Tiras de Este é alguém: um olhar sobre as interações sociais no Facebook

May 22, 2017 | Autor: Amanda Cristina | Categoria: Hipertexto, Interação, Tiras, Mídia
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Tiras de Este é alguém: um olhar sobre as interações sociais no Facebook

(Este é Alguém comic strips: a look at the social interactions on Facebook)

Amanda Cristina Galhardo Siqueira1

1Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

[email protected]

Abstract: This article aims to study the Facebook page Este é alguém,
focusing on its social interactions. The page is composed by comic strips
about people's behavior in everyday relationships and on social networks.
The main purpose of this study is to analyze how social interactions happen
in comments, taking into account the form of the comic strips, that promote
the comments, consequently the social interactions between the followers of
the Facebook page. To this end, some authors who analyzed social networks
and others who did research on comic strips, both considering the language
aspect, are the theoretical principles of this work.

Keywords: interaction; media; hypertext; comic strips.

Resumo: Este artigo tem como propósito estudar a página Este é alguém da
rede social Facebook, no que se refere principalmente às interações sociais
que ela promove. Esta é composta por tiras cômicas sobre o comportamento
das pessoas no cotidiano e na internet, as quais motivam comentários por
parte de seus seguidores O estudo tem como objetivo analisar como se dão as
interações presentes no campo de comentários, além de analisar a composição
das tiras. Para tal, utiliza-se de conceitos da Linguística Textual com
base em autores que já se dedicam às redes sociais do ponto de vista da
linguagem e pesquisadores que estudaram a linguagem e os gêneros dos
quadrinhos, em particular a tira cômica.

Palavras-chave: interação; mídia; hipertexto; tira cômica.


A página Este é alguém

A página Este é alguém foi criada em 19 de outubro de 2013 na cidade
de Belém, no estado do Pará. Segundo o criador, Victor Nogueira, em
entrevista[1] feita pelo grupo Abril,

A ideia inicial era criar algo que falasse do
comportamento das pessoas na internet e no cotidiano,
então resolvi fazer isso em tirinhas. Como eu iria falar
de comportamentos comuns, resolvi usar personagens com
nomes próprios também comuns para reforçar ainda mais a
ideia. E esse foi o grande diferencial da "Este é alguém",
piadas sobre hábitos comuns e com o nome de pessoas que
você conhece. Isso fez o pessoal se identificar com as
brincadeiras e compartilhar com os amigos.


A página é composta, portanto, por imagens que retratam
comportamentos das pessoas de forma irônica. Discutiremos, à frente, que
tais imagens tratam de tirinhas, como propõe o próprio autor na citação
anterior.


Sobre a popularidade de Este é alguém, há uma evolução anual do
número de seguidores da página. Observamos o número de curtidas (isto é, o
número de pessoas que apertaram o link "curtir" abaixo da postagem, que
significa gostar do que foi postado), em 2014:








Figura 1. Dados da página fornecidos pelo Facebook em 2014.


Fonte: Este é alguém. Facebook. Disponível em:
https://www.facebook.com/esteealguem/likes












De 2.212.105 curtidas do ano passado, houve um crescimento para
2.993.595 em Novembro de 2015, como podemos ver na Figura 2:

























Figura 2. Dados da página fornecidos pelo Facebook em 2015.


Fonte: Este é alguém. Facebook. Disponível em:
https://www.facebook.com/esteealguem/likes









Além disso, levando em consideração a informação de que a página foi
criada no dia 19 de setembro de 2013[2], vê-se que o número de curtidas
ultrapassa dois milhões em um curto espaço de tempo. Há, portanto, muitas
pessoas que seguem Este é alguém, isto é, que têm acesso às postagens em
sua própria página na rede. Sendo assim, vê-se que as tiras detêm muitos
acessos, o que leva mais facilmente a um grande número de relações sociais
entre os usuários por meio de comentários.


Sendo a rede social o canal pelo qual essas relações acontecem, chega-
se à seguinte questão: seria o Facebook suporte ou mídia de circulação de
gêneros?


Bonini (2011) apresenta uma discussão sobre os conceitos de gênero,
hipergênero, mídia e suporte, diferenciando-os e definindo-os. Para o
pesquisador, o gênero é, como unidade, equivalente ao enunciado de
bakhtiniano, isto é, "uma unidade da interação linguageira que se
caracteriza por uma organização composicional, um modo característico de
recepção e um modo característico de produção. Pode ser de natureza verbal,
imagética, gestual, etc" (op. cit., p. 688). Segundo o autor, os gêneros
são produzidos em agrupamentos, compondo "uma unidade de interação maior
(um grande enunciado) " (op. cit., p. 691), isto é, o hipergênero. Para o
estudioso, a interação se faz por meio de gêneros que circulam por meio de
mídias, definida por ele como:


A tecnologia de mediação da interação linguageira e,
portanto, do gênero como unidade dessa interação. Cada
mídia, como tecnologia de mediação, pode ser identificada
pelo modo como caracteristicamente é organizada, produzida
e recebida e pelos suportes que a constituem. (op.cit., p.
688).


