Toxoplasmose em coelhos: comparação do perfil bioquímico hepático com os achados patológicos em infecção pelo Toxoplasma gondii

July 8, 2017 | Autor: Alexandre Munhoz | Categoria: Toxoplasma gondii
Share Embed


Descrição do Produto

Parasitología latinoamericana versión On-line ISSN 0717-7712

Parasitol. latinoam. v.57 n.3-4 Santiago jul. 2002 http://dx.doi.org/10.4067/S0717-77122002000300001 Parasitol Latinoam 57: 83 - 87, 2002

ARTÍCULO ORIGINAL

Toxoplasmose em coelhos: comparação do perfil bioquímico hepático com os achados patológicos em infecção pelo Toxoplasma gondii ALEXANDRE DIAS MUNHOZ**; ALEXANDRE REGO SOUZA PINTO**; GEORGE RÊGO ALBUQUERQUE**; FRANCISCO CARLOS RODRIGUES DE OLIVEIRA***; ZELSON GIACOMO LOSS**** e CARLOS WILSON GOMES LOPES***** TOXOPLASMOSIS IN RABBITS: PROFILE HEPATIC BIOCHEMISTRY AND ITS RELATIONSHIP WITH PATHOLOGICAL FOUND DUE TO Toxoplasma gondii * To determine the hepatic profiles due to Toxoplasma gondii infection in rabbits, 15 animals were divided in three groups of five animals each. The first and second groups were inoculated subcutaneously with 106 and 103tachyzoites of T. gondii respectively, while the third was left as control. Blood samples were taken on days 0, 4, 8, e 11 after inoculation (DAI). Livers of each rabbit was analyzed in other to observed lesions. Hepathomegaly was observed in all of the infected groups, independently of the dose used, where was observed a significant increase of AST e ALT at 8th DAI. Tachyzoites were observed in all infected animals, and were reisolated in 90% of livers bioassed in mice. Histopathology was consisted by diffuse infiltration inflammatory, consisted mainly by lymphocytes at sinusoids e portal space. The increase of AST and ALT during acute toxoplasmosis in rabbits was justified by presence of tachyzoites in tissue smears associated with gross and histopathologic lesions. Key words: Toxoplasma gondii, Toxoplasmosis, Perfil Bioquímico hepatico, Coelhos. INTRODUÇÃO Infecções pelo Toxoplasma gondii são altamente prevalentes em humanos e animais. A ingestão de alimento ou água contaminada com oocistos proveniente das fezes de gato ou a ingestão de tecidos encontrados em carne mal-cozida são as duas maiores formas de transmissão pós-natal do T. gondii1. O parasito usualmente produz uma infecção latente nos tecidos muscular e nervoso, porém na fase aguda da toxoplasmose a rápida multiplicação dos taquizoítos produz destruição das células hospedeiras em diferentes órgãos,

incluindo o fígado, até que ocorra o controle da infecção pela resposta imune do hospdeiro1. Alanina amino transferase (ALT) e aspartato amino transferase (AST) são encontradas em pequenas quantidades no soro e a elevação sérica dessas enzimas podem ocorrer mediante a degeneração ou destruição hepatocelular2. O objetivo deste trabalho é o de corre-lacionar os níveis séricos da AST, ALT, aos achados macro e microscocópicos decorrentes do parasitismo hepático, em uma infecção experimental com taquizoítos de T. gondii. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado nas instalações da Estação de Pesquisas Parasitológicas W. O. Neitz, do Departamento de Parasitologia Animal-IV/UFRuralRJ. Foram utilizados 15 coelhos (Oryctologus cuniculis) fêmeas, da raça branco Nova Zelândia, pesando 2.468 ± 0,349 g, oriundos da cunicultura do Instituto de Zoo-tecnia da UFRuralRJ. Estes foram mantidos em gaiolas individuais, recebendo ração comercial e água ad libitun. Utilizou-se taquizoítos da cepa Sero-47, mantidos em ratazanas no Laboratório de Coccídios e coccidioses da UFRuralRJ. Após a obtenção e contagem do parasito3, as soluções finais para inoculação apresentavam 106 e 103 taquizoítos/mL. Os 15 coelhos foram divididos em 3 grupos (I, II e III) de 5 animais. O grupo I recebeu 1 (um) mL contendo 106 taquizoítos, o II recebeu 1 (um) mL contendo 103 taquizoítos e o III recebeu solução salina a 0,9%, todos os grupos foram inoculados por via subcutânea na altura da cernelha. O sangue foi coletado nos dias 0, 4, 8 e 11 após infecção (DAI), por punção da veia jugular, utilizando um jelco nº 22 e acon-dicionados em tubos sem anticoagulante para a extração do soro. Foram utilizados Kits comerciais Bioclin® e espectofotômetro modelo Spectronic D 20 para determinação dos níveis séricos da AST e ALT. Aspecto macroscópico, histopatologia e preparação dos estiraços - De acordo com a clínica de cada animal, este era sacrificado, sendo o fígado pesado e avaliado quanto aos aspectos macroscópicos. Após, fragmentos do órgão foram retirados para histopatologia, sendo fixados em formol a 10%, processados e corados pela Hematoxilina-eosina, e os esti-raços para a visualização das formas endógenas do parasito foram secos ao ar, fixados em metanol por 3 minutos e corados pelo Giemsa, na proporção de um mL de solução tampão pH 7,2 para três gotas do corante por 30 minutos. Bioprova- O fragmento do fígado de cada animal que não foi utilizado para o histopatológico ou estiraço foi triturado em gral e pístilo, homogeneizado em oito mL de solução salina a 0,9% e filtrados através de gaze estéril de quatro camadas. A este material foi acrescido de 1.000 U.I de penicilina e 100 mg estreptomicina, sendo utilizado 3 camundongos por órgão, perfazendo um total de 45 animais, onde cada animal recebeu 2 mL por via intra-peritonial. Os animais do grupo controle permaneceram saudáveis e foram sacrificados no 12º DAI, seus fígados sofreram os mesmos procedimentos que os dos infectados.

