os saúda levantando-se e juntando as mãos em homenagem, e com que são tratados. Há cinco qualidades que devem ser procuradas: a fé, a saúde, a sinceridade, a energia, a sabedoria. As quatro castas podem ser dotadas das cinco qualidades que se deve procurar e recebem a bênção e a felicidade por muito tempo. E eu não digo que em seu caso que haja uma distinção em seu esforço. É como se se tivesse um par de elefantes domesticados, cavalos ou bois bem domesticados, exercitados; e um outro par não domesticado e não exercitado. O primeiro par seria contado como domesticado, atingiria o valor dos animais domesticados; o segundo, não. Da mesma maneira não é possível que o que se adquire pela fé, a saúde, a sinceridade, a ausência de velhacaria possa se obter onde há falta de fé, a má saúde, o engano, a velhacaria, a inércia, a sabedoria limitada. No caso das quatro castas se [seus membros] são dotados de cinco qualidades que se deve procurar, se eles fazem os esforços devidos, eu digo que neste caso não há diferença entre libertação e libertação. É como se quatro homens, um trazendo lenha bem seca, outro uma acha seca da árvore sãla, o terceiro uma acha seca de mangueira, o quarto uma acha seca de figueira, fizessem cada um fogo que produzisse calor. Haveria uma diferença entre os fogos produzidos por estas diferentes madeiras quanto à sua chama, sua cor, ou seu clarão? O mesmo sucede com o calor aceso pela energia e produzido pelo esforço. Eu não digo que haja diferença entre libertação e libertação. 33

12. Casta dos Brâmanes – Manavadharmashastra Ao Brâmane corresponde o estudo dos textos sagrados e dos sacrifícios [...] Um brâmane deve buscar um meio de subsistência que não cause dor aos outros, ou a menor possível, e viver disso, a não ser em tempos difíceis. Para o fito de ganhar sua subsistência, seja-lhe permitido acumular propriedade seguindo essas ocupações irrepreensíveis prescritas para sua casta, sem fatigar demais seu corpo. Que nunca siga os caminhos do mundo, para subsistir; que viva a vida pura, correta e honesta de um brâmane. Quem desejar a felicidade deverá esforçar-se por ter uma disposição perfeitamente satisfeita e controlar-se, pois a felicidade tem o contentamento por raiz, sendo a indisposição a raiz da infelicidade. Seja ele rico ou mesmo na dificuldade, que não procure a riqueza em atividades pelas quais os homens se dividem, nem por ocupações proibidas, nem tampouco aceite presentes de qualquer pessoa, seja lá quem for. Que nunca se prenda, por desejo de desfrute, a qualquer prazer sensual, e que elimine cuidadosamente uma ligação excessiva ao mesmo, refletindo em seu coração sobre sua falta de valor. Que evite todos os meios de adquirir riqueza que impeçam o estudo dos Vedas; que se mantenha de qualquer maneira, mas estude, porque essa devoção ao estudo dos Vedas garante a realização de seus objetivos. Que ande aqui na terra, trazendo suas roupas, fala e pensamentos em conformidade com sua idade, ocupação, riqueza, sabedoria sagrada e sua raça. 34

13. Casta dos Xátrias – Manavadharmashastra Um guerreiro nunca deve usar, em uma luta contra os seus inimigos pérfidos, armas tais como paus que contêm estiletes pontiagudos ou setas arpadas e flechas envenenadas ou inflamadas. Nunca deve ferir: um inimigo que anda a pé, se ele está em um carro, ou um homem afeminado ou cujas mãos são santas, ou que tem o cabelo solto, nem o que se rende, ou o que diz: "Eu sou seu prisioneiro." Nem um homem dormindo, ou que não tem nenhum escudo, ou quem está nu, ou que está desarmado, ou que combate olhando sem tomar parte nele; ou que está lutando com outro. Nem o que tem um braço quebrado, ou a que é oprimido pela tristeza, nem um homem gravemente ferido, nem um covarde, um fugitivo. Assim, ele concorda com o dever de bravos guerreiros. [...] Carruagens, cavalos, elefantes, guarda-chuvas, roupas, grãos, gado, as mulheres, os ingredientes de todos os metais, exceto ouro e prata, pertencem de direito a quem os ganhou na guerra. O produto do saque deve ser oferecido ao rei; Essa é a regra do Veda; e o rei deve distribuir entre todos os seus soldados que não tenham tomado sua parte separadamente. Essa é a lei primária e irrepreensível relativa a classe militar; um xátria, matando os inimigos em combate, nunca deve desviar-se esta lei.

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14. Casta dos Vacias – Manavadharmashastra Que o rei ordene aos Vacias de fazer o comércio, de emprestar dinheiro a juros, de lavrar a terra ou de criar animais [...] O Vacia, depois de ter recebido o sacramento da investidura do cordão sagrado e depois de ter esposado uma mulher da mesma classe, deve sempre ocupar-se com assiduidade de sua profissão e da conservação dos animais. Ele deve conhecer os salários que é preciso dar aos criados, e as diferentes linguagens dos homens, as melhores precauções a tomar para conservar as mercadorias e tudo que concerne à compra e venda. Que ele faça os melhores esforços para aumentar sua fortuna de uma maneira legal e que tenha muito cuidado em dar alimento a todas as criaturas animadas.

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15. Casta dos Sudras – Manavadharmashastra Um Sudra, ainda que liberto por seu senhor, não é livre do estado de servidão; porque este estado, lhe sendo natural, quem poderia dele isentá-lo? Há sete espécies de servidores, que são: o cativo feito sob uma bandeira ou em uma batalha; o doméstico, que se põe ao serviço de uma pessoa para que o mantenha; o servo, nascido de uma escrava, na casa do senhor; o que foi comprado ou doado; o que passou do pai ao filho; o que é escrava por castigo, não podendo pagar uma multa. Uma esposa, um filho e um escravo são declarados pela lei nada possuírem por si mesmos; tudo que eles podem adquirir é a propriedade daquele de quem dependem. Um Brâmane, se ele está em necessidade, pode em toda segurança de consciência apropriar-se do bem de um Sudra, seu escravo, sem que o rei deva puni-lo; porque um escravo nada tem que lhe pertença como próprio e nada possui que seu senhor não possa tomar. Que o rei ponha todos seus cuidados em obrigar os Vacias e os Sudras a cumprirem seus deveres; porque se esses homens se afastassem de seus deveres, seriam capazes de transformar o mundo. Os eunucos, os degradados, os cegos e surdos de nascimento, os loucos, idiotas, mudos e estropiados não são admitidos a herdar.[...] Uma obediência cega às ordens dos Brâmanes versados no conhecimento dos Livros Santos, donos de casa e afamados pela sua virtude, é o principal dever de um Sudra e ele dá felicidade depois da morte. 37

Um Sudra, puro de espírito e de corpo, submetido às vontades das classes superiores, doce em sua linguagem, isento de arrogância e se ligando principalmente aos Brâmanes, obtém um nascimento mais elevado.

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16. As Castas na visão dos gregos – Anabasis Todos os indianos foram divididos em sete castas. Entre eles estão os homens sábios, em menor número do que os outros, mas a maioria deles estimados em reputação e dignidade. Nenhuma necessidade lhes incumbe de fazer qualquer trabalho físico; nem contribui em nada para o bem comum os efeitos do seu trabalho; nem uma palavra lhes é obrigatória, exceto para oferecer sacrifícios aos deuses, em nome da comunidade da Índia. Quem sacrifica em sua casa tem um desses homens sábios como diretor do sacrifício, pois, caso contrário ele não oferecem sacrifício aceitável para os deuses. Estes também são os únicos indianos qualificados em adivinhação; e não é lícito para qualquer um praticar a arte, com exceção de um homem que é um homem sábio. Eles praticam a adivinhação em relação às estações do ano, e se alguma calamidade acontecerá à comunidade. Não é o seu negócio praticar a sua arte no que diz respeito aos assuntos privados dos indivíduos, seja porque a arte da adivinhação não se estende a questões menores, ou porque não é digno deles trabalhar sobre essas coisas. Quem comete três erros em sua prática de adivinhação, não recebe nenhuma outra punição, exceto que no futuro ele é obrigado a ficar em silêncio; e não há ninguém que possa obrigar esse homem parar de falar, sobre quem o julgamento do silêncio foi entregue. Estes sábios passam suas vidas nus; no inverno ao sol, sob o céu aberto, mas no verão, quando o sol domina, eles vivem nos prados e nos pântanos e debaixo de grandes árvores, a sombra do que - Nearco diz - se estende 500 pés, e 10,000 homens poderiam ser protegido sob uma árvore dessa. Tão grande são essas árvores, que eles se

