Transição do enchimento terciário para o encaixe fluvial quaternário na área de Vila Velha de Rodão (sector NE da Bacia do Baixo Tejo).

July 22, 2017 | Autor: Pedro Cunha | Categoria: Fluvial Geomorphology
Share Embed


Descrição do Produto

( I,

Ciências da Terra (UNl)'~

N.O 14

pp, 17I-182 5 Figs., 2 est.

I

2000

J

Transição do enchimento terciário para o encaixe fluvial quaternário na área de Vila Velha de Ródão (sector NE da Bacia do Baixo Tejo) Transilion from lhe Tertiary filling stage to lhe Quaternary fluvial incision, iII lhe Vila ~/h a de Ródão area {Lower Tagu s Basin, NE sector) P. Proença Cu nha'» & A. A. Martins(1) I ·Orupo de Euudo do5 Ambienta Sedimentares; Ccnlnl de GcociàK:iu di Univ. Coimbn.; [email protected] deCiênciasda Tem, Univcn.idade de Coimbra, Largo Marqub de Pomba~ 300 1-401 Coimbra 2 . Dc:partamcnlo de Gc:ociências da Univcnidadc: de Evonl; 7000 Evonl; um@uevonL pt

R ES UMO P ala vra s cha ve: Geomorfologia; litostrarigra fia; terraços; neot ect émca; Quatern ário; Bacia do Baixo Tejo; Portugal central. Apresentam-se as características morfológicas c as unidades litostratignifi cas que documen tam a transiçã o da fase de enchime nto terci ário à fase de esvaziamento sedimentar da Bacia do Baixo Tej o, na área de Vila Velha de Ródão (Beira Baixa). Distinguem-se episódios morfodinâmicos qu e tiveram um importante controlo tectónico. Idênticos processos morfossedimentares principais podem ser identificados em outras áreas desta importante bacia hidrográfica. A partir da supcrficie culminante do ench imento terciário, caracterizam-se cinco fases de emburimento da rede hidrográfica.

ABSTRACT Key words: Geomo rphology; Iithostratigraph y; terraces; neorectomc s; Quatem ery; Lcwer Tagus Basin; Central Portu gal. The geomorphologie characteristics and lithosna tigraphic units ofthe rransiríon from lhe Tertiary fil1 ing stage lo lhe Quatem ary fluvial incision in lhe Vila Velha de Ródã o arca (Lower Tagus Basin, NE sector) are presented. Severa l morphodynamie episodes, which had an importa nt tectoníc contro l, were distingui shed. The same main morphosedimen rary proc esses can be identified in cther arcas o f lhis important river besin . Five period s of Quatemary fluvial incis ion were eharactcrized.

INT ROD UÇÃO A área de Vila Velha de Ródão foi objecto de estudos geomorfológicosde Ribeiro (1939, 19431, 1943b). Ribeiro et al. (1965) publicaram a carta geológica 1/50.000 e, mais rece ntemente, Dias & Cabral ( 1989) estudaram a falha do Ponsul, que intersecta esta área. No Terciário da Beira Baixa foram definidos dois grupos de formações (Cunha, 19928, 1996). O mais antigo (Grupo de Beira Baixa), com predomínio arenoso e rico de feldspatos, apresenta 140 m de espessura máxima ; integra a Forma ção de Cabeço do Infan te (Eocénico médio a Oligocénico basal?) e a Formação de Silveirinha dos Figos (Miocénico). O mais recente, Grupo de Murracba, integra a Formação de Torre,

Formação de Monfortinho e a Formação de Falagueira; este g rupo ma te ria li z a a re spo sta sedim entar ao ' soe rgui me n to fin i-terciâri o da Cordi lheira Central Portugue sa, sendo essencialmente formado por depósitos de cone aluvial localizados no sopé de escarpas tectónicas. Os episódios sedimentares que já se enquadram na fase de encaixe da rede hidrográfica (atribuível ao Quaternário) incluem depósitos de sopé, terraços , coluvíões e aluviões. As forma çõe s terciári as acima referidas enco ntram-se limitadas por descontinuidades sedimentares regionais. pod endo ser atribuídas às unidades alostratigráficas (SlD) defm idas por Cunha (1992a , 1992b) . O presente trabalho incide sobre os aspectos morfossedimentares ocorridos na área de Vila Vclha de Ródão(sector NE da Bacia do Baixo 171

10 Congresso sobre o Ccnozóico de Portugal

..

42" -

,. I

·+ ··

!

Porto

_. .................... ..

38"

40"

1,

..

'-

e

50 ""

~

,.

Fig. 1- Localização geográfica da arca de estudo.

Tejo; Fig. I ), desde a última fase do enchimento sedimentar (deposição da Formação de Falagueira) até à etapa mais recente de esvaz iamento sed imentar quaternário.

A FO RMAÇÃO C UL.MINANTE DO El':C HIME NTO SE DIMENTAR A Formação de Falagueira (provável Placenciano) é constituída por conglomerados com predomínio de clas tos de quartzito ; o cortejo argiloso é muito rico cm caulinite e escassa ilite. No bloco abatido da falha do Ponsul-Ameiro, a Formação de Falagueira assenta por discordância sobre as formações arc õsicas do Grupo de Beira Baixa (ex. cm Falagueira, Malpica, Remédios, Feia); no bloco soerguido (ex. Fratel] assen ta d irectamente no soco , provando a sua posterio ridade relativamente ao aba timento definido pelas falhas do Ponsul-Arneiro. Na área de Vila Vellia de Ródão, a unidade encontra-se mal representada, poi s a fraca espessura (6 a 10 m) e posição culmina nte no enchimento sedimen tar não ajudaram à sua preservação durant e a incisão fluvial quaternária. Do ponto de vista geomorfológico, os depósitos da Formação de Falagucira constituem planaltos cu lminantes relativa men te a outras formas de relevo geradas pe lo encaixe da rede hidrográfica. Formam relevos residuais, com perfil trapezoida l, que co nservam a superficie do finai do enchimento. Encontram-se sempre a maior altitude

