Transhumanismo e psicanálise

September 8, 2017 | Autor: Marcos Werley | Categoria: Transhumanismo, Psicanálise, Psicologia
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TRANSHUMANISMO E CIBERPSICOLOGIA: OS DESAFIOS DA PSICANÁLISE  FRENTE A SINGULARIDADE TECNOLÓGICA E O TRANSHUMANISMO    Marcos Werley Neves Ferreira  Melissa Andréa Vieira de Medeiros   

  RESUMO  A  psicanálise  assim  como  outras  abordagens  psicológicas  teve  que  lidar  com  a  impossibilidade  de  se  aceder  diretamente  a  mente  e   seus  fenômenos.  Essa  situação,  entretanto,  vem  mudando de  forma  célere.  A  neuropsicanálise  tem  enriquecido  as teorias  e  conhecimentos  psicanalíticos  enquanto  as  neurociências  vem  desenvolvendo  novos   meios  de  interação  com  o  cérebro  e  a  mente  permitindo  por  exemplo  a  exibição  de  imagens  correspondente  a  pensamentos  visuais,  mecanismos   para  se  ligar  e  desligar  a  consciência  e  até  formas  de  induzir  a  sonhos  lúcidos.  Esta  crescente  transformação  tecnológica  trás  a  tona  a  necessidade  de  se  pensar  em como a psicanálise irá se adaptar  a  esses   progressos.  Viveremos  uma  revolução  tecnológica  sem  precedentes  na  história  da  humanidade  pois  segundo  projeções  na área da tecnologia da informação, ainda neste  século  alcançaremos  um  momento  hipotético  conhecido  como  singularidade tecnológica:  Quando  teremos em um ano mais progressos tecnológicos  significativos do que em toda a  história  humana pregressa.  Até  lá  veremos  diversas  transformações  graduais  nas  formas  de  organização  humana,  seja  nos  aspectos  pessoais,  sociais,  laborais  e  etc.  Quais serão  as  possibilidades  de  ação  da  psicanálise  quando  for  comum  máquinas  com  inteligência  igual  ou  superior  a  humana?  qual  será  a  atuação  da  psicanálise  se  a  humanidade  começar   a  percorrer  um   caminho  em  busca  da  transcendência   da  existência  biológica  para  uma  existência  cibernética?  Pode  parecer  uma  discussão  surreal,  mas  ela  é  necessária pois há muitos indícios de que esse será nosso futuro e ele está próximo.  Palavras chave: Psicanálise; Transhumanismo; Singularidade Tecnológica;  Ciberpsicologia. 

   

Introdução  Como  ter  acesso  a  mente  e  aos  fenômenos  psíquicos para poder estudá­los  de  maneira  confiável?  Este  é  um  dilema  epistemológico  que  a  psicologia  vem  enfrentando  desde  a  sua  consolidação  em  suas  mais  diversas  áreas   de  estudo  e  abordagens.  O  problema  reside  basicamente  no  objeto  de estudo:  A mente  e  seus  fenômenos.  O  que  é  a  mente?  Onde  ela  se  localiza?  Como  ela  funciona?  De  que  forma  se  estrutura?  Qual  o  mecanismo  que  permite  a  ela  interação  com  o  mundo   físico  e  vice­versa?  De   que  matéria  ela  é  formada?  A  grande  dificuldade  está  justamente  em  responder estas e outras questões sem um acesso direto e objetivo a  mente.  Para  Kant  (1786)  a  psicologia  jamais  se  tornaria  uma  ciência  exatamente  pelo  fato  de  que  os  processos  psicológicos  não  eram  mensuráveis  ou  experimentáveis.  Essa  impossibilidade  de  investigação  experimental  direta  acabou  direcionando  a  psicologia  a  trabalhar  primariamente  em  cima  do  comportamento  observável  dos  indivíduos  para  então  tentar  extrair  mais  informações  e  postular  hipóteses  sobre   a  estrutura  e  os  processos  da  mente.  Por  um  lado  temos  a  investigação  das  origens  físicas  da  mente  e  dos  fenômenos  mentais,  através  da  anatomia  e  fisiologia  do  sistema  nervoso  e  o  funcionamento  de  hormônios  e  neurotransmissores.  Por outro  lado temos a investigação dos aspectos subjetivos da  mente,  como  a  formação  da  personalidade,  funções  mentais  como  a  percepção,  memória,  cognição,  emoções  e  fenômenos  como  a  imaginação,  os  sonhos  e  os  sintomas  psicopatológicos.  No  primeiro  caso  a  investigação  parte  do  corpo,  enquanto  no  segundo  a  investigação  parte  da  mente   através  dos  comportamento  observáveis dos indivíduos.  Embora  nestes  termos  possa  parecer  que  há   aqui  uma  referência  velada  especificamente  a   abordagem  comportamental,  é  importante  lembrar  que  mesmo   Freud (1923)  ao definir  de  forma  sintética sua psicanálise,  deixava  claro que ela era  um  procedimento  de  investigação  de  processos  mentais  quase  inacessíveis  por  outros  métodos  e  sendo  o  método  psicanalítico  dependente  também  de  comportamentos  observáveis,  em particular a fala, pode­se concluir facilmente que a 

