Três em Arte

July 6, 2017 | Autor: Eveline Araujo | Categoria: Ethnography, Social and Cultural Anthropology, Urban Sociology, Visual Arts, Interculturalidad
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Título: Livro de Atas do 1º Congresso da Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa 2015, Isabel Corrêa da Silva, Marina Pignatelli e Susana de Matos Viegas (Coord.) Capa, revisão e paginação: Leading Congressos 1ª edição: janeiro de 2015 ISBN: 978-989-99357-0-9

Isabel Corrêa da Silva Marina Pignatelli Susana de Matos Viegas (Coord.)

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Imaginar e Repensar o Social: Desafios às Ciências Sociais em Língua Portuguesa, 25 anos depois O 1º Congresso da Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa – XII CONLAB Os Congressos Luso- Afro- Brasileiros têm sido, desde a sua primeira edição em 1990, um dos mais importantes encontros de cientistas sociais e das humanidades dos países de língua oficial portuguesa. Têm sido, sem sombra de dúvidas, um espaço pluri e transdisciplinar, reagrupando intelectuais de todas as disciplinas das ciências sociais e das humanidades, num importante esforço de promoção da reflexão e partilha de produção científica, almejando ao mesmo tempo a criação, consolidação e internacionalização da produção científica em língua portuguesa. De igual modo, tem sido preocupação desses Congressos, por um lado, a busca da institucionalização de parcerias no domínio da pesquisa em ciências sociais e humanas nos países de língua portuguesa e, por outro, constituir-se num espaço de exploração e promoção de ideias e projetos relevantes para o desenvolvimento da paz, da democracia e da inclusão num contexto global de profundas e rápidas transformações. O tema do XII CONLAB, o primeiro a realizar-se após a criação, em Salvador da Bahia, da AICSHLP, propõe ser um catalisador de uma reflexão que recupere a trajetória dos onze congressos realizados, apontando os ganhos que as ciências sociais e humanas dos Sete tiveram e as pontes construídas para a sua consolidação enquanto áreas de saber e a busca de um maior protagonismo no espaço global da produção conhecimento, ainda marcado por clivagens epistemológicas, teóricas e políticas condicionando, quando não subalternizando o fazer ciência em língua portuguesa. Do mesmo modo, a nível interno aos países falantes do português, o grau de institucionalização, consolidação e de desenvolvimento das ciências sociais e humanas é diverso. Enquanto o Brasil e Portugal têm um sistema de desenvolvimento do ensino e da investigação implantado, ao mesmo tempo em que têm sido importantes parceiros na formação de pesquisadores dos países africanos de língua portuguesa e de Timor Leste, nos restantes países, as ciências sociais ainda têm um caminho a percorrer. Nas últimas décadas, com particular realce para os últimos dez anos, tem- se assistido em todos os países africanos de língua portuguesa um esforço interno importante de criação de um sistema de ensino em ciências sociais e humanas, e com um grau menos significativo, um sistema de pesquisa. Angola, Cabo Verde e Moçambique têm dado passos significativos e que se tem traduzido no aumento do número de cursos e profissionais nestas áreas, assim como de publicações. Ainda que iniciante na atividade de pesquisa em instituições de ensino superior existentes no país, S. Tomé e Príncipe tem buscado institucionalizar o ensino universitário público, recorrendo, entre outras, a parcerias com instituições universitárias brasileiras. A Guiné-Bissau desenvolveu um sistema de investigação cientifica em ciências sociais e humanidades no âmbito do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), mas conheceu na última década um recuo significativo. Como consequência, e, ainda que Faculdades e Universidades tenham sido entretanto criadas, registou-se uma inflexão na dinâmica da pesquisa na área das ciências sociais, em grande parte devido à instabilidade política e militar, emigração dos quadros guineenses e à diminuição da presença de pesquisadores estrangeiros no país. Timor Leste constitui o mais novo membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa depara-se com um forte desafio, a um só tempo, da institucionalização do Estado independente, fautor da nação, e um posicionamento linguístico e cultural oscilando entre várias línguas. Em todo o caso, a decisão política de se