172

do que os mais altos terraços fluviais (já em contexto de e mbutimento ), se ndo ape nas domin ad os por cr ista s quartzíticas. A altitude do planalto culminan te da Formação de Falagueira, quase sempre acima de 300 m, aumenta para nordeste e à med ida que os testemunhos ficam mais afastados do Tejo, em d irecção à Cordilheira Central. A d imensão e o gra u de rola mento dos cl astos de pendem do a fasta me nto às crist a s quartz íti ca s ali mentadoras (e x. Mor adal ) e das coevas es ca rpas tectónicas; são mu ito grosseiros e heterométricos nas imediações destas, mas diminuem de d imensão para o topo da unidade e para sul da área de aná lise. Nos afloramentos de Mar melal e Vilar de Bo i, existe para o tect o um predomínio de con glomerado s imaturos e avennclhados que indicam ali me ntação local, a pa rti r da vertente ocidental da Serra do Perdigão. A Formaç ão de Falagueira resultou de um sistema fluvial co m eixo ENE-WSW, precursor do Tejo actual (Carvalho, 1968; Azevedo , 1982; Barbosa & Pena dos Reis, 1989; Cunha 1992a; Cunha, Barbosa & Pena dos Reis, 1993; Barbosa, 1995) . Esta drenagem atra vessava as cristas de Vila Velha de Ródão, sendo respo nsável pela melhoria do arrasamento destas, num sector imediatamente a su l das Portas de Ródão ( Fig . 2 e Foto I ) . Esta antecedência da drenagem explica o traçado epigénicc do Tejo nas Portas de Ródã o (Ribeiro, 1943a), be m como o atravessamento da serra de Perdigão pelo rio Ocreza, no cruzamento das falhas de Pomar (l\'NE-SSW), Sertã (WNW·ESE) e Mendares (NE-SW), situado a noroeste da área em análise. Além dos depósitos de carácter fluvial, a Formação de Falagueira é também cons tituída por leques aluviais, derramados a partir da Cord ilheira Central, sobretudo na região de Sarzcdas: ali, cons tituem testemunhos de uma cober tura de sopé , gerada por um imp ort ante rejo go vertical das falhas de Grade -Sobr eira Formos a e da falha de Pomar (com direcção NNE- SSW e soerguendo o bloco ocidental em cerca de 125 m). A fa lha ao longo do rio Ocreza situa-se no alinhamento da falha de Pomar (Fig. 2). A importância das movimentações nos desligamentos esq uerdos NNE-SSW, desta região, encontra-se referida por vários autores (Cunha, 1987a, 1987b, 1992a; Cabral, 1995; Sequeira, Cunha & Sousa, 199 7).

TESTE ~ I UN H OS M OR .·O SS EDI~ I ENTARES

DO PROGRESSIVO ENCA IXE DA R ED E HIDRO GRÁ FICA A pa rt ir do n ív e l de colma ta ção se di men ta r, representado pelo cimo plano dos retalhos da Formação de Falagueira, distinguem-se sucess ivos emb utimentos da red e fluvial. Através de aná lise de fotografias aér eas verticais e de mapas topográficos, execução de cartografia geomorfológica e de estudos de campo, caracterizaram -se esses embutimentos . Cada um destes está, geralmente, repre sentado por de pósitos de terraço (T) quc podem continu ar latera lmente um níve l e rosivo (N ); a sua c orres po nd ênc ia fo i es ta be le ci da por análi s e geomorfológica (Figs. 2, 3 ).

Ciências da Terra (UNL). 14

N

1

\•••••11 ~ 2 8

09

~3 ~4

~ 10

rzJ ll

mS

U

~ 6 ~7

12 [2)13

H 114

oI

2Km I

Fig. 2 - Mapa geom orfológico da área de Vila Velha de R6dão. Legenda: I • superfície cu lminante da bacia (tecto da Formaçào de Falagueira ); 2 - Nível de Fratel (prime iro embutime nto); 3 · Nível de lamei ra (segundo embu umentc); 4 - fosso tectónico de Vilas Ruivas-Ameiro (se m ou com depósitos); 5 - leque aluvial de Taberna Seca; 6 - cristas quartzíticas; 7 - cristas quartzincas arrasadas; 8 - terraços, com e sem depósitos; 9 · aluviões holocénicas; 10 - esca rpa de falha; I I - Superflcie de Castelo Branco ; 12 · alto e base de vertente. ou rebordo exterio r e interior de terraço; 13 · falha ; 14 · ba lançame nto.

Os clastos dos terraços estão mal calibrados e com predominância de quartzi to e quartzo (raramente de xisto, excepto nos terraços inferiores); foram retomados, em parte, dos conglo merados da Formaç ão de Falagueira (como jã notara Carva lho, 1968, p. 19 1). Os planos dos terraços são muito extensos nos níveis mais altos, mas estreitam-se progre ssivamente nos níveis inferiores. A superfície aluvion ar actual do Tejo atinge os 7 1m de cota, imediatamente a j usante das Portas de Ródão. As vertentes das cristas quartzíticas de Vila Velha de Ródão são particu larmente r ica s de coluvíões, que apresentam divers os tipos de alteração, cor e grau de consol idação. A partir da superficie culminante da bacia, dist inguemse j unto a Vila Velha de Ródão, na confluência do rio Tejo com a ribe ira doAçafal, cinco embutimentos fluviais (Fig.

