TRADUÇÃO COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

June 9, 2017 | Autor: L. Sily | Categoria: Translation Studies, Tradução, Quintahabilidade
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TRADUÇÃO COMO FERRAMENTA NO ENSINO DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA

RESUMO

O objetivo deste trabalho é investigar o papel da tradução como uma ferramenta de ensino na sala de aula de Inglês como língua estrangeira. A tradução é vista neste estudo como quinta habilidade, aumentando a percepção e compreenção, em alunos e professores, das semelhanças e diferenças entre as línguas. O método utilizado inclui técnicas de leitura estereoscópica, problematização e aplicação de atividades em traduções inter-linguais e seu uso como ferramenta de aprendizagem em um grupo de alunos do Curso de Letras-Inglês da UFES. Os resultados do estudo sugerem que a tradução pode ser utilizada para consolidar e ampliar conhecimento seja em L1 ou L2.

Palavras-chave: Tradução, educação, ensino, aprendizagem, leitura estereoscópica, tradução como quinta habilidade, EFL.

1 Introdução A tradução sempre foi uma fonte de conhecimento nos processos de ensino e aprendizagem, quer seja em nossa própria língua ou em línguas estrangeiras. Mesmo tendo sido colocada de lado e praticamente banida do ambiente de sala de aula como um pecado mortal (anathema), segundo Neide Ferreira Gaspar (2009), hoje, a tradução ganha nova atenção. Foi no século XIX, quando o latim perdeu espaço para outras línguas estrangeiras modernas que exigiam do aprendiz o uso para comunicação oral, que o Método conhecido como Gramática-Tradução perdeu seu espaço para os chamados Métodos Naturais e Método Direto (GHAMINE LÓPEZ, 2002). Finalmente a tradução parece voltar a ganhar seu espaço como uma ferramenta para o ensino e aprendizagem, promovendo novas leituras em sala de aula. Como exemplo de teóricos que consideram necessária uma reabilitação da tradução em sala de aula pode-se citar Walter Carlos Costa, segundo o qual deve-se rever a política de ensino de línguas, pois "[...] uma concepção mais ampla, mais cultural e crítica pode colocar a tradução como um dos meios mais eficientes de se estar permanentemente atento às diferenças em relação à língua (e à cultura) estrangeira”. (Costa,1998,p.47) Uma professora acima de tudo, a escritora Alison Cook-Sather, em seu livro "Educação é Tradução: uma metáfora para a mudança no Ensino e Aprendizagem" (2006) elaborou sua própria metáfora para a educação, que é tradução, buscando assim novas definições e formas de entendermos as possibilidades de ensino e aprendizagem. Em seus estudos, Cook-Sather criou a metáfora acima mencionada, que também reflete as recentes mudanças dentro da sala de aula. Recorrendo ao conceito embutido na palavra tradução, alunos não mais serão considerados como receptores passivos, mas como agentes ativos no seu desenvolvimento e aprendizagem; e professores, não mais banqueiros a depositar conhecimento na mente de seus alunos, mas como facilitadores no processo de educação. Temos também como exemplo algumas das antigas metáforas para os professores, especialmente nos Estados Unidos: acadêmico, prático reflexivo, pesquisador, escultor, artista, treinador, diretor, salvador, condutor, jardineiro e dentista. A autora usou sua própria experiência (também descrita no livro) de quando viveu na Alemanha durante um ano sabático aprendendo a língua, para desenvolver sua teoria. Durante este processo, foi capaz de compreender ainda melhor o seu primeiro idioma (Inglês), através de um poema que ela própria escreveu em alemão (L2) e, em seguida, traduziu para o Inglês (L1), um processo que enriqueceu seu vocabulário, em ambas as línguas. A tradução então foi recurso natural para ela enquanto aprendia o novo idioma, pois traduzimos o tempo todo, nas interações do cotidiano, na sala de aula e mais especificamente na sala de aula de línguas estrangeiras. 2 REVISÃO LITERÁRIA A prática da tradução é a primeira tentativa de comunicação entre seres humanos e o ambiente que nos rodeia. Seguindo Octávio Paz, no importante artigo “Literatura e literalidade”, DePaula enfatiza que "os seres humanos são inerentemente tradutores, desde o primeiro ato de tradução que acontece quando se tenta transpor uma idéia em uma voz, ou um gesto, sempre que tentamos tornar visível ou audível o que queremos comunicar” (DePaula, 2009). O primeiro nível no processo de tradução é o que ocorre no nível literal das palavras. Em um primeiro momento, todas as traduções e todas as formas de educação exigem algum grau de tradução direta, algum tipo de achado de correspondência ou conexão entre aquilo que se sabe e o que se está expressando, no entanto, Cook-Sather

