Tudo o que você nunca quis saber - e não teria tido vergonha de perguntar - sobre Gramática de Construções e Gramática de Construções Baseada no Uso

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Material didático produzido pelo professor Diogo Pinheiro para o curso Linguística Cognitiva (LEF 761) / Introdução à Linguística Cognitiva (LEF 861) ministrado em 2016.2 no Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ. Descrição: Este é um material absolutamente informal, com finalidade didática, que pretende funcionar como uma porta de entrada à Gramática de Construções. O material toma como ponto de partida dois capítulos inéditos de Thomas Hoffmann (ver referência abaixo), lidos e discutidos em sala de aula. Ao mesmo tempo, não se trata de um simples resumo desses capítulos, dado que foram acrescidas uma série de informações, observações e reflexões que não estão contidas nesses textos. Capítulos Os capítulos de Thomas Hoffman usados como base / ponto de partida: The Renaissance of constructions: from constructions to Construction Grammars Disponível em: https://www.academia.edu/24871098/The_Renaissance_of_constructions_From_constructions_to_Con struction_Grammars Construction Grammars Disponível em: https://www.academia.edu/24871161/Construction_Grammars Ambos os textos serão publicados no The Cambridge Handbook of Cognitive Linguistics (editora: Barbara Dancygier), com publicação prevista para 2017.

FAQ TUDO O QUE VOCÊ NUNCA QUIS SABER – E NÃO TERIA TIDO VERGONHA DE PERGUNTAR – SOBRE (AS DIFERENTES) GRAMÁTICA(S) DE CONSTRUÇÕES (com base nos textos de T. Hoffmann + observações próprias) 1. O QUE É GRAMÁTICA DE CONSTRUÇÕES (GC)? É um modelo teórico que surgiu nos Estados Unidos – especificamente, na Universidade da Califórnia (Berkeley) – nos anos 1980. Sua marca distintiva é o tratamento da totalidade do conhecimento falante em termos de pareamentos entre forma (fonológica, prosódica, morfossintática) significado (aspectos semânticos, pragmáticos, discursivos, funcionais), que são chamados de construções gramaticais. O conceito, frequentemente tratado como uma espécie de expansão/enriquecimento da noção saussuriana de signo linguístico, abarca desde palavras (como “bola”) até estruturas sintáticas inteiramente abstratas (SUJ V OD OI, como em “João deu uma flor para Maria”), passando por padrões morfológicos (DES + VERBO, como em “desligar”), estruturas sintáticas semipreenchidas (VÊ (SÓ) SE + X, como em “Vê (só) se ele se mete nessas confusões que você arruma!”; É BOM + X, como em “É bom você me respeitar!”; QUE X O QUÊ, como em “Que ficar em casa o quê!”; QUERO VER + X, como em “Quero ver ele me encher o saco agora!”.) e contornos prosódicos particulares (como o contorno descendente, que é pareado com um ato ilocucionário de pergunta). Para sublinhar a ideia de que todas essas entidades são qualitativamente semelhantes (na medida em que todas são, no fim das contas, pareamentos de forma e significado), costuma-se falar na existência de um continuum léxico-sintaxe.

Sob essa perspectiva, o conhecimento linguístico do falante não irá incluir entidades como operações derivacionais, princípios sintáticos, regras de ligação (“linking rules”) ou princípios pragmáticos: tudo o que o falante sabe sobre a sua língua deverá ser capturado em termos de pareamentos forma/significado. Por causa dessa opção, encontramos frequentemente na literatura a afirmação de que a GC propõe um tratamento uniforme do conhecimento linguístico. Essa formulação busca contrastar a GC ao modelo gerativista hegemônico, que divide o conhecimento linguístico em dois grandes componentes: de um lado, um inventário de itens, normalmente referido como “léxico”; de outro, um conjunto de regras / operações sintáticas / derivações / etc, normalmente referido como “gramática”.

