\"Tropa de elite\" e \"Tropa de elite 2\": questões de adaptação, contextuais e históricas

June 7, 2017 | Autor: J. Fleck | Categoria: Gerard Genette, Tropas de Elite, Adaptação, Transtextualidad, Tropa de elite, Elite da Tropa
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1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso de Especialização em Literatura Brasileira e História Nacional Disciplina de História, Literatura e Cinema Nacional Professora drª. Carolina Mandaji Phillipe Sakai (aluno) João Cristiano Fleck (aluno) TROPA DE ELITE E TROPA DE ELITE 2: QUESTÕES DE ADAPTAÇÃO, CONTEXTUAIS E HISTÓRICAS INTRODUÇÃO É certo que os bordões já não frequentam mais tanto as conversas, nem os debates culminam em “chamem o comandante Nascimento!”1 (sic), mas não seria temerário dizer que Tropa de elite (2007) e Tropa de elite 2: o inimigo agora é outro (2010) ainda frequentam o imaginário, ou pelo menos a memória de boa parte da sociedade brasileira. Realista ou não, um depoimento dado ao Fantástico pelo então comandante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Ubiratan Ângelo, explicita uma das problemáticas deste artigo: “tem alguns relatos de pessoas que falam o seguinte: ‘na minha comunidade, a criança que ficava brincando de polícia e ladrão e se espelhava no traficante, hoje quer ser do Bope’”2. E se adicionarmos que este programa antecedeu em algumas semanas o lançamento oficial do filme, que ocorreu apenas em 05.10.2007, constatamos as primeiras idiossincrasias que cercam os filmes em tese. Assim, um dos propósitos deste artigo é verificar essa interrelação do filme com a sociedade, e eventualmente com a história contemporânea nacional. Sabemos que o lançamento de Elite da tropa (2006), livro de autoria de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, precedeu em quase um ano a estreia do filme. Os vínculos deste com a obra literária serão estudados sob a ótica de adaptação, tendo como base o artigo Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade, por Robert Stam (2006). Este, no entanto, apenas em sua abordagem quanto aos aspectos formais. Os aspectos contextuais e históricos, pois, tendo em vista que se tratam de produções recentíssimas, contemplarão a utilização de literatura especializada tratando sobre as questões abordadas pelos filmes (segurança pública e violência, por exemplo), além de notícias e

HUCK, Luciano. Pensamentos quase póstumos. Folha de São Paulo, São Paulo, 1º de out. 2007. p. A3. Fantástico revela os bastidores do filme “Tropa de elite”. Fantástico, Rio de Janeiro: Rede Globo, 23 de setembro de 2007. Programa de TV. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1090737086,00.html – Acesso em: 29. set. 2012. 1 2

2 informações de mídias periódicas coevas e afins, ou responsivas aos temas tratados pelas películas em tese. Cabe já anotar que apenas Tropa de elite teria o status de adaptação de obra literária, enquanto a sua sequência tratou-se de projeto mais ousado, roteiro original, e em lançamento sincrônico com a sequência em livro, Elite da tropa 2. A continuação do primeiro filme, no entanto, é profundamente relevante em se tratando de aspectos sociais e históricos, dialogando com a produção inaugural e seus ecos sociais. Destarte a opção por trabalhar com ambos os dois filmes, enfatizando aspectos formais (adaptação) no primeiro, e ambos em seu viés histórico-social. 1 - ELITE DA TROPA E ADAPTAÇÃO Na verdade, é controverso o processo de construção de livro e filme. Em entrevista que antecedeu o lançamento do segundo longa-metragem (2010), José Padilha (o diretor de ambos os Tropa de elite) chegou a afirmar que o roteiro seria original, e a obra literária, um apanhado residual3. No entanto, poucas outras fontes confirmam essa versão, a ponto do conceituado programa televisivo Roda Viva, em sua edição que igualmente entrevistou o diretor, mas ainda muito próximo da data de lançamento do filme (2007), dizer: “Tropa de elite é baseado no livro Elite da tropa, de Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, que escreveram sobre o cotidiano violento dos policiais militares do Rio de Janeiro.”4 Embora talvez esse fosse um debate produtivo em se tratando do deslindamento do processo criativo e do próprio conceito de adaptação, para efeitos deste estudo é conveniente (a situação oculta toda, aliás, é bem adequada a) abraçar a transtextualidade de Genette em sua definição apud Robert Stamm: “tudo aquilo que coloca um texto em relação com outros textos, seja essa relação manifesta ou secreta”5. 3 “A gente fez a pesquisa toda do filme. Eu fiz com o Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, agora jornalista. Com o André Batista e com vários policiais que eu entrevistei. Aí eu escrevi um roteiro com o Pimentel, do filme. Quando eu estava lá no sétimo tratamento, eu chamei o Luiz Eduardo Soares e falei: “Olha, tem um milhão de histórias aqui, eu não consigo contar todas. Faz um livro sobre isso”. Nosso roteiro é um roteiro original, não adaptado, o livro é que nasceu do filme. Só que o livro foi lançado antes.” In: PADILHA, José. Entrevista – José Padilha. Revista Monet, Rio de Janeiro, out. 2010. Entrevista a Bruno Natal. Transcrita e disponível em: http://www.oesquema.com.br/urbe/2010/10/14/entrevista-jose-padilha.htm - Acesso em 29 set. 2012. 4 José Padilha. Roda Viva, São Paulo: TV Cultura, 8 de outubro de 2007. Programa de TV. Transcrição disponível em: http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/327/entrevistados/jose_padilha_2007.htm – Acesso em: 29 set. 2012. 5 STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. In: Ilha do Desterro, Florianópolis, nº 51, jul/dez. de 2006, p. 29.

3 Destarte, neste caso específico, ficariam de certa forma prejudicadas algumas discussões tratadas principalmente no início do artigo. Ou melhor, haveria uma suavização natural nas possibilidades de críticas versando sobre superioridades ou inferioridades de um texto base (literário) em relação a outro seu derivado (cinematográfico). Isso tudo porém, obviamente, não invalida o que pode ser apreendido do artigo, mesmo quando ele menciona “texto original”. As relações que faremos entre Elite da tropa e Tropa de elite bem caberiam na conclusão: “o texto original é uma densa rede informacional, uma série de pistas verbais que o filme que vai adaptá-lo pode escolher, amplificar, ignorar, subverter ou transformar.”6 Bastando hipoteticamente entender ambos filme e livro como “originais”, ambos como “redes informacionais”, contando os dois com “pistas”,”amplificações” e assim por diante. Provendo este estudo de um viés bem focado nas inter-relações, em vez de apenas uma via de sentido único (livro-filme), e: “orientado não por noções rudimentares de ‘fidelidade’ mas sim, pela atenção à ‘transferência de energia criativa’”.7 É neste sentido que também é possível verificar a afirmação “derridiana” de que “o prestígio aural do original não vai contra a cópia, mas é criado pelas cópias, sem as quais a própria idéia de originalidade perde o sentido.”8 E o projeto quase sincrônico de lançamento das primeiras obras, literária e fílmica, e sincrônica, no caso das segundas, vem a comprovar a aquela potencial sinergia, verificando-se principalmente o impulso de vendas que fizeram de todas as produções em tese, best-sellers e blockbusters. Valendo ainda lembrar, em se tratando da sinergia das obras de diferentes mídias, mencionando fatos constatáveis, que o roteiro de Tropa de elite teve a coautoria de Rodrigo Pimentel, e que o livro conta com agradecimento de outro dos autores, Luiz Eduardo Soares: “sou grato a Isa Pessoa e José Padilha, parceiros desde a concepção do projeto que gerou este livro.”9 Em se tratando da autoria do texto, dirá Rober Stam: A psique apenas aparenta estar unida, consistente e centrada. A noção de Bakthin de autor e personagem como multi discursivos e resistentes à unificação, similarmente, problematiza tanto autor e personagem enquanto entidades estáveis e unitárias. Diferente das noções de unidade orgânica da nova crítica, a crítica pós-estruturalista enfatiza as fissuras, as contradições insolúveis e os excessos do texto.10

