Turismo Cultural no Norte de Portugal

June 3, 2017 | Autor: Greg Richards | Categoria: Cultural Tourism, Portugal, Turismo e Cultura, Turismo Cultural
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Descrição do Produto

Turismo Cultural no Norte de Portugal

Carlos Fernandes
Laboratório de Turismo
Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Portugal
[email protected]

Greg Richards
Fundació Interarts, Spain
[email protected]



Abstract

The recent growth of cultural tourism from a marginal activity to an
important sector of the tourism market is a direct consequence of social
change during recent decades. Tourism as a whole has become a mass
consumer market, thanks to the democratisation of society. Tourism has
become an essential element of everyday life in the developed world, and is
seen by many as a 'social right' (Richards, 1998). Now that so many people
exercise their 'right' to vacations, it is increasingly important not just
to go away on holiday, but also to experience something special, something
that can distinguish them from the rest of the tourist hordes. The
cultivated tourist of the past has often moved on to more remote and exotic
destinations now that everyone is descending on Paris and Rome. The modern
cultural tourist now sees cultural consumption as a means of distinguishing
themselves from the mass tourist, even if they visit the same destinations.
Growing interest in culture has therefore caused cultural tourism to become
an identifiable market segment, but there are also a wide range of other
demand and supply related factors which have played a role in this
development.

The importance of this market for the development of tourism and cultural
attractions has created a need for information on the characteristics,
behaviour and motivations of cultural tourists. Over the past decade, the
ATLAS Cultural Tourism Research Programme (CTRP) has attempted to monitor
this market through visitor surveys and studies of cultural tourism
policies and suppliers. Successive surveys have illustrated how rapidly
this market is developing and changing, underlining the need for regular
monitoring.

The Polytechnic Institute of Viana do Castelo (Portugal) participated in
the consumer research conducted in 2001. Part of the results are presented
in this paper, and propose a wide vision of Cultural Tourism in Northern
Portugal, e.g. motivations for the visit, accommodation used, travel
arrangement, length of stay, marketing data and visitor profile.


Resumo

A recente passagem do turismo cultural de actividade marginal a um sector
importante do mercado turístico é uma consequência directa da mudança
social verificada nas últimas décadas.

O turismo como um todo transformou-se num mercado de consumo de massas,
graças à democratização da sociedade. Tornou-se um elemento essencial ao
quotidiano do mundo desenvolvido, sendo encarado por muitos como um
"direito social" (Richards, 1998). Nos dias de hoje, em que tantas pessoas
exercem o seu "direito" a férias, torna-se cada vez mais importante não só
ir de férias, como também experimentar algo especial, algo que nos possa
distinguir do resto das massas turísticas. O turista cultural do passado
passou a preferir destinos mais remotos e exóticos, agora que qualquer um
vai a Paris ou a Roma. O turista cultural moderno vê o consumismo cultural
como uma forma de se distinguir do turista de massas, mesmo quando visitam
os mesmos destinos.

A importância deste mercado para o desenvolvimento do turismo e das
atracções culturais levou à necessidade de informação sobre as
características, os comportamentos e as motivações dos turistas culturais.
Durante a última década, o Programa de Pesquisa sobre Turismo Cultural da
Association for Tourism and Leisure Education (ATLAS) tem tentado analisar
este mercado através do estudo dos visitantes, das políticas e dos
fornecedores de turismo cultural. Estudos sucessivos têm mostrado como este
mercado se está a desenvolver e a mudar rapidamente, acentuando a
necessidade de uma análise regular.

A Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana
do Castelo participou na pesquisa de mercado realizada em 2001, cujos
resultados são aqui, parcialmente, apresentados, propondo uma visão ampla
do Turismo Cultural no Norte de Portugal, nomeadamente em termos de
motivações, tipologia de alojamento, organização da viagem, duração da
estadia, dados de marketing e perfil dos visitantes.


Enquadramento Teórico

Vários investigadores aliaram o crescimento do turismo cultural ao
crescente interesse geral pela "cultura" como um todo. Autores como Urry
(1990) e Dann (1994) são de opinião que a alienação da sociedade moderna
causou um forte sentimento de nostalgia pelo passado. A vida moderna não dá
às pessoas o sentido que elas precisam para as suas vidas, sendo assim
forçadas a procurar sentido e autenticidade em outro lugar. Isto poderá
significar viajar no tempo, regressar a formas mais simples de viver que
muitas pessoas relembram ainda do seu próprio passado ou que nos são
apresentadas ou romantizadas pela literatura.