2. DE ACORDO COM A GC, QUAL É O FORMATO DO CONHECIMENTO LINGUÍSTICO DO FALANTE? Gramáticos construcionistas costumam dizer que o conhecimento linguístico se estrutura como uma grande rede (“network”) de construções gramaticais, que é frequentemente referida como constructicon (de lexicon + construction, isto é, um léxico de construções). Nessa metáfora, cada nó da rede corresponde a uma construção, e cada ligação entre os nós corresponde a um “link” construcional. A rede é formada, portanto, por construções e links entre as construções. Essa imagem lembra bastante a noção saussuriana de sistema de signos – com efeito, afirmar que a língua é uma “rede de construções” não é fundamentalmente diferente de dizer que ela é um “sistema de signos”. Se quisermos aprofundar essa analogia, é possível associar os links entre construções às relações paradigmáticas (ou associativas) de Saussure – trata-se de relações “em ausência”, que identificam similaridades semânticas, formais ou semântico-formais entre os nós da rede (ou signos do sistema). É ainda uma questão em aberto quais são exatamente os tipos de links que podem ser encontrados entre as construções. Um consenso, porém, é o de que as construções estabelecem entre si links verticais, que caracterizam relações taxonômicas. Nesse tipo de configuração de rede, construções mais abstratas / gerais são representadas acima das construções mais concretas / específicas – de maneira que a vinculação entre elas se dá, precisamente, por um link vertical. A relação entre construções mais altas e mais baixas é geralmente referida em termos de herança (“inheritance”): assim, as construções mais baixas (isto é, mais concretas, mais específicas) herdam propriedades das construções mais altas (isto mais, mais abstratas, mais gerais)1. É importante ter em mente em que essa concepção de conhecimento linguístico – tomado uma rede de pareamentos forma/significado ligados por diferentes tipos de links, em particular links verticais, taxonômicos – contrasta com a arquitetura gramatical tipicamente proposta pela tradição gerativa. Nesta tradição, tipicamente, a sintaxe ocupa o centro do modelo: de um lado, ela é alimentada pelos itens do léxico; de outro, ela fornece a estrutura para à interpretação fonológica (phonological form) e semântica (logical form). Na prática, isso quer dizer que a interpretação semântica é mediada pela 1

Volto a este ponto em parte da resposta à questão 4.

estrutura sintática – ou, dito de outra maneira, que o significado decorre da forma. Na GC, não se verifica esse tipo de decorrência, que confere inevitavelmente algum tipo de primazia à estrutura sintática. Em vez disso, forma e sentido são direta e convencionalmente pareados, como se admite ocorrer, tradicionalmente, em entidades como palavras e morfemas.

3. QUAL A ORIGEM HISTÓRICA DA GC? Como já ficou dito, o modelo começa a ser desenvolvido nos anos 1980, sobretudo e*m torno dos nomes de Charles Fillmore, Paul Kay e George Lakoff. Sua motivação é uma insatisfação crescente com a separação estrita entre léxico (entendido como o lugar da irregularidade e improdutividade) e sintaxe (entendida como o lugar da regularidade e da produtividade). Os primeiros trabalhos construcionistas procuram demonstrar que alguns fenômenos são, ao mesmo tempo, produtivos e irregulares, e por essa razão não se acomodam confortavelmente nem no léxico nem na sintaxe. Esses fenômenos foram usados, sobretudo ao longo da década de 1980 e início dos anos 1990, para argumentar em favor de uma abordagem construcionista do conhecimento linguístico. Mas que fenômenos são esses? Em poucas palavras, trata-se dos chamados “idioms” formais. Para entender esse conceito, vamos por partes. “Idioms” são expressões idiomáticas, isto é, padrões linguísticos que apresentam algum tipo de irregularidade – seja ela lexical, sintática ou semântica. De resto, segundo uma classificação bastante famosa de Fillmore e colegas (1988), expressões idiomáticas podem ser formais ou substantivas: os “idioms” formais apresentam slots abertos, que admitem variabilidade (como JOGAR X PELA JANELA, que pode dar margem a um sem-número de manifestações: jogar o casamento / o emprego / a estabilidade / o sonho / etc. / pela janela); “idioms” substantivos são inteiramente fixos (como A curiosidade matou/*mata/*assassinou o gato/*o cachorro). A tabela abaixo – adaptada de Croft e Cruse (2004, p. 236) e baseada na proposta de Fillmore e colegas (1988) – busca representar os três tipos de irregularidade (lexical, sintática e semântica) e, ao mesmo tempo, discriminar as expressões idiomáticas de acordo com o seu grau de preenchimento/fixidez (isto é, formais versus substantivos). Note-se que, nessa tabela, apenas as três primeiras opções correspondem a expressões idiomáticas – a última linha se refere às expressões regulares, que se opõem aos idiomatismos.

Peças desconhecidas arranjadas de modo nãofamiliar

Lexicalmente Irregular

Sintaticamente Irregular

Semanticamente Irregular

Exemplo “Idiom” substantivo: kith and kin (‘family and friends’) “Idiom” formal: The Xer, the Yer

Peças conhecidas arranjadas de modo nãofamiliar

Regular

Irregular

Irregular

“Idiom” substantivo: all of a sudden; in point of fact “Idiom” formal: Nth cousin (N times removed)

Peças conhecidas arranjadas de modo familiar

Regular

Regular

Irregular

“Idiom” substantivo: pull X’s legs; tickle the ivory (‘play the piano’)2 “Idiom” formal: watch me (drop it, slip, etc.)