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erigir a língua portuguesa como uma das línguas oficiais e a crescente posição que o português tem assumido nas políticas universitárias das ciências sociais em Timor-Leste trazem os colegas timorenses à comunidade de cientistas sociais em língua portuguesa não apenas pela integração, mas principalmente pelo contributo ao seu ainda maior alargamento e pluralismo de perspectivas. O processo de maturação do campo da pesquisa em ciências sociais e humanas encontra-se ainda longe de se constituir como espaço de referência e de reconhecimento no quadro global. A produção do conhecimento em ciências humanas e sociais conheceu nas últimas décadas um maior reconhecimento a nível global, o que é demonstrativo do percurso feito e de melhorias substanciais verificadas em quase todos os países de língua oficial portuguesa. Contudo, a crise econômica e financeira que se revelou a partir de 2008 e que se estende até os dias hoje começa a impactar o sistema de ensino e investigação científica, traduzindo-se, nomeadamente, num desinvestimento área das ciências humanas e sociais. A situação atualmente vivida em Portugal mostra as inflexões em curso no domínio da política científica, tocando de forma particular e preferencial as ciências sociais e as humanidades. Neste contexto, o tema do Congresso “Imaginar e Repensar o Social: Desafios às Ciências Sociais em Língua Portuguesa, 25 anos depois” se mostra de uma atualidade acrescida e instigante para os cientistas sociais que produzem em língua portuguesa e nos países falantes do português: reconstruir reflexiva e criticamente os 25 anos do CONLAB e, mais do que isso, perspectivar o futuro se mostram cruciais para as ciências sociais e humanas nos nossos países. Somos, por conseguinte, chamados a um exercício de imaginação capaz de permitir delinear estratégias científicas e políticas de promoção do desenvolvimento do ensino e da pesquisa em Ciências Sociais de forma a buscar consolidar essa área do conhecimento, bem como o seu reconhecimento nos espaços nacionais dos países de língua portuguesa e no mundo. O XII Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa será organizado em duas partes: a primeira consistirá no evento científico subordinado ao tema “Imaginar e Repensar o Social: Desafios às Ciências Sociais em Língua Portuguesa, 25 anos depois”. Esta parte estará organizada em sessões plenárias (conferências) e paralelas (Mesas Redondas e Grupos de Trabalho). Membros associados e a comunidade de pesquisadores em ciências sociais e humanas dos Sete países falantes do português e demais pesquisadores desses espaços são convidados a participar do evento. A segunda parte consistirá da dimensão institucional destinada à realização das reuniões estatutárias dos órgãos da AICSHLP, destacando-se a reunião da Assembleia Geral, com a eleição de novos membros dos órgãos da Associação a tomarem posse em 2016. Presidente da AILPcsh

CLÁUDIO FURTADO

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Índice

GT1 O local, o regional, o nacional, o global: cruzamentos periféricos e hegemónicos ........................................... Debatendo a “originalidade”: aspectos da teoria crítica no Brasil Stefan Klein ............................................................................................................................................................. Durkheim e dois momentos da sociologia brasileira Alexandre Braga Massella ....................................................................................................................................... Território e identidade: uma dicotomia estabelecida em tempos de globalização Sebastião Pinheiro Gonçalves de Cerqueira Neto ................................................................................................... Reflexões contemporâneas, talvez pós-coloniais, sobre o pós-colonial em cinemas africanos da contemporaneidade Jusciele Conceição Almeida de Oliveira.................................................................................................................. Pós-modernidade e os paradoxos da globalização Josélia Elvira Teixeira, Iara Vigo de Lima ............................................................................................................... GT 2 Novas fronteiras na pesquisa em África e América Latina: Questões teóricas e epistemológicas ................. 3HUVSHFWLYLVPRVRFLROyJLFRDQLPLVPRFXOWXUDOHWUDQV¿JXUDomRpWQLFDDOLQJXDJHPGDVRFLRORJLDQRHVWXGR das vanguardas anímicas da cultura negra no Nordeste do Brasil Camillo César Alvarenga, ....................................................................................................................................... Uma Epistemologia Periférica Ou Para Uma Estética (Bem) Marginal Emerson da Cruz Inácio ........................................................................................................................................... A interdisciplinaridade como forma de reforçar as parcerias Sul/Sul Cynthia Carvalho Martins, Lilian Cristina Bernardo Gomes .................................................................................. A macroeconomia pernambucana no séc. XIX Débora de Souza Leão Albuquerque........................................................................................................................ Cooperação Sul-Sul Para o Desenvolvimento Agrícola de Moçambique: Com a Palavra a Sociedade Local Rosinha Machado Carrion ....................................................................................................................................... O papel da retórica no discurso político Brasileiro no contexto da cooperação Brasil-África Ana Paula Rodrigues Luz Faria, Marta Zorzal e Silva ............................................................................................ Angola, China e Brasil nos meandros das novas relações Sul-SulDiálogos e assimetrias interpretativas no âmbito das ciências sociais José Katito, Sérgio Franco ....................................................................................................................................... O Pastoril Dona Joaquina em São Gonçalo do Amarante (RN/Brasil): uma abordagem folkcomunicacional sobre suas características e representações culturais Beatriz Lima de Paiva, Andrielle Cristina Moura Mendes, Itamar de Morais Nobre ............................................. Um olhar do entre Sul e Sul: um estudo as Marchas Populares de Lisboa no contexto da Comunicação Social Élmano Ricarte de Azevêdo Souza .......................................................................................................................... Eixo Temático: As Ciências Sociais e Humanas em língua portuguesa perante as transformações à escala global Spigolon, Nima I., Norões, Katia C. ........................................................................................................................ Perspectivas teóricas em pauta Bruno Curtis Weber, Marta Zorzal e Silva ............................................................................................................... Um precursor do diálogo Sul-Sul? Aproximações e distanciamentos entre Darcy Ribeiro e o “giro decolonial” Adelia Miglievich-Ribeiro ....................................................................................................................................... GT 3 Trânsitos Coloniais Revisitados ............................................................................................................................ Fronteiras da liberdade: retirantes cearenses, escravizados em fuga e projetos de colonização na Amazônia. 1877-1880 Edson Holanda Lima Barboza ................................................................................................................................. O cadastro dos índiosPRYLPHQWRLQGtJHQDGLVSRVLWLYRVFRORQLDLVHOXWDVFODVVL¿FDWyULDVQR Brasil contemporâneo Estêvão Martins Palitot ............................................................................................................................................

