Traços da modernidade globalizada, segundo Arjun Appadurai

July 23, 2017 | Autor: Adriano Oliveira | Categoria: Political Philosophy
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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA – CENTRO REGIONAL DE BRAGA Departamento de Filosofia – Doutoramento em Filosofia da Religião

Traços da modernidade globalizada segundo Arjun Appadurai.

Trabalho final da Disciplina Temas e Autores de Filosofia II – Religião e Política, do Programa de Doutoramento em Filosofia da Religião da UCP – Braga. Orientador: Professor Dr. José Rui da Costa Pinto Orientando: Adriano Oliveira

Braga – Março de 2015.

Ponto de partida As Dimensões culturais da globalização, escrita por Arjun Appadurai em meados da década de 90 do século passado, busca apresentar uma abordagem sui generis dos elementos característicos que compõem a modernidade. O autor realiza a sua obra sob uma perspectiva bastante personalizada, uma vez que inclui diversas experiências particulares no desenvolvimento dos seus temas. Appadurai compreende a modernidade como pertencente ao grupo de ideias que se firma e almeja a aplicabilidade universal, donde ser moderno figura como uma espécie de desejo. Aliás, ele descreve um pouco de sua vivência juvenil na Bombaim pós-colonial, quando vislumbrava o aparecimento de uma subjetividade mais sedutora e percebia-se atraído pela mundialização1. O momento moderno, entendido como o tempo coetâneo à publicação do texto em questão, distingue-se pela circunstância de ruptura radical com as relações intersociais das décadas precedentes. E isto se revela como uma brecha profunda entre as épocas anteriores e o presente. “(...) o mundo em que hoje vivemos – em que a modernidade anda à solta, por vezes acanhada e sentida de forma desigual – implica seguramente um corte com todo o tipo de passados.”2 Ademais, Appadurai considera a interação da obra da imaginação, dos meios de comunicação social e dos eventos migratórios e da desterritorialização como fundamentais na constituição do mundo globalizado e na formação do sujeito moderno3. Diante disso, o que se pretende nesta síntese é analisar estes elementos e perceber seus reflexos na produção da localidade em tempos de mundialização. Devido ao fato destes conteúdos estarem intimamente relacionados, é bastante difícil fugir às armadilhas da repetição temática. Passa-se, agora, ao tratamento dos assuntos propostos.

                                                                                                                1

Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias. Lisboa: Teorema, 2004, p. 11-12. Convém uma observação acerca de duas palavras formam o título da obra em tela. Culturais: o autor trata o substantivo cultura como uma dimensão de fenômenos que se dá a partir da diferenciação e que favorece a geração de concepções diversas de identidade de grupo. A cultura emerge como um instrumento de leitura e interpretação da diferença. São culturais somente aquelas diferenças que fundamentam ou exprimem tais identidades. Globalização: dissociada das noções de padronização ou americanização, necessita ser vista como um processo histórico que não implica a homogeneização cultural. Este é, inclusive, o entendimento mínimo que Arjun Appadurai espera de seu leitor. Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 25-27. 2 APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 13. 3 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 13-14. 2/15

I – A obra da imaginação Arjun Appadurai avalia que, muito embora a imaginação tenha sempre tido o seu espaço nos diversos momentos civilizacionais, a sua força amplia em significação e valor na contemporaneidade. O seu poder singular e especial mostra-se no caso de um número cada vez mais representativo de pessoas em todo o globo ter condições de pensar ou idealizar suas vidas como nunca antes. Esta expansão de horizontes e de criação de novas alternativas cresce exponencialmente no contexto do surgimento das comunicações electrónicas e na ligação com os movimentos migratórios4. “Uma das principais alterações da ordem cultural global (...) tem a ver com o papel da imaginação na vida social. (...) Nas últimas décadas, à medida que a desterritorialização de pessoas, imagens e ideias foi ganhando nova força, o fiel da balança foi-se deslocando imperceptivelmente. Mais pessoas em todo mundo vêem as suas vidas sob o prisma das vidas possíveis oferecidas pelos meios de comunicação de massas sob todas as suas formas. Ou seja, a fantasia é agora uma prática social; entra, de infinitos modos, no fabrico de vidas sociais para muitas pessoas em muitas sociedades”5