Expressões sintáticas regulares (não são “idioms”)

Regular

Regular

Regular

Como dizíamos, são os “idioms” formais que parecem desafiar, em alguma medida, a abordagem gerativa mainstream, por se situarem no meio do caminho entre léxico e sintaxe. Isso porque, ao mesmo tempo em que são irregulares (afinal, são “idioms”), exibem também alguma produtividade (afinal, são formais). Não à toa, esse tipo de expressão idiomática recebeu enorme atenção no início da empreitada construcionista, quando era importante argumentar em favor das vantagens da abordagem baseada em construções. Fundamentalmente, o argumento era o seguinte: ao mesmo tempo em que os “idioms” formais não seguem as regras gerais da gramática da língua (sejam elas sintáticas ou semânticas), é possível identificar neles certas regularidades (que subjazem à sua produtividade). Ora, se essas regularidades não podem ser derivadas de regras gerais do sistema linguístico, então elas devem ser associadas diretamente a um padrão formal particular. Foi esse raciocínio, claro, que deu à luz o conceito teórico de construção gramatical – nome pelo qual ficou conhecida essa entidade composta por um agregado de informações formais e semânticas diretamente associadas entre si. 2

Como notam Croft e Cruse (2004, p. 236), embora essas expressões apareçam em Fillmore e colegas (1988) como “idioms” substantivos, eles não são inteiramente fixos. De todo modo, os “idioms” formais fornecidos como exemplos na mesma categoria (“peças conhecidas arranjadas de modo familiar”) são ainda mais abertos.

Historicamente, portanto, a gênese da GC está ligada ao problema teórico-descritivo colocado pelas expressões idiomáticas formais. Dizendo de outra maneira, nas palavras muito citadas de Croft e Cruse (2004, p. 225): “não é exagero afirmar que a Gramática de Construções surgiu e se desenvolveu a partir de uma preocupação de encontrar um lugar para as expressões idiomáticas no conhecimento gramatical do falante”. E, embora em anos posteriores o modelo tenham se desenvolvido no sentido de abarcar também as expressões regulares (a chamada “core grammar”), gramáticos construcionistas nunca deixaram de se interessar pelos (de fato, interessantíssimos  ) “idioms” formais. Uma pequena amostra, em ordem cronológica, de estudos explícita ou implicitamente construcionistas sobre idiomatismos formais pode ser vista na tabela abaixo: CONSTRUÇÃO Construções Tautológicas Nominais Construção de Amálgama Sintático Construção com let alone

EXEMPLOS - Fathers are fathers - A father is a father

REFERÊNCIA Wierzbicka (1987)

There was a farmer had a dog

Lambrecht (1988)

Maz won’t eat shrimp, let alone squid

Fillmore, Kay e O’Connor (1988)

Construção de Resposta Incrédula

Hum wear a tuxedo?! (Sure.)

Construção WXDY

What’s your name doing in my book? This is anticipated to be more common a scenario than fleas spreading bubonic plague

Kay e Fillmore (1999)

Well, the thing is is that um I ba[sically] I basically know how much I have, right?

Brenier e Michaelis (2006)

Construção de Sintagma Nominal com Artigo Indefinido Posposto Opcional Construção ISIS

Lambrecht (1990)

Hillert (2001)

4. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA GC? Em Construction Grammars, Hoffmann identifica quatro princípios comuns a todos os modelos construcionistas: (i) o continuum léxico-sintaxe; (ii) a organização taxonômica e a noção de herança; (iii) a orientação baseada em estrutura de superfície; e (iv) a ênfase na variabilidade entre línguas, aliada ao reconhecimento de generalizações translinguísticas.

Sobre o primeiro ponto, já falamos na pergunta 1 – precisamente porque seria impossível responder a pergunta “O que é a Gramática de Construções?” sem mencionálo. A meu ver, melhor do que dizer que o continuum léxico-sintaxe é a premissa básica da GC é afirmar que a uniformidade na representação do conhecimento linguístico deve ser tida como a propriedade definidora do modelo. Por “uniformidade na representação do conhecimento linguístico”, entenda-se: a totalidade do conhecimento linguístico do falante pode ser descrita em termos de construções gramaticais. A ideia do continuum, então, decorre dessa premissa: se a totalidade do conhecimento linguístico pode ser capturada em termos de unidades simbólicas, então não há diferença qualitativa entre conhecimento lexical e sintático (no fundo, no fundo, é tudo a mesma coisa, restando apenas diferenças quantitativas). O segundo ponto, que é fundamental, diz respeito à arquitetura do conhecimento linguístico: trata-se da ideia de que as construções se organizam em rede taxonômica. A ideia de uma rede taxonômica implica a proposta de que as construções gramaticais são representadas em diferentes níveis, de maneira que as construções representadas nos níveis mais altos da rede são mais gerais e abarcam construções mais específicas, que são representadas em nível mais baixo. Um exemplo desse tipo de rede, retirado de Construction grammars (T. Hoffmann), pode ser visto abaixo:

Retirado de: Construction Grammars (Thomas Hoffmann)