nos alerta que “nem educação significativa, nem tradução significativa podem ser constituídas apenas por este tipo de processo literal. "(Cook-Sather, 2006, p.14). Há que se abrir portas para que o conhecimento seja explorado pelo aluno e este o traduza levando em consideração seu mundo real e seu conhecimento prévio e para que assim possamos ter mais e melhores versões do que nós, professores, ensinamos aos nossos alunos. O segundo nível é o nível metafórico e reflexivo, onde o tradutor inscreve e deixa suas marcas próprias, a partir de conhecimentos prévios e ‘schemata’ (estruturas de conhecimento pré-existentes funcionando como padrões familiares de experiências anteriores que usamos para interpretar novas experiências em nosso cérebro). Essa experiência só será plenamente compreendida se o leitor compartilha conhecimento histórico-cultural semelhante com o tradutor, que por sua vez o compartilhou com o escritor "original". Assim, o texto "original" deixa de ser considerado apenas uma “carga” que contém um significado determinável, estável e totalmente capaz de ser resgatável. A tradução não é apenas um recipiente onde um "conteúdo" pode ser depositado e mantido sob total controle (Arrojo, 2002). Porém o ponto principal nesta discussão, não é somente acerca dos procedimentos de tradução literal versus tradução livre ou de tradução palavra por palavra como Newmark (em Hatim e Mason, 1988) distingue, mas também a importância de considerar a tradução como uma metáfora para a transmissão de aspectos culturais, assegurando a equivalência referencial e pragmática com o original. Além da complexa tarefa de dominar as línguas envolvidas no processo, aprender a traduzir, significa necessariamente aprender a ler, aprender a produzir significado de um texto específico, que deve ser aceitável dentro do contexto cultural no qual o leitor está inserido. Neste processo, o tradutor deixa de ser apenas leitor para assumir a posição de escritor /produtor de um texto "novo", ou como cita Arrojo: "a tradução, como a leitura, deixa de ser uma atividade que protege os significados “originais” de um autor, e assume sua condição de produtora de significados "(2002, p.24). O trabalho do tradutor nunca está “pronto”, seu trabalho é o desejo de encontrar sentido(s). Há sempre algo a ser adicionado, novos contextos, novos leitores, as mudanças de costumes e cultura. A língua é viva, e sendo assim, ela se transforma de acordo com sua necessidade. É a necessidade de traduzir que faz o mundo girar e fazerse entender em diversas línguas, superando a “síndrome de Torre de Babel” na comunicação. No campo da tradução de obras literárias, para que a tradução alcance seu intuito, que é o de representar as ideias, a época, a cultura, enfim, o contexto que cerca o autor, na língua para que foi traduzido o texto, é preciso que seja revista e contextualizada, pois como diz Ivo Barroso: "Toda obra precisa ser traduzida de tempos em tempos, para que o leitor possa ser beneficiado”; referindo-se especificamente às traduções da obra “Ulisses” de James Joyce para o português. (Bravo, 2008, p.25). E quanto ao tradutor da sala de aula; como alunos, como professores, nós? Como podemos realizar e fazer uso da tradução como ferramenta para educar? E mais, como podemos provocar em nossos alunos a necessidade de mudar a forma como eles percebem as letras, palavras, estruturas, bem como acessar corretamente o seu conhecimento do mundo, e como fazer essa ligação trabalhar em prol de todos, interdisciplinarmente, na sala de aula e na vida? Tanto na sala de aula como na vida, a habilidade de traduzir, vista como quinta habilidade, atuando concomitantemente com as quatro outras (ouvir, falar, ler e escrever), fundamentais na educação, pode ser importante instrumento no aprendizado

