Turbulências na integração regional: MERCOSUL à deriva

May 24, 2017 | Autor: C. Pereira da Sil... | Categoria: Latin American Studies, International Economics, International Relations, Latin American politics, International Political Economy, Economic integration, International Economic Relations, Mercosur/Mercosul, Relaciones Internacionales, Economia Política, Relações Internacionais, História da Política Externa Brasileira, Integración Regional, America Latina y el Estado democratico de derecho, Politica Externa brasileira no governo lula, La política exterior del gobierno de Cristina Kirchner: una típica política peronista del siglo XXI, Política Externa Brasileira, Fernando Lugo, Bolivarian Revolution, América Do Sul, Integração Regional, Chavismo, Sur América, Macri, Democracia En América Latina, Donald Trump, Nicolás Maduro, Política no Brasil Governo Lula e Dilma, Economic integration, International Economic Relations, Mercosur/Mercosul, Relaciones Internacionales, Economia Política, Relações Internacionais, História da Política Externa Brasileira, Integración Regional, America Latina y el Estado democratico de derecho, Politica Externa brasileira no governo lula, La política exterior del gobierno de Cristina Kirchner: una típica política peronista del siglo XXI, Política Externa Brasileira, Fernando Lugo, Bolivarian Revolution, América Do Sul, Integração Regional, Chavismo, Sur América, Macri, Democracia En América Latina, Donald Trump, Nicolás Maduro, Política no Brasil Governo Lula e Dilma
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Turbulências na integração regional: MERCOSUL à deriva Carlos Frederico Pereira da Silva Gamai Publicado por NEMRI em 27 de Janeiro de 2017 https://nemrisp.wordpress.com/2017/01/27/turbulencias-na-integracao-regionalmercosul-a-deriva/ 1992. A Nova República vivia crise de proporções inéditas. No semestre do impeachment de Fernando Collor, o Brasil ocupava a presidência temporária do MERCOSUL. Itamar Franco chegou ao Planalto como incógnita: desconhecido da população brasileira, classificou seu próprio ministério de “pífio”. Apesar disso, o MERCOSUL permaneceu sob presidência brasileira até 1993. Uma década depois, a Argentina vivia outra crise sem precedentes – saques, mortes, queda de 10% no PIB, cinco presidentes na Casa Rosada em duas semanas. O status da Argentina no MERCOSUL, porém, não foi afetado nesse período turbulento. Entretanto, em 2016 o MERCOSUL suspendeu um estado que assumiria a presidência do bloco. A Venezuela de Nicolás Maduro foi impedida por um movimento concertado dos governos de Brasil, Argentina e Paraguai (com apoio relutante do Uruguai). A suspensão da Venezuela foi justificada pela não-adesão a mecanismos de convergência previstos no Tratado de Assunção, pela grave crise político-econômica do país e por seu déficit democrático (com prisões políticas e restrições à participação da oposiçãoii amplamente condenadas por instituições como a OEA). Essa suspensão não foi o primeiro grande revés na integração mercosulina. A Venezuela adentrou o bloco num contexto turbulento. Em 2012, outro membro teve sua participação suspensa numa crise política: o Paraguai, após o impeachment-relâmpago de Fernando Lugo. A decisão do Senado paraguaio provocou repúdio imediato. Lugo também presidia, na ocasião, a UNASUL, instituição que rechaçou o novo governo. A Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou ilegal o impeachment, por violar o direito amplo à defesa. A resposta mais contundente coube ao MERCOSUL, sob a liderança do Brasil. O Paraguai foi suspenso do bloco que fundou. A suspensão permitiu que os demais membros formalizassem a adesão da Venezuela de Hugo Chávez. A ação brasileira – decisiva para a suspensão do Paraguai – foi motivada por uma grande estratégia. Visava cooptar e neutralizar uma liderança emergente na América Latinaiii. Após uma década de crescimento calcado no petróleo, a Venezuela chavista projetava influência através da UNASUL e da Aliança Bolivariana para as Américas. Ademais, a política externa “ativa e altiva” de Lula buscou criar um polo alternativo à influência dos Estados Unidos. Para tal, um MERCOSUL robusto incluindo a Venezuela se coadunava com o repúdio a uma área de livre comércio de âmbito continental. O fracasso da estratégia brasileira de utilizar o MERCOSUL como instrumento de contestação e a decadência econômica da Venezuela após a morte de Chávez conferiram tintas dramáticas aos limites da integração regional. Com a posse de Donald Trump e suas primeiras ações rumo a um bilateralismo punitivo, a tarefa de reerguer o MERCOSUL se torna mais difícil no futuro próximo.