 

análise  do   comportamento observável  é,  essencialmente,  a base também  de  várias  abordagens psicológicas, assim como a psicanálise..  Passados  mais  de  100  anos  da  criação  da  psicologia  moderna,  é  notório  o  fato  de  que  ainda  pouco sabemos de aspectos básicos  da mente  e  dos fenômenos  mentais,  mesmo  com  a  quantidade  de  técnicas  e  abordagens  psicológicas  cientificamente  reconhecidas.  Ainda  não  existem  ferramentas  e  técnicas  que  nos  permitam  acesso  a  mente  e  seus  processos  diretamente  de  forma  que  ainda  é  na  análise  do   comportamento  observável  que  todas  as  técnicas  e  instrumentais   da  psicologia se pautam hoje.  Esse  quadro  entretanto  tem  apresentado  sinais  de  que  não  irá  perdurar  por  muito  tempo e  novas  tecnologias  vem  surgindo para se lidar com  a mente e com os   fenômenos  mentais.  Estando  estas  novas  tecnologias  principalmente  na  área  da  tecnologia  de  informação  que,  segundo  Kurzweil  (2005),  tem  um  crescimento  exponencial,  é  importante  começarmos  a  pensar  em  como  esse  avanço  vai  influenciar  a  psicologia  nos  próximos  anos  e  especificamente  quais  as  consequências  para  as  áreas  de  pesquisa  e  a  área  clínica,  em  particular  a  clínica  psicanalítica  que já possui uma ligação forte e dogmática com sua estrutura teórica e  técnica.  Singularidade tecnológica  Kurzweil  (2005) vem reunindo dados sobre a evolução de várias tecnologias e  seu  surgimento  em  relação  tanto  a  existência  humana  quanto  em  ao  desenvolvimento  biológico  no  planeta.  Esses  dados  geraram  várias  tabelas  de  funções  e  logarítimos  que  demonstram  através  de  gráficos  que  nossa  evolução  tecnológica  tende  a  seguir  uma  escala  de  crescimento  exponencial.  Um  exemplo  disso  é  a  evolução  da  capacidade  de  processamento  dos  computadores  e  sua  miniaturização. A  capacidade  de processamento  tende  a  dobrar  a  cada  intervalo de  doze  a  dezoito  meses,  mantendo  seu  custo  base  sem  maiores  alterações  e   tendo  uma  redução  significativa  do  tamanho  do   computador.  Isso  significa  que  os  computadores  do  próximo  ano,  terão pelo  mesmo  custo o dobro  do  processamento  dos  computadores  atuais  e  os  computadores  daqui  a  dez  anos  serão  mais  de  mil   