O suporte é relevante apenas em casos de análises mais intensas de
uma mídia específica, segundo o autor, uma vez que ele é o


elemento material (de registro, armazenamento e
transmissão de informação) que intervém na concretização
dos três aspectos caracterizadores de uma mídia (suas
formas de organização, produção e recepção). (BONINI,
2011, p. 688).


A partir da discussão de Bonini, chega-se à conclusão de que o
Facebook é uma mídia, uma vez que o autor a define como "o elemento-chave
da circulação dos gêneros" (op. cit., p. 681). É pela mídia que há
interação, a qual se dá por meio de gêneros, como a tira cômica e os
comentários, objetos de análise deste artigo.


Este artigo tem como propósito estudar a página Este é alguém da rede
social Facebook, no que se refere principalmente às interações sociais que
ela promove. É proposto, por fim, um estudo sobre algumas tiras e
comentários da página, a fim de observar como se dão as relações entre os
usuários e como as tiras as motivam. Para tal, primeiramente discutimos
como se dá a internacionalidade na rede social Facebook. Em um segundo
momento, apresentamos uma discussão sobre memes e tiras cômicas em Este é
alguém e características destas produções. Propomos, ainda, uma análise dos
comentários e como se constroem as interações a partir das postagens do
autor. Por fim, apresentamos uma análise dos dados.


A interacionalidade no Facebook


Como afirmam Carvalho e Kramer (2013), "as redes sociais popularizam-
se rápida e massivamente, trazendo muitas novidades no campo da
comunicação" (op. cit., p. 80). No Brasil, pôde-se presenciar o crescimento
em massa do Facebook que, desde 2012, é a rede social mais popular no país:
ao se conectarem na internet, 75 em cada 100 usuários entram nesta rede,
conforme a reportagem "O Facebook engole o mundo", da revista Veja[3].


Em dezembro de 2011, segundo dados da empresa Comscore[4], a rede
cresceu cerca de 192% em um período de 12 meses (de janeiro a dezembro de
2011), ultrapassando a primeira rede social de sucesso do país durante 7
anos, o Orkut. O Facebook, portanto, não foi a pioneira no Brasil, "mas
tornou-se a mais atraente, com um maior número de recursos e possibilidades
de interação, que facilitam a troca de imagens e vídeos em tempo real,
mesmo sendo acessada por um telefone celular" (op. cit., p. 81).


No que se refere à comunicação verbal que se encontra nessas redes,
adotam-se, no presente artigo, as premissas de Bakhtin (2003). Segundo o
autor, as diversas esferas da atividade humana estão relacionadas com o uso
da língua, sem exceções, e a utilização da língua também será diversa,
tanto quanto suas esferas. Conforme afirma o escritor russo, cada esfera de
uso da língua "elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciado,
sendo isso que denominamos gêneros do discurso" (op. cit., p. 279, grifos
do autor).


Considerando a concepção de Bakhtin de que toda comunicação verbal se
dá por meio de gêneros, pode-se dizer que o Facebook é um território rico
para estudo, uma vez que é composto por diversos gêneros emergentes. Como
afirma Marcuschi (2008), nesta época, mais do que em qualquer outra, temos
a proliferação de novos gêneros dentro de novas tecnologias,
particularmente na mídia eletrônica digital. No tocante aos aspectos de
relevância de estudo dos gêneros da mídia virtual, o linguista aponta que
eles, nessas novas mídias, "apresentam peculiaridades formais próprias, não
obstante terem contrapartes em gêneros prévios". (MARCUSCHI, 2008, p. 200).



Com base em Erickson (1997, apud MARCUSCHI, 2008), Marcuschi propõe
que é pertinente o estudo da comunicação virtual na perspectiva dos
gêneros, uma vez que a evolução destes pode de ser acelerada enormemente
pela interação on-line, interação essa que é altamente participativa.
Levando isso em consideração, a página Este é alguém apresenta um fértil
território para estudar relações sociais na rede, uma vez que promove a
participação dos usuários como construtores de significado a suas
publicações, como se vê adiante neste texto.