Ora, em se tratando de Elite da tropa, não temos, na porção coincidente com a obra fílmica, um romance, mas uma série de contos. Breves relatos fragmentados das vidas de

6

Idem, p. 50. Idem, p. 51. 8 Idem, p. 22. 9 SOARES, Luiz Eduardo; BATISTA, André; e PIMENTEL, Rodrigo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. 10 STAM, Op. Cit., p. 22 7

4 policiais e cujo ponto comum é um mesmo narrador, que aliás nem sempre é personagem das histórias que expõe. Resultando na fissura enumerada no para-texto, o prefácio: Elite da Tropa é dedicado aos que trabalham, nas polícias e fora delas, para que a reconciliação seja um dia possível. Os relatos que compõem este livro são ficcionais, no sentido de que todos os cenários, fatos e personagens foram alterados, recombinados e tiveram seus nomes trocados. Se, por acaso, nossa imaginação se equiparar ao que efetivamente acontece, talvez isso decorra do fato de termos escrito este livro a partir das nossas experiências, e de termos vivido, cada um à sua maneira, a realidade da segurança pública do Rio de Janeiro.11

Assim, a problematização em Robert Stam evoluiria para: “se os autores são fissurados, fragmentados, multidiscursivos, dificilmente ‘presentes’ até para eles mesmos, o analista poderia perguntar: como pode uma adaptação comunicar o ‘espírito’ ou a ‘presença individual’ da intenção autorial?”12 Verificamos no prefácio a intenção de relatar o cotidiano policial por meio da ficção, mas é em uma matéria que ouviu o diretor dos filmes que encontramos a alguma confirmação: Tropa de Elite era originalmente um projeto de documentário, derivado de Ônibus 174, tendo o Bope como tema principal. O título se converteu num drama ficcional quando Padilha concluiu que o "filme que queria fazer não era exequível como documentário". A impossibilidade, segundo o cineasta, está no fato de que "policiais sinceros não estavam dispostos a falar em frente às câmeras, com medo de retaliações". [...] E assim Tropa de Elite se transformou num filme de ficção, para "mostrar a forma pela qual nossas instituições policiais transformam quem tenta fazer parte delas".13

E o nosso articulista em tese revela: “a criação artística nunca é ex nihilo, mas sim baseada em textos antecedentes.”14 Situações como os ofícios desempenhados pelos autores do livro e a própria intenção do diretor em originalmente integrar o gênero documentário revelam esta forte conexão, uma espécie de extração a partir do e para o real. No entanto, o veículo encontrado por ambos para obter seu intento de tratar, em ambas as duas mídias, sobre o tema raro, o lado de dentro da polícia (formação, dia-a-dia), foi a ficção, onde: Assim como a proferição literária cria a situação à qual ela se refere – mais do que meramente imitar algum estado de coisas pré-existente – poder-se-ia dizer que a adaptação cinematográfica cria uma nova situação áudio-visual-verbal, mais do que meramente imitar o velho estado de coisas como representado pelo romance original.15

Abordaremos excertos do livro e cenas do filme na seção deste estudo mais adiante, mas essa mesma intenção que permeia essas duas obras, que por meio da ficção visa a expor a 11

SOARES et alii, op. cit., p. 11. STAM, op. cit., p. 23 13 ARANTES, Silvana. "Tropa de Elite" de José Padilha explica por que polícia "é o que é". Folha de São Paulo. São Paulo, 29 dez. 2006. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u67237.shtml - Acesso em 29 set. 2012. 14 STAM, op. cit., p. 23 15 Idem, p. 26. 12

5 polícia, trabalha também em dupla via. Veremos que tanto o narrador de Elite da tropa quanto a voz em off de Tropa de elite vão dialogar diretamente com o leitor ou espectador, convidando-o à intimidade do universo que eles apresentam. Não se tratando de uma “imitação”, mas de recursos semelhantes de duas mídias vinculados ao propósito de diretor e autores, conforme tentamos explicitar nos excertos dos para-textos citados e que formam aquela “conjunção” para veiculação do “espírito” (“antecedentes” – autores – obra) problematizada pelo nosso teórico em tese. A seqüência lógica, e a do artigo que fundamenta nosso estudo, seria averiguar mais um ponto: “para a teoria da recepção, um texto é um evento cujas indeterminações são completadas e se tornam verdadeiras quando lido (ou assistido).”16 Aproveitando o mesmo raciocínio logo anterior, cabe colocar que o receptor está adquirindo uma versão (texto) antes reservada aos que conviviam no mundo policial. E na dupla via: se é necessário interpretar e criticar (“completar”) a obra que assistem ou lêem, igualmente este novo conhecimento convida a uma reinterpretação também dos textos circundantes. Das notícias recebidas (também versões?) em referência aos eventos policiais e sobre a violência, do real em si. Mas este aspecto abordaremos melhor nas seções finais. Valendo lembrar que o estudo da adaptação não se fecha internamente, ou se auto-justifica, mas traz, ou aponta, ainda para um universo maior de reflexões possíveis. 2 - ANÁLISE DAS RELAÇÕES TRANSTEXTUAIS Na verdade, por se tratarem de obras de vasta repercussão, além de produções recentíssimas que também aproveitam muito de toda a bagagem literária e fílmica disponível em nossos tempos, poder-se-ia com facilidade direcionar estudos a qualquer um aspecto dos cinco tipos de relações transtextuais propostos por Genette e abarcados por Robert Stam. Assim, optamos por apresentar um exemplo representativo por conceito elencado, acompanhado eventualmente por enumerações menos detalhadas. O primeiro tipo de transtextualidade é a “intertextualidade”, ou o “efeito de copresença de dois textos” na forma de citação, plágio e alusão. A intertextualidade, talvez a mais óbvia das categorias, chama atenção para o papel genérico da alusão e da referência em filmes e romances. Esse intertexto pode ser oral ou escrito. Freqüentemente o intertexto não está explícito mas é, mais precisamente, as referências a conhecimentos anteriores que são assumidamente conhecidos. Isso é verdade especialmente para textos geradores de cultura como as bíblias judia e cristã.