vezes mais potentes do que os computadores de hoje pelo mesmo custo.  Podemos  observar isso  facilmente  ao  comparar o  processador de  um celular  atual comum  com  um computador  comum de  5  anos  atrás.  O  celular é muito menor  e consideravelmente mais poderoso em termos de processamento.  Com  isso  em  mente,  Kurzweil (2005)  fez  uma projeção  do momento  em que  uma  máquina   terá  capacidade  computacional  igual  ou  maior  do  que  a  capacidade  humana:  Por  volta  de  2045.  A  partir  daí  a  tecnologia  terá  seu  desenvolvimento  marcado  por  passos  gigantescos  uma  vez  que  a  inteligência  artificial  terá  uma  capacidade superior a humana  e  em  crescimento exponencial. É  muito  difícil prever  o  que  poderá  acontecer  deste  momento   em  diante,  mas  podemos  ter   uma  boa  noção  das  tecnologias  que  serão  desenvolvidas  durante  os  anos  de  pré­singularidade.  Vamos  nos  focar  nas  tecnologias  que  mais  afetarão  os  seres  humanos  e  as  ciências  que  estudam  a  mente  e  o  comportamento  humano:  A  inteligência 

artificial, 

as 

tecnologias 

transhumanistas, 

as 

ferramentas 

neurotecnológicas.  Inteligência Artificial  De  Mary  Shelley  a  Isaac Asimov  a  humanidade  fantasia  com  a  possibilidade  de criar um  ser  animado tão inteligente e sensível  quanto nós mesmos. Hoje através  da robótica e da  computação estamos cada vez mais próximos de alcançarmos este  feito.  Para  se  ter  uma  idéia,  em  2013  O  presidente  dos  Estados  Unidos,  Barack  Obama,  anunciou  o  investimento  de  3  Bilhões  de  dólares  para  a  iniciativa  BRAIN,  um  projeto  que tem  como objetivo mapear  e  simular  todos os nossos  neurônios  em  10  anos.  No  mesmo  período  a  união  europeia  disponibilizou  1,19  bilhão  para  projetos  com  o  mesmo   propósito,  sem  contar  aos  investimentos  provenientes  da  iniciativa privada.  Apesar  dos  investimentos,  simular  o  cérebro  humano  tem  se  mostrado uma  tarefa realmente  difícil.  O  maior  problema  é  que,  segundo Seung (2010),  para poder  criar  uma  simulação  de  todos  os  neurônios  e  suas  interações,  seriam  necessários  1,1  milhões  de  terabytes  de  capacidade  de  armazenamento  para  guardá­la.  Além 

 

