Toda a História é História Contemporânea - Benedetto Croce

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Teoria da História TP1 Discente: Mário Oliveira, N.º 50366 Docente: Prof. Doutor Sérgio Campos Matos Ano Letivo: 2015/2016

CROCE (1860-1952) Análise Textual GARDINER, Patrick, Teorias da História, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995, pp. 274-292.

29 DE ABRIL DE 2016 akifrases.com

Introdução: Benedetto Croce nasceu em Pescasseroli, Áquila a 25 de Fevereiro de 1866 acabando por morrer em Nápoles a 20 de Novembro de 1952. Foi um filósofo e historiador, estudou em Nápoles, foi senador e em 1920-1921 foi Ministro da Educação. O Fascismo era contra as suas convicções e isso veio a pô-lo de parte da vida politica. Em 1947, foi nomeado membro honorário da Accademia dei Lincei e no mesmo ano ele fundou em Nápoles o Instituto Italiano de Estudos Históricos. Foi frequente, Croce misturar o senso comum com um filosofar idealista e tendo uma maneira desorganizada de expor as suas ideias, dificulta muito a interpretação das suas obras.1

Análise: Estamos perante um texto de análise historiográfica, mais concretamente de como se deve ver a história, em certos momentos assume também um cariz crítico. Nos seus primeiros escritos, ensaios, Croce indica que a atividade do historiador deve ser comparada à de um artista, mais do que a um cientista. Tanto o historiador como o artista procuram compreender os objetos de estudo nas suas singularidades, particularidades enquanto os cientistas tentam classificar eventos em determinadas categorias abstratas, eles têm tendência a encaram eventos como leis universais. Croce assim pretende distinguir o conhecimento histórico do científico. Não é por haver esta distinção que não é útil ver conceito do modo científico, estes permitem formular teorias e hipóteses sobre o mundo. É verdade que não atribui a estes conceitos nem veracidade nem falsidade, de certo modo abastem-se, para Croce o conhecimento verdadeiro está ligado ao conhecimento histórico. Um historiador na sua função vive de novo os acontecimentos em estudo, aos olhos de Croce é necessário que isso aconteça, não se pode limitar a um mero trabalho de cronista. Possivelmente na minha opinião este será o maior problema na minha ótica, isto porque ao viver de novo os acontecimentos sem haver determinada distanciação estaremos porventura a condicionar e a interpretar incorretamente certos conhecimentos por condicionalismos do presente. O Historiador na minha opinião tem de ser capaz de ver a história com os olhos do passado, isto pode-se ver bem quando se estuda o imaginário medieval, é óbvio que atualmente podemos achar tudo invenção e não conferir grande grau de importância mas isso não importa, o Homem Medieval acredita e é isso que interessa, temos de nos focar no acontecimento e no contexto em que ele ocorreu, temos de olhar com olhos do passado e não do presente. Isto é algo que iremos abordar mais à

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Vide: http://www.treccani.it/enciclopedia/benedetto-croce/

