Trabalho e Subjetividade

Share Embed


Descrição do Produto







7




UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CAMPUS CATALÃO
CURSO DE PSICOLOGIA


AMOM RODRIGUES DE MORAIS



Título: TRABALHO E SUBJETIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL FRENTE ÀS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO











Catalão-2013



AMOM RODRIGUES DE MORAIS



TÍTULO: TRABALHO E SUBJETIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL FRENTE ÀS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO


Artigo apresentado ao curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão, como pré-requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, sob a orientação do Professor Maurício Campos


DADOS DE INDENTIFICAÇÃO Discente: Amom Rodrigues de Morais
Nº de Matrícula: 094419
Telefone: (64) 81723851
e-mail: [email protected]





















"A economia é o método, mas o objetivo é transformar o espírito"
Margaret Tatcher

"A Psicologia do Trabalho é uma das disciplinas que foi a mais fortemente condicionada pela luta de classes e pela natureza de classes do desenvolvimento científico"
Ivar Oddone




Resumo
O presente artigo tem como objetivo estabelecer a relação entre trabalho e constituição da subjetividade, de modo mais específico no atual contexto da reestruturação do mundo do trabalho. Pretendeu-se assim, investigar qual seria a posição e a relevância da Psicologia Organizacional e Trabalho no oque diz respeito à produção científica quanto ao problema das mudanças organizacionais e suas respectivas implicações na subjetividade do trabalhador. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, pesquisou-se, dessa forma, em dois periódicos importantes desta área, realizando uma busca por artigos que traziam em seus resumos a temática do trabalho e da subjetividade. Dos resultados observou-se um reduzido número de artigos que tratam da temática em questão. A partir desse pequeno número de artigos verificou-se que alguns artigos acabam enfatizando a relação entre mudança nas organizações do trabalho e transformações nas formas de subjetivação do sujeito, no entanto, não foi encontrada uma análise mais detalhada sobre a reestruturação produtiva e seus impactos subjetivos, muito menos uma crítica consistente por parte da Psicologia do Trabalho frente às contribuições dos dispositivos organizacionais atrelados à relação entre trabalho e subjetividade.
Palavras-Chave: Trabalho; Subjetividade; Reestruturação Produtiva; Toyotismo.

Abstract
This article aims to establish the relationship between work and the constitution of subjectivity, more specifically in the current context of the restructuring of the labor market. The intention was thus to investigate what would be the position and relevance of Work and Organizational Psychology in what regards scientific production to the problem of organizational change and its implications on the subjectivity of the worker. A literature search was performed, we looked at in this way, in two important journals in this area by performing a search for articles that brought on their resumes the theme of work and subjectivity. From the results we observed a reduced number of articles dealing with the topic in question. From this small number of papers it was found that some articles emphasizing the relationship between change in work organizations and changes in the forms of subjectivity of the subject, however, no further analysis on industrial structure and its subjective effects was found, much less a consistent criticism from work Psychology forward to the contributions of trailers to the relationship between labor and subjectivity organizational devices.
Keywords: Labor, Subjectivity; Productive Restructuring; Toyotism.





Sumário


1. INTRODUÇÃO 5
2. REFRENCIAL TEÓRICO 7
2.1 A centralidade ontológica do trabalho 7
2.2 Subjetividade 11
2.3 Subjetividade e o novo contexto do trabalho 12
3. METODOLOGIA 15
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 17
4.1 Categoria Subjetividade 22
4.2 Categoria Trabalho 26
4.3 Categoria Trabalho e Subjetividade 30
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 34
REFERÊNCIAS 36



















INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como principal objeto de discussão a ênfase na relação entre trabalho e subjetividade e suas configurações no contexto da reestruturação produtiva. Além de problematizar suas implicações para os processos organizacionais do trabalho. Nesse contexto da reestruturação produtiva, se destaca um novo cenário do mundo do trabalho, que surge sob a acumulação que é mais flexível em relação à forma mais rígida de produção no Taylorismo/fordismo, isso se mostra através das inovações organizacionais, tecnológicas e informacionais.
O elemento informacional é o grande inovador nesse novo contexto, pois a dimensão cognitiva do trabalho é apropriada no processo de geração de valor e assim também a dimensão intelectual é agregada na mais valia, servindo a novos métodos de controle e subordinação do sujeito do trabalho. Desse modo, tem-se uma reorganização dos métodos de produção do mais valor, tendo como característica fundamental a busca de novas formas de organização do trabalho mais adequadas para potencializar a reprodução do capital em tempos extremamente competitivos. Nesse sentido, é bem expressivo o slogan adotado pela Toyota na unidade de Takaoka: "bons pensamentos significam bons produtos" (ANTUNES, 2005, p.19). Partimos assim, do pressuposto de que os princípios organizacionais, muitos inspirados no Toyotismo, possuem um nexo essencial e profundo com o envolvimento da subjetividade do trabalhador.
Sendo assim, procuramos investigar qual a contribuição da Psicologia, mais especificamente na sua abordagem organizacional e do trabalho, para o aprofundamento das transformações no bojo da reestruturação produtiva. Tivemos como objetivo geral problematizar as formas, técnicas, estratégias, e dispositivos organizacionais que vem contribuindo para modificar as relações de trabalho na direção de um envolvimento subjetivo cada vez maior dos trabalhadores.
Consideramos aqui a heterogeneidade epistemológica, conceitual, metodológica e técnica da Psicologia do Trabalho e em função disso, existem várias olhares para a relação entre trabalho e subjetividade e dessa forma, há práticas diferentes de lidar com o trabalho e os trabalhadores. Levamos em conta as práticas hegemônicas em administração de recursos humanos, ou gestão de pessoas. Como sabemos há um predomínio do recrutamento, treinamento e seleção de pessoas. E mais recentemente, novos termos aprecem como: people, empowerment (Essa expressão significa a capacitação de pessoas), dentre outros. Verifica-se que mudanças na gestão organizacional conduz a mudanças na forma como a Psicologia nela atua, demandando desta, o conhecimento e o desenvolvimento de técnicas (entrevistas, testes psicométricos etc.). Porém, partimos, nesse estudo, da ideia de campo da Psicologia Social do Trabalho crítica, que se pretende mobilizar um projeto ético-político de atuação e abordagem (Conselho Federal de Psicologia, 2010, p.21), na qual venha trazer contribuições sobre a relação entre trabalho e sociedade, contestando as formas contemporâneas de produção da subjetividade, tecendo críticas às práticas organizacionais que tem em suas bases ideológicas um compromisso com o lucro em detrimento do trabalhador.
Dessa forma, realizamos uma pesquisa bibliográfica para verificarmos quantitativa e qualitativamente a produção de conhecimentos na área de Psicologia do trabalho e Organizacional e analisar como essa ciência vem abordando a temática do trabalho e da subjetividade, considerando as transformações no mundo do trabalho. Pesquisou-se, dessa forma, em dois periódicos importantes desta área, realizando uma busca por artigos que traziam em seus resumos a temática do trabalho e da subjetividade. Os periódicos investigados foram: Cadernos de Psicologia Social e do Trabalho; e Revista de Psicologia Organizacional do Trabalho. Somado todos os artigos lidos contabilizam 12. Apenas 3,9% do total de artigos publicados por essas duas revistas abordam as categorias Trabalho e Subjetividade aqui em questão. Desse inexpressivo número, fizemos uma análise de como eram as formas de conceituação e teorização sobre o trabalho e a subjetividade. Constatou-se que alguns artigos acabam enfatizando a relação entre mudança nas organizações do trabalho e transformações nas formas de subjetivação do sujeito, no entanto, não foi encontrada uma análise mais detalhada sobre a reestruturação produtiva e seus impactos subjetivos, muito menos uma crítica consistente por parte da Psicologia do Trabalho frente às contribuições dos dispositivos organizacionais atrelados à relação entre trabalho e subjetividade. O que justifica ainda mais a necessidade de se debater a problemática aqui posta, bem como a construção de um projeto ético-político para a ciência e profissão da Psicologia priorizando a avanço para um modelo de sociedade mais justa e igualitária.
Para tanto, tentou-se resgatar a seguir no referencial teórico as perspectivas que abordassem a dimensão ontológica do trabalho e da subjetividade objetivando constituir uma justificativa da centralidade fundamental do trabalho na vida de qualquer ser social. Apesar das múltiplas transformações na sociedade contemporânea, a categoria trabalho ainda permanece central em nossa análise. Na sequência, foi descrita a metodologia apontando os passos necessários na construção do presente trabalho. Por conseguinte, foi feita a discussão dos resultados encontrados na pesquisa bibliográfica através da análise de conteúdo a partir de três categorias mais relevantes, Trabalho e Subjetividade e suas relações. Por fim, concluímos com as considerações finais destacando a necessidade da Psicologia, enquanto ciência e profissão crítica se dedicar através de mais pesquisas na problemática da subjetividade nas novas organizações do trabalho.

