Tradução de texto de Stanley E. Porter

July 25, 2017 | Autor: Sara Gonçalves Devai | Categoria: Greek Literature, Early Christian Apocryphal Literature, New Testament Studies
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TRADUÇÃO - Early Apocryphal Non-Gospel Literature
and the New Testament Text
Stanley E. Porter
O Texto do Novo Testamento e a primitiva literatura apócrifa não dos Evangelhos.
A variedade de literatura apócrifa é elucidativa quanto ao texto do Novo Testamento grego. A última grande edição destes documentos apócrifos em tradução para o inglês organiza este corpo difuso de literatura por gênero. Isto inclui: Evangelhos apócrifos, atos apócrifos, Epístolas apócrifas, e Apocalipses apócrifos¹. Entretanto, um exame mais próximo desta literatura deixa claro que apenas um número limitado de textos é relevante para o estudo do texto grego do Novo Testamento, especialmente se alguém examinar o texto grego como ele se desenvolveu no secundo e terceiro século, como este artigo faz. Este artigo começou como um estudo de toda a literatura apócrifa escrita durante o segundo e terceiro século, incluindo evangelhos apócrifos, bem como Atos, Epístolas e Apocalipses apócrifos². Entretanto, o material como um todo tornou-se muito longo para o projeto, e então o material sobre os evangelhos está sendo publicado separadamente. Este artigo examina os documentos apócrifos não dos evangelhos do período anterior ao surgimento dos principais códex do século quarto. Muito da literatura está excluída desse parâmetro temporal, alguma dela sendo escrito muito tarde. Outros textos apócrifos embora sejam primitivos são conhecidos apenas indiretamente através de referências ou citações feitas por outros autores tardios. Ainda outros destes textos não estão em grego, mas em uma variedade de outras línguas, as mais frequentes sendo latim, copta ou siríaco, o que compromete o uso dele na análise do texto grego. Outros destes textos apócrifos não refletem significativamente qualquer livro do Novo Testamento e, na melhor das hipóteses, proporcionam apenas referência incidental Novo Testamento grego. Finalmente, há textos que atendem a todos os critérios que eu mencionei acima sobre datas e língua grega mas, simplesmente não citam o Novo Testamento grego. De longe, a maioria da literatura apócrifa simplesmente não é apropriada para este exercício particular de exploração textual, e não oferece muita promessa de elucidar nosso conhecimento do texto do Novo Testamento Grego. Entretanto, há ainda alguma literatura apócrifa – mesmo que a quantidade seja muito menor que alguém pudesse desejar – que pode ser utilizada para suprir nossa compreensão.
O Novo Testamento Grego na primitiva literatura apócrifa não dos evangelhos
Nesta sessão, eu apresento aqueles documentos apócrifos não dos evangelhos datados do segundo para o terceiro séculos que oferecem evidências de citações do Novo Testamento Grego. Este material cai em duas categorias – Atos apócrifos e Apocalipses apócrifos. Não há epístolas apócrifas, antigas o suficiente ou em grego, que sejam consideradas na discussão.
Antes de empreender este exame minucioso, uma palavra precisa ser dita sobre os textos e como eles são apresentados. A qualidade dos textos envolvidos varia consideravelmente, dependendo do número de manuscritos disponíveis, de suas datas e condições e a extensão legível do texto (comentários sobre tradições manuscritas individuais são feitas abaixo). A principal tarefa deste exercício é fornecer evidências do estado do texto grego do Novo Testamento nesses documentos apócrifos, e então a unidade mínima para estudo é, geralmente, um grupo de palavras, não palavras isoladas, e certamente não cartas individuais³.
Atos Apócrifos
Há três Atos apócrifos que citam o Novo Testamento Grego. A despeito do tamanho destes documentos apócrifos e de sua clara tentativa de refletir personagens e eventos bíblicos, as citações reais do Novo Testamento Grego são poucas.
Os Atos de João4
Atos de João, um relato ficcional das viagens de João à Ásia Menor sem qualquer clara dependência do Atos dos Apóstolos canônico, é geralmente considerado como sendo do segundo século (uma porção com citações bíblicas existe apenas em latim). O texto grego, entretanto, é encontrado em manuscritos do século XI ao XV, exceto por alguma possível evidencia mais antiga em outros escritores ou documentos, tais como um papiro do IV século. Há uma passagem, Atos de João 22, onde Mateus 7.7 (ou Lucas 11.9) é citado: ai0tei=te kai\ doqh/setai u9mi=n. O contexto é quando João, em Éfeso, faz uma prece a Cristo e cita estas palavras. O texto pode ser uma fórmula ou uma tradição.
Atos de Paulo5.
Atos de Paulo tem uma história textual complexa. A mais antiga comprovação está em uma quantidade de Pais da Igreja, embora as três obras que compõem o que agora é chamado de Atos de Paulo fossem originalmente vistas como obras separadas: Atos de Paulo e Tecla, Martírio de Paulo e 3 Coríntians (o manuscrito copta P.Heidelberg tem porções de todos os três, e assim aponta para a unidade deles). Pensa-se que Atos de Paulo é um texto do segundo ou terceiro século, baseado na descoberta do manuscrito 1 de P. Hamburg, o qual data do terceiro ou quarto século, e muitos outros fragmentos de papiro que datam do terceiro ao quinto séculos6. Em 1959, o único manuscrito grego de 3 Coríntios foi publicado (P. Bodmer X), datado do terceiro século. Antes da descoberta deste papiro, as edições apoiavam-se sobre manuscritos datados do século X ou posteriores. Há um número de paralelos identificados entre os Atos de Paulo e o texto do Novo Testamento Grego. O número de citações diretas, entretanto, é significativamente menor. Eu dividi-as aqui em três grupos, aqueles em Atos de Paulo e Tecla, em P. Hamburg 1 (Atos de Paulo em Éfeso) e em 3 Coríntios.
Há dois lugares onde os Atos de Paulo e Tecla citam o Novo Testamento. Há agora numerosos (mais de 40) manuscritos de Atos de Paulo e Tecla. Há também um número de alusões7, linguagem muito sugestiva8 e exemplos onde frases aparentemente comuns são citadas9.
5 e NTG: maka&rioi oi9 kaqaroi\ th=" kardi/a", o3ti au0toi\ to\n qeo\n o1yontai (Mt. 5.8)