Como mostra o esquema acima, a GC não irá postular simplesmente a existência de uma Construção Bitransitiva altamente abstrata: na rede, essa questão mais geral está vinculada diretamente a três construções mais específicas, a saber, uma (sub)construção específica para verbos que inerentemente expressam transferência de posse , uma para verbos de movimento balístico e uma para verbos de recusa. E isso não é tudo: é possível (e, de fato, necessário) postular construções ainda mais específicas, como as que se veem no terceiro nível (de cima para baixo). Nele, o que se vê são construções que especificam não simplesmente uma classe verbal, mas verbos particulares (como “refuse” e “deny”). Há divergências, contudo, em relação ao quarto nível do diagrama acima, em que estão representados os chamados constructos (isto é, sentenças particulares, concretas).

Segundo os modelos construcionistas baseados-no-uso, é possível que uma sentença inteiramente previsível – como “She refused him a kiss” – seja armazenada como uma construção gramatical independente. As abordagem formalistas (isto é, não-baseadasno-uso), no entanto, rejeitam essa possibilidades – para tais abordagens, até é possível que uma sentença completa seja representada como construção, mas apenas nos casos em que se tratar de uma sequência idiomática (por exemplo, A vaca foi pro brejo). Voltarei a esse ponto na questão 8. Seja como for, todos os modelos construcionistas assumem a existência de relações de herança entre as construções. Tipicamente, numa rede taxonômica, construções mais baixas herdam todas ou muitas das propriedades das construções mais altas. Por exemplo, as três construções (meso)construções bitransitivas herdam da construção geral o número e o tipo de papéis argumentais (três papéis, a saber, agente, tema e recipiente). Vale dizer que existem divergências entre os diferentes modelos em relação ao tipo de herança adotado – e que elas estão diretamente relacionadas às diferenças mencionadas no parágrafo anterior. Mais uma vez, voltei a esse ponto na questão 8. A terceira premissa ilumina uma divergência importante entre a GC e a linguística gerativa mainstream: modelos construcionistas são tipicamente materialistas, no sentido de que são evitadas postulações de estruturas sintáticas subjacentes excessivamente distanciadas do input concreto. Em outras palavras, embora toda teoria gramatical precise necessariamente operar com abstrações (e a GC não é exceção), sob pena de não dar conta do problema da criatividade linguística, o nível de distanciamento entre a representação abstrata subjacente e o dado empírico é sensivelmente menor nas abordagens construcionistas do em comparação com o que normalmente se observa tradição gerativa. Uma faceta particularmente saliente dessa rejeição às formas subjacentes excessivamente abstratas é a recusa – ou, pelo menos, resistência – à postulação das chamadas categorias vazias, ou zeros sintáticos. Por fim, a quarta premissa também marca uma diferença clara em GC e linguística gerativa: enquanto esta sempre insistiu na unidade profunda das línguas humanas, por trás de uma variabilidade que seria apenas aparente ou superficial (Chomsky: “… in their essential properties and even down to fine detail, languages are cast to the same mold. The Martian scientist might reasonably conclude that there is a single human language, with differences only at the margins”3), aquela tende a valorizar as diferenças interlinguísticas, que não serão de modo algum tratadas como superficiais ou irrelevantes (Dabrowska: “Languages differ from each other in profound ways, and there are very few true universals, so the fundamental crosslinguistic fact that needs explaining is diversity, not universality”4). Se GC e linguística gerativa pendem para lados opostos no debate universalidade X variação, isso certamente deriva de uma divergência anterior: a posição de cada campo em relação à existência de uma Gramática Universal inata. Linguistas simpáticos ao projeto chomskiano tem defendido a existência de um conjunto de propriedades especificamente linguísticas que seriam inatas. Naturalmente, dada essa assunção, 3 4

Chomsky (2000, p. 7). Dabrowska (2015, p. 1).

torna-se natural – na verdade, inevitável – que certos princípios sintáticos gerais sejam encontrados em todas as línguas humanas. Do ponto de da GC, no entanto, tais princípios sintáticos inatos não existem: embora naturalmente exista algo como uma natureza humana, elas se manifestam sob a forma de princípios cognitivos gerais, e não sob a forma de propriedades especificamente linguísticas. Isso não significa que a GC negue, por princípio ou por convicção programática, a possibilidade de existência de universais linguísticos – o que acontece, tão-somente, é que a busca por esses universais não faz parte da agenda teórica da GC, uma vez que demonstrar sua existência não é uma necessidade teórica do modelo. Seja como for, a GC está certamente bem equipada para capturar e descrever generalizações interlinguísticas – que, sejam ou não verdadeiramente universais, serão atribuídas a princípios cognitivos e necessidades comunicativas comuns, e não a uma suposta GU inata.