4), do mais antigo para o mais recente: I) TI - Terraço de Monte do Pinhal e NI - Nivel de Fratel; 2)T2 - Terraço de Monte da Charn eca e N2 • Nível de Lameira; 3) T3 • Terraço do Monte de Famaco; 4) T4· Terraço da Capela da Senhora da Alagada; 5) vale com aluviões holocénicas. Na margem esquerda, no troço SW·NE do Tejo a montante de Vila Velha de Ródão, distinguem-se também cinco embutimentos , mas os terraç o s estão pior conservados e ocupam posição mais elev ada (Fig. 5). O terraço mais alto (T I) atinge mais de 249 m de altitude a norte do relevo res idual Remédios (Fig . 3), subindo em rampa até aos 278 m. No segundo embutimento, o terraç o T2 est á aos 216 m de altitude. O emb utimento inferior está representado pe lo terraço de rocha (T3) com 180 m d e al t itud e. O segui nte (t erraço T4 ) encon tra- se representad o por um estreito terra ço de rocha com altitude 173

I- Congres so sobre o Cenozõícc de Ponugal

••





N

1 - '0,l

~

~~~\ 1000.011

~2

g31:-_-j4 ~ 5

08 [!]9 ~lO El ll

0

~6

7

12

Fig. 3 - Mapa geomorfolôgico da área a montante de Vila Velha de Ródão. Legenda: I • superfície cufminame do enchimento sedimentar; 2 - Nivel de Fratel (primeiro cmbutimen to); J - Nível de Lameira (segundo embutimento); 4 . leque aluvial de Taberna Seca; S - cristas quartz iucas ; 6 · cristas quanz hicas arrasadas; 7 - terraços, com c sem depósitos ; 8 - aluviõe s holocé nicas; 9 _escarpa de falha; 10· Superficie de Castelo Branco; I I • aho e base de vertente, ou rebord o exterior e interior de terraço; 12 - falha.

174

Ciêl1CÍasda Terra (UNL), 14

Fratel

m

32 4

~

320

_ F a l.

/

280

/.

294

N1 E

... , F. F'"

240

200 160 120

80 4 0 ""-".L....

c::::J aluviões

terraços

12:1 Formação de Falagueira

llijJ: pri meiro embul ime nto

Fig. 4 - Esquema do escalonamento dos terraços, ju nto a Vila Velha de Ródão, na confluência do rio Tejo com a ribeira do Açafal. Na área de Monte do Pinhal, está projectada a pos ição que ocuparia a Formação de Falagueir a, anteriormente à sua destruição por erosão ; compare-se com a sua posição actual mais a ocidente (Fratel), num bloco soerguido . Por análise geomorfo lógica, infere-se o deslocamen to tectónico do Terraço de Monte do Pinhal (TI ) nos p ata ma res T Ia, Tlb e T l c .

SE m

NW

'"

,.....

..,

...

T1278

u, '03 ' 00

"

... ..

'. ..... .. ~

,~

'00

J I~

/ 1

200 TI

, se ~ Terraços

Em

F. Falag uelra

Fig. 5 - Esquema do escalonamento dos terraços do rio Tejo, no troço SW-NE imediatamente a montante de Vila Velha de Ródão.

175

1° Congresso sobre o Cenozóico de Portu gal

115 rn, na foz da ribe ira do Fivcnro e no troço do Tejo internaciona l. Finalment e, no quinto embutimento inserese o leito actual do Tejo.

PR IME IRO EM BUTIMENTO (TI - TE RRAÇO DE l\t O~TE DO PINHAL E NI - NíVEL DE FRATEL) A ociden te das cristas quartziticas, o nível erosivo do primeiro embutimento fluvial reco nhece -se bem na área de Fratel (Fig . 2). Na margem esquerda do rio Tejo, no troço SW-NE imediatamente a montante de Vila Velha de Ród ão, estão representados pequenos re ta lhos de um estre ito nível de terraço que se liga a um nível eros ivo (N l) bem desen volvido na área de Montalvão (Fig. 3). Esta superfície e rosiva desenvol veu-se a partir d a superfície culminante da bac ia sedimentar, de que restam testemunhos nos cimos planos de relevos residuais na área de Fratcl, Chã da Velha, Reméd ios e Feia. O nivel de Fra tel (N I) trunca parcialmente as arcos es do Gru po de Beira Baixa no co mpartimento abatido da falha do Ponsul, enquanto na restante área atingiu o soco. Em Nisa e Montalvão, o primeiro emb utimen to rebaixou a Superfície de Nisa (peneplani cie do Alto Alentejo ). No Fratel a si tuação é semel hante , poi s a superfície do primeiro embutimento trunca o soco fossilizado p ela Forma ção de Falaguei ra (topo desta forma ção a 324 m, nível embutido a 294 m ) (Figs. 2,4). Nesta ár ea o embutiment o da super ficie de erosão N l relativamente ao tecto da Formaçã o dc Falagueira é da ordem de 2S a 30 m. O N ív el d e F rat el ap re senta o me smo enq uad ra mento morfoestratigráfi eo, relativament e à superflcie culminante da Bacia do Baixo Tejo, do Nível de Mo ra-Lamarosa identificado em áreas ajusante de Vila Velha de Ródão (Martins & Barbosa, 1992; Martins, 1999), verificando- se continuidade geomcrfológica ao longo do vale do Baixo Tejo. Na margem direita do Tej o (Foto 2), os mais altos terr aços (TI) pouco ultrapassa m 200 m (ter raç os de Serran os - 207 a 2 11 m e Perais - 205 m). O Terraço de Monte do Pinhal (TI ) documenta 13 m de egradação (base a 170, tecto a 183 m). Em Monte do Pinha l, o topo do terraço apresenta clastos subarredondados a arredondados de quartzito (90% e co m córtex lexiviado) e quartzo leitoso (10010); j unto ao vértice geodésico de Serranos, os cIastos da base do terraço apresentam MP S=2 7cm. Ligado s ao p rime iro e mb uti me nto, n a margem es querda do Tej o, no troço SW-N E imediatamen te a montante de Vila Velha de Ródão, encontram-se estreitos depósitos de terraço (TI) atingindo 278 m de altitude (Fig. 5). Correlativo co m o primeiro embutimento da re de hidr ográfica, documenta-se abatimento de um grab en alo ngado segunde NW-SB, defmido principalmente pe las falhas de Coxerrc-Sertã (direcção WNW· E SE), Vilas Ruivas (NW-SE), Arneiro (NNE-SSW) e Velada (WNWESE). Para a de pressão do Arn eiro depo sitou-se um leque aluvial (Conglomera do de Taberna Seca), derramado para ocidente a partir da crista de Vila Velha de Ródão. É constituído por um depósito con glomerático vermelho, com espessura a at ingir 6 m, que se posiciona desde os 176