6 e NTG: maka&rioi oi9 e0leh/monej, o3ti au0toi\ e0lehqh/sontai (Mt. 5.7)

Há duas possíveis citações do texto do Novo Testamento Grego em Atos de Paulo em Éfeso (P. Hamburg 1), embora não seja um exemplo seguro. Há também um número de casos de uso de palavras do Novo Testamento.

P.Ham. 1.1: [kata]kau/si u9ma~j puri\ a)sbe/stw"; GNT: katakau/si puri\
a)sbe/stw" (Mt. 3.12)
P.Ham. 1.2: e0n w{" [de]i= swqh=nai; GNT: e0n w{" dei= swqh=nai h9ma~j (At 4.12)

3 Coríntios tem um número sugestivo de casos de linguagem especificamente paulina, 10 como pode ser esperado, mas muito poucas citações diretas do texto grego. O único exemplo possível (embora questionável) está em 1:
o9 Pau=loj o9 de/smeioj tou= Xristou= 0Ihsou=; NTG: Pau=loj o9 de/smeioj
tou= Xristou= [ 0Ihsou=] (Ef. 3.1; cf. Fm. 1).

Entretanto, esta citação é usada em um lugar diferente na estrutura da carta. Atos de Paulo mostra pouca dependência do texto do Novo Testamento Grego, embora nos lugares onde ele cita o texto, o faz com bastante fidelidade.

Atos de Pedro. 11

Atos de Pedro data do final do segundo século mas seus dois principais manuscritos gregos (parciais – eles contêm apenas o martírio de Pedro) foram escritos dos séculos IX e X para o século XI (há um fragmento de papiro do século IV, P. Oxy. VI 849, e um manuscrito latino do século VI para o VII, provavelmente traduções de uma antiga versão grega).
Há três passagens que possivelmente citam o Novo Testamento Grego.

37(8): a)podido/nta e9ka&stw" kata_ ta~j pra&ceij au0tou=; GNT: a)podw&sei
e9ka&stw" kata_ th\n pra~cin au0tou= (Mt. 16.27)
39(10): a$ ou1te o0fqalmo\j ei]den, ou1te ou]j h!kousen, ou1te e0pi\ kardi/-
an a)nqrw&pou ou0k a)ne/bh; NTG: a$ o0fqalmo\j ou0k ei]den kai\ ou]j ou0k
h!kousen kai\ e0pi\ kardi/an a)nqrw&pou ou0k a)ne/bh (1 Cor. 2.9, citando parcialmente Isa. 64.4)
40(11): a!fete tou\j nekrou\j qa&ptesqai u9po\ tw~n i0di/wn nekrw~n; NTG:
a!fej tou\j nekrou\j qa&yai tou\j e9autw~n nekrou/j (Mt. 8.22; cf. Lc. 9.59),
nos quais Atos de Pedro tem uma versão vagamente semelhante da voz passiva de Mt.
8.22 e Lc. 9.59.

