translation troubles: revendo a tradução para o português do Gender Troubles de

May 31, 2017 | Autor: Alice Gabriel | Categoria: Tradução, Teoria Feminista
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translation troublES: revendo a tradução para o português do Gender
Troubles de Judith Butler .

A propósito de uma disciplina na faculdade de filosofia da Universidade de
Brasília, centrada em dois livros da autora Judith Butler, resolvi
empreender a tarefa trabalhosa de comparar o texto original de Gender
Trouble com sua tradução para o português. A idéia me veio primeiramente
pela dificuldade de leitura do texto – pra quem não sabe, Butler é famosa
por sua prosa complexa e de difícil acesso: se o original é complicado,
traduzi-lo deve ter sido penoso, e talvez o resultado não tenha sido
satisfatório. Dessa leitura comparada surgiram uma série de questionamentos
quanto ao uso de certos termos pelo tradutor, e, além de perceber alguns
erros grosseiros de tradução (que relato no final do meu texto) tive espaço
para pensar sobre alguns termos centrais à teoria de Butler.


Como pensar o ato de traduzir? É lugar-comum o dito: "tradução é traição";
mas traição a que? Entendendo que a tradução é desde sempre uma
interpretação do texto original, porque é uma leitura, e porque ler é um
processo ativo aonde a leitora se coloca, dialoga e re-significa o texto.
Não há como esperar que uma tradução seja "absolutamente fiel" ao original
- mesmo porque acredito que línguas diferentes permitam estruturas de
pensamento um tanto distintas e intraduzíveis, porém, não entrarei nesse
mérito no presente texto; e, além disso, não penso que exista mais valor na
fonte do que na tradução; se não entendemos mais a autora como doadora da
verdade do texto, apelando a sua autoridade como garantia, podemos olhar a
tradução com outros olhos; a tradução pode ser entendida como uma outra
forma de aproximação ao texto. A partir do momento em que tradutora e
leitora reconhecem que a tradução não é um processo neutro de espelhar o
original, mas um processo de se colocar, de interpretar o texto, de
modificar sua paisagem para se fazer mais inteligível para um público
diferente, podemos fazer e perceber uma tradução mais interessante.


Porém entendo também que existem interpretações mais interessantes do que
outras. Existem traduções mais "amigas" do que outras. Como assim? Bem, tem
sido muito constante nas traduções de textos feministas para o português a
utilização de tradutores; e eu não sei se por desaviso, vício de linguagem,
falta de atenção aos termos (ou ao próprio conteúdo do texto traduzido)
muitas vezes absurdos são gerados. Estou me lembrando da tradução do livro
"Teoria Feminista e as Filosofias dos Homens" de Andréa Nye (feita por um
tradutor, chamado Nathanael Caixeiro), em um trecho específico aonde ela
falava de como a linguagem exclusiva e o masculino genérico funcionam no
sentido de reforçar dominação, o tradutor em questão me coloca a expressão:
"OS feministas fazem isso ou aquilo" (infelizmente não estou com o exemplar
pra citar a passagem exata, mas fiz questão de escrever no exemplar da
biblioteca da Universidade de Brasília um comentário maldoso sobre a
tradução), quando estava claro que Nye se referia às mulheres. Será que
tradutor em questão não estava lendo o que traduzia? Problemas de Gênero,
como o livro da Andrea Nye também foi traduzido para o português por um
homem. E essa tradução apesar de ser um pouco mais filógina que a
anteriormente citada, tem uma série de outros problemas desse tipo (de
falta de cuidado com o texto, falta de atenção). Acho que essa falta de
atenção deve estar ligada ao pouco tempo dedicado a tarefa, imagino que
tradutorxs ganhem por frações de tempo, e quanto mais rápido o serviço,
mais bem remunerado... mas não consigo deixar de pensar que muitos erros
de tradução tem a ver com as posições, o lugar de fala (sim, porque x
tradutorx fala, de certa forma, elx está contando uma história de outra
pessoa, mas a história passa por seu crivo pessoal, as palavras são, de
certa forma, de sua escolha), o background dx tradutorx...


Em "Problemas de Gênero" um dos principais problemas é que Renato Aguiar
parece ignorar alguns conceitos-chave da teoria butleriana, traduzindo
alguns deles de diferentes maneiras ao longo do texto. Isso poderia ser
devido a um recurso de estilo, quem é que quer fazer um texto cheio de
palavras repetidas? . Um outro problema é que ele não respeita os grifos
da autora: ora os esquece, ora grifa o que bem entende, ou o que lhe parece
"estranho", e assim, confundem-se grifos da autora e do tradutor.