Como apontam Carvalho e Kramer (2013), o leitor de uma mensagem
midiática não é passivo, isto é, ele participa da elaboração da mensagem.
Pode-se dizer, ainda, que as redes sociais têm como grande pressuposto-base
de existência a preponderância da interacionalidade na construção ou troca
de informações (CARVALHO; KRAMER, 2013, p. 80). A página Este é Alguém, por
meio das tiras, promove interações sociais e os leitores são os
responsáveis pela construção de sentidos vários a partir da participação
ativa por meio dos comentários.


As tiras de Este é alguém


O criador da página Este é alguém afirma que sua produção se dá em
forma de tirinhas. No entanto, observam-se, também, características de meme
em sua composição. Segundo Souza, memes são "palavras, imagens, fotos,
bordões, desenhos, ideias, fragmentos de ideias, sons, gírias,
comportamentos, falas, costumes, (...) tudo aquilo que se multiplica a
partir de cópia/ imitação" (SOUZA, 2014, p. 156). No âmbito da internet,
Silva (2012) chega à conclusão de que memes "são todo tipo de ideias que se
propagam rapidamente, geralmente manifestado por expressões, desenhos
padronizados, em sua grande maioria de carinhas" (SILVA, 2012, p. 131).
Observemos um exemplo de meme de Este é alguém:


Figura 3. Exemplo de memes de Este é alguém.
Fonte: Este é alguém. Facebook.

Podemos perceber que o traço de desenho do personagem é similar a
memes recorrentes na internet. Selecionamos três deles com fins
ilustrativos:
1. Yao Ming – meme de um jogador de basquete profissional,
frequentemente usado como uma reação de desprezo para com uma
mensagem de alguma pessoa em discussões on-line.

Figura 4. Meme Yao Ming.
Fonte: Google.




2. LOL – meme normalmente usado para indicar riso e/ou diversão.

Figura 5. Meme LOL.
Fonte: Google.

3. Trollface/Coolface/Problem? – meme com um sorriso malicioso e
sarcástico utilizado a partir de uma brincadeira com alguém.



Figura 6. Meme trollface.
Fonte: Google.


Esses memes são frequentemente em preto-e-branco representam algum
sentimento ou reação a algum acontecimento. Segundo Silva (2012), os memes
são utilizados, frequentemente, "em foma de tirinhas em quadrinhos, curtas,
e a explosão da sua popularidade pode ser atribuída à facilidade de sua
confecção" (SILVA, 2012, p. 133), como podemos ver na próxima tira:




Figura 7. Exemplos de tira com memes.

Fonte: Memetizando.com


Observamos que há, nessa tira, uma brincadeira com o fato de hoje em
dia a internet é essencial à maioria dos estudantes. Quando ainda não havia
redes Wi-Fi disponíveis na maioria dos ambientes que frequentamos, o ar
seria o mais essencial para os estudantes dos anos 1990. Sendo assim,
concordamos com Silva que afirma que:


As pessoas criam tirinhas com coisas de seu cotidiano: a
bronca que tomou de uma professora; o fora que o amigo
tomou de uma garota; as brincadeiras na escola, na
faculdade, entre tantas outras. Há liberdade total para a
expressão dos sentimentos, angústias, desejos etc. (op.
cit., p. 113)


Os personagens da tira, isto é, a professora e os alunos, são
representados na tira através de memes. Ao definir a página Este é alguém,
o criador dela afirma que "a Este é alguém é uma série de quadrinhos
que relata o cotidiano e o comportamento das pessoas na internet e na vida"
(Facebook, Este é alguém, Informações da Página).


Assim como o autor, portanto, enxergamos nas histórias uma narrativa
em quadrinhos, uma tira cômica, que se valem de memes em sua composição,
como podemos ver na imagem seguinte:




Figura 8. Exemplo de tira cômica de Este é alguém.
Fonte: Este é alguém. Facebook.



A tira anterior apresenta um personagem, Felipe, que tem o
comportamento de não realizar tarefas importantes e ir dormir. De forma
cômica, sonhar é entendido por Felipe como ter sonhos ao dormir, e não em
seu sentido esperado no primeiro quadrinho, de querer que algo aconteça na
vida.





Assim como afirmou o criador da página Este é alguém, o conteúdo das
tiras baseia-se em situações do cotidiano das pessoas e do comportamento
delas na internet, valendo-se de personagens com nomes comuns (como Felipe,
da tira anterior), a fim de promover o compartilhamento da brincadeira
entre os usuários no campo de comentários:






[5]



Figura 9. Exemplo de comentários de Este é alguém

Fonte: Este é alguém. Facebook.





Ao ver a tira anterior (Figura 4), o usuário Tarcídio relaciona o
Felipe personagem ao Felipe, colega seu, através de um link que redireciona
à página de seu amigo, estabelecendo uma brincadeira entre ele e o Felipe
personagem da tira. Ainda segundo as tiras de Este é alguém, podemos dizer
que são elas verticais com dois personagens ou mais em uma situação que
apresenta humor, como podemos ver a seguir:




Figura 10. Exemplo de tira cômica de Este é alguém.
Fonte: Este é alguém. Facebook.


