Textos_2016_Portinari_OPES.pdf

June 2, 2017 | Autor: Antonio J Augusto | Categoria: Symphonic Music, MUSICA SINFÓNICA, Symphonic Orchestra
Share Embed


Descrição do Produto

Portinari I – 16 de abril, sábado, 16h Isaac Karabtchevsky, regente Dhyan Toffolo, viola Cristiano Alves, clarineta D. Cervo – Abertura Rio 2014 M. Bruch – Concerto duplo para clarineta, viola e orquestra, Op. 88 P. I. Tchaikovsky – Sinfonia n. 5 em mi menor, Op. 64 Dimitri Cervo é um músico precoce. Com somente 14 anos de idade realizava as primeiras apresentações públicas de suas obras e aos 23 já estava estudando na Accademia Chigiana de Siena, Itália, onde estudou composição com Franco Donatoni e música para cinema com Ennio Morricone. Em 2014, sob encomenda da OPES, estreou com nossa orquestra a “Abertura Rio 2014”, composta em homenagem ao Rio de Janeiro, por ocasião das comemorações dos 450 anos da cidade. O compositor explica que a “obra afirma sua identidade estética através do diálogo criativo entre tradição e modernidade, com referências a obras de Beethoven, Mozart e compositores minimalistas”. Mais de um século antes, em 1912, o que motivou Max Bruch a compor o inusitado “Concerto duplo para clarineta, viola e orquestra” foi o virtuosismo de seu filho, reconhecido como um excelente clarinetista. A utilização da clarineta e da viola, já havia sido experimentada anteriormente e com sucesso pelo compositor. Em 1910, ele compôs um conjunto de obras batizado com o nome de “Oito peças” para clarinete, viola e piano, op. 83. Estas peças e o “Concerto duplo” acabaram se revelando uma importante contribuição ao repertório dos dois instrumentos. Ao contrário do esquema tradicional que prevê a intercalação de movimentos no formato rápido-lento-rápido, Bruch optou por uma organização interna em que um movimento é mais rápido que o outro, criando uma sensação de instabilidade ao ouvindo e possibilitando a demonstração de virtuosismo e apuro técnico por parte dos instrumentistas. Se esta opção poderia denotar um afastamento dos rígidos padrões

composicionais do século XVIII (quando a forma concerto se estabeleceu), sua íntima ligação com a tradição legada pelos mestres Schumann e Mendelssohn aparece claramente em suas ricas linhas melódicas e na sua elegante orquestração. A estreia da obra foi realizada no mesmo ano da composição, tendo como solistas Max Felix, clarinete; e Willy Hess, viola, na cidade portuária de Wilhelmshaven, Alemanha. A primeira edição somente foi realizada trinta anos após, mas não representou uma popularização da obra, ao contrário, por muitos anos permaneceu esquecida até que, em 1991, o manuscrito original que todos imaginavam perdido apareceu na casa de leilões Christie, em Londres. Adquirido pelo Max Bruch Archiv a obra foi disponibilizada para pesquisadores e instrumentistas, o que tornou possível um mais fácil acesso a uma verdadeira relíquia da música de concerto. A “Quinta Sinfonia”, de Tchaikovsky, foi dedicada a Théodore Avé-Lallemant, diretor da Sociedade Filarmônica de Hamburgo. Dez anos haviam se passado desde a estreia da “Quarta Sinfonia”, e neste período o artista havia consolidado sua carreira através de uma produção profícua e de alta qualidade, que incluiu óperas, seu “Concerto para violino e orquestra”, a “Abertura 1812” e outras obras que lhe deram prestígio e fama internacional. A “Quinta Sinfonia” é uma obra madura e de uma profundidade típica do povo russo no qual, como dizia Dostoyevsky (citado por Max Derrickson): “há uma medida indispensável de sofrimento, mesmo na felicidade, pois sem ela, a sua felicidade é incompleta”. A “Quinta Sinfonia” foi composta e estreada no ano de 1888, sendo sua primeira realizada pela Filarmônica de São Petersburgo, sob a regência do próprio autor. Nela se destaca o segundo movimento Andante, no qual um dos temas mais inspirados do compositor é apresentado pela trompa, em uma melancólica e fascinante melodia. Tchaikovsky dizia que a forma sinfonia, a mais lírica de todas as formas musicais, não podia ser um jogo vazio de acordes, ritmos e modulações. Para ele uma sinfonia deveria expressar tudo para o qual não há palavras, mas que a alma deseja e necessita falar. E nada descreve melhor esta obra, do que a imagem de uma alma expressando o indizível, um artista escrevendo em som um mundo impossível de ser alcançado em palavras.