da Lingua estrangeira. Com ela pode-se quebrar alguns dos tabus e dogmas classicos a respeito da tradução em sala de aula, tais como:    

De que os alunos só aprenderão a L2 ao usá-la exclusivamente na aula (“english-only classes”, onde nós professores nos pegamos muitas vezes gritando: “In English, in English!”); De que eles irão, na maioria das vezes, “pensar” em L2 todo o tempo; De que o uso da tradução e da L1 tomam tempo que deveria ser usado apenas com a L2; E o maior de todos os tabus: que assim se cria uma dependência da L1.

A quinta habilidade não somente cria novos parâmetros para que o aluno aprenda certos itens lingüísticos de difícil ensino na L2 como, por exemplo: conjunções, preposições, phrasal verbs e collocations. Mas também poderá ajudar o aluno que muito em breve utilizará a L2 como ferramenta de trabalho, na prática com seu cliente, seja ele taxista, atendente num hotel ou empresário. De acordo com Widdowson (1983, p. 39): A tradução está sempre presente em um ambiente de trabalho que usa as duas línguas. O aluno vai, então, precisar saber traduzir e verter a língua, interpretar para outros, decodificar letreiros, avisos, traduzir cartas, instruções, manuais, e-mails, entre outras atividades.

Ainda segundo Walter Costa, a tradução é uma das formas mais adequadas para se conhecer a estrutura de um texto e sua utilização, além de ser um meio eficaz para desvelar as limitações e as características do código lingüístico materno. Podemos, enfim, considerar a tradução como uma quinta habilidade, além da compreensão oral e escrita e da produção oral e escrita.

3 Objetivos Antes de tentarmos responder os questionamentos levantados no capitulo anterior, é importante lembrarmos que a comunicação pode ser alcançada através de diferentes formas, onde a tradução invariavelmente ocorre, em seus diferentes tipos, seja ela intralingual, interlingual ou intersemiótica, seguindo a célebre tríplice divisão do renomado lingüista russo Roman Jakobson. Estas permitiram que a tradução fosse entendida além do nível literal. Na tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, ocorre uma interpretação dos signos verbais por meio de outra língua. Este é o tipo que iremos utilizar e refletir acerca neste artigo, através da tradução, análise e problematização da tradução do Português Brasileiro para o Inglês de um trecho do primeiro capítulo do livro: Meio Ambiente - Interdisciplinaridade na Prática. O objetivo deste trabalho, portanto, é investigar a importância do uso da tradução (interlingual) como uma fonte / ferramenta para o ensino/aprendizado da língua Inglêsa e seus aspectos culturais, sob a perspectiva da tradução como quinta habilidade, juntamente com as demais: compreender a fala (ou ouvir), falar, ler e escrever. A tentativa aqui é de lançar luz e ampliar a discussão acerca da inclusão da tradução como uma das habilidades básicas e clássicas, bem como mostrar a possibilidade da leitura estereoscópica, como veremos a seguir, das traduções para uma melhor compreensão de semelhanças e diferenças entre os idiomas. Os resultados das discussões sobre os itens propostos esperam ajudar no processo de investigação dos benefícios da tradução, que vem gradativamente se estabelecendo como quinta