Pode ser dito que certas peculiaridades fazem da imaginação um fato social na modernidade. Uma delas tem a ver, justamente, com a sua saída dos domínios da arte, do mito e do rito e seu acampamento nas atividades quotidianas das gentes. Ademais, Appadurai apresenta a consideração de possibilidades não como privilégio de poucos, mas como algo aberto às pessoas em geral. Ele recorda que uma das fontes da imigração entre os indivíduos é fomentada pelo projeto e ou pela realidade de se poder trabalhar num sítio diferente daquele em que se nasceu. Assim, o vigor da imaginação patenteia-se como desejo, sonho ou esperança no interior do movimento migratório voluntário ou forçado6. Outra característica acenada em as “Dimensões culturais da globalização” é a distinção entre fantasia e imaginação. Enquanto aquela tende a se manifestar sob a nuança do pensamento divorciado das propostas e ações, esta tem o potencial e a vantagem de se estabelecer no sentido motivador de modos diversos de expressão ética, estética e social. Appadurai qualifica a influência típica da imaginação como carburante da ação. “É a imaginação, nas suas forças colectivas, que cria ideias de comunidade de bairro e de nação, de economias morais e governos injustos, de salários mais altos e perspectivas de trabalhos no estrangeiro.”7                                                                                                                 4

Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 77-78. APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 78. 6 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 17-18. 7 APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 19-20. 5

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Como terceiro e último indicador de fato social moderno, Arjun Appadurai fala da obra da imaginação como propriedade de colectivos distinta da compreensão individual romântica. De acordo com autor, através das facilidades da comunicação de massa tornam-se praticávéis a determinado grupo social imaginar e sentir as coisas em conjunto. E isto viabiliza a formação de comunidades com finalidades variadas que, em tese, são passíveis de transitar da realidade da imaginação e sentimentos compartilhados à ação coletiva. Ressaltase que tais coletividades têm condições de atuar além dos limites da nação e costumam se organizar em níveis transnacionais e pós-nacionais. Os meios electrónicos de informação permitem-lhes a complexificação, posto que nelas podem se fazer presentes o entrecruzamento de uma gama de experiências locais, o que lhes abre caminho à intervenções sociais singulares e à constituição de uma rede ampliada de relacionamentos e vivências8. Ampliada no seu horizonte, valorizada no seu poder de inspirar ou conduzir à ação, realçada na sua dimensão aglutinadora, a imaginação exerce um papel ímpar na modernidade, em especial no tange ao ordinário subjetivo. Appadurai assevera que esta relevância não pode ser desconsiderada no conjunto das análises antropológicas. “Estas vidas complexas, em parte imaginadas, devem passar a formar o veio principal da etnografia, pelo menos de uma etnografia que queira fazer ouvir a sua voz num mundo transnacional e desterritorializado. É que o novo poder de imaginação no fabrico de vidas sociais está inelutavelmente ligado a imagens, ideias e oportunidades que vêm de alhures e são muitas vezes transportadas no veículo que são os meios de comunicação de massas.”9

É justo ainda ponderar que, embora declare que a obra da imaginação faça parte da redação e consecução das biografias individuais e da construção das sociedades nos tempos recentes, Appadurai reconhece que isto não implica que o mundo tenha se tornado um lugar melhor ou mais feliz. O que é posto pelo autor é que até as ocasiões mais duras da vida das pessoas encontram seu lugar no jogo da imaginação. Ele parece perceber o espaço aberto pela imaginação não como mecanismo de fuga ou alienação, mas como local oportuno de estabelecimento de associações, fomentação de políticas, luta por direitos, manifestação da subjetividade, criação de vínculos, alimentação do sonho e da esperança10.

                                                                                                                8

Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 20-21. APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 79. 10 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 78-79. 9

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II – Os meios de comunicação de massa Outro coadjuvante considerável na efetivação da modernidade globalizada são os meios de comunicação de massa. Arjun Appadurai é capaz de constatar as intensas e expressivas alterações que se desenvolviam em relação às maneiras tradicionais de se comunicar e os seus prováveis impactos na vida dos sujeitos e nos ordenamentos sociais. Distintas das versões anteriores, os novos veículos de comunicação apostam na disponibilização condensada e convergente de informações, nos formatos múltiplos de distribuição de conteúdo, no aumento radical tanto da velocidade das transmissões quanto dos limites de abrangência dos destinatários, visando o rompimento das barreiras da localidade e o alcance das perspectivas globais11. Merece destaque o olhar acurado e perspicaz do autor sobre os aspectos promissores da digitalização das informações. É conveniente dizer que ele possui uma percepção visionária das mudanças ocorridas nos últimos vinte anos, desde a efetivação da internet. Dimensões culturais da globalização foi publicada em 1996 e seu processo de escrita durou seis anos. A título de contextualização, no início da década de 90, o número de computadores conectados à rede superava a marca de 300 mil e interligava instituições de ensino superior nos Estados Unidos, Canadá e Europa. Eram possíveis a execução de aplicações como o envio de correio electrónico e a transferência de arquivos. Em 1993, cerca de 1.5 milhão de computadores, em mais de 100 países, encontravam-se interconectados12. Até então, a internet concentrava-se em duas comunidades específicas. A científica, por meio do compartilhamento de documentos online e a dos cidadãos, focada nos recursos de e-mail e nos grupos de discussão. O final de 93 constituiu um marco decisivo na história da rede. O registro de domínios (endereços digitais) e a criação de páginas de conteúdo (webpage) ampliaram a abrangência da internet, tornando-a interessante a qualquer um e fomentando a proliferação de sítios pessoais, institucionais, governamentais e comerciais. A fabricação de computadores mais acessíveis, os aprimoramentos em infraestrutura e as novas funcionalidades da rede instigaram a expansão da cifra de usuários.                                                                                                                 11