Análise estatística - Foi utilizado o teste de Tukey e «T» de Student, com intervalo de confiança de 95%. RESULTADOS E DISCUSSÃO AST - Os níveis séricos destas enzimas mantiveram-se semelhantes em todos os grupos até o 4º DAI, entretanto a partir do 8º DAI a AST elevou-se nos grupos I e II e este aumento persistiu até o final do experimento com (p < 0,01) (Figura 1). Elevações séricas da AST já foram descritas em diversas espécies animais com toxoplasmose4-8.

ALT - Semelhante como a AST, só houve elevação sérica desta enzima a partir do 8º DAI nos grupos I e II. Entretanto somente foi significativo no grupo I com (p < 0,01). No 11º DAI, o grupo II permaneceu com a ALT elevada, porém houve diminuição do nível sérico no grupo I (Figura 2). A elevação dos níveis séricos da ALT foi também observada em trabalho experimental com suínos infectados com T. gondii 6.

Parasitismo - 100% dos animais dos grupos I e II foram positivos com a visualização das formas proliferativas nos estiraços (Figura 3a).

Enquanto que na bioprova, em 80% dos animais do grupo I (4/5) e 100% do grupo II, ocorreu reisolamento do parasito no exsudato peritonial dos camundongos, demonstrando desta forma a viabilidade do parasito nesses órgãos. A presença do parasito no fígado é um achado comum, sendo descrito em infecções experimentais em coelhos, camundongos, frangos, codornas e bovinos 3,9 -12. Aspectos macro e microscópicos: Todos os coelhos dos grupos I e II tiveram hepato-megalia ao exame macroscópico, em função da congestão do órgão, sendo este aumento significativo com (p < 0,05) em relação ao controle (Figura 4). Hepatomegalia é um achado comum na toxoplasmose aguda13-15, podendo estar associada com manchas brancas na superfície hepática16.

O histopatológico revelou degeneração vacuolar nos hepatócitos e um intenso infiltrado inflamatório predominantemente linfocítico disperso por todo o parênquima ou focal e em volta dos vasos sangüíneos, sendo intenso no espaço porta. Embora, em algumas áreas focais apresentassem um infiltrado inflamatório misto composto de neutrófilos, macrófagos e linfócitos (Figura 3b, 3c). Estas observações foram praticamente às mesmas nos 10 animais infectados, não importando desta maneira a dose utilizada. A presença de lesões múltiplas, com infiltrado linfohistocitário no fígado12,17,18, sendo marcante nos sinusóides e espaço porta17 e presença de necrose hepática em animais infectados naturalmente16, foram semelhantes aos achados do presente trabalho. RESUMO Para determinar os perfis hepáticos devido a uma infecção pelo Toxoplasma gondii em coelhos, 15 animais foram divididos em três grupos de cinco animais cada. O primeiro e segundo grupos foram inoculados por via subcutânea com 106 e 103 taquizoítas do T. gondii respectivamente, enquanto o terceiro permaneceu como controle. Foram coletadas amostras de sangue nos dias 0, 4, 8, e 11 após inoculação (DAI). Fígados dos coelhos foram analisados para visualização de alterações. Hepatomegalia foi observada nos grupos infectados, independentemente da dose utilizada, onde foi observado um aumento significativo da AST e ALT no 8º DAI. Foram observados taquizoítos em todos estiraços dos animais infectados, e reisolados em 90%, na bioprova, dos fígados em camundongos. A histopatologia consistiu de um infiltrado inflamatório difuso, consistido principalmente por linfócitos nos capilares sinusóides e no espaço porta. O aumento de AST e ALT na toxoplasmose aguda em coelhos é justificado pela presença de taquizoítos nos estiraços de tecido, associadas com as lesões encontradas no histopatológico. REFERÊNCIAS

1.- DUBEY J P, BEATTIE C P. Toxoplasmosis of animals and man. Boca Raton, FC: CRC Press 1988; 1-220 p. [ Links ] 2.- COLES E. Patologia Clínica Veterinária. Ed. Manole. 1984; 566p.