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Idem, p. 24.

6 Como já dissemos, trata-se de um livro de contos. E excertos representativos para exemplificação viriam principalmente de “Botas de sangue”, título que o próprio autor vincula intertextualmente “citando” o renomado dramaturgo e poeta Garcia Lorca (Bodas de sangre). Diz o excerto: O vagabundo se contorcia, sangrando como um porco. [...] O moribundo era nosso butim. O tiro lhe abrira a barriga e cuspira as vísceras para fora. Aproximei o cano do fuzil do rosto do infeliz e ele ainda teve força pura pedir que eu não esculachasse. Bandido tem pavor de morrer desfigurado, porque assim não pode ser velado com caixão aberto.17

Impedidos por uma moradora que passou a prestar atenção à cena, os policiais não podem executar o baleado: “puxamos o porco ladeira abaixo, sem fazer nenhum esforço para poupar o filho da puta. [...]Quando chegamos ao sopé do morro, [...], o Alves não se conteve e meteu o pé na massa vermelha, meio esbranquiçada, meio enegrecida, que pendia do ventre aberto do vagabundo.”18 Abaixo, seguem imagens da seqüência final de Tropa de elite. Tais cenas se comunicam (“intertextualidade”) com o texto literário, bastando nos lembrar que o apelo feito por Bahiano, o “vagabundo” baleado e ao chão no final com a bota do policial sobre o seu tórax, é, em discurso direto, a mesma preocupação revelada no excerto: não desfigurar o seu rosto, “pra não estragar o velório”.

Ilustração 1: Sequência do assassinato de "Bahiano" (sangue na câmera)

Mas uma visualização melhor da intertextualidade poderia ser feita em se tratando do recurso utilizado pelo diretor de respingar o sangue de um tiro na lente da câmera, conforme se constata nos primeiros dois quadros da seqüência, e no contexto que leva a isso. O filme culmina neste final e tal se dá em razão de busca por vingança. Pois Bahiano seria o assassino de um policial do Bope, o personagem Neto, muito caro aos protagonistas que aparecem no terceiro quadro (Nascimento e Matias).

17 18

SOARES et alii, op. cit., pp. 72-3. Idem, p. 73.

7 Neste sentido, foi em um documentário chamado de Notícias de uma guerra particular (1999), dirigido por João Moreira Salles, que Rodrigo Pimentel apareceu nas telas pela primeira vez, ainda vestindo a farda do Bope e fornecendo o título que levaria tal documentário. Ele dava declarações sobre a insolubilidade da violência no modelo então adotado: “e a polícia vive essa guerra particular onde você mata um traficante, o traficante fica com ódio da polícia. Eles matam um policial você fica com ódio do traficante e a coisa vai nesse nível. É uma guerra quase que particular.”19 A teia de relações intertextuais permeou no mesmo sentido também o livro, em excerto cujas patentes e mencionadas conseqüências sociais serão melhor analisadas adiante: Com isso, cresceu muito o número dos autos de resistência seguidos de morte, que são os registros das mortes de civis em confrontos com a polícia. Por outro lado, multiplicaram-se os assassinatos cometidos contra policiais. Por vingança. Essa espécie de vingança ainda mais doentia, dirigida a toda uma corporação. Espelho da vingança que nós mesmos praticávamos, às vezes contra uma favela inteira. O sangue é um veneno. Quanto mais se derrama, mais fertiliza o ódio. E a roda não pára de girar. No final, todos pagamos a conta, a começar pela sociedade.20

Certo que a vingança é tema recorrente. Mas atendendo àquele excerto de Robert Stam, verificamos uma origem intertextual ancestral: “todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem.” (Gênesis, 9, 6). A concretização da vingança, assim, obviamente não encerra a violência, mas tão somente termina o filme. De certa forma “convertido”, batizado com o sangue de uma morte brutal e ilegal, o personagem de Matias prossegue com o ciclo, e “a roda não para de girar”. Já “o segundo tipo de transtextualidade de Genette é a ‘paratextualidade’, ou a relação, dentro da totalidade de uma obra literária, entre o próprio texto e seu ‘paratexto’ – títulos, prefácios, pósfacios, [...]”21. Neste quesito, cremos já ter vinculado bastantes “paratextos”, prefácio, agradecimentos e entrevistas, todos com forte vinculação à plena compreensão de ambos livro e filme. As seções seguintes trarão ainda mais. “O terceiro tipo de interterxtualidade de Genette é a ‘metatextualidade’, ou a relação crítica entre um texto e outro, seja quando o texto comentado é citado explicitamente ou quando é evocado silenciosamente.”22 E o que se poderia chamar de quase um gênero criado (inaugurado no Brasil?) por Tropa de elite é bem pródigo em gerar este tipo de relação. Bastando nos lembrar de programas de TV como o Bofe de elite, integrado pelo humorista Transcrição tomada de: Notícias de uma guerra particular. Blog Brasil Acadêmico. 2 out. 2011. Disponível em: http://blog.brasilacademico.com/2011/10/noticias-de-uma-guerra-particular.html - Acesso em: 29 set. 2012. 20 SOARES et alii, op. cit, pp. 26-7. 21 STAM, op. cit., p. 29. 22 Idem, p. 30. 19

8 Tom Cavalcanti, ou um menos conhecido e aclamado filme de Selton Melo, intitulado Federal, também com forte influência. Mas talvez o mais emblemático “metatexto” seja oriundo da expectativa do público por uma continuação em série do filme. Nesse sentido, André Ramiro, ator que viveu o personagem Matias, chegou mesmo a declarar que integraria tal produção23. Não muito tempo depois, surge Força-tarefa24 na Rede Globo de televisão. Na verdade, mais de uma cena do livro faz lembrar a série, mesmo “arquitextualmente” (força-tarefa é uma espécie de tropa de elite). O cotidiano policial é certamente um ponto de texto em comum demais pra pularmos imediatamente à “metatextualidade”, mas, digamos, falar abertamente da polícia e corrupção pelo lado de dentro foi uma característica senão pioneira, pelo menos protagonística de Tropa de elite. Em termos de metatexto intra fílmico, podemos citar o programa televisivo intitulado Mira Geral, que várias vezes é “exibido” durante Tropa de elite 2. Ele será abordado também adiante. Referente ao quarto tipo de intertextualidade proposta por Stam, a “arquitextualidade”, cremos que tal se explane por si só ao observarmos, por exemplo, os títulos das obras. O: “quinto tipo, a ‘hipertextualidade’, é talvez o tipo mais claramente relevante para a ‘adaptação’. A ‘hipertextualidade’ se refere à relação entre um texto, que Genette chama de ‘hipertexto’, com um texto anterior ou ‘hipotexto’, que o primeiro transforma, modifica, elabora ou estende.”25 Já tratamos de diversos pontos em que verificamos Tropa de elite como ‘hipertexto’ da obra literária (considerando as datas de lançamento), e como ‘hipotexto’ potencial de outras produções. E encontrar semelhantes jornadas do herói não seria difícil potencialmente “hipotextuais”, nem seria completamente absurdo ver, por exemplo, uma analogia à conversão ou um chamamento do “lado negro da força” na conversão do legalista Matias em executor e substituto de um Darth Vader, cap. Nascimento. Enfim, um estudo como esse seria muito curioso, nos parece bem possível, mas foge aos rumos e à concisão deste trabalho. 23

