Trabalho acadêmico sobre: BAKHTIN, M. Formas de tempo e de cronotopo no romance: ensaios de poética histórica. In: Questões de Literatura e de Estética: a teoria do romance. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 2002.

May 24, 2017 | Autor: M. de Lima Pedroso | Categoria: Estudos da Linguagem, Introducao aos Estudos Literarios
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BAKHTIN, M. Formas de tempo e de cronotopo no romance: ensaios de poética histórica. In: Questões de Literatura e de Estética: a teoria do romance. 5 ed. São Paulo: Hucitec, 2002.

Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin

O cronotopo determina a unidade artística de uma obra literária no que ela diz respeito à realidade efetiva. É no cronotopo que os nós do enredo são feitos e desfeitos;
Os cronotopos têm um significado temático, são os centros organizadores dos principais acontecimentos temáticos do romance. Consequentemente, qualquer intervenção na esfera dos significados só se realiza através da porta dos cronotopos;
Os cronotopos analisados têm um caráter típico de gênero, baseiam-se em variantes definidas do gênero romanesco que se formou e se desenvolveu durante séculos. Toda imagem de arte literária é cronotópica, a linguagem é essencialmente cronotópica, como tesouro de imagens. É cronotópica a forma interna da palavra, ou seja, o signo mediador que ajuda a transportar os significados originais e espaciais para as relações temporais no sentido mais amplo.


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


O cronotopo idílico no romance


O significado do idílio para o desenvolvimento do romance foi imenso. Contudo, Bakhtin considera que esse significado, até o momento, não foi ainda compreendido e avaliado em sua forma verdadeira. Por isso, esclarece que aborda essa questão importante apenas de modo superficial, descrevendo e analisando cinco tendências principais do idílio no romance. São as seguintes: 1. Influência do idílio, do tempo e das vizinhanças idílicas sobre o romance regionalista; 2. Tema da destruição do idílio no romance de aprendizagem de Goethe e nos romances do tipo de Sterne (Hippel, Jean-Paul); 3. Influência do idílio no romance sentimental do tipo de Rousseau; 4. Influência do idílio no romance familiar e de gerações e, 5.Influência do idílio nos romances de diferentes variedades ("o homem do povo" no romance);
Em cada uma dessas cinco tendências , Bakhtin identifica e descreve os diversos cronotopos relacionados ao idílio no romance.



Variedades de gênero do romance europeu

Características cronotópicas


Fundamentos folclóricos do cronotopo de Rabelais

Os acontecimentos da vida humana são tão grandiosos como os acontecimentos da vida natural:. Desse modo, nas séries descritas por Rabelais, a comida e a bebida são tão significativas quanto a morte, a procriação, as fases do sol. Um único grande acontecimento da vida (ao mesmo tempo do homem e da natureza) se revela nos seus diversos lados e aspectos, sendo todos eles indispensáveis e significativos no acontecimento;
Os indivíduos são os representantes da entidade social, os acontecimentos da vida deles coincidem com os da entidade social. O aspecto interior se funde com o exterior: o homem está totalmente do lado de fora;
Na obra de Rabelais, a influência direta de Aristófones se associa a uma profunda afinidade interna (no sentido do folclore primitivo). Nela, encontramos, num outro estágio da evolução, o mesmo riso, o mesmo fantástico grotesco, a mesma transformação do privado e cotidiano, a mesma heroificação do cômico e do ridículo, as mesmas obscenidades sexuais, as mesmas vizinhanças com a comida e com a bebida;
A fonte mais próxima e direta de Rabelais foi, portanto, a cultura cômica e popular da Idade Média e do Renascimento.

Variedades de gênero do romance europeu

Características cronotópicas


Fundamentos folclóricos do cronotopo de Rabelais



Uma percepção forte e diferenciada do tempo surge pela primeira vez somente com base no trabalho agrícola coletivo. Esse tempo é coletivo. Tudo o que nele existe , existe somente para o coletivo. É um tempo laborioso, tempo do crescimento produtivo. Que está voltado ao máximo para o futuro. Para o futuro se planta, colhem-se os frutos, acasala-se, todos os processos de trabalho são voltados para o porvir. É um tempo profundamente espacial e concreto. Este tempo é uno, está todo integrado no seu curso, não conhece base imóvel e estável.
Todas as coisas: sol, estrelas, terra, mar etc.são dadas para o homem não como objeto de contemplação individual (poética), mas, exclusivamente no processo coletivo do trabalho e da luta com a natureza..Somente nesse processo, o homem se encontra com elas, toma consciência delas e as conhece (conhecimento realístico, objetivo e profundo);
Uma última particularidade desse tempo é o seu caráter cíclico, característica negativa que limita a força e a produtividade ideológica desse tempo. Seu impulso para o futuro é limitado pelo ciclo;