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alimentam de frutos das estações e do interior da casca dessas árvores, que é ao mesmo tempo agradável e nutritiva. Após esses, a segunda casta são os agricultores, que são a classe mais numerosa dos indianos. Estes não têm armas, nem se importam com atos de guerra, mas apenas com a terra. Eles pagam taxas aos reis ou para as cidades que são independentes. Se qualquer guerra acontece entre os indianos, não é lícito para eles tocar nos lavradores do solo, ou a devastar o país em si, destruindo as colheitas. Enquanto estão travando uma guerra uns contra os outros, e matando uns aos outros como eles acham que devem fazer, os campônios estão arando em paz e sossego perto deles, ou estão se reunindo nas vilas, ou estão podando as suas vinhas, ou estão colhendo suas colheitas. A terceira casta dos indianos são os pastores, que não habitam nem nas cidades nem nas aldeias; mas são nômades e vivem em torno das montanhas. Eles pagam um imposto de seus rebanhos e manadas. Esses homens também pegar aves e caçar animais selvagens em toda a terra. A quarta casta é a dos artesãos e comerciantes de varejo. Estes homens desempenham funções públicas, a expensas próprias, e pagam um imposto sobre o trabalho, exceto aqueles que fazem armas de guerra. Estes recebem remuneração da comunidade. Nesta casta são os construtores navais e marinheiros que navegam para cima e para baixo dos rios. A quinta casta dos indianos consiste dos guerreiros, que vêm em número próximo aos lavradores e desfrutam de grande liberdade e bom ânimo. Estes homens nada praticam além dos exercícios bélicos. Outros fazem as armas para eles, outros fornecem seus cavalos; outros os servem no acampamento, cuidam dos cavalos para eles, mantém suas armas brilhante, arrumam os elefantes, 40

mantém os carros em ordem, e conduzem os cavalos. Eles estão sempre prontos a lutar; mas quando há paz, eles vivem com bom ânimo. Recebem um pagamento elevado do Estado, para não mudarem de lado. A sexta casta dos indianos consiste em homens que são chamados superintendentes. Estes supervisionam o que é feito em todo o país e nas cidades, e fazem relatórios para o rei, onde os indianos são governados por um rei, ou aos magistrados, onde as pessoas têm um governo democrático. É ilegal para esses homens fazer relatórios falsos; mas nenhum indiano tem incorrido na acusação de falsidade. A sétima casta consiste daqueles que ajudam o rei em deliberar sobre assuntos públicos, ou prestam assistência aos funcionários nas cidades que gozam de um governo democrático. Esta classe é pequena em número, mas em sabedoria e justiça supera todos os outros. A partir deles são escolhidos os seus governantes, governadores das províncias, deputados, tesoureiros, generais, almirantes, controladores de despesas, e superintendentes da agricultura.

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17. As regras da Vida - Dharma Sutras Agora, portanto, o desejo de conhecer a lei sagrada pelo seu bemestar deve surgir nos homens iniciados. Aquele que conhece e segue a lei sagrada chama-se um homem correto. Ele se torna o mais digno de louvor neste mundo e depois da morte conquista o céu. A lei sagrada foi determinada pelos textos revelados e pela tradição dos sábios. Na falha das regras dadas nessas duas fontes, a prática dos Shistasa tem autoridade. Mas aquele cujo coração esteja livre do desejo chama-se um Shista. Os atos sancionados pela lei sagrada são aqueles para os quais nenhuma causa mundana é perceptível. O país dos Aryas fica a leste da região onde o rio Sarasvati desaparece, a oeste da Floresta Negra, ao norte das montanhas Parapatra, ao sul do Himalaia. Os atos produtores de mérito espiritual e os costumes aprovados naquele país podem ser reconhecidos em toda parte como autorizados. Mas não os diferentes, isto é, aqueles de países onde leis opostas as de Aryavarta prevalecem. Alguns dizem que o país dos Aryas esteja situado entre os rios Ganga e Yamuna. Já outros dizem que a preeminência espiritual se encontra até onde pasta o antílope negro. Manu declarou que as leis peculiares aos países, castas e famílias podem ser seguidas na ausência de regras vindas dos textos revelados. Os pecadores são aqueles que dormem ao nascer ou ao pôr do sol, tem unhas deformadas ou dentes negros, cujo irmão mais novo casou primeiro, casou antes de seu irmão mais velho, o marido de uma irmã mais velha cuja irmã mais nova se casou primeiro, o que extingue os fogos sagrados e o que esquece os Vedas ao negligenciar a recitação diária. 42

18. Os piores pecados do Dharma - Dharma Sutra Dizem que há cinco pecados mortais. Quais sejam: violar o leito de um Guru, beber (a bebida espirituosa chamada) sura, matar um brâmane erudito, roubar o ouro de um brâmane e associar-se a gente sem casta, quer entrando em ligação espiritual ou em ligação matrimonial com a mesma. Agora, eles citam também o verso seguinte: aquele que por um ano se associa a uma pessoa sem casta torna-se também sem casta; não sacrificando para ele, ensinando-o ou formando uma aliança matrimonial com ele, mas usando a mesma carruagem ou assento. Comete uma transgressão venial que causa a perda da casta aquele que, depois de iniciar um sacrifício a Agnihotra, abandona o fogo sagrado, e aquele que ofende um Guru, o ateísta, o que extrai sua subsistência de ateístas e aquele que vende a planta Soma.

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19. A Condição Feminina - Manavadharmashastra Uma mulher está sob a guarda do seu pai durante a infância, sob a guarda do marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se à sua vontade. Dia e noite, as mulheres devem ser mantidas num estado de dependência por seus protetores; e mesmo quando elas têm demasiada inclinação por prazeres inocentes e legítimos, devem ser submetidas por aqueles de quem dependem à sua autoridade. Deve-se sobretudo cuidar e garantir as mulheres das más inclinações, mesmo as mais fracas; se as mulheres não fossem vigiadas, elas fariam a desgraça de suas famílias. Que o marido designe para função à sua mulher a receita das rendas e despesa, a purificação dos objetos e do corpo, o cumprimento de seu dever, a preparação do alimento e a conservação dos utensílios do lar. Quando não se tem filhos, a progenitura que se deseja pode ser obtida pela união da esposa, convenientemente autorizada, com um irmão ou com um outro parente. Que uma fidelidade mútua se mantenha até a morte, tal é, em suma, o principal dever da mulher e do marido.

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20. A predominância da Misoginia - Manavadharmashastra O testemunho isolado de um homem isento de cobiça, é admissível em certos casos; enquanto que o de um grande número de mulheres, ainda que honestas, não o é (por causa da inconstância do espírito delas) como não o é o dos homens que cometeram crimes. Se se compara o poder procriador masculino com o poder feminino, o macho é declarado superior porque a progenitura de todos os seres animados é distinta pelos sinais do poder masculino. Uma mulher dada aos licores inebriantes, tendo maus costumes, sempre em contradição com seu marido, atacada de uma moléstia incurável, como a lepra, ou de um gênio mau e dissipa seu bem, deve ser substituída por outra mulher. Uma mulher estéril deve ser substituída no oitava ano; aquela cujos filhos têm morrido, no décimo; aquela que só põe no mundo filhas, no undécimo; aquela que fala com azedume, imediatamente. Mas, aquela que, embora doente, é boa e de costumes virtuosos, não pode ser substituída por outra, senão por seu consentimento e não deve jamais ser tratada com desprezo. Um homem de trinta anos deve desposar uma rapariga de doze que lhe agrade; um de vinte e quatro, uma de oito; se ele acabou antes seu noivado, para que o cumprimento de seus deveres de dono da casa não seja retardado, que ele se case logo.

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21. O Casamento - Grihya Sutra Que ele examine primeiro a família da noiva ou do noivo em vista. Que ele dê a moça a um jovem dotado de inteligência. Que ele se case com uma moça que mostre as características de inteligência, beleza e conduta moral, e esteja livre de doença. Como as características são difíceis de discernir, que ele faça oito montinhos de terra, recite sobre os mesmos a formula seguinte: "O direito nasceu primeiro, no início - sobre o direito a verdade está fundada. Para o destino que nasceu essa moça, possa ela cumpri-lo aqui. O que é verdade que possa ser visto", e diga a moça: "Toma um destes". Se ela escolher o montinho tomado de um campo que dá duas Colheitas por ano, ele poderá saber - "A progênie dela será rica em alimento". Se de um estábulo de vaca, rica em gado. Se da terra de um altar, rica em brilho sagrado. Se de um poço que não seca, rica em tudo. Se de um lugar de jogo, viciada na jogatina. Se de um lugar onde quatro estradas se cruzam, inclinada a direções diferentes. Se de um lugar estéril, pobre. Se de um cemitério, trará morte ao marido. Tendo posto ao lado ocidental do fogo uma mó, ao noroeste um vaso de água, com sua face voltada para o ocidente ele deverá com a fórmula "Tomo tua mão pela felicidade" segurar-lhe o polegar, se quiser que nasçam apenas filhos homens, os demais dedos dela se ele quiser filhos mulheres, e a mão ao lado do cabelo juntamente com o polegar, se quiser filhos de ambos os sexos.

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22. Ritos Matrimoniais - Dharma Sutras Há seis ritos matrimoniais. Quais sejam o de Brama, o dos deuses, o dos Rishis, o dos Gandharvas, o dos xatrias e o dos homens. Se o pai, servindo água para beber, da a filha a um pretendente, a isto se chama o rito de Brama. Se o pai da a filha, vestindo-a com ornamentos, a um sacerdote oficiante, enquanto estiver sendo executado um sacrifício, a isto se chama o rito Daiva. E se o pai da a filha em troca de uma vaca e um touro, a isto se chama o rito Arsha. Se um enamorado toma uma mulher enamorada de casta igual, a isto se chama o rito Gandharva. Se eles tomarem uma donzela à força, destruindo seus parentes pelas armas, a isto se chama o rito Xatra. Se depois de barganhar com o pai um pretendente casar-se com donzela comprada por dinheiro, a isto se chama o rito Manusha. A compra de uma esposa é mencionada na passagem seguinte dos Vedas: "Portanto, cem vacas além de uma carruagem devem ser dadas ao pai da noiva”.