A tira apresenta um empregador e um empregado a fim de ironizar o
comportamento das pessoas que respondem mal ao chefe. No desfecho, Pedro, o
empregado, é demitido. Há tiras, ainda, em que encontramos papéis sociais,
como o de chefe (Figura 10) e o de professor na tira seguinte:








Figura 11. Exemplo de tira cômica de Este é alguém.

Fonte: Este é alguém. Facebook.





A explicação de que o verbo sair é um verbo intransitivo e não
precisa de complemento é usada pelo personagem como desculpa para não dizer
à sua mãe para onde ele vai. Portanto, apesar de o professor de português
não estar presente na tira como personagem, seu papel é enunciado pelo
personagem Denis.


Ao observar aspectos de forma, vemos que as tiras são multimodais,
isto é, são textos que apresentam elementos verbais e imagéticos. Como
apontam Kress e Van Leeuwen (2001), multimodalidade é o uso de diversos de
modos semióticos. Portanto há, nas tiras, o modo semiótico de produção de
linguagem verbal e não verbal, que se dá simultaneamente.


As falas e as imagens, portanto, são aspectos que aproximam as tiras
de Este é alguém da linguagem dos quadrinhos e do gênero tira cômica. Elas
se aproximam de forma significativa de tiras cômicas impressas no tocante à
comicidade e os comentários atestam este dado, como vemos na Figura 9, no
qual o usuário Tarcídio escreve uma onomatopeia de risada.





No que se diz respeito à forma das tiras de Este é alguém, há a
predominância do formato vertical, o qual difere da forma horizontal do
impresso, como se pode observar na tira de Calvin a seguir:







Figura 12. Exemplo de tira de fonte impressa.
Fonte: Depositodocalvin.blogspot.com.br

No que se refere ao gênero tira cômica, Ramos (2012) propõe que:

A temática atrelada ao humor é uma das principais
características do gênero tira cômica. Mas há outras:
trata-se de um texto curto (dada a restrição do formato
retangular, que é fixo), construído em um ou mais
quadrinhos, com presença de personagens fixos ou não, que
cria uma narrativa com desfecho inesperado no final.
(RAMOS, 2012, p. 24).






Ramos (2015) questiona se há alterações em um texto veiculado tanto
em suporte impresso quanto virtual e se há mudança no gênero com a mudança
de suporte. Para responder a estes questionamentos, o autor analisa dois
contextos enunciativos de uma mesma tira. Esta foi publicada no jornal e,
posteriormente, postada na rede social Facebook e no site pessoal do
criador. Após o estudo, Ramos aponta que o gênero tira cômica "manteve as
marcas centrais e foi lido de maneira cômica, como atestam os comentários
deixados pelos leitores" (op. cit., p. 10).


Ainda segundo o estudioso de quadrinhos, os blogs, sites e redes
sociais abriram espaço para que haja diversos registros de formato das
tiras. As tiras em ambientes virtuais, portanto, mantêm as marcas
recorrentes de uma tira cômica impressa. Sendo assim, percebe-se que os
contextos enunciativos são diferentes, mas não há mudança genérica.


Chega-se, por fim, aos principais aspectos das tiras de Este é
alguém:


apropriação do gênero tira cômica;


diversos registros de formato das tiras – predominantemente
vertical;


se aproximam de forma significativa de tiras cômicas impressas no
tocante à comicidade e os comentários atestam este dado;


não há mudança de gênero;


motivam interações dos usuários a partir dos aspectos de nome de
personagem e situação cômica.


Gênero comentário on-line: um estudo em Este é alguém


Há diversas interações entre os usuários através de comentários. Ao
apresentarem a teoria do dialogismo bakhtiniano em relação ao gênero
comentário online, Santos e Alves Filho (2012) afirmam que:

Nessa teoria, muitos dos conceitos tratados se relacionam
com a ideia de dialogismo, princípio constitutivo da
linguagem, segundo o qual a língua tida em processo de
interação é um encontro e confronto de vozes sociais que
se intercruzam dialogicamente numa cadeia responsiva,
marcada pela relação de anterioridade e posterioridade com
outros enunciados, de modo que podemos dizer que todo
enunciado é fruto de enunciados anteriores, e semente para
enunciados futuros. (ALVES FILHO; SANTOS, 2012, p. 147).