“Programa será ambientado nos tempos atuais, contou André Ramiro, o Matias do longa, em uma entrevista.” In: 'Tropa de Elite' vai virar série de TV. Globo.com, EGO, Rio de Janeiro, 14 mar. 2008. Disponível em: http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL350447-9798,00.html – Acesso em: 29 set. 2012. 24 "Dizem que a TV é fábrica de salsicha, que tudo é feito às pressas. Tivemos um tempo reduzido, mas o necessário para fazer um trabalho de qualidade. Não creio que Força-Tarefa seja inferior a Tropa de Elite, mas não sou a melhor pessoa para avaliar. Isso fica para os críticos, e o público.[...] O grande fotógrafo Lula Carvalho, filho de Walter Carvalho, faz sua estreia em Força-Tarefa. Lula é fotógrafo de cinema, famoso pela steadycam de Tropa de Elite e Tropa de Elite 2, de José Padilha.” In: MERTEN, Luiz Carlos. O cinema vai à TV em 'Força-Tarefa'. O Estado de São Paulo. São Paulo, 30 out. 2011. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,o-cinema-vai-a-tv-em-forca-tarefa,791841,0.htm – Acesso em 29 set. 2012. 25 STAM, op. cit., p. 33.

9 Cabendo apenas lançar uma hipótese recordando uma espécie muito cara à teoria literária chamada de Literatura verdade, analogicamente ao que nos diz Stam sobre os romances vitorianos: “quando os romances vitorianos são adaptadores diversas vezes, a própria hipertextualidade se torna um sinal de status canônico”26. Um dos expoentes daquele tipo de produção foi o livro chamado Quarto de despejo – diário de uma favelada, narrando as experiências de vida no ofício de catadora de Carolina Maria de Jesus. Dizemos por conta de termos também o filme Notícias de uma guerra particular remetendo a tal tipo de produção, pela própria natureza documental, mas também pela correlação do título que faz lembrar “diário” de uma guerra particular. E porque Elite da tropa tem como subtítulo de sua parte destinada aos contos: “Diário de guerra”. Embora sendo a obra autodeclaradamente “fictícia”, o trajeto de nosso estudo até aqui faz cogitar sobre um vínculo, reinvenção ou contribuição a esta corrente. E poderíamos concluir esta sessão conhecendo que “adaptações cinematográficas, desta forma, são envolvidas nesse vórtice de referências intertextuais e transformações de textos que geram outros textos em um processo infinito de reciclagem, transformação e transmutação, sem nenhum ponto claro de origem.”27 3 - NARRATOLOGIA Deixamos aberta na seção 1 a explicação sobre a narrativa de filme e livro, lembrandonos sobre a puxadela para dentro do universo policial. Diz Robert Stam: “outras questões sobre adaptação têm a ver com as modificações e permutas da história. Aqui nós entramos no campo da narratologia, ou do estudo da mecânica da narrativa.”28 E como diz o narrador em seu segundo conto de Elite da tropa, intertextualmente evocando Xerazade com o título de “Mil e uma noites”: “entre, fique à vontade. A casa é sua. No início você vai estranhar um pouco algumas coisas, mas depois vai se acostumar. Eu também estranhei no começo. Quando entrei pra polícia, estranhei muita coisa. Mas logo me acostumei. A gente se acostuma.”29 Para concluir: “portanto, meu caro amigo, caríssima amiga — posso chamá-los assim? —, apertem o cinto e vamos em frente.” O livro, apesar de não dar nome ao narrador, diz sobre ele (o narrador diz sobre si): “você vai logo descobrir que sou um cara bem formado, com uma educação que pouca gente 26

Idem, p. 34. Idem, p. 34. 28 Idem, p. 36. 29 SOARES et alii, pp. 21-2. 27

10 tem no Brasil. Talvez você até se espante quando souber que estudo na PUC, falo inglês e li Foucault. […] Não é só o policial que é preconceituoso, afinal de contas. Por falar em preconceito, assinale aí em sua agenda que sou negro.”30 Ora, em se tratando do filme, sabemos que é André Matias a estudar na PUC, inclusive convocado pela sua coadjuvante feminina a fazer um trabalho de sociologia na faculdade justamente sobre Foucoult. Da mesma forma, entrevistas dadas pelo diretor José Padilha confirmam e a Revista Bravo bem explicita que, como o livro, originalmente, o narrador deveria ser também o personagem Matias: Acontece que, depois da primeira edição, Bráulio, o montador Daniel Rezende e o próprio Padilha perceberam algo nada animador: o começo do filme simplesmente não funcionava. […] O Capitão Nascimento, então um personagem secundário, deveria aparecer mais. E o longa-metragem só começava a ficar bom após 50 minutos, justamente quando as intervenções do ator Wagner Moura se tornavam mais frequentes. Entre os espectadores estava Carolina Kotscho, também roteirista e mulher de Bráulio, que sugeriu ao marido uma mudança radical. Até aquele momento, o filme era narrado pela voz em off do sucessor Mathias. Carolina propôs que o narrador fosse o Capitão Nascimento.31

E, considerando este fato, mais a existência do personagem Neto, verificamos um bom encaixe ao apontado por Robert Stam, não apenas em relação ao narrador / voz em off: “uma narratologia comparativa da adaptação também examina as formas como as adaptações adicionam, eliminam ou condensam personagens.”32 E a temática da busca por um substituto, que nunca é mencionada no livro, embora biograficamente André Batista tenha vindo a substituir Rodrigo Pimentel no Bope, surge como uma solução apropriado ao discurso fílmico: Entre as várias discussões para descobrir uma saída possível, partiu do montador Daniel Rezende a frase que acabou na boca do Capitão Nascimento e que daria novo sentido ao filme. "Na verdade, eu precisava da intelig√ência de um e do coração do outro. Se eu pudesse ter juntado os dois (Matias e Neto), a minha história não teria sido tão difícil. Mas quem disse que a vida é fácil?" A linha, incluída no roteiro, era a justificativa para colocar o Capitão Nascimento como narrador. Ele estava ali para explicar como e por que os dois - Mathias e Neto, o personagem vivido por Caio Junqueira - disputavam o lugar de seu substituto.33

E é nesse sentido que teremos também a voz em off dizendo, logo na abertura do filme quando Matias e Neto sobem o morro ainda antes de integrarem o Bope, assumindo o tom