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frente, até porque outros historiadores são contra também, à teoria de Croce que toda a história é contemporânea. Retomando a teoria de Croce, para ele a verdadeira história é a história contemporânea, toda a história é contemporânea muito possivelmente por ser no momento presente que o historiador analisa a história e se é no presente é contemporânea porque se olha para o passado com olhos do presente. Podemos justificar isto com uma passagem de Croce; “a necessidade prática, que está no fundo de cada juízo histórico, confere a cada história o caráter de história contemporânea, pois, por remotos ou remotíssimos que cronologicamente nos pareçam os fatos que admitimos, a história, em realidade, sempre se refere à necessidade e à situação presentes, nas quais os fatos propagam sua reverberação.”2. Temos de ser objetivos quando analisamos a história, em primeiro lugar já são bastante polémicas as balizas cronológicas que se criaram na história, diferenciar história moderna de contemporânea é um caso disso, se formos a ver, modernidade, terminologicamente refere-se a atos do presente, mas segundo esta teoria historiográfica em que nos inserimos, história moderna é passado, isto porque a contemporaneidade é o mais atual que temos. No texto vemos algo complicado de analisar, ao mesmo tempo que vemos que toda a histórica é contemporânea, também vemos que a história contemporânea é o que acontece atualmente ou num passado recentíssimo e toda a outra, é história não contemporânea, logo o próprio texto também passa um conceito diferente de que nem toda a história é contemporânea. São neste seguimentos que vemos bem explicito o olhar critico de quem redigiu o texto e do quanto complicado é de o analisar. Agora veremos como se constrói a história na ótica do autor. Para Croce a história constrói-se a partir de documentos, não de narrativas a não ser que elas tenham sido reduzidas a documentos e sejam provas apalpáveis. É necessário um interesse pela vida do presente para que se possa investigar determinados factos do passado, é algo que não se pode desligar, têm de estar em comunhão segundo o autor. Deste seguimento surge a denomina magistral vitae como constituinte da razão. Retomando a questão da contemporaneidade, Croce indica que esta questão é um fator intrínseco de toda a história e não de uma classe de histórias, que falar de história onde as provas, os documentos não existem ou não se possuem é admitir que a existência de algo que ao mesmo tempo não precisa de elementos fundamentais à sua existência. De certo modo temos de concordar, já é difícil em certos casos conferir veracidade a determinados documentos do nosso passado, se formos a tomar como verdadeiro narrativas

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Vide: https://www.academia.edu/1058979/Horvat_Patricia._A_HIST%C3%93RIA_COMO_ARTE_EM_BENEDET TO_CROCE_-_Patricia_Horvat

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estamos em volta de um grande problema porque é algo que não se pode conferir, não se sabe até que ponto foi alterado na passagem desses testemunhos ao longo do tempo. Para o autor só é história quando há interesse em determinados assuntos que se queiram estudar, todos os outros que não nos mostrem interesse não é história, história tem de interessar para ser considerado história, tem de ser investigado consoante as nossas necessidades espirituais, caso contrário será um mero título de obras passadas. “A mera narrativa mais não é, por conseguinte, do que um complexo de palavras ou fórmulas vazias, asseverado por um ato de vontade.”3 Toda a história que esteja separada de documentos/objetos que a comprovem são fazias, carecem de verdade. São verdadeiras para os que ouvem, os que viram, não para os historiadores, para eles não é verdade nem mentira até algo ser provado. Partindo para outra questão do texto, vemos agora se a História é anterior à Crónica. Isto no fundo é um estudo sem grande rumo, sem grande interesse, até porque segundo Croce, o que se tem tentado procurar são diferenças na qualidade dos factos que cada conceção tomou para si. Podíamos estar a distinguir o que cada um analisa mas não é o que importa. O que interessa é que tanto a crónica como a história se complementam. Segundo o autor podemos atribuir à Crónica a história morta, do passado, a algo que não é pensado, e História, todo o pensamento presente, a dita história contemporânea. “Primeiro a História, depois a Crónica”.4 É assim que se pode ver esta problemática. Agora vamos para outro ponto. “O Próprio Espirito é História”.5 Nesta conceção Croce pretende mostrar que o Espirito humano é de certo modo uma biblioteca de narrativas, crónicas, uma caixa de lembranças, logo por sua vez faz parte da história, é um elemento de estudo, verdade que não é nenhum documento, mas preserva lembranças, promove o estudo. Concordo com esta passagem, até porque se formos a ver, o interesse pela história, pela investigação parte pela vontade humana, uma vontade espiritual por assim dizer que nos leva a estudar a história morta, as crónicas, os resíduos do passado como Croce fala. O espirito torna presente o passada. “Os Romanos e os Gregos jazeram nos seus sepulcros até que o Renascimento os despertou”6. Com isto vemos que o espirito que se vivia no renascimento, a vontade humana da altura levou a ressuscitar uma história antiga, neste caso clássica. O que é passado ou crónica para nós, e