Adota-se, neste estudo, o conceito apresentado pelos autores de que a
língua no processo de interação é um encontro de vozes sociais, as quais se
intercruzam dialogicamente numa cadeia responsiva, além da ideia de que "o
início do enunciado é ancorado na necessidade de o falante replicar
(concordar, refutar, questionar, apoiar, criticar, etc.) o discurso do
outro ou até mesmo o seu próprio discurso" (SANTOS; ALVES FILHO, 2012, p.
148), advinda de Bakthin (2003). Essas premissas dialogam com a perspectiva
contemporânea de texto proposta por Custódio Filho e Cavalcante (2010), à
qual propõe alterações no conceito de texto apresentado por Koch (2004):


A produção de linguagem verbal e não verbal constitui
atividade interativa altamente complexa de produção de
sentidos que se realiza, evidentemente, com base nos
elementos presentes na superfície textual e na sua forma
de organização, mas que requer não apenas a mobilização de
um vasto conjunto de saberes (enciclopédia), mas a sua
reconstrução e a dos próprios sujeitos – no momento da
interação. (CUSTÓDIO FILHO; CAVALCANTE, 2010, p. 9)


Esses conceitos são relevantes uma vez que se observa nos comentários
o encontro de diversas vozes de usuários que replicam o discurso
apresentado pela tira, sendo esta uma atividade de interação complexa de
produção de sentido, como se pode ver na imagem a seguir. Os comentários
apresentados nesta próxima figura pertencem à tira anteriormente
apresentada (Figura 7):







Figura 13. Comentários de Este é alguém


Fonte: Este é alguém. Facebook.





O presente artigo se restringe as postagens que apresentam relações
com os outros usuários através de links. Nos comentários, vê-se o uso de
marcações, feitas através de links que redirecionam à página da rede social
da pessoa marcada, como se pode observar pela imagem anteriormente
apresentada (Figura 6).


Sobre os links, utiliza-se como base teórica Gomes (2011) e Xavier
(2009). Faz-se necessário, primeiramente, a definição de hipertexto
proposta por Gomes:


O hipertexto pode ser entendido como um texto
exclusivamente virtual que possui como elemento central a
presença de links. Esses links, que podem ser palavras,
imagens, ícones etc., remetem o leitor a outros textos,
permitindo percursos diferentes de leitura e construção de
sentidos a partir do que for acessado e, consequentemente,
pressupõe certa autonomia de escolha dos textos a serem
alcançados através dos links. É um texto que se atualiza
ou se realiza, se concretiza, quando clicado, isto é,
quando percorrido pela seleção dos links. (GOMES, 2011, p.
15)


Vê-se, portanto, que os comentários são hipertextos e são
multimodais, tendo como elemento central a presença de links. Xavier (2009)
defende que um link pode assumir função dêitica, isto é, "assume um caráter
essencial catafórico e prospetivo, ou seja, sempre pronto a ejetar o
hiperleitor para fora daquele website, para além daquela página digital"
(XAVIER, 2009, p. 206). Sendo assim,


o link especula constantemente um movimento de projeção,
de êxodo não definitivo do hiperleitor, que transcede os
limites do lido. Sugere-lhe atalhos que auxiliem a
apreensão de sentidos outros, significações várias (op.
cit., p. 206).


Elias (2014, p. 47) discute o princípio da conectividade,
"concretizada na atualização de links, possibilita ao hipertexto a sua
constituição em rede, a sua expansão reticular". Segundo a autora,


Nessa configuração, o leitor é sempre convidado a "saltar"
do ponto em que se encontra para outros pontos do universo
hipertextual, bastando tão somente ativar os links,
elementos que possibilitam o acesso a textos em várias
linguagens e mídias (...) (op. cit., p. 47).


A partir das figuras a seguir, pode-se ver que o fato de haver o link
Brenda Cristina no comentário de Nabila, há a possibilidade de um leitor
deste acessar a página de Brenda. Pode acessar, também, as páginas da
criadora do comentário, Nabila, e do usuário Igor, que também participou da
interação. Como aponta Elias, "os usuários, tantos quantos houver e quantas
vezes quiser, podem constituir links que promovem saltos para outras
produções, outros hipertextos" (op. cit., p. 56).







Figura 14. Tiras e interação na página.


Fonte: Este é alguém. Facebook.








Figura 15. Comentários e interação na página.


Fonte: Este é alguém. Facebook.








Vemos, portanto, que o humor da tira se dá pela troca de sentido do
pronome "ele", de algum menino pelo qual Brenda se apaixonou, pelo de
piolho, entendido por inferência a partir Escabin, medicamento usado para
eliminação de piolhos.