Contudo, a cultura não se limita à história. A procura de outras formas
culturais—teatro, artes visuais, visitas a museus—tem vindo a aumentar
gradualmente. Muitas destas formas culturais requerem um elevado nível de
formação e capacidade cultural, em suma de "capital" cultural. Daí a
maioria dos participantes neste tipo de turismo ter um grau de escolaridade
elevado. A participação cultural foi, assim, estimulada pelo crescimento no
nível do ensino superior registado nos últimos 30 anos. A "nova classe
média" com formação superior aumentou consideravelmente nas últimas
décadas, representando uma fonte importante para o turista cultural pós-
moderno (Munt, 1994).

Muitos autores identificaram, igualmente, o envelhecimento populacional
como um factor de peso no crescimento do turismo cultural. Os idosos
demonstram um interesse maior pela cultura, dispondo ainda de mais tempo e
dinheiro para as suas viagens culturais. Tendem a interessar-se
particularmente pelo património cultural (museus e monumentos) e por
ambientes rurais, enquanto que os visitantes mais jovens parecem demonstrar
mais interesse pela cultura contemporânea e preferência por ambientes
urbanos com uma vasta oferta de animação.

Actualmente, qualquer região ou cidade da Europa está empenhada no
desenvolvimento de produtos turísticos culturais, por os considerarem um
sector em crescimento no mercado turístico, passível de gerar rendimentos e
empregos. A utilização da cultura como base para o desenvolvimento
turístico tem a vantagem desta poder encontrar-se em qualquer lugar.
Acontece que a maior parte dos políticos está também convencida de que a
sua localidade, o seu município, a sua região ou o seu país tem algo de
atractivo diferenciado e único para oferecer. A cultura local é, por outro
lado, encarada como uma forma de defesa contra as forças da globalização e
da homogeneização da cultura.

A cultura é encarada, então, como um factor de atracção, passível de
convencer os turistas a visitarem uma determinada localidade e com a
vantagem de ser uma forma de turismo de special interest, susceptível de
fomentar o turismo para destinos não convencionais e na época baixa. A
Comissão Europeia encara o turismo cultural como um excelente meio para
potenciar o turismo, quer em termos de tempo, quer em termos de espaço,
reduzindo o congestionamento turístico e a sazonalidade (Comissão Europeia,
1995).

A combinação dos factores da procura e da oferta levou à identificação do
turismo cultural como um importante mercado em crescimento na Europa. Este
facto torna-se evidente através do desenvolvimento de políticas de turismo
cultural levado a efeito em muitas áreas, incluindo a Comissão Europeia. Em
1990, no primeiro Plano de Acção para o Turismo, a Comissão Europeia
identificou o turismo como um segmento de mercado importante, enfatizando
ainda mais o factor cultura no Green Paper on Tourism (Comissão Europeia,
1995) e no desenvolvimento do programa Cultura 2000 para o património
cultural.

Definiu-se conceptualmente turismo cultural como "o movimento de pessoas
para atracções culturais longe da sua área de residência habitual, com a
intenção de adquirir nova informação e novas experiências para satisfazer
as suas necessidades culturais" (Richards, 2001). Realizaram-se estudos
adicionais sobre as motivações dos visitantes em atracções culturais de
diferentes países europeus (van 't Riet, 1995; Fernandes and Sousa, 2000;
Richards, Goedhart and Herrijgers, 2001).

Estudos realizados pela ATLAS e por outros investigadores sublinharam a
importância de "aprender" como um motivo para o turismo cultural. A
pesquisa de 1997 indica, contudo, que o conceito de aprendizagem é
interpretado de forma bastante lata. À deslocação para experimentar coisas
novas é particularmente relevante (de Cauter, 1995). Os turistas culturais
da amostra são mais passíveis de se motivarem pela aprendizagem de coisas
novas e por novas experiências do que outros visitantes.