310 m (ápex) até aos 180 m de co ta. Este depó sito observa-se muito bem nos taludes da es trada que dá o acesso às po voações de Duque e Am eiro, nas imed iações do vé rtice geodésico de Tabern a Seca (377 m ). O de pósito é beterométrico, muito consolidado por cimento ferruginoso (principa lmente goethite) e apresen ta blocos angulosos que atingem 0,5 m de di mensão, testemunho de um transporte em massa a part ir da crista quartzítica. Pensamo s que à medid a que se fo i proce ssando o en caixe da rede hidrográfica as cristas quartzíticas salienta vam -se por erosão diferencial e criava-se o desnível desencadea dor de depósi tos de vertente que poderiam edificar leq ues aluviais (quando, localmente, existisse uma pequena bacia de recepção de água e de regolito). É passivei que as crístas quartziticas também sofressem coeva movimentação tectónica, po is nclas existem falhas NW-SE; 700SW com estrias.

SEGON"DO E:\IBUTI:\I ESTO (TI - TE RRA ÇO DE :\10NTE DA C H ARNECA E N 2 - Ní VEL DE

lA'IEIRA)

o

segundo embu timento desenvolve- se ao longo dos pri ncipai s cursos de água (rios Tej o, Ocreza, Sever e rib e ira d e N isa), mas é me nos extenso e está pior conservado que o nível de aplanamento an terior (Figs. 2, 3). A passagem do primeiro nível embut ido (N I) para o segundo (N2) faz-se po r um nitido rebordo erosivo. Ligado ao seg undo embuti me nto, enco ntra-se na confluência da ribeira do Aça fal co m o Tejo (Foto 3) um terraço d e ac umula ção (T 2 - Te rraço d e Monte da Charneca), cuja base se enco ntra aos 130 m de altitud e, podendo o topo atingir 150 m (Fi g. 4); co nstata-se que este cmbutimento correspondeu a S3 m de encaixe, seguid o de 20 m de agradação. Os depósitos são conglomeráticos (M PS=24 cm ), com matri z vermelha ar eno -siltosa . A composição dos clastos inclui quartzito (78 % e co m córtex lexiviado) e quartzo leitoso (22 %) . Este terraço passa, lateralmente, a um nível eros ivo (N2- N ível de Lameira). O ex tenso desenvolvimento des te terraço na confl uência com a ribeira do Açafal não é de fácil interpre tação: ou resulta de um extenso meandro do Tej o a montante da garga nta ou, mais pro vavelmente, de wna maior tendência ao abatimento deste sector a leste de Vila Velha de Ródão. É curios o que aqui existe a única "p lanície aluvi al" bolocénica, num minúsculo subafluente. Na margem es querda do Tej o, no troço SW·NE a montant e de Vila Velha de Ródã o, este embutimento está mais alto; por exemplo no secto r de Remédios mo estreito segundo nível de terraço (f2) situa-se aos 2 10 m (b ase) e o topo aos 2 16 m (Fig. 5).

TERCE IRO EMBUfI:\tENTO (T3 - TERRAÇO DO MO r'\i E DE FAMACO) E m Vil a Ve lb a de R ódão , este embu t im ento corresponde a um encaixe de 4 0 m re lativamente à superfí cie de enchi mento do terraço anterio r. Está rep resentado pelo Terraço de Mon te do Fama co que ocupa

Ciências da Terra (UNL) , 14

pequ enas áreas próximo da actua l confluência da ribeira do Açafal, como seja na Urbanização da Quinta daAlagada (Foto 3) e pe lo patamar a 122 m, que contém a estação arq ueo lógica de Vi las Ru iv a s ( Ra poso, 199 5 ), imediatamente a j usante das Porta s de Ródão . O depósi to d o terraço é cong lome rático (MPS=28cm ), maioritariamente de quartzito (75 % e sem meteorização) e quartzo leitoso (25 %), apresentando 6 m de espessura máxima. Na área de Monte de Famaco, a base encontra-se a 110m e o topo a 11 6 m (Fig. 4). Nes te nível de terraço, e em ambas as áre as aci ma referi das, estão documentado s achados arqueológicos (Rapo so, 1995). A mere cer protecção , chama-se a atenção para a grandiosa conheira que,junto ao rio Tejo e imediatamente a j usan te das Portas de Ródão (2 Km a NNE de Arneiro) resultou da exploração do terraço aos 100-122 m de cota. Na margem esquerda, no troço SW-NE do Tejo, o terceiro embutimento está representado por um terraço rochoso aos 160-180 m de altitude (Fig. 5).

QUARTO EMBUTIMENTO (T4 - TERRAÇO DA CAPELA DA SENHORA DA ALAGADA)