“A comunicação electrónica (...) fornece recursos para toda espécie de experiências de construção do eu em todo o tipo de sociedades e para todo o tipo de pessoas. Permite enredos de vidas possíveis imbuídas da sedução das estrelas de cinema e de fantásticos argumentos de filmes, sem que percam o seu carácter de plausibilidade, como noticiários, documentários e outras formas de telemediatização informativa e de texto impresso. Graças à mera multiplicidade de formas que assume (cinema, televisão, computadores e telefones) e à maneira rápida como se move no seio das rotinas da vida quotidiana, a comunicação electrónica é uma ferramenta para que cada indivíduo se imagine como um projecto social em curso.” APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 14-15. 12 Sobre os dados do desenvolvimento da internet aqui apresentados, cf.: CONTI, Fátima. História do computador e da internet. Disponível em www.cultura.ufpa.br/dicas. Acessado em 25/02/2015. 5/15

O ano de 94 correspondeu a abertura da internet à exploração comercial. a resposta do mercado foi imediata e logo começaram as publicidades online e foram criadas a ferramenta de buscas Yahoo e a loja virtual de livros – que se tornou uma das gigantes do comércio electrónico – a Amazon. No ano seguinte, atingiu-se o cômputo superior a 30 milhões de pessoas conectadas em todo o mundo. Um episódio significativo em 1996 foi o aparecimento do mensageiro instantâneo ICQ. O software representou um sucesso e uma revolução nas comunicações, pois se constituiu um dos ensaios inaugurais da troca rápida, direta, em tempo real e gratuita de textos com qualquer pessoa do globo. Em 1997, o ICQ contava com 4 milhões de utilizadores e mais de 220 mil conexões simultâneas. Em termos de valores atuais, os dados demonstram que, entre 2000 e 2014, o número de usuários cresceu cerca de 741% e a penetração da internet atingiu 43% da população mundial. O impacto maior deste crescimento pode ser percebido na África, que passou de pouco mais de 4 milhões a quase 300 milhões, porém isto retrata somente 26.5% do total de pessoas do continente. A América do Norte é o espaço econômico-geográfico de maior popularização da rede, ao passo que a Ásia e África encontram-se bastante abaixo dos índices globais. Tendo por base o cenário demográfico, a região asiática soma por volta de 1.4 bilhão de usuários contra uma população de aproximadamente 4 bilhões (cf.: quadro 1). Um estudo realizado em novembro de 2014 pelos grupos CIGI-IPSOS sobre segurança e confiança na internet aponta que 83% dos entrevistados concorda que a utilização da rede por um preço acessível deveria ser considerado direito humano básico. Os índices superam a proporcionalidade média nos blocos dos países mais pobres, locais onde é menor a penetração e são maiores as restrições de utilização da internet. (cf.: quadro 2) A pesquisa revela outras questões sociológicas pertinentes que demonstram facetas da mentalidade vigente. Por exemplo, 91% dos pesquisados, tendo em vista os seus futuros particulares, declaram a internet como importante para o acesso à informações e ao conhecimento científico. Novamente, os números mais representativos são os da África/Oriente Médio, América Latina e BRIC (cf.: quadro 3). Foi colocada também aos participantes a pertinência da internet para o futuro da liberdade de expressão e de manifestação política deles. Do total dos envolvidos, 47% reconhecem como muito importante e 36% como de algum modo importante. Destaque especial para os grupos África/Oriente Médio e América Latina nos quais, respectivamente, 60% e 55% observam a internet como muito importante no referido quesito (cf.: quadro 4). Um terceiro aspecto contemplado foi a dimensão lúdica. A leitura dos dados assinala que a internet encontra-se em alta quanto ao divertimento e à recreação. A média igual ou superior a 84% dos participantes identifica o espaço específico da rede de computadores no que toca ao futuro do entretenimento (cf.: quadro 5). 6/15