As distinções que existiam entre cultura e turismo, entre turistas
culturais e turistas de "massas", estão a desaparecer rapidamente, face à
diferenciação de variadas esferas sociais e económicas. A pesquisa ATLAS
indica que um grande número de pessoas participa no turismo cultural e que
pessoas consideradas "turistas culturais" durante umas férias, enveredam,
geralmente, por outras formas de turismo em ocasiões seguintes. Afigura-
se, por isso, cada vez mais difícil falar de "turistas culturais" ou de
"atracções culturais" – todos os turistas consomem elementos de cultura e
todas as atracções ou destinos oferecem alguma forma de produto cultural.

Nesta cultura do turismo, as férias constituem um meio de expandir os
horizontes individuais e de desenvolver a nossa própria identidade. As
pessoas ganharam mais experiência ao tirarem e gozarem férias, pelo que não
se trata simplesmente de "ir para fora". Assume-se de renovada importância
agrupar o máximo de "experiências" possíveis num só período de férias. A
experiência de férias, por si só, é de tal forma importante, que começou a
expandir-se para o nosso quotidiano, através de uma série de programas
televisivos e da criação de uma atmosfera festiva em muitas grandes
cidades.


Metodologia

O alvo da pesquisa de 2001 foi a análise da motivação, do perfil sócio-
demográfico e dos padrões de consumo dos turistas que procuram atracções e
eventos culturais. O objectivo principal era identificar as principais
motivações dos turistas culturais para visitar atracções e locais culturais
específicos.

Para atingir este objectivo, a recolha de informação foi levada a cabo
através de um questionário padrão, traduzido para diversas línguas, com a
possibilidade de ser preenchido pelo próprio turista ou através de
entrevista. O questionário baseou-se no questionário original da ATLAS,
acrescido de um conjunto de melhorias feitas com base na experiência das
pesquisas de 1992, 1997 e 1999.



Os inquéritos foram administrados durante os meses de Junho a Setembro de
2001, em alguns concelhos do Norte de Portugal, nomeadamente Amares,
Bragança, Maia, Porto, Viana do Castelo e Vila Real, com uma amostra
representativa de 832 visitantes inquiridos, de diferentes nacionalidades,
procurando atracções e eventos culturais. Os locais de recolha de
informação foram escolhidos de forma a proporcionarem um número mais vasto
de locais, de tipo de atracções e de localizações. Pretendeu-se que o
questionário incidisse sobre as seguintes áreas:

Motivação do Visitante Tipo de motivação
Importância da atracção cultural na motivação do
visitante
Visitas anteriores

Tipo de férias


Actividades realizadas Tipo de alojamento
Forma de Viagem (pacote turístico; viagem independente)
Canais de Marcação (Agência de Viagens/ Operador
Turístico/ONT)
Duração da estadia
Gastos no local de destino

Padrões Turísticos Numero de férias de longa/ curta duração
de Consumo Tempo disponível/ usual para férias

Dados de Marketing Uso dos média, internet

Perfil do visitante Idade
Emprego (incluindo ocupações culturais)
Educação
Área/ país de residência
Sexo


Análise dos Dados

Quem são os turistas culturais no Norte de Portugal?


Características sócio-demográficas





A distribuição dos inquiridos por sexo encontra-se relativamente
equilibrada, distribuindo-se equitativamente entre o masculino (51,2%) e o
feminino (48,8%). O grupo etário dos inquiridos é assim representado: 16-19
(3,3%), 20-29 (20%), 30-39 (28,5%), 40-49 (21,2%) e 50-59 (18,9%) e mais de
60 anos (6,9%). Se considerarmos que a classe dos adultos engloba os
inquiridos dos 30 aos 59 anos, verifica-se serem estas as faixas etárias
predominantes e, como tal, uma grande parte dos visitantes inquiridos
pertenciam à classe dos adultos. Uma percentagem bastante significativa dos
visitantes inquiridos possui um nível de formação superior, nomeadamente,
licenciatura (24%), bacharelato (20%) e pós-graduação (9%). Não obstante se
salientar a formação superior, cerca de 40% dos inquiridos tem, apenas,
ensino secundário. Na sua maioria, os inquiridos encontram-se activos
profissionalmente, quer por contra de outrém (55,2%), quer como
trabalhadores independentes (17,7%). Entre estes, destacam-se os seguintes
grupos profissionais: Profissional (médico, advogado, professor... 37,3%),
profissões técnicas (técnico, enfermeiro.... 22,5%), pessoal de vendas e
serviços (18%) e director ou gerente (11,5%). Em termos de ocupação,
salienta-se ainda que cerca de 12,4% dos visitantes inquiridos são
reformados e cerca de 10% estudantes. O nível de formação e a respectiva
profissão dos inquiridos reflectem-se nos seus elevados rendimentos. Assim,
em termos de rendimentos anuais, destacam-se as seguintes categorias: 11
516 - 23 030 Euros (14,9%), 23 031 - 34 545 Euros (18,9%), 34 546 - 46 060
Euros (13,8%) e mais de 57 576 Euros (27,6%). Em termos de nacionalidade
salienta-se que cerca de 43% dos inquiridos são portugueses. De entre os
57% de estrangeiros inquiridos, destacam-se os seguintes países de origem:
Reino Unido (13,3%), Espanha (12%) e França (11%) e Alemanha (4,6%).


