4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002-2010)
MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva
FICHA TÉCNICA MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série TÍTULO
4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002 – 2010) EDIÇÃO
EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva DRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo COORDENAÇÃO EDITORIAL
António Carlos Silva Frederico Tátá Regala Miguel Martinho DESIGN GRÁFICO
Luisa Castelo dos Reis / VMCdesign PRODUÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO
VMCdesign / Ligação Visual TIRAGEM
500 exemplares ISBN
978-989-98805-7-3 DEPÓSITO LEGAL
356 090/13
Memórias d’Odiana • 2ª série
FINANCIAMENTO
EDIA - Empresa de desenvolvimento e infra-estruturas do Alqueva INALENTEJO QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional Évora, 2014
ÍNDICE 9
INTRODUÇÃO
11
PROGRAMA
15
LISTAGEM DOS PÓSTERES APRESENTADOS
17
CONFERÊNCIAS
19
“Alqueva – Quatro Encontros de Arqueologia depois...”. António Carlos Silva
34
“O património cultural no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva: caracterizar, avaliar, minimizar, valorizar …”. Miguel Martinho
45
“O Acompanhamento no terreno do Projecto EFMA na área da Extensão de Castro Verde do IGESPAR”. Samuel Melro, Manuela de Deus
53
COMUNICAÇÕES
55
“Um mundo em negativo: fossos, fossas e hipogeus entre o Neolítico Final e a Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana (Brinches, Serpa)”. António Carlos Valera, Ricardo Godinho, Ever Calvo, F. Javier Moro Berraquero, Victor Filipe e Helena Santos
74
“Intervenção arqueológica em Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (2008-2010): resultados preliminares e programa de estudos”. Raquel Santos, Paulo Rebelo, Nuno Neto, Ana Vieira, João Rebuje, Filipa Rodrigues, António Faustino Carvalho
83
“Contextos funerários na periferia do Porto Torrão: Cardim 6 e Carrascal 2”. António Carlos Valera, Helena Santos, Margarida Figueiredo e Raquel Granja
96
“Intervenção Arqueológica no sítio de Alto de Brinches 3 (Reservatório Serpa – Norte): Resultados Preliminares”. Catarina Alves, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra
103
“Caracterização preliminar da ocupação pré-histórica da Torre Velha 3 (Barragem da Laje, Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra, António M. Monge Soares, Marta Moreno-Garcia
112
“Questões e problemas suscitados pela intervenção no Casarão da Mesquita 4 (S. Manços, Évora): da análise intra-sítio à integração e comparação regional”. Susana Nunes, Miguel Almeida, Maria Teresa Ferreira, Lília Basílio
119
“Um habitat em fossas da Idade do Ferro em Casa Branca 11, na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa”. Susana Rodrigues Cosme
125
“Poço da Gontinha 1 (Ferreira do Alentejo): resultados preliminares”. Margarida Figueiredo
132
“Currais 5 (S. Manços, Évora): diacronia e diversidade no registo arqueoestratigráfico”. Susana Nunes,; Mónica Corga, Miguel Almeida, Lília Basílio ÍNDICE
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5
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6
137
“A villa romana do Monte da Salsa (Brinches, Serpa): uma aproximação à sua sequência ocupacional”. Javier Larrazabal Galarza
145
“Dados para a compreensão da diacronia e diversidade do registo arqueológico na villa romana de Santa Maria”. Mónica Corga, Maria João Neves, Gina Dias, Catarina Mendes
155
“A pars rústica da villa da Insuínha 2, freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira”. Susana Rodrigues Cosme
162
“A villa da Herdade dos Alfares (São Matias, Beja) no contexto do povoamento romano rural do interior Alentejano”. Mónica Corga, Miguel Almeida, Gina Dias, Catarina Mendes
171
“A necrópole de incineração romana da Herdade do Vale 6, freguesia e concelho de Cuba”. Susana Rodrigues Cosme
178
“Necrópole romana do Monte do Outeiro (Cuba)”. Helena Barranhão
185
“O conjunto sepulcral do Monte da Loja (Serpa, Beja)”. Sónia Cravo e Marina Lourenço
191
“O sítio de São Faraústo na transição da Época Romana para o Período Alto-Medieval, freguesia de Oriola, concelho de Portel”. Susana Rodrigues Cosme
197