5. SE O CONHECIMENTO LINGUÍSTICO TEM O FORMATO DE UMA REDE CONSTRUÇÕES GRAMATICAIS, É POSSÍVEL IDENTIFICAR TIPOS OU FAMÍLIAS DE CONSTRUÇÕES? ISTO É, EXISTE ALGUM CRITÉRIO PARA AGRUPÁ-LAS EM CLASSES? No capítulo “The Renaissance of constructions” (Thomas Hoffmann), discutido em aula, um critério parece ficar subentendido na própria organização do texto: a seção 2.1 focaliza os “idioms”, a seção 2.2 discute as “partly substantive, partly schematic clausal configurations” e a seção 2.3 trata das “Fully schematic constructions: Argument Structure Constructions”. Como exemplos de “idioms”, Hoffmann cita, de um lado, expressões como “It takes one to know one” (“idioms” substantivos) e “X take NP to task” (“idioms” formais/esquemáticos). Como exemplos de “partly substantive, partly schematic clausal configurations”, o autor menciona a estrutura interrogativa wh- com elemento expletivo (por exemplo, “What the hell/the heck are you/they doing/singing”) e a Construção Comparativa Correlacional (por exemplo, “The more tired Ben was, the more mistakes he made”). Como exemplo de Construções de Estrutura Argumental, são mencionados padrões como a Construção Resultativa (SUJ V OBJ OBL, como em “I laughed myself silly”) e a Construção Bitransitiva (SUJ V OBJ OBJ, como em “John passed her the salt”). Essa classificação, no entanto, parece difícil de sustentar. Em primeiro lugar, porque, se tomarmos “idioms” como expressões/padrões que apresentam algum tipo de irregularidade (como fazem Fillmore e colegas (1988)), então as construções da seção 2.2 também são “idioms”. Em segundo lugar, é certo que alguns dos exemplos apresentados na seção 2.1, como “X take NP to task” certamente também são “partly schematic, partly substantive”, e também podem plausivelmente ser tidos como “clausal configurations”. Por essas duas razões, parece difícil estabelecer uma distinção clara entre os dois primeiros tipos de construções discutidos por Hoffmann: afinal,

alguns “idioms” são “partly substantive, partly schematic” e as “clausal configurations” discutidas também são idiomáticas (isto é, apresentam irregularidade)5. Parece possível, por outro lado, conceber classificações baseadas no tipo de significado/função expresso pela construção. Assim, se as Construções de Estrutura Argumental expressam “cenas básicas da experiência humana” (GOLDBERG, 1995), isto é, tipos de eventos (movimento, transferência de posse, etc.), é possível imaginar uma família das Construções de Estrutura Informacional, responsáveis pelo empacotamento discursivo da informação, ou ainda uma família das Construções de Intersubjetividade, que atuem regulando a negociação intersubjetiva entre os participantes da interação (por exemplo, a construção É BOM/MELHOR X, como em “É bom você me respeitar”; a construção VÊ SE X, como em “Vê se ele fica arrumando confusão por aí”; a construção (X) O OUTRO (Y), como “Lá vem o outro”, “Olha o outro querendo aparecer”; a construção QUERO VER X, como eu “Quero ver ele me bater agora”; a construção “Bem que X”, como em “Bem que você avisou que ia chover”, etc.), dentre muitas outras famílias construcionais possíveis. Seja como for, é preciso lembrar que todas essas classificações não têm propriamente estatuto teórico dentro do modelo – seu caráter é, por assim dizer, apenas didático. Isso significa, em outras palavras, que tipologias dessa natureza têm tão-somente o objetivo de ajudar o analista a organizar o inventário de construções que compõe o conhecimento linguístico do falante e a expressar generalizações a partir delas. Em outras palavras, elas ajudam a responder à nossa pergunta central: o que o falante sabe quando sabe uma língua?

6. O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM AS CONSTRUÇÕES DE ESTRUTURA ARGUMENTAL (CEAs)? Conforme observado de passagem acima, Construções de Estrutural Argumental (CEAs) são construções gramaticais (pareamentos forma/significado, portanto) que apresentam as seguintes características: (i) do ponto de vista formal, são abertas, isto é, não têm preenchimento fonológico; (ii) do ponto de vista semântico, codificam um evento e seus participantes (“cenas básicas da experiência humana”, nos termos de Goldberg (1995)). O estudo desse tipo de construção foi popularizado sobretudo por Adele Goldberg, em sua obra Constructions: a construction grammar approach to argument structure (GOLDBERG, 1995). Sentenças como as seguintes evidenciam a necessidade de postular CEAs: (1) He sneezed the napkin off the table (2) He stared her into immobility 5

Na verdade, parece ficar implícito na divisão de Hoffmann que o autor está restringindo o emprego do termo “idiom” a usos de natureza figurativa. Esse emprego, no entanto, diverge daquele encontrado no tratamento clássico dos “idioms” em GC, a saber, aquele encontrado em Fillmore e colegas (1988).