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23. Direitos Femininos - Arthashastra Meios de subsistência (vritti) ou joias (ábadhya) constituem o que é chamado de propriedade de uma mulher. Meios de subsistência no valor de acima de dois mil serão provisionados (em seu nome). Não há limite para joias. [...] Em calamidades, doenças e fome, para afastar perigos e em atos de caridade, o marido, também, pode fazer uso dessa propriedade. Nem haverá qualquer queixa contra o gozo da propriedade, por consentimento mútuo de um casal que deu à luz um irmão gêmeo. Nem deverá haver qualquer queixa se essa propriedade for aproveitada por três anos por aqueles que são casados, de acordo com os costumes dos primeiros quatro tipos de casamento. Mas o gozo da propriedade nos casos dos casamentos Gandharva e Asura será responsável, e deverá ser restaurado juntamente com os juros sobre o uso. No caso dos casamentos como são chamados Rakshasa e Paisacha, o uso dessa propriedade deve ser tratado como roubo. Assim, o dever de casamento é tratado. Com a morte de seu marido, uma mulher, desejosa de levar uma vida piedosa, deve imediatamente receber não só a sua investidura e joias (sthápyábharanam), mas também a quota de herança devido a ela. Se ambas as coisas não estiverem realmente em sua posse, embora nominalmente tenham sido dadas a ela, ela deve imediatamente receber ambos acrescidos de juros (em seu valor). Se ela está desejosa de um segundo casamento (kutumbakáma), ela deve devolver, por ocasião de seu novo casamento (nivesakále), o que quer que seja - ao seu sogro ou o marido ou ambos haviam dado a ela. Se ela vive uma vida piedosa, ela pode apreciá-lo (dharmakámá bhunjíta). Nenhuma mulher com um filho ou filhos deve ter a 48

liberdade de fazer uso gratuito de sua própria propriedade (strídhana); essa propriedade, os seus filhos devem receber. Se uma mulher tenta tomar posse de sua própria propriedade sob o argumento de manter seus filhos, ela deve colocar os bens em seu nome. Se uma mulher tem muitos filhos homens, então ela deve conservar a sua própria propriedade na mesma condição que ela tinha recebido de seu marido. Mesmo que a propriedade que tenha sido dado a ela com plenos poderes de fruição e disposição, ela deve dotar em nome de seus filhos. Uma viúva estéril, que é fiel à cama de seu marido morto pode, sob a proteção de seu professor, desfrutar de sua propriedade, desde que ela viva, pois é para afastar as calamidades que as mulheres são dotadas de propriedades. Em sua morte, sua propriedade deve passar para as mãos de seus parentes (Dayada). Se o marido está vivo e a mulher está morta, então seus filhos e filhas devem dividir sua propriedade entre si. Se não houver filhos, suas filhas a têm. Na sua ausência, o marido deve tomar essa quantidade de dinheiro (Sulka) que ele lhe dera, e seus parentes devem retomar o que quer na forma de doação ou dote que tinham apresentado a ela. Assim, a determinação da propriedade de uma mulher é tratada.

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24. A Morte do Amor - Kumarashambava Mas Kama, vendo oportunidade para atirar sua seta, como uma mariposa que queria entrar no fogo, na própria presença de Uma (a) fazendo sua mira em Hara (b), disparou repetidamente suas setas. Foi quando Gauri (b) presenteou o deus asceta residente na montanha e com mão clara como cobre, dando-lhe um rosário de sementes de lótus do Ganges, secadas pelos raios do sol. E o deus de três olhos (b) fez menção de recebê-lo, por bondade para com seu adorador; e o arqueiro-flor (e) pôs em seu arco a flecha certeira chamada "Fascínio". Mas Hara (b) com sua firmeza um tanto perturbada, como o oceano quando a luz começa a ascender, manteve o olhar fixo na face de Uma, com lábios como a fruta bimba.(f) E a filha da montanha (a), traindo sua emoção pelos membros como brotos trêmulos de kadamba, permaneceu de cabeça inclinada e rosto ainda mais encantador com seu olhar voltado para outro lado. Foi quando o deus de três olhos, reconquistando o comando de seus sentidos perturbados, pelo seu poder de autocontrole, lançou os olhos em todas as direções, desejando ver a causa da perturbação de sua mente. Viu o deus nascido da mente (b), seu punho cerrado erguido ao canto exterior de seu olho direito, seu ombro encolhido, sua perna esquerda encolhida, seu arco delicado dobrado em círculo, pronto a desferir a flecha. Sua ira aumentada pelo ataque à sua austeridade, seu rosto terrível de contemplar com suas sobrancelhas arqueadas, de seu terceiro olho surgiu repentinamente uma chama brilhante. Enquanto as vozes dos deuses do vento atravessavam o céu - "Contém tua ira, 50

Senhor!”, o fogo nascido do olho de Bhava (b) reduziu o deus do amor a um monte de cinzas. O desmaio causado pelo choque violento, impedindo o funcionamento dos sentidos, quase executou para Rati (g) um serviço bondoso e por algum tempo ela não soube do desastre ocorrido com seu marido. Tendo esmagado rapidamente o obstáculo ao seu ascetismo, como o relâmpago destrói a árvore de uma floresta, ele, o asceta, o Senhor das Criaturas(b), desejando fugir à proximidade de mulheres, desapareceu juntamente com suas criaturas. E a filha da montanha (a), pensando que o desejo de seu pai poderoso e sua própria forma encantadora eram inúteis, sua vergonha aumentada pelo pensamento de que seus dois amigos tinham estado presentes, desolada marchou com dificuldade para sua morada. E enquanto seus olhos estavam fechados de medo à violência de Rudra (b), a Montanha tomou sua filha lastimosa em seus braços e como o elefante do céu trazendo um lótus preso aos colmilhos, partiu para diante, com membros grandes devido à pressa. a) Esposa do deus Shiva e filha de Himavant (isto é, Himalaia) b) Outro nome de Shiva. d) Outro nome de Uma. e) Kama. g) Esposa de Kama, a volúpia personificada.

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25. O Sábio dos Vedas – Rig Veda Lopamandra - Servi-te com zelo, noite e dia, durante os muitos anos que me trouxeram a velhice. Agora, o tempo destruiu a beleza do meu corpo. Que devo de fazer? Aproximem-se os maridos de suas mulheres. Os sábios antigos, que proclamavam a verdade e conversavam com os deuses, geraram descendência numerosa e nem por isso violaram o seu voto de continência. Aproximem-se os maridos de suas mulheres. Agastya - A penitência não foi praticada em vão. Se os deuses nos protegem, podemos satisfazer todos os nossos desejos. Se usarmos de valorosos esforços, podemos neste mundo, triunfar em muitos combates. Enquanto eu me dedicava à prece e me empenhava em vencer as minhas paixões, apoderou-se de mim o desejo, suscitado por um ou outro motivo. Aproxima-te, Lopamandra, do teu marido. A mulher inconstante seduz o homem firme e resoluto. O discípulo - Rogo ao suco do soma, embebido em meu coração, que ele expie todo o nosso pecado. O homem se acha a mercê de muitos desejos. Agastya - Um sábio venerável, usando de todos os utensílios necessários, desejando posteridade e vigor, praticou as duas classes de deveres e foi agraciado pelos deuses com verdadeiras bênçãos.

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26. O Sábio - Khata Upanishad Aqueles que vivem na ignorância e, no entanto, se supõem sábios e instruídos, andam de um lado para outro, em passos incertos como os de um cego, guiado por outro cego. O jovem insensato, perturbado pelas ilusões da opulência, não sabe a maneira de caminhar para chegar ao mundo celeste. Apegando-se a existência mundana, ele esquece a outra e assim permanece sob o meu poder. Muitos homens não possuem a alma, da qual ninguém lhes fala. Outros a ignoram, apesar de já terem ouvido falar sobre ela. É admirável quem discorre sobre a alma, inteligente o ouvinte que a entende, superior quem a conhece, quando todos recebem o ensino de mestre que sabe. Se o homem inferior discorre sobre a alma, é difícil sabermos o que ela seja. A respeito do que ele diz, teremos de pensar de muitas maneiras! Mas nenhuma dúvida haverá, quando o ensino é dado por um mestre, que não vê diferença. Além disso, sendo a alma ainda mais sutil do que aquilo que é sutil, não pode ser percebida mediante a discussão. Pela argumentação, não se pode obter o conhecimento que me pediste, Nachiketas, meu amigo. Entretanto, é fácil obtê-lo, quando o expõe um mestre, que não vê diferença. És perseverante na pesquisa da verdade. Quem dera existisse outro mortal assim como tu, desejoso de instruir-se!

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27. Os Sábios Jainas – Sutra Kritanga Houve trezentos e sessenta e três escolas filosóficas, cujos fundadores diferiam em intelecto, vontade, caráter, gosto, compreensão e planos, e todos formaram um circulo, em que cada qual defendia a sua posição. Então um homem, carregando com um par de tenazes um tacho cheio de carvão em brasa, pediu aos filósofos que segurassem, por um momento, o tacho com suas próprias mãos limpas. Mas os filósofos se recusaram, porque, diziam eles, se fizessem isso, queimariam as mãos e sofreriam dor. Então lhes tornou o homem: "Esta é uma máxima de aplicação geral, um autêntico princípio de reflexão religiosa: todas as criações sentem aversão pela dor. Os que causam sofrimento a qualquer ser, arcarão no futuro com uma variedade de sofrimentos."