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Redes criminais em regiões fronteiriças brasileiras: o caso de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero Camila Nunes Dias, Fernando Salla, Marcos César Alvarez .................................................................................. Alegorização da violência, linchamentos e mídia no Brasil de 2014 Laysmara Carneiro Edoardo .................................................................................................................................... “O silêncio pacificador: a questão das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro” Natalia Iorio ............................................................................................................................................................. Desafios para a Segurança Pública na Fronteira Brasil-Paraguai Lisandra Pereira Lamoso ......................................................................................................................................... Retratos da Violência e Segurança Pública no RN: a nova configuração das cidades médias e a violência urbana a partir da cartografia mossoroense Francisco Vanderlei de Lima, Elcimar Dantas Pereira ............................................................................................ Indignação e naturalização: sobre formas de compreender e lidar com a violência policial em uma favela carioca pacificada Luana Dias Motta..................................................................................................................................................... “Reabilitação”, controle e punição – o caso dos programas correcionais para os condenados federais no Canadá Izabella Lacerda Pimenta ......................................................................................................................................... Mulheres no crime e na violência: controle e relações de poder na Penitenciária Feminina do Paraná (1970-1990) Claudia Priori ........................................................................................................................................................... Neocolonialismo, poder e dinâmicas socioterritoriais:a violência contra povos indígenas e comunidades tradicionais no cerrado Glauber Lopes Xavier, Eliesse dos Santos Teixeira Scaramal, Mary Anne Vieira Silva ......................................... Entre o amor e a violência : Trajetórias de casais que acionaram a Lei Maria da Penha Janaína Sampaio Zaranza, autor: Antônio Cristian S.Paiva .................................................................................... GT 22 O mundo em uma cidade: repensar e apropriar a cidade na globalização ...................................................... O Projeto Imagético de Modernidade Urbana: a Construção da Capitalidade em Campos dos Goytacazez 1930/50 Heloiza Manhães Alves ........................................................................................................................................... Reverberações da propaganda na cidade Rafael De Angeli, Leila Domingues Machado ........................................................................................................ Três em Arte Eveline Stella de Araujo........................................................................................................................................... A lógica do progresso no Espírito Santo no século XXI: o capitalismo global e o desenvolvimento portuário na Costa Capixaba Felipe Ramaldes Corrêa,Flavia Nico Vasconcelos ................................................................................................. Metrópole Dispersa e Fragmentada: O Caso da Região Metropolitana da Grande Vitória – Espírito Santo – Brasil Giovanilton André Carretta Ferreira, Glauco Bienenstein ....................................................................................... São Paulo representada: cidades em desenhos de meninas e meninos da educação infantil pública paulistana Marcia Aparecida Gobbi .......................................................................................................................................... Gabinete online: uma nova forma de gestão pública e participação cidadã Janaina Leite, Sergio Denicoli, Marlon Freire ......................................................................................................... Sociabilidade (s) em grande centro urbano na sociedade contemporânea: estudo qualitativo com jovens adultos e seus amigos duradouros Bárbara Garcia Ribeiro Soares da Silva................................................................................................................... Cosmopolitismo na rede: urbanidade nos relatos de viagem do século XXI Gianlluca Simi, Lilia Abadia.................................................................................................................................... A fotografia e a urbe: representações conectadas da cidade de Vitória ................................................................... Rosane Vasconcelos Zanotti, Arthur Gomes de Castro, Frederico Del Fiume Sarcinelli Leonel, Julia Pimentel Paternostro........................................................................................................................................ GT 23 Circulações, limites e configurações territoriais e de mercados .............................................................................. A Consolidação da informalidade nos contratos imobiliários na favela de Rio das pedras/RJ – comparando o legal e o informal Cláudia Franco Corrêa, Juliana Barcellos da Cunha e Menezes ............................................................................. Da “margem” ao centro: reconfigurações dos regimes territoriais nas favelas do Rio de Janeiro Marcia Pereira Leite .................................................................................................................................................

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Três em Arte Eveline Stella de Araujo pós-doc em Antropologia Audiovisual no LISA-USP/CRIA-FCSH-UNL [email protected], A proposta deste paper é discutir como se vive da arte em Lisboa a partir de três personagens uma brasileira, uma portuguesa e uma moçambicana. A produção de um filme tem como objetivo revelar os processos de agenciamento, as estratégias de adaptação das imigrantes e suas relações com os locais na busca por espaço e reconhecimento. A arte, como propõe Goldstein, é “espaço de diálogos e tensões interculturais” entre diferentes lógicas culturais. O objetivo é identificação dos indicadores responsáveis pela dinâmica da construção das representações socioculturais em ambiente intercultural. Com essa intenção serão acompanhados os processos criativos voltados para a produção de Arte nos espaços público em Lisboa. Palavras-chaves: Interculturalidade, Mobilidade, Representações Socioculturais, Filme, Portugal, Moçambique, Brasil.