habilidade no processo de ensino-aprendizagem de L2, realçando seu ilimitado uso na sala de aula e fora dela, já iniciados desde 2003 com o Programa Quinta Habilidade: Tradução e Ensino da UFES. Ponderaremos sobre a necessidade de traduzirmos em sala de aula, e explorarmos a importância da comparação e da oportunidade de produção de diferentes leituras entre o original e a (as) tradução (ões), a fim de promover diversidade cultural, conhecimentos em diversas áreas através da interdisciplinaridade e da compreensão do mundo. A comparação, lado a lado, de ambos, o original e a(s) tradução (ões), é chamado de leitura estereoscópica (conceito explorado por Gaddis Rose, 1997), onde o leitor tem a oportunidade de ver palavras ou expressões, através de diferentes perspectivas e, assim, ter uma compreensão mais ampla e mais profunda do texto proposto. Parece oportuno considerar aqui a necessidade de se ter lado a lado com o original as traduções disponíveis, num mesmo papel ou quadro, para que se possa promover tal leitura enriquecedora, porque "passando por manifestações diferentes do igual, é que podemos perceber melhor as ligações que tecem o diferente. "(DePaula, 2009). A sala de aula é, portanto um local para interação, comparação de saberes e conexão, que poderão ocorrer naturalmente através da(s) tradução (ões).

4 Metodologia Na prática, a metodologia adotada exigiu a tradução, análise, problematização, comparação, e aplicação de atividades com traduções do Português Brasileiro (L1) para a Língua Inglêsa (L2) do parágrafo de abertura do primeiro capítulo do livro: “MEIO AMBIENTE - Interdisciplinaridade, na prática” da Professora Karen Currie. Também foram investigadas a utilização dessas estratégias de tradução como fonte de aprendizagem em um grupo avançado de alunos do Curso de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo que também serão futuros professores de Inglês como língua estrangeira (EFL). A comparação pôde ser alcançada com o uso da técnica que Gadis Rose chama de leitura estereoscópica, sendo o ato de pôr em paralelo, textos originais e suas traduções, onde usamos “[...] o texto na língua original com uma ou mais traduções enquanto se lê e ensina” (Rose, 1977 apud DePaula, 2005: 53). DePaula complementa afirmando que “pode-se dizer que existe um outro texto – aquele que jaz entre um original e suas traduções – aguardando menção, aguardando leitores de páginas que só se tornam visíveis via reflexão, via detida estada no discurso entre-textos” (DePaula, 2005: 60). Voltemo-nos agora à atividade em si, a qual contou com 20 minutos disponibilizados durante uma aula da disciplina de Tradução II, ministrada pela Professora Lillian DePaula, e iniciou-se com uma breve explicação sobre o livro em questão, seu gênero, que é uma escrita não-ficcional técnica, contendo assim uma linguagem clara e concisa, pontos de vista objetivos e um público identificado: professores de várias disciplinas (línguas, química, biologia, matemática, entre outras) dos níveis elementar e básico. Em primeiro momento, o capítulo no idioma de origem (Português) foi dado a cerca de 20 alunos do sexto período do curso de Letras-Inglês da UFES. Eles foram convidados a traduzí-lo em casa e trazê-lo à sala de aula. Embora apenas 06 deles tenham comparecido à aula, por motivo de força maior (greve de ônibus), as atividades foram realizadas normalmente. Em seguida, 07 (sete) palavras ou expressões foram selecionadas e destacadas e os alunos foram solicitados a dar sua tradução em Inglês para esses itens. Momento este onde todos os presentes puderam se beneficiar das