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28. Os Sábios Budistas – Dhamapada Se você vir um homem que lhe mostra o que deve ser evitado, que administra repreensões e é inteligente, siga esse homem sábio como seguiria aquele que lhe falasse de tesouros escondidos; será melhor, não pior, para aquele que o segue. Deixá-lo admoestar, deixá-lo ensinar, deixá-lo proibir o que é impróprio! - ele será amado pelos bons e será odiado pelos maus. Não tenha por amigos os que praticam ações más, não faça amigos entre as pessoas de sentimentos baixos: faça amigos entre os virtuosos, tenha amigos entre os melhores homens. Aquele que vai à fonte da lei vive feliz com o espírito tranquilo: o sábio alegra-se sempre na lei, tal como foi pregada pelo eleito. Os que distribuem água levam a água para onde quer que queiram; os que fazem arcos e flechas curvam o arco a seu gosto; os carpinteiros trabalham num tronco de lenha; os sábios moldam-se a si mesmos. Assim como uma rocha sólida não é sacudida pelo vento, as pessoas sábias não vacilam entre a censura e a lisonja. Os sábios, após terem ouvido as leis, tornam-se serenos, tais como um lago profundo, parado e calmo. OS homens bons, na verdade, agem prudentemente sob todas as circunstâncias; os bons não exprimem um desejo de recompensa sensual; sejam tocados pela felicidade ou pelos pesares, os prudentes jamais parecem ensoberbecidos nem deprimidos. Se, seja por amor a si mesmo, ou por amor aos outros, um homem não deseja nem um filho, nem riqueza, nem poderes, e se ele não deseja seu próprio sucesso por meios injustos, então ele é bom, prudente e virtuoso.

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São poucos entre os homens os que chegam à outra margem (tornam-se Arhats); os demais correm praia abaixo, praia acima. Mas aqueles que, quando a lei lhes foi bem pregada, a seguem, passarão por cima dos poderes da morte, embora difíceis de atravessar.

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29. Diálogo de Sábios e Reis – Milinda Panha [Disse o rei Menandro, ao sábio budista Nagasena] ― Queres discutir comigo, Venerável? ― Sim, se discutires À maneira dos sábios. Não, se discutires como os reis. ― Como discutem os sábios? ― Quando em uma discussão nós somos enlaçados, nós nos soltamos do laço. Nós aplicamos uma critica e recebemos outra. Ora estamos perdendo, ora estamos ganhando. Os sábios não se irritam. É assim que eles discutem. ― E como discutem os reis? ― Os reis expressam uma opinião. Se alguém contesta, eles mandam aplicar-lhe algumas pauladas. É assim que os reis discutem. ― Então vou discutir como os sábios e não como os reis. Sua Reverência pode discutir comigo livremente, como faria com um outro religioso, um noviço, um fiel , ou serviçal do convento. Não tenha nenhum receio. ― Está bem, Maharajá.

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30. O Rei ideal – Manavadharmashastra Um rei que pune os inocentes, que não inflige castigo aos que merecem ser punidos, se cobre de ignomínia e vai para o inferno depois de sua morte. [...] Tomando o que lhe é devido, prevenindo a mistura das classes e protegendo o fraco, o rei adquire força e prospera no outro mundo e neste. É porque o rei, do mesmo modo que Yama, renunciando a tudo que lhe pode agradar ou desagradar, deve seguir a regra de conduta desse juiz supremo dos homens, reprimindo sua cólera e impondo um freio a seus órgãos. Mas, o monarca de coração perverso, que em seu desvio pronuncia sentenças injustas, é logo reduzido à dependência de seus inimigos. Ao contrário, quando um rei, reprimindo o amor das volúpias, e a cólera, examina as causas com equidade, os povos correm para ele, como os rios se precipitam para o oceano. [...] Protegendo todas as criaturas com equidade e punindo os culpados, um rei cumpre cada dia um sacrifício, acompanhado de cem mil presentes. O rei, que não protege os povos e que, entretanto, percebe as rendas, os impostos, os direitos sobre as mercadorias, os presentes cotidianos [...] e as multas, vai logo para o inferno depois da morte. Que se saiba, um soberano que não tem consideração aos preceitos dos Livros Sagrados, que nega o outro mundo, que procura riqueza por meios iníquos, que não protege seus súditos e devora os bens deles, é destinado às regiões infernais.

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31. O Soberano – Arthashastra O rei e seu reino são os elementos principais do Estado. Os problemas do rei podem ser internos ou externos. Problemas internos são mais graves do que problemas externos, que são como o perigo decorrente de uma serpente à espreita. Problemas devido a um ministro são mais graves do que outros tipos de problemas internos. Assim, o rei deverá manter sob seu próprio controle os poderes das finanças e do exército. A divisão da lei e o domínio estrangeiro, o governo de um país dividido por dois reis, o reino perece devido ao ódio mútuo, a parcialidade e a rivalidade. Quando o domínio estrangeiro chega, ele se aproveita do país cujo rei ainda está vivo, mas que o povo não reconhece, empobrecendo-o, tomando a força sua riqueza e levando-a embora, ou tratando-o como uma mercadoria; e quando o país deixa de amá-lo [o rei], ele retira-se e abandona o país.

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32. O Soberano Ecumênico – Éditos de Ashoka Aquele que é Amado pelos Deuses, Rei Piyadasi assim diz: doze anos após a minha coroação isto foi ordenado – Em todo lugar em meu domínio os [oficiais] Yuktas, Rajjukas e os Pradesikas devem ser seguir em viagens de inspeção, a cada cinco anos, para o propósito da instrução do Dhamma e para a feitura de suas obrigações oficiais. Respeito ao pai e a mãe, generosidade aos amigos, pessoas próximas, parentes, Brâmanes e ascetas é algo bom, não matar seres vivos é algo bom, moderação no gasto e na poupança é algo bom. O Conselho deve notificar aos [oficiais] Yuktas tais instruções, nestas mesmas palavras. [...] Aquele que é Amado pelos Deuses, Rei Piyadasi, assim diz: No passado, os assuntos do estado não eram transacionados nem relatórios eram enviados ao rei a todas as horas. Mas agora eu dei esta ordem, de que a qualquer momento, esteja eu comendo, nos aposentos das minhas consortes, no meu dormitório, na minha carruagem, no meu palanque, no parque ou em qualquer lugar, aqueles apontados com instruções devem me reportar os assuntos do povo para que eu possa atendê-los onde quer que eu esteja. E qualquer ordem minha em relação à doações e proclamações, ou quando um assunto urgente é enfrentado pelos Mahamatras, se o desentendimento ou debate surge no Conselho, então isto deve ser reportado à mim imediatamente. Isto é o que ordenei. Nunca me dou por satisfeito quando me dedico ou resolvo aos assuntos [do povo]. Verdadeiramente, considero o bem-estar de todos ser meu dever, e a raiz disto é o meu esforço e o pronto atendimento dos assuntos [do povo]. Não há trabalho melhor que promover o bem-estar de todas as pessoas e quaisquer esforços que eu esteja 60

fazendo é o pagamento da dívida que tenho com todos os seres de garantir a sua felicidade nesta vida, e o alcançar do paraíso na próxima.

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33. Questões econômicas – Manavadharmashastra Que homens, conhecendo bem em que casos se podem impor direitos, e peritos em todas as espécies de mercadorias, avaliem o preço das mercadorias e que o rei receba a vigésima parte do benefício. Que o rei confisque todo o bem de um negociante que por cobiça, exporta mercadorias cujo comércio foi declarado reservado ao rei ou cuja exportação foi proibida. Aquele que frauda os direitos, que vende ou compra em hora indevida ou que dá falsa avaliação de suas mercadorias, deve sofrer uma multa de oito vezes o valor dos objetos. Depois de ter considerado, para todas as mercadorias, de que distância elas são trazidas, se elas vêm de país estrangeiro; a que distância elas devem ser enviadas, no caso das que se exportam; quanto tempo têm sido guardadas, o benefício que se pode fazer, a despesa que se faz, que o rei estabeleça regras para a venda e para a compra. Todos os quinze dias ou em cada quinzena, segundo o preço dos objetos é mais ou menos variável, que o rei regule o preço das mercadorias em presença dos peritos acima mencionados. Que o valor dos metais preciosos, assim como os pesos e medidas, sejam exatamente determinados por ele, e que todos os seis meses ele as examine de novo. A portagem, por atravessar um rio, é de um pana para uma carruagem vazia, de meio pana para um homem carregado de um fardo, de um quarto de pana para um animal, como uma vaca, ou para uma mulher, de um oitavo de pana para um homem não carregado. As carroças que conduzem fardos de mercadorias devem pagar o 62

direito em razão do valor; as que só têm caixas vazias, pouca coisa, do mesmo modo que homens mal vestidos. Para um longo trajeto, que o preço de transporte sobre um batel seja proporcional aos lugares e às épocas; mas isto se deve entender do trajeto sobre um rio; pelo mar, não há frete marcado.