Three in Art 7KHSXUSRVHRIWKLVSDSHULVWRGLVFXVVKRZWROLYHDUWLQ/LVERQIURPWKUHHFKDUDFWHUVD%UD]LOLDQD3RUWXJXHVH DQGD0R]DPELFDQ7KHSURGXFWLRQRIDILOPZLOOUHYHDOWKHDJHQF\SURFHVVHVRILPPLJUDQWDGDSWDWLRQVWUDWHJLHV DQG WKHLU UHODWLRQVKLSV ZLWK ORFDO SHRSOH DQG VSDFH RI UHFRJQLWLRQ RI KLV DUW$UW OLNH *ROGVWHLQ SURSRVHV LV ³GLDORJXHVSDFHDQGLQWHUFXOWXUDOWHQVLRQV´EHWZHHQGLIIHUHQWFXOWXUDOORJLFV7KHJRDOLVWRLGHQWLI\WKHLQGLFDWRUV account for the dynamic construction of socio-cultural representations in intercultural environment. With this LQWHQWLRQZHZLOOEHDFFRPSDQLHGFUHDWLYHSURFHVVHVDLPHGDWDUWSURGXFWLRQLQSXEOLFVSDFHVLQ/LVERQ Keywords: Interculturalism, Mobility, Representations, Movies, Portugal, Mozambique, Brazil

“Todas as imagens são produtos culturais e janelas de conhecimento sobre atos e formas de pensamento humano” 0DUWLQV A proposta deste paper é discutir como se vive da arte em Lisboa a partir de três personagens uma brasileira, uma portuguesa e uma moçambicana. A produção de um filme tem como objetivo revelar os processos de agenciamentos, as estratégias de adaptação das imigrantes e suas relações com os locais na busca por espaço e reconhecimento. A intenção desta pesquisa parte do aumento significativo nas imigrações e intercâmbios acadêmicos, profissionais/laborais, e turístico nas últimas décadas e as constantes correntes migratórias africanas para Portugal. Esses fatores despertou questões sobre a relevância das relações interculturais de toda ordem e a necessidade de avaliação das muitas parceiras comerciais ou estudantis estabelecidas. &RQVLGHUDQGRDVVRFLHGDGHVFRPSOH[DVFRQWHPSRUkQHDV9HOKR  DSUR[LPDRFRQKHFLPHQWR sobre as diversas culturas que consitituem o Brasil e Portugal ampliando o conhecimento sobre as lógicas do pensamento nesses dois países por meio de pequisa em antropologia urbana. Nesta pesquisa, ora empreendida vai-se na mesma direção, pretende-se contribuir para a compreensão da problemática da mobilidade, da inteculturalidade procurando identificar a partir de quais indicadores são construídas as representações socioculturais em ambientes de interação intercultural, envolvendo Brasil, Portugal e Moçambique. As SHUJXQWDVQRUWHDGRUDVGHVWDSHVTXLVDVmR ‡Quais são e como são elaboradas as representações socioculturais nos ambientes de relacionamentos interculturais? ‡Qual o papel dos estereótipos nas relações interculturais? ‡Se é possível a desconstrução e reconstrução de representações socioculturais pelo convívio intercultural mediado pela produção artística? ‡Quais os indicadores que balizam a dinâmica da elaboração de representações socioculturias ?