o quarto embutimento, imediatamente a j usante das Portas de Ródão está representado por um pequeno terraço a os 80 m d e altitude, na margem esq uerda do Tejo (Fig. 2). Na margem direita do Tej o, j unto à foz da ribeira do Aça fal, está documentado pelo terraço de acumulação da Ca pela da Senhora da Alagada (base aos 80 m e topo aos . 90 m; Fig. 4). O embutimento foi de 36 m relativamente ao topo do terra ço anterior; aqui observa -se bem que este terra ço com bas e co ngl o merática é c o ns t it uído . essencialmente por arenitos finos, apresentando níveis com concreções carbonatadas, tendo sido escava do no âmbito de uma estação arqueológica (Fo z do Enxarrique) (Foto 3). No troço SW-NE do Tejo a montante de Vila Velha de Ródão, está representado por urna estreita faixa de terraço roc hoso na margem esquerda, aos 110-1 15 m de altitude (Fig. 5), que se estende ao longo do Tejo internacional. Relativamente ao terraço rocho so (T3)"aos 180 m de altitude, testemunh a um embutimento de cerca de 65 m. QUINTO EMBUTIMENTO A mais recent e incisão d o Tejo termina c om a escavação, no soco, do estreito vale holocénico (Figs. 2, 3). Junto à foz do Açafal este encaixe é de cerca de 24 m, relativamente à superfície de aterr o do terraço T4 (Fig. 4); dado que, par a monta nte e par a jusante, não existem praticamente sed imentos actuais, estima-se que a base do vale atinja os 66 m de altitude e existam 4 m de espessura máx ima de aluviõ es (areões cascalhentas). Mais par a montante, já no troço SW-NE do Tejo e r e la t iva me nt e a o terra ço de ro c ha T4, o últ imo embutimento é bastante maior (40 m).

SíNTESE DOS SUCESSIVOS ENCA IXES E AGRADAÇÕES DO TEJO Ao longo do troço estudad o do Tejo existem diferenças de altitude consideráveis entre os sucessivos níveis de terraço. Pela análise dos sucessivos encaixes e agradações em difere ntes sectores de ste rio, tentou-se percebe r a influênci a do controle tectónico no escalonamento dos terraços. As fases de encaix e consideraram-se com um sinal negativo e as agradações com sinal positivo. Como linha de referência inicial destas oscilações tomou-se o te cto pl ano da Fo rmaç ão de Fal agu eira (superfí ci e culminante do enchime nto sedimentar). O valor de um encaixe mediu-se entre o tecto do terraço superior (N) e a base do terraço imediatamente inferior (b). A agradação foi medida pelo desnív el entre a superfície de enchimento do terraço inferior (n) e a base do mesmo terraço (b). A resultante do processo corresponde à diferença entre o encaixe-e a agradação: R=(n-b) - (Neb); R= resultante do processo; N= nível de colmatação do terraço superior; b« base do terraço inferior; n= nível de colmatação do terraço infer io r. Os va lores d os suc essivos escavamentos e agradações apresenta m-se no Quadro 1. Como se pode constatar, os valores dos escava mentos excedem sempre as agra dações em termos abso lutos, reflectindo o predomínio da gliptogénese no período que se seguiu à depo sição da Formação de Falagueir a (o progressivo encaixe da rede hidrográfi ca). Verifica-se também que o somató rio das incisões no troço mais a montante (-274 m) foi superi or ao somatório das incisões j unto da confluência com a ribe ira do Açafal (-2 13 m); tendo-se verificado aqui um valor acumulado de agradação de 52 m, enquanto que no troço mais a montante este valor é menor (15 m). A resultante .dos dois processos (encaixe seguido de agradação) reve la um escavamento mais acentuado no compartimento do lado SE do Tejo a montante de Vila Velha de Ródão , onde o Tejo e restante rede de drenagem foram obrigados a um traba lho de incisão mais acentuado, pr ovavelme nte por se tratar d e um co mpa rtimento relativamente menos abatido .

NEOTECTÓNICA Da anál is e g eo morfol ógica regional infe re- se a existência de diferentes sectores delimitados por prováveis falhas com rejogo vert ical. Assim, na área de Fratel o primeiro embu timento é de cerca de 30 rn, tendo em conta a altitude do nível erosivo N 1 (294 m) e a da superfície culminante da Formação de Falagu eira (324 m) (Fig. 4). No sector imediatamente a oriente (V. V. Ródão-Monte do Pinhal), onde a Formação de Falague ira está erodida, o muito extenso TI está a uma altitude de 183 m, o que nos permite inferir um abatimento deste sector (relativamente ao sector de Fratel) de cerca de 111m pós. 10embutimento. Um pouc o mai s para leste documentam-se outro s desniv elamentos po r prováveis falhas com di recção NW-SE, que posicionam este terr aço num patam ar aos 198-200 m (TI b) e depois aos 207·211 meTI a - Serranos). 177

'0 Congresso sobre o Cenozóico de Portugal Sector mai s a montante (no t roço SW-N E) Embutiment o

Encaixe

Agradação Resultante

( m)

- (m)"

F. Falaz . - TI

-94

9

-85

TI -12

-39

6

12 -n

-36

T3 · T4

Sector mai s a jusante (foz d a ribeira do Aça fal) Embutimento

En caixe

Agradação Resultante

(m)

- 1m )"

(m)

F. Falaz . - TI

-60 '

13

-47

-33

TI -12

-53

20

-33

O

-36

12-n

-40

5

-35

-65

O

-65

T3 ·T4

-36

10

-26

T4 - leito

-40

O

-40

T4 - leito

-24

4

-20

Tota l

-274

15

·259

Total

-213

52

-161

(m)

Quadro I - Sucessivos cscavamcntos e agradações do Tejo, cm dois sectores a montante de Vila Velhade Ródão.• - Valor estimado (a Formaç ão dde Falagueira foi erodida) tendo em conta o encaixe em áreas próximas.