“O sítio romano da Torre Velha 1. Trabalhos de 2008-09 (Barragem da Laje, Serpa)”. Adriaan De Man, Eduardo Porfírio, Miguel Serra
203
“Análise preliminar dos contextos da Antiguidade Tardia do sitio Torre Velha 3 (Barragem da Laje - Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra
212
“A Necrópole de São Matias, freguesia de São Matias, concelho de Beja”. Susana Rodrigues Cosme
219
“Xancra II (Cuba, Beja): resultados preliminares da necrópole islâmica”. Sandra Brazuna, Ricardo Godinho
225
“Funchais 6 (Beringel, Beja) – resultados preliminares”. Manuela Dias Coelho, Sandra Brazuna
231
PÓSTERES
233
“Primeiros resultados da intervenção arqueológica no sítio Torre Velha 7 (Barragem da Laje - Serpa)”. Adriaan De Man, André Gregório, Eduardo Porfírio, Miguel Serra
237
“A Torre Velha 3 (Serpa) no espaço geográfico. Uma abordagem morfológica de um “sítio” arqueológico”. Miguel Costa, Eduardo Porfírio, Miguel Serra
242
“O contributo da Antropologia para o conhecimento das práticas funerárias pré e proto -históricas do sítio de Monte da Cabida 3 (São Manços, Évora)”. Maria Teresa Ferreira
246
“Villa Romana da Mesquita do Morgado (S. Manços, Évora): considerações acerca das práticas funerárias”. Maria Teresa Ferreira
ÍNDICE
“Monte da Palheta (Cuba, Beja): dados para a caracterização arqueológica e integração do sítio à escala regional”. Mónica Corga, Gina Dias
256
“Aldeia do Grilo (Serpa): contributos para o estudo do povoamento romano na margem esquerda do Guadiana”. Carlos Ferreira, Mónica Corga, Gina Dias, Catarina Mendes
261
“Resultados preliminares de uma intervenção realizada no sítio Parreirinha 4 (Serpa)”. Carlos Ferreira, Susana Nunes, Lília Basílio
267
“Depósitos cinerários em Alpendres de Lagares 3”. Maria Teresa Ferreira, Mónica Corga, Marta Furtado
271
“Workshop Dryas’09: Estruturas negativas da Pré e Proto-história peninsulares – estado actual dos nossos conhecimentos... e interrogações”. Miguel Almeida, Susana Nunes, Maria João Neves, Maria Teresa Ferreira
276
“Intervenção arqueológica na Horta dos Quarteirões 1, Brinches, Serpa”. Helena Santos
280
“A Intervenção Arqueológica no Monte das Covas 3 (S. Matias, Beja): Os contextos romanos de época republicana”. Lúcia Miguel
284
“O Sítio do Neolítico antigo da Malhada da Orada 2 (Serpa): resultados preliminares”. Ângela Guilherme Ferreira
289
“Intervenção arqueológica nas necrópoles do Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2”. Andrea Martins, Gonçalo Lopes, Marisa Cardoso
7
ÍNDICE
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250
“A TORRE VELHA 3 (SERPA) NO ESPAÇO GEOGRÁFICO. UMA ABORDAGEM MORFOLÓGICA DE UM “SÍTIO” ARQUEOLÓGICO”. MIGUEL COSTA125, EDUARDO PORFÍRIO126, MIGUEL SERRA127 Resumo No âmbito dos trabalhos de escavação realizados pela Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda. no sítio Torre Velha 3, durante a execução do projecto Minimização de Impactes sobre o Património Cultural decorrentes da Construção da Barragem da Laje (Serpa), da responsabilidade da EDIA S.A., efectuou-se um estudo morfológico ao vale do Barranco da Laje. A morfologia estuda as formas da paisagem e suas interrelações, bem como a sua evolução histórica, socorrendo-se para tal de técnicas da foto-interpretação, conjugadas com documentação de índole histórico-arqueológica. A análise morfológica constatou a grande área de dispersão do sítio Torre Velha 3 e permitiu caracterizar as interrelações existentes entre as formas da paisagem e os sítios arqueológicos já identificados.
Abstract Palimpsesto – Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda. managed a archaeological excavation at Torre Velha 3 under the project Minimização de Impactes sobre o Património Cultural decorrentes da Construção da Barragem da Laje (Serpa), EDIA S.A. In sequence, a landscape morphological study of the valley of the Barranco da Laje is accomplished. The morphology science, studies the landscape shapes and their interrelationships, as well as its historical evolution. Techniques of photo interpretation are used, combined with historical and archaeological documentation. Morphological analysis confirmed a large dispersion area to the site Torre Velha 3 and characterized the interrelations between the forms of landscape and other archaeological sites.