2. REFRENCIAL TEÓRICO
2.1 A centralidade ontológica do trabalho

Ainda hoje se discute a polêmica sobre o status da centralidade do trabalho no mundo contemporâneo. Em meio a tantas teorias que anunciam o fim do trabalho na era "pós-industrial" e a aparente perda de relevância dos estudos investigativos acerca do trabalho, se faz necessário retomar a discussão filosófica acerca da constituição ontológica pela atividade do trabalho como categoria fundante do ser social.
Segundo Wanderlei Codo (1996), não será na psicologia ou na sociologia que há de se buscar inspiração para uma definição do trabalho. Pois essas são ciências derivadas de uma fragmentação do conhecimento e como demonstra seu valor heurístico através da história não se prestam a aprofundar categorias ontológicas. Nesse sentido a filosofia nos seria de grande valor.
Quando se pretende tamanho desafio de definir trabalho ontologicamente é necessário resgatar hoje na esfera intelectual as metanarrativas tão depreciadas ultimamente, principalmente nos discursos pós-modernos. Discursos que relegaram ao anacrônico qualquer tentativa de abarcar a totalidade da realidade humana dentro de uma única teoria. Mais especificamente, quando se trata do tema do trabalho é imprescindível resgatar na literatura quem tratou com privilégio o conceito do mesmo. Para àqueles que se propõe a uma análise crítica, buscar a essência do fenômeno do trabalho deve se remeter, necessariamente, a Karl Marx.
Para Marx antes de discorrer sobre o processo de trabalho característico e particular no modo de produção capitalista era indispensável versar a respeito da generalidade e do caráter essencial da atividade trabalho como processo de mediação do Homem com a natureza externa e com a sua própria. Assim disse ele:
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media,regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio. (MARX, 1996, p.282).

Ao dizer isso, Marx (1996) não está se referindo às formas primitivas de trabalho instintivo. Não se trata apenas das primeiras formas de trabalho humano, pois quando um sujeito vende sua força de trabalho no mercado hoje, ele num processo que se remete a um movimento dialético de transformação recíproca, põe em efetivação a mudança da realidade objetiva a sua volta e desenvolve potencialidades latentes ou mesmo destrói, no caso do trabalho alienado. Ou seja, independente da transformação fenomênica, ou como as formas de trabalho nos aparece condicionadas pelo tempo e espaço sócio histórico, há algo de universal essencialmente predominante na atividade do trabalho humano em todo tempo e lugar.
Estamos a nos referir de modo específico ao trabalho fundamentalmente humano, mesmo com as objeções da descoberta de animais que realizam "trabalho", há algo muito diferencial na definição de trabalho humano no Capital de Marx (1996, p.283). Ele propõe um exemplo diferencial:
o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto, idealmente. (MARX, 1996, p.283).
O homem, dessa maneira, não apenas efetua uma ação mecânica na forma da matéria natural, mas ele faz uma ação transformadora na matéria de acordo com seu objetivo, o qual ele sabe que determina a espécie e o modo de sua atividade. O homem concebe uma ideia e planeja um fim, o qual vem a se efetivar na transformação da natureza pela escolha consciente dos meios.
Portanto, os homens, assim como os animais precisam necessariamente efetuar uma contínua transformação na natureza para viver. Entretanto, diferentemente da esfera biológica, o homem faz a transformação da natureza teleologicamente posta, ou melhor, o caráter teleológico dessa atividade humana é, pois o fim último do trabalho, o seu resultado, é previamente construído nas subjetividades, que atende uma finalidade que orientará todas as ações que virão a seguir (LUKÁCS, 2010).
Fundamentado diretamente em Marx, Lukács (2010), propõe momentos determinantes na categoria trabalho. O primeiro, o momento da objetivação, é definido como o conjunto de ações que transforma a prévia ideia, ou a finalidade concebida na consciência em um produto objetivo. Essa mesma objetivação é a mediação que articula a teleologia; uma abstração singular de um sujeito vem a ser um novo ente objetivo. Mas isso está longe de ser um suposto idealismo, que propõe uma primazia da ideia sobre a matéria, pois nessa perspectiva a objetivação indica que ao transformar a natureza, o individuo também se transforma, porque primeiramente ele desenvolve novas habilidades no processo; depois para transformar o ser natural, é crucial que o homem venha a desenvolver o conhecimento das leis e das determinações mais importantes do setor da natureza que deseja transformar. Assim, toda objetivação resulta em novos conhecimentos e novas habilidades e competências, com isso o individuo não será o mesmo de antes.
Nesse sentido, a ação do trabalho não é apenas transformação da realidade, mas é significativamente exteriorização de um sujeito, o segundo momento da categoria trabalho. A transformação do real só se dá a partir de um dado desenvolvimento da individualidade. E a exteriorização da individualidade é também uma exteriorização de um dado desenvolvimento social. Esse desenvolvimento social é engendrado pelo processo de objetivação e exteriorização onde trabalho e sociabilidade se constituem dialeticamente através da generalização dos resultados objetivos e subjetivos (LUKÁCS, 2012). Na medida em que os homens objetivam trabalho a totalidade do ambiente, no qual está inserido o individuo, também se altera.
Ademais, quando se fala de generalização, compreende-se que os resultados, (conhecimentos, habilidades, etc), obtidos do processo de objetivação e exteriorização humana se transformam gradativamente de singulares em universais constitutivos de uma dada totalidade social específica, que por sua vez, irá fazer com que todos que vivam naquele ambiente, estejam expostos às consequências, e tenham que responder às novas situações geradas pelas objetivações singulares dos outros indivíduos. Consequentemente, isto altera a relação dos indivíduos consigo mesmos, com a natureza e entre si. Observa-se, portanto, que o trabalho e suas mediações engendram a transformação constante da totalidade do complexo social e a sociabilidade, por sua vez está incessantemente em movimento e sujeita a mudanças, mudando também o individuo. Isto é, o desenvolvimento social requer e possibilita o desenvolvimento da individualidade. No entanto, este é um aspecto que expressa muitas contradições. Mas é nessas contradições que há abertura para as contingências a despeito das relações necessárias, e onde o novo aparece e a mudança ocorre.
Contudo, é pertinente ressaltar, em última análise, que quanto mais complexa for a sociabilidade, quanto mais mediados socialmente forem os atos que os indivíduos realizarem no cotidiano, tanto mais complexas serão as individualidades. E é nesse movimento de sínteses mais abrangentes que os indivíduos passam de singulares simples da espécie para personalidades mais complexas.
Diferentemente dos animais, os quais também realizam transformação na natureza e por ela são transformados, a ação humana através do trabalho implica mudança na natureza mais a produção de significado. "Trabalho é o ato de transferir significado à natureza", assim define sinteticamente Codo (1996, p.42) a significação do trabalho humano, em sua constituição ontológica. Essa é uma das principais diferenças do trabalho humano em relação aos outros animais.
Numa relação mecânica o sujeito se transforma ao transformar o objeto e vice versa, no trabalho essa relação mecânica se abre a uma nova contingência: o aparecimento do signo ("signo-ficare"), ou significado, que por sua vez se transforma e é transformado pela ação recíproca do sujeito e ou do objeto (CODO, 1996, p.42). Existe desse modo, uma dimensão que transcende a relação direta entre sujeito e objeto.
Há uma vantagem nessa introdução do significado na compreensão do trabalho, pois torna sua definição mais ampla. Trabalho não se trata apenas da atividade do emprego ou mercadoria, ele é gesto que se transcende em um significado que permanece. Tendo em vista, que somos animais históricos inseridos em um determinado complexo social, qualquer trabalho irá gerar significado, ou para o agente da ação; ou para todos aqueles que compartilham em uma dada comunidade do significado social do trabalho. O trabalho se acumula pelo seu significado sedimentado historicamente. Estas ideias se encaixam naquilo que Lukács (2012) havia dito das três categorias primordiais: sociabilidade, Trabalho e linguagem. Nesse contexto o trabalho exerce a mediação com todas as categorias fundamentais e as desenvolve. Além do mais, observa-se que através do trabalho há um impulso à generalização dando origem ao complexo social, o qual irá sintetizar os atos e significados dos indivíduos singulares em tendências do desenvolvimento histórico-genérico. Passamos a seguir à referência teórica do conceito de subjetividade.

2.2 A subjetividade

Tendo em vista a discussão sobre o papel crucial do trabalho na subjetividade, cabe-nos ressaltar que os processos de subjetivação do indivíduo, estão sempre articulados com os sistemas de relações sociais. Nesse sentido, Gonzáles Rey (2003, p.205) irá propor uma tensão recíproca entre a subjetividade social e a individual: "a subjetividade social não é uma abstração, é o resultado de processos de significação e sentido que caracterizam todos os cenários de constituição da vida social". Dentro dos processos de socialização e de desenvolvimento do indivíduo se dá a perpetuação dos significados e sentidos que os caracterizam. A atuação de um sujeito no mundo tem duas dimensões simultâneas, uma individual e outra social e as suas ações vão se integrar no sistema da subjetividade social na qual comporta uma integração dialética e contraditória entre indivíduo e sociedade.
Poderíamos dizer de duas faces da mesma moeda, uma individual e outra social da subjetividade. Esta, para Rey (2003, p.252) "apareceria como forma de organização da psique que tem no sentido subjetivo sua principal unidade constitutiva". E a psique dentro desta perspectiva é ontologicamente compreendida como sistema de sentidos que de forma sintética e ativa produz as configurações subjetivas. Ou melhor, a psique faz a síntese dos sentidos oriundos das experiências externas vivenciadas pelo sujeito no seu desenvolvimento enquanto ser social.
Aqui, Significado e Sentido devem ser diferenciados: Significado pertence ao que podemos chamar de ordem simbólica, ou universal, compartilhado por todos os membros de um sistema de linguagem e o que garante a consistência de todo o campo da experiência; ao passo que Sentido é uma ocorrência contingente local no âmbito do não sentido. O significado é global, o horizonte que abrange os detalhes aparentemente insignificantes. O sentido é produto de um encontro sem sentido, e de sorte. As coisas tem significado, mas fazem sentido (ŽIŽEK, 2013).
Essa categoria de sentido subjetivo possibilita então a representação de cada experiência do sujeito expressa em diferentes sentidos de acordo com o que ele já havia elaborado de outras experiências passadas. Desse modo, é o sentido subjetivo que garante a versatilidade de representações psíquicas das experiências histórico-sociais do sujeito.
Já foi dito anteriormente, pelas ideias de Lukács, que o trabalho impulsiona à formação da totalidade social, a qual sintetiza pelo processo de generalização os atos e significados dos indivíduos singulares em tendência do desenvolvimento histórico-universal. Sendo assim, o trabalho também impulsiona o movimento inverso, de proporcionar ao sujeito um processo de subjetivação e de sintetizar através do sentido particular as experiências vividas nas relações sociais genéricas. Isto nos permite discorrer, como é a proposta do presente estudo, sobre duas categorias ontologicamente importantes e inerentemente relacionadas, a saber, Trabalho e Subjetividade.