Quais são as motivações dos turistas culturais?


De forma a determinar a frequência de visita dos inquiridos, e perceber se
eram visitantes assíduos, foi-lhes colocada a questão se já tinham visitado
anteriormente a atracção/evento em causa. Neste contexto, para uma grande
parte dos inquiridos, era a primeira vez que visitavam a atracção/evento
(68,2%); apenas cerca de 32% já a tinha visitado anteriormente. Destes,
cerca de 80% fê-lo entre 1 a 3 vezes. O estudo das motivações dos
visitantes em relação à visita à referida atracção/evento foi feito através
de 7 afirmações colocadas aos inquiridos, e sobre as quais teriam de
expressar a sua opinião (numa escala de 1 a 5, correspondendo,
respectivamente: 1 a discordo totalmente e 5 a concordo totalmente). Os
resultados mostram que:

- Cerca de 89,2% dos inquiridos concordaram/concordaram totalmente que
visitam a atracção para conhecer a cultura local;
- 86,2% dos inquiridos concordaram/concordaram totalmente que visitam a
atracção para aprender algo sobre a história do local;
- 0s inquiridos visitaram a atracção para aprender algo de novo: 76,3%
concordaram totalmente/concordaram;
- Cerca de 72% dos inquiridos concordaram/concordaram totalmente que
visitam a atracção para experimentar o ambiente do lugar;
- Cerca de 64% dos inquiridos concordaram/concordaram totalmente que
visitam a atracção para relaxar/descansar;
- Cerca de 59% dos inquiridos concordaram/concordaram totalmente que
visitam a atracção para se distrair;
- Os inquiridos visitaram a atracção para acompanhar outras pessoas:
Cerca de 44% discorda totalmente/discorda e 21,2% não tem opinião
formada.

Perante estes resultados, é possível afirmar que as motivações dos
inquiridos, aquando da sua visita à atracção/evento, estão fortemente
associadas à história e cultura local. Bem patente está, ainda, a vontade
dos visitantes inquiridos em aprenderem algo de novo, sendo que a visita
lhes poderia trazer mais valias em termos de conhecimento.

De forma a perceber melhor o tipo de férias que fazem habitualmente, foi
pedido aos visitantes inquiridos, que descrevessem as suas férias,
enquadrando-as nas categorias apresentadas, podendo indicar no máximo duas
categorias. Assim, o tipo de férias que geralmente é feito incide sobre as
seguintes modalidades: sol e praia (43,8%), férias culturais (34,6%),
itinerários (23,9%), recreio no campo (16,9%), "city break" (13,9%),
recreio na montanha (9,2%), desportos de inverno (8,6%), saúde/desporto
(8,4%) e ecoturismo (7,9%).



Em termos individuais, o "sol e praia" é o tipo de férias mais frequente
entre os visitantes inquiridos. Não obstante esta situação, denota-se uma
forte tendência, cada vez mais generalizada, para a prática de férias
associadas a outros motivos, nomeadamente, as férias culturais (34,6%), as
itinerantes (23,9%), o recreio no campo (16,9%) e o "city break" (13,9%).
De facto, as férias com motivos culturais e as itinerantes são, para mais
de metade dos visitantes inquiridos, uma das modalidades praticadas nas
suas férias "usuais". As itinerantes, que cada vez mais aparecem associados
a motivos culturais, revelam-se assim como uma "forma" potencial de turismo
que deve ser incentivada e promovida.