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34. Questões econômicas – Arthashastra Cabe ao superintendente (ministro) do comércio verificar se há demanda por vários tipos de mercadorias produzidas em seu país, os meios pelos quais são transportadas (terra ou água), e a variação de seus preços. É de sua responsabilidade decidir qual melhor época para vender, comprar, distribuir e armazenar esses produtos. O que tem saída fácil deve ser armazenado, para aumentar seu preço; e quando as pessoas aceitarem esse preço, outro será planejado e fixado. Produtos locais devem ser guardados; importados, devem ser distribuídos. Ambos devem ser vendidos de modo acessível ao povo, e o soberano os protegerá da exploração gananciosa e dos lucros exorbitantes. Não se devem estabelecer barreiras contra produtos de saída constante, que devem ser negociados e armazenados somente quando necessário. [...] Ao negociar com mercados estrangeiros, deve buscar saber se há interesse nas mercadorias de seu país; se ao negociá-las, ele terá lucro; e se esse lucro valerá a empreitada. Deve distribuir lotes para que sejam negociados nesses mercados, e caso não seja bem sucedido, vendê-los de volta em sua própria terra, ou com lucros menores, para não ter prejuízos severos.

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35. Práticas Políticas – Manavadharmashastra O rei, seu conselho, sua capital, seu território, seu tesouro, seu exército e seus aliados, são as sete partes de que se compõe o reino que, por isso, se diz formado de sete membros. Entre os sete membros de um reino, assim enumerados por ordem, deve se considerar a ruína do primeiro como uma maior calamidade que a daquele vem depois na enumeração e assim por diante. Entre os sete poderes cuja reunião forma no mundo um reino, e que se sustentam reciprocamente como os três bastões de um devoto ascético que são ligados e de que nenhum ultrapassa o outro, não há superioridade nascida da preeminência das qualidades. Entretanto, certos poderes são mais estimados por certos atos e o poder pelo qual um negócio é posto em execução é preferível nesse negócio particular. Servindo-se de emissários, desenvolvendo seu poder, ocupando-se dos negócios públicos, que o rei procure sempre reconhecer sua força e a de seu inimigo. Depois de haver maduramente considerado as calamidades e as desordens que afligem seus Estados e os do estrangeiro e sua maior ou menor importância, que ele ponha em execução o que ele resolveu. Que ele recomece suas operações muitas vezes, por mais fatigado que possa estar, porque a fortuna se liga sempre ao homem empreendedor e dotado de perseverança.

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36. Práticas Políticas - Arthashastra Ser nativo, nascido de boa e alta família, influente e bem treinado em artes, precavido, prudente, sábio, de memória forte, corajoso, eloquente, habilidoso, inteligente, possuidor de entusiasmo, dignidade e resistência, puro em caráter, afável, firme na fiel devoção, dotado de conduta excelente, força, saúde e bravura, livre de procrastinação e preguiça, carinhoso, e desprendido de qualidades como ódio e inimizade excitada - estas são as qualificações de um funcionário ministerial (amátyasampat). Os que são dotados de metade ou de um quarto dessas qualificações acima estão nos escalões médio e baixo. Dessas qualificações, nascimento nativo e posição influente são apurados a partir de pessoas de confiança; qualificações educacionais, por professores de igual aprendizagem; conhecimentos teóricos e práticos, previdência, memória retentiva, e afabilidade devem ser analisados a partir do sucesso na aplicação em obras; eloquência, habilidade e inteligência, na energia mostrada nas histórias que narram (katháyogeshu, ou seja, em conversa); resistência, entusiasmo e coragem em problemas; pureza de vida, disposição amigável e leal devoção pela associação frequente; conduta, força, saúde, dignidade e liberdade da indolência e preguiça serão apuradas com seus amigos íntimos; e natureza afetuosa e filantrópica pela experiência pessoal. As obras de um rei podem ser visíveis, invisíveis (Paroksha) ou indiretas. Aquilo que ele vê é visível; e aquilo que é repassado a outro é invisível; e o que é feito sem sua intercessão direta, e corre por seu curso, é o indireto.

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Como as obras não acontecem de modo simultâneo, são diversas na forma, e referem-se a localidades distantes e diferentes, o rei, tendo em vista tempo e o lugar, designa seus ministros para realizá-los. Essa é a obra de ministros.

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37. A importância do Conselho - Arthashastra Tendo conquistado um firme e cuidadoso poder tanto em casa quanto entre os estrangeiros, tanto em seu próprio estado e no do inimigo, o rei deverá proceder a pensar em medidas administrativas. Todos os tipos de medidas administrativas são precedidas por deliberações de um conselho bem formado. O assunto de um conselho deve ser totalmente secreto, e as deliberações que devem ser realizados nem mesmo as aves podem ver; pois é dito que o sigilo dos conselhos foi divulgado por papagaios, cacatuas, cães e outras criaturas baixas de nascimento. Assim, sem ter salvaguarda suficiente contra a divulgação, ele nunca entra em deliberações em um conselho. Quem divulgue conselhos deve ser rasgado em pedaços. A divulgação de conselhos pode ser detectada pela observação de mudanças na atitude e semblante de enviados, ministros e mestres. Mudança de conduta é mudança de atitude (ingitamanyathávrittih); e observação da aparência física é semblante (ákritigrahanamákárah). Mantenha o sigilo de uma questão, e vigie os oficiais que tomarão parte na deliberação sobre ela (deve ser estritamente observado) até a hora de começar o trabalho. Descuido, intoxicação, falar no sono, amor e outros maus hábitos dos conselheiros são as causas da traição de conselhos. [...] "Nenhuma deliberação", diz Visáláksha, "feita por uma única pessoa será bem sucedida; a natureza do trabalho que um soberano tem a fazer é inferida a partir da consideração de ambas as causas, visíveis e invisíveis. A percepção do que é ou não pode ser visto, a decisão conclusiva de tudo o que é visto, a folga de 68

dúvidas quanto ao que é suscetível de dois pareceres, e a inferência do todo quando apenas uma parte é visto - tudo isso é possível somente na decisão tomada por ministros. Por isso, ele deve sentar-se para deliberação com pessoas de grande intelecto”.

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38. Políticas internacionais – Éditos de Ashoka Aquele que é Amado pelos Deuses, Rei Piyadasi, assim falou: Fazer o bem é difícil. Aquele que faz primeiro o bem faz algo difícil. Eu tenho feito muitas boas ações, e, se meus filhos, netos e seus descendentes até o fim do mundo assim agirão também, eles também farão muito o bem. Mas quem quer que seja dentre eles negligenciar isto, fará o mal. [Pois] verdadeiramente, é fácil fazer o mal. No passado não havia Dhamma Mahamatras, mas tais oficiais foram por mim apontados treze anos após a minha coroação. Agora eles trabalham entre todas as religiões para o estabelecimento do Dhamma, para a promoção do Dhamma, e para o bem-estar e felicidade de todos aqueles devotos ao Dhamma. Eles trabalham entre os Gregos (Yonakas), Kambojas, Gandharas, Rastrikas, Pitinikas e outros povos das fronteiras ocidentais. Eles trabalham entre os soldados, chefes, Brâmanes, chefes-de-família, pobres, velhos e aqueles devotos ao Dhamma – para o bem-estar e felicidade – de modo que estejam [todos eles] livres de tormentos. Eles [os Dhamma Mahamatras] trabalham pelo tratamento justo de prisioneiros, apontando-os para suas libertações, e se os Mahamatras pensam, “Este aqui tem uma família para apoiar”,”Aquele foi enfeitiçado”,”Este está velho”, então eles trabalham pela libertação de tais prisioneiros. Eles trabalham aqui, nas cidades, nos aposentos das mulheres, dos meus irmãos e irmãs, e dentre os meus parentes. Eles estão ocupados em todo lugar. Estes Dhamma Mahamatras estão ocupados nos domínios dentre àqueles devotos do Dhamma para determinar quem está devotado ao Dhamma, quem está estabelecido no Dhamma, e quem é generoso. 70

Este édito do Dhamma foi escrito em pedra para que possa durar por muito tempo e para que meus descendentes possam agir em conformidade com este.

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39. Os indianos na visão dos gregos – Anabasis Megasthenes diz que existem ao todo cento e dezoito nações na Índia. Eu me concordo com ele que existem muitas nações indianas; mas eu não sou capaz de conjecturar como ele aprendeu o número exato e gravou, pois ele só visitou uma mera fração da Índia, nem fez muito contato com outros povos. Ele diz que, em tempos antigos, os indianos eram nômades, como a parte dos citas que não são agricultores, mas vagando em bandos, vivendo uma parte na Scythia e em outro momento, em outra parte, não habitam cidades nem consagram templos aos deuses. Então, os indianos não tinham cidades ou templos construídos para os deuses. Eles se vestiam com as peles dos animais selvagens que matavam e comiam a casca interna de determinadas árvores, que são chamados tala na língua indígena, e, sobre os topos das palmeiras, crescia um tipo de tufo de lã. Eles também se alimentavam da carne dos animais selvagens que eles pegavam, comiam-na crua, até que Dionísio entrou em seu país. Mas quando Dionísio chegou e conquistou-os, ele fundou cidades e fez leis para eles, e deu o vinho aos indianos como ele tinha dado aos gregos. [...] Dionísio primeiro ensinou-os a unir bois ao arado, e fez a maioria deles tornarem-se lavradores em vez de ser nômades, e os armou com armas de guerra. Ele também os ensinou a adorar os deuses, e especialmente a si mesmo com o rufar dos tambores e do choque de pratos. Ele ensinou os indianos a dança sátira que entre os gregos é chamado de cordax, e a deixar seu cabelo crescer em honra do deus. Ele também lhes mostrou como usar o turbante, e lhes ensinou como ungir com unguentos a si mesmos. Por isso, mesmo no tempo de Alexandre,

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os indianos ainda avançavam para a batalha com o som de címbalos e tambores.