(3) Could he shriek himself unconscious?

Exemplos desse tipo são particularmente importantes na argumentação em favor da existência de CEAs porque parte dos argumentos da oração não podem ser atribuídos ao próprio verbo (“sneeze”, por exemplo, é um verbo inergativo, de modo que o objeto direto e o oblíquo não podem ter sido projetados por ele). De onde esses argumentos vêm, então? A resposta da GC é clara: eles vêm da própria Construção de Estrutura Argumental (que é, como já ficou dito, um padrão abstrato, isto é, sem preenchimento fonológico). No caso de (1), trata-se da Construção de Movimento Causado, que prevê três argumentos: o sujeito (NP), o objeto (NP) e o oblíquo (PP)6. A ideia aqui, portanto, é a de que o próprio esqueleto sintático tem existência independente como parte do conhecimento gramatical do falante. Com uma ressalva: não se trata simplesmente de um esqueleto sintático, mas de um esqueleto sintático-semântico – afinal, se partimos do princípio de que se trata de uma construção, temos que assumir, necessariamente, que essa entidade conta com tanto um polo formal quanto com um polo semântico. Com efeito, uma das ideias centrais do tratamento goldbergiano é a de que as CEAs especificam, no seu polo semântico, os chamados papéis argumentais (“argument roles”), como agente, paciente, alvo, etc. Neste ponto, é importante ter em mente que, embora os nomes dos papéis argumentais lembrem os papéis temáticos tradicionais, existe uma diferença fundamental entre as duas noções: os papéis argumentais das CEAs são definidos em função de cada construção (eles são “construction-specific”), o que faz com que tendam a ser mais específicos que os papéis temáticos tradicionais (GOLDBERG, 2006). CEAs apresentam, portanto, como toda construção gramatical, dois polos: o polo da forma e o polo do significado. No primeiro, temos informações como o número de argumentos, os tipos de sintagmas (NP, PP, etc.) e a relação gramatical de cada um (sujeito, objeto, oblíquo); no segundo, temos as informações relativas aos papéis argumentais. Mas isso não é tudo. Naturalmente, nenhum falante abre a boca para produzir um enunciado como SUJ /AGENTE V OD/TEMA OI/RECIPIENTE: é preciso que esse esqueleto sintático-semântico – isto é, a Construção de Estrutura Argumental – seja preenchido por itens lexicais específicos (como os itens João, deu, flores, para e Maria). Nesse 6

A linguística funcional-cognitiva tende a desconsiderar a existência dos chamados “sintagmas com núcleos funcionais”, por assumir que se trata de constructos descritivos que foram desenvolvidos para resolver problemas internos da tradição gerativa. Isto é, assume-se que constructos como o DP, o IP e outros se justificam apenas intra-teoricamente. Como, na linguística funcional-cognitiva, os problemas que motivaram a postulação desses sintagmas não chegam a emergir, tampouco é necessário (ou desejável) postular a existência desse tipo de sintagma.

processo, o verbo tem papel particularmente importante, já que, segundo o tratamento goldbergiano (GOLDBERG, 1995), ele conta com seus próprios papéis semânticos, os quais são referidos tecnicamente como papéis participantes (“participant roles”). Esses papéis, é preciso deixar claro, são mais específicos que os papéis argumentais, já que são específicos para cada verbo particular (por exemplo, os papéis participantes de “cortar” são “cortador” e “coisa cortada”, enquanto os de “rasgar” são “rasgador” e “coisa rasgada”)7. Tanto para os papéis participantes quanto para os papéis argumentais, Goldberg (1995) postula uma distinção entre papéis perfilados e papéis não-perfilados. A noção de perfilamento advém da Cognitive Grammar de Ronald W. Langacker (LANGACKER, 1987; 1991; dentre outros) e diz respeito, ao menos em sua formulação original, ao grau de proeminência conceptual dos elementos em uma cena: assim elementos perfilados são aqueles mais proeminentes, ao passo que a base compõe a parte não-perfilada da cena conceptualizada. No tratamento goldbergiano, contudo, a perspectiva langackeriana se soma a critérios de natureza formal. Especificamente, a autora sustenta que papéis participantes perfilados podem ser reconhecidos por serem obrigatoriamente expressos sintaticamente ou contextualmente identificáveis (ao passo que os papéis participantes não-perfilados podem não ser sintaticamente expressos mesmos sem serem contextualmente identificáveis). Para os papéis argumentais, por outro lado, a lógica é outra: papéis argumentais perfilados são aqueles expressos por “argumentos sintáticos nucleares” (isto é, sujeito e objeto), ao passo que os não-perfilados são aqueles expressos por argumentos não-nucleares (categoria que é identificada com os oblíquos). Naturalmente, a existência de duas “grades de subcategorização” – a da CEA, com seus papéis argumentais, e a do verbo, com seus papéis participantes – leva à necessidade de se desenvolver princípios que regulem a interação entre item concreto e construção abstrata. Goldberg (1995) propõe dois princípios com essa função: o Princípio da Coerência Semântica e o Princípio da Correspondência. Enquanto o primeiro postula que papéis participantes (dos verbos) só podem se fundir com papéis argumentais (da CEA) com os quais sejam semanticamente compatíveis, o segundo sustenta que papéis participantes perfilados e lexicalmente expressos só podem com um papel argumental perfilado8.