disso,  as  diferenças   entre  a  anatomia  do   cérebro  e  a  interação  dos  neurônios  em  relação  a  atual  arquitetura  usada  na  construção  de  microprocessadores  é  outro  desafio para a criação de uma inteligência artificial similar a nossa.  Para  superar  este  último  ponto,  a  IBM  através  do  projeto  Synapse  deu  um  salto  em  2011  ao  lançar  dois  chips  que  imitam   o  cérebro  humano.  Batizados  de  processadores  neurosinápticos, eles possuem 256 “neurônios” eletrônicos, e por sua  estrutura  peculiar,  estes  chips  não  se  limitam  a  fazer  o  que  foram  previamente  programados  mas  também  adquirem  comportamentos novos, aprendidos através da  experiência dos mesmos.  Segundo  a  IBM,  será  necessário  se  desenvolver um chip  com  10  bilhões de  neurônios  para  que  possamos  ter  uma  máquina  com  capacidade  mental  similar  a  humana.  Isto  de  acordo  com  a  base  de  cálculos  de  Kurzweil  através  da  lei  dos  retornos acelerados deve acontecer dentro de 13 anos.  Transhumanismo  O  transhumanismo  é  uma  corrente  ideológica  que  se  foca  na  transição  do  homem  biológico   para  o  homem  cibernético  através  do  avanço  da  medicina,  biotecnologia,  engenharia  genética,  neuroengenharia,  inteligência  artificial,  Tecnologia  da  informação, dentre  outras  áreas.  Embora possa parecer um devaneio  proveniente  de  algum  escritor  de  ficção  científica,  o  fato  é  que  a  união  do homem  com a máquina é real e hoje já vivemos entre organismos cibernéticos (ciborgs).  Hoje  não  é   incomum  se  encontrar  um  deficiente  auditivo  com  um  implante  coclear ou  um paciente  com  problemas  cardíacos com um marca­passo implantado.  Atualmente  podemos  citar  ainda  os  deficientes  físicos  com  próteses  robóticas, que  através  de  sinais  elétricos  do  sistema  nervoso  conseguem  controlar  e  executar  certos  movimentos  com  estas  próteses,  ou  até  ter  uma  sensação  de  feedback  tátil  (Nicolelis,  2013).  Já  existem  implantes  para  alterar  o  funcionamento  do  cérebro,  como  o  ReNaChip (Reabilitação  Nano  Chip) desenvolvido  pela  equipe  do  professor  Mintz  (2012)  em  Tel  Aviv  que  substitui  regiões  do  cérebro  lesionadas  ou  degeneradas  devolvendo  suas funções anteriores ou uma prótese para o hipocampo 

 

desenvolvida  pela equipe do neurocientista Berger (2011) na Califórnia que foi capaz  de substituir neurônios em ratos e macacos na função de armazenar memórias.  Outro  campo  de estudo considerado transhumanista vem sendo desenvolvido  pela  equipe  do  pesquisador  Nicolelis  (2013)  envolvendo  o  movimento  de  um  membro  e  o  feedback  tátil  deste  membro  em  um  ambiente  virtual  através  do  pensamento  de  um  macaco.  Isso  significa  que  talvez  tenhamos  em breve avatares  em  mundos  virtuais  que  serão  controlados  diretamente  por  nossa  mente  e  será  capaz  de  nos  dar  um  feedback  tátil  e,  com  o  avanço  das  pesquisas,  quem  sabe  feedback  visual,  auditivo  e  etc,  nos  permitindo  uma  imersão  total  em  um  ambiente  virtual, similar ao visto no filme Matrix.  São  muitas  as  pesquisas  e  tecnologias  desenvolvidas  atualmente  que  nos  permitem  vislumbrar  uma  nova  forma  de  existência  humana,  onde  nossa  longevidade  pode ultrapassar os séculos, podemos ter acessos a novos sentidos, ou  ampliar  nossa  percepção,  assim  como  nossa  memória  e  cognição.  Poderemos  ter  mais  de  um corpo e teremos acesso  não só a uma rede mundial de computadores,  mas  também  a  uma  rede  mundial  de  cérebros,  onde  poderemos  transmitir  sensações, pensamentos ou emoções diretamente para outras pessoas.  Todas  essas  tecnologias  estão progredindo rapidamente, apesar de a maioria  se encontrarem em  um momento inicial de desenvolvimento. Este desenvolvimento ,  também  acabará  inevitavelmente  alterando   outros  campos  de  nossa  existência.  Destes,  o  mais  relevante  para  o movimento transhumanista  é  justamente  a  relação  entre  a  biotecnologia,  a  saúde  e   os  limites  biológicos.  Essa  nova  perspectiva  tecnológica  culminará, segundo  Vilaça (2012),  em uma inevitável transformação nos  processos  de  saúde  e  adoecimento,  inclusive  no  aspecto  mental  e  na  concepção  que temos de vida, seja em seus aspectos orgânicos ou simbólicos:  No  campo  da  saúde,  as  técnicas  e  conhecimentos  biotecnocientíficos  têm  criado  as  condições  de  possibilidade  para  se  conhecerem,  com  maior profundidade,  os  fenômenos  e  processos  vivos,  orientando  as  intervenções  de  um  modo  relativamente  novo.  Schramm  (2010)  destaca  que  a  incorporação  dessas  transformações  necessita  vir  acompanhada,  igualmente,  de  novos   questionamentos  a  respeito  das  intervenções  humanas  sobre  a  vida,  tanto  em   seu  sentido  orgânico   