Vou me demorar um pouco mais nesses problemas específicos, e na segunda
parte, me debruçarei sobre alguns erros grosseiros que encontrei na
tradução, de modo que possamos "corrigir" nossos exemplares.



PARTE PRIMEIRA- problemas "gerais" de tradução.


a) GENDERED- um dos conceitos centrais para o pensamento expresso no livro
é expresso pelo termo gendered; ele expressa o processo de "tornar-se um
gênero", um gendered body é um corpo já submetido às normas de gênero, e
funcionando de acordo com elas, é um corpo que adquiriu (ou melhor adquire,
porque esse processo é dinâmico e constante) inteligibilidade, inserindo-se
no esquema hegemônico de significação ( e "humanizando" o sujeito). O
tradutor traduz esse termo de formas bem diferentes como: "gênero",
"categoria de gênero", "traços de gênero", "tomada em seu gênero", "cujo
gênero", "de gênero", "características de gênero", "seu gênero", "marcas de
gênero" (essa última representando na página 27 também a expressão "mark of
their gender". Aliás isso pode querer dizer que ela é uma boa tradução, ou
a melhor dentre as escolhidas por Renato Aguiar) , nenhuma das quais
consegue abarcar o que o termo quer dizer, me parece que o termo pressupõe
uma construção, movimento, o que o tradutor não conseguiu captar. Fiquei
pensando em alternativas a tradução. Primeiramente, pensei em deixar o
termo em inglês mesmo, depois pensei que poderia substituí-lo por uma
expressão do tipo "já submetido as normas hegemônicas de gênero", o que
seria muito desgastante, depois pensei em procurar no dicionário palavras
que tivessem uma raiz próxima à da palavra "gênero".Pensei em duas
alternativas:


-gendradx - e fui atrás de sua colega no dicionário Koogan Larousse:


engendrar- v.t- Gerar, inventar, produzir, imaginar/ Causar, formar,
produzir
O nosso termo significaria, então, produzir um gênero. Esse termo é
interessante, porque mostra o caráter produtivo/produzido do gênero.


-"generadx" - e de novo fui atrás de uma colega sua no Larousse:


degenerar- v.i- Perder as qualidade naturais de sua raça./ Fig. Corromper-
se; depravar-se, estragar-se.
Por oposição (uma vez que não achei no dicionário o termo "generar"), nosso
termo proposto significaria: ganhar as qualidades naturais de sua raça (ou
melhor, de seu gênero); O que já denuncia as "qualidades naturais" como não-
tão-naturais-assim, uma vez que são ganhas, adquiridas.


Acho que a utilização de "generadx" é interessante, mas não é perfeita; se
eu tivesse que sugerir uma mudança para uma nova edição do livro, acho que
seria mais interessante ainda, que houvesse uma nota explicando o porque
dessa escolha, o que o termo substitui, e uma discussão mais extensa a
respeito do termo gendered e da centralidade dele no livro em questão;


b) PREGENDERED- já o caso do pregendered parece mais complicado, ele
traduz, por exemplo na página 20 pregendered person como "traços
predefinidos de gênero da pessoa", ou na 25 como "gênero pré estabelecido"
quando eu penso que quando Butler fala de pregendered person ou pregendered
body ela está se referindo à noção que algumas teóricas sustentam de que
exista um corpo que seja anterior às assimilações das normas de gênero (ao
que Butler responde que mesmo que realmente exista um corpo anterior ao
gênero, ele não nos é inteligível). Em um momento, na 53, o Roberto Aguiar
parece chegar mais perto da noção que o termo expressa quando traduz
pregendered como "anterior aos seus traços de gênero". Seguindo a sugestão
do termo anterior, poderíamos traduzir como "pré-generação", ou "pré-
generadx" ou até mesmo, "anterior à generação";


c) ENACTS- o termo enacts tem uma duplicidade formidável no inglês, ele
expressa tanto "ordenar, decretar, dar força de lei" quanto "desempenhar um
papel, interpretar, representar"; a tradução oscila entre os dois
significados, perdendo, assim, sua riqueza


Posso citar suas aparições:


-na página 59 fala-se de uma "significação performativamente ordenada"
(aonde o ordenada está pelo termo enacted)


-na página 86, enacts é traduzido por "expressa".