Acentuou-se, recentemente, o debate sobre as políticas de monitoramento e controle dos dados transmitidos via internet, a privacidade e a segurança dos usuários13. Tendo isto como pano de fundo, o instituto CIGI-IPSOS perguntou aos entrevistados se haviam modificados suas atitudes de segurança online em comparação ao ano anterior, ou seja 2013. As respostas dos participantes são eloquentes e expressam mudanças de comportamento que compreendem a utilização menos frequente da internet, o encerramento de contas em redes sociais, o controle sobre os contatos virtuais, a adoção de autocensura quando navegam e a alteração habitual das palavras passe (cf.: quadro 6)14. E, como a internet tem se tornado algo corriqueiro para quase metade da população mundial, a empresa Statista, um dos maiores portais mundiais especializados em estatística, publicou uma pesquisa acerca das atividades efetuadas online. Para a coleta dos dados, foram entrevistados cidadãos portugueses, com idade igual ou superior a 16 anos, durante o primeiro trimestre de 2014. Conforme os resultados obtidos, as três tarefas semanais mais comuns são a conferência email, o uso de ferramentas de busca, e a visita a redes sociais. A procura por divertimento electrónico é considerável, mas a realização de compras online é apagada, o que pode indicar um nicho econômico a ser desenvolvido15. O certo é que desde a sua saída dos laboratórios e ambientes, especificamente, acadêmicos e dos inícios de sua exploração comercial, a internet vem ganhando sempre mais espaço, crescido vertiginosamente e influenciado as maneiras como as pessoas se comunicam, consomem informações, desenvolvem-se culturalmente, organizam-se em termos políticos e econômicos, buscam entretenimento, associam-se a organismos e causas, viajam aos mais variados confins sem sair do conforto de suas residências. Isto sem falar na versatilidade das diversas plataformas de acesso e das redes wireless, que propiciam uma autonomia singular ao usuário. A internet é, sem dúvida, um dos meios convergentes de comunicação que mais se desenvolveu nas últimas décadas e parece estar funcionando, para usar uma expressão de Appadurai, como uma encarnação da metáfora da modernidade sem peias.                                                                                                                 13

Sob certo aspecto, as discussões em torno da privacidade eletrônica vieram à baila no curso de uma série de eventos, tais como os ataques de 11 de Setembro e o crescimento das ameaças terroristas; o aumento do comércio electrónico e as novas modalidades de crimes cibernéticos; as batalhas por copyright em contraposição ao compartilhamento indiscriminado de músicas, vídeos e livros em formato digital; a ampliação da internet; e, ainda, as denúncias de rastreamento e conservação de informações pessoais executadas empresas, instituições e governos, cujo caso mais típico e atual foi a de Edward Snowden acerca dos mecanismos de vigilância da Agência Nacional de Segurança (NSA) do governo dos Estados Unidos. Sobre Edward Snowden e a NSA, confira: MACASKILL, E; DANCE, G.; NSA files decoded: What the revelations mean for you. Disponível em http://goo.gl/7mk5qQ . Acesso em 28/02/2015. É também oportuno o documentário Citzen Four (https://citizenfourfilm.com) que trata destes temas. 14 O relatório completo da pesquisa realizada pelos grupos CIGI-IPSOS encontra-se disponível em https://www.cigionline.org/internet-survey. Acesso em 28/02/2015. 15 Sobre a utilização semanal da internet em Portugal, confira os índices publicados pelo Statista, disponíveis em http://www.statista.com/statistics/369530/weekly-online-activities-portugal/. Acesso em 04/03/2015. 7/15

III – A desterritorialização e as formações pós-nacionais

O movimento migratório, espontâneo ou obrigado, figura como certa constante na história dos grupos sociais, mas que na modernidade assume contornos particulares. Fomentada pela obra da imaginação e assistida pelas facilidades de contato e de troca de informações estabelecidas pelos veículos de comunicação modernos, as migrações no mundo globalizado