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Idem, pp. 22-3. RAHE, Nina. O nascimento do capitão. Bravo!. São Paulo, out. 2010. Disponível em: http://bravonline.abril.com.br/materia/nascimento-capitao – Acesso em: 30 set. 2012. 32 STAM, op. cit., p. 41. 33 RAHE, op. cit. 31

11 similar de busca de intimidade que vimos no livro: “policial também tem medo de morrer, parceiro.” E essa conversa com o espectador do filme manter-se-á até a conclusão da película. Em se tratando o livro primeiro de contos, verificamos que não temos uma linha linear de evolução na obra literária. Seriam mais fotografias do cotidiano policial apostas. E é curioso notar que o filme, igualmente, mesmo tendo o enredo de busca do substituto a dar-lhe fio, não tem também uma sequência linear. Iniciado em prolepse da cena de subida do morro, que acabamos de mencionar, temos a sua interrupção enquanto a voz em off vai nos conduzir dando sentido à não linearidade. A própria cena inicial é já do maior tiroteio que ocorre na obra; filmada quase que exclusivamente numa câmera em movimento não estabilizada que segue os personagens (no banco do carona da viatura de policiais corruptos que sobe o morro com más intenções e atrás de Matias e Neto que se posicionam para tentar impedir a concretização), acentuando a tensão no espectador e interrompida pela metade para contar a história dos personagens envolvidos, para depois voltar à sequência linear que desenrolará no final. A retomada da cena inicial com conhecimento do histórico dos personagens envolvidos reafirma a tensão, mesmo pelos laços de empatia potencialmente desenvolvidos. A perspectiva inicial da voz de narração em off se enriquece, cumula-se, com o conhecimento adquirido em relação aos outros personagens. Já mencionamos o editor de ambos os Tropa de elite, Daniel Rezende. A compreensão deste recurso típico do discurso fílmico seria relevante à compreensão do tempo e do fio das narrativas. Inicialmente, a montagem frenética que cumula em sucessões de cenas e cenários distintos sem transição visual, apenas eventualmente orientada pela voz em off, parece bem coerente ao “álbum” de histórias que é Elite da tropa, e dirá Stam: “à parte dos personagens e eventos, muitas adaptações eliminam tipos específicos de materiais, notavelmente aquilo que é visto como não estando diretamente relacionado com a história e, portanto, visto como prejudicial para a progressão da narrativa: […].”34 Esses cortes, ou lapses, que tornam a edição (montagem) marcante (responsável por indicações a diversos prêmios internacionais, entre eles ao Oscar para Rezende, por seu trabalho em Cidade de Deus) e parte construtora do discurso fílmico, pode ser melhor explicitada em uma entrevista de José Padilha: A idéia é comum e as pessoas identificam os filmes feitos para pensar com filmes que têm ritmos lentos, que dão espaços para o espectador raciocinar. [...] No cinema diversos filmes - e esse não é o [único] meu, no Ônibus 174 eu já fiz isso - têm feito estruturas dramáticas complexas para o espectador pensar e tem comprimido essas estruturas no tempo de montagem e tem deixado nessas estruturas elementos de som 34

STAM, op. cit., p. 40.

12 que levam o espectador a se emocionar com o filme e não deixam o espectador pensar durante o filme. O espectador tem aquela experiência e vai pensar depois.35

Abaixo, ilustramos uma peculiaridade do discurso fílmico tanto de Tropa de elite quanto da sua sequência. A foto à esquerda diz do congelamento da imagem na centelha do primeiro disparo do grande tiroteio do filme e que aliás, é também o primeiro tiro do filme. Entra então a voz em off, rompendo com qualquer linearidade do tempo, mas muito coerente ao discurso fílmico (veremos ao final desta seção). A segunda foto, mostra a alusão e a repetição do discurso em Tropa de elite 2.

Ilustração 2 - Imagens congeladas para voz em off

A questão do tempo é coisa difícil de tratar. O ritmo frenético em que se desenrola Tropa de elite é interrompido poucas vezes por algumas legendas que indicam, por exemplo, “6 meses antes”, quando da quebra da sequência do tiroteio inicial. Indicações do tempo cronológico conectado ao universo real, informações compartilhadas entre assistência e o filme, referem-se quase que exclusivamente ao marco: visita do Papa, “garantir o sono do Papa”. Seria um esforço bem razoável utilizar como mensuração a gestação da cônjuge do cap. Nascimento, mas é coisa também possível. Igualmente com a frequência com que ele volta pra casa a discutir com ela, que dá idéia da passagem de dias. Coisa que intensificaria a interpretação estimada pelo diretor do filme, que visava a demonstrar a incompetência de se manter uma vida razoável em se tratando de um profissional da segurança pública da natureza do cap. Nascimento. A sua incompetência em ser ente humano, de manter uma família e a insolubilidade desse dilema que leva ao rompimento do casamento, mais explorado no filme sequência.

35

José Padilha, entrevista ao Roda Viva, op. cit.

13 Não esperava, no entanto, o diretor que a sociedade tolerasse essa existência fragmentada, uma espécie de aceitação do paradigma workaholic? Um espelhamento social? São questões curiosas, mas que nos fogem à análise da adaptação a que se dedica essa subdivisão do estudo. O tempo da narrativa (discurso fílmico) refletiria também o ritmo frenético da vida social atual? Uma existência fragmentada como o são os processos industriais? Conforme indicado pelas teorias marxistas, ninguém mais domina o processo por inteiro, e vive-se aos cacos? Uma grande montagem? É nesse sentido que hipoteticamente a linguagem cinematográfica incorporia a vida, ou vice-versa. Fato é que Elite da tropa, pode nos prover de uma explicação à ilustração 2, e demonstrar uma experiência dos propósitos enunciados por Eduardo Padilha (a entrevista citada por último), além do nosso re-enfatizado “convite” a adentrar o universo policial e talvez mesmo uma compreensão global do fenômeno Tropa de elite, do conto “Olho por olho”: Quando a gente se concentra numa operação de guerra, tudo muda, todos os sentidos ficam alterados. A gente não ouve praticamente nada e só enxerga o que está no foco da atenção. É o que a gente chama visão de túnel. O nome é bastante preciso. É como se a pessoa estivesse num túnel, com um único ponto de luz. O tempo gira em torno daquele ponto e fica como que congelado, talvez porque que se confunda com o espaço, quer dizer, com a imagem. Não sei. Só posso lhe dizer que a gente sai desse mundo e viaja. O universo passa a deslocar-se em câmera lenta. É como se toda velocidade do mundo fosse absorvida pelos músculos e as sinapses que mantêm o cérebro alerta. O resultado é que, no final de um tiroteio, a gente tem a impressão de que passou meia hora. Vai olhar no relógio, passaram dois, três, cinco minutos.36

Tendo analisado alguns aspectos da “transferência de energia criativa” pelo estudo da adaptação, verificamos quase que uma legítima sinergia entre livro e filmes em tese. Restando-nos agora averiguar o efeito que esse foco de luz, a saída do túnel, resultou na interação social e eventualmente na história. Poucas horas de projeção ou leitura, mas já pelo menos cinco anos passados de fato. 4 - CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DOS FILMES TROPA DE ELITE E TROPA DE ELITE 2 O contexto histórico-social do Brasil, ou mais especificamente, do Rio de Janeiro cujo recorte temporal seja dos anos 2000 até os dias, certamente deveria levar em consideração a história da formação do crime organizado, tráfico de drogas e favelas, no entanto, tal empreitada demandaria uma investigação histórica e sociológica que não pode ser comportada 36

SOARES et alii, op. cit. p. 43.