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40. A prática das Leis - Manavadharmashastra Depois de haver proclamado completamente as ações más de cada um desses miseráveis, que o rei lhes imponha uma pena justamente proporcional a seus delitos e às suas faculdades. Porque sem o castigo é impossível reprimir os delitos dos ladrões de intenções perversas que se espalham furtivamente neste mundo. Que o rei faça perecer por diversos suplícios as pessoas que furtam seu tesouro ou recusam obedecer-lhe, assim como os que encorajam os inimigos. [...] Que ele esteja sempre armado de cólera e de energia contra os criminosos, que seja impiedoso para os maus ministros, ele desempenhará assim as funções de Agni.[...] Conduzindo-se de maneira prescrita e se aplicando sempre aos deveres de um rei, que o monarca ordene a seus ministros trabalharem pela felicidade do povo.

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41. Invocação divina da Guerra - Rig Veda Indra, que és fonte da vitória, que humilhas os nossos inimigos, para nossa segurança, dá-nos abundantes riquezas. A fim de com elas podermos rechaçar nossos adversários, nos combates a cavalo ou a pé. Protege-nos, sempre. Indra, tua proteção é arma temível. Com ela podemos aniquilar nossos inimigos. Sendo tu nosso aliado, Indra, com o auxílio dos soldados flecheiros, podemos vencer as tropas inimigas, no campo de batalha. Indra é poderoso e supremo. Ao senhor do raio pertence a grandeza. Seus fortes exércitos se estendem por todo o céu. Os sábios desejosos de sabedoria, os homens que querem filhos, os guerreiros que recorrem a Indra, nas batalhas, alcançam o que pedem, todas as vezes que invocam Indra. Como as montanhas regadas pelas torrentes, Indra, está sempre fresco teu ventre, que cresce como o oceano, ao sorveres em abundância o suco do soma. Em verdade, são sinceras e dignas de respeito as palavras de Indra, a quem o adora. São como o galho carregado de frutos. Elas nos trazem as vacas. Indra, verdadeiramente, em todo tempo, tuas glórias protegem a quem te adora. Em verdade, devemos de cantar e recitar os louvores a Indra, para que ele possa sorver o suco do soma.

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42. Prece para derrota de inimigos - Atharva Veda Indra confunda-os, ó poderoso herói demolidor de cidades, a fim de desbaratarmos os exércitos dos inimigos. Desânimo, adversidade cruel, infortúnio, contra o qual não há oração, fatiga, desgosto, vertigem, eu lhes envio todos estes males. A corda podre atirada sobre esta tropa, apodreça este exército. Eu entrego-os à morte. Estão presos nas amarras da morte. Levoos acorrentados aos funestos mensageiros da morte. Árvores da floresta, ervas e plantas vindas da floresta, bípedes, quadrúpedes, eu os atiro sobre estes soldados, para a derrota deste exército. Gandarvas, Apsaras, serpentes, deidades, manes e bons gênios, visíveis e invisíveis, eu os envio contra este exército. Morram os soldados, à queimadura da morte, à fome, do abatimento, ao assassinato, ao pavor! Indra venha com suas armadilhas destruir este exército e também tu, Sarva! Quebrem-se as suas armas e que eles não possam acertar nem uma flecha. Estejam aterrorizados, sejam feridos por nossas flechas de ponta mortífera. O céu, a terra, o espaço, urrem juntos com as suas divindades. Que eles não conheçam ninguém que os auxilie. Morram todos, ferindo-se uns aos outros.

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43. A guerra como exercício do Dharma - Bhagavad Gita O morador do corpo de qualquer um é sempre indestrutível: portanto, ó Bharata, tu não deverias lamentar criatura alguma. Mesmo encarando este assunto do ponto de vista do teu Dharma, tu não deverias hesitar, porque nada há mais elevado para um Khsatrya (guerreiro) do que uma guerra justa. Ó filho de Pritha, em verdade são afortunados os guerreiros aos quais vem, sem ser buscada, como um portão aberto para o céu, uma guerra assim. Mas se não tomares parte nesta guerra justa, faltando então ao teu próprio dever e a tua própria honra, incorrerás em pecado. O povo falará sempre mal de ti; para o que é estimado, a desonra é ainda pior do que a morte. Estes grandes guerreiros em carros pensarão que fugiste à batalha através do medo. E te considerarão levianamente aqueles que já te prestaram altas honras. Os teus inimigos dirão de ti coisas indizivelmente ignominiosas e negarão o teu valor. Que pode ser mais penoso do que isto? Se tombares na batalha, obterás o céu; se conquistares, gozarás a terra. Assim, pois, ó filho de Kunti, levanta-te e dispõe-te a lutar. Olhando por um mesmo prisma prazer e dor, ganho ou perda, vitória ou derrota, trava a tua batalha. Assim o pecado não te manchará.

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44. A guerra dos indianos - Anabasis Os indianos não estão todos armados da mesma forma; sua infantaria tem um arco de comprimento igual ao do homem que carrega. Colocar a ponta no chão e pisa contra ela com o pé esquerdo, colocando a flecha, e puxando a corda para trás. As suas flechas tem pouco menos de quatro e meio pés de comprimento; e nada pode resistir a um tiro de um arqueiro indiano, nem escudo nem peitoral, nem qualquer outra coisa que é forte. Eles carregam em seus braços esquerdos placas de couro de boi, mais estreitos do que os homens que as transportam, mas não muito inferior de comprimento. Outros têm dardos ou lanças em vez de setas. Todos usam uma espada que é larga, e não menos do que quatro e meio pés de comprimento. Quando a batalha fica muito próxima, uma coisa que acontece muito raramente no caso dos indianos, eles trazem esta espada para baixo contra o antagonista com ambas as mãos, a fim de que o golpe possa ser poderoso. A cavalaria leva dois dardos, os dardos são chamados saunia, e um escudo menor do que a infantaria. Os seus cavalos não são sobrecarregados ou freados como os dos gregos ou gauleses; mas um pedaço de couro de boi cru costurado é preso à volta do frente da boca do cavalo, e nesta há pontas de bronze ou ferro não muito nítidas, viradas para dentro. Os homens ricos usam picos de marfim. Na boca os cavalos têm um pedaço de ferro, como um espeto, para prender as rédeas. Quando, portanto, puxam a rédea, o espeto restringe a cavalo e os picos que estão presos a ele picamno, e não permitem que ele faça qualquer outra coisa do que obedecer a rédea.

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45. Teoria sobre a Guerra - Arthashastra O vencedor deve saber a força e fraqueza comparando a si mesmo e seu inimigo; e ter assegurado o poder, lugar, tempo, o tempo de marcha e de recrutar o exército, as consequências, a perda de homens e dinheiro, e os lucros e o perigo, ele deve marchar com sua força total; caso contrário, ele deve manter a calma. Meu professor diz que entre o entusiasmo e energia, o entusiasmo é melhor: um rei, mesmo sendo enérgico, corajoso, forte, livre de doenças, hábil em empunhar armas, é capaz com seu exército, mesmo com um poder secundário, subjugar um poderoso rei; seu exército, embora pequeno, será, quando liderado por ele, ser capaz de realizar qualquer trabalho. Mas um rei que não tem entusiasmo em si mesmo, perecerá, embora possua de um exército forte. Não, diz Kautilya, ele que é possuidor de poder, pela força do seu poder, captura outro que é meramente entusiasta. Tendo adquirido, capturado ou comprado outro rei entusiasmado, bem como seus bravos soldados, ele torna o seu exército entusiasta de cavalos, elefantes, carros, e pode passar em qualquer lugar sem obstrução. Reis poderosos, sem ajuda das mulheres, dos homens jovens, coxos ou cegos, conquistaram a terra sem a ajuda de pessoas entusiasmadas. Meu professor diz que do poder (dinheiro e exército) e habilidade em intrigas, o poder é melhor; para um rei, embora possuidor de habilidade para a intriga (mantrasakti) torna-se um homem de mente estéril, se ele não tem poder; para o trabalho de intriga, designa-se alguém. Aquele que não tem poder, perde seu reino como os brotos das sementes, na seca, vomitam sua seiva.