parecem

emergir

como

espaços

de

formação

de

subjetividades

desterritorializadas e de criação de esferas públicas de diáspora. O fato de sujeitos emigrados encontrarem-se num território específico não lhes impede o vínculo e a comunhão com as suas realidades culturais matriciais. Os meios de comunicação lhes permitem o acesso a notícias, o consumo de entretenimento e a relação virtual com quem está distante16. De acordo com a análise de Arjun Appadurai, os ordenamentos Estado-nação vem se mostrando mal ajustados para lidarem com o trânsito de pessoas e de imaginários que compõem o cenário vigente. O Estado-nação – símbolo e realidade de um modelo de governo complexo e burocrático – parece não funcionar bem numa modernidade em movimento e que não deseja amarras. Appadurai assevera que este esquema acha-se em crise, constatação que ele admite não ser algo tão evidente ou popular. Ele sustenta a sua proposição sob duas ópticas distintas. Ética, no sentido de reconhecer uma propensão nas formas atuais de se tornarem mais violentas e corruptas. Todavia, o autor se pergunta sobre a garantia dos direitos mínimos diante da hipótese do desaparecimento do Estado-nação. Ele sabe que uma resposta exata ao problema é difícil, mas talvez as experiências dos movimentos que atuam na transnacionalidade possam apontar um caminho17. A segunda abordagem da crise é de natureza analítica e parte do princípio de que as guerras fronteiriças, as questões culturais, o movimento migratório, a instabilidade econômica e a flutuação de capital representam reais ameaças à soberania de uma grande parcela de países do globo. Ainda, as discussões sobre a legitimidade do estado e de temas relacionados à raça, à nacionalidade, à identidade de grupo, aos direitos individuais e ao multiculturalismo são insistentes e ampliadas. Appadurai compreende que a acolhida de sua conjetura supõe admitir que os sistemas políticos das nações ricas do norte estão também afetados pela crise e que as recentes formas de nacionalismos, inclusive aquelas que se visualizam nas esferas públicas de diáspora, têm assumido configurações de lealdade e de patriotismo que ultrapassam os limites territoriais18.                                                                                                                 16

Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 15-16, 34-40. Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 33-34. 18 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 37-40. 17

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Além de tudo isto, o autor de as Dimensões culturais da globalização acentua que a própria compreensão de nacionalismo tem sofrido mutações. Na verdade, a índole nacionalista situa-se em movimento e sempre mais emancipada dos confins nacionais. Appadurai comenta que as identificações e identidades têm transcendido os espaços do solo e passado a orbitar “(...) apenas parcialmente em torno das realidades e imagens de lugar. (...) imagens da terra natal são apenas parte da retórica da soberania popular e não reflectem necessariamente uma meta territorial. (...) os cidadãos imaginam que pertencem a uma sociedade nacional.”19 O nacionalismo moderno implica antes que as pessoas e comunidades compartilhem suas práticas e projetos do que a simples ligação a uma terra. Ou seja, mais do que por razões estabelecidas como a língua, o sangue, a raça, o país, a sociedade globalizada parece ser forjada como produto cultural, fruto da imaginação e do interesse coletivo. Em tempos terminais de Estado-nação, o autor pondera que seria de se esperar algo como um imaginário pós-nacional já presente, entretanto o caso não é bem este. De qualquer modo, ele entende que na contemporaneidade o Estado-nação não é a única equipa em jogo e que ocorrem atividades paralelas, as quais evocam compromisso ético, solidariedade, fidelidade e não se circunscrevem à nacionalidade. Segundo Appadurai, assiste-se ao aparecimento de ordens sociais internacionais, transnacionais e pós-nacionais, tais como organismos filantrópicos, associações de apoio a refugiados, agremiações religiosas, ações de moda e, inclusive, grupos terroristas. Em geral, estas instâncias têm como notas a diversificação de trabalhos, a fluidez, a atuação pontual, a provisoriedade e o aparato mais enxuto que o estado. Em muitos dos casos, revelam-se bastante eficientes na garantia de suprimento das necessidades básicas das pessoas em locais não alcançados pelos governos20. Appadurai enxerga as práticas acima e a realidade das esferas públicas de diáspora como cadinhos, exemplos ou incubadoras de um ordenamento político pós-nacional. Ele compreende que os resultados dos processos pode não vir a ser a organização de um corpo de unidades homogêneas, mas algo marcado por laços de heterogeneidade. O desafio aventado por ele é se tal resultado poderá ou será coerente com uma convenção elementar de normas, valores e direitos. Ele assevera que isto pode ser vislumbrado a partir dos acordos estabelecidos entre os sujeitos, grupos, esferas e movimentos envolvidos. Ele ainda antevê a situação particular estado-unidense, terra de imigrantes, em desempenhar um papel singular no panorama global no que tange à consecução de uma política cultural pós-nacional21.