diferentes perspectivas e soluções dadas pelos tradutores/educadores presentes.Este quadro mostra o texto original: Quadro 1: MEIO AMBIENTE – Interdisciplinaridade Na Prática. Capítulo 1 Eixo Norteador: Eu+O meio ambiente O primeiro eixo norteador a orientar os trabalhos desta proposta enfatiza o papel fundamental do eu no meio ambiente. As sugestões de trabalho procuram conscientizar os alunos (e os professores) da responsabilidade de cada indivíduo na conservação do meio ambiente em que vive. Se não nos conscientizarmos de nossas responsabilidades pessoais, se não percebermos nossa contribuição para o estado atual do planeta, não vai haver ação significativa a favor do meio ambiente! Por exemplo, não adianta promover nenhuma campanha nacional ou internacional contra o desperdício de água, se as pessoas continuarem escovando os dentes com a torneira aberta! (Pag. 13) Page 13 Meio Ambiente – Interdisciplinaridade na prática. (CURRIE, Karen L, and Colab. Campinas,SP:Papirus,1998.

Em um segundo momento, o texto original/fonte foi colocado lado a lado com duas traduções a fim de promover a leitura stereoscópica: a primeira traduzida por mim (a qual chamaremos de alvo1) e a segunda traduzida por um dos estudantes (alvo2) o qual havia enviado sua versão previamente. Os textos foram então projetados no quadro (Dispositivo de PowerPoint). Este é o quadro como foi projetado para os alunos, para uma leitura Estereoscópica: Quadro 2:

Foram então analisados os seguintes itens: 

Os termos/palavras em destaque no texto fonte/original;



A linguagem em destaque e em vermelho no texto alvo1;



Escolhas e modificações (ou a falta de) entre alvo1 e alvo 2.

Os alunos também foram convidados a responder o seguinte questionamento: Ao traduzirmos do Português para Inglês muitas vezes temos dificuldades com “collocations” (refere-se às combinações freqüentes entre palavras de um idioma). Existem exemplos de “collocations” nos textos alvo?

5 Resultados e discussões Vale resaltar a oportunidade única de termos durante os debates, a própria autora, professora Karen Currie, que trouxe importantes contribuições para a mesa, e também a presença de Lillian DePaula, tradutora e professora de estudos da Tradução da UFES, o que tornou possível um debate mais rico. Os textos foram lidos em voz alta e projetados ao mesmo tempo, assim os participantes tiveram a oportunidade de ver as palavras ou expressões através de perspectivas diferentes e ter uma compreensão mais ampla e mais profunda do tema proposto. Os itens discutidos foram:       

interdisciplinaridade na Prática; eixo norteador; o papel; conscientizar; conservação; não adianta; torneira aberta.

O fato do grupo ter passado mais de cinco minutos discutindo apenas as possibilidades de tradução para o Inglês do título "Meio Ambiente Interdisciplinaridade na Prática" nos fez suprimir da discussão alguns dos itens propostos, devido à falta de tempo. Mesmo que insuficiente para que se chegasse a um consenso em todos os items, o debate nos fez perceber a necessidade de discussões como esta acontecerem com mais freqüência em sala de aula. Alguns exemplos práticos do debate a serem destacados são : a- Enquanto a minha tentativa de traduzir o título como "The Environment – Practicing Interdisciplinarity” evoca praticidade, ação, tentando extrair a idéia de "praxis" por trás das palavras, e mantendo o substantivo "Interdisciplinaridade" como “Interdisciplinarity”, algumas traduções, no entanto, apontaram para uma tradução literal como: “The environment – Interdisciplinarity in Practice”. O grupo decidiu que o ideal seria adotar a tradução mais literal, portanto a segunda; o que pode apontar para uma tendência quando se trata de tradução de títulos de obras literárias. Aqui a tradução precisa ser o mais próxima possível do original, a acompanhar a construção sintática do mesmo, pois o título será o que chamará a atenção do leitor/comprador do texto e venderá a obra, passando a primeira idéia do que o conteúdo do livro trará. b- Também uma mudança de substantivo para adjetivo foi apresentada, de modo a transformar “Interdisciplinarity” (substantivo) em “Interdisciplinary” (adjetivo).