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O processo de investigação encontra-se bastante no início. No momento, realiza-se o levantamento teórico que dará suporte ao roteiro e ao desenvolvimento do método mais adequado para tratar dos temas transversais QR ILOPH FRPR DV TXHVW}HV UHODWLYDV j LQWHUFXOWXUDOLGDGH +DOO  *ROGVWHLQ  *XVPmR   j mobilidade (Augé, 2010; Almeida, 2012) e às representações socioculturais (Bourdieu, 1998; Heinich, 1998; *LGGHQV 7UDWDVHGHXPSURFHVVRGHSURGXomRGHFRQKHFLPHQWRDVVRFLDGRDXPSURFHVVRFULDWLYRVREUH EDVHItOPLFDEXVFDQGRUHODFLRQDURVHUFRQVFLHQWHRVHUVHQVtYHOHRVHUFXOWXUDO 2VWURZHU  2VGHVDILRVFLHQWtILFRVHVWmRUHODFLRQDGRVQDFRQIOXrQFLDGDViUHDGHLQWHUHVVHDQWURSRORJLDVRFLRORJLDDUWHV e comunicação. A pesquisa é composta de uma base de dados virtual e outra real todas como fontes primárias HVWmRGHDFRUGRFRPD7HRULDGD$omR)XQGDPHQWDGD &UHVZHOO*ODVHU 2PpWRGRSDUDDSURGXomR GRILOPHVHJXHRVSDUkPHWURVGDDQWURSRORJLDDXGLRYLVXDOQRPHDGDPHQWHQDOLQKDGH-HDQ5RXFK   GRHWQRFLQHPD /RL]RV'D5LQ DSDUWLUGDDSUHHQVmRGHUHSUHVHQWDo}HVVRFLRFXOWXUDLV informadas por pesquisa preliminar. A produção do roteiro, o processo de captação das imagens e sons e o processo de montagem dialogam com a prática cinematográfica construindo o sentido do filme (Eisenstein, 2002), composto pela estética e narrativa, tem como objetivo constituir-se em um cinema enquanto prática VRFLDO $UDXMRH7XUQHU $KLVWyULDQRSODQRJHUDOGRILOPHLUiWUDWDUGRPRGRFRPRGHWHUPLQDGR gênero (masculino ou feminino) vê e é visto em um ambiente intercultural e, em um segundo plano, o da mensagem, como são construídas as representações socioculturais e por quais indicadores são realizadas as leituras do “outro”. 2ILOPHVHUiSHQVDGRHPWUrVSODQRVRGDVSHUVRQDJHQVGDQDUUDWLYDHGRGHVLJQVRQRUR,QLFLDOPHQWHVHUmR definidos o plano geral da história, as cenas chaves - que incluem as situações de conflito e de negociações entre as três artistas que deverão trabalhar juntas em um projeto a ser desenvolvido especificamente para a produção do filme -, e o desfecho. A cada personagem que entrar em cena pela primeira vez ocorretá um entreato destinado a mostrar sua origem, do que vivia na sua terra Natal e as motivações para a migração, no caso das imigrantes, e a personagem portuguesa também terá esse entre-ato indicando a trajetória que a levou a esse encontro, suas escolhas anteriores, sua formação e origem familiar. Sob esse aspecto trata-se de situar o papel dos mitos fundadores na elaboração de suas próprias identidades e o quanto isso impacta na construção das representações socioculturais. &RQIRUPHDILUPD+DOO   “Possuir uma identidade cultural nesse sentido é estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta. Esse cordão umbilical é o que chamamos de ‘tradição’, cujo teste é o de sua fidelidade às origens, sua presença consciente diante de si mesma, sua ‘autenticidade’. É, claro, um mito — com todo o potencial real dos nossos mitos dominantes de moldar nossos imaginários, influenciar nossas ações, conferir significado às nossas vidas e dar sentido à nossa história. Os mitos fundadores são por definição, transistórios: não apenas estão fora da história, mas são fundamentalmente aistóricos. São anacrônicos e têm a estrutura de uma dupla inscrição. Seu poder redentor encontra-se no futuro, que ainda está por vir. Mas funcionam atribuindo o que predizem à sua descrição do que ja aconteceu, do que era no princípio” Sob esse aspecto, Gusmão (2004) ao buscar compreender as representações e a dinâmica de diferentes grupos de africanos provenientes de antigas colônias portuguesas e de portugueses em uma cultura nacional portuguesa procura diagnosticar as estratégias de integração social e as dificuldades relativas à etnia e classe enfrentadas por imigrantes africanos e sesus descendenntes – luso-africanos. O objetivo de Gusmão (2004) é entender os limites e possibilidades “postos pela multiculturalidade enquanto política de intervenção social e de constituição de uma ordem social democrática´HP3RUWXJDO$DXWRUDDILUPDTXH “os modos de estar numa terra e realidade que discrimina os negros e os nega, ao mesmo tempo que diz ser uma sociedade multicultural e democrática, revelou