Variedades de gênero do romance europeu

Características cronotópicas


O cronotopo de Rabelais
Todas as infinitas séries podem ser enquadradas nos seguintes grupos principais: 1. Séries do corpo humano do ponto de vista anatômico e fisiológico; 2. Séries da indumentária; 3. Séries da nutrição; 4. Séries da bebida e da embriaguez; 5. Séries sexuais (copulação); 6. Séries da morte; 7. Séries dos excrementos;
A viagem descrita no episódio da viagem pela boca de Pantagruel introduz o mundo geográfico na série corporal, bem como o mundo da vida cotidiana e agrícola é introduzido no episódio do gigante Bringuenarilles;
A par da utilização anatômico-fisiológica e grotesca do corpo humano. Rabelais, médico humanista e pedagogo, propaga a cultura do corpo e do seu desenvolvimento harmonioso;
Bakhtin descreve e analisa cada uma das séries acima citadas e conclui que elas servem para que Rabelais destrua o velho quadro do mundo, criado por uma época moribunda, e construa um novo, onde no centro se encontra o homem total, corporal e espiritual. Era preciso contrapor ao escatologismo um tempo produtivamente fértil. Os fundamentos desse tempo construtivo apareciam delineados nas imagens e nos temas do folclore.
Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin

Os cronotopos podem se incorporar um ao outro, coexistir, se entrelaçar, permutar, confrontar-se, se opor ou se encontrar nas inter-relações mais complexas. Estas inter-relações entre os cronotopos já não podem surgir em nenhum dos cronotopos isolados que se inter-relacionam. O seu caráter geral é dialógico (na concepção ampla do termo). Mas, esse diálogo não pode penetrar no mundo representado na obra nem em nenhum dos seus cronotopos: ele está fora do mundo representado, embora não esteja fora da obra no seu todo. Esse diálogo ingressa no mundo do autor, do intérprete e no mundo dos ouvintes e dos leitores. E esses mundos também são cronotópicos;
Os cronotopos do autor e do ouvinte-leitor primeiramente aparecem na existência material exterior da obra e na sua composição puramente externa. O material da obra não é inerte, é falante, significativo e sempre ouvimos a sua voz. Em qualquer texto, sempre chegamos à voz humana.

Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin


No tempo-espaço totalmente real onde ressoa a obra, encontra-se também o homem real que criou a língua falada, que ouve e lê o texto. Naturalmente, esses seres reais, autores e ouvintes-leitores, podem se encontrar (frequentemente se encontram) em tempos-espaços diferentes, separados às vezes por séculos e por distâncias espaciais, mas se encontram da mesma forma num mundo uno, real, inacabado e histórico que é separado pela fronteira rigorosa e intransponível do mundo representado no texto;
A obra e o mundo nela representado penetram no mundo real o enriquecendo, e o mundo real penetra na obra e no mundo representado, tanto no processo de sua criação como no processo subsequente da vida, numa constante renovação da obra e numa percepção criativa dos ouvintes-leitores. Esse processo de troca é cronotópico por si só: ele se realiza num mundo social que se desenvolve historicamente. Trata-se de um cronotopo criativo particular, no qual ocorre essa troca da obra com a vida e se realiza a vida particular de uma obra.
Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin


Em sua observações finais, Bakhtin menciona e aborda alguns valores cronotópicos de diferentes níveis e volumes, dentre eles:
No cronotopo do encontro: predomínio do matiz temporal e um forte grau de intensidade do valor emocional;
No cronotopo da estrada, que se liga ao do encontro, um volume mais amplo, porém, com um pouco menos de intensidade de valor emocional. No romance, os encontros acontecem frequentemente na estrada: "a grande estrada". Nela se cruzam num único ponto espacial e temporal os caminhos espaço-temporais das mais diversas pessoas. É o ponto do enlace e o lugar onde se realizam os acontecimentos.