[ Links ]

3.- FLAUSINO W, ALBUQUERQUE G R, MUNHOZ A D, LOPES C W G. Infecção experimental em codornas em codornas (Cuturnix cuturnix japonica) com Toxoplasma gondii Nicolle & Manceaux, 1909. Rev Univ Rural Ciênc Vida 2000; 22 (supl-1): 91-4. [ Links ] 4.- WONG MM, THEIS J, KARR Jr S. Experimental toxoplasmosis in the stumptailed macaque (M. arctoides). J Med Trop 1974; 195-212. [ Links ] 5.- COSTA A J. Infecção experimental de bovinos com oocistos e cistos de Toxoplasma gondii Nicolle &Manceaux, 1909. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1976; 131p. (Tese de Mestrado). [ Links ] 6.- MARQUES L C, COSTA A J. Experimental sheep toxoplasmosis. I, clinical hematological and immunological observations. Ars Veterinaria 1985; 1: 57-67. [ Links ] 7.- VIDOTTO O, COSTA A J, BALARIN M R S, ROCHA M A. Toxoplasmose experimental em porcas gestantes. Observações Clínicas e Hematológicas. Arq Bras Med Vet Zoot 1987; 39: 623-39. [ Links ] 8.- PAULINO A M. Estudo da transmissão congênita do Toxoplasma gondii Nicolle & Manceaux, na infecção experimental de ratazanas Wistar. Seropédica. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 1909; 87. [ Links ] 9.- HULDT G. Studies of the multiplication and spread of Toxoplasma in experimentally infected rabbits. In experimental toxoplasmosis. Acta Path Microbiol Scan 1966; 67: 401-23. [ Links ] 10.- ALBUQUERQUE G R, MUNHOZ A D, MEDEIROS S M et al. Distribuição do Toxoplasma gondii Nicolle & Manceaux, 1909 (Apicomplexa: Toxoplasmatinae) em órgãos de camundongos albinos, inoculados com uma amostra acistogênica: dados preliminares. R Bras Ciênc Vet 1996; 3: 67-8. [ Links ] 11.- KANETO C N, COSTA A J, PAULILLO A C. Experimental toxoplasmosis in broiler chicks. Vet Parasitol 1997; 69: 203-10. [ Links ] 12.- OLIVEIRA F C R de, COSTA A J da, BECHARA G H, SABATINI G A.Distribuição e viabilidade de cistos deToxoplasma gondii (Apicomplexa: Toxoplasmatinae) em tecidos de Bos indicus, Bos taurus e Bubalus bubalisinfectados com oocistos. R Bras Med Vet 2001; 23: 28-34. [ Links ] 13.- EISSA H M, ANTONIOUS S N, SALAMA M M I. Histopathological studies of acute, chronic and congenital infections of toxoplasmosis im mice. J Egypt Soc Parasitol 1990; 20: 805-17. [ Links ] 14.- PEIXOTO C M S, LOPES C W G. Patogenicidade para camundongos do Toxoplasma gondii Nicolle & Manceaux, 1909 (Apicomplexa: Toxoplas-matinae) isolado de galinhas naturalmente infectadas. Rev Bras Parasitol Vet 1995;.4: 3741. [ Links ]

15.- MUNHOZ A D, ALBUQUERQUE G R, FLAUSINO W et al. Avaliação experimental da infecção de camundongos albinos com taquizoítos de Toxoplasma gondii Nicolle & Manceaux 1909, isolado de uma infecção natural. R Bras Med Vet 1998; 20: 23640. [ Links ] 16.- DUBEY J P, BROWN C A, CARPENTER J L, MOORE J J. Fatal toxoplasmosis in domestic rabbits in the USA. Vet Parasitol 1992; 44: 305-9. [ Links ] 17.- GUSTAFSSON K, UGLLA A, JÄRPLID B. Toxoplasma gondii infection in the montain hare (Lepus timidus) and domestic rabbit (Oryctolagus cuniculus). I Pathology. J Comp Pathol 1997; 117: 351-60. [ Links ] 18.- LELAND M M, HUBBARD G B, DUBEY J P. Clinical Toxoplasmosis in domestic rabbits. Lab Anim Sci 1992; 42: 318-9. [ Links ] *

Sob os auspícios do CNPq.

**

MSc, Pós-Graduação em Medicina Veterinária - Parasitologia Veterinária, IV/UFRuralRJ, Km 07, BR 465 CEP 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, E.mail: [email protected]; ***

PhD, Laboratório de Sanidade Animal, CCTA, UENF, Campos dos Goytacazes, RJ

. ****

Departamento de Medicina e Cirurgia, IV/UFRRJ.

*****

Departamento de Parasitologia Animal, IV/UFRRJ. E-mail: [email protected]

Todo el contenido de esta revista, excepto dónde está identificado, está bajo una Licencia Creative Commons

Sociedad Chilena de Parasitología. Organo Oficial de la Federación Latinoamericana de Parasitólogos Casilla 9183 Santiago 1, Chile Tel.: 56-2- 9785500 Fax: 56-2-5416840

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.