14 por este artigo, seja pelo aspecto da latitude do trabalho, mas principalmente, por conta da divergência com o propósito do mesmo. Desse modo, o presente capítulo pretende analisar os filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 sob dois aspectos principais, o contexto político-social no período do lançamento das obras supra e a dialética entre ficção e realidade nos fatos narrados pelas mesmas, optando-se pela terminologia “correlação” para defini-la, ao se observar que o filme não só era um retrato fidedigno da realidade, como também foi capaz de alterá-la. Na falta de materiais acadêmicos e científicos para tal empreitada, a pesquisa fez uso de periódicos como suporte argumentativo. Antes mesmo do lançamento do primeiro filme, um episódio envolvendo a uma van da produção do filme denuncia a questão da segurança pública no Rio de Janeiro 37, cinco homens armados roubaram aproximadamente 90 armas que seriam utilizadas nas filmagens, entre as armas, 30 eram reais. Assim, a denuncia da violência urbana trazida pela obra, chegou ao público, antes mesmo que as própria obra. Outro incidente situado antes da estreia de Tropa de Elite concerne a pirataria, conforme pesquisa realizada pelo IBOPE, cerca de 11 milhões de pessoas assistiram a versão pirata do filme38, apesar de auxiliar na divulgação do filme, a venda de cópias produzidas ilegalmente foi responsável por uma queda significativa na expectativa de bilheteria projetada pelos produtores. Episódios que denunciam o quão presente é a criminalidade no cotidiano da população brasileira. Com o lançamento efetivo do filme, no ano de 2007, instalou-se uma grande polêmica, apesar da truculência e brutalidade com que os policiais do BOPE atuam na película, violando direitos civis e princípios basilares do Direito, como a dignidade da pessoa humana, a reação do público foi de apoio as ações, com o protagonista, Capitão Nascimento (Wagner Moura), sendo aclamado como herói nacional. Pode-se relacionar tal reação do público, com os episódios ocorridos no Rio de Janeiro e São Paulo no ano anterior ao do filme. No estado paulista, os ataques organizado pelo Primeiro Comando da Capital – PCC39, além de espalhar pânico por todo o Estado, com

Policiais buscam armas roubadas em filmagem em favela do Rio. Folha de São Paulo, Cotidiano. São Paulo, 06 nov. 2006. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u127902.shtml - Acesso em: 29 set. 2012. 38 SOUZA, Ana Paula. Suspeitos de piratear “Tropa 2” são detidos. Folha de São Paulo, Ilustrada. São Paulo, 13 out. 2010. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1310201010.htm - Acesso em: 29 set. 2012. 39 GUTIERRES, Marcelo. Atentados do PCC paralisam maior cidade do país. São Paulo, 2006. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultnot/retrospectiva/2006/materias/pcc.jhtm - Acesso em: 30 set. 2012. 37

15 fechamento de escolas, linhas de ônibus e outros locais públicos, resultaram ainda na morte de mais trezentas pessoas. Ainda em 2006, o Rio de Janeiro foi vítima de série de atentados também organizados por facções criminosas, foram 12 ataques só no primeiro dia, que resultaram na morte de 18 pessoas. O somatório dos ataques e a demonstração de poder do crime organizado deixou a sociedade em pavor, culminando em manifestações civis contra a violência e exigindo atitudes por parte do poder público. Deste modo, não é de se estranhar que o filme lançado em 2007 tenha obtido uma receptividade diferente da prevista pelo diretor José Padilha. Ao se traçar as atuações de um grupo policial competente e incorruptível, cujo salário, na época narrado pelo filme (1997), era de R$900,00 reais, o mesmo recebido por um policial militar comum, sintetizado pelo jargão “faca na caveira, nada na carteira”, tinha-se assim os elementos necessários para a criação de um herói, o chamado pela Carta Capital40 de herói classe média, que defendia a população da ação dos traficantes, do modo como era possível. Com a repercussão social, abriu-se o debate para a questão da segurança pública no Brasil, qual polícia a comunidade precisava para a sua paz. No campo político-jurídico, o Direito Penal Máximo já estava em atuação, primeiro com o Movimento Lei e Ordem41 que inspirou inclusive, a Lei de Crimes Hediondos, mais recentemente o programa Tolerância Zero, ambos inspirados em modelos estadunidenses, que basicamente, propunham o aumento do Estado na esfera de controle da criminalidade, por meio de criminalização de novas condutas sociais, aumento das penas previstas para condutas que já eram consideradas crimes e maior respaldo e apoio as ações da polícia. Evidentemente, os programas políticos acima, fazem parte de um “sonho burguês” mais antigo e amplo, o de “higienizar” as cidades, no caso do Rio de Janeiro, nos dizeres do próprio Capitão Nascimento no primeiro filme, era preciso “garantir o sono do Papa”, referindo-se a missão de invadir uma favela que receberia a visita de João Paulo II em 1997, ano do recorte temporal do filme. No entanto, o BOPE por meio do filme faz mais que isso, garante o sono das elites cariocas e da classe média brasileira, afinal, dorme-se mais aliviado MARGARIDO, Orlando. Um herói classe média. Carta Capital, Cultura. São Paulo, 12 out. 2010. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/cultura/um-heroi-classe-media-2/ - Acesso em: 29 set. 2012. 41 Nesse sentido, afirma Maria Lúcia Karam: “Em nome de um dito “combate” à criminalidade, iniciou-se, a partir da década de 1990, uma verdadeira escalada repressiva na produção e na aplicação de leis, que, muito semelhantes às legislações excepcionais criadas para a repressão política das ditaduras, se afastam de princípios minimamente garantidores. Agora, em nome do combate ao terrorismo, novas restrições à liberdade individual e novos rompimentos com princípios garantidores já começam a se anunciar.” (KARAM, Maria Lúcia. Sistema penal e século XXI. Notícia do Direito Brasileiro. Universidade de Brasília – Faculdade de Direito. nº 9. 2002. p. 300.) 40