Introdução
$UTXHyORJR0HVWUHHP$UTXHRJHRJUDÀDSHOD)/8& Palimpsesto, Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda. Apartado 4078, 3031 – 901 Coimbra, Portugal. (
[email protected]) 127 Palimpsesto, Estudo e Preservação do Património Cultural, Lda. 125 126
PÓSTERES
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A construção da Barragem da Laje (Herdade da Torre Velha, Serpa), no âmbito do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, a cargo da EDIA, S.A, implicou a execução do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), conforme está estabelecido na legislação em vigor (Decreto Lei 197/2005 de 8 de Novembro) (Figura 1). O EIA/Vertente Patrimonial foi executado com as metodologias previstas na actual lei. A prospecção arqueológica recorrendo a batidas de campo, e a pesquisa das ocorrências existentes na bibliografia, são as práticas utilizadas para uma boa metodologia de execução de um EIA; de forma que este documento possa revelar uma parte da ocupação antrópica do espaço afectado pela construção de uma grande obra pública – como se verifica neste caso específico (Figura 2). O EIA revelou um total de 9 ocorrências arqueológicas, das quais destacamos o sítio denominado Torre Velha 3 (TV3) que podia “…corresponder a um casal de cronologia romana…”, cronologia que os materiais arqueológicos identificados à superfície confirmavam (NEMUS, Figura 1 – Vista geral do sítio Torre Velha 3. 2005 e 2008) (Figura 3).
Figura 2 – Local de construção da Barragem da Laje (Fonte: EDIA).
)LJXUD²/RFDOL]DomRGDiUHDGHLQWHUYHQomRFRPUHIHUrQFLD jLQIUDHVWUXWXUDGD%DUUDJHPGD/DJHQD&DUWD0LOLWDU folha número 523 (Fonte EDIA).
Contudo, os trabalhos de sondagens de avaliação adjudicados à empresa Palimpsesto, Lda., indiciavam uma realidade mais complexa que foi confirmada na fase seguinte, com a execução de uma escavação arqueológica em área, abrangendo um total de 13 996 m², que permitiu registar várias ocupações neste espaço, desde o calcolítico até ao período islâmico, com presença de importantes contextos do Bronze Pleno e indícios de uma ocupação menos extensa da Iª Idade do Ferro (ALVES et alli, 2009; 2010 a, b; 2013, ESTRELA et alii, 2012). A esmagadora maioria dos contextos intervencionados, das diferentes fases de ocupação, reportam-se sobretudo a estruturas em cota negativa, de tipologia variada. Aparentemente, os resultados dos dois métodos utilizados, a prospecção arqueológica e a escavação científica, são divergentes. No entanto, a constatação da existência de um contexto tardo-antigo, vem validar, ainda que parcialmente, os resultados das prospecções arqueológicas.
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Durante o processo de escavação arqueológica, ensaiámos neste espaço as metodologias de foto-interpretação (PICARRETA, CERAUDO, 2000) que revelaram mais dados sobre este assentamento. Após a interpretação de fotografias aéreas que concernem a este local, a percepção mudou. As metodologias da foto-interpretação permitiram visualizar formas arqueológicas soterradas, e também observar o espaço perspectivando múltiplas escalas. As escalas de observação são obviamente distintas; e os programas informáticos125 utilizados neste processo metodológico apresentam uma grande diversidade de opções de visualização realçando as paleo-formas126. Passamos da visão do local arqueológico - na sua micro-escala, para uma observação de macro-escala - que nos permite visualizar o sítio arqueológico e a sua envolvente geográfica. As mudanças de escala de observação possibilitam que se relacione o assentamento arqueológico com o espaço circundante. Podemos aplicar as metodologias de foto-interpretação não só a fotografias pré-adquiridas, mas também directamente no portal “Google earth” que permite um estudo regressivo, por conter fotografias de diferentes períodos na sua função: “imagens históricas” (COSTA, 2010: 31). Numa primeira abordagem metodológica foi possível observar uma grande concentração de inúmeras paleo-formas, que são visíveis nas fotografias pelo contraste entre diversas tonalidades que o solo apresenta. Algumas destas paleo-formas correspondem às estruturas em cota negativa alvo de intervenção arqueológica. Este processo de foto-interpretação permitiu-nos observar que a dispersão das estruturas identificadas nas fotografias ocupa uma área de grandes dimensões (aproximadamente 200 000 m²) e bastante superior à área objecto de escavação (13 996 m²). Esta constatação, e a validação dos dados da fotografia aérea pela arqueologia - ao confirmar que formas identificadas pelas fotos correspondem a estruturas arqueológicas - permite-nos inferir uma vasta área de dispersão das estruturas arqueológicas.