Contudo, os cinco cmbutimentos da rede hidrográfica desta área situada a no rte do troço do Tejo alinhado WSWENE estão a altitudes me nores do que o mesmo número de embutimentos que se ident ificam a sul (área entre a ribeira de Fivenro e o rio Sever, onde se loca liza m as povoações de Salavcssa e de Montalvão; Fig. 3). Também nesta área me rid ional se p o dem d ife re nc ia r dois comparti mentos desnivelados por urna provável falha NWSE alinhada pela ribeira dc Ficalho. No sector a ocidente desta ribe ira existe o seguin te escalonamento; Form. Falagueira aos 322 m (Feia ), TI aos 232 m (Sobreirão), T2 aos 206-2 10 m, T3 (roc hoso) aos 158-1 60 m, T4 (rochoso) aos 110 m e fundo do vale a cerca de 75 m; no sector a orien te d e st a ribei ra existe o seguinte escal onamento: Fonn. Fa lagueira aos 334 m (Feia), TI aos 249 m (mas subindo em rampa até aos 278 m), T2 aos 216 m, T3 (rochoso) aos 180 m, T4 (rochoso) aos 115 m e fundo do vale a cerca de 75 m. No provável vale de falha SW-NE do Tejo, a montante de Vila Velha de Ródão , tomando como referência o tecto do terraço TI dos dois lados do rio (aos 207 m na margem direita e aos 249 m do lado oposto), pode-se es timar cm cerca de 42 m o abatimento tectónico da margem direi ta relativamente à margem esquerda, posteriormente à for mação do terr aço T I. As dife renças d e co mando en t re os sucess ivos embutimentos fluviais suge rem que a depressão de Vila Velha de Ródão apresentou cont inua subsidência tectónica durante o Quatern ário, rela tiva mente a áreas adjacentes. Nes ta área inferem-se reje itos de, respectivamente, 15 e 8 m do terraço TI de Monte do Pinhal (Figs. 3, 4; Foto 2). Uma destas falhas (a de 15 mde rej eito) deve prolongarse para sudeste do rio Tej o , sendo responsável pe lo aba timento (cerca de 12 m) do compartimento de Salavessa ( tec to da Fo rm a çã o de F a la g ue ir a aos 322 m), compreendido entre as cristas quartziticas e a ribeira de Ficalho, rela tivame nte ao compartimento Montalvão (tecto da Formação de Falagueira aos 334 m), situado a oriente da ribeira de Fiea lho . Co m base no quadro morfoestrutu ral (Figs. 2, 3) , infere -se actividade de vá rios sis te mas de falhas, 178

principalmente WNW-ESE e NW-SE, que delimi tam co mpartimentos abatidos, p rovave lmente, por tracção sec undária face a uma com pressão máx ima segundo o quadrante noroeste. Durante o primei ro encaixe da rede hidrográfica, oco rre u um episódio tectónico com principal rejogo vertical nas referid as falhas, gerando o grabe n de Vilas Ruivas (M artins, 199 9), situado do lado sudoeste das cristas de Vila Velha de Ródão (Fig. 2 ; Foto 4), em conexão com o fosso do Ameiro . É provável que o derrame do leque aluvial de Taberna Seca seja correlativo desta fase tectónica e anterior ao segundo embutimento,j á que este erodiu a extremidade distal do leque (Fig. 2 e Foto 1). Durante a evo lução pós-I" embutim ento, para além de contínuos rejogos em falhas WNW· ESE e NW-SE, inferem-se também mov imentos cm fa lhas NE -SW; uma destas deve ter fix ado o Tejo, no troço imediatamente a montante de Vila Velha d e Ród ão. P ara alé m destes sistemas de falhas, troços rectilíneos N-S de linhas de água sugerem desligamentos mer idianos; o Terraço de Mo nte do Pinhal (T I) está rejeitado pelo cruzamento de prováve is falhas N-S e WNW-ESE (Fig. 3).

ACHADO S ARQUEOLÓG ICOS Existem estações arqu eo lóg icas na área de Vila Velha de Ródão (G E.P.P., 1977 ; Raposo & Silva, 198 1; Raposo , 1986,1 9 87, 1995a; Ribeiro, 1990). As denominadas de Monte do Famac o e de Vilas Ruivas localizam-se no terraço T3; a estação de Foz do Enxa rriq ue situa-se no terraço T4 . No terraço de Mo nte do Famaco, a tipologia de 34 artefactos constituintes da "série rolada" da base deste terraço foi atribuída ao Paleolítico Inferior (Ache ulense), embora a presunção da antiguidade assente em critérios pouco seguros, nomeada ment e pela correlação com um nível de terraço do Tejo em Toledo e pe la comparação com a tipologia das indústrias arqueológicas assoc iadas. O carácter primitivo das indústrias ali encontradas pode não significar uma an tig uidade tão elevada, po is a oco rrência de indústrias aparentemente arcaizantes em

Ciências da Terra (UNL), 14

Foto I • Diferentes arrasamentos na crista de Vila Velha de Ródão (vista para oriente, a partir do bloco soerguido da falha do Ameiro). À esquerda, o troço perfeitamente arrasado da crista (aos 280 a 300 m de altitude) correspond ente ao retoque fluvial correlat ivo da Forma ção de Falagueira ; para sudoeste , sucede-se um troço mais saliente. Ao fundo e à direita, observa-se, em posição inferior, a superfície do leque aluvial da Taberna Seca. Em primeiro plano está a povoação do Arnciro .

Foto 2 - Panorâmica para nordeste, observando-se o Terraço de Monte do Pinha l subdividido, pro vavelmente por rejeites de falhas, nos patamares T I a (207 m), TI b (198 m) e T I c (183 m).

179

,- Congresso sobre o Cenozóico de Portugal