Trabalho acadêmico produzido por Maria Ignez de Lima Pedroso, pesquisadora e participante do Grupo de Pesquisa Práticas de Leitura e Escrita em Português Língua Materna, coordenado pelo Prof. Dr. Manoel Luiz Gonçalves Corrêa, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em São Paulo, para reunião de estudos do dia 21/10/2016.
***

"Parece que o tempo se derrama no espaço e flui por ele formando os caminhos, daí a tão rica metaforização do caminho-estrada: "o caminho da vida", "ingressar numa nova estrada", "o caminho histórico; a metaforização do caminho é variada e muito planejada, mas o sustentáculo principal é o transcurso do tempo." (Bakhtin, 2002, p. 350)
Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin


Bakhtin ressalta o significado figurativo dos cronotopos, que como materialização privilegiada do tempo no espaço, é o centro da concretização figurativa, da encarnação do romance inteiro. Todos os elementos abstratos do romance – as generalizações filosóficas e sociais, as ideias, as análises das causas e dos efeitos etc. – gravitam ao redor do cronotopo, graças ao qual se enchem de carne e de sangue, se iniciam no caráter imagístico da arte literária. Finaliza este ensaio sobre o estudo das relações espaciais e temporais nas obras de literatura considerando que ainda há muito a ser estudado com relação a uma devida abordagem cronotópica no campo literário.
Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura


Considerações de Bakhtin


5. Por fim, no cronotopo da soleira, impregnado de intensidade, com forte valor emocional e que pode se associar com o tema do encontro, porém é substancialmente mais completo: é o cronotopo da crise e da mudança de vida, o tempo é um instante que parece não ter duração e saí do curso normal do tempo biográfico. Na literatura, esse é um cronotopo sempre metafórico e simbólico.



Observações finais

Os significados do cronotopo na literatura

Considerações de Bakhtin


No cronotopo do castelo (Inglaterra – fim do século XVIII) , essa edificação está repleta de tempo, que é histórico, manifesta marcas dos séculos e das gerações depositadas no mobiliário, nas armas, na galeria dos ancestrais, nos arquivos de família, nas relações humanas específicas da sucessão da dinastia, da transmissão dos direitos hereditários. A historicidade do tempo do castelo lhe permitiu exercer um papel muito importante na evolução do romance histórico;
Nos romances de Stendhal e de Balzac surgem os cronotopos do salão-sala de visita, das ruas, de cidadezinhas provincianas, da paisagem rural, ou seja, de outros lugares onde ocorrem os encontros (que já não têm o caráter fortuito do encontro na "estrada"). Nesses lugares, revelam-se os caracteres, as ideias e as paixões dos heróis;




Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


O cronotopo de Rabelais
A tarefa de Rabelais é limpar o mundo espaço-temporal dos elementos que o corrompem, da visão do além, da interpretação simbólica e hierárquica do mundo vertical;
Amplidões espaço-temporais : ligação do homem e de todas as suas ações e peripécias com o mundo espaço-temporal;
Recriação de um mundo espaço-temporal adequado, um cronotopo novo para um homem novo, harmonioso, inteiro e de novas formas para as relações humanas;
A purificação e a reconstituição do mundo real e do homem determina as particularidades do método de Rabelais, a originalidade de seu realismo fantástico;
O romancista se apoia- no folclore e na antiguidade, trazendo para o primeiro plano gêneros medievais em que figuram o bufão, o trapaceiro e o bobo. O riso de Rabelais revela a proximidade rude e direta daquilo que as pessoas separam por meio da mentira e do farisaísmo;
Elaboração de séries que se cruzam: a separação do que está tradicionalmente ligado e a aproximação do que está tradicionalmente distante e separado é atingida por meio da construção de séries muito diversas que se cruzam;

Variedades de gênero do romance europeu

Características cronotópicas

O cronotopo idílico no romance

Vários tipos de idílio , dentre eles, Bakhtin destaca quatro tipos canônicos na literatura desde a antiguidade até os nossos dias: 1. O idílio amoroso; 2. O idílio dos trabalhos agrícolas ; 3. O idílio do trabalho artesanal e 4. O idílio familiar;
Há além dessas distinções tipológicas, também outras tanto entre os diferentes tipos, como entre as variedades do mesmo tipo (referem-se ao caráter e ao grau de engajamento metafórico de cada elemento no todo do idílio);
Quaisquer que sejam essas diferenças, sob o ângulo de interesse de Bakhtin, alguns traços comuns são determinados pela sua relação geral com a unidade do tempo folclórico (relação particular do tempo com o espaço): a adesão orgânica e a ligação da vida e dos seus acontecimentos a um lugar , onde viveram os pais e os avós, e onde viverão os filhos e os netos);
Outras particularidades do idílio : estrita limitação às poucas realidades básicas da vida: o amor, o nascimento, a morte, o casamento, a comida, a bebida, as idades;
estrita fusão da vida humana com a natureza;