Portinari II – 4 de junho, sábado, 16h Felipe Prazeres, regente Pablo Rossi, piano M. Freire – Abertura (obra comissionada pela Opes) L. van Beethoven – Concerto para piano n. 5, Op. 73 – Imperador P. I. Tchaikovsky – Sinfonia n. 1 em sol menor, Op. 13

No ano de 2015, a OPES encomendou ao jovem violinista Mateus Freire um arranjo da obra “Arca de Noé”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, que resultou em um enorme sucesso. A sua delicada construção de uma abertura para a peça chamou a atenção para

o potencial criador do jovem artista. Estimulado pela OPES, Freire foi chamado a compor uma nova peça e assim, esta obra, que será apresentada em estreia mundial hoje, marca o início de uma nova fase criativa. O talentoso instrumentista e arranjador abre espaço em sua trajetória artística passando e se dedicar exclusivamente a composição. Em um concerto marcado pela apresentação do último concerto escrito por Beethoven e pela primeira sinfonia, de Tchaikovsky, nada mais apropriado do que a estreia de um grande artista de nossos tempos.

Não foi Beethoven que deu ao seu “Concerto para piano n. 5, Op. 73” o subtítulo de “Imperador”. Com certeza, as circunstâncias em que vivia na época da composição não inspiravam nenhuma admiração ao Imperador francês que, com seus exércitos, fustigava a cidade de Viena no começo do mês de maio de 1809. Esta ideia fica ainda mais clara quando lemos uma carta escrita neste período para seu editor, em Leipzig: “vejo uma vida de desordem e destruição e não ouço nada além de tambores e canhões, é a miséria humana em todas as formas”. Existe uma história apócrifa, assumida como verdade por muitos, que durante a estreia em Viena, em 1812, um oficial francês extasiado com a obra teria gritado: C’est l’Empereur! Este concerto, em Viena, na verdade teria sido a segunda apresentação pública da obra. A primeira foi realizada em Leipzig, em novembro de 1811, tendo como solista Friedrich Schneider. Em Viena, o solo de piano esteve a cargo de Carl Czerny, ex-aluno de Beethoven e reconhecido virtuose de sua época. Entre as críticas publicadas na época de sua estreia, em Leipzig, destaca-se a do Allgemeine musikalische Zeitung que reportou que a “plateia mal podia se conter em um extraordinário reconhecimento após ouvir o maior”, e o último, de seus concertos para piano.

Em contraste com o último “Concerto” de Beethoven, ouviremos a “Primeira Sinfonia, Op. 13”, de Tchaikovsky, composta entre os anos 1866 e 1868. Neste caso, foi o próprio artista que deu a obra, o subtítulo de “Sonhos de inverno”, assim como os títulos de alguns movimentos. Apesar de não ser uma obra descritiva, Tchaikovsky nomeou o primeiro movimento como “Sonhos de uma jornada de inverno” e o segundo de “Terra desolada, terra das névoas”. Para Tchaikovsky, a composição de sua primeira sinfonia não foi um processo fácil. De um lado a pressão de professores e mentores atormentava o jovem compositor, como ele revela em carta ao irmão Anatole, em 1866. De outro, o desejo de incluir no rígido

universo sinfônico europeu do século XIX a marca de uma música particular e de cunho nacionalista, o que conseguiu alcançar plenamente e abriria as portas para o seu longo percurso a ser explorado em suas próximas sinfonias. Estas angústias e incertezas ficavam ainda mais exasperadas com as críticas recebidas após as apresentações públicas de partes da sinfonia, antes da estreia da versão completa, em 1868. A primeira audição foi realizada pela orquestra da Sociedade Musical Russa, sob a regência de Nikolay Rubinstein, a quem a obra foi dedicada. Em 1874, Tchaikovsky revisou a sinfonia para ser editada por Pyotr Jurgenson. Nesta ocasião, adicionou um segundo tema ao primeiro movimento e realizou algumas pequenas mudanças e cortes nos outros movimentos. Esta nova versão, que é a utilizada em nossos dias, foi estreada em 1883, pela mesma Sociedade Musical Russa, mas agora sob a regência de Max Erdmannsdörfer.