Atos de Pedro tem relativamente poucas citações do Novo Testamento Grego, e elas parecem ser dependentes dele, com apenas pequenas variações por razões de contexto.

Apocalipses apócrifos

Há um possível Apocalipse apócrifo antigo o suficiente para fornecer informação sobre o texto do Novo Testamento Grego.

Apocalipse de Pedro.12

O Apocalipse de Pedro foi bem conhecido na igreja primitiva e citado por alguns dos pais da igreja. Ele é datado em torno de 100 a 150 d.C. Embora o texto completo seja encontrado apenas em etíope, há um número de fragmentos gregos, um dos quais foi encontrado juntamente com o Evangelho de Pedro em Akhmim (P.Cair. 10759). O Apocalipse de Pedro está cheio de alusões ao Novo Testamento, e algumas vezes usa estilo semelhante ao Novo Testamento Grego. 13 Entretanto, o Novo Testamento Grego em si é citado apenas uma vez no Apocalipse de Pedro.

25: o9 qeo/j, dikai/a sou h( kri/sij; GNT: dikai/a ai9 kri/seij sou (Ap. 16.7;
cf. Ap. 19.2 com 'dele' antes que 'seu').

Conclusão

Há muitas observações para fazer sobre o texto do Novo Testamento Grego na literatura apócrifa não dos evangelhos. (1) A evidência para o Novo Testamento Grego na literatura apócrifa não dos evangelhos não é tão grande como alguém poderia esperar, e isto inclui os Atos apócrifos, as epístolas (para as quais não há texto antigo ou em grego suficientes para serem consideradas) e os Apocalipses. Há numerosos trabalhos que citam o texto do Novo Testamento muito pouco, com alguns que não o citam. (2) Os Atos e a literatura apocalíptica apócrifa é relativamente esparsa em seu uso do Novo Testamento Grego, e é virtualmente nada em comparação com a dos Evangelhos apócrifos. 14 Em muitos casos onde há evidência suficiente, estes apontam para os Atos e o Apocalipse apócrifos usando diretamente o texto do Novo Testamento Grego, frequentemente citando-o praticamente palavra por palavra, e simplesmente fazendo adaptações contextuais. (3) A evidência da literatura apócrifa não dos evangelhos é a mesma que aquela para os Evangelhos apócrifos – em outras palavras, que o texto do Novo Testamento Grego era relativamente bem estabelecido e fixado na época do I ao III séculos. Naqueles lugares onde há indicações de alterações na transmissão, a vasta maioria dessas alterações indicam que a literatura apócrifa utilizou os textos canônicos (mesmo nos Evangelhos apócrifos).




1. J.K. Elliott, The Apocryphal New Testament (Oxford: Clarendon Press, 1993), cuja informação é utilizada acima, especialmente para datas, fundo geral e bibliografia. Ver também Joseph van Haelst, Catalogue des papyrus littéraires juifs et chrétiens (Université de Paris IV Paris-Sorbonne Série 'Papyrologie', 1; Paris: La Sorbonne, 1976).

2. Ver Stanley E. Porter, 'Early Apocryphal Gospels and the New Testament Text',
in Charles E. Hill and Michael J. Kruger (eds.), The Early Text of the New Testament
(Oxford: Oxford University Press, 2012), pp. 350-69. Eu reconheço citar algo deste material neste artigo, especialmente na introdução e conclusão, vindo daquele outro artigo.

3. Eu explorei estes assuntos mais tarde em Stanley E. Porter, 'The Greek
Apocryphal Gospels Papyri: The Need for a Critical Edition', in Bärbel Kramer et al.
(eds.), Akten des 21. Internationalen Papyrologenkongresses, Berlin, 13.-19.8.1995
(Stuttgart: Teubner, 1997), pp. 795-803.

4. Eu usei o texto em Richard Adelbert Lipsius and Maximilian Bonnet, Acta
Apostolorum Apocrypha (2 vols.; Leipzig: Hermann Mendelssohn, 1891–1903),
II.1, pp. 151-216. A informação sobre Atos de João é de Elliott, Apocryphal
New Testament, pp. 303-307; Jan N. Bremmer (ed.), The Apocryphal Acts of John
(Kampen: Kok Pharos, 1995).