quanto  em  suas  dimensões  simbólicas  e  imaginárias.  O  próprio   significado  de saúde  e  seus  determinantes  podem adquirir (ou deveriam)  nova   roupagem,  em  razão  dos  incontestáveis  avanços  em   áreas  como  nanotecnologia,  tecnologia  da  informação,  genética  e  robótica,  as  quais  permitirão  alterar  o   corpo  humano  para  além  dos  limites  típicos  da   espécie (Wolbring, 2006). 

Por isso  é  importante que as ciências que estudam a mente, seus fenômenos  e  o  comportamento  humano  passem  a  participar   ativamente  das  discussões  e  questionamentos  a  cerca  destas  novas  roupagens  não  só  sobre  o  significado  da  saúde,  mas  também  em  como  essas  tecnologias  vão  alterar  a  forma  como  vivemos  e entendemos a vida.  Neuropsicanálise  Várias  pesquisas  na  área  das  neurociências  vem  sucessivamente  conseguindo  entrelaçar  os  conhecimentos  produzidos  nas  áreas   da  neurologia,  psiquiatria,  biologia e  psicologia.  Uma dessas  abordagens,  a  neuropsicanálise, vem  encontrando  confirmações  físicas  para  várias  das  hipóteses  de  Freud  a  cerca  da  psiquê  e  seu  funcionamento.  Sabemos  hoje  que  existem  regiões  do  cérebro  que  podem servir de substrato para a localização de funções e construtos psicanalíticos.  A  região  pré­frontal  dorso­lateral  esquerda  cuja  função  é  operacionalizar   o  pensamento  simbólico  e  abstrato  é  observada  bastante  ativa  durante o  dia e reduz  sua  atividade  durante  os  sonhos,  e  também  tem  uma  maior  ativação  durante  a  elaboração  de  pacientes  histéricos,  o  que  sugere  que esta região tenha ligação com  a  função  de  censura  descrita  por  Freud  (GONÇALVES   apud  YU,  2012).  A  região  orbital do  córtex  pré­frontal ventro­medial é uma,  embora  não  a  única, região  capaz  de  regular  o   comportamento  moral,  sendo  então  um  dos  centros  de  ação  do  superego.  Essa hipotese  é  sustentada  pela hiperatividade  dessa região em pessoas  com  distúrbio obsessivo compulsivo e pela hipoatividade em pessoas com distúrbios  anti­sociais (GONÇALVES apud YU, 2012).  Levando  em  consideração  o  desenvolvimento  de  chips  e  próteses  neurotecnológicas,  é  fácil imaginar  que ao  se  identificar as áreas destes construtos,  poderemos  em  breve  ter  como  modular  seu  funcionamento,  oferecendo  uma 

 