16 ao saber que o Capitão Nascimento está lá fora, lutando contra o crime e prendendo delinquentes. Segundo Foucault: É evidente que o internamento, em suas formas primitivas, funcionou como um mecanismo social, e que esse mecanismo atuou sobre uma área bem ampla, dado que se estendeu dos regulamentos mercantis elementares ao grande sonho burguês de uma cidade onde imperaria a síntese autoritária da natureza e da virtude. Daí a supor que o sentido do internamento se esgota numa obscura finalidade social que permite ao grupo eliminar os elementos que lhe são heterogêneos ou nocivos, há apenas um passo. O internamento seria assim a eliminação espontânea dos “a-sociais”; a era clássica teria neutralizado, com segura eficácia – tanto mais segura quanto cega aqueles que, não sem hesitação, nem perigo, distribuímos entre prisões, casas de correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas.42

Assim, tem-se o povo mais uma vez aplaudindo os interesses escusos do Estado. O que a população em pânico, indevidamente recebeu como o paladino da Justiça, também atende aos interesses políticos da época. De forma singela era este o cenário político-social vigente no período que vai de 1997, ano em que se passa o primeiro enredo, até 2007, ano de lançamento de Tropa de Elite. “Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro” situa-se historicamente no período entre a rebelião em Bangu I, no ano de 2002, até os dias de hoje, sendo lançado em 2010. O filme começa contextualizando a situação do presídio supra, divido entre as 3 facções criminosas que comandam o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, o ADA (Amigos dos Amigos), o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho. A morte do traficante Uê, líder fundador do ADA é retratado neste trecho da obra43. Desde o começo da narrativa, a continuação do Tropa de Elite apresenta uma característica diferente do primeiro, a forte preocupação em contextualizar o público, assim, as narrativas “em off” do agora “Coronel” Nascimento (Wagner Moura) e as falas do personagem Deputado Diogo Fraga (Irandhir Santos) permitem ao público entender de forma mais clara quais os conflitos apresentados, ainda expressos de forma menos polarizada. O segundo filme, não apresenta dualismos bem definidos como no primeiro, expresso pela luta entre PMs e traficantes ou policiais honestos contra policiais corruptos, a complexidade agora começa pelo subtítulo, pois o outro inimigo podem ser os policiais corruptos, os traficantes, os políticos, as milícias, ou até mesmo, a própria sociedade. Seja qual for a interpretação adotada, pode-se observar que trata-se de um inimigo muito mais difuso. FOUCAULT, Michel. História da Loucura. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 79. Mortos em Bangu 1 são do Terceiro Comando. O Estado de São Paulo. Cidades - Geral. São Paulo: Online, 11 set. 2002. Disponível em: http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2002/not20020911p19699.htm - Acesso em: 29 set. 2012. 42 43

17 Assim, obra cinematográfica apresenta os conflitos entre os traficantes rivais, a origem dos grupos paramilitares que receberam o nome de “milícias”, o financiamento das campanhas políticas pelo traficantes e milicianos, a importância das favelas como novo “curral eleitoral”, as críticas dos grupos de direitos humanos e pró-vida contra contra as ações da polícia, os interesses obscuros que movem cargos de confiança na esfera política, a forte influência da mídia na opinião do eleitorado. Eis o que o Coronel Nascimento chama de “Sistema”. No plano material, o Rio de Janeiro pós Tropa de Elite passa por uma reforma na mentalidade vigente, não sendo possível mensurar o quão significativa ou determinante foram as discussões trazidas pelo filme neste processo, o que se tem de concreto é que um ano após a primeira película, houve um aumento nos salários do policiais, bem como, foram instaladas as primeiras unidades das UPPs44 (Unidade de Polícia Pacificadora), no final de 2008, a Favela de Santa Marta recebia a primeira a receber essa nova Unidade de Polícia, voltada para a pacificação social por meio do contato direto e cotidiano entre policiais e comunidade, ou seja, uma aproximação dos sujeitos visando superação do receio dos civis para com a instituição militar. Outro aspecto importante trazido pelo segundo filme em pauta, refere-se a importância da mídia como elemento modelador de opinião, na obra, o metatexto expresso pelo programa “Mira-Geral”, representa uma severa crítica aos programas “sensacionalistas”, que conquistam o público por meio de narrativas sangrentas de crimes reais. Eis um produto de dupla lucratividade: a violência, que além da audiência, traz consigo o medo, instrumento de manipulação social. Tal raciocínio já foi objeto amplamente debatido pela criminologia, ciência política e sociologia, como demonstra o excerto abaixo: A violência tornou-se um produto de consumo que invadiu os meios de comunicação social. A sociedade do final do milênio está, mercê dessa dramatização da violência, formada por uma cidadania que se sente insegura. O medo difuso constitui hoje matéria-prima rentável em diversos países, alimentando a indústria da segurança privada. As referências às influências dos meios de comunicação de massa já eram feitas pelos pais da criminologia e, em diversos trabalhos desde então, demonstramse que o cinema, o rádio e a publicidade interferem na construção social da violência. A partir da televisão com seus seriados policias de grande popularidade a insegurança coletiva aumentou. O mundo fictício da televisão está cheio de estereótipos e se alinha com as visões mais conservadoras sobre a criminalidade. O 44

A socióloga Alba Zalur questiona quais os propósitos reais da UPPs, uma vez que as mesmas privilegiam a Zona Sul da cidade, considerada a área nobre, afirma: “é preciso saber qual o critério que a secretaria de Segurança Pública utiliza para escolher as comunidades a serem atendidas pelas UPPs. Estudos mostram que há outras regiões mais problemáticas e que precisam de mais segurança do que as favelas daquela região (zona sul).” (PACHECO, Herika. Unidade de Polícia Pacificadora privilegia zona rica do Rio, dizem especialistas. UOL Notícias. Rio de Janeiro, 01 dez. 2009. Cotidiano. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/12/01/ult5772u6441.jhtm - Acesso em: 29 set. 2012.)

18 fenômeno da insegurança da cidadania se apresenta como uma luta entre bons e maus, em que os policiais aparecem como heróis solitários na luta contra o crime.45