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas

Funções do trapaceiro, do bufão e do bobo no romance

Essas três figuras criam em volta de si microcosmos e cronotopos especiais: trazem uma ligação muito importante com os palcos teatrais e com os espetáculos de máscaras ao ar livre;
A existência desses personagens tem um significado que não é literal, mas, figurado. O trapaceiro ainda tem um ínfimo vínculo com a realidade, mas, o bufão e o bobo "não são desse mundo";
Com isso., cria-se um modo particular de exteriorização do homem por meio do riso paródico;
Problemática do autor: influência dessas personagens sobre o estatuto do próprio autor do romance: o romancista precisa de alguma espécie de máscara consistente na forma e no gênero que determine tanto a sua posição para ver a vida, como também a posição para tornar pública essa vida;
As máscaras do bufão e do bobo, transformadas de vários modos, vêm em socorro do romancista;

Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


Biografia e Autobiografia Antigas (p. 250 a 262)

Obras do classicismo grego
















Primeiro tipo (Platônico):
 
Tipo de conscientização autobiográfica do homem está ligado às formas rígidas de metamorfose mitológica;
Momento da crise e da transformação;
Ascensão da alma para a contemplação de ideias;
Fundamentos mitológicos e mistérios religiosos se manifestam claramente;
Tempo biográfico real quase totalmente dissolvido no tempo ideal e mesmo abstrato da metamorfose.


Variedades de gênero do romance europeu

Características cronotópicas


Apuleio e Petrônio (p. 234 a 249)
 
O asno de ouro de Apuleio
 
Satiricon de Petrônio (apenas fragmentos)














Em Satiricon de Petrônio, está presente o mesmo tempo de aventuras e de costumes, contudo, as peregrinações e aventuras dos heróis (Encólpios e outros) não estão nitidamente baseadas sobre a metamorfose e a série específica: culpa-castigo-redenção. Apenas a atitude dos heróis em relação aos usos e costumes da vida diária é exatamente a mesma que se encontra em Lúcio-asno;

O plano das aventuras e da vida cotidiana é dado sob a forma de uma denúncia da vida do pecador ou sob a forma de humilde confissão.
 


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


Funções do trapaceiro, do bufão e do bobo no romance

Essas máscaras não são inventadas, elas têm profundas raízes populares, são ligadas por privilégios consagrados de não participação do bufão na vida, e da intangibilidade de seu discurso. Essas raízes estão ligadas ao cronotopo da praça pública e aos palcos dos teatros;
A forma de existência do homem encontrada nesse tipo de romance é a de um ser participante da vida sem dela tomar parte, ou seja, o homem se apresenta em estado alegórico;
O sentido de transformação do autor, utiliza-se das figuras do bufão e do bobo para abordar uma luta contra o fundo feudal e as más convenções, contra a mentira que impregnou todas as relações humanas, pois, essas personagens permitem o direito de não compreender, de arremedar e de hiperbolizar a vida, ou seja, o direito de falar parodiando, de não ser o próprio indivíduo, o direito de arrancar as máscaras dos outros, de tornar pública a vida privada com todos os seus segredos mais íntimos;
O segundo sentido da transformação das figuras desses três personagens está vinculado a sua introdução no conteúdo do romance como personagens centrais da obra, geralmente, sendo o personagem principal quase sempre o portador dos pontos de vista do autor.


Quadros sinópticos do texto


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas

O romance grego (p. 213 a 233)












O tempo é o de aventuras e o do acaso: o destino conduz o jogo, ou seja, conduz a vida em um ritmo cíclico. É um dos cronotopos mais abstratos;
Esse tempo não é medido de acordo com o crescimento humano biológico: os heróis se encontram em idade de casamento no início do romance e com a mesma idade, ainda bonitos e juvenis, casam-se ao final, que é sempre feliz;
O espaço geográfico é amplo e variado e está relacionado a paisagens idílicas localizadas em um mundos geralmente estrangeiros para os quais os heróis se deslocam (viagens para países diversos);
O sujeito é visto como o verdadeiro homem de aventuras, como o homem do acaso, portanto, passivo e imutável, pois é conduzido pelo destino;
O encontro, bem como os motivos do encontro são acontecimentos centrais e formadores do enredo;
Situações surpreendentes acontecem "de repente" e "justamente" , ou seja, em momentos determinados pelo destino.