Indagados sobre se já estiveram de férias nos últimos doze meses, as
respostas não apresentaram resultados muito díspares, ou seja, 52% dos
visitantes inquiridos gozou férias no último ano, sendo que os restantes
ainda não o tenham feito. São sobretudo os estrangeiros quem já gozou
férias anteriormente. Dos que já gozaram férias anteriormente, cerca de 88%
fez 1 a 3 vezes férias curtas (1 a 3 noites) nos últimos dozes meses
(respectivamente: 1 vez -29,3%, 2 vezes-33,5% e 3 vezes-25,7%). No que
respeita ao número de férias longas (4 ou mais noites), cerca de 45% fez 1-
3 vezes férias no último ano.

Na sua maioria, os visitantes inquiridos não residem nem trabalham na área
em questão (93%), sendo que a visita à atracção/evento foi, para uma grande
parte, uma motivação importante e muito importante para a decisão de
visitar a área (71,8%).

A identificação das expectativas dos visitantes e das suas percepções sobre
a região é vital para o desenvolvimento de estratégias e políticas para o
turismo em qualquer região e a qualquer nível. Assim, questionados sobre o
grau de satisfação na sua visita à referida atracção/evento, e numa escala
de 1 a 5 (sendo 1=muito insatisfeito e 5=muito satisfeito), a maioria dos
inquiridos considera-se bastante satisfeita (54,8% considera-se satisfeito
e 35,4% muito satisfeito). De forma a melhor percepcionar o grau de
satisfação dos visitantes, calculou-se a média, sendo que esta reflecte o
elevado nível de satisfação dos visitantes, apresentando o valor de 4,19.


Onde vão os turistas culturais?


Para além da atracção/evento em causa, os visitantes inquiridos visitaram
ou pretendem visitar outras atracções e eventos culturais, das quais se
destaca a visita a monumentos (54,9%) e museus (49,9%). Seguem-se as casas
históricas (44%), os centros históricos (32,2%), os festivais (24,8%) e as
galerias de arte (12,1%). Mais de metade dos inquiridos encontravam-se de
férias no momento da entrevista (65,7%), e cerca de 23% faziam um passeio
de um dia. Finalmente, e apresentando percentagens bastante reduzidas,
alguns inquiridos encontravam-se na região para visitar um familiar e/ou
amigo (8,7%) e em negócios ou conferências (2,6%).

Relativamente a esta questão, do principal motivo de férias, salienta-se
alguma diferença de comportamentos entre nacionais e estrangeiros. Assim, o
passeio de um dia é sobretudo um motivo de viagem para os nacionais e,
apesar de uma percentagem significativa de nacionais se encontrar de
férias, são predominantemente os estrangeiros que classificam de férias a
sua estadia na região. Neste contexto, aos visitantes que se encontravam de
férias ou em passeio foi pedido que classificassem as suas férias actuais.
Assim, cerca de 35% dos visitantes considera "culturais" as suas férias,
enquanto 23% as identifica como itinerantes.


Tipo de alojamento


O hotel foi a modalidade de alojamento escolhida por mais de metade dos
inquiridos (52,4%), sendo este o meio preferencial de alojamento tanto para
os nacionais como para os estrangeiros. Salienta-se, no entanto, que uma
percentagem significativa de inquiridos, durante a sua estadia na região,
ficou alojado em casa de familiares e amigos (13%) e na própria casa
(10,4%). Embora com percentagens menos significativas, é ainda de referir
outros meios de alojamento mencionados pelos visitantes inquiridos,
nomeadamente a pensão (8,6%), a tenda/caravana (4,7%), Pousada da Juventude
(3,5%), quarto em casa particular (2,8%) e ainda self-catering (2%). O
número de noites passadas fora de casa variou entre 1 a 3 noites (28%), 4 a
7 noites (20,9%), 8 a 14 noites (24,7%) e 15 ou mais noites (24,7%). Apesar
de se realçar o gozo de férias com um período de 1 a 3 dias, como se pode
verificar, a duração das férias dos visitantes inquiridos distribui-se
quase uniformemente pelos quatro grupos apresentados. No que se refere ao
número de noites que pretendem passar na área onde foram inquiridos,
salienta-se 1 a 3 noites (55,5%); segue-se de 4 a 7 noites (25,8%), 8 a 14
noites (8,3%) e finalmente, apenas cerca de 3,7% pretende ficar 15 ou mais
noites nesta área. As férias destes inquiridos na região são
predominantemente férias curtas, ou seja, uma estada por um período de 1 a
3 noites.