Entretanto, o fato histórico mais importante trazido por Tropa de Elite 2 refere-se a CPI das Milícias, que indiciou 226 pessoas, durou 150 dias, ouviu 47 pessoas, recebeu mais de mil denúncias, sendo o relatório final46, entregue ao Ministério Público com a acusação formal de 150 pessoas, entre eles, deputados, vereadores, policiais militares e civis, agentes penitenciários e bombeiros. Desse modo, tornou-se público o vínculo de traficantes e milicianos com políticos. Com a repercussão e o apoio nacional conquistado, o então deputado estadual Marcelo Freixo, que inspirou a criação do personagem Diogo Fraga (Irandhir Santos), lançou-se no ano corrente ao pleito de Prefeito do Rio de Janeiro, sendo um dos pilares da sua campanha, o filme Tropa de Elite 2, inclusive com passagens do filme sendo utilizadas em sua propaganda eleitoral gratuita. A correlação entre cinema e realidade tornou-se notória. O herói construído no longametragem foi suporte para que o candidato alcança-se quase um milhão de votos, ficando em segundo lugar na eleições municipais, com 28,15% dos votos. Um dos maiores exemplos nacionais, senão o maior, do poder de uma obra cinematográfica alterar, ou mínimo, influenciar na realidade que buscou retratar. 5 - A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DE TROPA DE ELITE E TROPA DE ELITE 2 PARA O CINEMA NACIONAL No final dos anos 80 e início da década de 90, o cinema nacional passou por período de “recessão”, era desinteressante para os chefes de Estado, com seu projeto neoliberal, continuar destinando verbas públicas para um setor que, assim como os demais, deveria manter-se com fundos da iniciativa privada. Tratava-se do fim da “Era Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes)”, que foi extinta juntamente com a Fundação Nacional de Artes, a Fundação do Cinema Brasileiro, o Conselho de Cinema e o próprio Ministério da Cultura, renegado ao status de Secretaria. Apesar das Leis do Audiovisual e Rouanet, de 1992, constituírem-se como incentivo estatal a produção cinematográfica, somente em 1995 surgem os primeiros resultados expressivos da nova legislação, iniciava-se o período nomeado pelos cineastas de BARATTA, Francesc apud COUTO NETO, Silvio. O movimento de lei e ordem e a iniquidade do controle social pelo sistema penal no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2009. p. 110-111. 46 Relatório Final da CPI destinada a investigar a ação das milícias no âmbito do Estado do Rio de Janeiro na íntegra. Disponível em: http://www.marcelofreixo.com.br/site/upload/relatoriofinalportugues.pdf – Acesso em: 12 out. 2012. 45

19 “Retomada”. Ou seja, do fim dos anos 80 até 1995, o cinema nacional praticamente não existiu, com baixíssimo número de produções, público e até mesmo de salas de exibição. Utilizando trecho de Franthiesco Ballerini para expressar o delta apresentado entre 1994 e 1995: O ano de 1995 marcou a Retomada não só pelo lançamento de Carlota Joaquina (considerado marco da Retomada), mas também pelo fato de a produção ter-se tornado mais expressiva em público e crítica. Foram lançados treze longas nacionais que somaram quase três milhões de ingressos vendidos, dez vezes mais que 1994.47

Para o mesmo autor supra, o processo da Retomada foi ascendente, com produções diversificadas, com grande sucesso de público e crítica, dentre eles, pode-se citar: “Guerra de Canudos”, “Desmundo”, “O que é isso, companheiro?”, “Central do Brasil”, “Abril Despedaçado”, “Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos” “O auto da Compadecida”, “Orfeu”, “Lavoura Arcaica”, entre outros. O apogeu da Retomada estaria situado entre os anos 2002 (Cidade de Deus) e 2003 (Carandiru), período em que, para o autor, foram realizadas as maiores obras do período, constituindo, portanto, sua fase final. O período seguinte, ainda sem nome na história do cinema nacional, apresenta características e temáticas ainda mais difusas que a Retomada. A excelência na produção e o aumento do rigor crítico dos espectadores podem ser apontados como principais propriedades, no entanto, não cabe aqui maiores divagações, uma vez que entre os especialistas, o próprio fim da Retomada constitui um assunto controvertido. Ainda assim, adotando a perspectiva de Ballerini, é neste período “Pós-retomada” que se situam Tropa de Elite e Tropa de Elite 2. Tropa de Elite conquistou, entre outros prêmios, o Urso de Ouro do Festival de Berlim, como melhor filme, tendo o diretor José Padilha recebido a estatueta das mãos do Presidente do Júri, Costa-Gravas, um dos maiores cineastas políticos da história do cinema. Em contrapartida, o sucesso em número de espectadores não foi o mesmo, sendo assistindo por apenas 2.417.754 pessoas, segundo dados oficiais do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – OCA48. Os números poderiam ser mais expressivos, caso o filme não tivesse sofrido com o maior incidente de pirataria49 da história do cinema brasileiro. Conforme dados já trazidos no capítulo anterior, mais de 11 milhões de pessoas assistiram a versão pirata da obra. Segundo BALLERINI, Franthiesco. Cinema Brasileiro no Século 21: reflexões de cineastas, produtores, distribuidores, exibidores, artistas, críticos e legisladores sobre os rumos da cinematografia nacional. São Paulo: Summus, 2012. 48 BRASIL. Ministério da Cultura. Agência Nacional do Cinema. Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual. Informe Anual 2010. Disponível em: http://oca.ancine.gov.br/notas_informes2010.htm - Acesso em: 12 out. 2012. 49 Violação de Direitos Autorais constitui crime previsto no art. 184 e parágrafos do Código Penal Brasileiro, com pena de até 4 anos de reclusão. 47

20 dados do Datafolha, 19% da população da cidade de São Paulo haviam assistido o dvd pirata antes do lançamento do filme50. Os número foram tão expressivos e situação tão atípica que o Ministro da Justiça da época, Luiz Paulo Barreto, afirmou: “"Não temos registro de algo assim no Brasil e digo que é raro no mundo. Vemos casos em que a pirataria entra simultaneamente à estreia nos cinemas ou dois ou três dias antes dela (referindo-se a Tropa de Elite).”51 Devido aos fatos ocorridos com o primeiro longa-metragem, Tropa de Elite 2 contou com um forte esquema antipirataria, o resultado foi notório, a continuação se tornou o filme mais visto da história do cinema nacional, sendo visto, até o final de 2010, por 11.023.475 espectadores, quebrando também o recorde nacional de renda, com um faturamento de R$ 102.320.114,16, segundo dados do OCA52.

NOVAES, Tereza. “Tropa de Elite” já foi visto por 19% dos paulistanos. Folha de São Paulo, Ilustrada. São Paulo, 06 out. 2007. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u334403.shtml Acesso em: 29 set. 2012. 51 ARANTES, Silvana. Pirataria do filme “Tropa de Elite” preocupa governo. Folha de S. Paulo. São Paulo, 29 ago. 2007. Ilustrada. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u323878.shtml Acesso em: 29 set. 2012. 52 BRASIL. Ministério da Cultura. Agência Nacional do Cinema. op. cit. 50

21 REFERÊNCIAS FÍLMICAS Tropa de elite. Direção: José Padilha. Roteiro: José Padilha, Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani. Brasil, E.E.U.U., Argentina e Holanda.: Universal Pictures do Brasil, 2007. 1 DVD (1 h 58 min.), NTSC, color. Tropa de elite 2: o inimigo agora é outro. Direção: José Padilha. Brasil: Zazen Produções, 2010. 1 DVD (1 h 55 min.), NTSC, color. Notícias de uma guerra particular. Direção: João Moreira Salles e Kátia Lund. Rio de Janeiro: Video Filmes, 1999. 1 DVD (57 min.), NTSC, color.

22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, Silvana. "Tropa de Elite" de José Padilha explica por que polícia "é o que é". Folha de

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1310201010.htm - Acesso em: 29 set. 2012. STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. In: Ilha do Desterro, Florianópolis, nº 51, jul/dez. de 2006. Tropa de Elite' vai virar série de TV. Globo.com, EGO, Rio de Janeiro, 14 mar. 2008. Disponível em: http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL350447-9798,00.html – Acesso em: 29 set. 2012.

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