Aqui a idéia do aluno/tradutor de utilizar o adjetivo não foi aceita por 90% dos presentes, devido a inaceitabilidade gramatical, mesmo em Inglês, da substituição de um substantivo por um adjetivo sozinho (não modificando um substantivo) e que este mantenha a mensagem a ser comunicada. A atividade da tradução aqui levou automaticamente à possibilidade de se criar uma discussão a respeito da gramática, num contexto específico, bem como da escolha de itens lexicais mais apropriados, onde todos puderam notar a necessidade de entender a gramática como parte da língua e inseparável de seus diversos níveis. Observação essa que pode dar aos alunos, através da tradução, uma visão mais clara da ligação próxima que existe entre gramática e os itens lexicais, seus sentidos, estruturas e a formação de palavras, bem como seus usos em cada cultura. Outras possibilidades apresentadas usando o adjetivo, desta vez seguida por substantivos, foram:  Interdisciplinary Practice;  Interdisciplinary Studies, in practice;  Interdisciplinary Practice in use (action);  Interdisciplinary Teaching in Practice. c- Outra questão levantada seria a tradução de um item lexical específico da área de educação, que é a expressão: "Eixo norteador". Se o tradutor não tem conhecimento do significado dentro da área de conhecimento específico, poderá incorrer numa interpretação erronea do termo ou a utilização de um que não satisfaça o público-alvo. Foi dentro de um consenso e para evitar traduzir a palavra "Eixo" por “Axis”, que todos os presentes concordaram que o tradutor deve estar ciente do contexto e embasar sua pesquisa em resumos e no próprio corpo de artigos, documentos, web-sites relacionados à área de educação, a fim de chegar a escolha mais adequada. Neste caso o grupo decidiu a favor da palavra “Guideline” para definir o termo “Eixo norteador”. Mudanças desta natureza são comuns nas traduções de outras línguas, especialmente de línguas românicas para línguas de origem anglo-saxônicas, onde, na formação de palavras, ocorre a tendência da simplificação, gerando palavras menores e consideradas mais diretas do que as palavras compostas e mais rebuscadas encontradas nas línguas advindas do Latim. d- Também foi oportuna a discussão a respeito da palavra conservação em "Conservação do Meio Ambiente em que se vive", trazendo para a mesa duas idéias: de preservação e conservação. Ambas as expressões, em português e em inglês, são usadas em relação ao meio ambiente, mas trazendo idéias diferentes que muitas vezes não são respeitadas ou utilizadas corretamente. Quando conservamos algo, nos aproveitamos e utilizamos desta coisa sabiamente. Preservar, por outro lado, sugere que devamos manter alguma coisa como ela é, sem fazer qualquer alteração, a fim de mantê-la intacta. Enquanto Alvo 1 (ver quadro 2) traduziu a palavra conservação (dentro do contexto) para “managing the environment...”, comunicando a ideia de adminstrar, presente em “conservation” ; Alvo 2 apenas suprimiu a palavra conservação. O grupo como um todo, depois de debater os sentidos, e o contexto, considerou mais apropriado para a tradução para o Ingles que fosse usada a palavra “conservation”, o que tornaria o texto mais direto e incisivo, cumprindo assim a função educacional e social a que se propõe. Na segunda atividade foi proposta uma discussão a respeito de “collocations”. Os alunos foram convidados a dar suas idéias sobre o que significa a palavra