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existir contradições e conflitos que colocam em questão, em todas as latitudes, as políticas de igualdade e as possibilidades identitárias dos de sujeitos considerados diferentes e estrangeiros” As questões citadas acima são importantes para pensar o processo de construção das representações socioculturais de imigrantes das ex-colônias em Portutal, devido à uma autonomia ainda recente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Estes aparentam ter questões diferentes das do Brasil com Portugal. Mas, qual a relação dos portugueses frente aos imigrantes dessas duas situações, a dos PALOP, excolônias que possuem referenciais históricos recentes com Portugal, e o Brasil, país independente e configurado como não mais referente à Portugal. A questão é como se dá a socialização com essas diveras situações em FRQMXQWR$OJXQVDXWRUHVTXHDERUGDPDVTXHVW}HVGDLPLJUDomREUDVLOHLUDHP3RUWXJDOVmR3DGLOOD  H *RPHV  DERUGDPDVTXHVW}HVGHJrQHURQHVWHSURFHVVR0DFKDGR  VREUHDVGLYHUVDVLGHQWLGDGHV 3HL[RWR  VREUHDVLPLJUDo}HVLUUHJXODUHV3LUHV  XPEDODQoRJHUDOGDVFRUUHQWHVPLJUDWyULDVHR lugar do Brasil neste cenário, e Egreja & Peixoto (2011) sobre a mobilidade socioprofissional dos imigrantes brasileiros . 3LUHV  ID]XPEDODQoRGRVGLIHUHQWHVWLSRVGHPLJUDo}HVLQGLFDQGRDOJXPDVFDUDFWHUtVWLFDV “imigração laboral, no caso dos originários dos PALOP, que por isso se fixam nas zonas urbanas sem bacia regional de recrutamento de mão-de-obra barata para os sectores em expansão da construção e obras públicas; imigração profissional, de técnicos e empresários no que se refere à imigração europeia, em especial comunitária; e, por fim, combinação entre fluxos de retorno e de imigração no caso dos originários do continente americano”. Em outra pesquisa realizada por Egreja e Peixoto (2011) a imigração brasileira em Portugal aparece compondo DVTXHVW}HVGHLPLJUDo}HVSURILVVLRQDLVHODERUDLVLQGLFDQGRTXHDWHQGrQFLDPDLVFRPXP³aponta para uma inserção inicial no mercado de trabalho bastante desqualificada, que a maioria dos imigrantes consegue ir revertendo, embora sem alcançarem globalmente uma mobilidade ascendente que atinja um nível igual ou superior ao estatuto socioprofissional anterior” ao da chegada em Portugal. 0DFKDGR  DQDOLVDFRPRRSURFHVVRGHLPLJUDomRHRµJHUHQFLDPHQWRGDGLIHUHQoD¶UHVXOWD³tanto no obscurantismo de um conhecimento efetivo das populações imigrantes em Portugal como numa impossibilidade de integração à sociedade portuguesa”, considerando que existe diferença entre imigrantes de diversos países e ex-sujeitos colonizados oriundo do Brasil e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa - PALOP – mesmo com a distância histórica existente entre os processos de independência. 3DGLOKD  DRWUDWDUGDWHPiWLFDGHJrQHURLQGLFDXPDH[RWL]DomRHHURWL]DomRVREUHDLPDJHPGDPXOKHU brasileira no imaginário português. Na revisão crítica da literatura sobre a representação sociocultural da mulher brasileira no contexto português, Gomes (2011) indica uma lacuna nos estudos com a “inexistência de investigações que abordem de forma correlacionada a construção social desses imaginários, as relações de poder que estão articuladas a esta construção e a forma como as brasileiras lidam com esses imaginários”, o que se pretende sanar parcialmente com a produção de conhecimento para a produção do filme Três em Arte. A narrativa das três artistas será apoiada em cenários que identifiquem a cidade de Lisboa, enfatizando a representação que a própria cidade tem para cada uma delas, seus pontos de interesse, as críticas ao ambiente, o cotidiano, a circulação em função da produção artística, entre outros dados que venham a ser revelados expontaneamente nas diversas etapas da gravação, ou motivada por alguma provocação entre elas. Três autores são importantes para a compreensão dessa etapa, Magnani (1998, 2012) com os conceitos de circuito e trajetória permitirá a compreensão da forma como a cidade é apreendida pela personagens; Guell (I) (1998) e o entendimento da arte como forma de ação - um meio de intervir no mundo, permitirá evidenciar intervenções singulares; Heinch (1998) e os modos de agenciamento, as estruturas do sistema e as estratégias de ação, permitirá revelar as estratégias e condenscendências estabelecidas nas negociações com o campo da arte. A partir dos conceitos propostos por Magnani observa-se em Lisboa uma grande circulação da própria arte, não sendo necessário ir a um lugar específico para vê-la, esta emerge na cidade a todo instante, como se pode ver

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pelas fotos abaixo. Lisboa se constitui desta forma como uma cidade viva, alegre e acolhedora estéticamente, pelo caráter impresso nas paisagens urbanas, mesmo quando essa arte tenha um caráter de protesto. A arte está na rua, no metrô, nas transições de linhas, e evidentemente na arquitetura histórica, na estética da cidade, que equilibra o velho e o novo, a tradição e a inovação.





Foto I - Grafite próximo da Av. Berna Foto I - Grafite próximo da Av. Berna



Foto II – Performance no Chiado



Foto IV – Torre de Belém - Arquitetura













Foto III – Performance e apresentação artísitica no Chiado





Fotos V e VI – Painéis nas paredes internas das estações de metrô.

Fotos V e VI – Painéis nas paredes internas das estações de metrô.



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Foto VII – Exposição artística na transferência entre as  linhas do metrô.