Folo 3 - Vista pana NE, a partir da vertente oriental da crista de Vila Velha de Ródão . Identificam-se os seguintes terraços: TI (mesa a 138 fi de altitude); TI (terraço de Monte do Famaco) a 112 m na urbanização da Qu inta da Alagada) e T4 (terraço da capel a da Sen hora da Alagada) a 90 m, assi nalado pela área de olival. No terraço T4 localiza-se a estação arque ológica da Foz do Enxarrique (à esquerda da fOIO, junto do Tejo ).

FOIO 4 • Fosso tectónico de Vilas Ruivas, situado em posição lateral

180

às cristas e do lado sudoeste.

Ciências da Terra (UNL) , 14

épo cas ma is recentes é perfeitame nte compatível (Raposo, 199 5a). Apesar d o ca rácter primitivo da s indústrias enc ontradas na "sé rie rolada" da base do terraço, estas apenas apo ntam uma idade máxi ma do terraço, podendo este ser mais recente. À superficie do mesmo terraço e num depósito coluvionar foram também enco ntradas peças arqueológicas , para cuja tipologia Raposo {1995} admi te uma correlação com o interglaciar Mindel-Riss. Nas estações arqueológicas de Vilas Ruivas (T3) e de Foz do Enxarrique (T4), o tipo de indústrias encontradas no inte rior dos terraços revelam índices levallois técnicos mais elevados do que as indústrias encontradas na base do Terraço de Monte de Fama co (T3). Segundo Raposo ( 1995a), o tipo de indústrias da estação de Vilas Ruivas, embora não sendo muito numerosas, não rep ugna incluí las no Mustierense (Pa leolítico Mé dio). Datações po r termoluminescência (TL) de sedimentos limosos deste terraço deram idades de 51000 + 13000 - 12000 e 68000 + 3 50 00 - 2 6000 a nos (Raposo, 1995b ). Na Foz do Enxanique (junto à Capela da Senhora da Alagada), o mesmo auto r obteve datações pelo método das séries de urân io em do is dent es de ca valo e num dente de auroque, com idade de 33600±5 00 anos, considerando a média ponderada das três datações (3 2938±1055, 34088±800, 34093±920 anos). A idade wwmiana (final do Paleolí tico méd io) apontada pelas da tações da estação de Foz de Enx arrique , concorda com a posição geom orfológica interior (terraço T4), relativamente ao terra ço da estação arq ueológica de Vilas Rui vas (T3) .

CO NCLUSÕES Nesta área, os depósitos da Formação de Falague ira testemunham uma rede hidrográfica atlântica, precursora do s act uais rios Ocreza, Erges e Tej o; este último assume grande importância em virtude de a erosão remontante ter capturado a drena gem da Bacia Terciá ria do Alto Tej o (Espanh a). Adrenagem fluvial responsável pela depos ição da Formação de Falagueira atrave ssa va a crista de Vila Ve lha de Ródão e a fal ha do Pon sul-Duque, vindo a orig inar o actua l traçad o epígénico do Tejo relat ivament e àquelas es truturas. Neste traba lho de finiram-se, para a área de Vila Velha de Ródão, cinco embutimentos ligados ao progressivo

encaixe do rio Tejo . Pod erão se r equivalentes do s identifi cados por Martins (1999) no adjacente sect or da Bacia do Baixo Tej o . O n ível de Fratel (N I) é claramente equiv alente ao nivel de Mora-Lamarosa, de finid o na região do Rib atej o ; o carácter erosivo e o gr an de desenv o lvimento esp ac ia l pennitem atribui-los a uma primeira desc ida do nível de base da dre nagem atlântica, provavelmente em condições de rexístasia relacionadas co m a deterioração cli má tica no final do Pliocénico (Gelasiano). Co rrelativo com o primeiro emb utimento da rede hidrográfica, documenta-se abatimento de um graben alongado NW-SE (graben de Vilas Ruivas ), definido principalmente por falhas WNW·ESE e NW·SE, sendo provavelmente desta época o d errame do leque aluvial de Tabe rna Seca (Cunha, 1999). Du ran te a evolução p osterior infere-se contínuo aba timento tectónico do al véolo de Vila Velha de Ródão relativamente às áreas adjacentes, o que explicari a a maior espessura e desenvolvimento dos terraços na confluência coma ribeira do Açafa l e o traçado do Tejo em segmentos rectilíneos, fixados ao longo de frac turas, no troço SWNE a montante de Vila Velha de Rodão. Note-se que, fora deste alvéo lo tec tónico , o Tejo praticamente só exibe "t erraços dc roch a" (ap lanamcntos em substra to roc hoso , sem depós ito), que são fort emente escalonados. Inferese que a conti nua subs idência deste alvéolo resultou de rej ogo em falhas, ess encia lmente, com direcçõe s NWSE e NE·SW. Os rejogos parec em ter continuado até à actua lida de, co mo e videncia m as diferenç a s do embutimento do vale actual relativamente ao terraço T4 , datado de 33600 ano s. O traçado rect ilíneo N-S de troços de algum as linhas de água sugere ai nda um co ntro le rece nte por acid entes meridianos (como foi demonstrado noutras áre as por Da veau, 19 85); por interp retação gco morfológica , em Monte do Pinhal -Serranos, falhas com esta direcção devem ser responsáveis pelo ressalto topográfico de eercade 15 m da superficie do terraço TI.

AGRADE C IMENT OS Os auto res agra dece m a Suzanne Dave au e a Bernard o Barbosa a leitu ra cri tica e sugestões ao texto inicial, melhorand o a pre sent e versão.