“collocation”, bem como dar possiveis traduçoes para alguns exemplos como: Aim at, leads to, wide open. Nenhum deles sabia exatamente como explicar o conceito, e nem conseguiram falar sobre o seu uso. Com o levantamento do tema “collocations”, iniciou-se um pequeno debate para que dos presentes fosse elicitado o que poderia significar o termo, e após um breve silencio, uma das mestras presentes inicou uma pequena explanação sobre a importancia de se (re)conhecer em L2 como certos itens lexicais são mais comumente utilizados, especialmente preposições (tema considerado e citado unanimemente como difícil por todos presentes), e mais do que isso, praticá-las é essencial para uma competência comunicativa na língua inglesa. O grupo como um todo mostrou-se surpreso como já conhecia o conceito, mas não era capaz de ligar o termo “collocations” ao seu uso. Todos concordaram já terem visto e com certeza já terem usado diversas “collocations”, mesmo não sabendo previamente como explicá-lo ou mesmo traduzir o termo para o português (por isso assim foi mantido em inglês.) Segue uma conversa entre dois alunos/futuros educadores então presentes: Aluno 1: - ... então o termo collocation refere-se às combinações freqüentes entre palavras no Inglês...ou em qualquer outro idioma... Aluno 2 : - Sim! Como por exemplo, nossos alunos no (...nome do curso onde o professor leciona) quando têm duvidas do tipo: devo falar make my homework ou do my homework? Pois é… Aluno 1 : - Isso! Saber que o gramaticalmente aceito é do my homework quer dizer que ele (o aluno) conhece essa collocation. Mas.... não existe regra ou explicação lógica na gramática pra saber que o verbo que combina com homework é do! Claro que existem outros… mas make não soa bem aí ...fica estranho... Aluno 2 : - ... então, desde as primeiras aulas básicas de inglês a pessoa já estava aprendendo collocations, embora provavelmente não sabia... (fim da transcrição.) Infelizmente o tempo disponibilizado não foi suficiente para que fossem discutidas as traduções das “collocations” propostas no texto fonte, não impedindo que possam ser devidamente retomadas num próximo artigo, e mesmo por outro pesquisador que pelo tema se interessar. Entretanto, mais uma vez, criou-se uma importante oportunidade para expandirmos nosso conhecimento através da tradução, e observarmos como as palavras caminham e funcionam juntas, em combinações que muitas vezes são naturais para falantes nativos de Inglês, e de um grau de dificuldade enorme para os que estão aprendendo a língua.

6 Conclusões: Pôde-se concluir que : 1. Os aspectos literais e metafóricos da tradução ocorrem simultâneos na sala de aula- “onde alunos que se engajam genuinamente numa educação bem concebida, mudam sua própria condição, sendo entendidos por outros numa nova dimensão, criando uma nova versão de si mesmos” (Cook Sather,2006).

2. Que o uso da tradução pode permitir aos alunos pensarem de maneira comparativa, onde a comparação entre as duas línguas sugere uma conscientização maior das diferenças e das semelhanças; podendo assim evitar erros comuns na L2, enquanto nos ensina mais sobre L1; além de estimular os estudantes a considerarem o contexto, atentando ao significado social das palavras e das frases escolhidas. 3. Que partindo do reconhecimento de novas possibilidades na escolha de itens lexicais em harmonia com o contexto em que se encaixam, passando por verificações de melhor concordância, até a necessidade da combinação correta de palavras (collocations) criada pela pragmaticidade acolhida pela língua através de anos de uso, nós traçamos nosso caminho a um novo modo de vermos a língua que ensinamos e aprendemos diariamente; neste constante processo de educação como tradução, criando também novas versões/traduções de (em) nós mesmos, nos colegas de trabalho e em nossos alunos. Pois quando traduzem, tanto professores quanto alunos trocam noçoes de movimento, passando conhecimento de um lugar para outro, e o fazendo, encontrarão assim noçoes tanto de diferenças quanto semelhanças, criando um novo sentido a substituir ou complementar o antigo. 4. As quatro habilidades (ouvir, falar, ler e escrever) fundamentais na educação, especialmente tratando-se de aprendizado/aquisição de L2 e aqui especificamente numa sala de aula avançada de inglês como língua estrangeira, podem naturalmente fundir-se com uma quinta habilidade: a tradução. Sendo esta uma atividade da vida real, e que em várias ocasiões da vida profissional ou pessoal, os alunos poderão lançar mão para seu benefício. Sendo também uma forma de estimulá-los a forçarem o uso de seu conhecimento prévio ao se articularem em L2 usando todas as estruturas semânticas, lingüísticas e gramaticais que já possuem. 5. Que a tradução conduz alunos a refletirem sobre o significado das palavras dentro de um contexto, e a possivelmente utilizarem melhor estruturas sintáticas, morfológicas e itens lexicais e não somente manipular formas gramaticais de modo mecânico, podendo ser considerada um instrumento de aprofundamento daquelas estruturas, promovendo assim uma aprendizagem autônoma das mesmas. 6. E finalmente ratificarmos a importância de incentivarmos nossos alunos à leitura, ao contato com falantes nativos da língua alvo, bem como não-nativos falantes (incentivo à consciência da diversidade de sotaques) bem como desenvolver o gosto pela escrita, que efetivamente implica no domínio amplamente desejado da L2. Porém, não esqueçamos da necessidade de revermos o que foi ensinado e aprendido regularmente através de releituras e traduções, em suas variadas formas, e assim praticarmos novas possibilidades na língua alvo num determinado contexto, seja através de atividades simples como traduções de letras de músicas em níveis mais elementares, passando pelo o uso de leituras estereoscópicas, com textos mais complexos e originais em níveis mais avançados, entre tantas outras, que têm a capacidade de garantir a ascenção do processo de educação a um novo patamar de entendimento, propiciando a todos os envolvidos a crescerem como educadores, alunos, comunicadores e cidadãos.