125 126
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PÓSTERES
O conhecimento destes factos permite, sem dúvida, notar que esta metodologia pode contribuir para melhor planear intervenções no âmbito dos EIA, ao revelar um melhor conhecimento do território; como já teria permitido uma melhor percepção do espaço nesta intervenção arqueológica (Figura 4).
$UTXHRJHRJUDÀD O processo metodológico da morfologia dinâmica postula que se devem estudar os traços materiais existentes na paisagem, sem pré-conceber inferências funcionais ou cronológicas a estes traços. Assim, esta disciplina pretende ser uma metodologia isenta de preconceitos históricos ou historiográficos sobre os sítios arqueológicos, que pré-determinem a investigação direccionando-a para o que se pretende encontrar128. E, nessa medida, é um método útil à arqueogeografia porque não pretende provar inferências historiográficas; mas sim, cartografar primeiro as ocorrências arqueológicas e posteriormente, a partir desses dados, entender o Figura 4 – “Estruturas negativas” tipo fossa. espaço geográfico. Esta disciplina estuda o espaço geográfico, e desta maneira contribui para o conhecimento das sociedades passadas. No entanto, entende que o modelo estratigráfico, perfeitamente adaptado às metodologias da arqueologia, não se aplica ao estudo das paisagens porque estas não são uma sucessão de camadas; e nessa medida, defende um diferente paradigma epistemológico, no qual o conceito de paisagem palimpsesto não é conveniente ao estudo do espaço geográfico. Esta disciplina postula que as formas da paisagem devem ser estudadas em diferentes escalas (CHOUQUER, 2000: 143), e que o modelo metodológico deve comportar a adição e comparação de dados provenientes de distintas disciplinas científicas (CHOUQUER, 2007). Este processo metodológico recorre, não só, às fotografias aéreas, mas também a outro tipo de documentos gráficos, tais como cartas militares, cadastros, assim como a documentos arqueológicos e históricos. Procede à adição do maior número possível de dados, elaborando um novo documento constituído pela compilação desta informação em base de dados georreferenciada, o qual Sandrine Robert denominou: “carta compilada”129 (ROBERT, 2003). Ao realizar a cartografia da região, assinalando as formas actualmente visíveis na paisagem (formas activas) e as paleo-formas, pretende-se estabelecer uma rede de interacções na paisagem, e perceber como as formas se articulavam em rede (CHOUQUER, 2000: 137) (Figura 5 e 6). Assim, são as mudanças de escala que permitem perceber o “sítio” e a sua envolvência.
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128 129
Figura 6 – Área aproximada de dispersão das “estruturas negativas” tipo fossa.
Metodologia denominada: “morfologia histórica”, distinta da “morfologia dinâmica” (CHOUQUER, 2000). “Carte compilé”, no original.
PÓSTERES
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)LJXUD²&DUWDFRPSLODGDGDVHQYROYrQFLDVGRVtWLRGD7RUUH )LJXUD²&DUWDFRPSLODGDGDVHQYROYrQFLDV do sítio da Torre Velha 3. Velha 3.