2.3 Subjetividade e o novo contexto do trabalho

Vimos em Marx (1998) e em Lukács (2012) que o trabalho funda o mundo dos homens, na medida em que a história dos homens se torna a história da origem e do desenvolvimento das formas de organização social. Essas formas surgem e se desenvolvem, pois o ato de trabalho não produz apenas o objeto que dele resulta imediatamente, mas muito mais. No âmbito objetivo ele produz novas situações históricas, ao passo que no âmbito subjetivo também possibilita novas configurações der ser no mundo.
Dito isso, proporemos articular uma sucinta descrição dos processos de desenvolvimento das forças de produção no capitalismo atual, de modo a abarcar as configurações da atual lógica de dominação do capital e as formas de organização do trabalho nesse novo cenário com os modos e normas de socialização e, portanto, de subjetivação.
Para tanto, utilizaremos o recurso da escola de regulamentação da qual David Harvey (1992) também se utiliza como recurso heurístico. Em suas palavras, a escola de regulamentação:
concentra sua atenção nas complexas inter-relações, hábitos, práticas políticas e formas culturais que permitem que um sistema capitalista altamente dinâmico e, em consequência, instável adquira suficiente semelhança da ordem para funcionar de modo coerente ao menos por um dado período de tempo. (HARVEY, 1992, p.117).
Portanto, observa-se a partir de tal perspectiva que nas relações entre sociabilidade, trabalho e linguagem, mais um elemento de mediação necessita ser incluído, a saber, a ideologia, cuja qual articula contraditoriamente a lógica necessária de expansão do Capital (que é uma relação social) e os modos do ser subjetivo na vida, expressos nos hábitos, comportamentos, valores e padrões de relações afetivas.
Seguindo tal abordagem, é pertinente, primeiro desenvolver uma tentativa de descrever sinteticamente o cenário contemporâneo do mundo do trabalho. Segundo Harvey (1992) o homem vive no atual contexto, àquilo que foi denominada reestruturação produtiva do capital, iniciado por volta da década de 70, com as revoluções técnicas informacionais instaurando um novo modo de acumulação produtiva, a acumulação flexível. Esta se caracteriza a partir do confronto direto com formas rígida do controle do processo produtivo e dos trabalhadores típico do fordismo. A acumulação flexível instaura a "flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo" e "caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e comercial" (Harvey, apud ALVES 2011, p.13).
Esse regime de acumulação flexível tem um impulso enorme a debilitar o mundo do trabalho, promovendo alterações importantes na objetividade (e subjetividade) da classe de trabalhadores assalariados (ALVES, 2011). As novas condições do novo complexo de reestruturação produtiva são as inovações tecnológicas e sociometabólicas e as inovações organizacionais. As estas inovações organizacionais se atribui a influência da emergência do toyotismo que permeia o novo complexo de reestruturação produtiva do capital. E essas inovações organizacionais possuem um nexo essencial com a subjetividade do novo trabalhador moldado pelo toyotismo.
A ideologia orgânica do novo cenário contemporâneo do mundo do trabalho é o toyotismo que expõe seus princípios técnico-organizacionais expressos em valores e regras de gestão do trabalho vivo nas grandes empresas e que está presente nos mais diversos negócios capitalistas seja no ramo privado, seja inclusive, na administração pública, afetando até a prestação de serviços e hospitais. Além do mais, o sistema Toyota de produção fundamentalmente tem necessidade de envolvimento dos operários e empregados nos procedimentos técnicos e organizacionais da produção de mercadorias e serviços (ALVES, 2011).
As novas técnicas e dispositivos organizacionais incluem entre outros: os programas de qualidade, incluindo os círculos de controle de qualidade (CCQ), por exemplo; a melhoria contínua (Kaizen); as células de produção e os grupos semi-autônomos; o Just in time; o Kanbam; e as tecnologias de grupo (TGO). Assim as velhas formas de gestão vão sendo substituídas por modos de gestão baseados na excelência, na busca de qualidade total enfatizando a primazia do êxito, a supervalorização da ação, pró-atividade, adaptabilidade e a polivalência da mão-de-obra e a transformação das relações hierárquicas em relações verticalizadas (GOULART, 2002). Pode-se inferir a partir do que já foi dito do novo contexto do mundo trabalho, que há um deslocamento do foco do componente manual do trabalho para o componente intelectual implicando na exigência de qualificação cada vez maior do profissional. Requer-se do trabalhador competências de leitura, interpretação de textos, raciocínio abstrato, capacidade de trabalhar em grupos, facilidade de comunicação etc.
Nesse sentido, observa-se que a lógica do toyotismo não abre mão do "engajamento" moral-intelectual dos empregados na produção do capital, isto implica a necessidade do envolvimento intenso da subjetividade de quem trabalha, portanto o toyotismo mobiliza a subjetividade, isto é corpo e mente, como nunca visto antes no passado (ALVES, 2011, p.46). O engajamento estimulado, o envolvimento pró-ativo, a manipulação dos valores, dos afetos, da atividade psíquica fazem parte da expropriação do que há de mais particular no sujeito para fins de expansão interminável do lucro das organizações e da ampliação do capital.
Através do espírito do toyotismo surge o imperativo da administração participativa, são cobiçados agora os valores dos colaboradores, suas crenças, sua interioridade, sua personalidade. Sob esta nova lógica de relação social no trabalho, o homem produtivo é instigado a pensar mais, desde que seja de acordo com a nova racionalidade instrumental do capital e em consenso com ele. O cérebro dos empregados não está mais livre no trabalho como no taylorismo-fordismo. Agora, deve-se combater nas organizações o pensamento crítico. Ao invés deste incentivam-se as habilidades cognitivas e comportamentais, pró-ativas e propositivas no sentido adaptativo, de modo a camuflar as agudas contradições desse novo modo de organização do trabalho (ALVES, 2011).
O que fica claro para nós diante do sucinto panorama descrito à cima é a urgente necessidade da psicologia do trabalho crítica, ter a responsabilidade por pensar e investigar ainda mais a constituição ontológica da realidade humana e os problemas das relações entre trabalho e subjetividade diante da condição em que ambos se encontram. Condição esta, de refém dos movimentos (teóricos e técnicos) emergentes da gestão de pessoas à serviço da expansão incontrolada do mais-valor/capital das organizações. Passemos a seguir à descrição do método utilizado no presente estudo.