-na 112, a tradução de enacted é "imposta" (falando sobre como a lei é
"imposta na linguagem")
-na 124, a tradução é "faz viger"


-na 153, a tradução de enacted é "sancionado"


-na 182, enactment é "ordenação"


-na 194, enacted é traduzido por "posta em ato" e enactment é "atuações"


-na 200, enacted é "impostos", assim como na 212 e 211 em que enact é
traduzido por "imposições".


Parece-me que Butler quer abarcar os dois sentidos quando emprega o termo.
Quer falar do que é "tornado-regra" (que se ligam aos termos "ordenado",
"imposto") e do que é performado, atuado, interpretado. Quer pensar como as
performances de gênero se ligam à norma, à regra. Acho que a tradução perde
esse sentido. Não consegui pensar em um substituto a altura, penso que
poderíamos substitui-lo por: "representa", deixando claro numa nota da
tradução, como o termo em inglês é muito mais rico nesse sentido.


PARTE SEGUNDA- algumas idéias e curiosidades que tive ao ler em duas
línguas:


a) Fantasy e Phantasm- Qual a diferença entre fantasy e phantasm e porque
Butler utiliza mais a segunda? Em poucos momentos no livro Butler usa a
expressão fantasy, na maioria das vezes em que vemos "fantasia" e suas
derivações "fantasísitico", Butler está usando o termo "phantasm" e seus
derivados. Porque será? Qual a diferença entre os dois termos (se é que há
alguma, haja visto que ela usa ambos em contextos similares)? Phantasm é
traduzível não só por "fantasia", mas também por "quimera" e "ilusão",
conversando com um amigo sobre essa minha curiosidade, ele reforçou a minha
desconfiança: phantasm tem a ver mesmo com uma ilusão, ou um fantasma do
passado que volta pra nos assombrar, nisso se liga a questão da melancolia
(perceba que esse termo é mais comum no capitulo 2 do livro): é um fantasma
(real ou imaginário, isso não importa muito) que assombra e ronda.


b) Falocentrismo ou falogocentrismo? A tradução aposta no primeiro, o
original está com o phalogocentrism. Penso que o termo "falogocentrismo" é
mais interessante porque inclui o logos na jogada. Não se trata só de um
falocentrismo, mas da união deste com o logocentrismo e das relações
íntimas entre a centralidade da razão e a centralidade do falo (parece que
essas coisas se suplementam, de alguma forma).


PARTE TERCEIRA - corrigindo nossos exemplares: problemas grosseiros de
tradução:


Aqui vou colocar os problemas mais grosseiros de tradução, referindo-me a
página da passagem, e sugerindo uma alteração


-na página 48, no último parágrafo, temos a passagem: "Nesse sentido, o
gênero é sempre um feito [em inglês doing eu traduziria por "fazer" ou
"fazendo" o que dá uma noção de atividade] , ainda que não seja obra [em
inglês doing também, porque ele mudou de palavra eu nunca saberei, deve ser
pra ficar mais bonito] de um sujeito tido como preexistente a obra " [em
inglês deed. Ai sim: "obra" ou "feito"] . Mais adiante, quando cita
Nietzsche a tradução está acertada a tradução: doing= "fazer", deed=
"obra". Se, na primeira passagem Butler está trabalhando com termos de
Nietzsche, seria bom que os termos estivessem acertados em português, ou
que pelo menos houvesse uma coerência entre a citação e a apropriação.


-análoga a essa é a passagem na 205: "agente por trás do ato" aonde ato é
deed, a obra.


-na página 53 (primeiro parágrafo): "Como destaca Rose (...) eixo
disjuntivo do feminismo/masculino" >quando o correto seria:
"feminiNo/masculino"


-na página 54 (último parágrafo antes da nota 53): "... nos termos de uma
homossexualidade ou lesbianismo "liberados" >em inglês é: in the terms of a
"liberated heterossexuality or a lesbianism" o que eu traduziria por: "nos
termos de uma HETEROssexualidade "liberada" ou de um lesbianismo"


-na página 57 (isso não é um erro grosseiro), no começo ainda: "A repetição
imitativa [parodic] do 'original'" > eu não sei por que ele não traduziu
por "paródica". E assim aparece também na 103, logo na primeira frase:
"convergência subversiva e imitativa"


-na página 66, na última frase, a expressão: that designation supposed to
be most in the raw é traduzida por "essa que se supõe designação ser a mais
tosca" > eu traduziria assim: "essa designação que é supostamente a mais
tosca"


-na página 68, logo após a nota 4: "A ponte, o dote" > quando o correto
seria "a noiva, o dote" [do inglês bride e não bridge]. Claramente
demonstra falta de atenção.