Tendo consciência que as formas podem assumir diferentes funções ao longo do tempo (uma antiga via romana pode actualmente apresentar funções diversas, como por exemplo, subsistir como troço de uma via actual, ou como troço de um actual limite parcelário, ou ainda, estar completamente invisível a olho nu, sendo observável unicamente através da fotografia aérea como paleo-forma). Daqui se deduz que as formas antigas podem actualmente revelar-se-nos de diversas maneiras; cada uma tem o seu próprio tempo morfológico interno (CHOUQUER, 2007: 271), diferente das demais; mantendo ou alterando as funções para as quais foi criada. Esta diversidade e dinâmica das formas levam-nos a entender a paisagem como algo de dinâmico - não estático, em sequência recusamo-nos a aplicar o paradigma da paisagem palimpsesto (CHOUQUER, 2000: 26), modelo segundo o qual a paisagem é concebida em camadas, em que a camada superior (contemporânea) cobre a camada inferior (de um período anterior). Entendemos que o modelo estratigráfico criado e adoptado pela Geologia, e posteriormente adaptado pela Arqueologia, na qual é uma metodologia essencial (HARRIS, 1991), não se aplica ao estudo das paisagens devido à dinâmica interna das formas arqueológicas (tempo morfológico interno) que compõem e se observam na paisagem actual - sob formas e com funções diversas (Figura 7 e 8). Neste sentido a arqueogeografia preconiza que as formas arqueológicas se transformam e transmitem, e entende diversas modalidades de espaço e tempo de estas se transmitirem transformarem (CHOUQUER, 2007: 251-275). A morfologia da região foi cartografada uma área de cerca de 25 Km², e revelou um número elevado de paleo-formas, de formas activas, diversos parcelários, recintos, vias, paleocanais, etc129, que nos fazem entender este espaço arqueológico de uma forma mais completa. A quantidade e qualidade de ocorrências arqueológicas dão informação sobre a organização da paisagem, e das redes de interacção que entre homens e natureza (hibridação) (CHOUQUER, 2007: 335-341) nela existiram.
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129
Estudo mais vasto que não se insere neste artigo de âmbito metodológico.
PÓSTERES
%LEOLRJUDÀD ALVES, C; COSTEIRA, C; ESTRELA, S; PORFÍRIO, E. e SERRA, M. (2010 a) - Torre Velha 3 (Serpa): Dados Preliminares. Al-Madan Online, 2ª série, n.º 17, tomo 1: 31-38. ALVES, C, COSTEIRA, C, ESTRELA, S, PORFÍRIO, E. e SERRA, M., SOARES, A.M.M., MORENO-GARCÁ, M. (2010b) - Hipogeus funerários do Bronze Pleno da Torre velha 3 (Serpa, Portugal). O Sudeste no Sudoeste?. Zephyrvs 66: 133-153. ALVES, C; COSTEIRA, C; ESTRELA, S; PORFÍRIO, E. e SERRA, M. (2009) – Torre Velha 3. Relatório Final (2ª fase). Minimização de Impactes sobre o Património Cultural decorrentes da Construção da Barragem da Laje (Serpa). Relatórios Palimpsesto 2009 ALVES, C, COSTEIRA, C, ESTRELA, S, PORFÍRIO, E. e SERRA, M. 2014 – Necrópole Tardo-Antiga da Torre Velha 3, Serpa (Baixo Alentejo, Portugal). Actas do VI Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular. Villafranca de los Barros, pp. 1929-1966. CHOUQUER, Gérard (2000) – L´Étude des Paysages. Essais sur leurs formes et leur histoire, Paris, Editions Errance. CHOUQUER, Gérard (2007) – Quels scénarios pour l´histoire du paysage? Orientations de recherche pour l´archéogeographie, Coimbra – Porto, Centro de Estudos arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. COSTA, Miguel Cipriano (2010) – Redes viárias de Alenquer e suas dinâmicas. Um estudo de arqueogeografia, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra. ESTRELA, S., COSTEIRA, C., ALVES, C., PORFÍRIO, E. e SERRA, M. (2012), Torre Velha 3 (Serpa): um novo ponto do mapa da Idade do Ferro do Sudoeste. Actas do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, 18 a 20 de Novembro de 2010. Câmara Municipal de Almodôvar, Almodôvar: 235-268. HARRIS, Edward C. (1991) - Principios de Estratigrafía Arqueológica, Editorial Crítica, Barcelona. NEMUS (2005) – Estudo de Impacte Ambiental da Rede Primária do Subsistema de Rega do Ardila. NEMUS (2009) – Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE) da Barragem da Laje. PICARRETA, Fabio; CERAUDO, Giuseppe (2000), Manuale di aerofotografia archeologica. Metodologia, tecniche e applicazioni, ed. Edipuglia, Bari. ROBERT, Sandrine (2003), L`analyse morphologique des paysages entre archéologie urbanisme et aménagement du territoire – Exemples d`études de formes urbanes et rurales dans le Val-d`Oise, Thése pour obtenir le grade de Docteur de le Université de Paris, Université Paris I – Panthéon – Sorbone.
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