Para o autor, o cronotopo tem um significado fundamental para os gêneros literários, considerando que o gênero e as variedades de gênero são determinados pelo cronotopo, sendo que em literatura o princípio condutor do cronotopo é o tempo.
As variedades de gênero do romance europeu, bem como as principais características cronotópicas de cada um deles, analisadas por Bakhtin, seguem especificadas nos quadros sinópticos descritos a seguir.




Introdução


Na Literatura, Bakhtin apresenta a seguinte conceituação de cronotopo:

"A interligação das relações temporais e espaciais, artisticamente assimiladas em literatura, chamaremos "cronotopo" (que significa "tempo-espaço")." (2002, p. 211)
 
Além dessa conceituação, ressalta que é importante a expressão de indissolubilidade de espaço e de tempo e, também, que é o cronotopo como uma categoria conteudística-formal da literatura que possibilita a imagem do homem (sujeito) em cada um dos diversos gêneros do romance europeu.



Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


 
Segundo tipo (Autobiografia e biografia retóricas):
 
Discurso civil, fúnebre e laudatório, em forma de encômio (louvor) substitui o "lamento";
Primeira autobiografia antiga: O discurso de defesa de Isócrates;
Essas obras não tinham caráter livresco e não eram desvinculadas dos acontecimentos político-sociais e concretos do momento;
Eram atos verbais cívicos-políticos de glorificação ou de autojustificação públicas;
O cronotopo real é a praça pública ( a ágora);
No homem da antiguidade não havia a característica da privacidade, ou seja, nada de íntimo-privado, pois, ele se realizava por meio da exposição e da recapitulação pública de toda a sua vida.
O homem grego é apresentado como extremamente impulsivo, expressando-se geralmente de modo extrovertido, intenso e ruidoso. Nele, tudo é visível e audível;
"Viver exteriormente é viver para os outros", por isso, que a unidade dessa coesão extrovertida do homem tinha caráter público.
 
 
 
 
 
 
 


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


Apuleio e Petrônio (p. 234 a 249)
 
O asno de ouro de Apuleio
 
Satiricon de Petrônio (apenas fragmentos)


 














Associação do tempo de aventuras com o tempo de costumes, que se transformam radicalmente, constituindo um cronotopo completamente novo;
O enredo do romance é um hiato extra-temporal entre dois momentos de uma série da vida real;
A carreira de Lúcio, o herói, constitui o enredo desse romance com duas importantes particularidades: 1. Apresentação do invólucro de uma "metamorfose" (transformação); 2. Ligação com o caminho real das peregrinações e da vida errante de Lúcio sob a forma de um asno; 
Série específica: culpa-castigo-redenção;
Diferentemente do cronotopo do romance grego, neste cronotopo não há um "devir" em sentido estrito, mas sim crise e transformação do homem;
O sujeito é visto como um indivíduo privado e isolado, por isso, a culpa, o castigo, a purificação e a beatitude têm caráter individual e privado;
É característica do romance a fusão do curso de vida do homem (em seus momentos de crise) com seu caminho real e espacial, ou seja, com suas peregrinações. Aqui se dá a metáfora do "caminho da vida". A concretude do cronotopo da estrada permite que se desenvolva amplamente nele a vida corrente.





Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


Autobiografias e memórias romanas


São elaboradas de acordo com outro cronotopo real: um documento da consciência familiar e ancestral. Porém, nesse ambiente, a conscientização não se torna privada, íntima ou pessoal. Ela mantém um caráter profundamente público. Precisamente enquanto família, ela se une diretamente ao Estado;
A historicidade da consciência autobiográfica dos romanos se distingue da grega que se orientava para os contemporâneos vivos. A consciência romana se sente como o elo entre os antepassados mortos e os descendentes que ainda participam da vida política;
Papel dos prodigia (toda espécie de presságios e suas interpretações importantes para o início de todos os atos do Estado;
Outra forma importante de autobiografia romano-hênica se refere aos trabalhos sobre "os escritos pessoais" (Cícero, Galeno e outros). São obras pessoais que fornecem o apoio real e sólido ao conhecimento do curso temporal da vida tomada de consciência pública do homem.


Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas

Tipo especial de romance de cavalaria: as obras enciclopédicas (e sintéticas): Romance da Rosa, A visão de Pedro, o lavrador e A Divina Comédia.