7

O tratamento goldbergiano, portanto, não substitui uma sintaxe baseada no verbo por uma sintaxe baseada na construção. O que se postula é uma divisão de tarefas entre verbo e construção; evidências experimentais dessa divisão podem ser vistas em 8

Exceção feita aos casos com três papéis participantes perfilados e lexicalmente expressos, já que só existem dois papéis argumentais perfilados disponíveis.

7. QUE QUESTIONAMENTOS PODEM SER FEITOS À ABORDAGEM DE GOLDBERG (1995)? Thomas Hoffmann, em The renaissance of constructions, levanta três questionamentos: a mistura de critérios para distinção entre papéis perfilados e não-perfilados; o problema da supergeneralização; e o problema da ordem linear dos constituintes. O primeiro problema pode ser sintetizado da seguinte forma: se o conceito de perfilamento é, em sua formulação original, exclusivamente semântico, os critérios operacionais desenvolvidos por Goldberg (1995) implicam o acréscimo de considerações de natureza formal (como vimos no item anterior). Como mostra Croft (2012), essa mescla de critérios acarreta problemas empíricos, já que pode levar à postulação de verbos sem qualquer participante perfilado. O segundo problema, provavelmente o mais sério e mais insistentemente apontado, diz respeito ao risco de supergeneralização: muitos autores têm notado que a abordagem de Goldberg (1995) frequentemente incorre nesse problema, na medida em que “não é capaz de explicar por que algumas construções verbais são às vezes incompatíveis com certas Construções de Estrutura Argumental” (Hoffmann, “The renaissance of constructions”). Com efeito, Boas (2003), em estudo sobre construções resultativas, observa que o tratamento de Goldberg (1995) produz supergeneralizações como as seguintes: (1) *Kelly broke the dishes off the table. (2) *They insulted John out of the room. (3) *Dawn played the videograme broken. Em tese, os mecanismos do modelo goldbergiano responsáveis por evitar o licenciamento de sentenças impossíveis são o Princípio da Coerência Semântica e o Princípio da Correspondência. No entanto, em The renaissance of constructions, Hoffmann destaca que esses princípios são, para dizer o mínimo, insuficientes. Para demonstrar esse ponto, o autor contrasta as seguintes sentenças: (4) The lawn gleamed with dew. (5) *The lawn sprayed with water. Aqui, o ponto de Hoffmann é o de que os princípios propostos por Godlberg não dão conta de explica a impossibilidade de (5): nem o Princípio da Coerência Semântica nem o Princípio da Correspondência permitem prever a má-formação da sentença (5). Então, como resolver? Iwata (2005; 2008) ficou conhecido pela insistência na tese de que o modelo goldbergiano negligencia a semântica verbal, tratando-a “simplesmente como uma lista

de papéis participantes” (IWATA, 2005, p. 102)9. A solução passaria, portanto, por uma descrição mais detalhada das cenas descritas pelos diferentes verbos. Ao aplicar essa ideia à construção locativa com “with” (por exemplo, “He sprayed the wall with paint”), o autor argumenta pela necessidade de distinguir entre diferentes classes de verbos que podem instanciar a construção. Dentre eles, duas são particularmente relevantes: os verbos do tipo “cover” (que produzem a interpretação de que uma superfície foi coberta, como em “He sprayed the wall with paint”) e os verbos do tipo “fill” (que produzem a interpretação de que um contêiner foi preenchido, como em “Bill loeaded trhe truck with hay”). A proposta de Iwata tem, como o próprio autor reconhece, um impacto interessante e bem-vindo no que diz respeito à arquitetura do conhecimento gramatical. Sob uma ótica construcionista, a análise mais detida da semântica do verbo, que resulta na identificação de classes verbais mais específicas, se traduz facilmente em termos de uma rede taxonômica de construções, das mais abstratas às mais concretas. Assim, Iwata (2008) propõe a existência de uma construção mais abstrata, associada à semântica mais geral de mudança de estado, que estaria ligada a outras construções mais específicas, como uma construção com semântica de cobrir e outra com semântica de encher (note-se que tanto “cobrir” quanto “encher” são formas de mudança de estado). Para além dessas construções que especificam classes verbais, Iwata reconhece ainda a existência de construções associadas a verbos particulares (por exemplo, NP SPRAY NP e NP LOAD NP). Neste ponto, é importante notar que essa solução – que em alguns momentos foi chamada de “léxico-construcional” (BOAS, 2003; IWATA, 2008)10 – é inteiramente convergente com a arquitetura da Gramática de Construções Baseada de Uso, na medida em que se assume que o conhecimento linguístico do falante pode ser representado por uma rede, em larga medida redundante, cujos elementos componentes são construções pertencentes a diferentes níveis taxonômicos: das mais abstratas / inespecíficas / abertas às mais concretas / específicas / preenchidas11. Em suma, o problema da supergeneralização, presente no tratamento seminal de Goldberg (1995) para as CEAs, é hoje evitado, no âmbito da Gramática de Construções Baseado no Uso, por meio da postulação de construções de nível mais baixo (“lowerlevel constructions”), conforme sugerido por um amplo leque de autores (LANGACKER, 1987; CROFT, 2001; BOAS, 2003; IWATA, 2008; dentre muitos outros). Para levar a cabo 9