Foto VIII – No saguão das estações de metrô

Fotos de Eveline S. de Araujo 2014

Todos esses elementos e as conexões dos planos com seus significados serão atribuídos com a montagem, levando-se em conta o tempo e o espaço fílmico, que irá contemplar o trânsito pela cidade motivado pela produção artística. $ KLVWyULD HP VL SRVVXL DVVLP GRLV SODQRV R GR HQUHGR RX GD QDUUDWLYD PDLV H[SOtFLWD GR GRFXPHQWiULR H a mensagem ou subtexto que se quer fixar a partir dela. Essa forma de fazer foi apresentada no filme “O menino que apagou a luz da lua” (Araujo, 2014), derivado da pesquisa de doutoramento “Processos criativos na produção fílmica de jovens de Sapopemba – periferia de São Paulo”, (Araujo, 2014). A proposta do método elaborada depois de um exaustivo processo de análise de filmes – que como propõe Penafria (2009) analisar ILOPHVpWDPEpPXPDIRUPDGHDSUHQGHUDID]HUILOPHVIRLDVVRFLDGDjVUHIOH[}HVGH(LVHQVWHLQ >@  VREUHDUHODomRHQWUHLPDJHPHUHSUHVHQWDomR$UHSUHVHQWDomRFRPSRQGRRIUDJPHQWRHDUHSHWLomRGH XPDLGHLDJHUDQGRDLPDJHPDQRomRGRWRGR3DUDRDXWRU (LVHQVWHLQ ³apesar da imagem entrar na consciência e na percepção, através da agregação, cada detalhe é preservado nas sensações e na memória como parte do todo”, ele acrescenta que esta característica é válida tanto para o aspecto visual quanto para o sonoro, no qual uma série é lembrada a partir de seus elementos isolados. Este modo de fazer pretende “esculpir a experiência” de campo e evidenciar os aspectos mais significativos da pesquisa, como propõe +LNLML  TXDQGRHVWDID]DOHLWXUDGH0DF'RXJDOO  FRQVLGHUDQGRTXH “para o cineasta, afirma, o fazer audiovisual é principalmente uma forma de extensão do eu em direção aos outros, e não uma forma de recepção e reapropriação. Fazer um filme é um modo de indiecar algo para sim mesmo e para os outros, um modo de esculpir a experiência”. 3DUD 0DF 'RXJDOO   QR ILOPH R PRPHQWR GR HQFRQWUR HQWUH FLQHDVWDDQWURSyORJR D  H RV VXMHLWRV pesquisados “é estendido por um tipo de triangulação, em que cada cena sucessiva situa o autor ainda mais em relação aos sujeitos”. Para ele, os espectadores não podem evitar interpretar esses sinais [quem é o autor, onde ele está nas respostas das pessoas sendo filmadas], que ganham diereção e sentido no decorrer do filme, assim como não conseguem evitar isso de forma incosciente nas trocas da vida cotidiana. Assim, o enquadramento e as conexões entre as cenas indicam a estética e a sensibilidade do autor em relação ao encontro, que coloca HPUHODomRSHVTXLVDGRUHSHVTXLVDGRVHJXQGR+LNLML  “é a possibilidade de um ‘diálogo com’ em vez de um ‘discurso sobre’” o outro. Os processos do fazer fílmico são diversos e sobre este ponto deve-se mencionar a distinção sobre o fazer ou não o guião (roteiro) antes da captação de imagens. Sendo que uma ou outra opção pode significar um modo de fazer do cineasta e o mesmo se repete em todas as suas produções ou um modo de abordagem sobre um