Portinari III – 24 de setembro, sábado, 16h Isaac Karabtchevsky, regente Carlos Prazeres, oboé R. Strauss – Concerto para oboé e pequena orquestra G. Mahler – Sinfonia n. 1 em ré maior – Titã Richard Strauss foi um dos raros artistas de prestígio a não abandonar a Alemanha, durante a Segunda Grande Guerra. Quando as tropas americanas chegaram até a Baviera, alguns soldados que também eram músicos reconheceram e, entusiasmados, travaram contato com o renomado compositor. Entre eles estavam Alfred Mann, que depois se tornaria um musicólogo respeitado, e John de Lancie que antes da guerra já havia tocado como primeiro oboé da Orquestra Sinfônica de Pittsburgh. Sendo um instrumentista de orquestra, o músico conhecia com intimidade a obra do mestre e apreciava seu requintado gosto e técnica com o qual o compositor utilizava o oboé em suas orquestrações. Lancie em diversas ocasiões rememorou o dia em que, conversando com Strauss, citou várias de suas composições como o ‘Don Quixote’, ‘Don Juan,’ a ‘Sinfonia Doméstica’ e lhe perguntou se ele nunca havia pensado em escrever um concerto para oboé e orquestra. A resposta foi um seco “não!”. Entretanto, a semente plantada por Lancie geminou e em 1945, Strauss dava os últimos retoques em seu “Concerto para oboé e

pequena orquestra”, e na partitura original escreveu: “sugestão de um soldado/oboísta de Chicago”. A estreia mundial ocorreu em Zurique, no dia 26 de fevereiro de 1946, pela Orquestra de Tonhalle, tendo como solista Marcel Saillet, com a regência de Volkmar Andreae, a quem Strauss dedicou a obra. Richard Thompson afirma que o “Concerto para oboé” é uma verdadeira aula sobre o classicismo-rococó e que foi recebido com muito entusiasmo pelos oboístas, apesar do esforço físico que a obra demanda do instrumentista. O primeiro solo, por exemplo, explica o autor, envolve não menos que cinquenta e seis compassos de música ininterrupta, com apenas um ligeiro espaço para respiração. Gustav Mahler dizia que ele e Richard Strauss vinham de lados diferentes da montanha, mas que um dia eles haveriam de se encontrar. Se mundo metafórico esse encontro seria apenas uma possibilidade no mundo real os dois se encontraram em Leipzig, 1887, e foram amigos até a morte de Mahler, em 1911. Como maestros atuantes em sua época, regeram a obra um do outro e se apoiaram em momentos pessoais importantes e na divulgação de suas obras. Em maio de 1894, eles trocavam correspondências para acertar detalhes da participação de Mahler em um festival organizado por Strauss. Em uma dessas cartas Mahler comentava que depois de ter realizado a versão de Hamburgo de sua “Sinfonia nº 1”, ele conseguia perceber como ela havia se tornado mais leve e transparente. Esta era apenas uma das evidências das angústias que perseguiam o compositor, depois da estreia fria e pouco receptiva realizada em Budapeste, regida pelo próprio autor, em 20 de novembro de 1889. Em sua primeira versão a obra foi apresentada como um “Poema Sinfônico em duas seções”, com cinco movimentos. Já em 1894, quando apresentou a obra pela segunda vez, em Weimar, durante o festival organizado por Strauss, Mahler descreveu a obra como um “Poema musical em forma de sinfonia”, ainda em cinco movimentos, mas com o novo subtítulo de Titan. Mahler relatou que nesta ocasião, a recepção a sua obra foi dividida: houve quem se manifestasse violentamente contra e quem a aprovasse incondicionalmente. Somente em 1896, em um concerto em Berlim, a obra foi descrita como uma sinfonia, pura e simplesmente, sem nenhuma outra ideia extramusical

acoplada. É aqui que Mahler definiu a forma padrão de quatro movimentos que passou a ser utilizada até os nossos dias. O segundo movimento que foi excluído da obra original permaneceu esquecido até 1966, quando Donald Mitchell, importante biógrafo de Mahler, descobriu os manuscritos da primeira versão na Coleção Osborn, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Assim, no ano seguinte, 1967, Benjamin Britten apresentou a peça como uma peça de concerto autônoma, durante o festival de Aldeburgh, regendo com a Orquestra Philharmonia a, agora renomeada, Blumine.