Para uma avaliação desse problema no português, ver Pinheiro (2015).

10

A meu ver, o adjetivo composto “léxico-construcional” – por exemplo, em “abordagem léxicoconstrucional” ou “tratamento léxico-construcional” – não se justifica: dado que palavras também podem ser (e frequentemente são) entendidas como construções (pareamentos forma/significado), a expressão “abordagem construcional” já dá conta da contribuição dos “itens lexicais” (isto é, palavras), capturados, a rigor, sob a forma de microconstruções (por exemplo, AGENTE PAINT TEMA RESULTADO). 11

Iwata (2008) reconhece explicitamente o caráter “usage-based” da sua proposta: “An immediate consequence of this usage-based view is that since schemas are available at varying degrees of abstraction, constructions should be available at varying levels of abstraction. So I follow Croft (2001, 2003) in introducing such lower-level constructions as verb-specific constructions and verb-class-specific constructions” (IWATA, 2008, p. 36).

esse tipo de análise, é necessário, como alerta reiteradamente Iwata (2005; 2008), dedicar maior atenção à descrição da semântica do verbo do que o que se verifica em Goldberg (1995). Por fim, o terceiro questionamento ao modelo goldbergiano original diz respeito à ordem dos constituintes. Em The renaissance of constructions, Hoffmann comenta que as CEAs, tais como definidas em Goldberg (1995), parecem especificar uma ordem linear fixa. No entanto, Müller (2006) observa que, em alemão, existe grande flexibilidade de ordenação. Abaixo podem ser vistos dois exemplos; (6) a. Er fischt den Teich schnell leer. he fishes the pond quickly empty. b. Den Teich fischt er schnell leer. the pond fishes he quickly empty. Como dar conta dessa flexibilidade, sob uma ótica construcionista? Hoffmann observa que, em muitos casos, basta postular que as CEAs são não-marcadas quanto à ordem linear (ou seja, elas especificam apenas as relações de dominância sintática) e então sugerir que essa ordem será determinada pela combinação da CEA com outras construções – como, por exemplo, “uma construção de estrutura informacional que especificaria que o constituinte pré-verbal em (6)12 recebe interpretação de tópico” (Hoffmann). O autor, no entanto, nota que essa solução não se aplica ao caso da voz passiva, que implica alteração da relação sintaxe-semântica (isto é, o alinhamento entre papéis argumentais e relações gramaticais não é o mesmo na voz passiva e na voz ativa). Para esse caso, então, existem duas alternativas atualmente disponíveis no mercado teórico da GC. A primeira, associada à GC formalista, assume que a Construção Passiva e diversas CEAs (como, por exemplo, a Construção Resultativa) são construções lexicais unárias13. Assim, a Construção Resultativa toma uma construção verbal (como cut) e 12

No original, (57).

13

Fillmore (2013, p. 116) explica o que são “construções unárias” na Berkeley Construction Grammar:

“Sometimes a word that comes ‘off the shelf ’ with certain properties can nevertheless be ‘used as’ a word with different properties, and to account for such phenomena we allow nonbranching constructions—we borrow the word pumping from Sign-based Construction Grammar (SBCG) (Sag 2011; Michaelis, this volume)—which ‘create’ lexemes from lexemes. Such constructions assume an asymmetry between the two uses, the judgment that one sense of the word is basic and the other somehow exploits that basic sense as a semantic component. Intuitively it is more natural to think that the meat we call chicken is based on the name of the animal that provides it, than to believe that the animal name is derived from the name of the foodstuff. There are unary constructions that derive count nouns from mass nouns: one of these takes names of substances and produces nouns that designate portions or servings of these (Figure 7.4, example (7a)); another takes names of substances and produces nouns that name varieties of these (example (7b)). (7) a. Two beers please. b. Proud to be serving some fine local beers.”

licencia um verbo resultativo (algo como cut SUBCAT
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