Conforme Carvalho e Kramer (2013), somos todos leitores responsivos.
Na atividade de leitura, posicionamo-nos diante do texto. Esta
responsividade, no presente caso, se faz evidente nos comentários,
principalmente aqueles que são resposta a um comentário anterior, como se
pode observar na fala de Brenda Cristina na Figura 11. "Besta kkkkk não
posto isso bjs kk" é uma resposta ao comentário "Brenda Cristina vai com
calma kkkkkkkkkkkk". Como propõem Santos e Alves Filho (2012), "o início do
enunciado é ancorado na necessidade do falante replicar (concordar,
refutar, questionar, apoiar, criticar, etc.) o discurso do outro ou até
mesmo o seu próprio discurso" (op. cit, p. 148).


Ao fazer uma análise dos comentários, observou-se uma aproximação da
organização estrutural da escrita com uma atividade conversacional oral. A
fim de analisar relação entre os comentários online e uma conversa em forma
de fala, vale-se de Fávero, Andrade e Aquino (2000), especialmente dos
conceitos de evento comunicativo, turno e tópico discursivo.


De acordo com as autoras, os eventos comunicativos são constituídos
de situação discursiva, evento de fala, tema do evento, objetivo do evento,
grau de preparo necessário para a realização do evento, participantes,
relação entre participantes e canal utilizado para a realização do evento
(FÁVERO, ANDRADE , AQUINO, p. 18, 2000).


O turno, por sua vez, é definido como "a produção de um falante
enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade do silêncio. Na
conversação, ocorre a alternância dos participantes, isto é, os
interlocutores revezam-se nos papéis de falante e ouvinte" (op. cit., p.
35). Aquilo sobre o que se fala, em uma conversa, é chamado de tópico
discursivo. Este é o elemento que tem como função estruturar a conversa.


Análise dos dados


Encontra-se, em anexo, o corpus deste artigo. Ao analisar 10 tiras e
4 eventos comunicativos (blocos de comentários) de cada uma, foi possível
identificar que o Facebook possibilita uma grande conversa online com foco
na interação entre as pessoas. Uma vez que há, muitas vezes, resposta ao
comentário feito por um usuário, observa-se a troca de turno entre os
participantes do evento comunicativo, que se dá no tempo e da maneira que
os usuários definirem, como se pode observar no evento comunicativo a
seguir:








Figura 16. Exemplo de evento comunicativo


Fonte: Este é alguém. Facebook.


Nesse bloco de comentários, a usuária Bárbara começa a conversa ao
marcar João Marcos, seu conhecido, através do link da página deste no
Facebook. A troca de turno se deu em 4 minutos a partir do comentário
resposta do amigo. Apenas após 1 minuto, Bárbara responde a João. O tempo
de resposta se aproxima de um chat on-line, em que pessoas respondem umas
às outras em um curto espaço de tempo.


A partir dos comentários estudados, chega-se ao seguinte padrão de
realização:


se trata de uma situação discursiva informal;


dá-se de forma espontânea;


tem como tema algum assunto relativo à tira sobre a qual se
está falando;


requer certo grau de preparo para sua realização (entendimento
da tira);


seus participantes são amigos ou conhecidos usuários da rede
social;


links possibilitam inúmeras conexões por parte dos leitores de
um comentário.


Foram observadas, nos eventos comunicativos selecionados para
análise, as seguintes finalidades dos comentários:


1) comentários sobre o tema da tira (incluindo risadas e
emoticons);


2) comentários resposta (comentários sobre comentários da tira);


3) comentários marcadores (somente apresentam link a um usuário da
página em sua constituição).


Foram 89 comentários computados para análise. Destes, 77 foram sobre
o tema, 49 comentários resposta (presença somente de um link) e 12
marcadores. Chegou-se, portanto, a uma divisão percentual da finalidade dos
comentários analisados:








Figura 17. Divisão percentual da finalidade dos comentários





No anexo corpus, apresentamos as tiras analisadas e seus respectivos
comentários, com indicações de tipo de finalidade 1, 2 e/ou 3.


Considerações finais


Este estudo teve como foco de análise a interação entre usuários da
rede Facebook na página Este é alguém, a qual motiva conversa entre seus
seguidores por meio de tiras cômicas que apresentam tópicos como
comportamento de pessoas na rede social ou do cotidiano. Para tal, utilizou-
se de conceitos da Linguística Textual e de pesquisadores que estudaram a
linguagem e os gêneros dos quadrinhos, em particular a tira cômica.


As histórias da página Este é alguém se aproximam de forma
significativa de tiras cômicas impressas no tocante à comicidade e os
comentários atestam este dado. No que se diz respeito à forma, há a
predominância do formato vertical, o qual difere da forma horizontal do
impresso. A partir de estudos de Ramos (2015), conclui-se que, devido à
comicidade presente nas tiras, as que aparecem na página não são de um novo
gênero, mas, sim, uma apropriação do impresso e recriação no ambiente
virtual.