METODOLOGIA

Partindo da considerada necessidade da investigação de como a psicologia do trabalho vem lidando com os problemas das relações entre trabalho e subjetividade no mundo contemporâneo, optou-se por um procedimento metodológico de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica caracteriza-se como modalidade de estudo e análise de documentos de natureza científica tais como livros, periódicos, enciclopédias, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos.
No primeiro momento do presente trabalho, buscou-se o levantamento das fontes de consulta através de leituras exploratórias, em seguida selecionaram-se referenciais teóricos que melhor contemplam a temática a partir de uma perspectiva crítica em diálogo com outros saberes, a exemplo da filosofia e das ciências sociais.
Em um segundo momento, ainda seguindo o modelo da pesquisa bibliográfica, realizou-se uma busca por artigos científicos que tratassem em seu estudo dos aspectos da subjetividade e do trabalho e da relação entre ambos. Desse modo, foi escolhida duas revistas eletrônicas consideradas de maior publicação e relevância no campo da psicologia do trabalho, a saber, a Revista de Psicologia Organizacional e do Trabalho (UnB) e Cadernos de Psicologia Social do Trabalho (USP). Foi definido como critério de seleção dos artigos, os quais apresentassem em seus resumos ou nas palavras chaves os termos: subjetividade e trabalho.
Foram lidos no total 302 resumos de artigos, sendo que 170 resumos pertencentes à Revista de Psicologia Organizacional e do Trabalho, referentes ao ano de 2001 a 2013 e 132 resumos à revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, referentes ao ano de 1998 a 2013. De todos estes resumos foram encontrados 12 artigos que traziam em seus resumos ou nas palavras chaves, as categorias subjetividade e trabalho.
Esses doze artigos foram lidos na íntegra, com o objetivo de delinear qual era a natureza do estudo e de que forma eram abordados, definidos e relacionados subjetividade e trabalho. É importante ressaltar que nem todos os artigos tinham como objeto principal a discussão da relação entre trabalho e subjetividade, a maioria tratava de algum ofício em particular, articulando com alguns aspectos associados a diversas noções do conceito de subjetividade, noções estas que nos deteremos em detalhe mais adiante.
Ao longo das leituras analíticas foram feitos fichamentos dos principais pontos fundamentais dos artigos de modo que se pretendeu registrar as definições conceituais das categorias estudadas no presente trabalho. Dessa forma, foi necessária a utilização de textos de apoio para a compreensão, organização e sistematização das diversas ideias veiculadas, a fim de esquematiza-las em tabela de classificação dos conceitos para melhor analisá-los.
Após sistematizar as definições em três categorias principais na tabela, quais sejam: subjetividade, trabalho e subjetividade e, trabalho. Foi realizada uma análise de conteúdo de todas as definições conceituais encontradas. Entende-se por análise de conteúdo "um conjuntos de técnicas científicas utilizadas em ciências humanas, caracterizadas pela análise de dados linguísticos" (APPOLINÁRIO, 2009 p.27). Desse modo, os aspectos fundamentais da comunicação são categorizados. Logo após, as categorias são analisadas a partir de uma teoria específica. No nosso caso, as categorias analisadas foram articuladas com as teorias expostas no referencial teórico, além de outras.
Na análise de conteúdo, é característico registrar a frequência com que aparece a citação de determinados temas, significantes ou ideias e esta frequência pode estar relacionada com o peso ou relevância de um assunto atribuído pelo autor. Isto é, em um texto existem sentidos e significados, latentes ou ocultos que podem ser apreendidos pela análise de conteúdo. Outro aspecto a destacar é a relação com o contexto sócio histórico da produção científica de um determinado texto, ou seja, é necessário considerar o momento cultural/intelectual e a conjuntura marcante e condicionante da produção das ideias.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados encontrados no levantamento e leitura dos artigos são apresentados a seguir apontando algumas características gerais das publicações como os principais temas abordados e as respectivas abordagens teóricas que dão um perfil metodológico aos estudos. No levantamento dos artigos da Revista de Psicologia Organizacional do Trabalho observou-se uma frequência maior dos temas ou conceitos que aparecem mais significativamente, a saber:
- Treinamento
- Comprometimento Organizacional
- Saúde do Trabalhador
- Qualidade de vida no trabalho
- Psicodinâmica do trabalho
- Organização do trabalho
- Validação de escalas
Esses foram os principais temas que apareceram nos 170 resumos lidos referentes ao ano de 2001 a 2013. Dos 170 resumos apenas 6 abordavam os conceitos de trabalho e subjetividade. Observa-se, portanto, que apenas 3,5% das publicações traziam em seus estudos a problemática da relação entre o trabalho e subjetividade, relação esta que em cada artigo tinha uma forma particular, determinada pela temática específica e que requer ainda um exame mais detalhado. Ao passo que os outros 86,5% das publicações restantes tratavam de conceitos considerados caros à psicologia organizacional e que de certa forma contemplam a exigência de publicação científica destinada para o exercício profissional nas organizações, estas, cada vez mais interessadas em novos saberes encomendados para subsidiar as práticas e estratégias de estruturação do trabalho em mercados cada vez mais competitivos.
A propósito da outra revista Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, foram lidos 132 resumos, referentes ao ano de 1998 a 2013, nos quais apareceram mais notadamente os seguintes temas:
- Psicologia do Trabalho
- Saúde no trabalho
- Condições de trabalho
Em comparação à revista anterior, estes temas nos remetem a uma perspectiva mais ampliada do campo da psicologia do trabalho trazendo reflexões de aspectos mais generalistas, exemplificada pelos temas de saúde e condições de trabalho. No entanto, dos 132 resumos lidos, apenas 6 traziam a discussão sobre a relação entre trabalho e subjetividade, isto é, 4, 5% do total das publicações desta revista priorizou temas que abordassem a relação dos conceitos que aqui nos interessam.
Somando os resultados das leituras exploratórias realizada nas duas revistas, conclui-se que diante de 302 resumos lidos, apenas 12 se encaixavam na nossa procura pelas categorias subjetividade e trabalho. Ou seja, 3,9% das publicações somadas das duas revistas trazem alguma discussão ou relação entre trabalho e subjetividade.
A nossa primeira inferência, portanto, se refere ao número significativamente reduzido de produção científica em duas revistas de alto número de publicações na área de psicologia do trabalho. É claro, que essas duas revistas nos servem apenas de amostra para obtermos uma noção da quantidade e do conteúdo das publicações, considerando que existem outras tantas. Mas mesmo assim, essa pequena amostra indica já, e nos apresenta de modo sintomático, um reduzido número de estudos sobre os aspectos subjetivos envolvidos no universo do trabalho e uma progressiva perda do objeto da psicologia em si.
Nesse sentido, Edmund Husserl já havia se perguntado na sua obra Krisis (1936), por que o campo da subjetividade, que deveria ser considerado o objeto da psicologia, havia sido totalmente ignorado pelos psicólogos (REY, 2005). Essa pergunta situava-se no contexto da hegemonia positivista na pesquisa psicológica, entretanto, ela se faz ainda atual e pertinente, visto que, pela nossa hipótese da crescente produção científica instrumental, veiculada estreitamente ao novo impulso da gestão de pessoas, em detrimento da reflexão crítica acerca das relações de manipulação subjetiva nas novas organizações do trabalho.
Além do mais, para além dessa suposta progressiva perda do objeto da psicologia, ainda há indícios de uma postura na comunidade científica que ignora os impactos e implicações importantes para o "novo trabalhador" nas transformações das relações de trabalho, oriundas da reestruturação produtiva e de modo geral do capitalismo neoliberal. Isto significa dizer, que na gestão e organização no capitalismo globalizado a manipulação psicológica se dá de maneira significativa e que requer demasiada consideração.
Essa urgente consideração do problema se justifica, pois, assim como assevera Heloani:
[...] a empresa precisa manter um controle indireto sobre a atuação dos seus empregados, o que leva a fazer com que estes assimilem e incorporem suas regras de funcionamento como elemento de sua percepção, chegando num último estágio, ao reordenamento da subjetividade dos trabalhadores, visando garantir a manutenção das normas empresariais, a subjetividade é assim tomada, na lúcida observação de Enriquez, como um recurso a mais a ser manipulado, um engodo por parte do capitalista, para que os trabalhadores "crendo que sua subjetividade foi reconhecida, ponham a serviço do capitalismo seu potencial físico, intelectual e afetivo". (2011, p.106).

Estamos dizendo aqui que é preocupante a não abordagem de uma reflexão crítica da subjetividade em um cenário marcado pela empresa pós-fordista ou toyotista que estimula a "iniciativa", o desenvolvimento da "capacidade cognitiva" do "potencial de criação" e assim por diante. Assim como já foi dito anteriormente, no atual contexto das novas organizações, há a necessidade do envolvimento intenso da subjetividade de quem trabalha, portanto o toyotismo mobiliza a subjetividade, isto é corpo e mente, como nunca visto antes no passado (ALVES, 2011, p.46).
Sendo assim, os 3,9% das publicações encontradas na presente pesquisa, que de alguma maneira trazem uma reflexão crítica ou não, acerca da relação entre trabalho e subjetividade, é um número muito inexpressivo contrastando com os outros temas majoritários e hegemônicos, alvo da nossa crítica à cima. Esses 3,9% representam os 12 artigos selecionados, os quais nos convidam a analisá-los melhor. Passamos adiante a nos atentar sobre os 12 artigos apontando a definição de trabalho e subjetividade e a possível relação entre ambas as categorias e que tipo especificamente de relação seria essa. Dessa forma, classificamos os artigos em uma tabela, dividida em três categorias a seguir:


ARTIGO
CATEGORIA SUBJETIVIDADE
CATEGORIA TRABALHO
CATEGORIA SUBJETIVIDADE E TRABALHO
Artigo1- "Programa de Demissão Voluntária em uma instituição bancária: da gestão da adesão ao programa às complexas perdas psicossociais"
Compreendida como sentimentos, emoções, desejos, pensamentos e defesas.
Tacitamente referido como gerador de sentido e como referencial identitário.
A gestão organizacional do trabalho caracterizada como instrumentalização da subjetividade.
Artigo2- "Organizações que mudam, vidas que se transformam: a posição de sujeitos diante de processos de reestruturação organizacional na administração pública"
Delimitada pelo sentido filosófico, referente à consciência de sujeito individual, particular e concreto, acessível a partir do que emite como comportamento.
Atividade central na vida; relacionado com um senso de prazer.
Reestruturação produtiva e organizacional implica mudanças subjetivadas no trabalho.
Artigo3- "O executivo pós-moderno: transformações no trabalho e subjetividade"
Constituída por identidade, consciência, afetividade e atividade.
Entendido como atividade pouco geradora de identificação, percebido como sem sentido e de inteira responsabilidade pessoal.
O trabalho gerencial vem se alterando e a subjetividade dos trabalhadores vem sofrendo mudanças.
Artigo4- "Prazer e sofrimento no trabalho docente: estudo com professores do ensino fundamental em processo de formação superior"
Associado à dimensão afetiva; caracterizada como afetos.
Abordagem psicodinâmica; dualidade entre prazer e sofrimento psíquico; produção psíquica da luta contra o sofrimento.
O trabalho pela mediação afetiva pode proporcionar prazer, reconhecimento e satisfação.
Artigo5- "Espaço coletivo de discussão: a clínica Psicodinâmica do trabalho como ação de resistência"
Abordagem psicodinâmica; centrada na posição do desejo articulado à organização do trabalho, inteligência prática, uso de estratégias defensivas e negação do sofrimento.
Compreendido como um dos principais modos de produção de existência social.
Abordagem que coloca o trabalho como gerador de prazer ou sofrimento. De acordo como as mudanças na organização do trabalho a relação saúde-doença se alterará. A subjetividade está envolvida com a dinâmica da organização.
Artigo6- "A experiência de afastamento do trabalho por adoecimento vivenciado como processo de ruptura ou continuidade nos modos de viver"
Modos de subjetivação enfocando as formas "como o sujeito faz a experiência de si nos jogos de verdade"(Foucault). Formas de autoreconhecimeto; "outras formas de ser".
"conjunto de infinitas possibilidades de articulação das fontes naturais e sociais que possibilitam a utilização da possibilidade criativa humana para a produção da vida (criação) e de sua manutenção (sobrevivência)".
"A relação entre subjetividade e trabalho delineia-se a partir de pontos de fixação e deslocamento do poder que evidenciam os espaços de reprodução e ruptura produzidos nos contextos de trabalho".
Artigo7- "ACAT: o trabalho como protagonista da análise de acidentes de trabalho"
Perspectiva da clínica da atividade. É entendida "como produto da atividade"
A atividade é tomada como categoria central de estudo e o trabalho como atividade dialógica.
A compreensão entre trabalho e subjetividade não é centrada na luta contra o sofrimento, mas na atividade de trabalho como fonte permanente de recriação e de novas formas de viver.
Artigo8- "Trabalho e subjetividade: o olhar da psicodinâmica do trabalho"
Foco na saúde mental e no sofrimento psíquico; modos de pensamento, suas intenções, desejos e anseios.
Compreendido como gerador de doenças e sofrimento. Também é um campo de conquista da identidade pelos indivíduos. Espaço de reconhecimento social.
Trata-se da questão da produção da significação, do sentido do trabalho pelos indivíduos.
Artigo9- "Trabalho e gestão de si- para além dos recursos humanos"
"Processo de subjetivação", que diz respeito às formas de estar, pensar e sentir o mundo, atravessada por questões políticas, sociais, e múltiplos elementos heterogênios.
Perspectiva da Ergologia; "é a atividade de seres humanos situados no tempo e espaço e que se dá no acontecendo da vida. São atividades sempre complexas e que possuem em caráter enigmático".
O trabalho mobiliza os aspectos subjetivos (normas, valores e história) o tempo todo. Mudanças na organização/gestão do trabalho implicam transformações nos processos de subjetivação.
Artigo10- "o vocabulário da habilidade e da competência: algumas considerações neopragmáticas"
"Entendida como efeito de linguagem. Subjetividades diversas são produzidas, mantidas e extintas como função de troca, isto é linguagens, formas de vida, discursos etc."
Categoria não definida no texto
Idem
Artigo11- "O processo de modernização portuária e a produção de subjetividade: o caso de Santos"
Síntese do particular imbricada com o universo do trabalho. A subjetividade denomina-se como "campo de mediação que surge por meio das relações travadas com grupos a que o indivíduo pertence".
"Fonte permanente de recriação de formas de viver e de produção de sujeitos capazes de produzir maneiras de enfrentar novas e velhas situações, confrontando-se como sua própria existência".
Considerada como dimensão humana produzida incessantemente nas interralações entre trabalhadores, máquinas e todo ambiente laboral permite compreender as diversas maneiras como as pessoas produzem bens, serviços e vida.
Artigo12- "Ofício de carteiro e atividade: por uma gestão pelas variações"
Está configurada nos modos de agir, pensar, sentir e trabalhar, em determinados momentos evocando conexões entre elementos, valores, necessidade e projetos diversos.
Perspectiva da clínica da atividade. Trabalho como tendência criadora. Aponta a função psicológica do trabalho enquanto fonte de alteridade, iniciativa e criatividade.
O trabalho concebido como atividade irá pressupor a presença de uma mobilização cognitiva e afetiva do trabalhador, sua inteligência, sua história de vida e de relações com os outros.


Como podemos observar na tabela a cima, os artigos foram analisados conforme três categorias. Com efeito, obtivemos uma multiplicidade de definições conceituais diversas, expressando uma heterogeneidade teórica e o que acarreta, certamente, uma dificuldade em encontrar um padrão mínimo para a análise das definições de cada categoria. No entanto, tentaremos delinear as várias e divergentes definições em aproximações, agrupando-as em algumas tendências.

4.1 Categoria Subjetividade

A primeira categoria a ser analisada é a da subjetividade. E uma primeira tendência de raciocínio percebida na definição dessa categoria é aquela que prioriza certos elementos ligados à experiência fenomênica de si, ou seja, experiência consciente de si, caracterizada pela descrição de sensações de "interioridade" como sentimentos, emoções, pensamentos, desejos. Está presente também a referencia à noção filosófica de consciência individual, de sujeito particular e concreto que expressa essa subjetividade em comportamentos. Nesse sentido, a consciência está associada à noção de atividade, além de incluir outro elemento, a identidade e por fim a dimensão da afetividade. Portanto, essa tendência poderia ser classificada como aquela que agrupa os aspectos subjetivos em torno da experiência consciente, isto é, todos os elementos ou fenômenos descritos a cima são experimentados a partir de como eles aparecem para a minha consciência, logo como eu os experimento como pertencentes a min e vivencio a min mesmo.
Uma segunda tendência presente nas definições da tabela é a abordagem psicodinâmica do trabalho, na qual, a subjetividade é pensada e compreendida dentro das coordenadas do desejo contraposto com o real do trabalho. Sendo assim, o sujeito se organiza psicologicamente no intuito de mobilizar sua inteligência prática, utilizando-se de estratégias para negação do sofrimento. Dentro dessa perspectiva, o sujeito está em meio ao jogo de um antagonismo, qual seja, desejo versus sofrimento mental. Antagonismo, muitas vezes expresso nos estudos dessa abordagem que versam sobre o processo saúde/doença no modo de organização do trabalho.
Outra forma de conceber a subjetividade encontrada em três artigos, se constituindo em um referencial teórico bastante presente, é a da abordagem discursiva de Foucault (1999). Para essa perspectiva teórica, fala-se em modos ou processos de subjetivação, entendida como as formas de como o sujeito faz a experiência de si nas práticas discursivas, bem como, diz respeito às formas de sentir e estar no mundo, atravessadas pelas questões políticas, sociais, econômicas e por vários elementos heterogênios. Ademais, a subjetividade é compreendida como efeito de linguagem ou discursos.
Ainda temos, por final, a abordagem teórica da clínica da atividade, a qual consiste em uma compreensão da categoria da subjetividade que considera a atividade o elemento central e mobilizador da constituição subjetiva. Dessa forma, ela só pode ser apreendida como processo a partir das condições concretas e materiais da vida, levando em conta as condições históricas, sociais e objetivas. Para o olhar da clínica da atividade, que tem como referencia os estudos em psicologia do trabalho de Yves Clot, a subjetividade é tomada como o "continente escondido da atividade" (VIEIRA, BARROS e LIMA, 2007, p.158). E diferentemente das outras concepções tradicionais, descritas anteriormente, não só apenas os modos ou processos de subjetivação (abordagem discursiva), e também os processo de saúde/ doença (abordagem psicodinâmica), bem como, os aspectos conscientes da experiência de si, as habilidade, valores e emoções passam a ser prioritários de reflexão. Essas abordagens, para a clínica da atividade, acabam excluindo uma discussão sobre as situações concretas, vividas por aqueles que realizam atividades laborais, desconsiderando as exigências, condições e problemas imediatos do trabalho que necessariamente estão relacionados com os "modos de ser" de cada um (VIEIRA, BARROS e LIMA, 2007, p.158).
Como podemos apreender (era o esperado), existe uma gama divergente de conceituação da categoria subjetividade que está de acordo com as várias abordagens teóricas existentes do fenômeno. Embora diferentes, elas não necessariamente se excluem mutualmente, poderíamos dizer até que se complementam em alguns aspectos, mas não em outros. Tendo em vistas essas diferenças, podemos atribuir a esse fato às próprias bases epistemológicas da Psicologia, que tem em sua história constitutiva diferentes matrizes do pensamento científico.
Isso se verifica quando olhamos para a psicologia de modo geral, que ao longo de sua história, tem tentado buscar delimitar seu objeto de estudo para se consolidar enquanto ciência psicológica. Entretanto, o que foi observado durante esse percurso, foi que no decorrer de cada investigação em busca do tal objeto, apoiada por uma dada orientação epistemológica e influenciada por outros saberes e práticas, surgia uma nova abordagem em psicologia, de tal modo que atualmente ensinam-se nas formações acadêmicas várias psicologias. Em toda essa busca pelo objeto de estudo, a psicologia, nas suas diversas ênfases, partiu do pressuposto de uma ontologia positiva, ou melhor, substancial, o que significa: qualquer que fosse o fenômeno prioritário a ser estudado, este seria portador de uma substancialidade de qualquer natureza, seja ela fosse material ou imaterial.
Nesse sentido, poderia emergir dois tipos de conhecimentos, um de base concreta, logo, conhecimento objetivo; e outro, que seria de ordem subjetiva, pois seu acesso implicaria o sentir ou pensar. Por conseguinte, desse tipo de ontologia resultou em várias dicotomias como: material/imaterial, interno/externo, objetivo/subjetivo, etc. (Oliveira, s/d). Em função desses impasses advindos das dicotomias, determinadas psicologias, ora eram condenadas por externalismo, objetivismo ou mecanicismo, ora eram ao contrário, condenadas por subjetivismo ou internalismo.
Por sua vez, a subjetividade se tornou também refém de uma ontologia substancial, de forma que mesmo sendo considerada de natureza objetiva ou subjetiva ela deveria ser encontrada no espaço, num lugar que obviamente seria no interior do sujeito. Ademais, além de substancial a subjetividade ainda era concebida por muitas abordagens como estática. E por mais que houvesse tentativas de superação desses limites epistemológicos, ao exemplo da metodologia materialista dialética utilizada através da psicologia social latina americana, ainda se observa em algumas teorias, a herança do positivismo objetivista que pode ser ilustrado pela psicologia quantitativa incorporada nos testes psicométricos ou na mensuração de "aspectos" dessa subjetividade como inteligência, personalidade ou comportamento (OLIVEIRA, s/d).
Como podemos observar, ao refletirmos de modo sintético, como foi posto a cima, os pressupostos ontológicos e epistemológicos que estruturaram as psicologias no estudo da subjetividade, historicamente encontramos a presença de muitas lacunas através das dicotomias e das limitações teóricas, de modo geral, algo que implicará é claro, na reduzida possibilidade de intervenção da prática profissional diante dos muitos desafios impostos pela emergência de novos sujeitos e novos trabalhadores ou "colaboradores" das organizações. Além do mais, considerando o que já foi assinalado, faz-se necessário uma reflexão das bases teóricas da categoria subjetividade, tão utilizada no discurso psicológico, que possibilitará a emergência de propostas mais amplas, aprofundadas e que dê conta dos desafios das transformações nos modos de subjetivação pelo qual passa o sujeito do capitalismo na contemporaneidade e, sobretudo, frente às transformações dos processos organizacionais.
Por conseguinte, ao se considerar a possibilidade de propostas conceituais mais amplas e aprofundadas da categoria subjetividade, nós sugeriríamos uma opção de interlocução da psicanálise com outras teorias da subjetividade mencionadas anteriormente no referencial teórico. Apostando, dessa forma, na ampliação da compreensão das transformações no mundo do trabalho implicadas no sujeito.
Em função do nosso espaço reduzido no presente trabalho, bem como, da imensa e complexa literatura versada na questão das várias significações teóricas a respeito do conceito de subjetividade, temos que fazer uma escolha teórica (a que melhor se encaixa no propósito do presente estudo) quando se pretende ampliar a discussão sobre o sujeito e o trabalho na contemporaneidade e o papel crítico da psicologia diante disso. Sendo assim, ao tratarmos do delicado problema da subjetividade humana, tivemos que fazer uma opção teórico-metodológica pela psicanálise em interlocução com outros elementos teóricos já citados anteriormente. Pois partimos do pressuposto que a psicanálise é a ciência da subjetividade burguesa, além de possibilitar a "apreensão da dinâmica subjetiva da individualidade de classe" (ALVES, 2011, p.128).
Quando salientamos no nosso referencial teórico a proposta de González Rey sobre a categoria de sentido subjetivo como principal atividade psíquica geradora das representações subjetivas do sujeito, ficou tácito sua influencia do modelo consciente e ativo do psiquismo humano, oriundo fundamentalmente do pensamento de Vigotsky e Leontiev. Suas contribuições são demasiadamente relevantes, e longe de nosso propósito querer refutá-las. No entanto, a subjetividade psicológica caracterizada pela experiência consciente de si implica dizer que os afetos, os sentimentos, as emoções, o comportamento, as habilidades sociais, a inteligência emocional, a autogestão, etc constituem o que chamamos de subjetividade. Como já mencionamos anteriormente, esses elementos fazem parte das injunções no contexto do trabalho na reestruturação produtiva, bem como, fazem parte do novo léxico da ideologia do mundo do trabalho. Será apenas essa então, a subjetividade psicológica que foi de fato colonizada pelo capital? A impressão que se tem é que essa "riqueza" interior do sujeito, a experiência fenomenal de si, constitui então a subjetividade posta em xeque anteriormente pela crítica do capitalismo? O que pode ser negado nesta concepção clássica de subjetividade e/ou que pode ser acrescentado a ela? Vejamos as implicações de alguns aspectos da psicanálise.
Primeiramente deve-se referir à ideia de sujeito concebida pela psicanálise como foi feito no ensino de Lacan, pois é o sujeito desprovido de substância que pré-existe como fundamento da subjetividade (BAZZANELLA, 2009). Então para falarmos da subjetividade é necessário antes tentar conceituar o sujeito: este não é concebido como uma ordem positiva ou consciente, ou inconsciente, não se trata de associá-lo ao eu pensante do qual se interessa a psicologia do ego. O Sujeito na psicanálise lacaniana é "barrado" e está marcado por uma divisão e sua principal característica é estar situado entre o eu e o inconsciente. É seguindo nessa definição negativa que o sujeito é pensado: desprovido de algo substancial precedente, ou de qualquer outro fundamento que o determine.
Nessa perspectiva, a distinção entre o sujeito (agente não psicológico "barrado") e a "pessoa" tem de ser feita. "O que está por trás da tela da riqueza da 'vida interior' de uma pessoa não é a 'realidade objetiva', mas o próprio sujeito..." Esse vazio ou o nada "é" o sujeito e a nossa tarefa é não preencher esse vazio com nada evitando a projetar nele o lodo repugnante chamado "riqueza da personalidade", nenhuma riqueza de experiência pode preencher esse vazio. Assim, obtemos uma formulação que subverte e/ou complementa (dialeticamente supera conservando) a noção clássica e comum do sujeito como lugar da experiência fenomenal de si. Dessa forma, subjetividade para nós, deve ser compreendida levando em consideração tudo o que já foi descrito mais a dimensão do inconsciente que nos atravessa, dessa outra cena e esse outro saber sobre nós (ŽIŽEK, 2013, p.113).
Segundo Roberto Heloani (2011), através de novos mecanismos de controle as organizações pós-fordistas/toyotistas exercem uma forma inconsciente de dominação via substituição de ordens por regras, estabelecimento de sistemas de valores que são assimilados pelo sujeito dentro da empresa e assim as estruturas mentais dos trabalhadores são ajustadas às estruturas sociais. Apreende-se assim, a dimensão implícita do poder e a "manipulação do inconsciente" em certas empresas. A partir dessas afirmações são nos apontadas alguns aspectos da relação das transformações subjetivas no novo mundo do trabalho. Mas antes de nos determos nessa relação realizaremos uma breve análise dos dados obtidos na categoria trabalho.