alternativa  tecnológica  para  o  tratamento  de  distúrbios  e  transtornos.  Já  existem  algumas  pesquisas  nesta  perspectiva  com  animais  atualmente.  a  Equipe  do  professor  Redondo  (2014)  no  Instituto  de   tecnologia  de  Massachusetts  tem  experimentalmente  mudando a forma como ratos reagiam a determinados estímulos.  Na  experiência, ratos  eram contaminados  com um vírus mutagênico capaz de tornar   células nervosas da amídala  e  do  hipocampo  sensíveis  a  luz. Assim, eles passaram   a  associar  uma  determinada  experiência  aversiva  (como  choques  elétricos)  a  recepção  de  uma  luz  a  qual  eram  expostos  (neste  caso  uma  luz azul). Estes ratos  então passaram a associar a luz ao choque, exibindo um comportamento que sugere  ansiedade  na  presença  da  luz.  Em  seguida  o  rato  é  colocado  em  uma  situação  prazerosa  (como  a   presença  de  uma  fêmea  plenamente  reprodutiva)  enquanto  é  exposto  a  mesma  luz  azul.  Observou­se  que  os sujeitos  experimentais passaram  a  reagir  positivamente  a  luz  azul,  sem  sinais  de  estresse  ou  ansiedade.  O  resultado  indica  a  possibilidade  de  se  reescrever  um  determinado  circuito  neural  para  modificar  associações  emocionais  a  determinados  estímulos  ou,  como  sugere  pesquisas  anteriores  de  Redondo, memórias. Neste sentido este procedimento pode  ser  um passo em direção a um novo tipo de intervenção psicoterapêutica  ou, usando  a técnica no  sentido  oposto,  desenvolver tecnologias nefastas  como  a vista no filme  laranja  mecânica.  Seja  como  for é importante observarmos o desenvolvimento deste  tipo de tecnologia.   Existem  ainda  outras   tecnologias  que  poderiam  vir  a  ser  usadas  no  futuro  como  novas  possibilidades  de  tratamento  psicoterapêutico,  como  a  técnica  experimental  de  indução  de  sonhos  lúcidos  desenvolvida  por  Voss  (2014)  em  Frankfurt  e a técnica  de converter padrões de sinais elétricos do cérebro relativos ao  pensamento  visual  em  uma  imagem  em  uma  tela  de  computador  como observado   em experimentos dos Laboratórios de Neurociência Computacional ATR do Japão.  Ciberpsicologia  Comumente  associada  exclusivamente  ao estudo do comportamento humano  em  relação  a  internet,  a  ciberpsicologia  é,  segundo  Blascovich  (2011),  em  uma  definição  mais ampla, o estudo da mente  e  do comportamento humano no contexto 

 

de  interações  entre  homem  e  máquina,  assim  como  a  inclusão  dessa  relação  em  outros contextos.  Sendo  assim  é  de se esperar sim que a ciberpsicologia hoje tenha um grande  foco  na  internet  e  no  mundo  virtual,  mas  também  não  deixa  de  acompanhar  a  progressão  do  uso  da  rede  de  computadores  desde  os  computadores  pessoais,  tablets,  celulares  e   até  relógios,  óculos  e  outros  aparelhos.  Gradualmente  a  rede  está  tomando   um  espaço  fixo  de  importância  na  vida  humana,  estando  cada  vez  mais onipresente, possibilitando não só a interação humana em ambiente virtual mas  a sobreposição  de ambos, como visto em tecnologias de realidade aumentada, onde  o virtual adiciona uma nova camada de informações e interações ao mundo real.  Conclusões  A psicanálise em si ainda está engatinhando no sentido de acompanhar essas  novas mudanças. Com os avanços na neuropsicanálise, nas demais neurociências e  de  acordo com  a disponibilização de novas  tecnologias  ao  público,  novas situações  e ferramentas  se  apresentarão  para  os  psicanalistas  e cabe a  eles estarem prontos  para acompanhar essas mudanças.  Mesmo  com  o  benefício   da  experimentação  da  neuropsicanálise,  o  trabalho  clínico  da  psicanálise  não  se tornará obsoleto pois  um cobre o ponto fraco do outro.  O  ideal  é  que  ambos  possam  ser  combinados  de  forma  que  a  neuropsicanálise  possa  ajudar  a  complementar  o  nosso  conhecimento  sobre  o  funcionamento  de  nossa  mente  e  nosso  cérebro,  enquanto  a  psicanálise  clínica  poderá  lidar  com  o  sujeito  em  uma  interação  natural  e  direta.  Seja  como  for  o  avanço  da  psicanálise  dependerá da maleabilidade e capacidade de adaptação dos psicanalistas.   

 

 

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