Portinari IV – 8 de outubro, sábado, 16h Claudio Cruz, regente Marco Pereira, violão C. Guarnieri – Abertura Concertante M. Pereira (orquestração e arranjos) – Violão Vadio (medley Baden Powell) / Suíte das Águas, sobre temas de Dorival Caymmi H. Villa-Lobos – Bachianas Brasileiras n. 7

Camargo Guarnieri foi diretamente influenciado pelo pensamento de Mário de Andrade, que desde a publicação de seu “Ensaio sobre a música brasileira”, em 1928, tentava estabelecer as bases sobre as quais, dentro dos seus rígidos princípios estéticos, deveria ser erguida a nossa música de concerto. Estes preceitos, como nos explica Daraya Contier, envolviam a utilização de temas folclóricos por autores com forte conhecimento técnico-estético da linguagem musical neoclássica e da música programática neorromântica.

Estas diretrizes impactaram a obra de Guarnieri e

aparecem de maneira bem evidente em sua “Abertura Concertante”. Marion Verhaalen nos informa que, em 1942, após ter recebido um convite para passar seis meses nos Estados Unidos estudando e divulgando a sua obra, Guarnieri teria recorrido a Sociedade de Cultura Artística de São Paulo para viabilizar sua viagem. A resposta positiva veio em forma de encomenda de uma nova obra, surgindo, assim, a “Abertura Concertante”. Dedicada ao compositor americano Aaron Copland, a obra foi estreada no mesmo ano pela Orquestra da Sociedade de Cultura Artística, no Teatro Municipal de São Paulo, sob a regência do maestro João Souza Lima. No ano seguinte, já nos EUA, Guarnieri

regeria sua obra com a Sinfônica de Boston, obtendo o aplauso do público e críticas elogiosas nos jornais da cidade. De acordo com o compositor Marco Pereira, dois artistas foram fundamentais para a consolidação do papel que o violão representa na cultura brasileira e na sua projeção em outros países: Heitor Villa-Lobos e Baden Powell. Esses autores transitam entre espaços musicais onde conceitos como “popular” e “erudito” se mesclam tornando viáveis outras possibilidades criativas. Neste sentido, as obras que serão apresentadas neste programa, especialmente arranjadas por Pereira nos revelam o quanto Marco Pereira se move confortavelmente, de acordo com suas próprias palavras, tanto entre nossa mais “pura expressão rítmica e melódica”, quanto na “elaboração harmônica e no requinte formal da música europeia”. Em “Violão Vadio”, Pereira utiliza músicas de Baden Powell, o Violão Vadio, que nomeia o arranjo e Canto de Ossanha e Consolação. Na “Suíte das Águas”, com músicas de Caymmi, o artista utiliza A lenda do Abaeté, A jangada voltou só e É doce morrer no mar. Essas obras fazem parte do álbum Camerístico, de Marco Pereira, lançado em 2006, pelo selo Biscoito Fino. Bem representativo destes espaços descritos por Pereira, onde transitam nossos importantes compositores é a série Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos. Esta séria é um conjunto de nove suítes compostas para as mais diversas formações instrumentais e vocais, entre o período de 1930 e 1945, marcando o início da fase neoclássica do compositor. A “Bachianas nº 7 foi composta em 1942, mesmo ano da “Abertura concertante”, de Guarnieri. José Miguel Wisnik afirma que através desta proposta estética Villa-Lobos pretendia criar a representação de uma nação “madura” que havia disciplinado sua rica seiva. Ou seja, era possível articular a forma suíte sedimentada por um dos maiores mestres da música ocidental, Bach, e todo seu arcabouço técnico-composicional, com a riqueza dos materiais temáticos e formais da nossa música brasileira. É assim que cada movimento da “Bachianas nº 7” recebe um título referente às danças/formas tradicionais da forma suíte, e seu relativo nacional: Prelúdio (Ponteio), Giga (Quadrilha Caipira), Toccata (Desafio) e Fuga (Conversa). A obra, composta em 1942, mesmo ano da “Abertura concertante”, de Guarnieri, foi dedicada a Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Cultura, de Getúlio Vargas, e estreada no Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 1944, pela Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, sob a regência do próprio autor. Em 21 de fevereiro de 1945, Villa-

Lobos apresentou três movimentos da obra, com a Orquestra Sinfônica de Boston, na Universidade de Harvard e anos depois, em setembro de 1953, regeu a versão completa da “Bachianas nº 7” com a Filarmônica de Viena, na Grosser Konzerthaussaal.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.