                                                                                                                19

APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 215. Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 223-225. 21 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 39-40, 230-235. 20

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IV – A construção da localidade Expostos os papéis da obra da imaginação e dos meios de comunicação de massa, bem como apontados os fenômenos da desterritorialização e da crise do Estadonação, importa considerar a significação e os desafios da produção da localidade num contexto de mundo globalizado. É preciso ter em mente que Arjun Appadurai compreende a localidade como fato social frágil, marcado por vinculações existentes entre a interatividade dos sujeitos e a relatividade dos contextos. O autor se vale do termo bairro como categoria sociológica específica para falar da localidade. Os bairros referem-se às “(...) comunidades situadas caracterizadas pela sua realidade, espacial ou virtual, e pelo seu potencial para a reprodução social.”22 A produção dos bairros baseia-se numa realidade histórica e se firma como uma oposição a um estágio anterior. Isto é, a construção da localidade está vinculada a um momento de colonização e requer ações subjetivas deliberadas, arriscadas e violentas. O bairro é uma realidade que supõe ordenação. O seu estabelecimento “(...) implica a afirmação de um poder socialmente organizador ou cósmico sobre um espaço e lugar potencialmente reconhecido como caótico ou rebelde. A constituição ou configuração do bairro é uma atuação de poder sobre o ambiente hostil.”23 Os bairros revelam-se espaços adequados para a produção de sujeitos locais, sejam estes temporários ou permanentes. Eles se demonstram como solo cultural da gestação de indivíduos. Todavia, a conexão entre localidade e sujeito não é unilateral. Na verdade, pode ser dito que os bairros produzem os sujeitos e vice-versa. Existe uma interpenetração criativa e constante entre ambas realidades. Appadurai põe em destaque a importância da localidade para o surgimento de sujeitos de confiança e de bairros de confiança. Ele acena para o processo dialético que permeia a constituição dos sujeitos e dos bairros em que tais sujeitos são constituídos. Sem sujeitos locais de confiança a produção do terreno local é complexa; sem o chão conveniente, a formação dos sujeitos locais é inócua24.

                                                                                                                22

APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 238. “O termo bairro (...) tem também a virtude de sugerir socialidade, imediatidade e reprodutibilidade sem necessariamente implicar escala, modos específicos de conectividade, homogeneidade interna ou fronteiras definidas. Este sentido de bairro pode também abranger imagens como circuito e zona fronteiriça, que têm sido considerados preferíveis a imagens como comunidade e centro-periferia, em especial quando se trata de migração transnacional.” APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 268. 23 APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 244. 24 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 241, 247-248. 10/15

Se a relevância da produção da localidade tem a ver, sobretudo, com o florescimento cultural e a formação da subjetividade, Appadurai destaca três atores que contracenam no desenvolvimento destas instâncias. O primeiro é o Estado-nação, o qual, para a manutenção de sua estrutura e garantia do funcionamento do seu aparato burocrático, ocupase mais da promoção de cidadãos nacionais do que, propriamente, dos sujeitos de confiança. O Estado-nação empenha-se na constituição da localidade que se mostra uma fonte de “(...) trabalhadores políticos e funcionários de partido, professores e soldados (...).”25 O segundo, que destaca-se como evento desafiador, são os movimentos migratórios. O autor considera as dimensões complexas e desafiantes da gestação de bairros de confiança em situações como a dos trabalhadores em movimento, de pessoas em campos de refugiados e dos indivíduos e famílias nos centros urbanos, sendo que cada um representa e revela obstáculos específicos ao desabrochar dos vínculos afetivos e à configuração dos sentimentos de pertença26. O terceiro ator, e quem sabe o mais inovador e instigante, são os meios de comunicação de massa. A comunicação electrónica, já na época da redação do texto de Appadurai, apontava vieses diferenciados e transnacionais de realização de contatos, relacionamentos e lealdades. Aliás, o autor é capaz de observar o fenômeno da digitalização dos dados e das possibilidades da internet no sentido de auxiliar os sujeitos a se firmarem como produtores dos contextos em que se encontravam. Os rumos sem fronteiras propiciados pela rede de computadores no tocante à divulgação de informações, efetivação de debates, partilha de projetos e aproximação de pessoas separadas territorialmente, descortinam um completo novo horizonte para a emergência de bairros virtuais, cujo acesso opera-se mediante o hardware e software disponível, e não por passaportes ou impostos27. O cenário atual parece mais intrincado do que aquele que Appadurai tinha condições de conjecturar quando da elaboração de seu texto. Ele reconhece tal limitação ao aceitar a dificuldade de se prever a longevidade dos bairros virtuais. Muito embora a leitura de sua obra não sugira uma ligação direta, a situação contemporânea das redes sociais pode ser antevista como possíveis arranjos dos bairros virtuais postulados pelo antropólogo indoamericano. Segundo dados estimados, se em 2010 o número de contas ativas em redes sociais era de 970 milhões, a projeções para 2015 e 2018 são, respectivamente, 1,9 e 2,5 bilhões. As duas maiores – o Facebook norte-americano e a QZone chinesa – alcançaram, em 2014, 2 bilhões de usuários. O que na época representava 27% da população mundial e 65% do número total de pessoas conectadas à internet (cf. quadros 7 e 8).                                                                                                                 25

APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 253. Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 254-256. 27 Cf.: APPADURAI, A. Dimensões culturais da globalização. p. 262-263. 26

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O caso do crescimento e abrangência do Facebook é bem singular, pois num prazo de seis anos, saltou da marca de 100 milhões para 1 bilhão e 350 milhões de utilizadores 28 . Destarte, esta plataforma de comunicação firma-se como espaço de compartilhamento temas da vida pessoal, afirmação da subjetividade, busca de diversão, estabelecimento de vínculos de amizade e afetivos, criação de grupos de interesses e afinidades, expressão do sentimento religioso, convocação para o engajamento político, massiva exploração propagandista e comercialização de bens e produtos. Sob uma perspectiva distinta do Facebook, é interessante a rede LinkedIn, a qual foi criada com a finalidade de incentivar, impulsionar e manter contatos profissionais e empresariais e viabilizar ações mercantis e financeiras. Ela tem evoluído e ganhado importância, justamente, por operar num nicho particular29. No geral, as redes sociais possuem uma força de penetração e de adesão consideráveis, algo que as torna uma poderosa ferramenta económica, política e social. Os exemplos citados aqui – Facebook, QZone, LinkedIn – embora representem as maiores comunidades online, em hipótese alguma são as únicas vigentes. O que não falta na internet são redes com propostas e finalidades bem variadas, que vão desde a difusão do conhecimento científico (Academia.edu) ao ensinamento de línguas estrangeiras (Livemocha), passando, ainda, pela busca de relacionamentos afetivos (Match.com) e as inúmeras dedicadas à pornografia e ao encontros sexuais. Diante de tudo o que foi afirmado, não é insensato considerar que os bairros virtuais que Appadurai pontuava a emergência nos meados da década de 90 parecem ter crescido mais que exponencialmente. Eles têm passado a compor as redes sociais do século XXI. É patente que elas vêm se impondo como espaços convergentes do encontro e atuação de pessoas, bem como de desenvolvimento da sociedade globalizada, cujos impactos e consequências carecem estudos mais criteriosos e abrangentes. Seguindo a inspiração do nosso antropólogo, algo urgente ser apreciado é a capacidade de as redes formarem sujeitos e bairros virtuais de confiança, tendo em vista a constituição de relações fecundas. Desafio que não se circunscreve ao espaço da internet, mas se mostra eminente nas relações sociais como um todo.                                                                                                                 28

Numa análise comparativa, o número de usuários atuais do Facebook corresponde, aproximadamente, à população total da China, à 2 vezes e meia população da comunidade europeia, 4 vezes a população dos Estados Unidos, a 6 vezes e meia a população do Brasil e a 127 vezes a população de Portugal. 29 Sobre dados estatísticos sobre o crescimento do Facebook e LinkedIn, veja os índices publicados pelo Statista, disponíveis em http://www.statista.com/statistics/264810/number-of-monthly-active-facebook-users-worldwide/ e http://www.statista.com/statistics/274050/quarterly-numbers-of-linkedin-members/ . Acesso em 05/03/2015. 12/15

Considerações finais O presente trabalho objetivou a consideração de certos aspectos que, conforme a obra Dimensões culturais da globalização: a modernidade sem peias, interagem na constituição da sociedade mundializada. Como pôde ser percebido, Arjun Appadurai compreende o tempo moderno e própria formação do sentido de localidade sob a atuação conjunta e envolvente da obra da imaginação, dos meios de comunicação de massa e dos eventos migratórios. A força projetiva da imaginação, o rompimento de barreiras promovidos pela comunicação eletrônica, a constatação da crise do Estadonação e o reconhecimento da presença e trabalho de organismos pós e transnacionais, a afirmação dos bairros como espaços para o florescimento afetivo e cultural humanos constituem elementos significativos da visão antropossociológica do mundo globalizado descrita pelo autor indo-americano. Algo que se mostrou evidente na leitura do texto de Appadurai foi a sua avaliação positiva e mesmo não preconceituosa da modernidade em movimento. O autor insiste em fugir do lugar comum das identificações imediatas entre globalização e homogeneização cultural, imaginação e fuga, meios de comunicação social e manipulação ou ópio do povo. Mais do que ingenuidade, o seu parecer firma-se como diferenciado, crítico e visionário. Caso exemplar disto são as observações sobre as comunicações electrónicas e a internet. É muito provável que Appadurai, na qualidade de pesquisador e professor em universidades americanas e de cidadão encantado com a mundialização, acompanhou os passos iniciais da utilização da rede de computadores. E talvez esta experiência tenha lhe proporcionado contemplar os vários caminhos e potencialidades do uso popularizado e múltiplo da internet no mundo globalizado e de pessoas em trânsito. A categoria bairros virtuais à qual ele se refere é tão inovadora e considerável para o seu tempo quanto pertinente e falante para a época da efervescência das redes sociais. Numa espécie de apanhado geral, as reflexões de Appadurai manifestam-se bastante inteligentes, originais, ousadas e perspicazes quando referenciadas às circunstâncias históricas da publicação do texto. O próprio fato do autor não pretender a elaboração de uma teoria social teleológica, mas fundamentada no florescimento cultural, na força da imaginação, nas implicações da comunicação eletrônica e aberta à transnacionalidade, torna Dimensões culturais da globalização um excelente instrumental para a compreensão da contemporaneidade e suas transformações. Ademais, ela figura como um convite para pensar o mundo, as sociedades e as pessoas sob paradigmas menos rígidos e convencionais, porém mais audaciosos e livres. Apesar dos quase 20 anos do seu lançamento e das mudanças ocorridas nestas duas décadas, os pensamentos de Appadurai expressos na obra ora analisada mantêm o seu valor e a sua atualidade.