Além disso, chegou-se à conclusão de que o Facebook é a mídia pela
qual usuários participam de uma conversa on-line no campo de comentários, a
qual é motivada pela tira da postagem. Na página estudada, estas conversas
têm, em sua maioria, uma relação com tema tratado na tira cômica, isto é,
56% dos comentários. 35% das interações analisadas são comentários resposta
a uma marcação em outro, enquanto 9% são comentários marcadores, ou seja,
só contêm um link a um usuário em sua constituição.


Por fim, concorda-se com a fala de Carvalho e Kramer (2013): "as
redes sociais têm como grande pressuposto-base de existência a
preponderância da interacionalidade na construção ou troca de informações"
(op. cit., p. 80). Esta interação ocorre entre leitores, os quais não são
passivos, eles participam da elaboração da mensagem (op. cit., p. 80).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES FILHO, Francisco. SANTOS, Elaine Pereira. Relações dialógicas e a
construção de sentido no gênero comentário online. FSA, Teresina, v.9, n.2,
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BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad.: Paulo Bezerra. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.

BONINI, Adair. Mídia/suporte e hipergênero: os gêneros textuais e suas
relações. RBLA, Belo Horizonte, v. 11, n. 3, p. 679-704, 2011. Disponível
em: www.scielo.br/pdf/rbla/v11n3/05.pdf. Acesso em: 05 abr. 2015

CAMPI, Mônica. Página brinca com comportamentos no Facebook e chega a 1 mi.
Tecnologia, Revista Exame, São Paulo, nov. 2013. Disponível em:
Acesso em: 05 abr. 2014.

CARVALHO, Nelly; KRAMER, Rita. A linguagem no Facebook. In: Linguística da
internet. São Paulo: Contexto, 2013. p. 77-92.

CAVALCANTE, Mônica Magalhães; CUSTÓDIO FILHO, Valdinar. Revisitando o
estatuto do texto. In: Revista do Gelne. Piauí: 2010, v.12, n. 2.
Disponível em: <
http://gelne.org.br/RevistaGelne/arquivos/artigos/art_db2888efea30bcee2b1f1d
e9ec110f 3e_233.pdf > Acesso: 28 fev. 2014.

ELIAS, Vanda Maria. HQ e leitura na mídia social digital: porque comentar é
preciso. In: Quadrinhos sob diferentes olhares teóricos. Vitória: PPGEL-
UFES, 2014.

FÁVERO, Leonor Lopes. ANDRADE, Maria Lúcia da Cunha V. de Oliveira. AQUINO,
Zilda Gaspar Oliveira. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de
língua materna. São Paulo: Cortez, 2000.

GOMES, Luiz Fernando. Hipertextos multimodais: leitura e escrita na era
digital. Jundiaí: Paco Editorial, 2010.

____________. Hipertexto no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2011.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012a.

____________. Estratégias de referenciação em textos multimodais: uma
aplicação em tiras cômicas. Linguagem (Dis)curso. Tubarão, SC, v. 12, n.
13, p. 743-763, set. dez. 2012. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/ld/v12n3/a05v12n3.pdf> Acesso: 27 fev. 2015.

____________. Tiras cômicas em suportes digitais. No prelo.

SILVA, Gilherme de Léo. Arte e cultura dos memes. Polêm!ca, v. 11, n. 1,
jan./mar. 2012.

XAVIER, Antonio Carlos. A era do hipertexto: linguagem & tecnologia.
Recife: Editora da UFPE, 2009.

ANEXO - Corpus

Tira 1







Bloco de comentários 1



1.






1.2



1.3



1.4





Vemos que a tira 1 apresenta um personagem, Felipe, que tem o
comportamento de não realizar tarefas importantes e ir dormir. De forma
cômica, sonhar é entendido por Felipe como ter sonhos ao dormir, e não em
seu sentido esperado no primeiro quadrinho, de querer que algo aconteça na
vida.

Dos nove comentários, todos comentam o tema da tira. Cinco dos
comentários são comentários resposta. Não houve comentários marcadores.



Tira 2





Bloco de comentários 2



2.1





2.2



2.3





2.4





A tira 2 apresenta uma conversa da persongem Rayane com sua
professora. Ao pedir que a aluna faça uma frase em inglês. De forma cômica,
esta formou a frase "Pick a shoe choque de trovão, agora", sendo "pick a
shoe" uma referência a Pikachu, um personagem de um desenho animado chamado
Pokemón. Ao pronunciar "pick a shoe" e "Pikachu", temos o mesmo som. Para
que a tira faça sentido, é preciso saber pronunciar a "pick a shoe" e fazer
inferência ao personagem de Pokémon.