Meio de transporte


No que respeita ao meio de transporte utilizado pelos visitantes para
chegarem à região, destaca-se o carro próprio (36,2%) e o autocarro
(22,3%), logo a seguir o carro alugado (16,4%) e o avião (10,4%). Do
cruzamento do meio de transporte com a nacionalidade dos inquiridos, é
possível constatar que a utilização da viatura própria nas deslocações para
os locais de férias apresenta valores bastante aproximados entre nacionais
e estrangeiros. Já o recurso ao avião e ao carro alugado é uma preferência
predominante dos estrangeiros inquiridos.


Forma de Viagem


Relativamente à organização das suas férias, uma grande parte dos
inquiridos tratou de tudo pessoalmente (39,9%) enquanto cerca de 14% não
fez qualquer tipo de reserva com antecedência, resultados que reflectem
alguma espontaneidade na preparação das férias. No entanto, é de salientar
que, uma percentagem bastante significava de visitantes inquiridos recorreu
a agentes de viagens/operadores turísticos para organizar a sua visita à
região. O serviço mais requisitado às agências de viagens foi a preparação
da viagem completa (34,2%). Segue-se a reserva do transporte (7%) e a
reserva do alojamento (5,3%). A forma como as pessoas tomam conhecimento ou
contacto com o destino de férias é determinante e pode influir na escolha
do mesmo. O poder de persuasão e de influência difere entre as várias
fontes de informação, que podem ser formais ou informais. Neste contexto,
os visitantes foram indagados sobre as fontes de informação a que
recorreram para planearem a sua viagem. Assim, a recomendação de familiares
e amigos (33,6%), os guias turísticos, (30,4%), as brochuras de operadores
(19%), a informação recolhida nos postos de turismo (15,3%), a Internet
(12,9%) e as visitas anteriores (12,3%) foram as principais fontes de
informação a que recorreram os visitantes inquiridos. A decisão de visitar
a referida atracção/evento, para uma grande parte dos inquiridos, foi
tomada antes de sair de casa (60,7%). No entanto, para cerca de 23% dos
inquiridos, a decisão de visitar o local foi feita durante a visita à
região e para 16,4%, quando chegaram à região. O grupo de viagem é
maioritariamente constituído por adultos, onde se destacam grupos de
pequena dimensão com 2 adultos (39,2%). Relativamente ao número de
crianças, salientam-se os grupos com 1 a 3 crianças para cerca de 62% dos
inquiridos (respectivamente: 1 criança – 27,6%; 2 crianças – 22,3%; 3
crianças – 12,2%). Refira-se ainda que, 28% dos visitantes inquiridos não
tem crianças no seu grupo de viagem.




Discussão dos Resultados

Da análise dos resultados produzidos pelo inquérito efectuado em alguns
concelhos do Norte de Portugal, é possível retirar algumas ilações
relativas às características, aos comportamentos e ás motivações dos
designados turistas culturais. Em termos genéricos, alguns dos resultados
encontram-se em consonância com estudos realizados sobre as férias dos
portugueses, sendo que se denota, em alguns aspectos, diferenças de
comportamentos entre os nacionais e os estrangeiros que se encontravam em
visita à região do Norte de Portugal.

Sendo para a maioria dos inquiridos a primeira visita à atracção/evento, e
tendo tido esta um papel importante na decisão de viajar para a região, os
visitantes encontravam-se fortemente motivados em conhecer a cultura local,
aprender mais sobre a história da região e, ao mesmo tempo, experimentar o
ambiente local. A referida visita correspondeu na sua plenitude às
motivações e expectativas dos visitantes, sendo que estes se encontravam
satisfeitos e até bastante satisfeitos aquando da visita à atracção/evento.
Para além desta, os visitantes inquiridos visitaram ou pretendiam ainda
visitar outras atracções e eventos culturais, dos quais se destacam os
monumentos, os museus, as casas históricas e os centros históricos.