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Quadros e gráficos

INTERNET USAGE STATISTICS The Internet Big Picture World Internet Users and 2014 Population Stats

Quadro 1 – Dados estatísticos dos usuários de internet x população – Junho 2014 WORLD INTERNET USAGE AND POPULATION STATISTICS JUNE 30, 2014 - Mid-Year Update World Regions

Population ( 2014 Est.)

Internet Users Dec. 31, 2000

Internet Users Latest Data

Penetration Growth (% Population) 2000-2014

Users % of Table

Africa

1,125,721,038

4,514,400

297,885,898

26.5 %

6,498.6 %

9.8 %

Asia

3,996,408,007

114,304,000

1,386,188,112

34.7 %

1,112.7 %

45.7 %

Europe

825,824,883

105,096,093

582,441,059

70.5 %

454.2 %

19.2 %

Middle East

231,588,580

3,284,800

111,809,510

48.3 %

3,303.8 %

3.7 %

North America

353,860,227

108,096,800

310,322,257

87.7 %

187.1 %

10.2 %

Latin America / Caribbean

612,279,181

18,068,919

320,312,562

52.3 %

1,672.7 %

10.5 %

36,724,649

7,620,480

26,789,942

72.9 %

251.6 %

0.9 %

7,182,406,565

360,985,492

3,035,749,340

42.3 %

741.0 %

100.0 %

Oceania / Australia WORLD TOTAL

NOTES: (1) Internet Usage and World Population Statistics are for June 30, 2014. (2) CLICK on each world region name for detailed regional usage information. (3) Demographic (Population) numbers are based on data from the US Census Bureau and local census agencies. (4) Internet usage information comes from data published by Nielsen Online, by the International Telecommunications Union, by GfK, local ICT Regulators and other reliable sources. (5) For definitions, disclaimers, navigation help and methodology, please refer to the Site Surfing Guide. (6) Information in this site may be cited, giving the due credit to www.internetworldstats.com. Copyright © 2001 - 2014, Miniwatts Marketing Group. All rights reserved worldwide.

Quadro 2 – Internet a preço acessível como direito humano básico

Quadro 4 – Relevância da Internet como meio de liberdade de expressão e manifestação política

Quadro 3 – Relevância da Internet como meio de acesso a informações e conhecimento científico

Quadro 5 – Relevância da Internet como meio de divertimento e recreação

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Quadros e gráficos Quadro 6 – Sobre mudanças de comportamento acerca da segurança pessoal online Of(ALL&Internet(users,(this(is(what(they(have(changed(in(behaving( online(compared(to(one(year(ago…( Total(

Avoiding(certain(Internet(sites(and(web( applicaPons(

43%(

Changing(your(password(regularly(

39%(

Self$censoring(what(you(say(online(

28%(

Changing(who(you(communicate(with( Closing(Facebook(and(other(social(media( accounts,(etc.)( Using(the(Internet(less(oken(

18%( 11%( 10%(

None(of(these(

24%(

Q3.""How"have"you"changed"anything"about"how"you"behave"online"compared"to"one"year"ago?" (Please"select"all"that"apply.)" Base:"All"Respondents"Total""(n=23,376)" November 2014 – CIGI-IPSOS GLOBAL SURVEY ON INTERNET SECURITY AND TRUST

56(

Quadro 7 – Estimativa do número de usuários de redes sociais 2010-2018

Quadro 8 – Estimativa do número de usuários de redes sociais em 2014

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