4.2 Categoria Trabalho

As definições que aparecem sobre trabalho na tabela indicam, assim como na categoria anterior, uma forte disparidade de significações. Algumas convergem em certos elementos e outras acabam se divergindo e até mesmo se contradizendo. Tal divergência está associada às várias abordagens teóricas presente na psicologia do trabalho, bem como à natureza do estudo e devido à maneira de olhar para o fenômeno em si. Para facilitar nossa análise, a categoria trabalho não será dividida de acordo com a abordagem teórica específica como foi feito na categoria anterior, procederemos a seguir de forma a agrupar os emaranhados elementos em duas tendências, qual seja, a positividade do trabalho e a negatividade do trabalho. Positividade e negatividade se referem às significações ontológicas do trabalho.
Como elementos que se encaixam em uma perspectiva positiva do trabalho poderíamos citar as que o concebem como gerador de sentido, como referencia e até mesmo como atividade geradora de prazer. Também compreendido como um dos principais modos de produção da existência social; "conjunto de infinitas possibilidades de articulação das fontes naturais e sociais que possibilitam a utilização da possibilidade criativa humana para a produção da vida (criação) e de sua manutenção (sobrevivência)". Temos o trabalho como tendência criativa e como possiblidade de enfrentamento diante de impasses; também compreendido como fonte de alteridade, iniciativa e criatividade, e por fim, trabalho como espaço de reconhecimento social.
Por sua vez, temos a tendência da negatividade do trabalho que classifica-o enfatizando seu aspecto de negação. Algumas acepções negativas aparecem na tabela como: o trabalho entendido como atividade pouco geradora de identificação e percebido como sem sentido; localizado entre a dualidade entre prazer e sofrimento daí seu significado de produção psíquica de luta contra o sofrimento.
Como podemos notar, aparecem mais significações positivas acerca da condição ontológica do trabalho. Muitas publicações acabam enfatizando apenas o aspecto afirmativo, otimista e até apologista do conceito de trabalho. Certas problematizações em Psicologia sobre a temática apresentam o trabalho como um fenômeno sine qua non do processo de evolução humana. Percebe-se em alguns textos a concepção de trabalho como atividade que é parte da inevitabilidade humana e como atividade criadora que potencializa a realização do Homem. Contudo, em outros artigos nota-se que é enfatizado mais as condições de realização do trabalho e, por conseguinte, atribuem-se significados ligados ao sofrimento. Além disso, outras definições colocam o trabalho como centro da organização social e dos homens e quase não se vê o trabalho como alienação. De modo geral, as maiorias das discussões recorrem primeiramente ao referencial das ideias de Marx para definir conceitualmente trabalho, mas em certa medida permanecem em uma análise dicotômica entremeio ao conceito e sua efetivação na realidade. Acabam, dessa forma, perdendo a tensão/contradição fundamental na análise marxiana entre essência e existência e entre natureza e história (CHAVES, 2012).
Essa contradição interna entre essência e existência e natureza e história percebida pena análise dialética permitiu a Marx apontar a negatividade do trabalho e sua consequente desumanização do homem através da alienação e reificação no modo de produção capitalista. Para Marx, assim como para Lukács na Ontologia do Ser Social, o trabalho funda o mundo dos homens, e a história dos homens é compreendida como a história da origem e do desenvolvimento das formas de organização social. Essas formas de organização da sociedade se desenvolvem, pois o ato de trabalho não produz apenas o objeto que dele resulta imediatamente, mas muito mais. No âmbito objetivo ele produz novas situações históricas. A nossa nova situação histórica é a sociedade moderna organizada pelas leis e lógica do capitalismo. Com efeito, o trabalho é submetido ao processo de expropriação da mais-valia, colonizado pela propriedade privada, se torna mercadoria, aliena o trabalhador de seu produto e de seu fazer, torna-o dependente do fetiche.
É importante nesse momento tentar entender melhor as contradições internas e externas do trabalho no contexto do debate filosófico de Marx com Hegel. Na fenomenologia do Espírito, Hegel tematiza o fenômeno do trabalho sob o ângulo da dialética da consciência-de-si, seguida da lógica da dialética do senhor e do escravo e por fim da luta por reconhecimento das consciências e do desejo. Não há espaço para aprofundar a especulação hegeliana no presente texto, contudo, em última análise, poderíamos dizer que para Hegel o trabalho não se efetiva numa relação de igualdade ou reconhecimento mútuo, mas o oposto, o trabalho se constitui de uma desigualdade e de uma relação de domínio. Marx segue na mesmo direção e avança ainda mais dizendo que o trabalho no desenvolvimento da História é estranhado. Isto é, o homem não tem um absoluto domínio sobre as coisas que produz e essas coisas ou produtos se tornam meio de dominação entre os homens (JÚNIOR, 2009).
Nesse sentido, as categorias de Marx são ao mesmo tempo negativas e positivas. Até hoje, graças ao processo histórico, o trabalho está sob o signo da dominação, pela luta das forças sociais e materiais, ao passo, que ele possui a possiblidade de uma solução positiva na efetivação utópica do potencial humano de emancipação. É esse antagonismo fundamental que é preciso conservar na análise do trabalho, embora em alguns artigos ela se perca, em detrimento de microanálises que acabam valorizando a autonomia, a criatividade, habilidades, competências, liberdade e outros atributos positivos do trabalhador, sem mesmo realizar uma reflexão crítica entre todos esses atributos e as novas injunções e imperativos do novo modo de produção flexível (CHAVES, 2012).
Esse novo modo de produção dito flexível, exerce uma positividade do trabalho, jamais antes vista na História. Nos novos discursos sob a égide da dominação simbólica do toyotismo, há a presença do enaltecimento da qualificação, da capacidade criativa e de resolução de problemas, capacidade de ser pró-ativo e dinâmico. Fala-se demasiadamente em horizontalização das relações, da gestão por parcerias e colaboração, empreendedorismo, desenvolvimento das potencialidades do protagonismo, educação integral e pleno emprego, capacidade do indivíduo de agir sozinho e criar alternativas de renda.
Tudo isso aparece para muitos, como uma esperança e até mesmo condição de liberação e emancipação frente ao trabalho rígido, uma suposta liberdade de escolha. Entretanto, essas escolhas realizadas pelos indivíduos são completamente controladas e dirigidas pelas forças sociais no mundo administrado. São novas formas de interiorização do capital sobre o trabalho, o surgimento de uma nova pedagogia e educação para o trabalho. "Todo esse movimento gera uma 'aparência de que o interesse universal só seria o interesse pelo status quo'". Ademais, essa suposta liberalização de padrões de comportamentos e de condutas joga o sujeito para a autonomia, não precisando mais de padrões impostos a ele, exceto o seu, que por sua vez, é determinado pelo modo de produção atual. "Paradoxalmente, o aumento de independência, conduz ao aumento da passividade". Tendo isso em vista, passamos a seguir à análise e reflexão da categoria trabalho e subjetividade (Adorno e Horkheimer apud CHAVES, 2012, p.42).