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Não, diz Kautilya, a habilidade para a intriga é melhor; aquele que tem o olho do conhecimento e está familiarizado com a ciência da política pode, com pouco esforço, fazer uso de sua habilidade para a intriga e pode ter sucesso por meio de conciliação e de outros meios estratégicos. Por espiões e substâncias sutis, pode deter, mesmo a distância, os reis que são dotados de entusiasmo e energia. Assim, das três aquisições Entusiasmo, energia e habilidade para a intriga - quem possuir mais das últimas superará quem possuir mais das primeiras. O País (espaço) significa a terra; na qual os mil yojanas da porção norte do país, que se estende entre o Himalaia e do oceano formam o domínio de um imperador nada insignificante; no qual existem variedades de terra, como florestas, aldeias, cachoeiras, planícies, e terrenos irregulares. Nessas terras, ele deve realizar obras que ele considera serem propícias ao seu poder e prosperidade. Essa parte do país, na qual seu exército encontra um lugar conveniente para a sua manobra e que se prova desfavorável ao seu inimigo, é o melhor; as partes do país que são de natureza inversa, são as piores; e aquela terra que tem ambas as características, é um país de qualidade medíocre. O Tempo consiste em períodos frios, quentes e chuvosos. As divisões do tempo são: a noite, o dia, a quinzena, o mês, a estação, solstícios, o ano, e o Yuga (ciclo de cinco anos). Nestas divisões do tempo, devem-se realizar as obras que são propícias para o crescimento de seu poder e prosperidade. O tempo é essencial para a manobra de seu Exército, e a falta de tempo é o pior para o inimigo. O contrário é ruim para o rei, e melhor para o inimigo.Ambas as coisas são o pior. Meu professor diz que de força, lugar e tempo, a força é a melhor; para um homem que é possuidor de força, ele pode superar as 80

dificuldades tanto do terreno ou dos períodos frios, quentes ou chuvosos de tempo. Alguns dizem que é o melhor lugar é aquele em que um cão pode arrastar um crocodilo, e que o pior é aquele onde um crocodilo pode arrastar um cão. Outros dizem que o tempo é o melhor, por que durante o dia o corvo mata a coruja, e durante a noite a coruja mata o corvo. Não, diz Kautilya, a força, lugar e tempo, cada um é útil para o outro; quem é possuidor destas três coisas deve, depois de ter colocado um terço ou um quarto do seu exército para proteger sua base de operações contra a sua retaguarda - inimigos e tribos selvagens em sua vizinhança - tomar com ele tanto exército e tesouro suficientes para realizar seu empreendimento. Marchar durante o mês de Margasirsha (dezembro) contra o seu inimigo, cuja colheita de alimento ainda é insípida, não há comida fácil e as fortificações não foram reparadas. A fim de destruir o inimigo nos períodos outonais (Mushti), ele deve marchar durante o mês de Chaitra (Março), para destruir as culturas outonais do inimigo. Ele deve marchar durante o mês de Jyestha (maio-junho) contra aquele cujo armazenamento de forragem, lenha e água tenha diminuído, e que não tenha reparado suas fortificações, e destruir colheitas na estação chuvosa vernal do inimigo. Ou ele pode marchar durante a estação úmida contra um país que é de clima quente, e no qual as forragens e água são obtidas em pequenas quantidades. Ou ele pode marchar durante o verão de encontro a um país em que o sol está envolto pela névoa e que está cheio de vales profundos e matas de árvores e grama; ou ele pode marchar durante as chuvas contra um país que seja adequado para a manobra de seu próprio exército, e que é da natureza inversa para o exército de seu inimigo. Ele tem que empreender uma longa marcha entre os meses de Margasirsha (dezembro) e Taisha 81

(janeiro), uma marcha de comprimento médio entre março e abril, e uma curta marcha entre maio e junho; e quando afligido com problemas, deve manter-se quieto.

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46. Formação de batalha - Arthashastra As alas e a frente, juntas, capazes de mudarrapidamente (contra um inimigo) é o que é chamado uma formação de cobra (bhoga); as duas alas, os dois flancos, da frente e de reserva, são a formação ideal, de acordo com a escola de Brihaspati. As principais formas de arrumar um exército, como uma força, como uma cobra, como um círculo, e em ordem individual, são variedades de duas formas anteriores da formação consistindo de alas, flancos e frontal. Estacionar o exército, de modo a ficar lado a lado, é chamado de formação única (danda). Estacionar o exército em uma linha para que se possa seguir o outro, é chamado de formação de cobra (bhoga). Estacionar o exército, de modo a enfrentar todas as direções, é chamado de formação círculo (mandala). Separar o arranjo do exército em corpos pequenos, de modo a permitir que cada um aja por si mesmo, é denominado um arranjo em ordem individual (asamhata). Aquilo que é de igual força em suas alas, flancos e da frente, é uma formação funcional. A mesma formação é chamado pradara (quebrando formação do inimigo), quando seus flancos são feitos para se projetar na frente. O mesmo é chamado dridhaka (firme) quando suas alas e flancos são esticados para trás. O mesmo é chamado asahya (irresistível) quando suas alas são alongadas. Quando, depois de ter formado as alas, a frente é feita para ser empurrada para fora, ele é chamado de uma formação águia.

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As mesmas quatro variedades são chamados de "arco", "o centro de um arco", "um porão", e "uma fortaleza", quando eles estão dispostos em uma forma inversa. Isso é que as alas são vestidas como um arco, é chamado Sanjaya (vitória). O mesmo com a parte dianteira projetada é chamado vijaya (conquistador); que tem seus flancos e alas formadas como uma unidade é chamado sthúlakarna (orelha grande); o mesmo com a sua frente duas vezes mais forte, sendo conquistadora, é chamada visálavijaya (grande vitória); que tem suas alas esticadas para a frente é chamada chamúmukha (face do exército); e a mesma é chamada ghashásya (face do peixe) quando é arranjada sob a forma inversa. A formação pessoal, que é feita para que um grupo do exército fique atrás do outro é chamado de formação de ponta. Quando esta formação é composta de duas destas linhas, é chamado um agregado (Valaya); e quando de quatro linhas, ele é chamado um conjunto invencível - estas são as variedades da formação em unidade. A formação de cobra em que as alas, flancos e frente são de profundidade desigual é chamado sarpasári (movimento de serpente), ou gomútrika (rastro de urina de vaca). [...] A formação em que carros vão a frente, as alas elefantes e cavalos de retaguarda, é chamado Arishta (auspicioso). A formação em que infantaria, cavalaria, carros e elefantes ficam um atrás do outro é chamado achala (imóvel). A formação em que os elefantes, cavalos, carruagens e infantaria estão em ordem, uma atrás da outra é chamado apratihata (invencível).

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47. Os Nomes de Indra, o Rei dos Deuses - Sama Veda Canva, O estalido do chicote que eles empunham ouve-se até aqui, assim como também o ruído dos seus carros, pintados de muitas cores. Trisoca, Indra, que estás bebendo o sumo da planta da lua, os teus amigos aqui presentes olham-te com a afeição de um dono de rebanho a olhar para o seu gado. Vatsa, Todos os sacrificantes tratam de aclamar lndra e lhe rendem homenagem, assim como os rios homenageiam o mar. Cusidina, Pedimos aos deuses que façam cair a chuva, que nos protejam, a fim de estarmos bem amparados. Medatiti, Ó senhor do alimento, faz por mim, chantre no banquete da planta da lua, o que fizeste por Cacsivan, o filho de Usija. Sucacsa, Traz-me a ciência, matador de Vrita. Ouve-me, poderoso lndra, possuidor de muitas excelentes qualidades. Concede-nos, divino Savita, abundantes riquezas e muitos descendentes. Afasta de nós o causador do fatal sono da morte. Pragata, Onde quer que esteja residindo aquele que envia a chuva, sempre jovem, que envolve tudo, invencível, é lá que o oficiante executa o seu trabalho. Vatsa, É lá, na região das nuvens, onde se juntam as grandes águas, que o sábio Indra foi gerado pela inteligência. Irimiri, Elevai a voz para louvar Indra, o rei dos homens, digno de todo louvor, distribuidor de dons, superior aos heróis.

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48. A Cerimônia do Suco do Soma - Sama Veda Ó Soma, purifica para Indra o licor saboroso, doce e bem filtrado, o licor poderoso que difunde a luz. Ó senhor do alimento, multiplica nossas provisões, aumenta nossa fama. Ó deus, ao meio dia, enche a taça que os deuses apreciam. Louvai e derramai por toda parte o suco da planta da lua, que dá a salvação, que se espalha por toda parte, misturado às águas e diluído em outros líquidos. Soma, de que se extraem licores saborosos, que abrem os céus, possui toda espécie de riqueza. Louvo Soma, portador de tesouros, de riquezas, que dá o alimento e gera heróis intrépidos. Ó divino Soma, concedes os santos nascimentos futuros, és celestial, és louvado, pois nos dás a imortalidade. Este suco embriagador, extraído da planta da lua, purificado pelas águas, doador de alegria, agita-se como as vagas do mar. Os touros e as vacas, que têm força para racharem até um rochedo, juntam-se em volta do estábulo. Ó Savitri, sustentáculo de todas as coisas, dá-nos vacas e cavalos.