7 Referências Bibliográficas: ARROJO, Rosemary. Oficina de tradução: a teoria na prática. 4. ed. São Paulo: Ática, 2002. BRAVO! 100 livros essenciais da literatura mundial, edição nº03. 2ª edição. São Paulo: Ed. Abril, 2009. COOK-SATHER, Alison. Education Is Translation: A Metaphor for Change in Learning and Teaching. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2006. COSTA, W. C. Tradução e ensino de línguas. In: BOHN, H. I.; VANDRESSEN, P. Tópicos de lingüística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Editora da UFSC, 1988. CURRIE, Karen L, (and Colab.) “Meio ambiente: Interdisciplinaridade na prática”. Campinas, SP: Papirus,1998. DEPAULA, Lillian (org.) Tradução: uma fonte para o ensino. Vitória: Edufes, 2007. ___________. “Translation as a learning well” In: Witte, Arnd / Harden, Theo / Ramos de Oliveira Harden, Alessandra (editors), Translation in Second Language Learning and Teaching . Bern: Lang AG, 2009. ___________. “Sobre a Tradução e Sua Utilização no Ensino de Língua Estrangeira”. Dissertação não publicada. São Paulo: USP, 1996. DUFF, A. Translation. Oxford: Oxford University Press. 1992. GASPAR, Neide, “Translation as a Fifth Skill in EFL Classes at Secondary School Level” . In : Witte, Arnd / Harden, Theo / Ramos de Oliveira Harden, Alessandra (editors), Translation in Second Language Learning and Teaching . Bern: Lang AG, 2009. GHANIME LOPEZ, J. (2002) El uso de la traducción en el aula para el aprendizaje del léxico en la enseñanza del español como lengua extranjera. Memoria Master.Biblioteca Universidad Antonio de Nebrija. HATIM,Basil & MASON, Ian, Discourse and the Translator. Longman,1990. JAKOBSON,Roman (1959/2000). “On Linguistics Aspects of Translation”. In: VENUTI,L. (ed).The Translation Studies Reader, London&NY: Routledge, 113-18. STIBBARD, R. The Principled Use of Translation in Foreign Language Teaching. In: Malmkjaer, K. Translation & Language Teaching. Manchester: St. Jerome Publishing, pp. 69-76, 1998. WIDDOWSON, H. G. Language Purpose and Language Use. Oxford: Oxford University Press. 1983.

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