-na página 71 temos uma situação parecida: "o que aconteceria se 'os deuses
se juntassem'" > o correto seria "se as mercadorias se juntassem" [do
inglês goods, e não gods]


-na página 79 os problemas são menos grosseiros: "que é mascarado pelo
disfarce" [em inglês masquerade, o que eu traduziria como "mascarada"] "no
intuito de parecer o Falo?" [em inglês appear to be, o que eu traduziria
por "parecer ser" ou "aparecer como"] isso reaparece na 80 em: "para que a
mulher possa parecer o próprio Falo"


-na página 80, no final as passagens: "fundante do homossexualismo
feminino" e mais na frente "'Observa-se' também que a homossexualidade
feminina" quando ambas as expressões deveriam falar da "homossexual
feminina" [female homossexual]


-na página 83 (aqui talvez não seja tão importante, mas resolvi citar), na
citação de Riviere: "máscara de feminilidade" [em inglês womanliness o que
eu traduziria por "mulheridade"] isso também ocorre na 85, na última frase,
aliás, a última palavra da página, bem como na primeira frase da 86;


-na página 93, no primeiro parágrafo: "internalização do objeto de desejo
do tabu" eu traduziria por "objeto de desejo feito (ou transformado em]
tabu" [the tabood object of desire]


-na 101 e na 102 ele traduz o termo carves de diferentes formas: 101: "cava
o espaço discursivo" 102: "cinzela os gêneros em masculino e feminino" >eu
fico com a segunda opção (nos dois contextos)


-na página 124 há um erro de número: "do significado lingüístico, que se
distinguem" [deveria ser que se destingue, pois se refere ao "semiótico" e
não às "pulsões múltiplas"]


-na página 125, na primeira frase do último parágrafo: "o semiótico é
descrito por Kristeva como destruição ou erosão" > eu colocaria:
"diferindo" e "erodindo" pra manter a relação de continuidade, de ação que
se tem no inglês.


-na página 133 sobra um "para ser culturalmente comunicável"


-na página 135: "um campo prolífero" eu traduziria como um campo
proliferante [proliferating] para dar a noção de continuidade;


-na página 136, no penúltimo parágrafo: "a lei que reprime o semiótico,
como ela diz" em inglês é the law that is said to repress the semiotic, o
que eu traduziria "a lei que é tida como repressora do semiótico"


-na página 139 a expressão angency of repression está traduzida por:
"agente recalcador" (aliás sempre repression é traduzida por "recalque"
provavelmente pra se manter num âmbito psicanalítico) o que eu traduziria
como "ação recalcadora"


-na página 141: "escritos autobiográficos do hermafrodita" colocaria "de
Herculine" para ficar de acordo com o original mais na frente: "a pessoa é
de um sexo e, portanto, não do outro" [one is one´s sex] >a pessoa é o seu
sexo e, portanto não o outro


-na página 143, citando Herculine Barbin: "sorrisos pairando a toa"
confrontando com a tradução do texto em questão (o diário de um
hermafrodita): "um mundo onde pairavam no ar sorrisos sem gatos" no inglês:
a world, he claims, in wich "grins hung about without the cat" > a tradução
está ok, mas ela perde a referência à Alice no País das Maravilhas de Lewis
Carrol. Talvez nesse sentido a tradução de Irley Franco (tradutor do
Diário...) seja mais interessante, no entanto é bom deixar claro sobre o
que se está falando (apesar de no original não ter essa elucidação; mas na
cópia que eu tenho do "Diário..." alguém colocou uma interrogação na
expressão, o que talvez demonstre ser necessário o esclarecimento na versão
traduzida)


-na página 148 temos um erro muito grosseiro: "reprodução da matriz
homossexual do desejo" deveria ser "matriz heterossexual do desejo"


-na página 149 o tradutor "come" uma oração inteira: "Foucault contrói o
binário..." na versão inglesa, antes dessa oração, havia a seguinte: " in a
almost rousseauian move, Foucault..." ou seja:- "numa jogada quase
rousseauniana, Foucault..."