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Vide: GARDINER, Patrick, Teorias da História, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995, p. 280. 4

Vide: IDEM, Ibidem, p. 281. Vide: IDEM, Ibidem, p. 281. 6 Vide: IDEM, Ibidem, p. 282. 5

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que não nos mostra interesse, poderá noutra altura ser ressuscitado por uma vontade espiritual de determinado individuo ou grupo. Acabando a análise com o ultimo ponto, “O Determinismo Histórico e a Filosofia da História”, podemos ver que Croce pensava que a história era filosofia e a filosofia era história, e não se podia fazer uma sem a outra. Ele defendia que o conteúdo concreto da filosofia era histórico. Croce apoia-se em Kant em certo ponto quando dá a entender que os juízos da história “são os juízos sintéticos a priori, i.e., movem-se nos termos dos conceitos gerais explanados na filosofia”. 7 São métodos enraizados nas conceções filosóficas que permitem um olhar crítico ao historiador. Como oposição à teoria de Croce, temos Fustel de Coulanges (1830-1889), historiador francês que de 1860 a 1870 foi professor de História na Faculdade de Letras da Universidade de Estrasburgo, Sorbonne e outras8. Toda a história é contemporânea na ótica de Croce mas para Fustel (na obra Le XIXe siècle et l’histoire) e para mim é preciso romper com o presente. É preciso largar o presente e entrar em comunhão com o passado para melhor interpretação histórica, sem condicionalismos que são vários. É uma tarefa que é quase impossível porque são tempos diferentes, vivências distintas mas é nisto que reside o trabalho do historiador e é aqui que está plasmada a dificuldade deste ofício. Para Hegel a história pode ser vista como contemporânea porque o Espirito a atualiza enquanto razão.9

Conclusão: Vendo só a teoria de Croce é difícil criar uma conclusão sobre a temática principal (toda a história é contemporânea), muito possivelmente pelo género de escrita escolhida pelo autor, quando refutamos por exemplo com Fustel de Coulanges mais difícil se torna porque falamos de teorizações diferentes e daqui nasce um sentido critico. A historiografia é de difícil análise e só quando peguei em Hegel e Coulanges é que pude ver que se pode aceitar esta teoria de que toda a história é contemporânea mas não é uma lei universal e cada um pode-se assumir como preferir, no meu caso prefiro a teoria de Fustel, mesmo que Jules Michelet relembre que os historiadores quando estudam o passado transformam-no novamente em presente e que Jean Chesneaux e outros vejam o estudo do passado como estudo do próprio presente.10

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Vide: https://www.academia.edu/1058979/Horvat_Patricia._A_HIST%C3%93RIA_COMO_ARTE_EM_BENEDET TO_CROCE_-_Patricia_Horvat 8 Vide: http://www.britannica.com/biography/Numa-Denis-Fustel-de-Coulanges 9 Vide: http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/oHistoriadorSeuTempo.pdf 10 Vide: http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/oHistoriadorSeuTempo.pdf

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BIBLIOGRAFIA: 1.1. Obras de Referência: 

GARDINER, Patrick, Teorias da História, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995, pp. 274-292.

1.2. Sitiografia: 

http://www.treccani.it/enciclopedia/benedetto-croce/[Consultado: 26/04/2016].



https://www.academia.edu/1058979/Horvat_Patricia._A_HIST%C3%93RIA_COMO_AR TE_EM_BENEDETTO_CROCE_-_Patricia_Horvat [Consultado:27/04/2016].



http://www.britannica.com/biography/Numa-Denis-Fustel-de-Coulanges [Consultado: 27/04/2016].



http://historia.fflch.usp.br/sites/historia.fflch.usp.br/files/oHistoriadorSeuTempo.pdf [Consultado: 25/04/2016].

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