4.3 Categoria Trabalho e Subjetividade

Ao observar a tabela, mais especificamente a coluna que descreve as definições da relação entre trabalho e subjetividade presente nos artigos analisados apreende-se uma aproximação maior de perspectivas em relação às outras categorias. Um artigo traz o trabalho como produtor de sentido e significação da vida, outro coloca o trabalho que pela mediação afetiva pode proporcionar prazer, satisfação e reconhecimento social, e um terceiro aborda o fenômeno como atividade criadora e recriadora de formas de vida. A mobilização subjetiva enquanto cognição e afetos são postos como o laço que liga o trabalho à subjetividade. Esse primeiro agrupamento poderia ser caracterizado como tendencioso para a positividade do trabalho, assim como foi descrito na categoria anterior, positividade esta, que tecemos algumas considerações e criticas a respeito e que deve ser questionada.
Os outros artigos restantes, a maioria, foram quase unânimes em relacionar a organização do trabalho e as relações emergidas aí com a mudança subjetiva do trabalhador. Em outras palavras, a mudança na gestão do trabalho implica necessariamente em transformações na subjetividade ou processo de subjetivação. Chegamos agora a um ponto crucial, essa proposição é a chave de leitura de nosso texto. Mas ela por si só não basta, uma série de objeções poderiam ser levantadas. E se perguntássemos de que maneira se dá esse processo de influência recíproca entre mudanças na estrutura socioeconômica e funcionamento psíquico?
Bom, Freud já operava em seus escritos o contato entre estruturas subjetivas e modos de interação social. Para a psicanálise, quando se tenta compreender a racionalidade dos vínculos sociais é necessário considerar a disposição dos sujeitos em adotar determinados tipos de conduta (SAFATLE, 2007). Já assinalamos anteriormente e vale ressaltar, que ao fazermos uma leitura ontológica do ser social descobrimos que o homem como ser genérico constrói, ao longo do desenvolvimento civilizatório, totalidades ou estruturas sociais cada vez mais complexas. A ação do trabalho é significativamente exteriorização de um sujeito. Essa transformação só acontece a partir de um dado desenvolvimento da individualidade. E a exteriorização da individualidade por consequência é também uma exteriorização de um determinado desenvolvimento social. Esse desenvolvimento social é engendrado pelo processo de objetivação e exteriorização onde trabalho e modos de racionalidade social se constituem dialeticamente através da generalização dos resultados objetivos e subjetivos (LUKÁCS, 2012). Quando os homens objetivam trabalho, a totalidade do ambiente, no qual está inserido o individuo também se transforma, pois ele está mudando aquilo que o constitui e possibilita-o mudar.
Ao dizermos novamente de subjetividade nesse contexto, significa que a subjetividade do trabalho vivo é fruto necessário do desenvolvimento do processo humano-genérico. Sobre a generalização, compreende-se que os resultados, (conhecimentos, habilidades, etc), obtidos do processo de objetivação e exteriorização humana se transformam paulatinamente de singulares em universais constitutivos de uma determinada totalidade social. Por conseguinte, todos que vivam naquele ambiente, que sofreu mudança, estejam expostos às implicações de tal transformação. Observa-se, portanto, que o trabalho e suas mediações e, sobretudo suas formas de organização engendram a transformação constante da totalidade do complexo social e a sociabilidade, os vínculos e também de certa maneira a cultura, por sua vez está incessantemente em movimento e sujeita a mudanças, mudando também o sujeito.
De acordo com Lukács (2012), a sociedade regulada pelas forças de produção sob o signo da mercadoria, é uma sociedade reificada, pois o homem não tem mais o domínio de seu produto. Nesse sentido, em algum lugar de sua vasta obra Marx afirma que os homens é que fazem a história, mas não a fazem como querem. Vimos também que a totalidade social é o resultado de um acúmulo de sínteses abrangentes que vão do singular ao universal e essa universalidade pode aparecer de modo estranhado. Ou seja, essas mesmas estruturas e modos de funcionamento social se tornam reificados (coisificado; não pertence mais ao nosso controle) e exercem um poder determinante sobre a nossa própria constituição enquanto sujeitos. Assim, as nossas diferenças particulares estão no modo como cada um subjetiva às instituições e toda a ordem simbólica derivada dessa totalidade social.
Se considerarmos então essa totalidade social estranhada, reificada e regulada pelas formas-fetiche, de que maneira abordaríamos o inconsciente? Partimos do pressuposto de que nós enquanto seres genéricos, construímos historicamente nossas próprias formas de racionalização social, implicando uma história de repressão e normalização. Para Freud o recalcamento é o resultado histórico de imposição de barreiras externas a nós mesmos. Assim, "pode-se afirmar que o inconsciente é uma categoria ontogenética do homem com um conteúdo radicalmente histórico", ademais, "é nas circunstâncias de uma sociedade de classe e mercantil complexa que o inconsciente se interverte na instância mental do 'estranhamento'" (ALVES, 2011, p.137). Na medida em que se avança o processo de estranhamento na sociedade administrada aparecem às formas-fetiche, o fetiche da mercadoria e a forma-mercadoria, as quais só podem ser subjetivadas se pressupormos uma dimensão inconsciente que nos cinde por dentro, outra cena ou outro saber sobre nós mesmos e que não o conhecemos nem mesmo dominamos.
Portanto, é também pelas vias do inconsciente que se dá os processos subjetivos estranhados no novo contexto da organização do trabalho. E para avançarmos na compreensão desse novo contexto e seus sujeitos temos que considerar fundamentalmente os dispositivos, estratégias, táticas, comunicações e valores organizacionais que em certa medida não só capturam a nível consciente o trabalhador, mas também coloniza sua dimensão inconsciente.
Para versarmos sobre as novas organizações do trabalho, é necessário levar em conta antes o processo de internacionalização da organização do trabalho, iniciada com a crise capitalista da década de setenta no século vinte, seguida da transação do regime de acumulação keynesiano-fordista para o pós-fordista/toyotista, no bojo da globalização da economia marcada pelo avanço neoliberal. Todo esse processo levou e tem levado à combinação de culturas organizacionais híbridas, de forma que empresas nacionais mesclam-se com tecnologias de "gestão do inconsciente" pós-fordistas produzidas nos países de capitalismo central (HELOANI, 2011, p.110).
A dita "gestão do inconsciente" é produto, dentre outras razões, de grande investimento científico financiado por grandes corporações que possui em seus domínios pesquisas avançando no conhecimento organizacional e na elaboração de estratégias da gestão do trabalho e do trabalhador. Assim demonstra Heloani (2011, p.111) ao mencionar o projeto Saturn, da GM, como um imenso laboratório de psicologia organizacional, no qual mantem experimentos e resultados a serem bem mais explorados e utilizados futuramente.
Ora, sabemos da grande conivência ao longo da história da ciência psicológica em relação às novas exigências de respostas práticas para as grandes demandas corporativas no que diz respeito aos processos organizacionais. Dessa forma não nos surpreende a constatação de novos movimentos emergentes na gestão de pessoas, inclusive na cultura organizacional. Cultura esta, constituída por sistemas de valores, regras e substituição do léxico no processo de comunicação que envolve uma nova gramática ou semântica fazendo circular novos significantes capturando a linguagem dos sujeitos no novo mundo do trabalho.