BIBLIO G RA FIA Azevedo, T. (1982) . O Sinclinal de Albuf eira. evolu ção pós-miocénica e reco1Utiluiçiio paleogeografica. Tese de doutoramento, Univ. Lisboa, 302 p. Barbosa, B. P. ( 1995) - Alostratig raj UJ e fitostratigrafia das unidades continentais da Bacia terciária do Baao Tejo. Relações com o eusUJli$mo e a tectónica . Tese de doutoramen to, Univ. Lisboa, 253 p. Barbosa, B. P. & Pena dos Rei s. R. (1989) · Litoslratigrafia e modelodeposicionaldos sedimentosaluviais do Neogénico superior da Bacia do Tej o (Tomar-Lavre), Portugal. Comun. Ser\/. Geol. Portugal, 75: 89·97.

Carvalho, A. M. Galopim de (1968) - Contribuição para o conhecimentogeológico da bacia Teteim a do Tejo. Mem. Serv: Geo í, Portugal, Lisboa, 15, 210 p.

181

10Congresso sobre o Cen oz6ico de Portugal

Cabral, J. (1995) - Neorectónica em Portugal Continental. Mem.lnst. Geoi. e Mineiro, Lisboa, 3 1, 26 5 p. Cunha, P. Proença ( 1987a) - Contribuição para o estudo sedimentológico dos depósitos terciários da bacia de Sarz edas. A respos ta sedimentar à modificação do contexto tectónico. Monografia de Provas de Ap tidão Pedagóg ica e Capa cida de Científica, Universi dade de Coimbra, 147 p. Cu nha, P. Proe nça ( 198 7b ) - Evol ução tecto no-sedimentar terc iária da região de Sarzc das (portugal). Comun. Serv: Geol. Portugal, Lisboa, 73 ( 112): 67-84. Cunha, P. Proenç a ( 199 2a) - Estratigrafia esedimentologia dos depósitos do Cretácico Superior e Terciário de Portugal Central, a leste de Coimb ra. Tese de Do utoramen to, Univers idade de Co imbra, 262 p. Cun ha, P. Proença ( 199 2b) - Esta blishment of unco nform ity-bou nded sequences in lhe Cenozoic reco rd of lhe westem Iberi an margi n and synt hes is ofthe tec tonic an d sed imentary evolution in ce ntra l Portu gal duri ng Neogene. First Congress R.CA .N.S. - "Atlanlic General Events Dur íng Neogene" (Abstracts), Lisboa, pp . 33 -35 . Cunha, P. Pr oen ça ( 1996) - Uni dades litostratigr áficas do Terciário da Beira Baixa (portu ga l). Comum. Inst. Geol. e Mineiro, Lisbo a, t. 82: 87- 130. Cunha, P. Proe nça (1999) - Testemun hos geo morfo l6g icos e sedimentolôgicos cenoz6icos da transição da colmatação sedimentar para a gliptogénese, na áre a de Sarzedas-Vila Velh a de Rad ão (sector NE da Bacia do Baixo Tejo) . Encontros de Geomorfolog ia (Comunicações), Co imbra, pp . 6 1-68. C unha, P. Proença; Barb osa, B. P. & Pen a do s Reis, R. ( 1993 ) - S ynlhesis cft he Piacenzian onsbore reeord, between lhe Aveiro and Setúbal paral1els (Westem Portu gu ese margin). Ciências da Terra (UNL), 12: 35-43. Daveau, S. ( 1985) _Crírêresgéomorphologiques de déformati ons tectoniques récen tes dan s les montagnes de scblsres de la Cord ilheira Central (portugal). Bulletin de I 'Associatianfrançaise pour I'étude du Quaternaire, 4 : 229-2 38. Dia s. R. P. & Cabral, 1. (1 98 9) _Neo gene an d Quatemary rea ctivation of the Pon sul fault in Portugal. Comun. Serv: Geol. Port ugal, 7 5: 3- 28. Gru po para o Estudo do Paleolítico Portugu ês (1977) - O estudo do Paleolítico da área do Ród ão. O Arqueólogo Portugu ês, Lisbo a, 3&série, IX: 3 1-47. Martins, A. & Barbosa, B. ( 1992) - Planaltos do Nordeste da Bacia terciária do Tejo (portugal). Comun. Serv: Geol. Portugal, 78(1 ): 13·22. Martins, A. Antu nes ( 1999) • Caracte rização mosfoteaénica e morfossedimentar da Bacia do Baixo Tej o (Pliocénico e Quaternário). Tese de Do utoramento, Uni versidade de Évora, SOO p. Rap oso , L. ( 1986) · Mu st ieren se, Mu stiero -La nguedocens e ou Lan gued ocen se ? Arqueologia, 14: 13-2 1. Raposo , L. ( 198 7) - A oc upação hum ana pal eolít ica do va le do Tejo, em território português. ln Arqueologia no Vale do Tejo. Lisboa, I.P.P.c.,pp. 11- 16. Raposo , L. ( 1995a) - O Pal eolítico. ln 1. Medina (Ed.), História de Portugal. Lisboa, Clube Internacio nal do Livro , 1: 23 -85 . Raposo, L. (l995b) · Ambientes, territorio s y subsisrencia en eI Paleolítico médio de Portu ga l. Complu tum , 6, 57 -77 Rapo so, L. & Sílva, A. C. (19 81) - Elemen tos de cu ltura ma terial na estação paleolí tica de Vila s Ruivas (R ódão). Arqueolog ia, 4 : 94- 104. Ribeiro, J. ( 1990) _ Os Pri meiros Habitantes. ln J. Serrão; A. H. O. Marques (Eds .). Nova História de Portuga l. Lisb oa , Ed . Pre sença , pp. 33-59. Ribeiro, O. (19 39) - O bserva tio ns géo logiques et morp hologiq ues dan s les env irons de Vila Velha de Ród ão (p ortu gal). Rév. Géogr. Phys. etde Gêol. Dyn am. Paris, 12 (4) : 49 1-493. Ribeiro, O. ( 1943a) - Novas observações geológica s e morfológicas nos arred ores de Vila Velha de Ród ão. Pub í. Mus. Lob. Min. Geol. Fac. Ciências do Porto, 2." série, 32: 5-24 . Ribeiro, O. ( 1943b) - Evolução da falha do Ponsul, Comun. Serv: Geol. de Portugal , Lisboa, XXI V: 109- 123. Ribeiro, O., Teixeira, C. & outros ( 1965) - Carta Geo lóg ica de Portu gal na esca la 1/50.000 (fol ha 28 B - Nisa) e respecti va notí cia explicativa. Serv. Geot. de Portuga l, Lisboa , 29 p. Sequei ra, A. J.; Cu nha, P. Proe nça & Sou sa, M. Bernardo de ( 1997) - A reactivação de falhas , no intenso con texto compressivo desde meados do Tortonia no, na região de Espinhal_l.nja_Caramu ln (Portu gal Cen tra l). Comun. Inst. Geo/. e Mineiro, Lisboa , 83 : 95- 126.

182 .

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.