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determinado tema conforme o objetivo da pesquisa, podendo o mesmo cineasta optar ora por elaborar um guião ora por uma aproximação com o campo de pesquisa sem um roteiro previamente desenhado. Ambas situações são exemplificadas por Puccini (2009). Entretanto, tanto em uma situação como em outra, a pesquisa preliminar sobre o campo etnográfico que se pretende filmar é sempre necessária, para planejar o melhor modo de inserção no campo, as possíveis dificuldades de gravação que possam ser antecipadas, e porque não dizer o dimensionamento do risco a que se está exposto. Costa (1998) trata das condicionantes do filme etnográfico, VHQGRTXHHODVSDUWHPGHWUrVIUHQWHVGDSHVTXLVDDQWURSROyJLFDGDVFRQGLo}HVGHSURGXomRHSRU~OWLPRGR FRQIURQWRFRPRUHDOUHIOHWLGRQDVTXHVW}HVGHUHSUHVHQWDomR&RVWD VQ SURS}HTXH “A escrita é importante como processo para se chegar aonde queremos, mesmo que depois no momento da rodagem não estejamos agarrados ao guião. Em documentário o filme vai-se fazendo, é muito importante é todos os dias da rodagem ir vendo o material e ir percebendo o que é que se fez. Para mim a escrita também continua na rodagem”. Portanto, em algum momento da elaboração de um filme a escrita é essencial seja na forma de argumento, guião, na montagem ou, e sobretudo, na forma de artigo, realizando a reflexão sobre este fazer fílmico. Para o tratamento do conteúdo do filme proposto, Três em Arte, parte-se do conceito de Goldstein (2012), ou seja, da arte como um “espaço de diálogos e tensões interculturais”, entre lógicas culturais hegemônicas e lógicas culturais criativas ou fora do mainstream, com a intenção de evidenciar elementos sócio-culturais que constituem a lógica hegemônica e a lógica criativa, nos diversos espaços públicos voltados para a Arte em Lisboa. O objetivo inicial da produção deste filme é identificar a partir de quais indicadores, ou elementos, ocorre a dinâmica da construção das representações socioculturais e como estas são atualizadas ou reelaboradas a partir dos filmes e da arte. $HVVHUHVSHLWR0LUD  DILUPDTXH “Os meios de comunicação de massa fazem parte da cultura moderna como um todo, existem numa sociedade de base tecnológica, com enormes aglomerados populacionais, gerida por instituições impessoais como o Estado e o mercado e, conseqüentemente, fortemente burocratizada. Mas uma sociedade também marcada por diferenças de classe, gênero, geração; atravessada por diversidades geográficas, étnicas e tantas outras”. Sugerindo alguns indicadores possíveis de serem encontrados como catalizadores da dinâmica da construção das representações. Os agenciamentos, as estratégias e adaptações na relação entre artista local e artistas imigrantes, tendem a ser revelada durante o processo criativo nas negociações entre as três em arte, processo esse que será regitrado e analisado a partir da etnografia audiovisual. O método de abordagem dos temas transversais que irão compor o enredo, como as questões relativas à interculturalidade, à mobilidade e às representações socio-culturais, está em fase de adequação não estando totalmente definido. A esse respeito algumas considerações parecem relevantes para a contemporaneidade das representações que se prentende captar como a relação entre o mundo virtual e o mundo real. Assim, a utilização da rede virtual ocorrerá no processo de captação dos dados que irão fundamentar o guião e na divulgação do filme e dos artigos resultantes das reflexões sobre o processo de produção de conhecimento 5LEHLURH%DLURQ  (VWmR SUHYLVWDV TXDWUR HWDSDV DQWHV GDV JUDYDo}HV GRV SURFHVVRV FULDWLYRV   IRUPXOiULR SHOD SODWDIRUPD Google Docs® contemplando questões que permitam apreender a dinâmica da construção das representações aplicado com as três nacionalidades dividido em faixas etárias e gênero. Serão perguntas abertas, norteadoras, e outras fechadas e objetivas. Esse formulário ainda será testado e adaptado para que obtenha informações VLJQLILFDWLYDVSDUDRREMHWLYRSURSRVWR FDWHJRUL]DomRGDVUHVSRVWDHDQiOLVHSRUVRIWZDUHSRGHQGRVHUR 19,92ŠRXDFRPELQDomRGR:(%4'$ŠFRPR&+,&Š $SDUWLUGRVUHVXOWDGRVGDVHJXQGDHWDSDVHUi

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elaborado uma sesequência de perguntas norteadoras para realização de entrevistas, que serão gravada em audiovisual, com público representativo do formulário, na perspectiva da entrevista compreensiva (Ferreira, 2014). 4) Essas entrevistas gravadas terão como função o visionamento pelas artistas que participarão do filme, que pela percepção do visionamento e a sua sensibilidade artística irão elaborar em conjunto uma obra ou proposta de intervenção artística que reflita as inquietações e os desejos provocados pelo visionamento. Esse processo de elaboração artística será filmado para a elaboração do filme proposto na pesquisa. Espera-se, com os indicadores, revelar a dinâmica da construção de representações socioculturais, se há ou não a interferência da questão de gênero neste processo e quais estratégias são adotadas para superar a imagem estereotipada e pré-definida nas relações interculturais. Espera-se evidenciar a partir da produção fílmica tais indicadores e os processos dinâmicos e estratégicos da elaboração de representações socioculturais. A produção desse conhecimento fortalecerá a base dos estudos culturais e comunicacionais quanto a descontrução de estereótipos vinculados tanto à etnia, quanto ao gênero, quanto ao aspecto geracional. A produção do filme WHPQRVHXFDUiWHUDQWURSROyJLFRUHYHODUDVIRUPDVGHLQWHUDo}HVFXOWXUDLVHQWUHDVWUrVDUWLVWDV0LUD   indica a necessidade de situr a comunicação como um processo de circulação cultural (apud Martín-Barbero, H SDUDFRPSUHHQGHUDVUHODo}HVHQWUHJrQHURHPtGLD(QWUHWDQWRSDUDHQWHQGHUDFRPXQLFDomR como circular seria necessário pensar em situações dialógicas horizontais, sem hierarquia, com semelhança de posições, o que efetivamente não ocorre. Ao espectador, compreendido como um ser atuante no processo de visionamento, estão reservadas as estratégias e astúcias nos processos decisórios sobre as formas como as representações socioculturais lhe chegam e como ele as absorve criticamente ou não. A produção independente de fimes, neste caso, e a participação em festivais corroboram na proposta de ampliar o espectro sobre o visionamento e o questionamento sobre os estereótipos, atuando como uma prática cinematográfica enquanto prática social. I - Para uma crítica a noção de agência em Guell ver Morphy (2009) - KWWSZZZUHYLVWDSURDFRPEU 2/-. Indicando que para o contexto dessa pesquisa considera-se a contribuição de Guell com relação ao entendimento de arte como ação e neste sentido dialóga com o conceito proposto por Goldstein de que a arte é um espaço de tensões interculturais, espaço no qual ocorrem enfrentamentos de representações socioculturais.

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