Dos oito comentários, cinco comentam sobre tema da tira. Quatro dos
comentários são comentários resposta e três são marcadores.



























Tira 3





Bloco de comentários 3

3.1





3.2





3.3





3.4






A tira apresenta um empregador e um empregado afim de ironizar o
comportamento das pessoas que respondem mal ao chefe. No desfecho, Pedro, o
empregado, é demitido.


Dos dez comentários, nove comentam sobre tema da tira. Seis dos
comentários são comentários resposta e somente um é comentário marcador.




























Tira 4





Bloco de comentários 4

4.1





4.2







4.3





4.4







A tira 4 nos apresenta a personagem Brenda que está apaixonada e
posta sobre isso na rede social. Há também um personagem sem nome no
segundo quadrinho, que pode ser entendido como o próprio autor. O humor se
dá pela troca de sentido do pronome "ele", de algum menino pelo qual Brenda
se apaixonou, pelo de piolho, entendido por inferência a partir Escabin,
medicamento usado para eliminação de piolhos.


Dos nove comentários, sete comentam sobre tema da tira. Cinco dos
comentários são comentários resposta e dois são comentários marcadores.


























Tira 5








Bloco de comentários 5



5.1






5.2


















5.3






5.4







Alan, apaixonado, saiu com uma garota, mas, no desfecho cômico, ela
postou uma foto com ele com a legenda "passeio com o best", isto é, passeio
com o melhor amigo.


Dos nove comentários, sete comentam sobre tema da tira. Cinco dos
comentários são comentários resposta e dois são comentários marcadores.














































Tira 6









Bloco de comentários 6




6.1






6.2















6.3






6.4






6.5









A explicação de que o verbo sair é um verbo intransitivo e não precisa
de complemento é usado pelo personagem como desculpa para não dizer para
onde ele vai à sua mãe. A comicidade está em usar esse artifício, mas,
mesmo assim, Denis não se sai bem e apanha de sua mãe.
Dos dez comentários, oito comentam sobre tema da tira. Cinco dos
comentários são comentários resposta e dois são comentários marcadores.






























Tira 7









Bloco de comentários 7




7.1







































7.2









7.3









Esta tira apresenta um diálogo entre dois personagens, que não são
nomeados, apresentando a situação cotidiana de pessoas que visualizam uma
mensagem, entretanto não a respondem. O desfecho cômico se dá no segundo
quadrinho, em que o personagem atribui à culpa a seu cachorro.
Dos sete comentários, todos comentam sobre tema da tira. 4 dos
comentários são comentários resposta e não houve comentários marcadores.










































Tira 8











Bloco de comentários 8

8.1




















8.2









8.3









8.4










A tira 8 nos apresenta o personagem Daniel, que não acredita quando
uma garota responde sim a seu pedido para sair. Mesmo ao final da conversa,
o personagem ainda não acredita que é a resposta é afirmativa.


Dos onze comentários, dez comentam sobre tema da tira. 7 dos
comentários são comentários resposta e apenas um é um comentário marcador.

















Tira 9








Bloco de comentários 9




9.1









9.2









9.3









9.4









Nessa tira, vemos um diálogo entre a professora e seu aluno Junior.
Este responde de forma mal-educada à professora e acaba sendo suspenso.
Dos oito comentários, todos comentam sobre tema da tira. Quatro dos
comentários são comentários resposta e não há comentário marcador.


Tira 10


Bloco de comentários 10




10.1












10.2









10.3









10.4






















Jorge, na tira 10, discorda com as pessoas que dizem que o amor é
aquilo que te decepciona todo mês. De forma cômica, o autor apresenta que
Jorge é diferente, que o salário é a causa de decepção mensal.


Dos oito comentários, sete comentam sobre tema da tira. Quatro dos
comentários são comentários resposta e há apenas um comentário marcador.



-----------------------

[1] CAMPI, Mônica. Página brinca com comportamentos no Facebook e chega a 1
mi. Tecnologia, Revista Exame, São Paulo, nov. 2013. Disponível em:
Acesso em: 05 abr. 2014.

[2] Disponível em: Acesso: 05
abr. 2014.
[3] Veja, 8 fev. 2012 (edição 2.255/2012 45/n.6).
[4] Disponível em:
htps://www.comscore.com/por/Insights/Press_Releases/2012/1/Facebook_Blasts_i
nto_Top_Position_in_Brazilian_Social_Networking_Market> Acesso em: 05 abr.
2014.
[5] Por motivos de preservação de imagem, optamos por não deixar visível a
foto e o sobrenome dos usuários. Mantivemos, no entanto, o primeiro nome,
para fins de clareza na análise.


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Comentários tipos 1 e 2



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