As gramáticas inconscientes acabam por:
[...] apropriar-se das "virtudes" dos trabalhadores (como atenção, persistência e dedicação, entre outras) e, num processo de incorporação, as representam como um produto da organização. Retoma-se assim a fusão efetiva "empresa-mãe" (protetora) que se identifica com o trabalhador -fruto da empresa- numa lógica em que gestão dos códigos atinge o plano das representações. (HELOANI, 2011, p.109).
Além da nova gramática e da manipulação da comunicação temos outros dispositivos estratégicos do toyotismo. Poderíamos citar, dentre muitos outros, os programas de qualidade, incluindo os círculos de controle de qualidade (CCQ); a melhoria contínua (Kaizen); as células de produção e os grupos semi-autônomos; o Just in time; o Kanbam; e as tecnologias de grupo (TGO); além das dinâmicas de grupo e da sociometria, que enfatiza a vivência psicoafetiva grupal.
Podemos utilizar os CCQs como exemplo de como o envolvimento cooptado pode ocorrer nas organizações. Os círculos de controle de qualidade, segundo seus manuais, são procedimentos que tem por finalidade, a melhoria da qualidade e o aumento dos níveis de motivação, estimulando o trabalho em equipe. As equipes de trabalho, como assim são chamados os círculos, fazem reuniões e treinamento em dinâmica de grupo. Eles obedecem a uma metodologia behaviorista, no intuito de adaptar o trabalhador à empresa, ocorre assim, por esses instrumentos gerenciais uma racionalização das diversas subjetividades (HELOANI, 2011).
Ademais, os CCQs têm como objetivo a apropriação dos conhecimentos tácitos ou não, pois estes devem ser incorporados à produção,
[...] também já mais se conseguiu tamanha culpabilização tanto individual como grupal no que toca ao insucesso numa empreitada, num movimento em que as intersubjetividades constituídas se rendem e, às vezes, tentam disputar espaço com a objetividade organizacional, numa dança cuja música é sempre orquestrada pelo capital. (HELOANI, 2011, p.136).
Há dessa forma, uma tentativa de controle absoluto do que se pensa e faz e até mesmo do outro saber inconsciente do trabalhador. Se o taylorismo desejava os membros e não tanto a mente do trabalhador, hoje nota-se que a empresa está interessada em privatizar e nos expropriar até do último resquício de nossa alma. É assim, -como sucintamente foi colocado através de alguns exemplos- que se verifica a relação de dependência entre as transformações na sociedade e economia e as transformações também fundamentais nas estruturas psíquicas. Não há dúvida que o Capital, ou sócio-metabolismo da barbárie, não só está interessado na mais valia das relações de produção, como já sempre esteve e hoje avança ainda mais sobre a subjetividade humana estranhada.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista tudo o que foi posto até o momento, podemos observar desde o início do presente texto, a tentativa de problematizar a relação complexa e delicada entre trabalho e subjetividade. Nesse intuito, levantamos algumas teorias que nos permitisse abordar a centralidade ontológica do trabalho ressaltando a importância de resgatar a discussão filosófica de como o trabalho de fato constitui dialeticamente os fundamentos de nossa realidade social e particular ao mesmo tempo. O trabalho assim compreendido não significa entendê-lo como a atividade mais importante de nossa vida ou que todos os aspectos do nosso existir se reduzem a ele, mas ele é a mediação com a natureza e conosco mesmos, que funda outras tantas possiblidades e necessidades. Fica claro para nós o estreito vínculo entre trabalho como condição fundante das várias formas de sociabilidade, que por sua vez, geram seus sujeitos nas suas variadas formas de ser e de existir. Mudanças nessa sociabilidade ou no modo de organização do trabalho como ele se encontra hoje, implica em vários impactos nas formas do sujeito se ver, experimentar-se e se posicionar subjetivamente diante do mundo que o cerca.
A nossa indagação consistiu, portanto, em como a Psicologia do Trabalho vem lidando, mais especificamente, no que diz respeito à produção científica, com as transformações nos processos organizacionais do trabalho no cenário de reestruturação produtiva, considerando a premissa de que esse novo contexto do trabalho implica uma cooptação da subjetividade do trabalhador. Nesse sentido, os resultados a que nós chegamos apontaram num primeiro momento para uma inexpressiva quantidade de publicação traduzida em 3,9% (somada os dois periódicos pesquisados), de artigos publicados que traziam a discussão da relação entre trabalho e subjetividade. Em detrimento dessa constatação, o restante das publicações tratavam de temas considerados caros à Psicologia Organizacional, temáticas, muitas das quais, caracterizadas por uma racionalidade instrumental e adaptativa do trabalhador à organização.
A propósito dos 3,9% de artigos, nem todos trazem uma definição conceitual precisa sobre o que é a subjetividade, mas de modo geral, pôde-se concluir que existe uma diversidade de conceituação da categoria subjetividade que está de acordo com as várias abordagens teóricas existentes acerca do fenômeno. Com a categoria trabalho se dá a presença de diversas significações. Aparecem mais significações positivas acerca da condição ontológica do trabalho. Muitas publicações acabam enfatizando apenas o aspecto afirmativo, otimista e até apologista do conceito de trabalho, esquecendo a contradição interna entre negação e afirmação, caindo na indiferença da sua real efetivação no capitalismo atual. Quanto à relação entre trabalho e subjetividade, alguns artigos acabam enfatizando a relação entre mudança nas organizações do trabalho e transformações nas formas de subjetivação do sujeito, entretanto, não se encontra uma análise pormenorizada e uma crítica consistente por parte da Psicologia do Trabalho frente às contribuições dos dispositivos organizacionais veiculados à manipulação subjetiva do trabalhador.
Portanto, tendo em vista, o pífio número de artigos tratando da relação entre trabalho e subjetividade, embora estes não totalmente críticos às implicações da reestruturação produtiva ficam postos a urgente necessidade do ponto de vista ético da Psicologia do Trabalho se atentar e priorizar o seu olhar para o sujeito/trabalhador em detrimento do forte antagonismo da racionalidade bárbara da ciência que o modo de produção econômico nos impõe. A contradição e a antiga luta entre Capital e trabalho ainda permanece nos dias de hoje, assumindo formas diferentes e sutis. E a Psicologia do Trabalho tem grande contribuição e papel nesse jogo, cabe a ela decidir de que lado está, "não há como servir a dois senhores". Se essa ciência ainda quer permanecer Psicologia, seu lado e seu objeto é o sujeito, o Trabalhador, que precisa vender sua força de trabalho no mercado. Ou seja, Essa perspectiva da Psicologia Social do Trabalho crítica, convida-nos a olhar o trabalho, a subjetividade no contexto dos processos organizativos a partir do ponto de vista dos trabalhadores e comprometido com os mesmos.













REFERÊNCIAS

ALVES, G. Trabalho e subjetividade; o espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório. São Paulo: Boitempo, 2011.
ANTUNES, R. O Caracol e sua concha. Ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo. Boitempo, 2005.
APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção de conhecimento científico. São Paulo. Atlas, 2009.
BAZZANELLA, S. Os pressupostos da filosofia política de Slavoj Žižek. In: GUERRA, E. e TELES, I. (orgs). Lacunas do Real: Leituras de Slavoj Žižek. Florianópolis. Ed. NEFIPO. 2009, p.24, 26.
CHAVES, J, C. A relação entre a positividade do trabalho e a submissão do indivíduo à realidade: elementos para a reflexão da psicologia. Artigo. Universidade Federal de Goiás. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2012, vol. 15, n. 1. P. 33-48.
CODO, W. Trabalho, Cultura e Organizações. Coletâneas da ANPEPP, vol.1; número11, setembro, 1996.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicologia crítica do trabalho na sociedade contemporânea. Brasília, CFP, 2010.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Editora Loyola. São Paulo, 1999.
GOULART. Í, B. (org.). Psicologia Organizacional e do Trabalho; teoria pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
HELOANI, R. Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado. História da manipulação psicológica no mundo do Trabalho. São Paulo, Editora Atlas, 2011.
JUNIOR, N, P, A. Da dialética do reconhecimento em Hegel à dialética do trabalho e a teoria da emancipação em Marx. Artigo. Cadernos Cermax n. 6, 2009
LESSA, S. Centralidade Ontológica do trabalho em Lukács. 2006.
LUKÁCS, G. Para uma ontologia do ser social I. São Paulo: Boitempo, 2012.
MARX, K. O Capital; crítica da economia política. São Paulo: Editora Nova cultura, 1996.
OLIVEIRA, W. Subjetividade sob uma perspectiva histórico-cultural. ITECH-instituto de terapia e estudo do comportamento humano. Campinas. Sem Data.
REY, G. Sujeito e Subjetividade. São Paulo: Thomson, 2003.
REY, G. Pesquisa Qualitativa e Subjetividade. Os processos de construção da informação. São Paulo. Thomson, 2005.
SAFATLE, V, P. Por uma crítica da economia libidinal. Artigo. 2007.
ŽIŽEK, S. Menos que nada; Hegel e a sombra do materialismo dialético. São Paulo: Boitempo, 2013.




Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.