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49. Iniciação ao Estudo Sagrado - Dharma Sutra A iniciação é a consagração de acordo com os textos dos Vedas, de um homem que deseja e pode utilizar o conhecimento sagrado. Saindo da treva, ele na verdade entra na treva, o homem que outro não-versado nos Vedas inicie, e o mesmo acontece com aquele que, sem ser versado nos Vedas, execute o rito da iniciação. Como executante desse rito de iniciação, ele buscará conseguir um homem em cuja família a sabedoria religiosa seja hereditária, que a possua ele próprio e seja devoto em seguir a lei. E sob o mesmo a ciência sagrada deve ser estudada até o fim desde que o mestre não se desvie dos mandamentos da lei. Aquele de quem o aluno recolhe o conhecimento de seus deveres religiosos é chamado mestre. O mestre jamais devera ser ofendido pelo aluno. Isso porque o mestre faz que o aluno nasça uma segunda vez, transmitindo-lhe conhecimento sagrado. O segundo nascimento é o melhor. O pai e a mãe produzem o corpo, apenas. Que ele inicie um brâmane na primavera, um xátria no verão, um vacia no outono, um brâmane no oitavo ano após sua concepção, e um vacia no décimo-segundo. Segue-se agora a enumeração dos anos a escolher para o cumprimento e algum desejo determinado. Que ele inicie uma pessoa desejosa de excelência no conhecimento sagrado em seu sétimo ano, uma pessoa desejosa de vida longa em seu oitavo ano, uma pessoa desejosa de vigor masculino em seu nono ano, uma pessoa desejosa de alimento em seu décimo ano, uma pessoa desejosa de força em seu décimo-

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primeiro ano, uma pessoa desejosa de gado em seu décimosegundo ano. Não ha abandono do dever se a iniciação tiver lugar, no caso do brâmane, antes de completar dezesseis anos, no caso do xátria antes de completar vinte e dois anos, no caso do vacia antes de completar vinte e quatro anos. Que ele seja iniciado em idade tal em que possa cumprir seus deveres, declarados em seguida.

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50. Regras para o Asceta - Dharma Sutras Os votos seguintes deverão ser mantidos por um asceta: Abster-se de ferir seres vivos, veracidade, abstenção quanto a apropriação de propriedade alheia, continência e liberalidade. Há cinco votos menores, quais sejam a abstenção quanto à raiva, obediência para com o guru, evitar a imprudência, limpeza e pureza ao comer. Vem agora a regra para esmolar. Que pergunte aos brâmanes, tanto os que têm casas quanto os de vida peregrina, quando a oferta de Vaishvadeva terminou. Que faça a pergunta, antecedendo-a com a palavra "bhavat”. Que esmole de pé não mais do que o tempo necessário para ordenhar uma vaca. Quando regressar disso, ponha as esmolas em lugar seguro, lave mãos e pés e anuncie o que obteve ao sol. Dando piedosamente porções de seu alimento aos seres vivos e aspergindo o restante com água, ele comerá como se o alimento fosse um remédio. Que coma alimentos dados sem pedir, sobre os quais nada tenha sido combinado antecipadamente e lhe tenham chegado por acidente e apenas o bastante para sustentar sua vida. Em seguida eles citam os versos: "Oito bocados perfazem a refeição de um asceta, dezesseis a de um eremita na floresta, trinta e dois a de um chefe de família, uma quantidade ilimitada de um estudante". "As esmolas podem ser obtidas de homens das três castas, ou pode ser comido o alimento dado por um único brâmane; ou então poderá obter alimento de homens de todas as castas, e não comer o que for dado por um único brâmane". 89

51. Hino à Palavra - Atharva Veda Ó Briaspati, quando se pronunciou no princípio a primeira palavra, quando se deram nomes às coisas, revelou-se amorosamente, o que nelas havia de melhor e de puro, o que nelas estava oculto. Quando os sábios, em seu pensamento, criaram a palavra, como se estivessem peneirando grãos, os amigos souberam o que é amizade. A beleza apareceu na linguagem. Pelo sacrifício, buscaram os rastos da Palavra. Encontraram-na. Ela entrara na casa dos poetas. Dividiram-na em muitos modos. Os sete sábios deram-lhe a eloquência. Mais de um vidente não viu a Palavra. Mais de um que tem audição não a entende. Ela abre o seu corpo a quem a compreende, assim como a esposa amante, adornada de joias, despe-se ante o marido. Quem não a entende, dizem que é vaidoso, não aceita amizade nem gosta de discussão. Anda com sua ilusão estéril e a palavra que ouviu não dá nem flor, nem fruto. Não participa mais da Palavra quem se afastou do amigo fiel. O que ele ouve, inutilmente ouve. Ignora o caminho do dever. Todos os amigos têm olhos e ouvidos, mas são diferentes na energia do seu pensamento. São como os lagos; alguns chegam à boca, outros às axilas, um contém água somente para as abluções. Quando unidos pela amizade, os sacerdotes sacrificam, cultivando em sua alma o vigor do pensamento, alguns se atrasam em sabedoria, outros vão muito além, à maneira de um brâmane afamado.

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Receberam a palavra por engano aqueles que não caminham, nem para a direita, nem para a esquerda, não são brâmanes, nem servos. Incapazes de criarem, tecem um pano com farrapos. Quando um amigo regressa, glorioso, vencedor em um torneio oratório, alegram-se todos os seus amigos. Preparado, disposto à prova, ele liberta-os do pecado, ganha alimento para os amigos. Um aplica-se à escrupulosa composição dos versos sagrados, outro canta a melodia das estâncias. Um, o brâmane, ensina a ciência que ele conhece; outro cuida das formas do sacrifício.

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52. Hino para ser entoado em um funeral - Atharva Veda Terra, sê leve, sem espinhos, repousante. Vasta, oferece-lhe o teu abrigo. Deponham-te, não em lugar estreito, mas em terreno largo. Tuas oblações, enquanto viveste, agora sejam mel para ti. Chamo o teu pensamento com o meu pensamento. Vai alegre para a tua morada e reúne-te aos nossos antepassados, a lama. Que os ventos te sejam favoráveis e benéficos! Da tua alma, do teu alento, dos teus membros, nada fique por aqui. Não sejas oprimido nem pela terra divina e poderosa, nem pela árvore. Vai para o teu lugar, entre os antepassados, sê feliz entre os súditos de lama. O que se perdeu dos teus membros, ao longe, tua respiração, tua expiração, levadas pelo vento, que os nossos antepassados te restituam aos poucos. [Durante a cremação] Os vivos expulsaram-no de casa. Levem-no para longe da aldeia. Enquanto enterram os ossos, depois da cremação Ainda vês, depois não verás mais, o sol que está no céu. Ó Terra, como a mãe trata do filho, recobre-o com teu manto. Agora ainda, não mais depois, mesmo em tua velhice, ó Terra, cobre-o com a tua vestimenta, como esposa com seu marido. [Ao apagar da fogueira crematória] Que te seja benéfica a neblina, benfeitora a geada. Fria e fresca de frieza, fresca e feita de frescura, rã nas águas, sê benéfica. Extingue esta chama!

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53. Libações nas cerimônias fúnebres - Manavadharmashastra Um discípulo de teologia não deve fazer libações de água em uma cerimônia funeral antes de terem completado o seu noviciado; mas uma vez concluído, fazendo uma libação de água, você precisa purificar três noites. Para aqueles que negligenciam suas funções, por aqueles que nasceram de mistura impura das classes, mendigos hereges, ao deixar a vida voluntariamente, não deve haver libação de água. Nem para as mulheres que adotam os costumes e vestimentas heréticas, nem para aqueles com vida bagunçada, ou que abortam ou fazem perecer seus maridos ou bebem bebidas alcoólicas. Um novato, carregando o corpo de seu professor, que o fez estudar antes da formação um Sakha ou o ramo de Veda, o tutor que lhe ensinou uma parte do Veda, ou um Vedanga, que explicou o sentido de os livros sagrados de seu pai ou a sua mãe, não viola as regras da sua ordem. Devem ser transportadas para fora da cidade os corpos de Sudra mortos, ao meio-dia a porta, e dos Dwidjas, pelas portas do oeste, norte e leste. Os reis da raça nobre, que receberam a unção real, os noviços, os homens que se entregam em austeridades piedosas e celebrar um sacrifício, não sofrem impureza; são próximos de Indra, e são tão puros quanto Brahma.

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Referências  





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Traduções próprias: Anabasis, Arthashastra, Manavadharmashastra. Ananda Coomaraswamy, O Pensamento vivo de Buda. São Paulo: Martins, 1968: Mojjhima Nikaya, Dhiga Nikaya. Artashastra. Brasília: UNB, 1999 [trad. de Sérgio Bath], frag. 34. Disponível em: http://www.senado.gov.br/senado/campanhas/conselhos/ downloads/kautilya.pdf Éditos de Ashoka. [Trad. de S. Dhammika] Disponível em: http://dhammarakkhita.blogspot.com.br/2009/06/editosde-ashoka.html Joseph Gaer, Sabedoria das antigas religiões. São Paulo: Cultrix, 1966: Sutra Krit Anga. Lin Yutang, Sabedoria de Índia e China. Rio de Janeiro: Ponguetti, 1958: Bhagavad Gita [trad. de Swami Paramananda] Louis Renou. O Hinduísmo. Rio de Janeiro: Zahar, 1969: Rig Veda, Shataphata Brahamana, Grihya Sutra, Dharma Sutra, Kumarashambava. Manavadharmashastra. [Trad. Anônima], cap. 8 e 9. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/manu.htm Raul Xavier. Milinda Panha. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972.

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Raul Xavier. Os Kama Sutras. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1969. Raul Xavier. Os Upanichadas. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972. Raul Xavier. Os Vedas. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972: Rig Veda, Sama Veda, Atharva Veda.

Veja também:

Antologia de Textos Indianos http://indianidades.blogspot.com.br/ Cem textos de História indiana http://www.historiaindiana.blogspot.com.br/ Cem textos de História Asiática http://asiantiga.blogspot.com.br/

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