-na página 150 falta um "r" em: "ameaçam torna-se" [tornar-se, né?]


-na página 152: "...significante, não o é. Mas não o é também no sentido"
esse "não o é" é a tradução para is not one o que eu traduziria como "não é
um" ou "não é uno"





-na página 161 "determinantes ambíguos" [em inglês unambiguos, ou seja "não
ambíguos" ] ainda ai, mais abaixo: "masculino como ativo e não causal" [no
inglês, monocausal]


-na página 162: "não tenha sido de seu gênero (...) "tornar-se" de seu
gênero (..) se torna de um gênero" eu tiraria todos os DE [becomes a
gender]


-na página 163 falta uma quebra de parágrafo. Aonde começa "A teoria de
Beauvoir..." deveria ser um novo parágrafo. Além disso, sobra um "categoria
de" em "a categoria de "mulher" não é..." que não existe no inglês, e é
dispensável na oração citada.


-na página 166 mais um erro grosseiro: reified é traduzido por "retificada"
e não "reificada" como deveria ser.


- na página 167, outra coisa parecida: onthology é traduzida por
"antologia" e não por "ontologia"


-na página 169, "espíritos"está no lugar de "minds", apesar de ser
recorrente, eu escolheria mentes... Além disso, a expressão speak for and
as é traduzida duas vezes: "representa e fala" e "falar em nome" > eu
traduziria como "fala para e como", uma vez que somente falar em nome de
não é o suficiente, ela fala para seus iguais e com isso se coloca como
igual. Na continuação da frase na 170: "falar em nome a condição de humano"
[speak for and as universal human= fala para e como o humano universal]


-na página 170 a expressão speak they way out of gender é traduzida por:
"encontram a saída de seu gênero pela fala" me parece que essa expressão é
rica em inglês por que sugere a possibilidade de que as mulheres construam
a sua própria saída do gênero falando. Encontrar não parece ser um verbo
interessante para isso... na 173 a expressão aparece novamente e é
traduzida por: "falar sua própria linguagem a partir"


-na página 182, ao invés de "alvo" lemos "algo" em: "tendo como algo a
identidade"


-na página 183 a expressão heterossexuality´s women and men é traduzida por
"heterossexualidade, mulheres e homens" quando devia relacionar os dois
termos anteriores com o primeiro: "as mulheres e os homens da
heterossexualidade"


-na página 185 impersonation é traduzido por "travestismo" quando poderia
ser "representação" ou "imitação" assim como na 195: "a estrutura do
travestimento" [impersonation]


-na página 193: "Nesse sentido, o corpo é..." deveria ser "a alma é..."


-na página 195, no final, aonde lê-se "travesti" deveria ler-se "drag". É
bom lembrar que esses termos não são sinônimos necessários.


-na 196: "práticas culturais do travestismo" a tradução colocou um só termo
para a dupla drag, cross-dressing > "práticas culturais de drag e
travestismo" (aqui cabe lembrar que a tradução de cross-dresser é travesti,
apesar de nos últimos tempos ter surgido no Brasil uma categoria de
"transgênero" que se denomina cross-dresser e reivindica uma diferenciação
dos travestis) mas na frente: "o travesti também" -> "a drag"


-na página 197 sobra um "de gênero" na passagem: "de um eu de gênero
primário, marcado pelo gênero" em inglês é gendered self


-na página 214: "sua não inaturalidade" [unnaturalness] >"sua
inaturalidade" "combater o 'não inatural'' [unnatural] >"o não natural"


Além disso, tenho guardado em casa a lista das páginas aonde gender e
pregender ocorrem de maneira confusa (o que posso disponibilizar a quem
esteja interessada pelo meu e-mail [email protected])


Concluindo: parece-me que o ofício de tradução tem sido desempenhado por
pessoas pouco qualificadas na área de interesse dos textos, o que gera
problemas sérios na compreensão e na utilização da teoria das autoras.
Penso que uma tradução feita por uma estudante do assunto (ou ao menos
amparada ou revisada por alguém que estudasse o assunto em questão) seria
mais cautelosa e respeitadora, ao menos, mais filógina.


Bibliografia:


BUTLER, Judith- Gender Trouble: feminism and the subversion of identity.
New York: Routledge, 1990
BUTLER, Judith- Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade.
Tradução Renato Aguiar- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003
FOUCAULT, Michel- Herculine Barbin: O diário de um Hermafrodita; tradução
de Irley Franco. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 198
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