Thor: a proteção e a potência por excelência

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Thor: a proteção e a potência por excelência Þórr, que é chamado Ása- Þórr ou Öku- Þórr (“Þórr , o Condutor”), é o mais importante deles. Ele é o mais forte de todos os deuses e homens (in: Gylfaginning, Snorri Sturluson)

Dentre todos os deuses, Thor é, sem dúvida, um dos melhores representantes da força descomunal do raio e do trovão, da masculinidade, fertilidade, belicosidade e proteção divina. Se, por um lado, fazendo um paradigma com a mitologia grega, sua habilidade com o raio o aproxima de Zeus, por outro, seu espírito guerreiro o coloca ao lado de Ares. Ele era muito popular no Oeste da Noruega e na Islândia. A devoção a Thor, muito antiga, foi tão forte, que se tornou aquela que representou a maior resistência à invasão da cristandade no século XI, tão sólida a ponto de ser considerada uma ameaça preocupante para os invasores, que acabaram por proibir o seu culto, perseguindo e matando seus adeptos. Amado, idolatrado, exortado, invocado pelo povo com muito fervor e constância. Seu principal culto, o Yule, era relacionado ao casamento. Ele sempre esteve ligado a esta conotação sexual, essência masculina do desejo, consagrando as uniões, trazendo cura e fertilidade. Para tal feita, usavam o Mjölnir (que, na Idade do Ferro, era representado por um machado), uma arma invejável, forjada pelos Svartálfar, elfos negros, uma espécie de vaettir, semelhantes aos elfos de Alfhèim e por dois hábeis anões, que eram irmãos, Brokkr e Sindri. Outra utilização deste símbolo poderoso foi como amuleto protetor, inclusive, hoje, os adeptos do Odinismo ainda o usam com este mesmo fim. Havia vários rituais associados a ele. Um martelo era colocado no colo da noiva no casamento, erguido sobre recém-nascidos e representado em marcos de pedra. Os escandinavos usavam martelos de prata como amuleto (...). O martelo de Thor também era entalhado em lápides fúnebres. (DAVIDSON, 1999, p. 198)

O deus do trovão era simplesmente uma unanimidade entre os camponeses: sua natureza simplória, a justiça prática e sensata da sua personalidade, irônico, potente, obstinado e, até mesmo, um glutão! Observe o que a Doutora Hilda Ellis escreveu: (...) Famoso por seu enorme apetite, chegava a devorar seus bodes para jantar, recolhendo depois seus ossos e devolvendoos à vida pelo poder de seu martelo. Sua barba ruiva parece ter representado o raio (talvez por causa da massa de fibras vermelhas que se forma quando um raio atinge uma árvore). Também sabemos de seus olhos fogosos, sua força tremenda e sua temível raiva. Pedras memoriais mostram seu martelo como uma arma num cordão, às vezes atirada contra os inimigos e também desferida contra seus crânios. (DAVIDSON, 1999, p. 198)

A aparência de Thor impõe respeito: alto, forte, barba e cabelo ruivo, olhos de um azul hipnotizante, vestindo túnica e botas de urso. Sua carruagem de bronze, não menos imponente: dois bodes escuros, que a conduzem, soltando faíscas dos cascos.

Ele foi predestinado à vitória. As fontes mitológicas nórdicas são muitas e consensuais a respeito disso. A força concedida a ele pelo Esmagador (epíteto do Mjölnir) veio apenas acrescentar àquela que o deus, por nascimento, recebera. Snorri Sturluson explica-nos: Ele (Odin) pode muito bem ser chamado de Alföõr (pai de tudo) por esta razão, pois ele é o pai de todos os deuses e homens e de tudo que ele e seu poder criaram. A Jörõ (terra) era sua filha e sua esposa. Por ela, ele teve seu primeiro filho, que é o AsaÞórr (deus Þórr). Ele possui poder e força. Por isso ele vence todas as criaturas vivas. (STURLUSON, 1996, n/c)