Apesar destes visitantes associarem as suas férias habituais ao "sol e
praia", não é de forma alguma menos importante a forte apetência
demonstrada para férias culturais, itinerários e recreio no campo. A
evolução dos comportamentos e do interesse dos turistas no contexto da
procura global reflecte-se, obviamente, neste segmento de mercado. O facto
de uma percentagem significativa de inquiridos ter já gozado férias
anteriormente nos últimos doze meses, maioritariamente por um período de 1
a 3 dias, poderá reflectir a tendência para férias repartidas e,
consequentemente, mais curtas.

Encontrando-se na sua maioria de férias, os visitantes classificam-nas de
férias culturais e itinerantes. Em termos de tipologia de férias apontadas
pelos inquiridos, os resultados são bastante aproximados entre nacionais e
estrangeiros, à excepção das itinerantes, que são predominantemente
mencionados pelos visitantes estrangeiros. De facto, as férias com motivos
culturais e as itinerantes são cada vez mais uma motivação de viagem para
os visitantes. As itinerantes, que cada vez mais aparecem associadas a
motivos culturais, revelam-se assim como uma "forma" potencial de turismo
que deve ser incentivada em termos nacionais e promovida no estrangeiro.

Maioritariamente constituído por adultos, concentrados em grupos de pequena
dimensão, salientam-se as unidades hoteleiras como meio de alojamento
preferencial destes inquiridos para a sua estada na região, estada que se
caracteriza, predominantemente, por um período curto de 1 a 3 noites. Ainda
no que se refere à tipologia de alojamento, a casa própria e a casa de
familiares e amigos merecem algum destaque.

Os visitantes inquiridos, que maioritariamente se deslocam de carro próprio
para a região, apresentam alguma espontaneidade na preparação das suas
férias, sendo que uma grande parte dos inquiridos não recorre às agências
de viagens/operadores turísticos. No entanto, e apesar de salientar esta
situação, não é de forma alguma menos importante o número bastante razoável
de inquiridos que recorre às agências de viagens para organizar as suas
férias, sendo o serviço mais requisitado a preparação da viagem completa.
São predominantemente os visitantes que se deslocam de autocarro e avião os
que recorrem a estes serviços.

Tendo na sua maioria decidido visitar a região antes de sair de casa, as
principais fontes de informação utilizadas pelos visitantes e que, de certa
forma, influíram na escolha da região como destino de férias, foram a
recomendação de amigos e familiares e os guias turísticos. De entre outras,
salientam-se ainda as brochuras de operadores, a informação recolhida nos
postos de turismo, a internet e as visitas anteriores.

Tendo presente o nível elevado de formação e de rendimentos dos visitantes,
e face às características referidas em termos de motivações e consequente
tipologia de férias, actividades realizadas e respectivos padrões de
consumo, denota-se que o turismo cultural revela grandes potencialidades de
desenvolvimento na região em estudo, sendo necessário que se focalizem as
estratégias nos resultados obtidos, de forma a que todos os esforços feitos
para organizar e promove a oferta existente sejam orientados no sentido de
corresponder às expectativas e motivações destes turistas culturais.


Conclusão

Os dados aqui apresentados indicam o potencial para o desenvolvimento do
turismo cultural no norte de Portugal. A análise mostra que a cultura é o
ingrediente essencial nas motivações que levam as pessoas a viajar para ver
e conhecer outras culturas, tradições e modos de vida. No entanto, não
basta aproximarmos cultura e turistas para desenvolver bons produtos
turísticos culturais. As culturas locais são, por defeito, mais acessíveis
aos habitantes do que aos visitantes. Se o que se pretende é que os
turistas compreendam e desfrutem das suas experiências culturais, é
necessário que essas experiências se tornem compreensíveis e acessíveis. É
preciso construir uma ponte cultural entre a cultura local e a cultura do
turista, o que significa que os produtos turísticos culturais terão de
basear-se nas necessidades e nos desejos do cliente – o turista. Um aspecto
importante que resulta desta pesquisa é a falta de monitorização necessária
para a análise das motivações dos visitantes. Isto permitir-nos-á
identificar melhor o desenvolvimento potencial de produtos de turismo
cultural, neste caso, no Norte de Portugal.

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