Após atingir o auge no fim do século XX, em 2016 o MERCOSUL representa apenas 1/7 do comércio dos membrosiv. Menos de 10% da produção industrial é oriunda de cadeias regionais de produçãov. Com as principais economias da região em recessão, a tendência de declínio se aprofundou. As suspensões do Paraguai e da Venezuela evidenciam uma característica central do MERCOSUL – a integração se baseia nos governos nacionais. O MERCOSUL adquiriu, nesses termos, uma saliência política desproporcional a seu peso econômico. Carente de sustentação na sociedade civil e grupos de interesses, o processo de integração é muito sensível a solavancos presidenciais. Diferentes concepções de democracia dos membros vem à tona nas situações de crise. Durante a “onda rosa”, governos de matriz conservadora foram rechaçados pelo bloco. Com a mudança da maré política, a permanência da Venezuela chavista no MERCOSUL se tornou inviável. Nessa integração de baixa intensidade, os impasses se acirram rapidamente e são deixados em banho-maria. A crise venezuelana é apenas o capítulo mais recente da narrativa que inclui a disputa das papeleras entre Argentina e Uruguai e a lenta adesão aos mecanismos previstos nos tratados. Com suas instituições fragilizadas em rota de colisão, a América Latina se vê numa situação desconfortável 190 anos após o Congresso do Panamá de Simón Bolívar e seis décadas após a ALALC. Os impulsos de integração cederam terreno para a desintegração, num ritmo mais rápido que outra região imersa em crises econômicas e humanitárias – a Europa do Brexit. Ironicamente, a grande esperança do MERCOSUL em futuro próximo é um acordo de comércio e investimentos com a União Europeia, travado há décadas por controvérsias sobre acesso a mercados entre Brasil e Argentina O MERCOSUL de 2016 desagrada a gregos e troianos. A harmonização econômica permanece distante. Aspirações antigas (uma moeda comum) saíram de pauta. Os impasses prejudicam as expectativas de protagonismo de Brasil e Argentina. Mesmo governos de perfil similar – Michel Temer e Maurício Macri – têm que lidar com transformações no perfil internacional dos seus países. O fim do overprice das commodities não facilitou a parceria regional. Ao invés de unir esforços para aumentar competitividade conjunta, os países disputam acesso a mercados externos e perdem de vista sinergias em suas matrizes produtivasvi. A disputa se acirrou nos governos Dilma Rousseff e Cristina Kirchner (culminando no congelamento das negociações com a UE). Não é surpreendente que acordos flexíveis com países extrabloco se tornem mais atraentes – como as investidas uruguaias na direção da China. O MERCOSUL tornou seus membros mais vulneráveis uns aos outros e menos abertos ao mundo exterior. Um paradoxo incompatível com as expectativas e esforços mobilizados desde a reaproximação iniciada por José Sarney e Raúl Alfonsín em 1985. Sem criatividade e vontade política, a integração regional sofrerá. i

Diretor de Assuntos Internacionais e Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) ii Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). "Brasil e Venezuela: Democracia em Descompasso". SRZD. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/264466 . Acesso em: 23 de Junho de 2016. iii Ibid. iv Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). "Diálogos Indiretos: Brasil e Argentina redefinem uma relação em crise". NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/02/19/dialogos-indiretosbrasil-e-argentina-redefinem-uma-relacao-em-crise/. Acesso em: 19 de Fevereiro de 2016.

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Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). "Do G-20 à Cúpula dos BRICS: Inflexões da Economia Internacional Após a Crise de 2008". NEMRI. Disponível em: https://nemrisp.wordpress.com/2016/10/18/do-g-20-a-cupula-dos-brics-inflexoes-da-economiainternacional-apos-a-crise-de-2008/. Acesso em: 18 de Outubro de 2016. vi Gama, Carlos Frederico Pereira da Silva (2016). "Diálogos Indiretos: Brasil e Argentina redefinem uma relação em crise"

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