Em outras palavras, a força de Thor é intrínseca à sua própria natureza e diretamente liga o céu (Odin: ar, vento, tempestade) à terra (Jörõ), as virtudes de seus genitores combinadas. Isto explica o motivo pelo qual os camponeses o invocavam em períodos de terra arável, pois Thor trazia as tempestades e as chuvas benéficas às plantações, que fertilizavam as terras, promovendo o crescimento da vida e prosperidade no campo. Outro aspecto da representação de Thor reside em sua função de mantenedor e defensor da Ordem. Recebeu de seu antecessor (Tiwaz) a missão de defender a ordem natural, mantendo-a livre das agressões externas (representadas pelos Gigantes de Gelo) e internas (representadas pelas incursões de Loki). Tyr foi outro herdeiro de Tiwaz, responsável, principalmente, pelo cumprimento das leis. Quando os Gigantes de Gelo avançavam sobre a Islândia, trazendo o inverno devastador, era Thor quem, empunhando o Mjölnir e com uma vontade férrea, expulsava-os, restaurando novamente a ordem. Esta arma é capaz de aplanar montanhas e é tão pesada, que somente o deus do trovão consegue erguê-la com a ajuda de dois objetos: Járngreip, uma luva de ferro e Megingjard (significa “poder sobrenatural”), um cinturão que lhe concede uma força descomunal. Sobre o Mjölnir, Mirella Faur escreve: O martelo era um objeto mágico, usado pelos nórdicos para definir fronteiras quando arremessado (o lugar onde caía estabelecia os limites na disputa de terras), selar juramentos, consagrar a pira funerária dos sacrifícios, abençoar casamentos, batizados e enterros, promover a fertilidade (da terra nos plantios e dos noivos quando colocado no colo deles durante a bênção). O seu formato era semelhante ao machado com duas lâminas das culturas antigas da Europa e representava o relâmpago lançado pelo deus. Associadas ao martelo eram a roda solar e a suástica, que evocavam o poder de Thor para enviar para a terra o calor do sol ou a chuva fertilizadora. Esses símbolos são encontrados nos tambores dos xamãs da tribo sami e também foram achados no culto anglo-saxão do deus Thunor, gravados sobre urnas funerárias e armas. Outros símbolos de Thor eram o armring, uma pulseira de aço que ele usava no braço e cujas réplicas eram usadas para serem feitos os juramentos sobre elas, um atributo herdado por Thor de seu antecessor Tiwaz. Suas árvores sagradas eram o carvalho (que agia como canal para atrair os raios e o poder do deus para a terra) e a sorveira (cuja ação era contrária, protegendo contra relâmpagos, incêndios e magia). (FAUR, 2011, p. 162)

Neste texto, procurei somente apresentar sucintamente o primeiro filho de Odin. Não haveria espaço disponível para versar tamanha história e significação por ele oferecidas à humanidade em um mero texto. Deixei uma interessante referência bibliográfica para o leitor que tiver interesse em conhecer com mais intensidade o senhor do raio. Quinta-feira é o dia dedicado a Thor (Thor’sday). Ele é o nosso protetor por excelência, guardião da Ordem, aquele que une o céu à terra e detém a força e potência do raio e do trovão. Eis o destemido guerreiro asgardiano, que nos protege com vontade férrea. A força de Thor é uma das metas sêxtuplas, que são os dons legados à humanidade pelos deuses. Que o magnífico Thor continue destruindo os Gigantes de Gelo, que se atreverem a cruzar os nossos caminhos, oferecendo-nos, por meio de suas vitórias, sempre novas primaveras para as nossas vidas. Hail, Thor! Eduardo Amaro REFERÊNCIAS ARBMAN, Holger. Os Vikings. Trad. Luís Lerate. Madrid: Alianza Editorial, 1984. CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. 29 ed. São Paulo: Editora Palas Athena, 2012. DAVIDSON, Hilda Ellis. O mundo dos deuses: Escandinávia. Lisboa: Editorial Verbo, 1987. ______. Thor: o deus do trovão. In: Mitologias: deuses, heróis, xamãs nas tradições e lenda de todo o mundo. São Paulo: Publifolha, 1999. p. 198-99. FAUR, Mirella. Ragnarök: o crepúsculo dos deuses. São Paulo: Cultrix, 2011. LANGER, J. Vikings. In: As Religiões que o mundo esqueceu. São Paulo: Editora Contexto, 2009. p. 130-143 STURLUSON, Snorri. Edda em Prosa: textos da mitologia nórdica. Rio de Janeiro: Numen, 1993. ______. The Prose Edda: Norse Mithology. Trad. Jesse L. Byock. London: Penguim Classics, 1996 WILLIS, Roy. Mitologias: deuses, heróis, xamãs nas tradições e lenda de todo o mundo. São Paulo: Publifolha, 1999.

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