Nestas obras, todo o mundo espaço-temporal está submetido a uma interpretação simbólica. Pode-se se dizer que o tempo está totalmente excluído da própria ação da obra;
Apresentam uma síntese crítica que manifesta toda a diversidade contraditória da época, essa diversidade é profundamente histórica;
Esticamento vertical do mundo, sobretudo, realizado por Dante na construção de um quadro extraordinarimanente plástico de um mundo que vive intensamente e que se move para cima e para baixo, na vertical (os nove círculos do inferno embaixo da terra, os sete círculos do purgatório, os dez céus. A lógica temporal desse mundo vertical é a simultaneidade de tudo;
É apenas na pura simultaneidade, ou, o que é o mesmo, na atemporalidade que se pode descobrir o verdadeiro sentido daquilo que foi, que é e que será, pois aquilo que os separava – o tempo – é privado de realidade autêntica e de força interpretativa;
No entanto, as imagens das pessoas que povoam esse mundo vertical são profundamente históricas, os sinais do tempo, os traços da época, estão marcados em cada uma delas.

Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas



O romance de cavalaria


O cronotopo desse tipo de romance funciona segundo aquele do tempo de aventuras do romance grego, mas, nele se manifestam motivos relacionados à identidade, inspirados pelos contos orientais em que todo tipo de maravilhas arrancam provisoriamente o homem dos acontecimentos transportando-o para seu outro mundo;
Neste romance, o acaso tem o atrativo do maravilhoso e do misterioso, personificando-se na imagem de fadas boas e más, de mágicos bons e maus;
O ato heroico distingue o romance de cavalaria do romance grego, aproximando-o da aventura épica;
O herói e o mundo maravilhoso onde ele atua constituem um único bloco, não havendo fendas entre eles. Nesse mundo, o herói se sente em "casa" (mas não na sua pátria). Ele é tão maravilhoso como esse mundo;
Nesse romance, além do jogo subjetivo com o espaço, surge também um jogo subjetivo com o tempo (violação das correlações e perspectivas temporais e elementares; influência dos sonhos sobre o tempo). Tempo-espaço se tornam maravilhosos.

Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


O problema da inversão histórica e do cronotopo folclórico

O tempo e o homem no romance antigo













O romance antigo contém um mínimo de plenitude de tempo. Contudo, o sentimento do tempo exerceu influência enorme e decisiva no desenvolvimento das formas e das imagens literárias, em primeiro lugar, devido a uma particularidade que se manifesta na chamada "inversão histórica" (o presente e o passado, sobretudo, o passado se enriquecem às custas do futuro, desse modo, o futuro não é análogo nem ao presente nem ao passado. É vazio e rarefeito;
A outra forma em que se manifesta a mesma atitude para com o futuro é a escatologia (nesta forma, o futuro é compreendido como o fim da vida e de tudo o que existe);
O homem da mitologia e do folclore exige espaço e tempo para a sua realização. Um grande homem era grande também fisicamente, andava a passos largos, tinha necessidade de vastos espaços e vivia uma vida física real e longa;
O fantástico do folclore é um fantástico que se apoia nas possibilidades-necessidades do homem.

Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas



A imagem do homem na arte e na literatura clássicas é definida com inimitável originalidade, revelando que "tudo o que é carnal e exterior está espiritualizado e intensificado nele, não tem nem núcleo, nem invólucro, nem exterior, nem interior". É nisso que manifesta sua diferença mais profunda no que se refere às imagens do homem das épocas posteriores;
No encômio, a imagem do homem é simples e plástica, quase não há transformação dessa imagem. No relato do personagem glorificado, a imagem ideal e a imagem do defunto estão fundidas;
Obra apresenta um caráter abstrato e formal-retórico.




Variedades de gênero do romance europeu


Características cronotópicas


Autobiografias e memórias romanas

Formas biográficas aprefeiçoadas da época romano-helênica





Essas formas apresentam influências de Aristóteles e são subdivididas em dois tipos:
Energético: existência e essência do homem é a ação, uma força ativa (energia) representado por Plutarco (drama);
Gênero estritamente biográfico na Idade Média representado por Suetônio;
Destacam-se três modificações significativas com relação ao aspecto exterior –público do homem. São as seguintes:
Representação satírico-irônica ou humorística de si e da própria vida;
Ressonância histórica representada pelas cartas de Cícero a Atticus;
Tipo estóico de biografia representada pelas chamadas "consolações" (filosofia-consoladora) representada pelas Cartas de Sêneca, o livro autobiográfico de Marco Aurélio e as Confissões de Santo Agostinho.





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