5. Eu usei os textos em Lipsius and Bonnet, Acta Apostolorum Apocrypha, I, pp.
235-72 (Acts of Paul and Thecla); C. Schmidt e W. Schubart, Pra&ceij Pau/lou:
Acta Pauli nach dem Papyrus der Hamburger Staats- und Universitätsbibliothek
(Glückstadt: Augustin, 1936), pp. 22-72 (online) (P.Hamburg 1); e M. Testuz,
Papyrus Bodmer X–XII (Cologny-Geneva: Bibliothèque Bodmer, 1959) (online)
(3 Corinthians). Para informações sobre Atos de Paulo, ver Elliott, Apocryphal New
Testament, pp. 350-60 e vários ensaios em Jan N. Bremmer (ed.), The Apocryphal
Acts of Paul and Thecla (Kampen: Kok Pharos, 1996), esp. Pál Herczeg, 'New
Testament Parallels to the Acta Pauli Documents', pp. 142-49, que fornece os exemplos citados abaixo (pp. 144-45).

6. P.Mich. 3788 (terceiro ou quarto século); P.Mich. 1317, P.Berol. 13893, P.Ant. 1.13 (todos do quarto século); P.Oxy. XIII 1602 (fourth or fifth century); P.Oxy. I 6 (quinto século).
7. Por exemplo, Atos de Paulo e Tecla 5 e 1 Cor. 7.29 concernente a esposas.
8. Por exemplo, Atos de Paulo e Tecla 37 (h9 de\ ai0ti/a th=j e0pigrafh=j) e
Mc 15.26 (h9 e0pgrafh_ th=j ai0ti/aj); Atos de Paulo e Tecla 37 e 2 Ts. 1.7
com qlibome/noij a!nesij/n.

9. Por exemplo, Atos de Paulo e Tecla 24 lê: o9 poih&saj to\n ou0rano\n kai\
th\n gh=n, como faz Acts 4.24. Esta frase também é encontrada em 2 Re 19:15, assim é difícil mostrar que é uma citação do Novo Testamento. Martyrdom of Paul 7 termina com: h9 do/ca ei0j tou\j ai0w~naj tw~n ai0w&nwn. a)mh&n, mas é encontrada em 1 Tm. 1.17. Uma doxologia finaliza os Acts of Paul and Thecla 45 e Acts of Paul and Thecla
manuscrito G, indicando uma forma doxológica, mais que uma citação, mesmo se o autor conhecesse os escritos canônicos.

10. Por exemplo, 3 Corinthians 35: ta_ sti/gmata e0n tw~" sw&mati/ mou, e Gl.
6.17: ta_ sti/gmata tou= 0Ihsou= e0n tw~" sw&mati/ mou. Isto pode ser uma citação.

11. Eu uso o texto in Lipsius and Bonnet, Acta Apostolorum Apocrypha, I, pp. 78-
103. Para informações sobre Atos de Pedro, ver Elliott, Apocryphal New Testament, pp. 390-92.

12. Eu uso o texto de Apocalypse of Peter in Thomas J. Kraus and Tobias
Nicklas (eds.), Das Petrusevangelium und die Petrusapokalypse: Die griechischen
Fragmente mit deutscher und englischer Übersetzung (Berlin: de Gruyter, 2004),
pp. 104-17. A editio princeps é M.U. Bouriant, 'Fragments du texte grec du livre
d'Enoch et de quelques écrits attributes à Saint Pierre', in Edouard Naville et al.
(eds.), Mémoires publiés par les members de la Mission Archéologique Française
au Caire 9.1 (Paris: Ernest Leroux, 1892), pp. 137-42, 142-47 (142-47); cf. A. Lods,
'L'Évangile et l'Apocalypse de Pierre: Le texte grec du livre d'Enoch', in Mémoires
publiés par les members de la Mission Archéologique Française au Caire 9.3 (Paris:
Ernest Leroux, 1893), pp. 216-24, 224-28 (224-28). Eu uso a informação sobre o
Apocalypse of Peter in Elliott, Apocryphal New Testament, pp. 593-95.

13. Ver J. Armitage Robinson and Montague Rhodes James, The Gospel according
to Peter, and the Revelation of Peter (London: Clay & Sons, 1892), pp. 89-93.


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